quarta-feira, 20 de julho de 2016

Opinião do dia – Roberto Freire

A declaração de Dilma não causa nenhuma surpresa porque ela é realmente uma pessoa retrograda. A sua incompetência era proverbial. Agora, que se tivesse esse ranço regressivo evidentemente não sabíamos. Como alguém imagina que em pleno século XXI existe salvador da pátria.

Achar que o Poder Executivo forte produz transformações na sociedade é de uma mentalidade obtusa. Porque em nenhum país do mundo, democrático e avançado, se tem esse conceito e essa prática. Ao contrário, o parlamentarismo é uma superação de todas as distorções que os salvadores da pátria promovem nos países com o sistema presidencialista.
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Roberto Freire é deputado federal e presidente nacional do PPS, sobre declaração de Dilma Rousseff, presidente da República afastada.

Pacote contra a corrupção

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, prometeu concluir em dezembro a votação do pacote de medidas contra a corrupção.

Corrupção na agenda

• Presidente da Câmara deve pôr em votação até dezembro projeto com dez medidas sobre o tema

Evandro Éboli e Renan Xavier* - O Globo

-BRASÍLIA- A aprovação do pacote com dez medidas de combate à corrupção no país entrou na lista de prioridades do novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que ontem se reuniu com representantes do Judiciário e do Ministério Público e com um grupo de parlamentares para discutir a tramitação da proposta.

Os representantes das entidades saíram satisfeitos após Maia dizer que vê a tramitação das medidas com bons olhos e prometer agilidade. Os apoiadores dessas mudanças na legislação já estipularam até uma data simbólica para ver o texto aprovado: 9 de dezembro, Dia do Combate à Corrupção.

— Como representantes da sociedade, temos que estar próximos dos que construíram esse texto e apoiá-lo. Essa é uma agenda prioritária. A superação da crise não é só na área econômica, mas na melhoria do controle e no aperfeiçoamento da punição dos que cometeram ilícitos — disse Rodrigo Maia.

‘Esforço concentrado’ na Câmara em agosto

• Rodrigo Maia diz que votará primeiro propostas para ‘superação da crise’

Isabel Braga e Letícia Fernandes - O Globo

-BRASÍLIA- O governo corre contra o tempo para aprovar as principais propostas da pauta econômica no Congresso. Na Câmara, o projeto de renegociação da dívida dos estados com a União será o primeiro da lista, na volta do recesso parlamentar. O presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEMRJ), disse ontem que o tema será apreciado pelo plenário na primeira semana de agosto, abrindo a pauta.

O líder do governo, André Moura (PSC-SE), disse que o prazo dado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para que a União e os estados se entendam — antes que a Corte julgue as ações — acaba no final de julho; por isso, é preciso votar a proposta o mais rapidamente possível.

— Há mobilização dos governadores para que o acordo firmado pelo presidente Michel seja aprovado. A questão dos servidores públicos está esclarecida. Não tenho dúvidas de que aprovaremos na primeira semana de agosto — disse Moura.

Temer janta com Renan e Maia para mostrar harmonia

Por Andrea Jubé – Valor Econômico

BRASÍLIA - Uma vasta pauta foi discutida ontem em jantar que reuniu, no Palácio do Jaburu, o presidente interino Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Na agenda, estavam o pacote de medidas de estímulo à economia, as reformas da Previdência Social, trabalhista e política, propostas de combate à corrupção, o processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado, o de cassação do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e as eleições municipais. Também participaram o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, e o secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco.

Temer teve a ideia de reunir os chefes dos dois Poderes no fim de semana, quando telefonou para Renan e Rodrigo Maia convidando-os para o encontro. Além da premência em aprovar projetos do Executivo para a reconquista da confiança e retomada do crescimento econômico, Temer tinha em mente o simbolismo do encontro: mostrar harmonia dos Poderes em busca de saída para a crise.

Maia diz ser possível votar cassação de Cunha na segunda semana de agosto

Débora Álvares – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse na manhã desta terça-feira (19) ser possível votar a cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a partir da segunda semana de agosto.

