quarta-feira, 8 de março de 2017

Opinião do dia - *Fernando Henrique Cardoso

O rearranjo atual da ordem global não tem força para estancar o que as mudanças culturais e tecnológicas tornaram irreversível: as consequências do aumento da produtividade e a integração produtiva. As mudanças em curso decorrem mais das questões de poder do que das econômicas. Isso não nos leva a descuidar de nossa base produtiva, mas nos induz a não descuidar dos meios disponíveis de poder, que incluem capacidade de defesa e visão estratégica. É o que esperamos do governo ao nomear um novo ministro para as Relações Exteriores: que não se esqueça de que entraremos num jogo “de gente grande”.

* Sociólogo, foi presidente da República. “Jogo de gente grande”, O Estado de S. Paulo, 5/3/2017

Pior recessão da história abate 9,1% da renda média

PIB do Brasil cai 3,6% em 2016 e país tem pior recessão da história recente

Fernanda Perrin, Lucas Vettorazzo – Folha de S. Paulo

RIO - Em um ano marcado por turbulências políticas, a economia brasileira encerrou 2016 com queda de 3,6% no PIB (Produto Interno Bruto), de acordo com dados divulgados pelo IBGE nesta terça-feira (7).

Foi o segundo ano seguido de queda do indicador, que já havia recuado 3,8% em 2015.

Considerando o início da recessão, em 2014, o país acumulou queda de 9% –a pior já registrada pela série, que começa em 1947–, segundo os critérios adotados pela FGV (Fundação Getulio Vargas).

Com o recuo de 0,9% no PIB do quatro trimestre, o país acumula 11 trimestres seguidos de recessão.

O resultado levou a economia brasileira de volta ao mesmo patamar do terceiro trimestre de 2010.

PIB cai 7,2% em 2 anos: a maior crise da história

Economia encolheu 3,6% no ano passado, segundo IBGE; taxa de investimento é a pior em 20 anos e renda despencou

A economia brasileira vive a maior crise de sua história. O Produto Interno Bruto (PIB), divulgado ontem pelo IBGE, mostra que a economia encolheu 3,6% no ano passado e que, em dois anos, a queda chegou a 7,2%. É a maior recessão registrada desde 1948, quando o IBGE começou a fazer o cálculo. Com esse recuo, o desempenho brasileiro volta ao patamar do terceiro trimestre de 2010. 

Desde o segundo trimestre de 2014, início deste período de recessão, o PIB já recuou 9%. A taxa de investimento apresenta o pior resultado em 20 anos. Como a população cresceu, a geração de riqueza por pessoa caiu 11% no período. Na prática, o brasileiro ficou mais pobre. O “bolo” a ser dividido está menor e há mais bocas para alimentar. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que a queda é “espelho retrovisor” e que 2017 pode ter um “crescimento robusto”

Tombo. Em dois anos, queda no PIB chegou a 7,2% e, se considerado o início da recessão, no segundo trimestre de 2014, recuo é de 9%; é a maior retração econômica já registrada pelo País pelo menos desde 1948, quando o IBGE começou a medir esses números

PIB brasileiro caiu 3,6% no ano passado e economia voltou aos níveis de 2010

Daniela Amorim, Fernanda Nunes e Vinicius Neder | O Estado de S. Paulo

Retomada lenta após pior crise da História

PIB recua 3,6% em 2016; para analistas, país saiu da recessão, mas crescerá pouco este ano

O IBGE informou que o PIB brasileiro caiu 3,6% em 2016. Em 11 trimestres, a economia amargou queda de 9%, na maior recessão de sua História. Para analistas, porém, o pior da crise passou e o país já voltou a crescer. Mas a recuperação será lenta. O desemprego, que deve chegar a 13% este ano, e o elevado endividamento das famílias e das empresas dificultarão a retomada. A previsão é que o PIB avance 0,8% este ano.

Saída lenta da pior crise

PIB tem maior queda da História, mas analistas veem sinais de fim da recessão

Marcello Corrêa, Daiane Costa e João Sorima Neto | O Globo

-RIO E SÃO PAULO- O Brasil já começou a superar a recessão mais intensa de sua História, porém o processo de retomada será lento e sujeito a riscos. Segundo dados divulgados ontem pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) recuou 3,6% no ano passado. E completou um ciclo de 11 trimestres de queda, período no qual acumulou uma retração de 9%— a recessão mais profunda, duradoura e abrangente, de acordo com dados do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace/ FGV). Analistas afirmam, porém, que o pior já passou e preveem um resultado positivo para o PIB já no primeiro trimestre deste ano. A recuperação, no entanto, será tímida. O desemprego em patamar recorde, o elevado endividamento de famílias, empresas e governo, e as incertezas em relação às reformas em tramitação no Congresso são entraves no caminho.

