• Aécio acusa irmão de Dilma de ser fantasma em prefeitura; presidente cita recusa a bafômetro
Julianna Granjeia, Renato Onofre e Tiago Dantas
Vale tudo
SÃO PAULO - Em um debate mais acirrado do que os anteriores, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, partiu para a ofensiva contra a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição. Em estratégia calculada para tentar tirar votos da petista em Minas Gerais, o tucano, em reação às acusações de nepotismo feitas por Dilma, afirmou que o irmão da presidente foi funcionário fantasma na prefeitura de Belo Horizonte na gestão do petista Fernando Pimentel. Dilma também subiu o tom ao falar sobre a Lei Seca, num discurso ensaiado para questionar Aécio sobre a obrigatoriedade do teste do bafômetro, recusado por ele ao ser parado em uma blitz no Rio de Janeiro, em 2011.
Outra questão que acirrou os ânimos foi a inclusão, no debate, do nome do ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra, morto em março deste ano. Minutos antes do confronto promovido por SBT, portal UOL e Rádio Jovem Pan, uma denúncia envolvendo Guerra tomou conta do noticiário. O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou em depoimentos da delação premiada que Guerra recebeu propina para esvaziar uma Comissão Parlamentar de Inquérito que investigava a estatal, em 2009.
Nesse instante, Dilma disse que as denúncias de corrupção em gestões tucanas não são investigadas e Aécio voltou à artilharia afirmando que Dilma prevaricou pois não fez nada em relação às fraudes na estatal mesmo diante de denúncias e provas.
Logo depois de Dilma retomar a estratégia do primeiro debate, acusando Aécio de nepotismo pela nomeação da irmã quando era governador de Minas, o tucano foi para o contra-ataque.
- Candidata, a senhora conhece o senhor Igor Rousseff? Seu irmão, candidata. Não queria chegar nesse ponto. O seu irmão foi nomeado pelo prefeito Fernando Pimentel no dia 20 de setembro de 2003 e nunca apareceu para trabalhar. Essa é a grande verdade. Lamento ter que trazer esse tema aqui. A diferença entre nós é que minha irmã trabalha muito e não recebe nada. Seu irmão recebe e não trabalha nada. Infelizmente, agora, nós sabemos porque a senhora diz que não nomeou parentes no seu governo. A senhora pediu que seus aliados o fizessem.
Dilma retrucou.
- A sua irmã e meu irmão, eles têm que ser regidos pela mesma lei. Eles não podem estar no governo que nós estamos. O nepotismo eu não criei - retrucou Dilma
Pimentel usou as redes sociais para defender o irmão de Dilma. "Igor Rousseff foi assessor especial na minha gestão em BH. Ele é advogado e trabalhou com regularidade e eficiência na prefeitura e na procuradoria do município", disse Pimentel pelo Twitter.
Ao levantar o tema sobre a Lei Seca, Dilma perguntou se Aécio considerava que "todo cidadão que for solicitado deveria fazer exame de álcool e drogas". Em 17 de abril de 2011, o tucano foi parado em uma blitz da Lei Seca no Leblon, Zona Sul do Rio. Ele se recusou a fazer o teste do bafômetro e teve apreendida a carteira de habilitação, que estava vencida.
- Tenha coragem de fazer a pergunta direta - respondeu Aécio. - É claro que essa iniciativa (Lei Seca) é extraordinária. Mas essa iniciativa não é sua. Tive um episódio e reconheci. Minha carteira estava vencida e inadvertidamente não parei. Me arrependi e pedi desculpas por esse episódio. Insinuar uma coisa dessas não é digno de uma presidente da República.
O candidato do PSDB disse então que o PT estava fazendo "a mais baixa das campanhas" e sugeriu que Dilma falasse sobre Saúde, Segurança e sobre a nomeação do tesoureiro do PT na Hidrelétrica de Itaipu. Na réplica, a presidente voltou a pedir um posicionamento de Aécio sobre a Lei Seca:
- Acho muito importante a Lei Seca para o Brasil, e o senhor está tentando diminuí-la. Todo dia tem gente morrendo quando o motorista dirige embriagado. Ninguém pode ficar sem sofrer as consequências de dirigir drogado ou bêbado. Eu não dirijo sob efeito de álcool e drogas, candidato.
O tucano repetiu a estratégia que adotou desde o início da campanha eleitoral de tentar responsabilizar Dilma pelos escândalos de corrupção na Petrobras. Na primeira pergunta do confronto, Aécio trouxe o assunto para o centro da discussão. Dilma não respondeu. No segundo bloco, após orientação de assessores, a petista usou como arma a questão de Sérgio Guerra. Aécio disse que há uma diferença entre os dois candidatos porque ele defende que todos devem ser investigados.
- Não importa de qual partido, tem que se investigar a todos, doa a quem doer. Tem algo positivo aí: a senhora, pela primeira vez, deu credibilidade à denúncia do Paulo Roberto. É esse que diz que 2% da propina ia para o seu partido, para o tesoureiro do seu partido. E o que a senhora fez nesse período? Nada. Agora, se a senhora diz que quer ir a fundo, por que o seu partido impediu que o senhor (João) Vaccari fosse depor, que fosse explicar? E digo mais, ele ainda é tesoureiro do seu partido. Pelo menos R$ 4 milhões foram transferidos pelo senhor Vaccari para a sua conta de campanha. Acho que os brasileiros têm que saber, antes das eleições, de onde veio esse dinheiro - disse Aécio.
O Aeroporto de Cláudio, construído quando Aécio era governador de Minas em um terreno que pertencia a um tio do tucano, também voltou à tona no debate de ontem quando Dilma disse que a atitude era "errada" e "feia":
- É errado, sim, pegar um aeroporto feito com dinheiro público e colocar na fazenda de um tio. É errado, candidato. Não se faz isso. É feio - disse Dilma.
Aécio respondeu que o terreno foi desapropriado dentro da lei e que não houve irregularidades na obra.
- É muito triste ver presidente mentindo. Foi construído em área desapropriada para beneficiar região que está crescendo - afirmou Aécio.
O candidato tucano ainda ironizou o fato de Dilma fazer uma série de perguntas relacionadas ao período em que ele foi governador de Minas Gerais:
- Quem ligar a TV agora vai achar que a senhora quer disputar o governo de Minas. A não ser que a senhora esteja desempregada a partir de 1º de janeiro. Todas as minhas obras tiveram aprovação, ao contrário das suas, com sobrepreço todo o tempo.
Ainda quando o assunto girava em torno do escândalo da Petrobras, Dilma acusou o tucano de baixar o nível do debate.
- Antes de elevar o nível do debate, já que você o abaixou, e aponta que o PSDB só aponta para um partido ao invés de investigar a todos. Não é possível que você se esconda atrás do fato de que se investigue o que não envolve seu partido.
Nos bastidores, o clima também foi de rivalidade. O presidente do PT, Rui Falcão, mostrou o panfleto que o partido vai usar contra Aécio a partir de hoje. Nele, os petistas atacam a falta de água em São Paulo.
Aécio, antes de deixar a emissora, recebeu um telefonema de Marina Silva, parabenizando-o por sua performance no debate. Antes do confronto, marcado pelos ataques, Dilma e Aécio se mostraram preocupados com mínimos detalhes que poderiam afetar suas performances. A presidente reclamou da cadeira que estava reservada para ela e perguntou ao mediador do debate, Carlos Nascimento, como os dois apareceriam na TV. Já o senador quis saber onde estavam o cronômetro e a água.