sexta-feira, 20 de junho de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Não existe democracia sem imprensa livre. E da nossa parte haverá absoluta defesa dessa liberdade. Já no campo de nossos adversários, volta e meia assistimos o retorno, mesmo que de forma velada, de ameaças a essa liberdade.

Aécio Neves presidente nacional do PSDB e candidato à Presidência da República.

Declaração de Carvalho causa mal-estar no PT

• Para vice-presidente da sigla, fala do ministro, segundo a qual os xingamentos a Dilma no Itaquerão não partiram apenas da ‘elite branca’, é ‘fora de propósito’

Ricardo Galhardo e Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

A cúpula do PT fará um desagravo à presidente Dilma Rousseff na convenção do partido que oficializará, no sábado, a candidatura dela ao segundo mandato. Apesar das divergências com Dilma, os petistas decidiram expressar sua solidariedade à presidente no dia de sua aclamação como candidata, em Brasília, após as vaias e xingamentos recebidos por ela na abertura da Copa do Mundo.

Com essa estratégia traçada, causou mal-estar no PT a declaração do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para quem os xingamentos a Dilma não partiram apenas da “elite branca”, como afirmou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para Carvalho, a avaliação de que o governo se locupletou com a corrupção “pegou” e chegou às classes menos favorecidas.

“Acho que a declaração do ministro está fora de propósito, porque os fatos falam por si”, criticou o deputado José Guimarães (CE), vice-presidente do PT. Irmão de José Genoino, um dos condenados no processo do mensalão, Guimarães endossou a tática petista de vincular os insultos a Dilma apenas a uma parcela da sociedade, de renda mais alta.

“O fato é que a oposição caiu depois de todo esse estrupício que fizeram na Copa”, disse Guimarães. “Não sei qual outro candidato chegaria nessa altura do campeonato com quase 40%, depois de tudo o que aprontaram na abertura da Copa. Diziam que a Dilma não fazia política, mas é ela que está dando o ritmo da disputa eleitoral.”

Pesquisa da CNI/Ibope divulgada nesta quinta-feira, 19, mostra Dilma com 39% das intenções de voto, seguida pelo senador Aécio Neves (PSDB), com 21%, e pelo candidato do PSB, Eduardo Campos, com 10%. Sondagens feitas pelo marqueteiro João Santana, responsável pela propaganda de Dilma, indicam que a presidente começou a capitalizar os insultos recebidos no estádio do Itaquerão porque a maioria dos entrevistados se mostrou indignada com as manifestações.

‘Sincericídio’. O desagravo a Dilma deve ocorrer nos discursos de Lula e do presidente do partido, Rui Falcão. Santana, Falcão e os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) se reuniram na noite desta quinta com Dilma, no Palácio da Alvorada, para repassar o roteiro da convenção e avaliar as mais recentes pesquisas. O comando da campanha diz que o quadro sugere estabilidade da presidente.

Nos bastidores do governo, o comentário é o de que Carvalho cometeu um “sincericídio” ao observar que esta será a eleição mais difícil para o PT. No diagnóstico do ministro, o governo não fez o enfrentamento adequado na mídia para rebater as denúncias de corrupção e, com a “pancadaria diária”, Dilma acabou sofrendo desgaste em todas as parcelas da população.

“Respeito muito a opinião do Gilberto, mas discordo dele”, reagiu o líder do PT na Câmara, Vicente Paulo da Silva (SP), o Vicentinho. “Quem estava lá no estádio não era o povo de Itaquera. Era o povo que não representa nem mesmo a população de São Paulo. Todo mundo sabe que o palavrão saiu de um setor bem pequeno.” Procurado pelo Estado, Carvalho não quis retomar o assunto. “Prefiro não polemizar com meus companheiros.”

Petistas reagem à declaração de ministro sobre vaias a Dilma

• Para sigla, Gilberto Carvalho municiou oposição ao negar ‘elite branca’

Fernanda Krakovics e Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA- A declaração do ministro Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) de que as vaias e os xingamentos contra a presidente Dilma Rousseff, na abertura da Copa do Mundo, não partiram apenas da “elite branca” repercutiu mal na cúpula do PT, embora alguns dirigentes do partido afirmem que a avaliação não está de todo errada.

Às vésperas da convenção que oficializará, amanhã, a candidatura de Dilma à reeleição, a afirmação de Carvalho minou o discurso encabeçado pelo ex-presidente Lula de que as camadas mais ricas da sociedade estariam estimulando o ódio contra Dilma e o PT. Ontem, o presidente nacional da sigla, Rui Falcão, passou a tarde reunido com o campo majoritário do partido e, em seguida, encontrou presidente no Palácio da Alvorada. Eles discutiram o resultado da pesquisa CNI/Ibope, as declarações de Gilberto, problemas em palanques estaduais e a preparação para a convenção.

A avaliação na direção do PT é de que Carvalho falou demais e deu munição aos adversários. Incomodou especialmente a afirmação do ministro de que a imagem de que o governo é corrupto “pegou”. As declarações foram dadas em bate-papo com blogueiros, ativistas e jornalistas pró-governo, transmitido ao vivo pela internet. O evento tinha como tema o polêmico decreto presidencial que cria uma superestrutura de conselhos populares na administração federal.

— O Gilberto está meio fora da casinha! Depois de todo esse estrupício que fizeram com Dilma na Copa, ela está melhor do que eu imaginava. Essa declaração está fora de propósito — disse um dos vice-presidentes do PT, deputado José Guimarães (CE).

O líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), também reprovou as declarações.

— Eu discordo dele. Eu vi no estádio que o povo não estava lá.

Pode ter insatisfação, mas aquele palavreado não representa o povo de São Paulo. É coisa de gente pobre de espírito. Vai ver que ficaram chateados porque tiveram que andar de metrô.

Apesar disso, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), concordou em parte com a avaliação feita pelo ministro:

— Não digo que os xingamentos tenham partido de outros segmentos. Com isso, eu não concordo. Mas que esse mau humor contaminou outros segmentos, concordo. A nova classe média foi contaminada.

No bate-papo com blogueiros, Carvalho afirmou que as denúncias da imprensa sobre aparelhamento do governo e a suposta leniência do PT com casos de corrupção tiveram impacto também nas classes baixas.

Líder do PMDB na Câmara, o deputado Eduardo Cunha (RJ) disse que não tinha como avaliar os xingamentos poque não estava no estádio, mas concordou com Carvalho, dizendo que a rejeição já aparece nas pesquisas.

A oposição usou as declarações do ministro para tentar desgastar o governo. O líder do PSDB na Câmara, deputado Antonio Imbassahy (BA), afirmou que Carvalho desmentiu o expresidente Lula:

— O ministro Gilberto desmentiu seu ex-chefe, desmentiu o ex-presidente Lula. O homem de confiança de Lula deu um testemunho de que o povo está descontente — disse Imbassahy.

Equipe de Aécio mistura nomes ligados a FHC, Alckmin e Serra

• Tucano apresenta hoje diretrizes e nomes do plano de governo

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A fórmula criada pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG) para passar credibilidade na formulação de seu programa de governo para a disputa presidencial prevê a mistura de nomes alinhados ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ao próprio Aécio e aos paulistas Geraldo Alckmin e José Serra.

O mineiro apresentará as diretrizes de seu plano e anunciará alguns dos responsáveis por áreas estratégicas nesta sexta-feira (20).

Para evitar que existam especulações sobre ministeriáveis e também uma ligação direta à campanha de opiniões pessoais emitidas por seus colaboradores, ele criou estruturas descentralizadas, em que não haja apenas uma pessoa como referência.

Aécio investe na divulgação do plano de governo por acreditar que isso irá diferenciá-lo do PT. Em 2010, o candidato dos tucanos, José Serra, apresentou um documento de 13 páginas, que era na verdade uma réplica de seu discurso de campanha.

O PT da presidente Dilma Rousseff, por sua vez, levou à Justiça Eleitoral uma cópia das diretrizes apresentadas pelo partido em um congresso nacional. O texto fazia referência a questões polêmicas, como "controle social da mídia" e "taxação de grandes fortunas". Após repercussão, o documento foi substituído.

A ideia de Aécio é fazer do programa uma vacina às críticas de que o PSDB é um partido privatista e sem sensibilidade social. Nesta área, dois políticos vão pilotar o plano: Rita Camata (PSDB-ES) e o deputado Eduardo Barbosa (PSDB-MG).

A referência do plano em educação será a ex-secretária de Serra em São Paulo, Maria Helena de Castro.

Na ala da saúde, estão entre os colaboradores Barjas Negri, nome técnico ligado a Serra, e André Médici, especialista do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

O coordenador-geral do programa de governo, Antonio Anastasia, terá como sub a economista Carla Grasso, que foi executiva da Vale após a privatização no governo FHC. Seus defensores dizem que ela foi essencial para a recuperação da empresa.

Para a segurança, área em que Aécio tem criticado fortemente a atuação do governo Dilma, o sociólogo Claudio Beato será uma referência. Ele chefiou o Instituto de Criminologia da UFMG.

