terça-feira, 7 de outubro de 2014

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

Eu não vou falar na diferença de comportamento ético, que também existe. Há uma diferença na visão do que é o Brasil e como é que nós queremos um Brasil melhor. O PT manteve a ideia antiga de que é o partido que toma conta do governo, que toma conta do estado, que muda a sociedade. É uma coisa autoritária. Nós achamos que o partido ajuda a eleição e que o governo é para governar para os brasileiros, com os brasileiros. O estado é independente do governo, e a sociedade muda no diálogo, em que ela própria tem uma força muito grande. Não é arregimentando partido para controlar os núcleos da sociedade. Então, a nossa visão política é diferente.

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente da República. O Estado de S. Paulo, 6 de outubro de 2014.

Marina decide apoiar Aécio em troca de compromisso real por fim da reeleição

• Candidata do PSB que ficou fora do 2º turno pede alterações no programa de governo de tucano antes de oficializar adesão

João Domingos e Erich Decat- O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA, RECIFE - Marina Silva (PSB), terceira colocada na disputa presidencial, decidiu apoiar Aécio Neves no 2.º turno da eleição presidencial. Quer, porém, que o tucano inclua em seu programa de governo causas defendidas por ela nas áreas educacionais e de meio ambiente. A ideia da ex-ministra é fazer o anúncio de um “acordo programático”. Esse apoio seria costurado a partir de itens convergentes nos programas dos dois, como o fim da reeleição e a reforma tributária.

Conforme informou a colunista Sonia Racy no portal estadão.com.br, o que está em discussão, agora, é se a adesão de Marina ocorrerá com o PSB ou se será uma manifestação da Rede Sustentabilidade, grupo político da ex-ministra abrigado no partido que foi presidido por Eduardo Campos, morto em agosto.

Marina diz que não quer condicionar sua decisão a cargos, o que ela define como “velha política”. O caminho da “nova política” é pedir um compromisso formal de pontos do programa de governo anunciado pelo PSB em agosto. O discurso é semelhante ao adotado um ano atrás, quando Marina se filiou ao PSB de Campos, e meses depois, ao anunciar ser vice na chapa então encabeçada pelo ex-governador.

Marina defende itens como a manutenção das conquistas socioeconômicas dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, a inclusão da sustentabilidade na agenda e a garantia de aumento de produção do agronegócio sem riscos à floresta amazônica.

Além disso, destacar os pontos em comum entre os planos de governo, como o fim da reeleição e a reforma tributária, é uma forma de Marina convencer aliados da Rede mais reticentes ao apoio ao tucano e que preferem a neutralidade, a exemplo do que ocorreu em 2010. Naquele ano, a terceira colocada fez uma lista de dez itens de seu programa e a enviou tanto a José Serra e quanto a Dilma. Sem a resposta esperada dos concorrentes no 2.º turno, ficou neutra.

No domingo, em discurso após reconhecer a derrota, Marina deu a entender que não ficaria neutra de novo e que os brasileiros demonstraram “sentimento de mudança” nas urnas.

Entre os marineiros, é consenso de que os ataques da campanha petista impedem uma aproximação com Dilma. “Não há como conversar com o PT”, disse Sérgio Xavier, um dos assessores mais próximos de Marina. “A nova política é você se unir a partir de um programa de governo, e é isso que nós queremos fazer.”

A tendência entre os partidos aliados de Marina é apoiar Aécio. Já se manifestaram nesse sentido o presidente do PPS, Roberto Freire, que convocou reunião para esta terça-feira, e o do PSL, Luciano Bivar. Dirigentes de PHS, PPL e PRP também tendem a declarar adesão à campanha do tucano.

Reunião. No PSB, foi marcada para quarta-feira uma reunião da Executiva para se buscar um consenso sobre o 2.º turno. A Rede também discute o assunto na quarta.

Na segunda-feira, porém, lideranças do PSB já começaram a indicar preferência por Aécio ou mesmo a declarar voto no tucano. Mesmo o presidente nacional do partido, Roberto Amaral, aliado de longa data e ex-ministro de Luiz Inácio Lula da Silva, sinalizou que não seria contra o apoio ao candidato do PSDB. “O fundamental é estar envolvido em um processo de progresso, de crescimento. Às vezes um reacionário serve de avanço.”

Questionado se ele, que se classifica como “homem de esquerda”, se sentiria confortável com uma aliança com o PSDB, Amaral respondeu com pragmatismo: “As alianças são táticas e, se não prejudicarem o projeto do meu partido, são válidas”.

O vice-presidente do PSB e parceiro de chapa de Marina, Beto Albuquerque, disse que apoiará Aécio e que “quem joga sujo na eleição” não terá o seu apoio.

Em Pernambuco, o advogado Antonio Campos, irmão de Eduardo Campos, adiantou seu voto em Aécio, mas afirmou ser uma decisão pessoal e que não falava em nome da viúva de Campos, Renata. O grupo político ainda vai discutir o assunto.

A adesão do PSB pernambucano e da família Campos é importante para Aécio. O tucano teve seu pior desempenho no Estado, com 6% dos votos válidos, enquanto Marina superou Dilma – em 2010, a petista era aliada de Campos e venceu em 100% dos municípios em Pernambuco. Um apoio público do partido e, em especial, da viúva do ex-governador poderiam impulsionar o tucano no Estado.

“Vamos conversar para tentar chegar a um consenso”, disse o prefeito do Recife, Geraldo Júlio (PSB), que foi segunda-feira cedo à casa da família do ex-governador. O governador eleito Paulo Câmara disse o mesmo, em entrevistas a rádios e TVs locais.

Outro lado. Segundo informações do blog da Sonia Racy, Nilson Oliveira, assessor de Marina, negou que a ex-candidata tenha tomado alguma decisão. Ele informou que ela vai se reunir com a base da Rede nesta terça-feira.

Colaboraram Isadora Peron e Ana Fernandes

Marina impõe condições para declarar apoio a Aécio

• Marina e Rede impõem condições para anunciar apoio a Aécio; aliança com Dilma é remota

Catarina Alencastro e Sérgio roxo – O Globo

BRASÍLIA E SÃO PAULO- Assediada pelo PT e pelo PSDB para dar seu apoio no segundo turno, Marina Silva impôs condições para embarcar na campanha do candidato do tucano Aécio Neves. Integrantes da Rede Sustentabilidade, partido que a candidata tentou criar ano passado, já preparam uma pauta que sustentará eventual apoio a Aécio. A incorporação do conceito de sustentabilidade na atividade econômica é o cerne da proposta da Rede e que não poderá ficar de fora de um acordo. Marina também quer o compromisso de defesa do fim da reeleição e mudança nos critérios que definem o tempo dos candidatos no horário eleitoral. Antes de declarar publicamente o apoio, Marina também deseja que o tucano aceite a meta de investir 10% do PIB em Educação, além da extensão do ensino em tempo integral.

Das propostas elencadas, a maior ia constado programa de governo de Aécio lançado semana passada. Hoje e amanhã, integrantes da Rede se reunirão para tratar do posicionamento que Marina adotará. Já o PSB, partido ao qual ela se filiou para, inicialmente, disputar como candidata a vice-presidente na chapa do ex-governador Eduardo Campos, morto em agosto em acidente aéreo, se reunirá amanhã para discutir o mesmo assunto. A ideia é que Marina anuncie sua decisão amanhã ou, no máximo, quinta-feira— É necessário que haja uma sinalização, o PSDB tem que sinalizar qual é a sua posição. Não do ponto de vista da busca do apoio, mas do seu compromisso. Nós temos propostas muito concretas, de reforma política, por exemplo — disse João Paulo Capobianco, um dos coordenadores da campanha do PSB, ao deixar a casa de Marina ontem à noite.

Marina ligou para Dilma e Aécio
Marina passou o dia em seu apartamento em São Paulo, reunida com aliados e dirigentes do PSB. Ao longo do dia, pessoas próximas a ela foram procuradas tanto por petistas como por tucanos. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) também telefonou para pessoas ligadas à ex-senadora. Pela manhã, a ambientalista telefonou para a presidente Dilma Rousseff e Aécio. Na rápida conversa, disse esperar que os dois possam "enobrecer" a eleição neste segundo turno. Aliados dizem que, por conta do "massacre" que julgam ter sofrido da campanha de Dilma, um apoio de Marina à petista está descartado. Em entrevista domingo à noite, a terceira colocada na eleição deu declarações indicando que vai optar por Aécio. A incompatibilidade entre ela e Dilma também estaria presente na questão programática. Uma das pautas que formam a essência da Rede é a demarcação de terras indígenas. Há uma pressão dos ruralistas para que o Congresso Nacional passe a ter a prerrogativa de delimitar essas áreas. Na visão de indigenistas e ambientalistas, caso seja feita essa mudança, haveria um enfraquecimento dos índios, que ficariam à mercê de interesses dos parlamentares. A discussão está parada no governo.

Aliados não acreditam em neutralidade
Sergio Xavier, um dos principais aliados de Marina, declarou publicamente que defende o voto em Aécio. Ontem, ao deixar a casa da presidenciável derrotada, Neca Setubal, coordenadora do programa de governo do PSB, disse que as "conversas estão sendo feitas com as oposições".Mais cedo, o coordenador da campanha de Marina, Walter Feldman, afirmou que um apoio a Dilma seria "difícil".Os aliados de Marina também não enxergam condições para para que ela fique neutra, como fez em 2010. O cenário político atual exigiria uma tomada de posição. — O compromisso nosso é com o movimento de mudança — disse Capobianco. Ex-ministro do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, também sinalizou que aceitaria apoiar Aécio no segundo turno da eleição presidencial. Questionado sobre a possibilidade de o partido se aliar ao tucano, o dirigente da legenda a que pertence Marina afirmou: — Às vezes, o reacionário serve de avanço. Internamente, Amaral era visto como um dos mais refratários à aliança com Aécio.

