Quem torcer para Bolsonaro desdizer o que
assinou não vai ter muita emoção. Esse é o tipo de torcida desnecessária,
porque é certo que o fará. Ele fará qualquer coisa para reduzir os danos na sua
base, que esse recuo causará. Mas podemos pedir a estraga-prazeres de plantão
que nos deixem celebrar esse momento de alívio, depois de tanta tensão.
E há motivos para celebrar, não importa o
que Bolsonaro diga. A desmoralização é muito funda e cada palavra sua vale hoje
ainda menos do que o pouco que já valia.
A diferença agora é que não mais somente os seus recuos serão fake -
como já eram, aos olhos céticos de todos nós, que lhe somos avessos. Seus ímpetos de avanço tenderão, doravante, a
também ser considerados assim, pelo quarto do eleitorado que até agora o vem
apoiando. O ex-presidente da República Michel Temer viajou a Brasília, reencarnou
no papel e amarrou no pescoço da fera esse guizo, que deve fazer barulho nas
próximas rodadas de pesquisas.
Em 2015, um ano antes do impeachment de
Dilma, escrevi um artigo cujo título foi "O fator Temer". O destino
infausto que evasivas e malabarismos demagógicos de políticos pequenos deram à
pinguela que ele tentou levantar não me deixava a expectativa, que tenho hoje,
de daqui a pouco poder escrever outro artigo com o mesmo título, remetido ao
contexto atual.
Sim, dizem que vingança é prato que se come
frio. Acrescento que se come sem dizer que está gostoso, não apenas para não
tripudiar de quem chacoalha. Não precisa fazer isso para que outros políticos
bem centrados possam cooperar entre si para concluírem a missão. Também não se
deve ostentar o sabor para não atiçar demais a inveja de pigmeus políticos que
também estão no palco, ou na plateia.
Esses seguirão xingando Bolsonaro em lives, entrevistas, tribunas, ou
bastidores. Mas, em vez de pautá-lo, como ocorreu quando ele foi levado a se
retratar no dia 9/09 do que havia dito no dia 7, continuarão a ser pautados por
ele.
Política é como unha. Ainda bem.