PIB cai 3,6% e indica retomada lenta

- Valor Econômico

RIO E SÃO PAULO - A queda de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre de 2016, maior que a esperada pelos analistas, não muda a avaliação de que a economia deve voltar a crescer em 2017. No entanto, para que o país evite um terceiro ano consecutivo de queda do PIB, a recuperação no primeiro semestre terá que ser mais forte do que a prevista. A recessão do ano passado, de 3,6%, anunciada oficialmente ontem pelo IBGE, deixou uma herança estatística bastante negativa, de -1,1%. Isso significa que se a economia ficar com produção estabilizada neste ano em relação ao nível do quarto trimestre de 2016 haverá uma nova recessão, de 1,1%, em 2017.

STF decide que caixa 1 não legaliza propina

Senador do PMDB vira réu, mesmo com doação oficial

Segunda Turma do Supremo indica que registro de verba de campanha é insuficiente para provar que origem de dinheiro é lícita

Ao decidir tornar réu o senador Valdir Raupp, a Segunda Turma do Supremo indicou ontem qual deverá ser a posição do tribunal nos casos em que a doação pelo caixa 1 for usada como “álibi” para ocultar crimes de lavagem de dinheiro e corrupção. Raupp recebeu da Queiroz Galvão R$ 500 mil em 2010. Há suspeita de que o dinheiro foi desviado da Petrobras. A doação formal teria sido usada para dar aparência lícita a recursos ilegais. Parlamentares temem que a decisão criminalize contribuições oficiais.

Caixa 1 não é álibi

STF torna Raupp réu por suposto recebimento de propina como doação legal de campanha

André de Souza e Carolina Brígido | O Globo

-BRASÍLIA- A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que julga os processos da Lava-Jato, decidiu ontem que um candidato pode ser processado por receber propina disfarçada de doação de campanha declarada à Justiça Eleitoral. No caso específico, foi aberta ação penal contra o senador Valdir Raupp (PMDB-RO), que recebeu doação da Queiroz Galvão de R$ 500 mil em 2010. Há suspeita de que o dinheiro foi desviado de contratos da empresa com a Petrobras. Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), Raupp pediu o dinheiro em forma de doação apenas para dar aparência lícita a recursos obtidos de forma ilegal. A decisão provocou reação entre parlamentares e gerou a expectativa de que repercutirá em futuras decisões judiciais sobre ilegalidades em campanhas eleitorais.

Congresso teme precedente que criminalize doações oficiais em eleições

Tucano ironiza decisão dizendo que parlamentares precisarão propor anistia ao caixa 1

Júnia Gama | O Globo

-BRASÍLIA- A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de tornar o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) réu após ser acusado de receber propina por meio de doações oficiais registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) gerou perplexidade no Congresso. Parlamentares envolvidos na operação Lava-Jato estão especialmente temerosos em relação a seus destinos. A avaliação é de que as defesas preparadas até o momento terão de ser reavaliadas a partir de agora.

Senadores e deputados se disseram surpresos com a sinalização da Corte, que foi vista como a abertura de um precedente para se condenar as doações declaradas. Até agora, a principal defesa de todos os investigados quando o Ministério Público relacionava episódios de corrupção com doações partidárias era que estas haviam sido declaradas e aprovadas pela Justiça Eleitoral. A decisão do Supremo deixa claro que isso não serve de salvo-conduto.

Delator: Lula é o ‘amigo’ em planilha da corrupção

Na lista de codinomes que aparecem nas planilhas de propina da Odebrecht, o ex-presidente Lula é o “amigo”, informou o ex-diretor da empreiteira Hilberto Mascarenhas ao TSE. Na planilha, consta que o “amigo” recebeu R$ 23 milhões. Segundo o delator, o setor de propinas da empreiteira movimentou US$ 3,4 bi em 8 anos.

‘Amigo’ em planilha da propina é Lula, diz delator

Hilberto Mascarenhas afirma que pagamentos ilegais da Odebrecht somaram US$ 3,4 bi, em oito anos

Jailton de Carvalho e Simone Iglesias | O Globo

-BRASÍLIA- O executivo Hilberto Mascarenhas disse que o Departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, o chamado banco da propina da empreiteira, movimentou US$ 3,4 bilhões entre 2006 e 2014 para abastecer caixa 2 de campanhas eleitorais no Brasil e pagar propinas no país e no exterior. O executivo disse ainda que desse total, aproximadamente US$ 500 milhões foram despejados em acertos com políticos no Brasil, segundo disse ao GLOBO uma fonte vinculada ao caso.