O presidente do partido defendeu, porém, a aliança tática para o segundo turno. — O fundamental é estar envolvido num processo de crescimento, de avanço — disse Amaral, em São Paulo. A Executiva do PSB vai se reunir amanhã em Brasília para definir uma posição no segundo turno. No dia seguinte, deverá haver outro encontro com os demais partidos da aliança. — Minha função é unir o partido — afirmou Amaral. Os diretórios do PSB da Paraíba e do Amapá teriam problemas para apoiar Aécio porque são aliados do PT . Na Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB) disputa o segundo turno contra o tucano Cassio Cunha Lima. Já o vice-governador eleito de São Paulo, Márcio França, propôs que, só depois de Marina definir a sua posição, o PSB decida. Caso a candidata fique neutra, ele acha que o partido deve liberar os seus diretórios para apoiar quem quiserem :— Não vamos fazer um estardalhaço se não for valer a pena — disse França.

Projeção mostra empate
Aécio Neves e Dilma Rousseff estariam em empate técnico, com uma pequena preferência do eleitorado ao tucano, segundo projeção do pesquisador Geraldo Tadeu Monteiro, que fez um levantamento a partir da última pesquisa Datafolha. O cálculo é baseado na projeção de migração de eleitores que tiveram seus candidatos derrotados. Entre os marineiros, 59% devem escolher Aécio e 24%, Dilma. Com dados de todos os candidatos vencidos, o pesquisador concluiu que Aécio deve conseguir 50,48% dos votos e Dilma, 49,52%.

Marina define condições e anunciará apoio a Aécio

• Ex-senadora estuda a melhor maneira de se aliar ao tucano sem parecer incoerente com a ideia de "nova política"

Ranier Bragon, Marina Dias e Natuza Nery – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA - Um dia após ter ficado fora da disputa pela Presidência da República, Marina Silva (PSB) começou a calibrar o discurso e a negociar o formato do anúncio de seu apoio a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições.

A ex-senadora estuda a melhor maneira de se colocar ao lado do tucano sem parecer incoerente com a posição da "nova política" que defendeu durante a campanha. Ela enumera pontos de seu programa de governo que pedirá que sejam incorporados pela candidatura do PSDB.

A reforma política, com o fim da reeleição, a educação em tempo integral e a sustentabilidade estão entre os itens colocados à mesa pela ex-senadora. Todos eles já aparecem contemplados no programa de governo tucano.

Nesta segunda (6), Marina reuniu seus principais aliados no apartamento em que se hospeda em São Paulo. Ouviu a opinião de todos, mas deixou claro que, caso não haja consenso entre o PSB, partido que a abriga desde outubro de 2013, e a Rede Sustentabilidade, seu grupo político, tomará uma posição individual pró-Aécio.

"A avaliação é que não dá para ter mais quatro anos desse governo. Isso é ponto pacífico. O nosso compromisso é com o movimento de mudança", disse João Paulo Capobianco, um dos mais próximos assessores de Marina.

Um dos trunfos de seu discurso, avalia a pessebista, é o eventual apoio da viúva de Eduardo Campos, Renata Campos, a Aécio. A fidelidade à família e ao legado do ex-companheiro de chapa, morto em 13 de agosto, justificaria a aliança.

Segundo a Folha apurou, Renata começou nesta segunda consultas a aliados para formular seu discurso em favor de Aécio. O irmão do ex-governador, Antônio Campos, declarou voto no tucano em sua página do Facebook, mas ressaltou que aquela era uma posição pessoal.

A Rede marcou reunião para a noite de terça-feira (7), em São Paulo, na qual deve se comprometer com a mudança, mas liberar seus filiados para escolher entre Aécio e Dilma Rousseff (PT). Já o PSB convocou encontro em Brasília na quarta-feira (8) para definir o futuro político do partido no segundo turno.

O presidente nacional da sigla, Roberto Amaral, defendia apoio à petista, mas tem dito que "às vezes um reacionário pode ser um avanço", em referência ao candidato do PSDB. O anúncio oficial deve sair na quinta-feira (9).

Aproximação tucana
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deflagrou nesta segunda a ofensiva para conquistar o apoio de Marina e do PSB a Aécio, como antecipou a Folha.

FHC e integrantes da cúpula tucana procuraram marineiros para construir a ponte entre as candidaturas.

A ex-senadora, por sua vez, telefonou a Dilma e a Aécio para parabenizá-los pelo desempenho na campanha, mas não tratou de apoio.

O tucano confirmou ter falado com a pessebista, mas disse que aguarda o "tempo de cada um" para definições de apoio e que vê mais "convergências" do que divergências" entre seu programa de governo e o de Marina.

Interlocutores da ex-senadora afirmam que também foram procurados por petistas. Marina, porém, está refratária à campanha do PT -- que, desde o início de setembro, investiu na desconstrução de sua imagem, o que acarretou em sua queda nas pesquisas. Antes favorita, a candidata do PSB terminou a disputa em terceiro lugar, com 22,1 milhões de votos.

Colaborou Daniela Lima

Manifesto une intelectuais pró-Marina e pró-Aécio

• Documento foi produzido antes do resultado do primeiro turno

Thiago Herdy – O Globo

SÃO PAULO - Antes mesmo do resultado das urnas, intelectuais ligados aos candidatos Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB) assinaram um manifesto de apoio mútuo num eventual segundo turno, em nome da "unidade das oposições". A ação foi articulada por dois professores da USP: o economista José Eli da Veiga, do Instituto de Energia e Meio Ambiente e apoiador de Marina, e o cientista político José Álvaro Moisés, simpático a Aécio. Cerca de 200 apoiadores dos dois candidatos aderiram ao manifesto, que teve versão ampliada após a decisão de domingo.— A versão inicial trazia os nomes de Aécio e Marina. Assinaram todos que estavam dispostos apoiá-los, não importa qual fosse o resultado —explicou Veiga.

Defensor da candidatura de Marina em 2010 e também este ano, o economista citou mudanças no cenário político atual e o de quatro anos atrás, que teria motivado sua decisão:— Em 2010, Serra e Dilma ficaram fazendo uma competição para ver quem era mais carola. Além disso, o governo Lula tinha sido bom. Se a neutralidade facilitava a eleição de Dilma, não me parecia, naquela ocasião, uma coisa ruim o PT vencer . Agora é diferente. Dilma desarrumou a casa, deu tudo errado — afirmou Veiga, reclamando da desvalorização da política de produção de etanol e dos critérios para empréstimos do BNDES. Assinam também o manifesto artistas e lideranças de organizações da sociedade civil. Entre eles estão o cientista político Francisco Weffort, o historiador Bóris Fausto, do Instituto FHC, e o poeta Antonio Cícero.

Ainda aderiram ao documento aliados de Marina, como a socióloga Maristela Bernardo e o filósofo José Arthur Gianotti. Ex-tucano, o filósofo vinha criticando o PSDB nos últimos dias, por considerar que o partido não teria conseguido se articular como oposição aos governos do PT . Embora considere "natural"o apoio de outros auxiliares importantes de Marina, como Walter Feldman e Ricardo Young, Veiga disse acreditar ser difícil convencer integrantes da Rede a apoiar Aécio.— Tem uma garotada que,provavelmente, vai estar pelo voto nulo, eles são mais PSOL do que qualquer outra coisa —disse. No texto , os apoiadores afirmam apoiar Aécio "porque a sociedade quer mudanças" e "para dar um basta à convivência com a corrupção e retrocessos".

Para Aécio, Brasil está espantado é com os monstros do presente

• De acordo com candidato do PSDB, eleitor está assustado com inflação alta, recessão e corrupção

Elizabeth Lopes e Débora Bergamasco - O Estado de S. Paulo

Em sua primeira entrevista coletiva, concedida nesta tarde em São Paulo, maior colégio eleitoral do País, local onde obteve a maior votação neste primeiro turno, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, já deu o tom sobre como será a sua campanha neste segundo turno, contra a presidente e candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff. Depois de convidar Dilma a fazer uma campanha propositiva e de alto nível, ele criticou a adversária, destacando que é o único capaz de promover as mudanças desejadas pela maioria da população.

"Me surpreende abrir hoje os jornais e ver a candidata oficial falar de fantasmas do passado. Na verdade, os brasileiros estão muito preocupados são com os monstros do presente: inflação alta, recessão, corrupção.

Portanto, para enfrentar isso é que nós nos preparamos e reunimos alguns dos mais qualificados brasileiros e estamos prontos para vencer a eleição e fazer a grande travessia", destacou o presidenciável tucano, ao lado do governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), do senador eleito por São Paulo, José Serra (PSDB) e do vice em sua chapa, senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP).

Na entrevista, acompanhada por jornalistas do País e por correspondentes estrangeiros, Aécio falou que recebeu hoje pela manhã um telefonema "de forma muito honrosa" da candidata do PSB, Marina Silva, cumprimentando-o pelo resultado da eleição. "Retribuí também cumprimentando-a pela sua luta, e nós temos agora que dar tempo ao tempo. Cada liderança saberá o tempo de tomar uma decisão e qual será essa decisão. Não cabe a mim avançar nesse tempo", emendou, numa referência ao aguardado apoio da ex-ministra neste segundo turno da corrida ao Palácio do Planalto.

Apesar da ponderação, ele disse que todos aqueles que têm o sentimento de que o Brasil precisa mudar para avançar, serão muito bem-vindos nessa caminhada. "Repito apenas que a minha candidatura é a encarnação da mudança pela qual clamam mais de 70% dos brasileiros. Vamos aguardar que cada força política, cada força da sociedade que não esteve conosco na primeira fase da campanha, possa, tomando sua decisão e se achar por bem, nos acompanhar."