Após vencer a eleição, na madrugada de quinta (14), Maia colocou o assunto como prioritário e afirmou que pautaria o tema assim que conseguisse reunir quorum suficiente para isso. Para cassar um deputado, são necessários 257 votos.

"Na primeira semana [de agosto] acho difícil, mas a partir da segunda é possível. Só não quero dar data, porque, se não tiver quorum, vão ficar me cobrando que eu adiei a votação. Vamos ter uma noção melhor na primeira semana de qual é o quorum, como vai se construir um quorum, para se dar uma data objetiva desse assunto", afirmou o presidente da Casa.

Embora tenha passado o dia em reuniões com líderes e chegado a cogitar que a votação ocorra em 9 ou 10 de agosto, Maia preferiu não cravar ainda o dia em que pretende convocar a votação.

Ex-diretor da Sete Brasil confirma que dividia propina com PT e Renato Duque

Por Ricardo Mendonça – Valor Econômico

SÃO PAULO - Em depoimento prestado ontem ao juiz federal Sergio Moro, em Curitiba, o ex-diretor presidente da Sete Brasil João Carlos Ferraz, réu e delator na Operação Lava-Jato, confirmou que dividia propina cobrada de estaleiros contratados pela empresa com o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e com os também ex-diretores da Sete Pedro Barusco e Eduardo Musa.

Segundo Ferraz, a propina total correspondia 0,9% dos contratos firmados pela Sete com os estaleiros, como Jurong, Keppel Fels e Atlântico Sul.

Dois terços do dinheiro, disse, era para o PT, pago via Vaccari. O restante era dividido entre o que eles chamavam de "Casa 1" (diretoria da Petrobras, via Duque) e "Casa 2" (ele, Barusco e Musa).

Temer pede a ministros pressa em ações para a economia

• Presidente quer apresentar medidas daqui a duas semanas

Catarina Alencastro, Cristiane Jungblut, Júnia Gama e Martha Beck - O Globo

-BRASÍLIA- O presidente interino, Michel Temer, pediu ontem a seus ministros que façam, o mais brevemente possível, um levantamento de medidas para estimular a economia. Uma das linhas de frente é reunir projetos que possam ser incluídos nos pacotes de concessões e privatizações que o governo planeja lançar. A intenção de Temer é anunciar as primeiras ações dentro de duas semanas, prazo dado aos ministros do chamado núcleo econômico para elaborarem os projetos.

A despeito do pedido de pressa, na reunião, o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos da Presidência da República, Moreira Franco, voltou a alertar Temer de que há uma resistência, entre os investidores, ao lançamento de um pacote de concessões antes da conclusão do processo de impeachment.

— Não adianta lançar um pacote agora se não se sabe com quem os contratos serão assinados — disse um interlocutor de Moreira.

Para Freire, declaração de Dilma sobre o parlamentarismo é “retrograda” e “obtusa”

- Portal do PPS

O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), classificou de “retrograda” e “obtusa” a declaração da presidente afastada Dilma Rousseff sobre o parlamentarismo. A petista disse nesta segunda-feira para uma plateia de estudantes do ABC paulista que o processo de impeachment contra ela é uma “ambição muito forte pelo parlamentarismo”.

“A declaração de Dilma não causa nenhuma surpresa porque ela é realmente uma pessoa retrograda. A sua incompetência era proverbial. Agora, que se tivesse esse ranço regressivo evidentemente não sabíamos. Como alguém imagina que em pleno século XXI existe salvador da pátria”, ironizou Freire.

Para a presidente afastada, “no Brasil, todas as transformações ocorreram através do voto majoritário do presidente da República”.

“Achar que o Poder Executivo forte produz transformações na sociedade é de uma mentalidade obtusa. Porque em nenhum país do mundo, democrático e avançado, se tem esse conceito e essa prática. Ao contrário, o parlamentarismo é uma superação de todas as distorções que os salvadores da pátria promovem nos países com o sistema presidencialista”, afirmou.

