sábado, 29 de agosto de 2020

Marco Aurélio Nogueira* - Reposicionamento e impasse

- Revista Será? (PE)

O ministério da Economia divulgou em 24 de agosto três programas básicos voltados para a área social: Renda Brasil, Carteira Verde Amarela, Minha Casa Verde Amarela. A convicção é que eles impulsionarão a retomada do crescimento, via monetização da assistência, criação de empregos e financiamento habitacional.

O governo tenta se reposicionar no mercado. Os programas já existem com outras designações e não estão claras as alterações a serem feitas, nem de onde virão os recursos para custear a nova versão. Há o teto de gastos e ainda está para ser equacionada a questão do auxílio emergencial (pago em decorrência da pandemia), que hoje beneficia 64 milhões de pessoas. Não se sabe como se chegará ao Renda Brasil, que terá caráter mais permanente. A equipe econômica fala em extinguir programas sociais e suprimir o abono salarial para obter receita e o presidente diz que não quer “tirar dos pobres para dar aos paupérrimos”.

O impasse desgasta, em vez de fortalecer. Aprofundou-se uma rota de colisão que a rigor estava desenhada ainda na campanha de 2018, quando o ultraliberal Paulo Guedes aliou-se a Jair Bolsonaro. A convivência foi mantida enquanto não entrou no radar a disposição eleitoral do presidente, que resolveu antecipar a tentativa de reeleição em 2022. Como observou com precisão o cientista político Paulo Fábio Dantas Neto, o disparo do radar mostrou que “Guedes quer entregar resultados ao mercado econômico-financeiro e Bolsonaro quer ofertar mercadorias no mercado político-eleitoral”.

Uma pacificação que deixe o barco singrar mansamente até 2022 parece pouco provável, mesmo que os bombeiros entrem em ação e apaguem as labaredas que ardem no relacionamento do presidente com seu ministro. De novo Paulo Fábio: “Se se deseja esse avanço será preciso apelar à inteligência artificial da política. Se o processo correr solto, deixado aos apetites naturais, bolsonarismo político e liberalismo econômico precisarão se separar para viverem suas vidas em liberdade. Cada qual buscando novo par no repertório já testado no campo que lhe é mais estranho”.

Bolsonaro deu um xeque em Paulo Guedes. Suspendeu a criação do Renda Brasil e exigiu que uma nova proposta fosse apresentada a toque de caixa. Chamuscado, o ministro se fingiu de morto e retrucou: “As coisas são assim mesmo: a economia é o cara que faz o papel de mau, e a política é o cara que faz o papel do bom”.

A bagunça fez a tensão crescer no Planalto.

O governo não tem de onde tirar dinheiro, mas quer usar os programas sociais para politizar a relação com a população mais dependente de assistência. De olho nas eleições de 2022, Bolsonaro cobiça o eleitorado do Norte e Nordeste, tido como estratégico. Não pode, por isso, aumentar impostos ao bel-prazer da equipe econômica. Sabe que precisa conter a sangria de votos da classe média, que já é acentuada, ao mesmo tempo em que precisa fidelizar a população mais pobre, o que tem tentado com o auxílio emergencial e os acenos para a repaginação do Bolsa Família. Em ambos os caso, o ultraliberalismo de Guedes é dissonante e não tem serventia.

A trombada do presidente com a equipe econômica deixou mais evidente a ausência de consensos e articulação.

O quadro é agravado pela inconsistência das propostas cozinhadas no Ministério da Economia, que não se apoiam num planejamento estratégico básico e reiteram uma opção fiscalista que colide com a já pesada carga tributária, hoje na casa dos 33% do PIB, além de atritar os planos eleitorais do presidente.

Merval Pereira - O amanhã do Rio

- O Globo

“Como será amanhã? /Responda quem puder/ O que irá me acontecer/ O meu destino será/ Como Deus quiser”. O belíssimo samba-enredo da União da Ilha de 1978, cujo refrão caiu na boca do povo, é de autoria de João Sérgio e do procurador da República Gustavo Adolfo de Carvalho Baeta Neves, que se assinava simplesmente Didi para enganar a família, que não queria vê-lo envolvido nas escolas de samba.

Pois a letra do magistrado define bem a situação de seu colega de Judiciário, o ex-Juiz e governador afastado do Rio Wilson Witzel, cuja carreira política meteórica deve ter tido um ponto final ontem com o afastamento decretado pelo ministro Benedito Gonçalves do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Mas não define a situação dramática do próprio Estado, que já teve nada menos que seis governadores presos ou investigados. Nesse caso, o futuro pertence aos próprios cidadãos, que têm escolhido mal há anos, levando o Estado à situação de bancarrota moral e financeira.

O Rio de Janeiro vive já há algum tempo situação similar à do Espírito Santo em 2003, com os poderes do Estado dominados por milícias e traficantes. A eleição de Paulo Hartung deu uma virada no Estado, que se recuperou econômica e moralmente.