Vaccari, Duque e outros três viram réus novamente na Lava Jato

- Folha de S. Paulo

CURITIBA - O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o ex-diretor da Petrobras Renato Duque, além de outras três pessoas, viraram réus mais uma vez na Operação Lava Jato.

Desta vez, eles são acusados de receber propina num contrato de sondas da Sete Brasil, empresa criada pela Petrobras para a exploração do pré-sal.

Esta é a oitava ação penal contra Vaccari, acusado de solicitar o pagamento de propina em obras públicas em benefício do PT, e a 12ª ação contra Duque, que foi indicado pelo partido para ocupar uma diretoria na Petrobras.

'Se for me preocupar, não faço mais nada', diz Temer sobre lista de Janot

Marina Dias, Fabio Victor | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Cercado por políticos e auxiliares, o presidente Michel Temer chegou sorridente ao Piantella, um dos mais tradicionais restaurantes de Brasília, na noite desta terça-feira (7).

À Folha disse não se preocupar com a lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que deve pedir, nos próximos dias, a abertura de inquérito para investigar ministros e aliados de seu governo.

"Se eu for me preocupar com isso, não faço mais nada. Não estou preocupado. Cada Poder cuida de uma coisa", afirmou o presidente.

Exatos 24 minutos e apenas um copo de água depois, Temer já estava postado do lado de fora do Piantella, na Asa Sul da capital federal, à espera do comboio que o levaria de volta ao Palácio do Jaburu. Ali, disse a jornalistas que também não perdia o sono com o julgamento da ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que pode resultar na cassação de seu mandato.

"Espero que seja julgada", limitou-se a dizer. Questionado se preferia que o processo que apura o suposto abuso de poder econômico da chapa presidencial composta por ele e Dilma Rousseff em 2014, continuou lacônico. "Para mim tanto faz."

Sobre o ministro relator do processo no tribunal, Herman Benjamin, Temer afirmou que o magistrado está "cumprindo o papel dele". O peemedebista evitou tecer qualquer comentário sobre a maneira que o ministro tem conduzido o caso.

A esquerda que se divide e a democracia - Walter Veltroni*

- L’Unità & Gramsci e o Brasil.

Muitas pessoas me pediram que publicasse o texto de meu discurso na assembleia nacional do Partido Democrático. É o que faço, esperando que possa ser útil. Quero só estabelecer uma premissa: percebemos o que está acontecendo em torno das discussões e divisões da esquerda?

Retomo só os últimos três dias, só estes. Eis então: Matteo Salvini, o líder da Liga Norte, uma pessoa que pode ter no futuro importantes cargos de governo, coloca na rede uma mensagem em que reproduz, apoiando-o, o aberrante vídeo feito por dois sujeitos que se regozijam por terem fechado num contêiner de lixo duas mulheres nômades.

Salvini acrescenta a tal filme assombroso as seguintes palavras: “Mas como grita esta desgraçada!”. E o mais terrível é ver que houve dezenas de milhares de like e ler os comentários de pessoas que celebram o gesto e até incitam a formas ainda mais ferozes de discriminação.

Nos Estados Unidos, o novo presidente anuncia uma fase de implementação de corrida às armas nucleares, invertendo a tendência da presidência Obama. Não é pouco. Por fim, em meio ao desinteresse de muitos, Trump impediu o acesso, num encontro com a imprensa, de jornais que considera incômodos. Espantou-me que os outros colegas tivessem aceitado esta discriminação impensável e não tenham ido embora.

Três episódios, diferentes entre si, que nos devem fazer refletir sobre este tempo. Não percebemos que a democracia treme? A democracia não é feita só de regras e instituições, mas é feita em primeiro lugar de um espírito, de uma exigência difusa de liberdade. Digo sinceramente, penso que como nunca antes esta não é mais uma certeza. À esquerda gostaria de dizer que, antes de fragmentar-se em mil lascas armadas umas contra as outras, deveria entender o que está acontecendo no cerne da opinião pública, especialmente nos setores mais fracos e abandonados pela política.

Oposição ao progresso - Almir Pazzianotto Pinto*

- O Estado de S. Paulo

Conseguirá o presidente Temer aprovar projetos de modernização no curto prazo que tem?

