Ou, procurando soluções para a sociedade, a Universidade achará as suas
Quero iniciar confessando que senti um pouco de mal-estar com o título dessa mesa. Ele insinua a Universidade como uma variável dependente das crises que ora vivemos no Brasil. Como se seu futuro institucional estivesse confiado, ao menos em parte, a esse ou aquele cenário, de superação ou de aguçamento das crises (claro que me refiro às crises política, econômica, ética, etc, etc, etc...)
Reconheço lógica interna e mesmo um certo realismo nesse raciocínio. Mas enquanto preparava essa exposição não me separei da sensação de que os termos da equação podem ser postos de outro modo.
Em primeiro lugar temos que ter em conta o que se vivia na Universidade antes dessa crise irromper (politicamente falando, por isso aqui crise no singular) e chegar ao seu auge. Em outras palavras, nos lembrar de antes de 2012, quando o estado febril de uma greve prolongada já foi sintoma de que algo estava muito errado no mundo de Poliana. O pote encheu bem mais em 2013, arrumou-se uma tampa em 2014, mas continuou enchendo e terminou derramando. Sem considerar o antes não se entenderá o durante nem se vislumbrará o depois e, assim, a metodologia de traçar cenários não ficaria em pé.
Eram astronautas os deuses da crise ou habitavam, nas palavras de Rômulo Almeida, o nosso “chão das realidades vulgares”? Se lembrarmos dos anos 90 não cogitaremos a primeira hipótese. As opostas narrativas a respeito não são contraditórias. Os que lutavam, no âmbito da Universidade, contra o que se combinou chamar de “neoliberalismo” denunciavam a tentativa de destrui-la como parte do desmonte do Estado, enquanto seus adversários, então no governo, afirmavam como socialmente justa a prioridade ao ensino básico na política educacional. Sem entrar na controvérsia pode-se concordar que a universidade pública passou ali por grande penúria, em vários sentidos, não só no financeiro. Mas registre-se que não morreu, sequer perdeu sua relevância, como instituição.