O afastamento do governador Wilson Witzel é uma repetição impressionante da política do Rio, inclusive da cadeia sucessória: governador afastado, vice-governador e presidente da Assembleia investigados. Nunca a frase de Marx foi tão apropriada.

Repete-se como farsa o que aconteceu com o ex-governador Sérgio Cabral, condenado a 300 anos. É a segunda vez nos últimos meses que a polícia entra no Palácio Laranjeiras para fazer vistoria na casa do governador Witzel, que conseguiu pelo menos licença para morar lá nos próximos seis meses.

Acho que não terá esse tempo todo, pois ontem o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes liberou a Assembléia do Rio para prosseguir o processo de impeachment, que estava suspenso.

Míriam Leitão - Águas do Rio e conflito federal

- O Globo

Até as águas do Rio Jordão sabem o que está se passando no Rio de Janeiro. Há uma guerra entre os que se banharam nas mesmas águas. O que levou Wilson Witzel do traço na intenção de voto ao Palácio Guanabara foi a onda bolsonarista. O mesmo discurso anticorrupção, o uso da religião, e a apologia das armas. Bolsonaro fazia o gesto da arma na mão, Witzel dizia que daria “tiro na cabecinha”. Bolsonaro passou pelo PSC, onde lançou sua pré-candidatura e foi batizado pelo Pastor Everaldo, Witzel foi eleito pelo PSC. Hoje os dois lados se acusam mutuamente. Witzel acha que está sendo perseguido pelo presidente, através do Ministério Público Federal, Bolsonaro acha que seus filhos são perseguidos por Witzel, através do MP estadual e da Polícia Civil.

A política do Rio de Janeiro tem água turva demais. Quatro governadores passaram pela prisão, um permanece entre grades e outro está em prisão domiciliar. A PGR chegou a pedir a preventiva de Wilson Witzel, o ministro do STJ Benedito Gonçalves apenas o afastou. De tarde, o ministro Alexandre de Moraes permitiu a continuidade do processo de impeachment, o que pode afastá-lo definitivamente do cargo. Bolsonaro já disse que “o Rio é o estado mais corrupto do Brasil”, mas foi onde fez a sua carreira, na qual jamais se mobilizou contra a corrupção. Fez sua vida política defendendo bandeiras corporativas das forças de segurança e emitindo sinais de simpatia à milícia. Com essas alavancas e usando o sentimento anticorrupção, foi mais longe do que qualquer outro do estado. Jair Bolsonaro é o primeiro político do Rio a ser eleito presidente da República. Antes dele, apenas Nilo Peçanha, o vice de Afonso Pena, ocupou a presidência, de 1909 a 1910, após a morte do titular.

O Rio vive a sua tragédia de cenas repetidas. “Nós nos sentíamos num túnel do tempo”, disse o procurador federal Eduardo El Hage, sobre o que pensaram os procuradores diante dos indícios do envolvimento do escritório de advocacia da primeira-dama na passagem do dinheiro de propina. O Rio está preso no túnel de um tempo circular que repete sempre as mesmas cenas.

Sérgio Magalhães - A voz do Rio

- O Globo

Peso da cidade pede independência em relação aos poderosos da ocasião

Paes? Crivella? Marta? Messina? Aproximam-se as eleições, um pleito crucial para o Rio de Janeiro ante a situação em que se encontra a cidade. Teremos oportunidade de debater sobre o futuro do Rio?

Tenho acompanhado eleições desde a democratização, e em raras situações temas urbanos estiveram em pauta. Contentamo-nos em destacar prioridades consensuais: saúde, educação e segurança. São questões fundamentais, é claro, comuns a todas as cidades. Mas não esgotam a complexidade da cidade contemporânea.

O Rio, com sua história multicentenária, capital da Colônia, do Reino, do Império e da República, centro político, econômico, social e cultural do país, precisa ser visto como tal, sem simplificações e sem exclusões.

Por isso mesmo, seu prefeito investe-se de um status político ímpar. A representação da cidade no âmbito nacional e internacional pede independência em relação aos poderosos da ocasião. Ela não pode ser trocada por eventual apoio eleitoral. Nessa condição, o compromisso com a democracia há de ser o pilar fundamental. Nossos candidatos dispõem-se a explicitar esse compromisso?

A voz política independente e autônoma do Rio de Janeiro é essencial para a cidade e para o país, não pode ser sublocada.

Não pode ser sublocada porque a complexidade do Rio pede intérprete forte. A cidade tem carências e potencialidades de igual peso. As primeiras precisam ser enfrentadas, as segundas precisam ser desenvolvidas. Um novo e reparador estatuto federativo para o Rio (já agora metropolitano) precisa ser pautado, ante as reconhecidas perdas, jamais compensadas, que a fusão e a mudança da capital representaram.

A cidade apresenta um quadro de carências urbanas de difícil compreensão. Como admitir que milhões de cariocas sofram pela ausência de infraestrutura e de serviços públicos, sofram em transporte desumano e, ainda, submetidos a regime brutal de traficantes e milicianos? Como admitir que, numa cidade com razoável padrão de qualidade urbana, tal situação perdure?

