DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Sem saber quem será o candidato do partido à Presidência da República, tucanos já encontram problemas nos estados na confecção dos palanques regionais para 2010
Denise Rothenburg
A indefinição do PSDB sobre quem será o seu candidato à Presidência da República atrasou a confecção dos palanques tucanos nos mais diversos estados. No Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do país, e onde, em 2002, José Serra passou a reta final da sua campanha presidencial, os tucanos estão zonzos, sem a menor ideia de quem lançar ao governo estadual.
Enquanto isso, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pode se dar ao luxo de escolher com quem desfilar — o governador-candidato Sérgio Cabral (PMDB), Lindberg Farias (PT) ou Anthony Garotinho (PR). Marina Silva, do PV, terá, no Rio, o apoio do companheiro de legenda Fernando Gabeira.
Esse cenário transformou o Rio num dos estados que hoje mais preocupam a direção nacional do PSDB. “Mas vamos resolver”, diz o presidente tucano, Sérgio Guerra (PE), que já foi ao Rio pelo menos duas vezes tratar desse assunto. “Aqui, só conseguiremos montar um palanque se houver uma parceria com o DEM e com o PPS”, diz o deputado Otávio Leite, cotado para fazer o sacrifício de sair candidato ao governo carioca num cenário pulverizado e repleto de candidatos promissores.
Se essa situação de ausência de candidato ou disputa interna ocorresse apenas no Rio de Janeiro, os tucanos poderiam até soltar foguetes. Mas a situação se repete no Amazonas, no Ceará e em Rondônia (veja quadro). No Amazonas, por exemplo, o ex-deputado Pauderney Avelino (DEM) foi chamado para uma conversa com José Serra no sentido de viabilizar um acordo com o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), candidato à reeleição que, embora seja conhecido nacionalmente, ainda não tem uma chapa estruturada para garantir a vaga no Congresso em 2010.
Em Rondônia, o PSDB está nas mãos do ex-senador Expedito Júnior, que teve o mandato cassado. Na última reunião da direção nacional do partido, em Brasília, ele defendeu a aliança com o prefeito de Ji-Paraná, José Bianco (DEM), e com o deputado Moreira Mendes (PPS). No Ceará, a sorte do PSDB está nas mãos do senador Tasso Jereissati, candidato à reeleição.
Ao mesmo tempo em que têm problemas de falta de candidatos em alguns estados, os tucanos sofrem com as brigas internas em outros. Um dos mais intrincados é São Paulo, o maior colégio eleitoral do país e berço de um dos presidenciáveis, o governador José Serra. Ali, dois secretários de Serra são pré-candidatos ao governo, Geraldo Alckmin e Aluyzio Nunes Ferreira, sendo o segundo o nome da preferência do chefe.
Nos bastidores, há quem diga que o fato de Serra não querer assumir logo uma candidatura à Presidência da República se deve ao receio de uma briga fratricida pela sua própria sucessão em São Paulo. Esperar até fevereiro ou março, avaliam alguns tucanos, dará mais tempo para que as coisas se acertem “em casa” e Serra arrume a disputa paulista sem prejudicar a candidatura presidencial.
Trégua
São Paulo, no entanto, não é o único problema tucano. No Pará, Simão Jatene e Almir Gabriel não se entendem. Na Paraíba, onde o partido tem o ex-governador Cássio Cunha Lima e o senador Cícero Lucena, foi preciso uma reunião com a presença de Serra e do governador de Minas, Aécio Neves, os dois presidenciáveis, para arrancar uma trégua. Cunha Lima, candidato ao Senado, tenta compor uma chapa com Ricardo Coutinho, do PSB, pré-candidato ao governo estadual, cargo que Lucena deseja disputar em 2010.
Como os tucanos ainda não sabem o que fará Ciro Gomes, o comando partidário pediu aos dois que mantenham a calma e evitem um embate antes da hora. Isso porque, se Ciro for candidato a presidente da República, o PSDB terá que buscar seu próprio caminho no estado, uma vez que o palanque de Coutinho estará reservado para o presidenciável socialista.
Como não é possível resolver esses problemas com a presença de Aécio e Serra todos os dias, os tucanos combinaram na semana passada com a cúpula dos democratas e do PPS que, a partir de agora, as reuniões serão semanais, para tentar fechar palanques nos 26 estados e no Distrito Federal. A ordem é resolver tudo em dezembro, ou, se não for possível, pelo menos aproveitar o espírito natalino para desarmar os ânimos onde as brigas estão dominando o cenário.