Aécio garantiu que a campanha deste segundo turno para ele já começou. "Já conversei com parlamentares eleitos", frisou. E disse que sua candidatura não é só de um partido, mas representa a possibilidade concreta de o Brasil retomar o caminho do desenvolvimento. "Os votos da oposição mostram isso e eu estou honrado em estar no segundo turno."

Aécio disse ainda que vai respeitar sua adversária neste segundo turno porque isso também implica em respeito à democracia. E falou do desejo de ampliar a votação que teve neste primeiro turno, quando obteve 34,8 milhões de votos em todo o País. Inclusive em Minas Gerais, onde seu candidato, Pimenta da Veiga, perdeu a eleição para o petista Fernando Pimentel. Aécio disse que vai ser o mais votado em seu Estado neste segundo turno.

Irmão de Eduardo Campos anuncia voto em Aécio no 2º turno

• Antonio Campos publica em rede social apoio a tucano e justifica opinião pessoal como 'é salutar uma mudança para o Brasil'

João Domingos - O Estado de S. Paulo

O advogado Antonio Campos, irmão do ex-governador Eduardo Campos, anunciou o voto no tucano Aécio Neves no segundo turno da eleição presidencial. Porta-voz da família de Campos, no dia seguinte à morte do irmão, num acidente aéreo, Antonio Campos defendeu a candidatura da ex-ministra Marina Silva na chapa do PSB.

"O meu voto no 2º turno é em Aécio Neves", afirmou o advogado. A manifestação foi publicada também no Facebook de Campos. Mas ele afirmou que sua declaração era pessoal. "Ressalto que tal declaração é em meu nome pessoal." Em seguida, disse considerar que uma mudança é saluta. "Acho salutar uma mudança, nesse momento, para o Brasil", afirmou ele.

A Executiva Nacional do PSB se reunirá na próxima quarta-feira, em Brasília, para definir o apoio da legenda no segundo turno da sucessão presidencial. Na quinta-feira todos os partidos que participaram da aliança de apoio a Marina Silva - PSB, PPS, PSL, PPL, PHS, PRP - farão uma reunião conjunta para anunciar o apoio no segundo turno. A tendência é que o candidato deles seja Aécio Neves.

Irmão de Eduardo Campos declara apoio a Aécio Neves

• Antonio Campos ressalta que a declaração é apenas em seu nome

Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - O irmão de Eduardo Campos, Antonio Campos, publicou nesta segunda-feira nota em seu Facebook declarando apoio ao tucano Aécio Neves na disputa de segundo turno na eleição presidencial. No texto, Tonca, como é conhecido, destaca que a declaração é apenas em seu nome.

“O meu voto no 2º turno é em Aécio Neves. Ressalto que tal declaração é em meu nome pessoal. Acho salutar uma mudança, nesse momento, para o Brasil”, diz.

Embora Tonca tenha deixado claro que apoia Aécio Neves no segundo turno da disputa presidencial, o grupo político do ex-governador de Pernambuco, capitaneado pela viúva, Renata Campos, e pelo governador eleito Paulo Câmara, só deve sacramentar a posição em reunião do PSB pernambucano.

Paulo Câmara já está consultando as lideranças do partido e, segundo interlocutores, a tendência majoritária é de estar junto ao tucano neste segundo turno.

A reunião da Executiva Nacional do PSB que irá oficializar a posição do partido em relação ao segundo turno está marcada para esta quarta-feira, em Brasília.

Na noite de ontem, o governador de Pernambuco, João Lyra, também publicou nota para divulgar seu apoio a Aécio Neves.

"A surpreendente ascensão de Aécio Neves nos últimos dias do processo eleitoral para a Presidência da República refletem o seu excelente desempenho nos debates eleitorais e o credenciam para representar as forças de oposição no segundo turno do pleito presidencial. Vou defender esta tese junto aos companheiros do Diretório Regional do PSB e, também, como integrante do Diretório Nacional, vou indicar o nome de Aécio Neves para apreciação da Executiva Nacional”, diz o texto assinado por João Lyra.

A posição do PSB pernambucano deve pesar na decisão da legenda nacional, já que a presença de Renata Campos é tida como um forte capital político do partido. Além disso, Pernambuco sai fortalecido com a eleição em primeiro turno de Paulo Câmara, com quase 70% dos votos, contra o candidato apoiado pelo ex-presidente Lula, o senador Armando Monteiro.

O deputado Beto Albuquerque, candidato a vice de Marina Silva, também tem demonstrado a interlocutores sua preferência por Aécio Neves, assim como Márcio França, eleito vice-governador de São Paulo na chapa com Geraldo Alckmin, no primeiro turno.

Por outro lado, o presidente do PSB, Roberto Amaral, além da deputada Luiza Erundina, tendem a apoiar a presidente Dilma Rousseff.

Segunda edição do movimento ‘Aezão’ deve ter mais fôlego

• Dissidência do PMDB promete angariar mais apoio a Aécio, dependendo da posição do PT na disputa estadual

Juliana Castro – O Globo

RIO - Com o senador Aécio Neves (PSDB) garantido na disputa do segundo turno para a Presidência e o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) liderando a briga pelo Palácio Guanabara, o movimento “Aezão” ganha novo fôlego. Quando o tucano patinava nas pesquisas, bem atrás da presidente Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB), o grupo perdeu força porque parte dos candidatos a deputado passou a ignorar a disputa presidencial. Agora, os peemedebistas dizem que o “Aezão” pode angariar mais apoios, dependendo da posição que o PT assuma na disputa estadual.

A estratégia da campanha de Aécio para o segundo turno é fazer com que o tucano seja o herdeiro dos votos de Marina no Rio. Com a apuração concluída, Dilma obteve 36% dos votos no estado, contra 31% da candidata do PSB. Aécio aparece apenas em terceiro, com 27%.

— Para presidente, eu não comento — disse Cabral, ao votar na Escola Municipal Roma, no Lido, na Zona Sul do Rio.

Agora, os aliados do governador Pezão que ainda estão com a presidente, no movimento apelidado de “Dilmão”, esperam o comportamento do PT no estado para decidir se continuarão trabalhando por Dilma no segundo turno, se cruzarão os braços ou se vão de Aécio.

— Pelo menos eu fico com a Dilma. Mas, acredito que o partido vai ficar dividido, como aconteceu no primeiro turno. No entanto, tudo vai depender também de questões como o movimento do PT no segundo turno do Rio — afirmou o deputado federal Pedro Paulo (PMDB).

Com a derrota de Lindbergh Farias (PT), que ficou em quarto lugar na briga pelo governo do Rio, Pezão deve procurar os petistas em busca de apoio para enfrentar Marcelo Crivella (PRB). Mesmo com Lindbergh entalado na garganta por conta do processo pré-eleitoral e da campanha, os peemedebistas reconhecem que ajuda não se recusa.

Coordenador de Aécio no Rio, o presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani, disse que já contratou duas pesquisas para esta segunda e esta terça-feira. A partir do resultado, vai avaliar como trabalhar a candidatura de Aécio. Picciani disse que, em seus levantamentos, o tucano chegou a aparecer com apenas 9% das intenções de voto no Rio, mas que ele nunca deixou de acreditar:

— Ninguém abandonou o barco, talvez eu tenha uma posição mais dura. O segundo turno é uma outra eleição. Vamos ganhar de 60% a 40% da Dilma. Esse voto (da Marina) é de oposição ao PT.

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Paulo Melo (PMDB), disse que o PT não é Lindbergh e aguarda a reação do partido de Dilma no 2º turno no estado. Pouco antes do período eleitoral, o deputado fez afagos a Dilma durante uma visita da presidente à Saquarema, seu reduto eleitoral. Mas, na reta final da campanha, Paulo Melo trabalhou por Aécio:

— Acho que o PT continua encaminhando muito mal. O Lindbergh não contribuiu em nada para que a gente tivesse disposição em trabalhar para a Dilma. A questão agora não se trata na emoção. Vamos analisar a questão política. Ninguém me obriga a trabalhar para ninguém. Quero ver o comportamento do PT.

As lideranças do PMDB do Rio se dividiram durante esta campanha eleitoral. Picciani liderou o “Aezão”. Já Pezão e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, ficaram com Dilma. No início, o ex-governador Sérgio Cabral dizia estar com Dilma, mas indicou para um dos postos-chave da campanha de Aécio no Rio o seu homem de confiança, Wilson Carlos. Aqueles que compõe o “Aezão” gostam de dizer que os generais estão com a presidente, mas a tropa está com Aécio.

FHC procura campanha de Marina em ofensiva por Aécio no segundo turno

Ranier Bragon, Marina Dias – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso iniciou nesta segunda-feira (6) uma ofensiva por telefone para conquistar o apoio de Marina Silva à candidatura de Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições.

FHC e representantes da cúpula tucana já procuraram interlocutores da ex-senadora para fazer a ponte que resultará na aliança eleitoral contra a presidenteDilma Rousseff (PT).

Fora do segundo turno, Marina telefonou na manhã desta segunda para Dilma e Aécio, candidatos que seguem na disputa pelo Palácio do Planalto, para parabenizá-los pelo desempenho na campanha, mas não tratou de apoio com nenhum dos adversários.

Campanha Marina Silva
A pessebista reuniu nesta manhã em São Paulo seus principais interlocutores para traçar as estratégias para os próximos dias. Na noite desta terça-feira (7), haverá uma reunião da Rede para definir a posição do grupo político de Marina. O PSB fará um encontro separadamente e a decisão deve ser anunciada até a quinta-feira (9).

