segunda-feira, 22 de maio de 2023

Fernando Gabeira - Um ataque à democracia

O Globo

Vemos o avanço de ditaduras plebiscitárias, como Rússia e Hungria, e o crescimento irresistível do modelo chinês

Quando Bolsonaro foi eleito, surgiu por aqui uma fornada de livros sobre a decadência da democracia e a ascensão do autoritarismo em várias partes do mundo. “Como as democracias morrem”, “O povo contra a democracia”, os novos títulos se sucediam, e havia neles alguns pontos convergentes. A globalização deixou muita gente para trás, criando ressentimentos. A confiança nas elites políticas se esvaiu diante de líderes preocupados com seu próprio interesse, de costas para a sociedade.

Neste momento, no Brasil, a democracia está próxima de receber um ataque que a enfraquecerá ainda mais. Trata-se de um projeto que anistia as transgressões dos partidos não só quanto ao respeito às cotas minoritárias, mas também quanto à prestação de contas de milhões de reais gastos: compra de avião, toneladas de carne e outras despesas extravagantes.

Miguel de Almeida - Melhor ser fantasma do que professor

O Globo

Nos últimos dez anos, a profissão de educador tornou-se um ofício de risco

Depois de nove anos sem abrir concurso, o governo paulista lançou edital para contratar 15 mil professores. Com o congelamento das vagas efetivas por quase uma década, dos cerca de 217 mil docentes, 97 mil são temporários. Os salários: R$ 5 mil por 40 horas semanais; R$ 3.125 para 25 horas semanais.

De imediato, parece boa notícia. Os 15 mil novos professores estarão distribuídos entre as 3.500 escolas estaduais. Portanto serão em torno de quatro novos educadores para cada estabelecimento de ensino básico.

Aí você usa uma matemática básica (não aquela bolsonarista de - 5% + 4% é igual a 9%): se hoje os temporários são 97 mil e abriram vagas para 15 mil, permanecerá um déficit recauchutado em mais de 80 mil educadores. De qualquer jeito, já é alguma coisa, pensaria o otimista. Vale anotar que o concurso foi autorizado ainda no início de 2022, pelo então governador João Doria. Só agora saiu publicado o edital.

Angela Alonso* - Na cova dos leões

Folha de S. Paulo

Religiosização (com perdão do neologismo) da política só interessa a um lado; Direita se move desenvolta nesse léxico

O pastor pregava numa igreja Batista: "Neemias agiu. Se nós queremos mudar o sistema, precisamos orar, agir e apoiar medidas contra a corrupção".

Era 2015, e Neemias foi do Velho Testamento ao sermão para justificar o avanço religioso sobre a política. Ao murar a cidade sagrada de Jerusalém, servira a dois senhores, o estado terreno (governou a Judeia) e o reino divino. Quem buscou o exemplo foi Deltan Dallagnon, que tinha 35 anos e uma missão.

Como a missão lava-jatista se cumpriu, é prudente atentar para suas profecias.

A mais recente veio em reação ao tuíste digno das narrativas bíblicas, quando o moralizador foi pego de moral curta. Legítima ou espúria, a cassação deu-lhe outro púlpito, o de perseguido.

Em meio a cartazes de "Perseguição política não é justiça", discursou no estilo em que fez carreira, com a Bíblia e a Constituição confundidas.

Marcus André Melo* - Corrupção: notas de viagem

Folha de S. Paulo

A reação ao combate a corrupção assume formas variadas

Os acontecimentos no Brasil lembram-me da sina de Andrew Feinstein, protagonista da luta contra a corrupção na África do Sul, e do Arms Deal Scandal. O caso envolveu o ANC, o partido que governa a África do Sul na era pós-apartheid.

Jovem estrela do partido e membro do Parlamento, Feinstein integrava a Comissão de Contas Públicas, à qual cabia a nomeação do titular e a supervisão do Auditor General, o órgão de cúpula de controle externo.

A presidência da comissão cabia, como no Reino Unido, aos partidos da oposição; no caso, ao Inkhata Freedom Party, partido da província de Kwazulu Natal. O professor de finanças públicas, Gavin Woods, da Universidade de Stellenbosch, nativo e criado na província, como me explicou em entrevista, assumiu o posto.

Ana Cristina Rosa - Perguntas sem respostas

Folha de S. Paulo

Eu gostaria de saber qual a justificativa dos 45 deputados que votaram favoravelmente à anistia das irregularidades dos partidos

Seria bem importante que os presidentes dos partidos políticos que integram a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara (excetuando PSOL e Novo, que foram contra a iniciativa) explicassem o motivo do voto a favor da Proposta de Emenda à Constituição 9/23.

A chamada PEC da Anistia anula as sanções aos partidos que descumpriram a legislação eleitoral e não preencheram a cota mínima de recursos financeiros destinados a mulheres, negros e indígenas, cometeram irregularidades na prestação de contas e receberam dinheiro de empresas nas eleições gerais 2022 e anteriores.

Felipe Moura - Caso Deltan reforça projeto de Benedito

O Estado de S. Paulo

Quem participa da vingança do sistema contra a Lava Jato ganha créditos com o presidente Lula

O desejo confesso de Lula de se vingar de Deltan Dallagnol e o voto do relator Benedito Gonçalves pela cassação de seu mandato de deputado federal, contornando a lei que não prevê inelegibilidade em caso de pedido de exoneração do Ministério Público sem processo administrativo disciplinar aberto, formam uma coincidência e tanto.