Segundo Freire, a América Latina é um “exemplo patente de todo o atraso e retrocesso” que envolve o sistema presidencialista. “É lamentável Dilma pensar assim”, afirmou.

Estados aprovam leis para reaver parte de incentivos

Por Rodrigo Carro, Cristian Klein e Heloisa Magalhães – Valor Econômico

RIO - Em grave crise financeira, os Estados se movimentam para receber de volta parte dos incentivos fiscais concedidos ao setor privado. Bahia, Pernambuco e Alagoas já aprovaram leis nesse sentido. Agora, o Rio de Janeiro também propôs um projeto de lei que estabelece a devolução pelas empresas beneficiadas por incentivos fiscais de 10% do valor do subsídio a cada ano. Essa medida, se aprovada, pode representar um reforço de caixa de até R$ 1 bilhão por ano, segundo estimativa do governador em exercício do Estado, Francisco Dornelles (PP).

Em entrevista ao Valor, Dornelles confirmou que enviou à Assembleia Legislativa fluminense um projeto que estabelece a devolução de parte dos incentivos. A contribuição compulsória, explicou o governador, não será cobrada retroativamente.

Estado envia à Alerj projeto que cria o fundo de incentivos fiscais

• Pela proposta, empresas devem repassar ao governo 10% dos benefícios

Luiz Gustavo Schmitt - O Globo

O governador interino Francisco Dornelles enviou ontem à Assembleia Legislativa (Alerj) um projeto de lei propondo a criação de um fundo de equilíbrio fiscal, para aliviar o caixa do estado. Se a nova regra for aprovada, as empresas deverão repassar ao tesouro 10% dos incentivos fiscais que receberem.

A estimativa é que, com essa medida, o Rio possa embolsar até R$ 1 bilhão este ano. A conta tem como base a renúncia fiscal feita pelo estado, que será de R$ 10 bilhões, segundo consta da Lei Orçamentária de 2016. O dinheiro poderia ser contabilizado na receita líquida e ajudaria o Rio a não estourar o limite de gastos com pessoal estabelecido na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), evitando, assim, a demissão de servidores. O déficit previsto para este ano é de R$ 19 bilhões.

Servidores fazem protesto na Alerj, e deputados suspendem votação

• Seguranças usaram spray de pimenta para impedir invasão do plenário

- O Globo

Um protesto de servidores públicos levou à suspensão da sessão da Alerj na tarde de ontem. Segundo o presidente da Casa, Jorge Picciani, um grupo de mascarados tentou invadir o plenário e foi dispersado pela segurança com spray de pimenta.

Em seguida, os manifestantes ocuparam a Rua Primeiro de Março, interditando o trânsito. Houve reflexos e lentidão na região. A Rua da Assembleia também foi fechada. As portas da Alerj ficaram fechadas por quase uma hora. Cerca de 40 PMs cercaram o Palácio Tiradentes, para evitar risco de depredação do prédio, que está em reforma e é tombado pelo Instituto Histórico do Patrimônio Artístico Nacional (Iphan). Mascarados chegaram a atear fogo num boneco, que diziam ser o governador interino Francisco Dornelles.

Governo do Rio quer devolução de parcela dos incentivos fiscais

Por Rodrigo Carro, Cristian Klein e Heloisa Magalhães – Valor Econômico

RIO - Imersos em grave crise fiscal, os Estados estão se movimentando para receber de volta parte dos incentivos fiscais concedidos ao setor privado. Bahia, Pernambuco e Alagoas já aprovaram leis nesse sentido e agora é a vez do Rio propor um projeto de lei que estabelece a devolução de 10% do valor do subsídio pelas empresas beneficiadas pelas isenções fiscais, o que representaria um reforço de caixa de até R$ 1 bilhão ao ano.