O time que formulará o capítulo econômico, um dos mais sensíveis para o debate eleitoral, tem à frente o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, mas Aécio também tem destacado as colaborações dos economistas Mansueto Almeida, Samuel Pessôa, José Roberto Mendonça de Barros e Edmar Bacha, um dos formuladores do Plano Real.

PSB de Campos vai indicar o vice de Alckmin em SP

• Acordo frustra Kassab, que negociou o posto com o tucano durante meses

• Márcio França, presidente estadual do PSB, é o mais cotado para a vice, mas Marina quer barrar a indicação

Daniela LIma, Marina Dias, Márcio Falcão - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), decidiu que será do PSB a vaga de vice em sua chapa na disputa à reeleição. A escolha abre caminho para que o presidenciável Eduardo Campos (PSB-PE), que comanda a sigla, tenha espaço no palanque do tucano no maior colégio eleitoral do país.

O acordo foi firmado nesta quinta-feira (19), após diversas reuniões entre dirigentes do PSDB e do PSB. Campos acompanhou todo o processo por meio de aliados.

O PSDB de Alckmin tem candidato à Presidência, o senador Aécio Neves (MG). Embora nunca tenha manifestado publicamente preocupação com a chance de o governador fechar um acordo com Campos, é consenso entre aliados de Aécio que o arranjo pode fragilizar a campanha dele no Estado.

Apesar de trazer vantagens a Campos, por ampliar a exposição de seu nome em São Paulo, o apoio a Alckmin tensiona ainda mais a relação do presidenciável com sua vice, a ex-senadora Marina Silva.

Desde que decidiu se filiar ao PSB para concorrer na chapa de Campos, Marina defende que a sigla tenha candidatos próprios em São Paulo e Minas. Aliados da ex-senadora já disseram que ela boicotará agendas com Alckmin.

O PSB oficializará a aliança com o tucano em convenção nesta sexta-feira (20). O partido não definirá, no entanto, o nome que indicará para a vaga de vice.

O deputado Márcio França, presidente estadual da sigla e principal articulador da aliança, é o mais cotado para o posto, mas Marina quer barrar a indicação.

O desconforto em São Paulo se soma a problemas entre Campos e sua vice em outros locais. No Rio de Janeiro, o pré-candidato escolhido pela ex-senadora, Miro Teixeira, desistiu de concorrer dizendo não ter recebido apoio suficiente de Campos para encarar a empreitada.

O acerto com o PSB afasta dos tucanos o PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab.

Mesmo tendo historicamente uma relação instável com o governador, Kassab abriu diálogo para uma aliança entre os dois partidos desde que fosse ele o indicado para o posto de vice. O ex-prefeito negociou por meses com os tucanos e chegou a declarar que "não teria problema" em ser vice de Alckmin.

Aliados do governador ainda tentam convencer o ex-prefeito de que um acerto entre as três siglas (PSD, PSB e PSDB) é possível e acenam com a vaga para o Senado. O problema é que o ex-governador José Serra (PSDB) estuda concorrer a senador. Um acordo nesses termos, portanto, rifaria Serra, tornando a candidatura a deputado federal sua única opção.

O naufrágio das tratativas com Kassab em torno da vice de Alckmin fez com que o PMDB, que lançará Paulo Skaf ao Bandeirantes, e o PT, que terá Alexandre Padilha como candidato, se reaproximassem do ex-prefeito.

Na última segunda-feira (16), petistas procuraram Kassab pessoalmente e ofereceram ao PSD a vaga de vice na chapa de Padilha. No plano nacional, Kassab declarou apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

Colaborou Ítalo Nogueira, do Rio

Aécio apresenta parte da equipe que fará seu plano de governo

• Candidato tucano vai anunciar nomes das áreas de educação e segurança pública

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO — A duas semanas do prazo final para entregar à Justiça Eleitoral um plano de governo, o candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves, fará nesta sexta-feira no Rio mais um anúncio de integrantes da equipe responsável por elaborar o documento. Desta vez serão apresentados, entre outros, os escalados para duas áreas de forte apelo eleitoral: educação e segurança pública. Quem coordenará a educação será a ex-secretária de Educação de São Paulo Maria Helena Guimarães. Para a segurança, será confirmado o sociólogo e professor da Universidade Federal de Minas Gerais Claudio Beato.

A legislação eleitoral exige que os candidatos apresentem no ato do registro de candidaturas os respectivos programas de governo. Segundo o TSE, o prazo para o cumprimento da formalidade é 5 de julho.

Apesar de os trabalhos de construção do programa de governo estarem acontecendo há algumas semanas, oficialmente somente foram anunciados por Aécio o coordenador geral da equipe, Antonio Anastasia, e o coordenador da área ambiental, Fábio Feldman, em maio, em São Paulo.

Embora ainda em formatação, alguns pilares desse plano estão definidos. Na economia, por exemplo, o controle da inflação é um dos pontos centrais. Entretanto, por enquanto, poucos detalhes há sobre as medidas para isso. O grupo que está responsável pelas propostas para a economia tem como principal nome o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga. Na área social, o destaque será o compromisso com a manutenção dos programas sociais do governo do PT, para fazer frente às acusações de que o PSDB governa apenas para as elites.

O programa de governo do PSDB será feito em duas etapas. A primeira será concluída em até 15 dias com a apresentação de um esboço do plano. Esse documento será feito por Anastasia, que tem recebido dados de grupos setoriais. Depois de julho, será a economista e ex-diretora-executiva da Vale do Rio Doce Carla Grasso quem assumirá a rotina dos trabalhos para que Anastasia, candidato ao Senado por Minas Gerais, possa se dedicar à própria campanha. Grasso também está entre os auxiliares a serem apresentados por Aécio no Rio.

Na segunda fase, a campanha promete detalhar as propostas para as diversas áreas (economia, saúde, educação, segurança pública, meio ambiente, energia, agronegócio, infraestrutura, entre outros) e divulgá-las até setembro. A equipe de Aécio diz que não vai cometer o erro das candidaturas de 2010, que apresentaram ao Tribunal Superior Eleitoral esboços superficiais de planos de governo e foram duramente criticadas por isso.

Tasso Jereissati visita Aécio em seu apartamento no Rio

Luciana Nunes Leal - Agência Estado

O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, recebeu nesta quinta-feira, 19, a visita do ex-senador Tasso Jereissati, cotado para ser candidato a vice em uma chapa "puro-sangue" tucana. Tasso foi ao apartamento do ex-governador mineiro, em Ipanema (zona sul), pela manhã. No fim da tarde, Aécio postou nas redes sociais uma foto com o companheiro de partido.

Aécio empurrou para o fim do mês o anúncio do candidato a vice e ainda trabalha para o PSD desistir do apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff e indicar o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles como vice de Aécio. Diante das chances remotas de que isso aconteça, o PSDB tem como opções o senador Aloysio Nunes Ferreira e a ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Ellen Gracie, além de Tasso.

Logo depois de Aécio publicar a foto com o ex-senador cearense, internautas passaram a questionar o tucano se a decisão sobre o vice estava tomada. Outros chegaram a saudar Tasso como candidato. A assessoria de Aécio, no entanto, informou que nenhuma decisão está tomada.

Campos não consegue se firmar como 3ª via

Francisco Carlos de Assis - Agência Estado

A pesquisa de intenção de votos divulgada nesta quinta-feira, 19, pela Confederação Nacional da Indústria e o Ibope (CNI/Ibope) reforça a dificuldade do pré-candidato do PSB, Eduardo Campos, de se firmar como uma terceira via no processo eleitoral, disse ao Broadcast, serviço de informações em tempo real da Agência Estado, o analista político da Tendências Consultoria Integrada Rafael Cortês.

Pelo levantamento, as intenções de voto em Campos caíram 3 pontos porcentuais, de 13% para 10%, oscilando fora da margem de erro da pesquisa, que é de 2 pontos porcentuais para cima e para baixo.

De acordo com Cortês, merece registro a aproximação do cenário de Campos mostrado pela pesquisa CNI/Ibope com o cenário que o Datafolha já havia registrado. Havia uma divergência importante entre as pesquisas dos dois institutos. "Isso é fundamental porque aproxima a intenção de voto do Ibope ao que o Datafolha já mostrava", disse Cortês.

Em outras palavras, diz o especialista, a pesquisa CNI/Ibope ratifica a dificuldade da candidatura de Campos em se firmar como uma terceira via no processo eleitoral. "A força de Campos estaria em ele construir uma imagem de candidato mais firme para um eventual segundo turno porque é mais fácil sua candidatura receber apoio dos eleitores de Aécio (Aécio Neves, do PSDB) do que o contrário acontecer", avalia Cortês. Isso porque os eleitores do tucano estão mais próximos de Campos de que do PT.

O contrário, no entanto, não ocorre, segundo o analista, porque o eleitorado de Campos pode se dividir de forma equilibrada entre Aécio Neves e o PT num eventual segundo turno, o que facilitaria a candidatura de quem está na frente - no caso, a presidente Dilma Rousseff. "Mas para que Campos se mostrasse mais forte que Aécio para o segundo turno, ele precisaria construir uma imagem de candidato que traria mudanças, mas que manteria as políticas sociais dos últimos anos. Ou seja, ele estaria mais próximo do voto útil", disse Cortês.

