O Globo
O ano passou de 21 para 22, mas não
conseguimos controlar as velhas, triviais e vergonhosas roubalheiras, o
machismo, o feminicídio e a violência miliciana e policial. Ademais, aumentamos
a taxa de racismo estrutural e estruturante, do “você sabe com quem está
falando?” e, para completar, voltou a inflação, em paralelo a uma polarização
que, demandando a exclusão do outro, é, em todo tempo e lugar, o timbre do
reacionarismo fascista.
O calendário muda, mas o estilo
aristocrático e elitista, antirrepublicano e autoritário, claro na Presidência
e em todo lugar, permanece atrapalhando nossas vidas.
Num chavão, o “ano novo” realiza sua
costumeira malandragem de mudar não mudando. Continuamos a pensar o tempo como
calendário, imaginando que, quanto mais velhos, mais “adiantados” ficamos,
quando, na verdade, o Brasil de hoje é uma infâmia de atrasos. É um país a
caminho do suicídio moral.
Como falar num novo ano se o acontecimento
básico deste tempo começa com uma campanha eleitoral que repete a anterior, negando
o devir histórico?
É abominável ver a repetição da “luta” Lula-Bolsonaro, que, neste “novo ano” de 22, estão muito mais parecidos com criadores de autolorotas negacionistas — esse conceito dominante de um ano novo nascido velho. São nossos mais ávidos postulantes a “supremos magistrados da nação” — uma nação que precisa de muita água benta (e sanitária) para livrar-se de sua danação e que corre o risco de repetir-se no seu rito democrático mais importante. Reprisará na eleição sua sina de conjugar, segundo o oportunismo, burocracia-legal-processualística, compadrio regado a mandonismo elitista e carisma para dar e vender.