O governador em exercício do Rio, Francisco Dornelles (PP), enviou à Assembleia Legislativa um projeto que institui o Fundo Estadual de Equilíbrio Fiscal para o qual será destinada a devolução dos incentivos pelas empresas. Caso seja aprovada, a contribuição compulsória não será cobrada retroativamente. "Você não vai fazer a [cobrança] para trás, mas para frente", disse Dornelles, ao Valor.

Combate à corrupção - Merval Pereira

- O Globo

Pacote de combate à corrupção é desafio de Maia. Por mais apoio que tenha, e a votação que obteve é sinal positivo sobre isso, Rodrigo Maia, o novo presidente da Câmara, vai precisar de muita lábia e paciência para levar adiante o projeto de reinventar a imagem dos políticos nessa sua curta gestão de pouco mais de seis meses.

Há entre os deputados um sentimento mal disfarçado de perseguição e uma queixa generalizada sobre os que colocam o Congresso contra a parede, ou seja, o Ministério Público e seus procuradores, os juízes, especialmente os de primeira instância, como Sérgio Moro, e a imprensa de maneira geral.

Uma batalha a ser vencida será, por exemplo, a negociação em torno das dez medidas contra a corrupção apresentadas pelos procuradores de Curitiba e referendadas por milhões de assinaturas populares. Assim como a Lei da Ficha Limpa, que também foi oferecida ao Congresso através de uma iniciativa popular, as medidas contra a corrupção corriam o risco de ficarem engavetadas.

Pedra no caminho - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

Tida como questão de dias, semanas, no máximo, a cassação de Eduardo Cunha já não é a mesma fava contada de antes do início do recesso parlamentar, na última sexta-feira. À primeira vista não se trata de conspiração, acordo, manobra ou jogada combinada para impedir que o ex-presidente da Câmara perca o foro privilegiado de Justiça até quando for possível.

Embora seja prudente confiar desconfiando, salvo segunda ordem ou até que surjam sinais objetivos do contrário, a possibilidade de novos adiamentos que na prática o favoreçam decorre de uma conjugação de fatores: Olimpíada, eleição de um novo presidente da Câmara, campanha eleitoral e o consequente arrefecimento do interesse de suas excelências em atender as demandas da opinião pública depois que seus candidatos e prefeitos e vereadores tenham passado pelo julgamento das urnas.

Desânimo olímpico – Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Faltam duas semanas para o início da Rio-2016, mas o espírito olímpico ainda não contagiou os brasileiros. Pelo contrário: o Datafolha descobriu que a rejeição aos Jogos dobrou em três anos.

Em junho de 2013, um quarto da população era contra a realização da Olimpíada. Agora o percentual de insatisfeitos saltou para 50%. Metade dos entrevistados diz não ter nenhum interesse pelas competições, e 63% acreditam que o megaevento vai trazer mais prejuízos do que benefícios para o país.

O mau humor parece estar ligado à situação do país e da cidade-sede. O Brasil mergulhou na maior crise política e econômica das últimas décadas, e o Rio voltou aos tempos da penúria e do bangue-bangue.

Michel Temer equilibrou-se - Elio Gaspari

• A velha característica de FHC voltou a Brasília, agora a crise entra no palácio e, quando sai, está menor

- O Globo

Temer estabiliza seu governo com sangue-frio. Antes mesmo de completar cem dias, Michel Temer conseguiu dar estabilidade ao seu governo. Começou da pior maneira possível, com um ministério pífio e contaminado, cercado de suspeitas e de ligações inconvenientes. A mágica tem um nome: calma, sangue-frio ou mesmo serenidade.

Temer chegou ao Planalto com duas décadas de vida parlamentar, uma experiência que faltou a Dilma Rousseff. Essa parece ser uma característica trivial, mas o bom parlamentar ouve, contém as emoções e, sobretudo, respeita o contraditório, mesmo quando ele carrega tolices a serviço da desonestidade. Temer não move os músculos do rosto, parece falar por meio de um sintetizador calibrado para um só tom e, apesar de gesticular com alguma teatralidade, é suave até quando bate com a mão na mesa. Convivendo com a rotina do Congresso e longos discursos inúteis, o bom parlamentar não tem pressa.