Dificuldades de Campos
Para o analista da Tendências, o primeiro ponto que dificulta a viabilização da candidatura de Eduardo Campos como uma terceira via forte no processo eleitoral é a custosa entrada dele na corrida presidencial. "Tanto Campos quanto seu partido, o PSB, nunca disputaram uma eleição presidencial. E sustentar intenções de voto sem um histórico é muito difícil. É muito custoso num cenário em que o eleitor só acompanha política por vias eleitorais", disse Cortês.

Outro ponto que pesa contra a decolagem da candidatura de Campos, segundo o analista político, é a dificuldade de ele construir um discurso capaz de convencer o eleitorado. "Ele tem dificuldade de fazer oposição a um governo do qual pertenceu em 90% do tempo. Além disso, tem mais facilidade em fazer oposição à pessoa da presidente Dilma do que ao PT. Tem dificuldade de fazer oposição ao ex-presidente Lula", analisa o especialista. Com isso, de acordo com Cortês, a pessoa que está descontente com o governo do PT vê com mais clareza a candidatura de Aécio como oposição ao governo Dilma, a Lula e ao PT.

Segundo a pesquisa CNI/Ibope, a primeira feita depois da abertura da Copa do Mundo, na quinta-feira, 12, no Itaquerão, em São Paulo, onde Dilma Rousseff foi hostilizada pelos torcedores, a intenção de votos na presidente subiu 1 ponto porcentual, de 38% para 39% e Aécio oscilou 1 ponto para baixo, de 22% para 21%.

Miro Teixeira retira pré-candidatura ao governo do Rio pelo PROS

• Em carta, o deputado federal reclama da “falta de ambiente” para uma coligação com o PSB de Eduardo Campos com Marina

Cássio Bruno – O Globo
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RIO - O deputado federal Miro Teixeira anunciou nesta quinta-feira que retirou a sua pré-candidatura ao governo do Rio pelo PROS. Em carta enviada ao presidente regional do partido, Hugo Leal, o parlamentar reclama da “falta de ambiente” para uma coligação. A gota d'água foi a visita ontem do pré-candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos, no Morro da Mangueira.

Eleições 2014
Segundo Miro Teixeira, a decisão não foi comunicada a ex-senadora Marina Silva, pré-candidata a vice na chapa de Eduardo Campos, e que também participou da visita na comunidade carioca. Marina era a principal incentivadora da candidatura do parlamentar ao Palácio Guanabara. No entanto, Eduardo Campos já vinha negociando um acordo no estado com o senador Lindbergh Farias, pré-candidato ao governo pelo PT.

- A coligação não se revelou na prática durante a recepção ao Eduardo Campos (na Mangueira), por exemplo. Se isso aconteceu numa pré-campanha, imagina durante a campanha oficial - disse Miro Teixeira em entrevista ao GLOBO.

O deputado reclamou da pouca adesão de integrantes do PSB à agenda de Campos e Marina no Rio. O deputado federal Romário (PSB-RJ), pré-candidato ao Senado, por exemplo, ficou apenas poucos minutos no local e saiu sem falar com a imprensa. Aos jornalistas, Campos e Marina reiteraram apoio a Miro, que evitou polemizar:

- Não há culpados, há circunstâncias.

Procurado pelo GLOBO, o presidente do PSB no Rio, deputado federal Glauber Braga, não quis falar sobre o assunto. Disse apenas que vai se manifestar na convenção do partido marcada para o próximo sábado. Já o presidente regional do PROS, deputado federal Hugo Leal, não atendeu até o momento as ligações.

Leia abaixo a íntegra da carta de Miro Teixeira:

“Rio, 19 de junho de 2014.
Caro Hugo Leal.
Peço-lhe a gentileza de dispensar a Comissão Executiva do PSB do Rio de Janeiro do cumprimento da decisão de apoiar minha candidatura ao Governo do Estado, manifestada em duas notas oficiais, a última datada do recente dia 30 de maio. A falta de ambiente para uma coligação efetiva ficou muita clara na ausência do partido à recepção a Eduardo Campos ao pé do Morro da Mangueira, quarta-feira passada.

Lá esteve Romário, a quem estimulei, em várias oportunidades, a disputar o Senado. A ele, reitero meu apoio, ao mesmo tempo em que peço ao PROS que faça o mesmo. O tempo dedicado a intermináveis e recorrentes conversas e trocas de notas oficiais dos partidos nas últimas semanas foi o prenúncio de uma campanha eleitoral litigiosa entre aliados, o que me parece impróprio.

De minha parte permaneço disposto a qualquer enfrentamento, mas reconheço demasiado e pretensioso pedir o mesmo aos amigos. Tomo essa decisão sem compartilhá-la com Marina Silva, a quem reverencio e agradeço porque personalidade firme, sincera e grande incentivadora de minha candidatura ao Governo. Quero poupá-la de eventuais consequências políticas de minha deliberação.

Assim sendo, retire meu nome da lista de pré-candidatos ao Governo do Estado do Rio de Janeiro da disputa a ser travada na Convenção do PROS no dia 26 próximo. De resto e de modo democrático, seguirei a deliberação que ali for tomada. Receba meus agradecimentos e os transmita também ao Presidente Nacional do partido, Eurípedes Jr. e a todos da Rede Sustentabilidade pelo incentivo e manifestações públicas de apoio e companheirismo.

Atenciosamente,

Miro Teixeira”

Miro Teixeira desiste de disputar governo do Rio pelo PROS

• Desistência acontece um dia depois do pré-candidato do PSB, Eduardo Campos, retirar seu à candidatura do deputado no Rio

Luciana Nunes Leal - O Estado de S. Paulo

RIO - O pré-candidato do PROS ao governo do Estado, deputado Miro Teixeira, decidiu não participar mais da disputa pelo Palácio Guanabara. Em carta enviada ao presidente do PROS-RJ, Hugo Leal, Miro diz que não há "ambiente" para uma coligação de seu partido com o PSB. A desistência acontece um dia depois de o presidente nacional do PSB e pré-candidato do partido à Presidência da República, Eduardo Campos, ter reiterado apoio à candidatura de Miro, durante visita à favela da Mangueira.

Segundo Miro, a ausência de líderes do PSB-RJ na visita de Campos à Mangueira, ontem, tornou evidente a resistência dos socialistas do Rio à aliança com o PROS. Apenas o deputado e ex-jogador Romário, pré-candidato ao Senado, esteve na comunidade, por pouco tempo. Nas últimas semanas, deputados do PSB tentavam inviabilizar a aliança com o PROS, com o argumento de que a candidatura de Miro não tinha decolado. Representantes do PSB e do PROS já vinham conversando com outros candidatos a governador, como Lindbergh Farias (PT), Anthony Garotinho (PR), Marcello Crivella (PRB) e o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), candidato à reeleição.

"Pedi ao partido para retirar meu nome e vou seguir a deliberação da convenção. Se eles (líderes do PSB-RJ) não foram receber Eduardo Campos na Mangueira, imagine o que aconteceria comigo", afirmou Miro. O deputado disse não ter avisado previamente sobre sua decisão à futura candidata a vice de Campos, Marina Silva, principal estimuladora da pré-candidatura de Miro. O parlamentar reiterou apoio à candidatura de Romário ao Senado e disse que ainda não decidiu se concorrerá a mais um mandato no Legislativo.

A seguir, a carta e Miro ao PROS:

"Caro Hugo Leal.
Peço-lhe a gentileza de dispensar a Comissão Executiva do PSB do Rio de Janeiro do cumprimento da decisão de apoiar minha candidatura ao Governo do Estado, manifestada em duas notas oficiais, a última datada do recente dia 30 de maio. A falta de ambiente para uma coligação efetiva ficou muita clara na ausência do partido à recepção a Eduardo Campos ao pé do Morro da Mangueira, quarta-feira passada.

Lá esteve Romário, a quem estimulei, em várias oportunidades, a disputar o Senado. A ele, reitero meu apoio, ao mesmo tempo em que peço ao PROS que faça o mesmo. O tempo dedicado a intermináveis e recorrentes conversas e trocas de notas oficiais dos partidos nas últimas semanas foi o prenúncio de uma campanha eleitoral litigiosa entre aliados, o que me parece impróprio.

De minha parte permaneço disposto a qualquer enfrentamento, mas reconheço demasiado e pretensioso pedir o mesmo aos amigos. Tomo essa decisão sem compartilhá-la com Marina Silva, a quem reverencio e agradeço porque personalidade firme, sincera e grande incentivadora de minha candidatura ao Governo. Quero poupá-la de eventuais consequências políticas de minha deliberação.

Assim sendo, retire meu nome da lista de pré-candidatos ao Governo do Estado do Rio de Janeiro da disputa a ser travada na Convenção do PROS no dia 26 próximo. De resto e de modo democrático, seguirei a deliberação que ali for tomada. Receba meus agradecimentos e os transmita também ao Presidente Nacional do partido, Eurípedes Jr. e a todos da Rede Sustentabilidade pelo incentivo e manifestações públicas de apoio e companheirismo.