Apesar da inclinação de Marina por Aécio, o presidente nacional da sigla, Roberto Amaral, defende o apoio a Dilma.

De acordo com aliados, a ex-senadora está atenta ouvindo pessoalmente as opiniões de Bazileu Margarido, Neca Setúbal, Pedro Ivo, João Paulo Capobianco e Walter Feldman mas já indicou que, caso não haja consenso entre Rede e PSB, definirá seu posicionamento individualmente.

Amaral e o vice de Marina, Beto Albuquerque (PSB), devem chegar para o fim da reunião. Albuquerque defende apoio ao PSDB no segundo turno.

Marina quer que pontos de seu programa de governo sejam incorporados à candidatura neoaliada. Sustentabilidade, comprometimento com o fim da reeleição e a manutenção das conquistas dos últimos anos, incluindo os programas sociais do PT, figuram na lista dos principais itens.

Petistas
Interlocutores de Marina afirmam que também foram procurados por petistas. No entanto, Marina está bastante magoada com a campanha que o PT lançou contra ela desde o início de setembro, em que investiu na desconstrução da imagem de "nova política". A ex-senadora deixou claro, inclusive publicamente, que não deve estar com Dilma no segundo turno.

Em seu primeiro pronunciamento após o resultado das eleições, na noite do domingo (5), Marina disse que o Brasil "sinalizou claramente que não concorda com o que está aí".

Lula sofre derrota em casa, e pupilos não emplacam

• Além do mau desempenho de Padilha e Lindbergh, o PT assistiu à sua bancada federal encolher nas urnas

Tatiana Farah – O Globo

SÃO PAULO- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva queria dois dias de descanso para "recuperar um pouco a garganta" , mas teve de cancelar a folga. Ontem, já estava no instituto que leva seu nome para avaliar o mau desempenho do partido nas urnas. Suas duas apostas pessoais, Alexandre Padilha, em São Paulo, e Lindbergh Farias, no Rio, fracassaram. O cenário do estado de SãoPaulo foi o pior possível: a presidente Dilma Rousseff perdeu em cidades governadas pelo PT e na própria São Bernardo do Campo, dirigida por Luiz Marinho, um dos coordenadores da campanha à reeleição.Até para Marina Silva (PSB) Dilma perdeu em Mauá, governada pelo PT e uma das maiores cidades do ABC Paulista.Perdeu para Aécio Neves (PSDB) em Santo André, comandada pelo petista Carlos Grana, forte aliado de Lula, e nas cidades petistas de Guarulhos, Osasco e São José dos Campos, onde ela e Lula participaram de comícios, carretas e caminhadas.

Na periferia da capital, onde Lula chegou a fazer três atos políticos por dia, o jogo ficou dividido entre Dilma e Aécio, que ganhou em São Miguel Paulista, Ermelino Matarazzo e Campo Limpo. A representação do PT paulista perdeu cinco deputados, fechando as contas em dez cadeiras. No plano nacional, o partido caiu de 88 vagas para 70. As derrotas do PT são históricas em São Paulo, mas Lula, no mês passado, fez questão de destacar em um discurso que ele próprio ganhou no segundo turno contra o tucano José Serra em 2002, quando foi eleito presidente pela primeira vez. Naquela época, era ele quem incorporava o espírito de mudança. Hoje , sua legenda é a da continuidade. Desta vez, no entanto , a votação de Dilma foi ainda menor do que no primeiro turno de 2010, contra o mesmo Serra.

Há pelo menos duas semanas, o ex-presidente tem culpado o próprio partido pela anunciada derrota de Padilha. No ano passado, diante das manifestações de junho, criticou a legenda por ter perdido a ponte com as ruas. Lideranças do partido evitam dizer que seu líder principal tenha perdido prestígio. Outras dizem que faltou empenho do ex-presidente, como no Rio, onde os aliados de Lindbergh dizem que o senador fez sua campanha sozinho, uma vez que o PT e a presidente Dilma não queriam ferir suscetibilidades com os candidatos aliados de outras legendas,como os dois que foram para o segundo turno: Luiz Fernando Pezão (PMDB) e Marcelo Crivella (PRB).

Preferência por enfrentar Aécio
Se Lula faltou no Rio, em São Paulo não há como negar que ele puxou Padilha pela mão e o levou ao interior do estado, à Grande São Paulo e à periferia da capital. Foram caminhadas e comícios em que Lula falava até quase acabar a voz. Em setembro, Dilma passou mais de dez dias em São Paulo. Os dois conciliavam algumas agendas, mas preferiam "atirar" em duas frentes para multiplicar as atividades políticas.— Não faltou empenho de Lula nem força. E isso que falam dos "postes" é uma tentativa de Lula para a renovação do PT na porrada, com os nomes do bolso do colete. Não é uma pirraça, por trás desses "postes" está a tentativa de renovar o partido — diz um interlocutor próximo de Lula, para quem o ex-presidente disse que o melhor adversário de Dilma seria mesmo Aécio Neves:

— Para ele, existia uma zona cinza confundindo o eleitor de Marina e do PT .O que faltou em São Paulo, avaliam as lideranças, foi puxador de voto. Grandes nomes da legenda ficaram fora do jogo, três deles por estarem presos e condenados no caso do mensalão: José Dirceu, que em 2002 teve meio milhão de votos, e João Paulo Cunha, líder do ranking nas duas últimas eleições. José Genoino não pode ser considerado um puxador , mas sempre foi um nome de destaque nas campanhas, com interação nos redutos eleitorais dos outros candidatos e capaz de segurar "no grito " caminhadas e comícios.—Na verdade, não tivemos puxadores desta vez.

Também passamos por um desgaste em relação à cidade de São Paulo , que começou a ser superado há pouco tempo — disse Francisco Rocha, o Rochinha, coordenador da maior tendência interna do PT , a Construindo um Novo Brasil (CNB), da qual Lula faz parte .Rochinha se refere aos baixos índices de aprovação dos eleitores ao prefeito petista Fernando Haddad. Mas a análise vai além: para o dirigente petista, pesa sobre o resultado eleitoral o desgaste sofrido com o mensalão. Mas, para ele, Lula "jamais teve sua imagem abalada". O cientista político Claudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que Lula sofre um "desgaste que é natural se o mandato está mais distante e pelo tempo decorrido". Para ele, a missão do ex-presidente é mais difícil que a da eleição passada:

— Em 2010, ele estava indicando a continuidade de seu governo, que era bem avaliado. O governo Dilma tem vida própria, para o bem ou para o mal, fica mais difícil transferir votos. O PT está há muitos anos no governo e sofre um desgaste e, desde junho do ano passado, há uma onda desfavorável ao partido em São Paulo.Para Bruno Speck, professor de Ciência Política da Unicamp, a análise do resultado eleitoral deve considerar que o eleitorado paulista é conservador:— Não creio que seja um sinal de perda de força política. Lula ainda possui uma grande força política. A força do partido migrou, claramente, para o Nordeste.

Derrota histórica em São Paulo põe petistas no divã

• Lula se reúne com dirigentes para cobrar nova estratégia para o 2º turno no Estado, berço do partido, onde desempenho foi pífio

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

O pífio desempenho da presidente Dilma Rousseff em São Paulo e a acachapante derrota petista no maior colégio eleitoral do País fizeram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrar a correção de rumo no partido e puseram o PT no divã, procurando culpados pela sangria dos votos.

Para Lula, o PT virou um partido “de gabinete” e “burocratizado”, que precisa sair da defensiva se quiser vencer a eleição.“O lugar do PT não é no gabinete. É nas ruas”, disse o ex-presidente, ontem, em conversa com dirigentes do partido. Diante de correligionários abalados com o fiasco de Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo de São Paulo, Lula foi ainda mais duro.

“Não dá para a gente deixar o antipetismo dominar a eleição e entregar tudo de mão beijada para os tucanos”, emendou ele, segundo relato da conversa obtido pelo Estado.

Movimentos sociais. Lula afirmou que, se Dilma for reeleita, vai querer mais participação no segundo governo dela, porque precisa fazer a “ponte” com a política e com movimentos sociais, principalmente em São Paulo.

Em São Paulo, berço do PT e reduto político do PSDB, Dilma foi “atropelada” por Aécio Neves (PSDB), que ficou com 44,2% dos votos válidos enquanto ela obteve 25,8%. Padilha, por sua vez, teve o pior desempenho de um candidato do partido ao Palácio dos Bandeirantes desde 1994. Para completar, o senador Eduardo Suplicy (SP) sofreu um revés e, das 18 cadeiras perdidas pelo PT n a Câmara dos Deputados, 8 são de São Paulo.

Dilma vai mirar São Paulo, nesse segundo turno, na tentativa de ampliar sua votação. Na prática, a cúpula do partido ainda se debruça sobre o fracasso, na tentativa de encontrar motivos para a rejeição no Estado. Para o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, as prisões de petistas condenados no processo do mensalão, como José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares e João Paulo Cunha, atrapalharam tanto Dilma como Padilha.

Coordenador da campanha de Dilma em São Paulo, Marinho disse ser “inegável” o impacto do escândalo na disputa. “Mas nós precisamos reagir”, disse Lula. “Se não vamos ficar comendo a vida toda o pão que o diabo amassou.”

Uma ala do partido também tentou culpar a má avaliação do prefeito Fernando Haddad pelo fiasco em São Paulo, mas o ex-presidente não compartilha desse diagnóstico, sob a alegação de que o problema não está apenas em um fator.