Lula indicou Benedito Gonçalves para o Superior Tribunal de Justiça em 1.º de agosto de 2008 e foi representado na cerimônia de posse, em 17 de setembro, pelo então advogado-geral da União, Dias Toffoli. Um ano depois, Lula indicou Toffoli para a vaga do Supremo Tribunal Federal deixada pela morte de seu também escolhido Menezes Direito. O petista já havia indicado Joaquim Barbosa, Cezar Peluso, Ayres Britto e Ricardo Lewandowski, hoje aposentados; além de Cármen Lúcia.

Denis Lerrer Rosenfield* - Governar para quem?

O Estado de S. Paulo

Uma minoria petista tenta impor ao governo, ao Parlamento e à sociedade ideias ultrapassadas de uma esquerda que há muito morreu no mundo, salvo em países moribundos

Passados quatro meses da posse do novo governo, não se sabe bem se há governo e a quem ele se destina. Governo significaria um conjunto de ideias e metas coerentes entre si e voltado para o bem do País, para além das clivagens partidárias e ideológicas. Ora, o que se tem visto é o novo presidente fazendo declarações, uma atrás da outra, sem nenhuma coerência, como se estivesse ainda num palanque eleitoral. O seu discurso oscila segundo as circunstâncias e conforme certas ideias – se é que se pode considerar como ideias manifestações que em muito se diferenciam de seu primeiro mandato e, inclusive, de seu segundo. O resultado é que seu governo está sem destino e o País, sem rumo.

Bruno Carazza* - Os caça-penduricalhos na elite estatal

Valor Econômico

Efeito cascata de benefícios faz teto virar piso para alguns servidores

Em 12 de janeiro de 2015, entraram em vigor as Leis nº 13.093 e 13.095, que instituíram a “gratificação por exercício cumulativo da jurisdição” para os magistrados da Justiça Federal e do Trabalho.

O benefício consiste no pagamento de um extra de até 1/3 do salário do juiz caso ele exerça alguma atividade além das suas competências normais. A remuneração básica de um juiz federal ou trabalhista atualmente está em R$ 33.924,93, R$ 35.710,46 ou R$ 37.589,96, a depender do nível da carreira.

Alex Ribeiro - BCs debatem por que o juro alto não teve o efeito previsto

Valor Econômico

Vários banqueiros centrais participaram de seminário internacional promovido pelo BC na semana passada e discutiram o tema

Não é apenas no Brasil: em várias partes do mundo, os bancos centrais estão tentando entender por que os juros altos não tiveram ainda os efeitos previstos para esfriar a economia e baixar a inflação.

Vários desses banqueiros centrais participaram de um seminário internacional promovido pelo BC na sexta, em São Paulo. Foi uma discussão técnica, mas também política. Com o evento, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, passou a mensagem de que não está mantendo os juros altos por sabotagem ou capricho.

Na plateia, estavam mais do que os economistas e operadores de mercado que normalmente acompanham cada palavra do presidente do Banco Central. Entre os convidados ilustres, compareceram o economista Persio Arida, um dos pais do Plano Real, e o ex-ministro da Fazenda Pedro Malan. Também estiveram presentes Roberto Setúbal, do Itaú, e Octavio Lazari Jr., do Bradesco. Discretamente, também circulou pelo evento o economista Gabriel Galípolo, secretário-executivo da Fazenda, que foi indicado para uma diretoria do Banco Central, no que pode ser o primeiro passo para assumir a presidência do Banco Central.

Gustavo Loyola* - Amor ao passado

Valor Econômico

A destruição de alicerces fundamentais para o crescimento do país vem ocorrendo de maneira metódica

Impressiona o pantagruélico apetite do governo Lula para voltar ao passado, ao ressuscitar políticas públicas que, além de obsoletas, fracassaram flagrantemente em seus propósitos e que deixaram, muitas delas, uma herança maldita para o país que ainda está longe de ter sido digerida.

A coleção de intenções, tentativas e ações governistas para reviver um passado nada glorioso se avoluma a cada dia: fim da paridade de preços da Petrobras; incentivo para carros populares; revogação parcial do marco regulatório do saneamento; reestatização da Eletrobras; demolição do teto de gastos; extinção da TLP e volta da política de subsídios do BNDES, inclusive para financiar novamente países em estado falimentar; interferência na autonomia do Banco Central etc.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Piora universitária reflete mais que corte de verbas

O Globo

Queda no ranking das melhores do mundo resulta de deficiências crônicas da pesquisa acadêmica brasileira

Das 2 mil melhores universidades do mundo, só 54 estão no Brasil, segundo a avaliação de 2023 do Center for World University Rankings (CWUR). Entre as brasileiras mais bem colocadas, 29 perderam posições, 23 subiram no ranking e duas mantiveram o mesmo patamar. É um resultado ruim para um país que depende da produção de conhecimento para crescer e se desenvolver.

Mesmo a USP, líder na América Latina e 109º lugar no mundo, caiu seis posições. Perdeu pontos em qualidade do ensino, empregabilidade e qualidade do corpo docente, embora tenha melhorado em pesquisa. A UFRJ desceu 15 posições, ficando em 376º, atrás da Unicamp, que subiu duas, passando ao 344º lugar. Completam a lista das cinco melhores brasileiras a Unesp, em 424º, e a UFRGS, em 467º.

Poesia | Goethe - Reconciliação

 

Música | Chico Buarque - As Caravanas