Atenciosamente,

Miro Teixeira"

Lindbergh Farias diz que não irá à própria convenção

• Evento oficializará nome de senador petista ao governo do Rio

Cássio Bruno- O Globo

RIO - Não bastasse as ausências já anunciadas da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, o senador Lindbergh Farias, pré-candidato ao governo do Rio pelo PT, disse na quinta-feira que não participará da própria convenção para homologar seu nome na disputa ao Palácio Guanabara nas eleições de outubro. Segundo ele, o evento, que será realizado nesta sexta-feira, na sede do partido, no Centro, receberá tratamento de um ato formal, sem festa.

— Vamos fazer um (outro) ato na próxima semana, quando tiver fechada a chapa — justificou Lindbergh Farias, sem dar mais detalhes.

O esvaziamento da convenção de Lindbergh tem o objetivo de não agravar ainda mais a crise com o PMDB, que lançará o governador Luiz Fernando Pezão à reeleição. Recentemente, os peemedebistas fluminenses dissidentes criaram o movimento “Aezão”, contra Dilma, para dar apoio a Pezão e ao senador Aécio Neves, pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB.

No Rio, a situação política de Dilma, pré-candidata à reeleição, é delicada. A coordenação estadual da campanha da presidente quer evitar constrangimentos. A aliança nacional de Dilma tem partidos que vão lançar candidatos ao governo do estado: além de Lindbergh e Pezão, há o deputado federal Anthony Garotinho (PR) e o ex-ministro da Pesca Marcelo Crivella (PRB).

Nos bastidores, Dilma apoia Pezão e não poupa elogios ao governador em agendas públicas. O senador, no entanto, tem o aval de Lula, que manteve Lindbergh na disputa, o que irritou o ex-governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes e o presidente regional do partido, Jorge Picciani, criador do “Aezão”. O ex-presidente pedirá votos ao lado de Lindbergh nas ruas.

O evento de hoje que vai oficializar o nome de Lindbergh ocorrerá um dia antes da convenção nacional do PT, marcada para amanhã, em Brasília. No Rio, o encontro será comandado pelo presidente regional da legenda, Washington Quaquá, prefeito de Maricá:

— Não haverá um caráter político, como nos outros partidos. Vamos apenas legalizar a pré-candidatura dele.

Na pesquisa Ibope/Firjan divulgada na última terça-feira, Lindbergh aparece em quarto lugar, com 11%. Como a margem de erro é de três pontos percentuais, ele está tecnicamente empatado com Pezão, que registrou 13%. Garotinho é o líder com 18%. Em segundo, está Crivella, com 16.

Somente 25% dos jovens com 16 e 17 anos tiraram título de eleitor

• Adolescentes abrem mão do voto um ano depois dos protestos de rua

Paula Ferreira e Thalita Pessoa – O Globo

RIO - Um ano após as manifestações de rua que sacudiram o país, apenas 25% dos brasileiros com 16 e 17 anos exerceram seu direito e tiraram o título de eleitor para votar em outubro. Desde 2006, esse índice registra quedas sucessivas. Naquele ano, o grupo de eleitores facultativos (com menos de 18 anos) representava 39% da população nessa faixa etária. Nas eleições de 2010, ele encolheu para 32%. Agora, segundo cruzamento de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com informações do IBGE, o total de jovens adolescentes com título representa apenas um quarto da população nessa faixa etária.

Para demógrafos e cientistas políticos, a queda na quantidade desses registros facultativos indica a indiferença da juventude brasileira em relação às urnas. Ao que parece, aqueles que agora teriam o direito de eleger seus representantes demonstram não acreditar no sufrágio como meio de transformação de seu país.

Além disso, acompanhando o envelhecimento da população brasileira, nas eleições de outubro, o Brasil viverá um cenário totalmente novo. Pela primeira vez em sua História, o país terá mais eleitores idosos, com mais de 60 anos, do que com idades entre 16 e 24 anos. E isso pode influenciar os rumos das políticas públicas.

— Se houver uma disputa de recursos entre a Previdência Social e a Educação infantil, por exemplo, o peso dos idosos pode acabar conduzindo os recursos para a Previdência. E isso pode gerar um conflito entre as gerações — alerta o demógrafo José Eustáquio Diniz, autor do artigo “O envelhecimento do eleitorado brasileiro”.

Ao analisar a queda no número de títulos eleitorais tirados pelos adolescentes de 16 e 17 anos, ele aponta ainda o que acredita ser a principal causa disso:

— Essa queda reflete um certo desinteresse deles pela política. A política nacional não está conseguindo atingir os jovens adolescentes.

A juventude confirma essa teoria. Diz que não quer ir às urnas em outubro por conta da descrença nos candidatos, que se soma à desilusão com os partidos.

— Não vejo nenhum nome ou legenda que me represente na política. Não tenho em quem confiar meu voto — argumenta a estudante Victoria Soares Carneiro Silva, de 16 anos. — Por isso, optei por não tirar meu título agora. Resolvi ganhar tempo para estudar cada um dos que se apresentam como a solução.

‘Protesto é a forma de sermos ouvidos’
A adolescente que mora com os pais em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio, foi às ruas nas manifestações de junho do ano passado e, agora, acredita mais na ocupação do espaço público do que no voto como forma de mudar o cenário político.

— O protesto é a forma que temos de sermos ouvidos. Além disso, tenho a esperança de que essas pessoas que pediram por mais Saúde e Educação ingressem na política para que comece a haver renovação — acrescenta a menina que pretende cursar Direito.

Victor Antônio Pena tem 17 anos mora no Humaitá, na Zona Sul do Rio, e pretende ser militar. Em junho de 2013, optou por protestar nas redes. Foi um ciberativista. Ele também não tirou título de eleitor.

— No ano passado, discuti com amigos, espalhei ideias e as reivindicações pela internet. Fui atuante. Ainda assim, não quis votar agora porque não acredito em candidatos que não venham do povo, que não passem pelo suplício de depender do sistema de saúde e do transporte públicos.

Seu colega Gabriel Felix, que também protestou nas redes em 2013, tem posição contrária. Aos 17 anos se orgulha de ter tirado o título e diz estar pronto para votar.

— Não há outra forma de mudar o país sem ser através do voto. Qual seria a outra alternativa? A anarquia não é a resposta — dispara ele.

Outros especialistas enxergam outras motivações para a retração. Segundo o professor de Ética e Política da Unicamp Roberto Romano, “nada mais próximo dos partidos brasileiros do que a cartolagem no futebol”.

— Os cartolas têm o dinheiro. Eles decidem. O torcedor não tem espaço nenhum. É conduzido a uma posição passiva. Os partidos fazem o mesmo. Acabaram com a prática da militância, assim como o fizeram as organizações estudantis. Desde que a UNE se transformou em um organismo semioficial, os jovens sumiram dela.

Romano argumenta também que a despolitização vem passando de geração em geração e chega agora aos jovens com voto facultativo. Ele lembra que um dos métodos de aprendizado do ser humano é a imitação e que, se não há inserção na política tradicional a ser imitada, ela não se perpetua.

— Se seu pai é desiludido e fala ‘eu tentei participar, não consegui’, se seu irmão mais velho ou seu primo não participou dos movimentos estudantis, é claro que você não vai ter um modelo. Assim, não terá nenhum desejo de participar da vida política.

Descrença na política tradicional
Marcus Figueiredo, doutor em Ciência Política pela USP, aponta mais uma causa para o afastamento dos jovens das urnas. Para ele, a descrença na política tradicional é fruto da “campanha de oposição” feita pelos movimentos sociais aos partidos nos últimos meses.

— Todas as lideranças sociais passaram o ano inteiro dizendo que a política não vale nada. Houve um ano de campanha contra os partidos e contra as instituições representativas. O que se pode esperar? Só podemos lamentar que (esses movimentos) passem esse tipo de mensagem aos jovens.

Num cenário oposto ao dos jovens, estão os idosos, com mais de 60 anos. Pela primeira vez na História, a fatia desses eleitores ultrapassou a dos que têm entre 16 a 24 anos. Em 2006, os idosos detinham 14% dos títulos e somavam 17 milhões de eleitores. Agora, representam 17%, com um grupo de 24 milhões de pessoas.

Rozália Neves Barboza é um desses eleitores de cabelos brancos que não se abstêm do direito de votar. Com 72 anos, moradora de Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, ela não é obrigada a ir às urnas, mas o fará em outubro.

— Nunca deixei de votar. Não vejo porquê deixar de fazê-lo. E, mesmo que não concorde com nenhum candidato, votar nulo ou em branco está fora de cogitação.

A expectativa é de que o grupo de Rozália cresça mais. Estudos demográficos e eleitorais indicam que, até 2030, os eleitores com mais de 60 anos representarão o dobro do total de jovens com título. Se a tendência se confirmar, o Brasil poderá vir a ser um país de jovens nas ruas e de idosos nas urnas.