Em reunião realizada ontem entre Dilma e sua equipe, a avaliação foi de que “todos os erros possíveis” da campanha foram concentrados em São Paulo. “Tivemos muita dificuldade com a militância, mas vamos trabalhar forte para reverter esse quadro lá”, argumentou o ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

‘Símbolos’ perdidos. Dilma perdeu em cidades simbólicas para o PT, governadas pelo partido, como São Bernardo, Santo André, Osasco e Guarulhos e em bairros da periferia da Capital historicamente leais ao PT. Em 2010, a presidente venceu em 26 zonas eleitorais de São Paulo; em 2014 Dilma ficou na frente dos adversários em apenas 15.

Da reunião com Lula, participou também o presidente do diretório estadual do PT, Emídio de Souza. Entre as duras críticas à condução da campanha de Padilha, o ex-presidente exigiu mudanças na estratégia para São Paulo no segundo turno.

Pesquisas feitas pela campanha de Padilha apontavam havia mais de um mês para o risco da avalanche antipetista no Estado.

A busca por explicações vai além das pesquisas. O partido avalia que a campanha de Padilha, que durante várias semanas apostou em ampliar o discurso para o eleitorado mais conservador do Estado, puxou Dilma para baixo.

Segundo um dirigente, Padilha demorou para buscar a polarização com o governador tucano Geraldo Alckmin e, com isso, “não ganhou o voto dos conservadores e perdeu o dos petistas”.

“Também houve uma campanha forte da mídia contra o PT em São Paulo com a divulgação de casos de corrupção”, disse o presidente municipal do partido, Paulo Fiorilo.

Pezão versus Crivella, Garotinho (PR) e Lindbergh(PT)

Crivella obtém apoio de Garotinho e Lindbergh(PT)

• Pezão prepara tática de desconstrução do adversário e quer que PT libere filiados

• Senador vai a Campos na terça para fechar a aliança com Garotinho; Lindbergh anuncia seu apoio nesta quarta

Italo Nogueira – Folha de S. Paulo

RIO - O senador Marcelo Crivella (PRB) vai receber o apoio do deputado federal Anthony Garotinho (PR) e do senador Lindbergh Farias (PT), principais candidatos ao governo do Rio de Janeiro derrotados no primeiro turno.

Essas alianças ajudarão a dar mais estrutura à campanha contra o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), mas devem abrir flancos para ataques do peemedebista.

O PMDB do Rio vai usar a tática da "desconstrução" contra Crivella, seguindo o exemplo da campanha do PT contra Marina Silva (PSB). Peemedebistas pretendem explorar as contradições no arco de alianças que Crivella vem articulando. No segundo turno, porém, os dois candidatos terão o mesmo tempo no horário eleitoral.

Crivella vai a Campos nesta terça-feira (7) para finalizar a aliança com Garotinho, a quem superou por 42 mil votos. O PT do Rio e o senador Lindbergh vão anunciar o apoio nesta quarta-feira (8). O PSOL ainda discute eventual apoio, mas já declarou que não se aliará a Pezão.

Durante o primeiro turno, Crivella apresentou-se como um político "ficha limpa" --por não responder a processos-- externo às estruturas partidárias. A aliança com Garotinho, rejeitado por quase metade do eleitorado, é o primeiro componente da tática de desconstrução.

A intenção de coordenadores de campanha de Pezão é aumentar a rejeição a Crivella. Bispo licenciado da Igreja Universal, ele tinha em eleições anteriores mais de 30% de rejeição. Essa taxa era de apenas 15% às vésperas do primeiro turno desta disputa.

"Durante o primeiro turno, o Crivella não era o centro do debate. Agora vamos lembrar que ele é o herdeiro do bispo [Edir] Macedo e tudo o que ele representa", disse o deputado eleito Jorge Picciani (PMDB), presidente regional da sigla e um dos coordenadores da campanha de Pezão.

Páginas em redes sociais já lembram a declaração do senador de não aceitar doação de empreiteiras, embora tenha recebido contribuições delas em eleições anteriores.

A campanha de Pezão ainda discute como a estratégia seria incluída na TV. Há resistência de parte do grupo em usá-la no horário eleitoral, por destoar do tom adotado no primeiro turno. Pezão explorou a imagem de homem simples, realizador de obras.

"Eu ia aos debates e todos me batiam. Já vai ser extraordinário ir só com um me batendo. Se for atacado vou responder como respondi [no primeiro turno]", disse Pezão.

O peemedebista disse que espera obter o apoio de deputados eleitos e prefeitos do PT e do PR. Disse esperar que os petistas liberem seus filiados para que o apoiem: "Dos 11 prefeitos do PT, devo ter o apoio de 10. Acho difícil ter o apoio do PT inteiro. Mas quero também ter o apoio. Quero que pelo menos que as pessoas que queiram me apoiar possam me apoiar", afirmou.

O vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) disse nesta segunda-feira (6) que a presidente Dilma Rousseff (PT) não deverá subir a nenhum palanque no Rio. Ele teve um encontro na noite da segunda com Pezão, o prefeito da capital, Eduardo Paes, e o ministro Moreira Franco (SAC).

Colaboraram Adriano Barcelos e Marco Antônio Martins

‘Comunista’ vai apoiar tucano para presidente

• Governador eleito diz que PSDB teve papel fundamental em sua vitória sobre os Sarney

Leonencio Nossa - O Estado de S. Paulo

O governador eleito do Maranhão, Flávio Dino, do PCdoB, sinalizou ontem que manterá, no 2.º turno da disputa presidencial, a parceria com o PSDB de Aécio Neves. Em entrevista ao Estado, ele observou que esse apoio está condicionado ao respeito à aliança de seu partido com o PT de Dilma Rousseff. Ao longo de duas horas de conversa, um dia depois de derrotar o grupo do senador José Sarney, Dino destacou que cobrará do futuro governo, seja petista ou tucano, a escolha de novos interlocutores do Maranhão.

Dino observou que seu vice é Carlos Brandão, do PSDB, e o candidato ao Senado da coligação é Roberto Rocha, do PSB, também eleito. “O PSDB e o PSB foram determinantes para a minha vitória. Não posso ignorar isso”, afirmou. “O meu partido apoia a Dilma, é verdade, mas o leque de alianças montado aqui foi bastante heterogêneo. Não posso dar cavalo de pau em transatlântico e trem.”

O governador eleito ressaltou que ainda não foi procurado. “Até agora ninguém me disputou, não (risos). Estou aqui quietinho”, brincou. Com uma vitória no domingo por quase um milhão de votos de diferença sobre o adversário Lobão Filho (PMDB), do grupo do senador José Sarney, Dino disse esperar que Brasília reavalie a interlocução com o Estado.

Os aliados de Sarney têm hoje amplo espaço na máquina federal, com o comando de ministérios e autarquias. “Qualquer que seja o presidente eleito, eu tenho essa expectativa (de mudança de interlocução), em razão do respeito à vontade popular”, disse Dino. “Não é um desejo pessoal meu. É um fato político. Foi uma decisão do povo do Maranhão que espero que seja respeitada”, completou.

Para o governador eleito, a influência da “oligarquia” Sarney em Brasília ocorre desde o governo JK (1956-1960) e passou a ser desproporcional após o resultado das urnas, no último domingo, no Maranhão. A manutenção desse espaço seria, na sua avaliação, uma “violência” contra a vontade da sociedade maranhense. “Não é uma violência contra o Flávio Dino. A sociedade se pronunciou de forma eloquente, nítida, de modo tão destacado, enfático, incisivo e contundente que não permite uma dupla leitura”, disse. “Eles usaram todo o arsenal deles contra nossa campanha, ainda assim a sociedade deu uma resposta avassaladora.”

Oligarquia. Dino ressaltou que seu grupo político não pode desprezar o poder dos Sarney e avalia que o ex-governador Jackson Lago (PDT), que venceu a disputa de 2006, enfrentou uma correlação de forças desigual e errou ao “subestimar” o grupo adversário. Lago acabou sendo afastado do governo pelo Judiciário do Maranhão. “Você não pode subestimar os representantes da oligarquia porque a ânsia de poder deles é muito grande, o apego ao poder, à fortuna.”

Em seu apartamento num bairro de classe média de São Luís, Dino afirmou que pretende, no governo, priorizar a melhoria das condições de vida no Maranhão. “Temos a contradição de um Estado muito rico, de potencialidade, boa logística e com base econômica importante que não consegue garantir condição de vida digna para a população”, disse.

Quando recebeu a notícia da vitória, na noite de domingo, Dino afirmou que “o coronelismo acabou no Maranhão”. Ontem, ele disse que não se precipitou. “O resultado eleitoral das urnas permitiu essa conclusão. Ganhamos com 30% de vantagem. Elegemos o senador (Roberto Rocha, do PSB). Não foi um ato de vontade minha, mas da sociedade”, disse. “A sociedade cansou, quer um regime oxigenado, republicano, democrático, que ouça e aplique bem o dinheiro público.” Dos 42 deputados da nova Assembleia Legislativa, apenas 14 são ligados a Dino. Ele espera fazer maioria na Casa e garantir a governabilidade no Estado com forte presença do grupo de Sarney. “Espero uma transição sem sabotagens.”

Marco Antonio Villa: Basta de PT

• Dilma foi a terceira pior presidente em termos de crescimento econômico. Só perdeu para Floriano Peixoto e Fernando Collor

- O Globo

Estamos vivendo um momento histórico. A eleição presidencial de 2014 decidirá a sorte do Brasil por 12 anos. Como é sabido, o projeto petista é se perpetuar no poder. Segundo imaginam os marginais do poder — feliz expressão cunhada pelo ministro Celso de Mello quando do julgamento do mensalão —, a vitória de Dilma Rousseff abrirá caminho para que Lula volte em 2018 e, claro, com a perspectiva de permanecer por mais 8 anos no poder. Em um eventual segundo governo Dilma, o presidente de fato será Lula. Esperto como é, o nosso Pedro Malasartes da política vai preparar o terreno para voltar, como um Dom Sebastião do século XXI, mesmo que parecendo mais um personagem de samba-enredo ao estilo daquele imortalizado por Sérgio Porto.

