- L’Unità & Gramsci e o Brasil.
Muitas pessoas me pediram que publicasse o texto de meu discurso na assembleia nacional do Partido Democrático. É o que faço, esperando que possa ser útil. Quero só estabelecer uma premissa: percebemos o que está acontecendo em torno das discussões e divisões da esquerda?
Retomo só os últimos três dias, só estes. Eis então: Matteo Salvini, o líder da Liga Norte, uma pessoa que pode ter no futuro importantes cargos de governo, coloca na rede uma mensagem em que reproduz, apoiando-o, o aberrante vídeo feito por dois sujeitos que se regozijam por terem fechado num contêiner de lixo duas mulheres nômades.
Salvini acrescenta a tal filme assombroso as seguintes palavras: “Mas como grita esta desgraçada!”. E o mais terrível é ver que houve dezenas de milhares de like e ler os comentários de pessoas que celebram o gesto e até incitam a formas ainda mais ferozes de discriminação.
Nos Estados Unidos, o novo presidente anuncia uma fase de implementação de corrida às armas nucleares, invertendo a tendência da presidência Obama. Não é pouco. Por fim, em meio ao desinteresse de muitos, Trump impediu o acesso, num encontro com a imprensa, de jornais que considera incômodos. Espantou-me que os outros colegas tivessem aceitado esta discriminação impensável e não tenham ido embora.
Três episódios, diferentes entre si, que nos devem fazer refletir sobre este tempo. Não percebemos que a democracia treme? A democracia não é feita só de regras e instituições, mas é feita em primeiro lugar de um espírito, de uma exigência difusa de liberdade. Digo sinceramente, penso que como nunca antes esta não é mais uma certeza. À esquerda gostaria de dizer que, antes de fragmentar-se em mil lascas armadas umas contra as outras, deveria entender o que está acontecendo no cerne da opinião pública, especialmente nos setores mais fracos e abandonados pela política.