Lições do médio clero - Rosângela Bittar

• Na disputa da Câmara, venceu o impeachment

- Valor Econômico

O pai de Rodrigo Maia (DEM), ex-prefeito do Rio Cesar Maia, atribuiu a um bem definido médio clero a vitória do filho na disputa para a presidência da Câmara dos Deputados, semana passada. Há lições dessa eleição que, se desprezadas, são prejuízo certo à percepção do momento em que surgiram as condições necessárias ao governo de transição no pós-impeachment. A lição número 1 é o ritmo da ação, com a rapidez de um raio, para decidir, negociar e impermeabilizar a candidatura vencedora.

Na noite da véspera, em jantar de aniversário do ministro da Educação, o pernambucano Mendonça Filho, o presidente Michel Temer, os ministros José Serra e Geddel Vieira Lima, os senadores Aécio Neves e Agripino Maia, e o deputado Rodrigo Maia, reuniram-se não por mais do que 15 minutos e decidiram o apoio ao candidato do DEM.

Construiu-se uma ponte para o grupo atravessar este momento de dificuldades, fora da seara do PMDB e do PT, os partidos envolvidos na disputa do impeachment.

Capitalismo e População Mundial - Raymundo de Oliveira*

Prefácio

Muito se tem escrito sobre a população mundial, sua evolução no tempo e os problemas que seu crescimento vem trazendo e trará para esta e para as gerações futuras. Entretanto a quase totalidade desses escritos os analisam a partir da variação das taxas de natalidade, mortalidade e esperança de vida, o que limita tais estudos a uma avaliação puramente quantitativa.

Sergio Moraes traz uma nova abordagem, ao fazer uma análise paralela dessa evolução e do processo de reprodução do capital, com ênfase na Europa e nos EUA, do inicio da revolução industrial até nossos dias, buscando as causas de tal fenômeno.

No inicio deste período o Autor assinala que a transição do modo de produção feudal ao capitalista não foi um “mar de rosas”. Nela conviveram expulsão violenta dos camponeses de suas terras, invenção de máquinas aumentando a produtividade e os lucros e liberando mão de obra para a indústria. Nesse processo de mão dupla, as cidades atraem as indústrias e a indústria provoca a urbanização. “Deste modo, as transformações urbanas atraem ou não o capital, facilitam ou não sua implantação, mas não jogam o papel decisivo na reprodução da população sob o capitalismo”. Então como isto acontece? Sergio não se limita a mostrar números, trata de indicar as razões e as alterações na sociedade que dão base a tais transformações.

Tirando o umbigo do foco* - Paulo Fábio Dantas**

Ou, procurando soluções para a sociedade, a Universidade achará as suas 

Quero iniciar confessando que senti um pouco de mal-estar com o título dessa mesa. Ele insinua a Universidade como uma variável dependente das crises que ora vivemos no Brasil. Como se seu futuro institucional estivesse confiado, ao menos em parte, a esse ou aquele cenário, de superação ou de aguçamento das crises (claro que me refiro às crises política, econômica, ética, etc, etc, etc...) 
Reconheço lógica interna e mesmo um certo realismo nesse raciocínio. Mas enquanto preparava essa exposição não me separei da sensação de que os termos da equação podem ser postos de outro modo.

Em primeiro lugar temos que ter em conta o que se vivia na Universidade antes dessa crise irromper (politicamente falando, por isso aqui crise no singular) e chegar ao seu auge. Em outras palavras, nos lembrar de antes de 2012, quando o estado febril de uma greve prolongada já foi sintoma de que algo estava muito errado no mundo de Poliana. O pote encheu bem mais em 2013, arrumou-se uma tampa em 2014, mas continuou enchendo e terminou derramando. Sem considerar o antes não se entenderá o durante nem se vislumbrará o depois e, assim, a metodologia de traçar cenários não ficaria em pé. 