Entre as razões para o nosso atraso, a que mais me convence é a da oposição passiva ao progresso. Temos ilhas de prosperidade com razoável desenvolvimento. Prevalecem, porém, amplas áreas alheias à modernização, prisioneiras do passado, vítimas da ociosidade, privadas de educação, onde a pobreza, o misticismo, o desemprego e a mão de obra barata são instrumentos de controle e dominação pela medíocre política local. Dezenas de milhões de brasileiros conhecem o progresso pelas telas do aparelho de televisão, mas não conseguem vivê-lo. Permanecem no século 19, à espera de taumaturgo, que não virá, para libertá-los do estado de servidão.

Paradigma de atraso é a Lei Fundamental promulgada em 1988, cujo texto reivindica a primazia de ser o mais extenso documento político da nossa História. Nenhuma das Constituições anteriores se revelou tão indefesa quanto a Constituição cidadã do dr. Ulysses Guimarães. Com seis emendas de revisão e 95 emendas ordinárias, o prolixo texto continua aberto a tantas alterações quantas vierem a ser cogitadas para satisfazer o Executivo, o Legislativo, o Judiciário, empresas, associações e sindicatos. Fazer uma Constituição verdadeira é fazer um Estado verdadeiro, disse Charles de Gaulle. Como a nossa não o é, já se propala a necessidade de nova assembleia constituinte para elaborar a oitava ou nona, dependendo de como vemos a Emenda n.º 1 à Constituição de 1967, baixada pelos ministros militares em 1969.

A dimensão do desastre - Míriam Leitão

- O Globo

A maior queda do PIB da nossa história foi construída na marcha da insensatez do governo Dilma. Ontem foi o dia de olhar de frente para todos os números do nosso desastre e é espantoso que haja quem duvide da origem dos erros que nos trouxeram ao ponto em que estamos. Mais de 7% de recessão em dois anos, mais de 9% quando a conta é feita pelo PIB per capita desde 2014.

A história econômica registrará o ineditismo do momento. Desde que há estatísticas, em 1901, nunca se viu um biênio como esse. A crise foi feita por Dilma, mas Temer ainda não a reverteu. Estamos numa transição. O dado do último trimestre de 2016 foi mais negativo do que o esperado, mas, felizmente, não é uma tendência.

PIB: a tragédia consumada - Cristiano Romero

- Valor Econômico

Nova Matriz foi a responsável pela pior crise da história

A contração de 3,6% da economia brasileira em 2016, com recuo de 4,4% da renda per capita em termos reais (já descontados os efeitos da inflação), é a consumação da tragédia provocada pela miríade de equívocos da política econômica do governo Dilma Rousseff (2011-2016).

O péssimo resultado veio depois de uma queda de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, com redução de 4,6% na renda per capita, e crescimento pífio de 0,5% em 2014. O triênio 2014-2016, que bem pode ser chamado de a "grande recessão brasileira", é algo que precisa ser estudado e lembrado com insistência para que ninguém se esqueça do mal que um único governo pode inflingir a um país.

A crise que gerou a "grande recessão" não foi provocada por um evento externo, como ocorreu praticamente em todas as turbulências atravessadas pelo Brasil. A causa está aqui dentro. Seu nome, segundo seus próprios autores, é: Nova Matriz Econômica. Baseados na ideia de que a economia brasileira padecia de um equilíbrio macroeconômico - juros altos e câmbio apreciado - que a condenava a baixas taxas de crescimento, os economistas de Dilma buscaram o equilíbrio oposto - juros baixos e câmbio desvalorizado.

Viagem ao abismo sórdido – Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Recessão de 2015-16 foi a desgraça mais intensa do país, obra de um conluio entre elite, PT e agregados

Antes de ser uma década perdida para a economia, os anos 2010 terão sido um ano de assombrações, de coisas terríveis e, se não inexplicáveis, ainda muito mal explicadas.

Por que a grande revolta política "das ruas" começou quando consumo e renda flutuavam no nível mais alto da história, 2013? Por que a recessão não provoca conturbação social maior, embora produza projetos de monstros, líderes políticos das trevas?

Em 2015 e 2016, jamais a renda média dos brasileiros rolou tão rápido a ribanceira desde que se tem notícia dessas coisas, desde o começo do século passado.