Diferentemente de 2006 e 2010, o PT está fragilizado. Dilma é a candidata que segue para tentar a reeleição com a menor votação obtida no primeiro turno desde a eleição de 1994. Seu criador foi derrotado fragorosamente em São Paulo, principal colégio eleitoral do país. Imaginou que elegeria mais um poste. Não só o eleitorado disse não, como não reelegeu o performático e inepto senador Eduardo Suplicy, e a bancada petista na Assembleia Legislativa perdeu oito deputados e seis na Câmara dos Deputados.

A resistência e a recuperação de Aécio Neves foram épicas. Em certo momento da campanha, parecia que o jogo eleitoral estava decidido. Marina Silva tinha disparado e venceria — segundo as malfadadas pesquisas. Ele manteve a calma até quando um dos seus coordenadores de campanha estava querendo saltar para o barco da ex-senadora.

E, neste instante, a ação das lideranças paulistas do PSDB foi decisiva. Geraldo Alckmin poderia ter lavado as mãos e fritado Aécio. Mas não o fez, assim como José Serra, o senador mais votado do país com 11 milhões de votos. Foi em São Paulo que começou a reação democrática que o levou ao segundo turno com uma vitória consagradora no estado onde nasceu o PT.

Esta campanha eleitoral tem desafiado os analistas. As interpretações tradicionais foram desmoralizadas. A determinação econômica — tal qual como no marxismo — acabou não se sustentando. É recorrente a referência à campanha americana de 1992 de Bill Clinton e a expressão "é a economia, estúpido". Com a economia crescendo próximo a zero, como explicar que Dilma liderou a votação no primeiro turno? Se as alianças regionais são indispensáveis, como explicar a votação de Marina? E o tal efeito bumerangue quando um candidato ataca o outro e acaba caindo nas intenções de voto? Como explicar que Dilma caluniou Marina durante três semanas, destruiu a adversária e obteve um crescimento nas pesquisas?

Se Lula é o réu oculto do mensalão, o que dizer do doleiro petista Alberto Youssef? Imagine o leitor quando o depoimento — já aceito pela Justiça Federal — for divulgado ou vazar? De acordo com o ministro Teori Zavascki, o envolvimento de altas figuras da República faz com que o processo tenha de ir para o STF. E, basta lembrar, segundo o doleiro, que só ele lavou R$ 1 bilhão de corrupção da Refinaria Abreu e Lima. Basta supor o que foi desviado da Petrobras, de outras empresas e bancos estatais e dos ministérios para entender o significado dos 12 anos de petismo no poder. É o maior saque de recursos públicos da História do Brasil.

Nesta conjuntura, Aécio tem de estar preparado para um enorme bombardeio de calúnias que irá receber. Marina Silva aprendeu na prática o que é o PT. Em uma quinzena foi alvo de um volume nunca visto de mentiras numa campanha presidencial que acabou destruindo a sua candidatura. Não soube responder porque, apesar de ter saído do PT, o PT ainda não tinha saído dela. Ingenuamente, imaginou que tudo aquilo poderia ser resolvido biblicamente, simplesmente virando a face para outra agressão. Constatou que o PT tem como princípio destruir reputações. E ela foi mais uma vítima desta terrível máquina.

O arsenal petista de dossiês contra Aécio já está pronto. Os aloprados não têm princípios, simplesmente cumprem ordens. Sabem que não sobrevivem longe da máquina de Estado. Contarão com o apoio entusiástico de artistas, intelectuais e jornalistas. Todos eles fracassados e que imputam sua insignificância a uma conspiração das elites. E são milhares espalhados por todo o Brasil.

Teremos o mais violento segundo turno de uma eleição presidencial. O que Marina sofreu, Aécio sofrerá em dobro. Basta sinalizar que ameaça o projeto criminoso de poder do petismo. O senador tucano vai encontrar pelo caminho várias armadilhas. A maior delas é no campo econômico. O governo do PT gestou uma grave crise. Dilma foi a terceira pior presidente da história do Brasil republicano em termos de crescimento econômico. Só perdeu para Floriano Peixoto — que teve no seu triênio presidencial duas guerras civis — e Fernando Collor — que recebeu a verdadeira herança maldita: uma inflação anual de quatro dígitos. O PT deve imputar a Aécio uma agenda econômica impopular que enfrente radicalmente as mazelas criadas pelo petismo. Daí a necessidade imperiosa de o candidato oposicionista deixar claro — muito claro — que quem fala sobre como será o seu governo é ele — somente ele.

Aécio Neves tem todas as condições para vencer a eleição mais difícil da nossa história. Se Tancredo Neves foi o instrumento para que o Brasil se livrasse de 21 anos de arbítrio, o neto poderá ser aquele que livrará o país do projeto criminoso de poder representado pelo PT. E poderemos, finalmente, virar esta triste página da nossa história.

Marco Antonio Villa é historiador

Dora Kramer: Mano a mano pesado

- O Estado de S. Paulo

Olhando a composição do pódio, 2014 dá a impressão de repetir a primeira rodada de 2010 em termos de resultado: PT na frente, PSDB em segundo refletindo o mano a mano de sempre (agora pela sexta vez em 20 anos), a tentativa de terceira via de novo de fora e mais uma vez personificada por Marina Silva.

Descontadas pequenas variações para mais e para menos, os desempenhos numéricos também foram relativamente parecidos com os da eleição anterior. Dilma Rousseff piorou bem, mas manteve a liderança; Aécio Neves teve um ponto a mais que José Serra e Marina superou-se em apenas dois, ficando no patamar dos 20%.

O governo confirmou supremacia no Norte e Nordeste, o PSDB a preferência no Sudeste e Centro-Oeste.

Terminam aí as semelhanças. No mais, o cenário é inteiramente diferente não só em relação a 2010, mas também na comparação com os de 2002 para cá em que no enfrentamento direto os petistas fortalecidos e unidos bateram tucanos acuados e divididos.

Isso não significa que o governo entra em campo enfraquecido para a batalha do segundo turno. Nem de longe.

Continua contando com muitas vantagens. Só não pode mais contar com todas elas. Por exemplo, uma de fundamental importância: base de apoio social. Fator que já permitiu ao partido apresentar qualquer versão sobre seus comportamentos, inventar o que bem entender a respeito de seus adversários e sair incólume diante da sociedade.

Foi por receio da liderança de Luiz Inácio da Silva aliada à força de base do PT que em 2005 a oposição não quis confrontar o então presidente quando o publicitário Duda Mendonça disse na CPI dos Correios que havia recebido dinheiro "por fora" para fazer a campanha de Lula em 2002. Pelo mesmo motivo, as duas candidaturas presidenciais tucanas de 2006 e 2010 evitaram ataques frontais a ele na ilusão de que assim preservariam votos.

Era medo do PT. Geraldo Alckmin até tentou enfrentá-lo em debate do primeiro turno, mas foi mal visto pelo público. No segundo, caiu naquela armadilha das privatizações tentando se mostrar mais estatizante que o PT e foi o que se viu: vestiu um colete cheio de adesivos de estatais e espantou seu eleitorado.

A situação agora é outra. São Paulo deu a senha e o PT entendeu o recado: o cristal da inviolabilidade foi definitivamente trincado. E com o rompimento dessa blindagem, foi-se também a razão para a oposição ter medo do PT e, por que não dizer, de Lula. Isso leva o PSDB com muito mais desenvoltura ao embate, libera o ex-presidente Fernando Henrique para articular o apoio de Marina Silva e confere nitidez ao debate.

A votação de Aécio Neves no Estado surpreendeu os petistas, bem como a dianteira de José Serra sobre Eduardo Suplicy na eleição para o Senado.

Na avaliação de alguns deputados e do assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, ainda na noite de domingo, o partido não tem como escapar de fazer uma análise franca e detalhada sobre as razões do prejuízo que atingiu a bancada federal e de maneira bastante acentuada, a estadual.

No primeiro momento, todos concordam que o PT não soube avaliar corretamente a extensão do repúdio ao partido por não ter dado atenção aos efeitos que os desvios de conduta de alguns poderiam causar em todos na medida em que a cúpula e mesmo o governo não reagiu de maneira incisiva às denúncias de corrupção. Na opinião do deputado Arlindo Chinaglia, houve uma preocupação excessiva e exclusiva em enumerar os feitos do governo. "Abdicamos de fazer política."

A questão agora é se dá tempo de mudar o cenário, uma vez que São Paulo tem um peso extraordinário na contabilidade geral dos votos e que as votações de Aécio Neves e Marina Silva, somadas (55% contra 41%), indicam claramente que o desejo de mudança venceu o medo de romper o imobilismo. No quadro de muitas dúvidas só uma coisa é certa: o mano a mano será pesado.

Merval Pereira: A política nos números

- O Globo

Há duas maneiras de tentar entender o que pode acontecer neste segundo turno, que promete ser o mais eletrizante de tantos quantos já aconteceram desde 1989. O primeiro é meramente numérico, o outro é político. Nos dois casos, a votação de Marina Silva é fundamental, mas não depende apenas dela. Se ela quiser aproveitá-la para tirar dividendos políticos no sentido nobre do termo, poderá negociar um programa de governo que inclua questões que considere essenciais.

Estará então inaugurando na prática a "nova política" de que sempre falou, que não depende tanto de nomes, mas de práticas. O cientista político Sérgio Abranches, criador do termo "presidencialismo de coalizão", escreveu um texto sobre essas negociações no site "Ecopolítica" em que diz que "a novidade deste segundo turno em relação aos demais é que o apoio da coligação de Marina Silva a Aécio Neves, se ocorrer, terá como condicionante inarredável um acordo programático, e não uma simples barganha de cargos e promessas orçamentárias, como tem sido habitual".