Eram astronautas os deuses da crise ou habitavam, nas palavras de Rômulo Almeida, o nosso “chão das realidades vulgares”? Se lembrarmos dos anos 90 não cogitaremos a primeira hipótese. As opostas narrativas a respeito não são contraditórias. Os que lutavam, no âmbito da Universidade, contra o que se combinou chamar de “neoliberalismo” denunciavam a tentativa de destrui-la como parte do desmonte do Estado, enquanto seus adversários, então no governo, afirmavam como socialmente justa a prioridade ao ensino básico na política educacional. Sem entrar na controvérsia pode-se concordar que a universidade pública passou ali por grande penúria, em vários sentidos, não só no financeiro. Mas registre-se que não morreu, sequer perdeu sua relevância, como instituição. 

Agenda duvidosa - Míriam Leitão

- O Globo

Invenções na economia são risco para a retomada. O governo fez uma consulta ao Tribunal de Contas da União para saber se há algum problema em se propor a securitização de dívidas não pagas ao Tesouro. Só irá adiante se o TCU concordar. O órgão nada disse, mas existem diversas dúvidas sobre se este projeto é bom ou não. De alguns devedores é fácil receber, de outros é impossível. O mercado vai querer ficar com o fácil e exigir um grande desconto.

Este é o tipo da medida que parece simples e tem uma enorme complexidade. Alguns estados pediram à McKinsey para avaliar se seria um bom negócio a securitização das dívidas. E a resposta foi que não era um bom negócio porque o estado poderia acabar ficando com uma parte pequena do valor total da dívida. Os intermediários ganhariam mais. Mesmo assim, essa proposta apareceu na lista das soluções mágicas do Ministério do Planejamento para o país retomar o crescimento.

Não há solução sem reforma da previdência - Cristiano Romero

• Quase 90% do gasto primário da União é obrigatório

- Valor Econômico

Para manter as despesas primárias nos próximos anos dentro do teto que propôs ao Congresso Nacional, o governo terá que aprovar ampla reforma da previdência social. Além disso, a sustentabilidade das contas públicas exigirá a aprovação de outras medidas fiscais, inclusive, o aumento de impostos. A atual vinculação entre salário mínimo e piso previdenciário também terá que ser revista, do contrário, o gasto com aposentadorias continuará crescendo a taxas elevadas.

Nos 12 meses acumulados até maio, os gastos da União com benefícios previdenciários responderam por 38% da despesa primária (que não inclui os juros da dívida pública). Outros 11% da despesa foram despendidos com funcionários públicos da ativa e 9% com inativos. Apenas essas três rubricas, portanto, representam 58% do gasto primário. Estes são gastos obrigatórios. A única forma de reduzi-los é por meio de mudanças nas leis do país.

La Cobijada - Monica De Bolle*

- O Estado de S. Paulo

La cobijada era a mulher que, em alguns povoados da província de Cádiz, na Andaluzia, vestia-se de trajes negros, deixando apenas um dos olhos descobertos – o direito. Na pequena cidade de Vejer de La Frontera há uma estátua em homenagem a essa antiga tradição de origem árabe, estátua negra voltada para o horizonte, misteriosa, angustiante, amedrontadora. Como o mundo.

Cobiçada é a recuperação da economia brasileira. Tão cobiçada é a retomada do Brasil que muitos se apressam em esboçar cenários para o ano que vem, alguns deles bastante otimistas. Há quem acredite que, depois de viver a pior recessão já registrada, o País seja capaz não apenas de retomar o crescimento em 2017, mas de fazê-lo com algum vigor. Previsões de expansão econômica que superam a marca de 1% começam a proliferar em meio à euforia dos mercados, sobretudo dos investidores estrangeiros, com a equipe escolhida por Michel Temer. Tenho demonstrado nesse espaço meu ceticismo em relação a tais profecias diante das dificuldades políticas que continuam a atormentar o País. Nesse artigo, abordarei outra fonte de ceticismo: o mundo.