Roberto Freire: Nossa esperança vencerá o ódio de Lula e do PT

- Brasil Econômico

A possibilidade real de que o PT seja derrotado nas eleições de outubro vem atormentando o ex-presidente Lula. A reação destemperada às vaias e xingamentos direcionados a Dilma Rousseff durante o jogo de abertura da Copa do Mundo e a velha tentativa de dividir o país entre “nós e eles”, jogando os brasileiros uns contra os outros, dizem muito sobre o temor lulopetista de deixar o poder após 12 anos.

A resposta ao comportamento dos torcedores foi desqualificar a manifestação e transformar em vítima a presidente da República, que teria sido alvo da revolta das “elites” contra o governo. O próprio Lula vem entoando a palavra de ordem que deve ser repetida pela militância nos próximos meses de campanha: a esperança vencerá o ódio. Isso depois de o PT veicular na televisão a famigerada propaganda em que fomenta o discurso do medo, aterrorizando a população para o caso de vitória da oposição na disputa presidencial.

Apostando na mentira e investindo no ódio, Lula faz a política que sempre fez e mostra que nada aprendeu, por exemplo, com o saudoso líder sul-africano Nelson Mandela. Depois de passar 27 anos na cadeia, Mandela foi eleito presidente da África do Sul e pôs fim ao odioso regime de segregação racial do qual foi vítima, o apartheid. Ao invés de se vingar daqueles que o oprimiram durante quase 50 anos, ele construiu uma nação, promovendo a convivência democrática entre negros e brancos.

Lula, por sua vez, divide a sociedade brasileira e acusa a oposição, a imprensa e a “elite” de tentarem desestabilizar o governo. Nada mais fantasioso. Ao mesmo tempo em que se arvora à condição de defensor dos fracos e oprimidos, o petista troca afagos com notórios representantes da elite mais atrasada do país, como José Sarney – a quem chamou, em 1987, de “o maior ladrão da Nova República” –, Fernando Collor e Paulo Maluf. Ademais, não podemos nos esquecer de que, em seu histórico de agressividade, Lula rompeu todos os limites do bom senso quando chamou o ex-presidente Itamar Franco de “filho da p...”, destilando ódio.

Como costuma dizer o próprio Lula em suas diatribes, nunca antes neste país a banca financeira nacional encheu tanto os bolsos quanto nos últimos 12 anos. Somente no primeiro trimestre, o lucro dos quatro principais bancos foi de R$ 10,5 bilhões. Em 2013, os empréstimos do Tesouro aos bancos públicos, em especial o BNDES, alcançaram R$ 438 bilhões. São cifras que, convenhamos, levam a elite econômica brasileira a ser grata ao PT, jamais a odiá-lo.

Ao tentar circunscrever os protestos na abertura da Copa a uma ínfima parcela de privilegiados, Lula fecha os olhos para a realidade em nome da bravata eleitoral. Segundo o Datafolha, 74% dos brasileiros defendem mudanças nas ações adotadas pelo próximo presidente e apenas 16% veem Dilma como a mais preparada para realizá-las, o que dá a medida do tamanho do descontentamento.

Ao responsabilizar os adversários pela indignação da sociedade, Lula prefere não enxergar o que até mesmo observadores menos atentos da realidade brasileira já perceberam: o ciclo do PT se esgotou e é questão de tempo para que o Brasil vire esta página e comece a escrever um novo capítulo de sua história. A agressividade lulopetista será a grande derrotada nas urnas. Lula, a nossa esperança vencerá o seu ódio.

Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Merval Pereira: Caindo na real

- O Globo

Num ataque de “sincericídio” que desmontou o álibi de Lula, o ministro Gilberto Carvalho afirmou, diante de blogueiros chapa-branca e ativistas petistas, que “no Itaquerão não tinha só elite branca, não. Não fui pro jogo, mas estive ao lado [do Itaquerão], numa escola (…), fui e voltei de metrô. Não tinha só elite no metrô. Tinha muito moleque gritando palavrão dentro do metrô que não tinha nada a ver com elite branca”.

Constatar a realidade é uma ação política muito mais eficaz do que criar uma realidade, é o que parece estar dizendo aos petistas o ministro mais ligado a Lula. A verdade é que o PT está tateando em busca de uma narrativa que compense as evidentes falhas do governo de Dilma Rousseff e até agora não encontrou.

Tentou primeiro a tática do medo naquela propaganda que ameaçava com o fim do mundo se Dilma perder a eleição e não colou. Inventou agora a campanha do ódio, jogando uma pretensa “elite intolerante” contra os “pobres e feios”, revelando nesse ato falho o preconceito do próprio Lula.

Como o país não vive uma “luta de classes”, essa tática também falhou, e o resultado da nova pesquisa Ibope divulgada ontem pela CNI demonstra que a vitimização da presidente não teve consequência na avaliação do governo, que sofreu queda em rigorosamente todos os quesitos analisados.

Já são, por exemplo, 52% dos brasileiros a dizerem simplesmente que não confiam na presidente da República.

Não seria a tentativa de transformar Dilma de gerentona exigente e rigorosa em uma senhora frágil e digna de pena que faria mudar o sentimento dos brasileiros.

A propósito da tentativa de vitimização por causa dos xingamentos a Dilma no Itaquerão, vale a pena abrir um parêntese para contar a história da reação do então presidente Itamar Franco ao xingamento de Lula, que o chamou de “filho da p...”
em 1993, numa conversa com jornalistas.

Sagaz, o político mineiro soltou uma nota oficial em que chama Lula de “elitista e arrogante” e, em suma, dizia o seguinte:

“Mesmo que minha mãe fosse uma p..., eu teria por ela o mesmo amor filial”. Em matéria de vitimização, muito mais elegante do que o que os petistas tentaram fazer.

Como constatou Gilberto Carvalho, diante de militantes petistas atônitos, “a coisa desceu. Isso foi gotejando, de água mole em pedra dura, esse cacete diário de que inventamos a corrupção, de que nós aparelhamos o Estado brasileiro, de que somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar, essa história pegou. Na elite, na classe média, e vai gotejando, vai descendo”.

É claro que o objetivo final de Gilberto Carvalho era, como sempre, atacar o que chamam de mídia: “Nós não fizemos o debate na mídia pra valer; nós passamos esse tempo todo com uma pancadaria diária que deu resultado. E que resulta no palavrão para a Dilma”.

De maneira enviesada, Carvalho está fazendo o mesmo que Alberto Cantalice, vice-presidente do PT e coordenador de redes sociais fez na página oficial do partido, nomeando alguns jornalistas como responsáveis em última análise pelos xingamentos a Dilma, numa atitude irresponsável que merece repúdio.

“Fazer o debate da mídia para valer” significa tentar por todos os meios aprovar o tal “controle social da mídia”, o que dá margem a que se vincule a criação por decreto presidencial dos tais “conselhos populares” a uma tentativa repetida de aparelhamento pelo PT, desde que chegou ao poder central, das diversas instâncias institucionais do país.

A pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem mostra que o governo Dilma está no momento vivendo uma crise que o coloca em pelo menos dois parâmetros que definem a impossibilidade de ser reeleito: a popularidade do governo da presidente Dilma Rousseff caiu de 36% em março para 31% em junho, computados aqueles que consideram o governo ótimo ou bom.

Há pesquisas que indicam que com menos de 35% de ótimo e bom é praticamente impossível se reeleger. A presidente Dilma Rousseff tem também o maior índice de rejeição entre os candidatos, com 43% afirmando que não votariam na petista “de jeito nenhum”.

É unânime entre os especialistas que com uma rejeição igual ou maior que 40%, um candidato perde a condição de se eleger. l

Dora Kramer: Ilusão de ótica

- O Estado de S. Paulo

Não parou em pé uma semana a justificativa de que os insultos dirigidos à presidente Dilma Rousseff na abertura da Copa foram obra de ação orquestrada pela "elite branca" presente ao estádio.

E quem a derrubou foi o mesmo Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, que em janeiro último pôs abaixo a versão oficial sobre os protestos de junho de 2013. Segundo o governo e o PT, a ebulição era produto do êxito das administrações petistas que tornaram as pessoas mais exigentes e o "Brasil mais forte", na expressão da presidente.

Na ocasião, Carvalho falava no Fórum Social, em Porto Alegre, e desabafou com franqueza sobre as manifestações: "Ficamos perplexos, fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós". Ele se dirigia a uma plateia amiga, como anteontem, quando disse a um grupo de blogueiros e militantes governistas que no Itaquerão "não tinha só elite branca".

Nesse movimento de duas avaliações diversas para um mesmo fato, o ministro relatou que viu "muito moleque" nas imediações do estádio falando palavrão. Pôde constatar, portanto, que "a coisa desceu".

Por "coisa" ele entende o seguinte: "A história de que não combatemos a corrupção, que aparelhamos o Estado, que somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar".