Para Abranches, essa "é uma novidade importante e que pode ter um efeito pedagógico fundamental para a mudança de qualidade do presidencialismo de coalizão no Brasil. Deve ter, também, impacto na campanha, uma vez que seria uma demonstração concreta do que poderia ser a transição para o que Marina Silva e Eduardo Campos chamavam de nova política. Um acordo negociado em torno de itens de programa, às claras, que seria apresentado formalmente aos eleitores por meio de um manifesto programático para formação de uma coalizão mais ampla de oposição".

Há claros sinais de que a coligação de Marina caminha para esse acordo, embora forças políticas ligadas ao PT dentro do PSB tentem a neutralidade como saída para impedir a aliança formal com o PSDB. O candidato tucano, Aécio Neves, está tratando o assunto com bastante cuidado e sem for çar a urgência, dando o tempo que tanto Marina quanto a família de Campos precisam para formalizar a decisão. Do ponto de vista numérico, a disputa vai se dar no Nordeste, que se transformou no bunker do lulismo, e em São Paulo, o bunker do tucanato.

A presidente Dilma garantiu na Região Nordeste 15,4 milhões de votos, seguida pela candidata do PSB, com quase 6 milhões , e Aécio, com aproximadamente 3,9 milhões. Foram nada menos que 11,5 milhões de diferença. Sem os votos do Nordeste, ela teve no resto do país menos 3,3 milhões em relação a Aécio Neves. Como na eleição de 2010, a presidente venceu no Norte e no Nordeste, e o candidato do PSDB ganhou no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste.

A neutralização dos cerca de 8 milhões de votos de diferença a favor da presidente está, primeiramente, na ampliação dos votos em São Paulo eem Minas Gerais . No seu território político, Aécio teve uma derrota de grande significado negativo, mas provocou uma redução da votação de Dilma em cerca de 1 milhão de votos. Sua derrota por cerca de 500 mil votos, por outro lado, é a confirmação dolorida de que as derrotas anteriores de José Serra e Geraldo Alckmin para Lula e Dilma não foram provocadas pelo corpo mole de Aécio, mas pelas dificuldades de disputar com um petismo forte do estado.

A votação espetacular em São Paulo a favor de Aécio confirmou que o PSDB enfim encontrou seu ponto de equilíbrio como partido — tanto que a primeira fala de Alckmin depois de eleito no primeiro turno, por uma votação esplêndida, foi para dizer que a tarefa do tucanato paulista será levar Aécio à vitória que ele e Serra tentaram, mas não conseguiram. O outro objetivo foi traçado ontem: acrescentar mais 2 milhões a 3 milhões de votos aos que Aécio recebeu no estado, que viriam dos cerca de 5 milhões que Marina obteve.

Isso significaria colocar na frente de Dilma, só em São Paulo, cerca de 6 milhões a 7 milhões de votos, uma diferença que nem mesmo Fernando Henrique Cardoso colocou sobre Lula nas duas eleições em que ganhou no primeiro turno .

Eliane Cantanhêde: Ecos daquele junho

- Folha de S. Paulo

Engana-se redondamente quem acha que as manifestações de junho de 2013 foram episódicas, um vento que passou. Elas permearam todo o primeiro turno e terão papel relevante no segundo.

E o que elas diziam aos poderosos de todas as unidades da Federação, de todos os partidos e de todos os Poderes? Que a palavra de ordem desta eleição de 2014 seria... mudança.

O vento virou uma ventania que derrotou quatro governadores (DF, ES, PI e TO) já no primeiro turno e empurrou outros dez para um desconfortável segundo turno. Em tempos de mudança, a reeleição, sempre um grande trunfo, transformou-se também num fardo.

Esse movimento atingiu a presidente Dilma Rousseff, que venceu o primeiro turno, mas só em termos. Dilma saiu menor do que Lula em 2002 e 2006 e do que ela própria em 2010. Um dos motivos, talvez o principal, foi o tufão da mudança federal que veio de São Paulo.

Berço tanto do PT quanto do PSDB, o Estado é sobretudo o centro financeiro e industrial do país, onde há maior compreensão dos equívocos não só na condução, mas na concepção econômica do governo Dilma. Natural, portanto, que a onda da mudança, encorpada pelo antipetismo, tenha definido de forma particularmente forte os votos paulistas.

Dilma ficará ainda mais rouca de tanto falar em "fantasmas do passado", para conter a onda de mudança e reforçar estigmas contra o PSDB, logo contra Aécio. Para inverter o jogo, ele terá de combater o "monstros do presente", criando uma promessa de futuro --ou seja, reforçando o vento da mudança, mas "para melhor".

Mantidas as curvas da reta final do primeiro turno, o Datafolha desta quinta (9) poderá trazer Aécio na liderança, acionando todo o exército e a munição petista. Guerra fascinante, mas, além do debate ideológico sobre a economia e do debate político sobre métodos, virão os torpedos. Pode, agora metaforicamente, cair um novo avião e bagunçar tudo.

Luiz Carlos Azedo: O dia seguinte

• O eixo da disputa eleitoral pode ser o moderno contra o atrasado, a social-democracia contra o populismo, a sociedade contra o Estado, a democracia contra o autoritarismo

Correio Braziliense

É grande a ressaca no alto comando petista, que pela segunda vez precisa mudar de tática na campanha eleitoral: a primeira, após a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, quando Marina passou Aécio; a segunda, agora, com o desfecho do primeiro turno, no qual o tucano se recuperou e ameaça abalar o favoritismo de Dilma Rousseff, tomando-lhe o lugar de liderança no segundo turno. À beira de um ataque de nervos, a petista aguarda as primeiras pesquisas dessa semana para saber se Aécio parou de crescer ou não.

Ontem, estrategistas das duas campanhas se reuniram com os candidatos para fazer um balanço do resultado das urnas e decidir o que fazer. Uma análise prospectiva leva à conclusão óbvia: o resultado das urnas foi melhor para Aécio do que se esperava. Dilma trabalhou na reta final para ganhar a eleição no primeiro turno, mas não atingiu o objetivo porque aconteceu o que parecia impossível: perdeu votos para o tucano. Para quem estava perdendo em Minas Gerais e enfrentou dificuldades para consolidar sua candidatura em São Paulo, Aécio Neves saiu no lucro. E que lucro!

Em São Paulo, estado no qual o tucano Geraldo Alckmin foi eleito com folga no primeiro turno (57,31% do total de votos) e José Serra teve uma votação consagradora para o Senado (58,49%), Aécio Neves teve 43, 7% dos votos; Dilma, 26,1%; e Marina 23,9%. Dificilmente os votos de Marina migrarão para a petista, sobretudo por causa dos duros ataques que sofreu durante a campanha. A captura desses votos por Aécio pode decidir a eleição a seu favor, caso consiga também reverter a situação eleitoral em Minas Gerais e abrir a porteira do Nordeste, com o apoio do clã Arraes em Pernambuco. Essa é a grande encruzilhada da eleição.

Dilma venceu em 15 estados, três a menos do que na eleição do ano passado, com destaque para o Piauí, Maranhão e Ceará, onde obteve mais de 70% dos votos. Aécio venceu em nove estados, sendo São Paulo, com 44% dos votos, o determinante para sua ida ao segundo turno. A maior vantagem de Dilma foi na Bahia, com 3 milhões de votos a mais do que Aécio. Em termos político, sua vitória mais expressiva foi a eleição de Fernando Pimentel (PT) em Minas Gerais, terra de Aécio Neves, mas eleitoralmente essa vantagem é muito relativa, por causa da votação apertada em relação ao tucano (43% a 39%), que pode reverter o resultado porque foi para o segundo turno. A mesma situação se repete do Rio Grande do Sul, onde Dilma venceu também por estreita margem: 43% a 41%, com Marina recebendo 12% dos votos.

Dois Brasis
Mais uma vez o resultado das urnas mostra um país dividido: o governo tem sua principal base de sustentação nos estados do Norte e Nordeste, com exceção de Roraima e Rondônia, onde Aécio venceu, Acre e Pernambuco, territórios de Marina. Aécio foi vitorioso no Centro-Oeste, com exceção de Tocantins; no Sudeste, graça a São Paulo e Espírito Santo; e no Sul, com exceção do Rio Grande do Sul. Grosso modo, do ponto de vista das alianças, Dilma sustenta a reeleição na composição com as oligarquias dos estados de menor dinamismo econômico, enquanto Aécio alavanca sua candidatura na classe média dos estados economicamente mais desenvolvidos.

A política de transferência de renda para as populações mais pobres, que é feita pelas prefeituras municipais, cimenta essa aliança petista com forte base popular. Logo após a apuração dos votos, a presidente Dilma Rousseff ensaiou o discurso do segundo turno, com duros ataques ao governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) e a reedição da estratégia do medo (do desemprego, do arrocho salarial, da perda dos direitos trabalhistas e a reversão dos programas sociais do governo). Essa é a velha cartilha petista contra o PSDB, a polarização ideológica direita versus esquerda e dos pobres contra os ricos, que costuma ser a marca registrada da retórica eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Um olhar atento para o mapa eleitoral do país mostra, porém, que o eixo da disputa eleitoral pode ser o moderno contra o atrasado, a social-democracia contra o populismo, a sociedade contra o Estado, a democracia contra o autoritarismo, a Federação contra a centralização, que tende a ser a lógica do discurso de Aécio contra Dilma. Aquele que estiver em mais sintonia com os sentimentos do eleitor levará a melhor.