Crise anunciada. E recorrente? - Pedro Ferreira e Renato Fragelli

• Sem apoio político, a excelente equipe econômica montada pelo presidente interino pouco poderá fazer

- Valor Econômico

No dia 28 de julho lançaremos uma coletânea com todos nossos artigos publicados neste espaço do Valor, entre 2010 e 2015(*). O livro intitula-se "Crônicas de uma crise anunciada", com subtítulo "A falência da economia brasileira documentada mês a mês". Sua organização foi uma oportunidade para repensarmos, relendo cada uma das crônicas, os erros que levaram o país à mais grave crise econômica de sua história. E também para avaliarmos, diante da mudança de governo, se os equívocos foram deixados para trás ou não.

Uma primeira constatação é que a crise atual poderia ter sido evitada. Os problemas por que passa o Brasil não foram causados por choques externos, por crise internacional ou por qualquer força alheia ao controle do país. Foram problemas autoinfligidos, gerados pela política econômica intervencionista adotada após a crise do subprime em 2008, e intensificada ao limite ao longo do primeiro governo de Dilma Rousseff.

O conjunto dessas políticas, que recebeu a alcunha de Nova Matriz Econômica, significou uma guinada de 180 graus em relação à rota seguida durante o governo Fernando Henrique Cardoso e o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva. A racionalidade econômica, que havia colocado o Brasil em uma saudável trajetória de crescimento e baixa inflação, foi deliberadamente abandonada.

Distensão política ajuda nas expectativas – Editorial / O Globo

• País começa a sair do pessimismo, mas governo Temer e Congresso têm de trabalhar na agenda das reformas, porque a retomada do crescimento não será espontânea

Em contraste com as tensões de todo o curto segundo mandato da presidente Dilma, agravadas pelo clima de guerra criado no lulopetismo em torno da votação do afastamento da presidente, vive-se um período de saudável distensão, amplificada pelo encaminhamento ao plenário da Câmara do pedido de cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Cunha e Dilma, dois fatores de polarização na vida pública, estão, neste momento, em segundo plano, embora nada ainda tenha sido decidido sobre seu futuro. Neste quadro, a vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) na eleição para presidente da Casa, com um discurso apaziguador, veio reforçar a tendência ao desanuviamento.

A própria troca de Dilma por Temer, político adestrado no diálogo, de falas às vezes rebuscadas porém compreensíveis, já significou um avanço. E a escolha de uma equipe econômica competente serviu para animar os mercados.

A Fiesp erra o alvo – Editorial / O Estado de S. Paulo

O empreendedorismo é condição imprescindível para a criação e distribuição de riqueza numa sociedade livre. A iniciativa privada, sujeita às disposições legais democraticamente estabelecidas para preservar o bem comum, é o vetor principal do crescimento econômico e, consequentemente, da prosperidade social. Cabe, portanto, às entidades representativas do mundo corporativo a responsabilidade de zelar pela idoneidade dos negócios que têm a missão de apoiar, estimular e defender. Isso implica, no mínimo, assumir uma atitude crítica aos eventuais desvios de comportamento de associados no que diz respeito aos negócios que empreendem, quando mais não seja para preservar a imagem e, consequentemente, os interesses da coletividade que representam.

Proteger os Jogos – Editorial / Folha de S. Paulo

O atroz ataque terrorista perpetrado na cidade francesa de Nice, com saldo de 84 mortos, forçou o governo a intensificar os procedimentos de segurança para a Olimpíada do Rio. Ainda que ligados a um contexto externo, os temores tendem a reforçar o sentimento predominante de que o evento se tornou um estorvo para o país.

Recém-concluída pesquisa Datafolha aponta que, para 63% dos brasileiros, os Jogos trarão mais prejuízos do que benefícios para a população –há três anos, apenas 38% diziam o mesmo. Para 57%, a segurança pública será mais motivo de vergonha do que de orgulho.

Sem inimigos externos e conflitos étnicos ou religiosos pronunciados, o Brasil nunca esteve no foco de ações terroristas. Para compensar a inexperiência –e evitar ataques como os de Munique-72 e Atlanta-96–, as autoridades têm trocado informações e recebido treinamento de outros países.