O amigo é Lula - Vera Magalhães

- O Estado de S. Paulo

Marcelo Odebrecht confirmou identidade do ‘amigo'

Marcelo Odebrecht confirmou nos depoimentos que integram sua delação premiada que o “amigo” ou “amigo de EO” que aparece em trocas de e-mails e planilhas do grupo é mesmo Luiz Inácio Lula da Silva. Procuradores que acompanharam a colaboração atestam: as revelações de Odebrecht são “arrasadoras” para o petista – o que ajuda a explicar a pressa em lançar sua candidatura à Presidência em 2018.

Apesar do extraordinário crescimento que o grupo experimentou nos governos do PT, Odebrecht descreve a amizade entre o pai, Emílio, e o ex-presidente como um estorvo. Se queixa de que o pai cedia demais aos pedidos de Lula, o que obrigava a empresa a fazer investimentos desvantajosos.

A delação do herdeiro é fulminante também para duas outras figuras de proa do petismo: Antonio Palocci e Guido Mantega. “Os dois morrem”, resume um integrante do Ministério Público, segundo o qual “não restará outra possibilidade de defesa” para o “Italiano” que não seja propor colaboração judicial para entregar a cadeia de comando dos favores que prestou e do dinheiro que distribuiu.

- O doce purgatório do caixa dois - Elio Gaspari

- O Globo

O andar de baixo faz suas declarações de Imposto de Renda e o de cima cria um atalho para a turma do Janot

Durante dois anos o PT ralou na sua descida pelos nove círculos do inferno. Tudo bem, porque tinha direito a essa excursão. Agora, às vésperas de uma nova lista do Janot, na qual brilharão estrelas do PDMB e do tucanato, aparece uma visão do purgatório, e ele se chamará caixa dois.

A melhor descrição do fenômeno do caixa dois veio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, numa nota em que defendeu sua prole tucana:

“Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa dois para financiamento de atividades políticoeleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção.”

São “dois atos, cuja natureza penal há de ser distinguida pelos tribunais.”

Nova concertação - Rosângela Bittar

- Valor Econômico

Frieza ou paciência? Temer é desafio para os conselheiros

Empresas privadas e políticos, o elo irrecusável do sistema eleitoral brasileiro, estão ligados pelo financiamento do tipo 1, 2, 3 ao infinito. O Ministério Público, o Judiciário, a Polícia Federal, e sua atenção, no momento, voltada exclusivamente aos ministros, senadores, deputados. A deformação da Operação Lava-Jato, a maior investigação contra corruptos e corruptores que já houve, no Brasil, ao ser apropriada por praticamente uma só empresa e centenas de protagonistas das campanhas eleitorais. A exportação da corrupção brasileira, que agora fala para o mundo e coloca o Brasil no circuito internacional do conluio que fecha essa ciranda de efeito explosivo.

O governo Michel Temer passou a existir exatamente neste momento da confluência de cenários que se confundem, e corre a gestão em paralelo à transformadora operação. Como sobreviver até o fim do curto mandato de mais dois anos levando adiante a decisão de entregar um resultado objetivo, a aprovação das reformas constitucionais, três já entregues, é o desafio de solução mais do que conhecida.

O tal do retrovisor - Monica De Bolle*

- O Estado de S. Paulo

Agora temos as reformas, a recuperação, a safra recorde, avante. Avante?

“O legado de Dilma Rousseff finalmente ficou para trás.” Foi mais ou menos assim que as autoridades brasileiras optaram por descrever o catastrófico resultado de 2016. O PIB encolheu 3,6%. A taxa de poupança fechou o ano em míseros 13,9% do PIB. A taxa de investimento foi de apenas 16,4% do PIB. O encolhimento no ano passado não poupou nenhum setor produtivo e nenhum componente da demanda. A vermelhidão foi geral, hemorrágica. Mas, esse é o passado, dizem. Agora temos as reformas, a recuperação, a safra recorde, avante. Avante?

Recessão histórica – Editorial | Folha de S. Paulo

Na história de que se tem registro, jamais os brasileiros empobreceram tanto num biênio como em 2015-2016. Caso se pretenda fixar tal desastre na memória, com uma pincelada rápida e forte, pode-se dizer que estamos diante de um recorde em muitas décadas.

Conforme os dados recém-divulgados pelo IBGE, a renda média por habitante do país encolheu quase 9% no período —se incluída a queda menos aguda de 2014, atinge-se esse percentual.

No colapso financeiro que apressou o fim da ditadura militar, o PIB per capita diminuiu cerca de 13% no triênio 1981-1983, e o patamar de 1980 só seria recuperado de maneira sustentável 13 anos depois.