Raymundo Costa: Força de São Paulo está em jogo no PT

• Partido faz ajuste de contas depois do segundo turno

- Valor Econômico

O PT tem um ajuste de contas marcado para depois da eleição. O acerto já é sinalizado nos bastidores, mas está contido por causa da disputa do segundo turno contra o PSDB. Alguns dirigentes já pedem a cabeça do presidente da seção paulista, Emídio Souza, diante do "tsunami" que varreu o PT em São Paulo, algo que estava precificado desde a convenção que sacramentou a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, mas nunca na extensão do que mostraram as urnas de 5 de outubro.

O partido já decidiu reforçar a campanha da presidente em São Paulo, mas é fato também que ainda está perdido sobre as razões do desastre. A explicação mais comum é que o antipetismo de São Paulo está na origem da debacle. Mas o antipetismo não é de agora e o PT já há algum tempo mantém bons desempenhos no Estado. Outro motivo apontado: o mensalão, enfim, teve efeito sobre o eleitorado, após o julgamento, a condenação e a prisão de antigos influentes dirigentes do PT, todos de São Paulo. A política econômica do governo, deixando a inflação rodar no limite da meta, também é responsabilizada - mas a política econômica é a mesma para os 15 Estados em que Dilma venceu.

Culpa-se também a decisão de Lula de escolher postes para disputar as eleições. A rejeição a Dilma está alta em São Paulo desde as manifestações de junho de 2013, assim como a aprovação do prefeito Fernando Haddad, outra invenção, como fora Dilma, do ex-presidente, em 2012. Lula tentou a mesma fórmula agora em 2014, com a candidatura do ex-ministro Alexandre Padilha. Não apenas não deu certo, como o PT retroagiu ao desempenho que tinha nos anos 80 até fins dos 90. A ministra Marta Suplicy (Cultura), mesmo para perder, teria desempenho muito melhor.

Com 18% dos votos de São Paulo, o desempenho de Padilha só foi melhor que os de Lula, em 1982, e Plínio de Arruda Sampaio, Eduardo Suplicy e José Dirceu, nos primórdios do PT. Em 1998 Marta já chegou em terceiro e ajudou Mário Covas a vencer Paulo Maluf em disputa de segundo turno, muito embora o então poderoso José Dirceu dissesse que o PT iria bater Covas "nas urnas e nas ruas". A questão moral foi imperativa na decisão de Marta. Em 2002, o deputado José Genoino foi para o segundo turno com Geraldo Alckmin (PSDB). Em 2006, Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, bateu na trave e não foi para o segundo turno por pequena margem de votos.

O "tsunami" - a expressão está sendo empregada no PT - varreu quase a metade da bancada federal do PT eleita por São Paulo. Entre os derrotados havia um deputado que presidiu a Comissão de Educação da Câmara, Newton Lima, amigos de Lula como Devanir Ribeiro, e um ex-líder do PT e do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza. A pancada foi maior que em 2006, a primeira eleição após a denúncia do mensalão, que tirou da Câmara os deputados eleitos pelo voto de opinião, como Luiz Eduardo Greenhalgh. O único "deputado de opinião" que conseguiu voltar, naquele ano, foi o atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo

Houve também uma quebra de quase 50% da bancada do PT na Assembleia Legislativa. Mas a suprema humilhação dos petistas foi assistir o senador Eduardo Suplicy perder na proporção de dois votos para o arquirrival José Serra, que pela lógica da polarização acabou se transformando na encarnação do antipetismo local e nacional. Foi pior até do que assistir o PSDB reeleger seus caciques como o próprio Serra, que vagava por um certo ostracismo, o governador Geraldo Alckmin, e mandar o senador Aloysio Nunes Ferreira para o segundo turno, como vice de Aécio Neves. Sem falar do resgaste de tucanos de outros Estados, como Tasso Jereissati, eleito senador pelo Estado do Ceará.

Na reta final, a campanha de Dilma e o PT traçaram metas para a disputa do primeiro turno, em São Paulo. A presidente deveria sair do patamar de 25%, em que se encontrava, para 30%. Isso talvez pudesse levar a eleição a ser encerrada no primeiro turno. Padilha já era considerado um caso perdido, e no fim da eleição do PT já se dava por satisfeito se ele ficasse perto dos 20%. Não deu. No comitê de Dilma e entre os mais próximos da presidente atribui-se o desastre paulista a Luiz Marinho, coordenador da campanha da presidente em São Paulo. Fala-se que ele estaria mais preocupado com a própria eleição, em 2018. Mas a crítica aponta um dedo para Lula, amigo do prefeito de São Bernardo do Campo.

Entre os lulistas considera-se uma "injustiça" responsabilizar Lula pelo fracasso, pois ele se dedicou integralmente à campanha, às custas de sacrifício pessoal. Mas o fato é que Lula e o PT de São Paulo perderam, no momento em que exigiam mais poder e influência num eventual segundo mandato de Dilma. Há uma nova relação de forças no PT, que inclui o governador Jaques Wagner, que elegeu o próprio "poste" na Bahia, contra todos os prognósticos, e - sobretudo - Fernando Pimentel, que se elegeu governador contra o candidato de Aécio Neves em Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país. O resultado final da eleição dará cores mais nítidas ao novo quem é quem do PT, com tudo o que cada um representa. São Paulo, por exemplo, quer um governo mais duro - inclusive em relação à imprensa -, mais vigiado pelo PT e com maior participação partidária.

A presidente Dilma tem acenado com mais rigor no combate à corrupção, em eventual segundo mandato. Poderia começar já, com o decreto de regulamentação da lei que permite a punição das empresas pilhadas em atos de corrupção, a menos que façam acordo para se salvar das multas, em troca da delação de quem foi corrompido. A lei está em vigência desde janeiro último, mas a Controladoria Geral da União, aparentemente, sente-se inibida a agir, enquanto não sair a regulamentação. Preparado por técnicos da CGU e da Casa Civil, o decreto está pronto para ser assinado, mas paralisado em uma gaveta do Palácio do Planalto. Segundo se informa, à espera do fim das eleições. Os principais doadores de campanha formam a clientela potencial da nova lei.

José Casado: Atropelados

• Lula, Dilma e o PT assustaram-se porque 57 milhões "ousaram duvidar" de suas propostas, preferindo as de Aécio e Marina. Acabaram ultrapassados no "cinturão" operário paulista

- O Globo

Um sentimento de perplexidade prevalece na cúpula do Partido dos Trabalhadores desde a noite de domingo. Em Brasília, por exemplo, os convidados para a celebração do triunfo de Dilma Rousseff (com 43,2 milhões de votos) acabaram figurantes de um pálido festejo.

Rouca, a presidente-candidata anunciou o plano de campanha para os próximos 20 dias: "O povo dirá que não quer os fantasmas do passado, como recessão, arrocho, desemprego (...) Não queremos de volta os que trouxeram o racionamento de energia, que tentaram incluir no processo de privatização a Petrobras, as empresas do setor elétrico, como Furnas, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica."

É a renovada aposta num antigo receituário da política: qualquer coisa pode virar uma verdade, desde que mais de uma pessoa acredite.

Reflete a drástica mudança no humor petista depois de 12 anos no poder. Dissipou-se o tom de leveza e autojúbilo, permeado pela soberba da crença de que só ao PT cabe o papel de condutor da "mudança do Brasil".

A raiz dessa comoção vai além da recuperação de Aécio Neves (34,9 milhões de votos), num esforço tão exuberante quanto solitário. Ou mesmo da resiliência de Marina Silva (22,1 milhões de votos) em sete semanas com dois minutos de propaganda no rádio e televisão, sob forte bombardeio em outros 15 minutos. O abalo petista tem mais a ver com o comportamento do eleitorado no Sudeste, especialmente em São Paulo, onde Lula surgiu, criou e consolidou o mais organizado partido político brasileiro.

Um mês atrás, na madrugada de sábado 6 de setembro, Lula mandou acordar dirigentes do PT. Na reunião improvisada, Lula desabafou seu "desentendimento" sobre o rumo da eleição. Fora a um comício em São José dos Campos, na hora de saída dos trabalhadores, e só encontrou meia praça cheia. Em outro, na porta 35 da Ford, em São Bernardo do Campo, a plateia não somou uma centena de pessoas.

"As pessoas podem, e devemos admitir, que não concordem com a gente ideologicamente", disse. "O que não podemos aceitar é sermos tratados como segunda classe. Porque foi a partir do nosso partido que começou a mudar a história da administração pública nesse país."

Acrescentou: "Vamos ter que fazer procissão, suar a camisa e discutir com aquelas pessoas que ousam duvidar da gente." Wagner Freitas, presidente da CUT, emendou: "Não é possível, depois de 12 anos de trabalho exitoso, não ter resposta a essa direita ultrapassada."

O mapa de votação de Dilma Rousseff mostra que o PT acabou atropelado no seu núcleo, o "cinturão" operário. Perdeu na capital (com 20,6% dos votos), em Santo André (27,6%), São Bernardo (32,7%), São Caetano (14,9%), São José (21,4%), Santos (20,1%), Campinas (25,7%) e Ribeirão Preto (20,7%).

Lula, Dilma e o PT assustaram-se porque 57 milhões "ousaram duvidar" de suas propostas, preferindo as de Aécio e Marina. Porém, o eleitorado que dizimou a bancada petista em Pernambuco, os premiou com os governos de Minas e Bahia, maioria de até 70% no Nordeste e a liderança na chegada ao segundo turno.

Agora, na encruzilhada, precisam optar entre a reinvenção da presidente-candidata e o velho receituário, que estabelece como missão a reforma do país sob critérios exclusivos do PT, não importando os desejos do eleitorado.