Além da possibilidade de atos cometidos por iniciativa individual, o inusitado uso de um caminhão na carnificina de Nice trouxe preocupações adicionais com o trânsito. Mais barreiras e blitze policiais elevarão os transtornos para a população carioca.

Golpe militar escancara crise política na Turquia – Editorial / Valor Econômico

A amadora tentativa de golpe militar na Turquia, estranha em país com história marcada por bem-sucedidas e brutais intervenções das forças armadas, empurrou o presidente Recep Erdogan para a rota do autoritarismo aberto e para uma desestabilizadora crise política. O ensaio de volta dos militares ao poder reflete uma cisão política que se aprofunda, onde o AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento), de Erdogan, carrega consigo metade do eleitorado, enquanto a outra metade se alinha cada vez mais com a oposição civil. A rejeição aos militares uniu todos os partidos em repúdio ao golpe, fortalecendo o poder que Erdogan usará para abater a oposição.

Erdogan está no poder desde 2003 e agora como presidente ampliou os poderes de um cargo então decorativo. Considerado no início como exemplo da possibilidade de convivência de um partido islâmico com a democracia, o AKP sob Erdogan quer perpetuar-se no poder, derrubando obstáculos com atentados à democracia. A ânsia continuísta do presidente teve como consequência a perseguição política e judicial à imprensa, às redes sociais e à oposição, em especial aliados de outrora do campo islâmico, os gulenistas, seguidores do clérigo moderado secularista Fethullah Gulen.

Eta mundo ruim – Zuenir Ventura

• A pior novidade é que agora estão procurando exportar para nós terrorismo e outras mazelas, como se as nativas não fossem suficientes

- O Globo

Mundo tenta exportar para nós o terrorismo. Podia ser pior, podia ser a França dos atentados terroristas, a Turquia da tentativa de golpe de Estado com mais de 200 mortos, os Estados Unidos dos eternos conflitos raciais ou mesmo a Venezuela dos milhares de habitantes atravessando a fronteira para comprar alimentos e medicamentos. Essas tragédias distantes não nos servem, porém, de consolo nem querem dizer que devemos ficar satisfeitos com a nossa crise, com os nossos quase 60 mil homicídios por ano e com uma situação como a do Rio, onde, em 72 horas da semana passada, balas perdidas deixaram três mortos e 12 feridos, em episódios de violência que viraram rotina.

Camisa da seleção agora é para assoar o nariz – Ruy Castro

- Folha de S. Paulo

No fim de semana, a TV mostrou a despedida de Pelé da seleção brasileira há 45 anos. Foi no dia 18 de julho de 1971, no Maracanã, num amistoso contra a Iugoslávia escolhido para a ocasião. A partida terminou 2 a 2, mas o placar, o adversário e o jogo não importam. O grande momento foi no fim do primeiro tempo, quando o locutor anunciou pelo alto-falante que chegara a hora, e Pelé daria a volta olímpica.

Pelé começou a correr em torno do gramado, ao coro de "Fica! Fica!" gritado por 140 mil torcedores. Em certo momento, enquanto corria, tirou a camisa, e o simbolismo desse gesto foi demais para todo mundo. Era como se a estivesse tirando pela última vez, porque nunca mais a vestiria. Pelé começou a chorar –e a enxugar as lágrimas com a camisa.

Soneto da busca - Carlos Pena Filho

Eu quase te busquei entre os bambus
para o encontro campestre de janeiro
porém, arisca que és, logo supus
que há muito já compunhas fevereiro.

Dispersei-me na curva como a luz
do sol que agora estanca-se no outeiro
e assim também, meu sonho se reduz
de encontro ao obstáculo primeiro.

Avançada no tempo, te perdeste
sobre o verde capim, atrás do arbusto
que nasceu para esconder de mim teu busto.

Avançada no tempo, te esqueceste
como esqueço o caminho onde não vou
e a face que na rua não passou.

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Poema extraído do livro A Vertigem Lúcida

Bandeira Branca - Maria Rita