Não é exatamente uma "história", mas sim o que se ouve em toda parte, de todo tipo de gente que nos últimos 12 anos viu o PT contrariar antigas bandeiras, proteger corruptos, abafar escândalos, se aliar ao que de pior existe na política, zombar da ética, ter sua antiga cúpula condenada à prisão, tratar a Petrobrás com desmazelo, ser tolerante com a inflação, irresponsável com o gasto público e governar pela lógica eleitoral.

Nessa mesma reunião, o ministro defendeu a tese para lá de controversa segundo a qual o governo perdeu a batalha da comunicação para a "mídia conservadora" porque não soube "fazer o debate" da maneira correta. Como não houve uma defesa competente, pelo raciocínio de Gilberto Carvalho abriu-se o espaço para a alteração da correlação de forças políticas que resulta agora na "eleição mais dura para o PT".

Ora, o que o PT mais teve nesses anos todos foi espaço nos meios de comunicação tanto para defesa quanto para ataque. Nos dois governos de Lula, o presidente discursava todos os dias. Quando o partido e o governo acharam desnecessário explicar suas propostas, ou apresentá-las à sociedade de qualquer maneira na base da pura enganação, como fez com os "pactos" de junho de 2013, foi em decorrência da soberba sustentada na certeza da popularidade inesgotável.

Esse mesmo governo que agora atribui suas dificuldades eleitorais à influência da "pancadaria" dos meios de comunicação quando estava com altos índices de aprovação jactava-se de "derrotar" sistematicamente a imprensa num combate que só existia na cabeça do partido e do Planalto.

As agruras, a mudança na correlação de forças referida por Gilberto Carvalho tem origem nos fatos. O acúmulo de desmandos formou um passivo em que a realidade venceu o marketing. Simples assim.

Às turras. O clima entre PT e PMDB em São Paulo desmente a assertiva da presidente Dilma de que o governo federal conta com "dois candidatos, Alexandre Padilha e Paulo Skaf" para enfrentar, juntos, a eleição no Estado.

Primeiro, o próprio Skaf tratou de dizer que na Pauliceia o PT é "adversário", e agora Padilha acusa o PMDB de ter plagiado o slogan de sua campanha e ameaça ir à Justiça.

Cesta básica. De um espectador engajado: "Dilma não precisa de mais tempo de televisão; precisa é de votos".

Eliane Cantanhêde: O pior já passou?

- Folha de S. Paulo

A campanha oficial ainda nem começou (só a partir de julho), mas a convenção nacional do PT neste sábado (21/6) ocorrerá sob a sensação de que o pior para a candidatura Dilma já passou.

A tragédia anunciada reverteu para uma boa Copa, com estádios e aeroportos funcionando e protestos sob controle. Além, claro, de todo mundo estar satisfeito com o espetáculo em si: torcidas multicoloridas e pacíficas nas arquibancadas, muitos gols e grandes surpresas nos gramados.

Confirma-se, assim, a previsão palaciana de "reversão de expectativas" favorável a Dilma: esperava-se um fiasco, tudo, então, parece magnífico.

O PT e Dilma precisam, agora, de uma outra reversão de expectativas --na política. Se a candidata continua bem à frente dos adversários, a nova pesquisa CNI-Ibope comprova que a aprovação do governo e da presidente continua em queda e que o índice de confiança nela é menor do que o de desconfiança. Isso, é óbvio, tem peso imenso em reeleições.

Os bodes expiatórios que Lula e as duas cúpulas de campanha (a lulista e a dilmista) amplificarão na convenção são o "ódio ao PT", a "elite branca", a "direita perversa" e sobretudo a "mídia". Como se PT, governo e Dilma fizessem tudo certo...

Mas, nas reuniões a portas fechadas, em especial sem ouvidos e vozes dilmistas, o tom é outro: as culpas recaem também sobre a economia, os erros de gestão, os descuidos políticos e a teimosia de Dilma. Mais a Petrobras e os Andrés Vargas.

O pior, porém, passou. A Copa e os xingamentos revertem a favor, o Congresso entra em recesso, saiu "pacote de bondades" para a indústria e os aliados dão o tempo de TV. Daí em diante, a tese do "ódio ao PT" serve para justificar o "ódio a todo mundo" --a quem ouse criticar o PT, o governo, Dilma e Lula-- e para o ataque pesado contra a oposição.

Ok, mas o PT e a Dilma-presidente precisam parar de atrapalhar a Dilma-candidata.

João Bosco Rabello: A renúncia como protesto

– O Estado de S. Paulo

A menos de duas semanas de sua aposentadoria, a renúncia à relatoria da Ação Penal 470 – o mensalão – pelo ministro Joaquim Barbosa, guarda um aparente paradoxo, já que a saída da vida pública provocaria o mesmo efeito.

Dois aspectos, no entanto, explicam a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, pela ordem: marcar posição em relação ao caso, ante a perspectiva de revogação de suas últimas decisões, e pressão dos colegas para que as submeta ao plenário antes de deixar o tribunal.

No primeiro caso, deixando a relatoria antes de sua saída, Barbosa impede que isso ocorra de forma natural com sua aposentadoria. Faz questão de antecipar o que seria consequência do ato anunciado há semanas.

Com isso, marca seu protesto contra o PT e seus advogados que considera partidários, e dá nitidez à sua ausência no contexto de uma provável decisão do tribunal favorável à prisão semiaberta imediata para os condenados. A moderação no tratamento aos réus presos será já outra etapa do processo, na qual ele não estará.

Equivale a dizer: até onde fui, a justiça foi feita, sem distinguir cabeças coroadas do réu comum. Sua nota de renúncia deixa claro o protesto contra a politização do caso pelo PT que o escolheu como algoz, embora as condenações tenham sido obra de conjunto, da maioria do tribunal.

Ocorre que, perdida a causa, a defesa dos réus passou a utilizar todos os recursos disponíveis para reduzir ao máximo as sentenças, direito legítimo da advocacia. No entanto, a ação dos advogados aliada à pressão pública do PT, tornou cada etapa desse processo um desgaste pessoal para Barbosa.

Sobretudo depois que o plenário do STF, com nova composição, passou a divergir de seu presidente em decisões pontuais. Foi assim no caso da formação de quadrilha, que manteria José Dirceu e outros em regime fechado, e também na questão sobre o trabalho externo, que Barbosa negou com base em jurisprudência do STF que só prevê o benefício depois de cumprido um sexto da pena.

Estava desenhada igualmente a derrota na decisão relativa ao ex-deputado José Genoíno, que insiste na prisão domiciliar, negada com base em laudos médicos oficiais que divergem dos privados apresentados pelo ex-deputado – um deles de junta da Universidade de Brasília e, outro, da própria Câmara, que negou-lhe aposentadoria por invalidez, considerando-o apto ao trabalho.

Barbosa baseou-se em ambos para manter Genoíno na penitenciária, mas foi contestado pelo Procurador Geral, Rodrigo Janot e criticado pelos colegas por retardar a submissão de sua decisão ao plenário.

Outro aspecto, é que após o surto profissional do advogado de José Genoíno, na tribuna do STF, de onde criticou e ameaçou Barbosa por não submeter o recurso contra a permanência de seu cliente no presídio, a cobrança de seus pares pela apreciação de seu voto pelo plenário se intensificou.

Embora não tenham se insurgido contra a expulsão do advogado do tribunal, os ministros do STF, em sua maioria, consideram que o episódio era evitável se Barbosa não postergasse o envio de seu voto ao plenário.

Esse contexto retirou praticamente a possibilidade de Joaquim Barbosa evitar o exame pelo plenário dessas questões até a sua aposentadoria. Prova disso é a intenção do seu substituto, já sorteado, Luís Roberto Barroso, de submeter ao plenário os recursos da defesa de José Dirceu e Genoíno, na próxima semana.

Quando Barbosa ainda estará no STF, embora não mais relator. Barroso precisará, porém, da ação de Barbosa para pôr o tema na pauta, o que não parece ser o desejo do ainda presidente do STF.

Não o fazendo, Barbosa empurra Barroso para a decisão monocrática, se q uiser dar ao exame do assunto a celeridade que defende em favor dos direitos dos presos ao julgamento dos recursos.
Barroso já deu sinais de que está mais inclinado a acatar a posição do Procurador Geral, Rodrigo Janot, em relação a José Genoíno, do que manter a de Barbosa. Igualmente deve se posicionar contrário à exigência de cumprimento de um sexto da pena por José Dirceu para que possa assumir um trabalho externo.

Juridicamente, é provável que a defesa dos condenados conquiste seus objetivos, a essa altura tão somente relativos às condições de cumprimento das penas.

Angela Alonso: De junho a junho

• Muda atitude do Executivo federal, mas não a da polícia

- Valor Econômico

Junho do ano passado surpreendeu. Este junho não. Em 2013, os protestos foram raio em céu azul. Em 2014, chovem no molhado, pois há um ano as manifestações se tornaram uma constante. Isto não quer dizer que sejam as mesmas. Muita coisa mudou de um junho a outro.