Agora, dadas as atuais estimativas de crescimento, apenas em 2023 o país retornaria ao mesmo nível de renda média de 2013, numa década inteira de estagnação.

Previsões econômicas decerto não passam de exercícios. Baseiam-se em relações e comportamentos verificados no passado, que podem ser em parte alterados pela inovação institucional e política.

Os reais responsáveis pela crise histórica – Editorial | O Globo

A informação do IBGE, de que o país se manteve em grave recessão em 2016, pelo segundo ano consecutivo — sequência rara —, tem uma evidente dimensão econômica e, por inevitável, repercussão política, por estarmos a uma distância não muito grande do ano eleitoral de 2018.

Os 3,6% da recessão do ano passado se somam aos 3,8% da queda no exercício anterior, para subtrair 7,2% do PIB, algo sequer comparável à perda relativamente menor que teve a economia brasileira na Grande Depressão americana, com duros impactos no mundo, em 1929 e 30.

Há um fato estatístico que não se pode creditar à mera coincidência: com a recessão do ano passado, a produção da economia brasileira voltou aos níveis do segundo semestre de 2010, quando o país teve um crescimento de 7,5%, forjado por políticas “desenvolvimentistas” de aumento descuidado de gastos públicos, via indução a investimentos subsidiados pelo BNDES e práticas do tipo.

Exportações de commodities trazem alento à economia – Editorial | Valor Econômico

Os resultados da balança comercial no primeiro bimestre, fechados na semana passada, inspiraram algum alento e podem ajudar a reverter o pessimismo causado pela queda de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) de 2016, divulgada ontem pelo IBGE, segundo ano consecutivo de retração econômica. Há motivos para se estimar que o desempenho da balança comercial deste ano poderá ser superior ao de 2016, favorecido por uma combinação de aumento do preço das matérias-primas e da produção agrícola. O superávit recorde de US$ 47,7 bilhões da balança comercial do ano passado, o maior desde o início da série histórica em 1980, já havia surpreendido, mas sabia-se que não era sustentável por ser resultado em boa parte da recessão, que reduziu em 19,8% as importações, enquanto as exportações diminuíram 3,2%.

Agora o quadro é mais positivo. O superávit recorde de US$ 7,28 bilhões no primeiro bimestre, 84% superior ao de igual período em 2016, é consequência do aumento de 23,5% das exportações, acima dos 12% de expansão das importações. Em alta desde outubro, os preços das commodities alavancam as exportações de produtos básicos, enquanto as importações reagem favorecidas pela valorização do real. Os embarques de produtos básicos saltaram 41,6% e representaram 46,4% dos US$ 30,4 bilhões exportados no bimestre, impulsionados pela alta dos preços, que chegou a 124,5% no minério de ferro na comparação com o mesmo período de 2016, a 99,9% na soja em grão e a 182,5% no petróleo bruto.

Limitações da Lava Jato – Editorial | O Estado de S. Paulo

Com alguma frequência, o trabalho do Ministério Público Federal (MPF) na Operação Lava Jato tem sido questionado por supostos excessos no modo de conduzir as investigações. Mais do que pelo trabalho em si dos investigadores – que tem encontrado o necessário respaldo do Poder Judiciário –, tais críticas surgem muitas vezes por ocasião de declarações de alguns membros da força-tarefa, que dão a entender que o combate à corrupção aconselharia relativizar garantias processuais. A ideia corrente é de que a Lava Jato seria extremamente positiva para o País, merecendo apenas alguns reparos por eventuais excessos.

Que a Lava Jato seja uma coisa boa para o País, revelando importantes crimes, é inegável. Não há como não aplaudir a investigação da teia de relações promíscuas entre estatais, grandes empreiteiras e políticos. A questão é que não são apenas os supostos excessos da operação a merecerem reparo. Há também uma limitação no foco do trabalho da Lava Jato, com desastrosas consequências para o País.

Num Monumento à Aspirina - João Cabral de Melo Neto

Claramente: o mais prático dos sóis,
o sol de um comprimido de aspirina:
de emprego fácil, portátil e barato,
compacto de sol na lápide sucinta.
Principalmente porque, sol artificial,
que nada limita a funcionar de dia,
que a noite não expulsa, cada noite,
sol imune às leis de meteorologia,
a toda a hora em que se necessita dele
levanta e vem (sempre num claro dia):
acende, para secar a aniagem da alma,
quará-la, em linhos de um meio-dia…

Trio Madeira Brasil | O Trenzinho do Caipira (H. V. Lobos)