Colaborou Tiago Pariz
Estranhos no ninho
Saiba quais são os estados mais problemáticos para o PSDB e os entraves em cada um deles:
Rio Grande do Sul
Yeda Crusius (PSDB) e o DEM estão em campos opostos no estado. A governadora deseja concorrer à reeleição e o Democratas busca acordo com o PDT.
São Paulo
Hoje, são dois candidatos a governador pelo partido: Geraldo Alckmin e o chefe de governo de Serra, o ex-deputado Aluyzio Nunes Ferreira. Ambos ainda aguardam uma definição do governador José Serra sobre o futuro.
Rio de Janeiro
Os tucanos estão com dificuldades de encontrar um candidato, já que Fernando Gabeira, do PV, dedicará seu palanque à candidata de seu partido, a senadora Marina Silva (AC). O prefeito de Duque de Caxias, José Zito, que havia se apresentado para a disputa, recuou.
Alagoas
O governador Teotônio Vilela será candidato à reeleição, mas ainda não montou um palanque robusto para fazer frente à parceria Fernando Collor-Renan Calheiros. Não está descartada uma aliança do PSDB com o PSB, tendo o ex-governador Ronaldo Lessa como candidato ao Senado.
Paraíba
O senador Cícero Lucena pretende concorrer ao governo estadual com o apoio do DEM, mas o ex-governador Cássio Cunha Lima, também tucano, deseja apoiar Ricardo Coutinho (PSB).
Ceará
O PSDB não tem candidato ao governo. O senador Tasso Jereissati deve concorrer à reeleição. O mais provável é apoiar Roberto Pessoa, do PR, como candidato a governador.
Maranhão
O PSDB não tem palanque no estado. Os tucanos fazem oposição ao clã Sarney e flertam com um apoio ao PDT, do governador cassado Jackson Lago. Essa saída é considerada problemática porque há uma parte do PT favorável à aliança com os pedetistas.
Amazonas
O senador Arthur Virgílio, que disputa a reeleição, é considerado prioridade. A questão para o governo local segue indefinida.
Pará
Há uma disputa interna entre o senador Mário Couto e o ex-governador Simão Jatene. A solução caminha para um entendimento entre os dois, colocando Jatene como candidato ao governo.
Rondônia
Falta um candidato forte ao governo local. A opção é o senador cassado Expedito Júnior, que perdeu o mandato por acusação de compra de votos.
São poucas as exceções
Os tucanos têm poucos “oásis eleitorais” hoje, ou seja, estados em que não tiveram ou não terão problemas em montar um palanque para o presidenciável. E, ainda assim, é preciso cautela em alguns deles. O Distrito Federal, por exemplo, era, até sexta-feira, considerado um estado onde tucanos e democratas apostavam todas as fichas na reeleição do governador José Roberto Arruda. Agora, com as denúncias em apuração pela Polícia Federal, ficou tudo em suspenso até que o caso seja esclarecido.
Outro local onde os tucanos pretendem esperar para decidir melhor o que fazer é o Rio Grande do Sul. Lá, a governadora Yeda Crusius passou por um calvário e, mesmo assim, insiste em concorrer à reeleição. “Se ela quiser ser candidata, será”, afirma o presidente do partido, Sérgio Guerra.
Por enquanto, para sorte dos tucanos, outros grandes colégios eleitorais estão com palanques bem estruturados, caso, por exemplo, de Minas Gerais. Ali, o governador Aécio Neves tem como pré-candidato à sucessão seu vice, Antonio Anastasia. Há alguns dias, Anastasia reuniu representantes de todos os partidos num jantar em sua homenagem em Brasília, onde foi saudado como candidato a governador por Aécio e por quase toda a bancada federal mineira.
Um palanque tucano praticamente resolvido é o de Pernambuco, onde uma conversa entre o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) e o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), praticamente selou a candidatura de Jarbas ao governo estadual contra Eduardo Campos (PSB), candidato à reeleição.
Porto seguro
A Bahia é outro porto seguro. “Não temos o que temer. Na Bahia está tudo bem, e onde temos problemas, vamos resolver”, comenta o deputado Jutahy Júnior (BA). Lá, o PSDB fechou apoio à candidatura do ex-governador Paulo Souto (DEM), bem posicionado nas pesquisas, e ainda terá o PPS na coligação.
O partido vive uma situação semelhante no Paraná, onde Beto Richa (PSDB) é bem conceituado e tem aparecido na dianteira. Outro palanque que não representará problemas para o PSDB é o do Piauí, onde o PSDB lançará Sílvio Mendes ao governo e terá Heráclito Fortes (DEM) e Mão Santa (PSC) como candidatos ao Senado. (DR)