Mudaram os manifestantes. Em junho de 2013, foram para rua ativistas de novos e velhos movimentos sociais, mas também pessoas que nunca tinham participado de manifestações, estreantes na política. Já neste ano, prevalecem ativistas profissionais, isto é, os que se dedicam à política como atividade rotineira, engajados em movimentos consolidados e já organizados há algum tempo, como o MSTU. Os sindicatos, coadjuvantes em junho passado, recuperaram protagonismo, como se viu na greve do metrô em São Paulo. E dos "novos" ativistas de junho passado, os que persistem não são os cibernéticos - o "saímos do Facebook" - mas os com base organizacional clara e reuniões presenciais consecutivas, caso do MPL e dos comitês contra a Copa. Aliás, a prometida internacionalização do protesto, que se supunha a Copa traria, ainda não se confirmou.

Voltaram à cena os partidos. Depois da recusa virulenta a eles em junho passado, suas bandeiras tornam a tremular nas manifestações. E a colori-las de vermelho. O traço socialista, se não ausente, tímido em junho de 2013, agora povoa a maioria dos eventos, nos quais circula miríade de movimentos, sindicatos e pequenos partidos, todos à esquerda. Em junho passado, havia gente do outro lado. Esse protesto à direita do governo arrefeceu como manifestação organizada, embora siga difuso, em expressões eventuais de pequenos grupos e em manifestações públicas coletivas sem orquestração prévia, como no xingamento à presidente da República na estreia do Brasil na Copa.

A concentração do protesto de um lado do espectro político trouxe outra mudança, de dimensão. Embora sigam numerosas, as manifestações encolheram. Escrevo antes do 19 de junho, para quando se promete protesto grande, mas a maioria dos ocorridos até aqui está longe dos eventos massivos do ano passado, que rodavam na casa do milhão. À exceção dos protestos do MTST, que tem adesão crescente, parece ter havido um retorno à escala mais modesta pré-junho de 2013, quando os eventos maiores tinham 4 ou 5 mil de participantes. Não é pouco, mas é bem menos.

A volta de sindicatos e partidos à linha de frente impactou também o repertório expressivo das manifestações. Em junho de 2013 sobressaíram inovações nas formas de protestar, obra sobretudo de pequenos grupos autonomistas, como o MPL, inspirados nos movimentos por justiça global pós-Seattle, de onde trouxeram a queima de objetos, os jograis e o horizontalismo organizacional expresso na negação da figura do líder. No junho em que estamos, o novo repertório autonomista, prenhe de signos anarquistas, convive em igualdade com o velho repertório socialista - os megafones, as bandeiras, a liderança que vocaliza o movimento e se torna sua face pública, vide Boulos, do MSTU.

Isto reaparece nas formas de ação. "Pegou" a tática black bloc, o ataque a objetos representativos do Estado ou do capital, que, de elemento surpresa, virou figurinha carimbada. Mas, de outro lado, enquanto em 2013 prevaleceram as manifestações públicas presenciais na rua, neste voltou a estratégia mater do repertório socialista, a greve. A opção tornou as pautas mais focais, mas segmentou o protesto, ao mobilizar categorias específicas - motoristas de ônibus e metrô, professores, estudantes - quando em junho passado as manifestações eram transsetoriais.

Mudaram os protestos. Mudou a resposta das autoridades a eles?

A do governo federal, sim. Pré-junho de 2013, o governo Dilma incorporava temas de movimentos sociais, como o Minha Casa, Minha Vida, mas não necessariamente seus atores. O desenho das políticas ficava sob controle de técnicos, com baixa participação dos movimentos que as reivindicavam. Isto se alterou, com tentativas de ampliar o diálogo com a sociedade. Primeiro em direção atabalhoada, com a proposta natimorta de plebiscito. Em seguida, o governo passou a negociar com movimentos - seara na qual, aliás, nasceu o partido da presidente. E agora acena com projeto de fortalecimento da participação em conselhos relativos à implementação de políticas públicas. Esta resposta pode desinflar protestos, ao oferecer aos movimentos um fórum de expressão e negociação.

Outra atitude do poder público ante os protestos mudou pouco e pode reinflá-los. Depois de críticas generalizadas à ação da polícia no ano passado, ensaiaram-se modificações, como a contenção sem uso de armas e a identificação de ativistas usuais. Talvez o plano fosse uso cirúrgico da violência contra ativistas que utilizam a tática black bloc. Se esta foi a intenção, não é este o resultado. Como em junho passado, a violência transbordou, atingiu manifestantes, transeuntes, jornalistas.

No balanço de um junho a outro o que fica? Mudou a atitude do Executivo federal, que rumou para o diálogo com os movimentos sociais. Já a conduta da polícia permanece inalterada, parecida ainda àquela que levou cidadãos sem vínculos com movimentos ou partidos a engrossarem o protesto em 2013. Quanto ao protesto, estão se esmaecendo as inovações de símbolos, táticas e formas expressivas de junho passado. A criatividade deu lugar a uma rotinização das manifestações, retornaram os atores tradicionais e o velho repertório socialista. A ideia de refundação da política, tão alardeada em junho passado, está se esfumando e o próprio protesto vai perdendo sua aura.

Angela Alonso é professora livre-docente do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, diretora científica do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap)

Rogério Furquim Werneck: Ilusionismo com contas de padeiro

• A presidente Dilma recorre a truque grosseiro para subestimar a relevância dos gastos com a Copa do Mundo

- O Globo

Nas últimas semanas o país tomou conhecimento de duas contas de padeiro que, devido a razões distintas, merecem cuidadosa atenção.

A expressão ganhou destaque na mídia desde que foi usada por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, para explicar a diferença abismal entre os US$ 2,5 bilhões, em que foi inicialmente orçada a Refinaria Abreu e Lima, e os mais de US$ 18 bilhões que afinal serão gastos no projeto. O que o ex-diretor alegou é que, de início, a Petrobras estava muito mal informada sobre quanto de fato custaria a nova refinaria. E que os US$ 2,5 bilhões teriam resultado de uma simples conta de padeiro.

A outra conta que merece consideração foi a apresentada pela presidente Dilma Rousseff, há poucos dias, em pronunciamento oficial à nação, para tentar desmistificar a ideia de que os investimentos necessários para a realização da Copa do Mundo no Brasil poderiam ter tido uso mais defensável, se destinados à educação e à saúde.

É bom deixar claro que não há nada de errado com contas de padeiro. Muito pelo contrário. A expressão alude a contas rabiscadas em papel de embrulho de padaria, mas é usada para designar qualquer conta feita às pressas, no primeiro papel ao alcance da mão. E é exatamente essa a conotação da expressão equivalente em inglês, cuja tradução literal faz perfeito sentido em português: conta de verso de envelope.

Em muitas áreas, profissionais se veem com frequência obrigados a recorrer a contas de verso de envelope para obter, a partir de hipóteses simplificadoras e valores plausíveis de variáveis e parâmetros, estimativas preliminares aceitáveis de resultados que, em princípio, exigiriam cálculos bem mais rigorosos. Inclusive em áreas especialmente respeitáveis. Entre os físicos, é bem conhecido o talento especial com que o famoso físico nuclear Enrico Fermi sabia recorrer a contas de verso de envelope para obter estimativas aceitáveis de resultados de problemas extremamente complexos.

O que há de tão errado com as duas contas mencionadas acima? A alegação do ex-diretor da Petrobras é de que teria havido só incompetência na conta de padeiro que levou à estimativa inicial de quanto custaria a Refinaria Abreu e Lima. Na verdade, as investigações têm mostrado que houve muito mais. E revelado, com riqueza de detalhes, aspectos tenebrosos do lado escuro do modo de gestão petista.

O mais preocupante é quão longe foi a construção da refinaria com base nessa mera conta incompetente de padeiro. Sabe-se agora que, bem antes de contar com um estudo de viabilidade econômico-financeira, a refinaria já havia sido contemplada com um financiamento de R$ 10 bilhões do BNDES.

Na conta de padeiro apresentada pela presidente Dilma, a incompetência adveio de indisfarçável e mal-intencionada manipulação marqueteira. A opção relevante era entre construir estádios, de um lado, e escolas, hospitais e postos de saúde, do outro. Mas em vez de comparar os supostos R$ 8 bilhões que foram gastos nos estádios da Copa comdespesas de investimento em educação e saúde, a presidente permitiu-se compará-los com despesas totais dos três níveis de governo com educação e saúde de 2010 a 2013. Despesas da ordem de R$ 1,7 trilhão, que, além de investimentos em educação e saúde, incluem, por exemplo, toda a folha de pagamento do funcionalismo ligado à educação e à saúde nas três esferas de governo.

A conta que faz sentido é a que foi feita por Gil Castello Branco (O Globo, 17/6): “O custo dos estádios equivale a dois anos de investimentos federais em Saúde ou à instalação de 2.263 escolas". Não seria surpreendente se, diante dessa conta honesta, a maioria do eleitorado ainda se mostrasse favorável à construção dos estádios. Mas a presidente não quis correr o risco. Para poder arguir de forma peremptória que a questão levantava um “falso dilema", preferiu apresentar uma conta ridícula que faz crer que os gastos com os estádios foram equivalentes a menos de 0,5% do investido em educação e saúde. Um espantoso desrespeito ao eleitorado.

Rogério Furquim Werneck é economista

Nelson Motta: Show de bola

• Pobre Lula, que imaginou desfrutar da ‘sua’ Copa na Tribuna de Honra, assistindo à vitória da seleção e ovacionado pela multidão, vendo TV em São Bernardo com dona Marisa

- O Globo

Os estádios estão lindos e cheios, os jogos de ótimo nível, com muitos gols e surpresas, as torcidas animadas e pacíficas, as ruas fervilhando de gringos e de alegria. Independentemente da performance da seleção brasileira, a Copa é um sucesso. Quem ama o futebol está feliz.

Assaltos, arrastões, tiroteios, roubos e furtos, achaques policiais, saidinhas de banco, sequestros-relâmpago — o habitual cotidiano urbano brasileiro — sumiram dos noticiários e, aparentemente, das ruas. Com o Congresso em recesso futebolístico, cessam temporariamente as negociatas vergonhosas, as tenebrosas transações políticas e as propostas indecentes que prejudicam o país. Quem ama o Brasil está feliz.

Todo mundo que ama futebol e já foi a um estádio sabe que nada se compara a ver um jogo ao vivo, no meio do calor da torcida. Mesmo com todos os fabulosos recursos da televisão, o espetáculo no estádio ainda é insuperável. Enquanto a câmera apenas segue a bola, da arquibancada se vê a totalidade do campo e a movimentação dos jogadores, as manobras táticas e as possibilidades de jogadas e lançamentos, que são parte importante da emoção do futebol.

Agora que se pode assistir ao jogo no estádio ouvindo rádio e conferindo no celular os replays e os detalhes da transmissão da televisão — e ainda comentando cada lance com os amigos, um dos maiores prazeres do futebol, pelas redes — é show de bola.

Quem não deve estar tão feliz é Lula, que trabalhou tanto pela Copa e ajudou o seu Corinthians a construir um estádio, que adora futebol, mas não vai assistir a nenhum jogo porque tem medo de ser vaiado, como nos Jogos Pan-Americanos de 2007, embora atribua a vaia a uma conspiração de César Maia, que teria até treinado milhares de militantes da prefeitura para vaiá-lo… rsrs.

Pobre Lula, que imaginou desfrutar da “sua” Copa na Tribuna de Honra, assistindo à vitória da seleção brasileira e ovacionado pela multidão, vendo televisão em São Bernardo com dona Marisa. Para quem adora futebol não pode haver pior castigo.

A vaidade vai vencer a paixão? O que é uma vaiazinha diante de um jogão? Vai, Lula, vai!

Nelson Motta é jornalista

Fernando Gabeira: Grandes jogos nos esperam

• Lula e PT pretendem radicalizar se ganharem as eleições. Lamento prever dias piores

- O Estado de S. Paulo

Fiquei triste em 50 e pensei em torcer contra o Brasil em 70. Inutilmente.

Tenho várias Copas na bagagem. Esta é realizada no Brasil sem que os brasileiros fossem consultados. Mesmo assim nos envolve. Resistir é tão difícil como distribuir panfletos políticos nas vésperas do Natal - essa lição aprendi em dezembro de 68, protestando contra o AI-5.

Sigo a Copa como torcedor apaixonado, mas com uma ponta de razão anoto meus limites. Força, Brasil! Porém não posso comprar tudo o que o Neymar anuncia porque estaria quebrado em pouco tempo. Tampouco posso comer os frangos e lasanhas que o Felipão nos oferece na TV porque engordaria uns dois quilos nesta Copa.

Também sou brasileiro, mas não consigo achar, como os locutores de TV, ter sido uma indelicadeza escalar um árbitro japonês para apitar Brasil x Croácia. Afinal, ele expulsara Felipe Melo em 2010 na partida contra a Holanda, e o fez com absoluta correção. Por que despertaria más lembranças, por que deveria ser evitado? Yuichi Nishimura marcou um pênalti duvidoso a favor do Brasil. Agora consideram uma delicadeza escalá-lo para apitar nossos jogos.

Moreno como vocês, não posso embarcar nessa. Muito menos nos insultos a Dilma.
Sou oposição desde cedo, meio de 2003. Mas acho que as circunstâncias eram especiais. Uma abertura de Copa do Mundo revela um pouco o País. Não precisava uma festa tão mixuruca. Nem, por mais ásperos que sejam os estádios, dizer aquilo a uma senhora, em voz alta, diante de bilhões de espectadores.

Capitão do time que trouxe a Copa ao Brasil, Lula assistiu ao jogo diante de uma televisão, possivelmente na tranquilidade do lar, ou num refúgio petista.

Não se xinga uma senhora, mas também é preciso alguma eficácia para executar a tarefa de enfrentar um estádio num momento em que o País está enfurecido com a política. Dilma foi xingada em três estádios no início da Copa. No ano passado houve apenas o que chamamos de uma vaia básica. Ninguém notou gradação, a passagem de uma etapa para outra, que, aliás, já estava aparecendo em alguns shows musicais.

Tenho insistido na tese da separação radical entre políticos e a sociedade. O Brasil é um carro sem as molas da mediação parlamentar, sem o lubrificante do diálogo democrático: marcha aos solavancos. Mostramos isso ao mundo, ao vivo e em cores.

Em Brasília os políticos querem que o povo se estrepe, com um verbo começado com f. Nos estádios parcela do povo quer que os políticos tomem naquele lugar. É simples assim, apesar da vulgaridade do enunciado.

Pelos descaminhos da nossa História recente passamos a nos detestar. E pelos labirintos da nossa cultura erotizamos nossa antipatia recíproca. Supondo que os repórteres tenham o hábito de traduzir as coisas (era assim no passado), grande parte do mundo ficará sabendo a que ponto chegamos. E lamentará, como muitos brasileiros lamentam, que para tanto futebol tão pouco avanço político.

Quando um governante abraça a ideia da Copa do Mundo em seu país, pensa na sua própria glória. É irônico ser hostilizado na abertura do evento. Lula soube tirar o corpo da reta, deixando Dilma ouvindo frases que não se podem dizer diante das crianças. O ideal seria fingir que não houve nada, seguir com a festa. Nas minhas análises, a explosão de parte do público é o resultado de um longo processo de desgaste. Outros políticos que ali se apresentassem teriam destino semelhante ao de Dilma.

Lula e o PT não interpretam assim. Continuam se achando populares e bem-amados. Tanto que pretendem radicalizar, a julgar pelas notícias, caso vençam as eleições de novo. Eles acham, como Lula declarou, que os palavrões contra Dilma foram estimulados pela imprensa. Num momento de sua fala menciona o PT na oposição e diz que nunca fez o que fizeram com Dilma. Ora, a imprensa jamais defendeu xingar alguém, apenas despertou a curiosidade para a roubalheira entre o governo e aliados. E os gritos no estádio não podem ser atribuídos a algo organizado pela oposição.

Lula usou o episódio para fortalecer sua vontade de controlar a mídia e isolar a oposição. É uma reação clássica: supor que as coisas não andam bem por falta de mais repressão e controle.

A partir dessa lógica, é possível prever dias piores. O PT escolheu os culpados pela reação a Dilma e, como sempre, vai partir para cima. Não se pode dizer que seja uma saída brilhante. Mas foi Isaac Deutscher, na sua trilogia sobre Trotsky, que lembrou bem: as pessoas parecem burras, mas não são; apenas não têm mais margem de manobra.

Criar conselhos populares numa época informatizada, em que todos podem participar, faria Lenin mexer-se no túmulo, apesar de sua rigidez de corpo e alma. Em pleno século 21, estabelecer o controle da mídia e cair de pau na oposição vai ser muito difícil: pede quadros dispostos a matar ou morrer. Conheço apenas alguns no PT, assim mesmo sobreviventes dos anos 60. Será que a maioria deles, perdida em seus empreguinhos, seus gadgets, suas escapadas à Disneylândia, vai encarar essa tarefa, quase impossível hoje em dia?

No futebol temos visto a derrota de alguns favoritos, algumas zebras e até a humilhação de grandes times, como o da Espanha. Na política, o ano eleitoral está só começando. Com tantas Copas na bagagem e a lembrança das revoluções do século 20, é preciso sempre cantar para os detentores do poder o verso de Jimmy Cliff: "Ooh, the harder they come, the harder they fall, one and all". Quanto mais forte vierem, mais forte eles cairão, todos e cada um. O que a muitos pareceu um episódio marginal, o clima da abertura da Copa, com as pessoas cantando apaixonadamente o Hino Nacional e insultando a presidente, é um grande sintoma de mal-estar na vida cotidiana brasileira.

Vinicius falava da grande ilusão do carnaval: a gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho e tudo acaba na quarta-feira. Como no carnaval, tudo acaba com o apito encerrando a Copa. Aí virão os duros meses da ressaca e, lamento prever, o jogo feio e sujo do poder a qualquer custo. Quem seremos no final disso tudo, como revigorar a terra arrasada da nossa convivência política?

Grandes jogos nos esperam.

Fernando Gabeira é jornalista