Ascânio Seleme - Não culpe o eleitor

- O Globo

O eleitor não foi afastado do seu cargo no Palácio Guanabara. Tampouco xingou jornalistas ou ameaçou dar porrada em um deles ao ser perguntado por que um

O eleitor não foi afastado do seu cargo no Palácio Guanabara. Tampouco xingou jornalistas ou ameaçou dar porrada em um deles ao ser perguntado por que um miliciano depositou R$ 89 mil na conta da sua mulher. Não foi o eleitor que saqueou os cofres do Rio durante oito anos. Também não podem ser atribuídos a ele a compra de apoio de partidos com dinheiro público e o desfalque bilionário na Petrobras.

Ele cumpre sua obrigação cívica a cada dois anos e pode eventualmente errar nas suas opções eleitorais, mas não erra de propósito. De um modo geral, o eleitor tem boa intenção, vota pensando no futuro, quer que seu candidato encontre soluções para os problemas da sua cidade, do seu estado e do Brasil. Ele pode ser desatento e deixar para a última hora a decisão sobre quem votar, mas quando vota está certo de que fez a escolha certa.

O eleitor pode ser manipulado, claro que pode. Ele é objeto de uma imensa carga de informações, muitas vezes falsas ou fraudulentas nas redes sociais. É certo que a abundância de fake news pode distorcer a vontade do eleitor. Neste caso, ele também não pode ser responsabilizado pelos atos dos que foram eleitos usando armas antiéticas e ilegais.

Como um consumidor qualquer, o eleitor é bombardeado por campanhas publicitárias que tentam vender a ele o melhor candidato. E isso é bom. Ele precisa mesmo saber quem são os candidatos, qual o cardápio disponível para decidir em quem votar.

Essas propagandas de candidaturas são legais e fiscalizadas pelos tribunais eleitorais. Mentira não pode. Acusações sem prova contra adversários também não são permitidas. Há punições aos faltosos que vão da perda do espaço publicitário gratuito até a sua desqualificação para o pleito.

A imprensa também está ao lado do eleitor e pode ser uma ferramenta muito útil para ele escolher melhor. Ela esclarece em tempo real cada lance das campanhas eleitorais. Buscar informação de qualidade com certeza ajuda, mas mesmo que o eleitor não faça isso, ele não poderá ser culpado dos crimes cometidos por quem elegeu.

Ninguém vai às urnas com a determinação de votar num corrupto.

Ricardo Noblat - Acertaram na cabecinha do governador Wilson Witzel

- Blog do Noblat | Veja

Guerra de facções
Se possível por unanimidade, o plenário do Superior Tribunal de Justiça deverá confirmar na próxima terça-feira a decisão solitária do ministro Benedito Gonçalves que afastou por 180 dias o ex-juiz Wilson Witzel (PSC) do cargo de governador do Rio de Janeiro.

Cláudio de Castro (PSC), o vice, assumiu o cargo na condição de interino. Horas antes, sua casa fora invadida pela polícia atrás de documentos. Ele é acusado de corrupção, assim como o deputado André Ceciliano (PT), presidente da Assembleia Legislativa.

O passado recente da política no Rio é conhecido. Dos cinco governadores eleitos que permanecem vivos, cinco foram afastados ou presos por suspeitas de malversação de recursos. Sim, cinco em cinco. Witzel é o sexto. Seu governo acabou.

O futuro da política no Rio é incerto. Como Castro governará se for denunciado por corrupção pelo Ministério Público? Ceciliano, ligado ao ex-governador Anthony Garotinho, seria seu imediato substituto. Mas Ceciliano também está enrolado, e não só ele.

As investigações avançam sobre outros deputados estaduais. Como a Assembleia Legislativa votará o processo já aberto de impeachment contra Witzel se parte dos seus integrantes é investigada? Quem presidirá a sessão de votação? Ceciliano?

Demétrio Magnoli* - Jacinda, a vacina

- Folha de S. Paulo

Jacinda Ardern mal oculta sua meta de inscrever na pedra sua liderança moral

A Nova Zelândia entrou em "lockdown" em março, para emergir em maio declarando um triunfo completo: a supressão do vírus. Jacinda Ardern saltou, então, da condição mundana de primeira-ministra ao estatuto mítico de Exterminadora. Duas semanas atrás, Auckland fechou de novo, após a irrupção de quatro novos de casos de contágio. Há, aí, uma lição.

As duas ilhas dos mares do sul, fragmentos remanescentes de um microcontinente parcialmente submerso, berços de uma nação de classe média, formam o lugar ideal para o experimento supressivo. O fracasso prova que o coronavírus não é exterminável —ainda que a Exterminadora insista, incansavelmente, em perseguir seu pote de ouro.

A Alemanha situa-se na ponta oposta da estratégia neozelandesa. Os alemães escolheram administrar os contágios, minimizando os óbitos por meio de quarentenas moderadas e do controle de focos de transmissão pela testagem em massa. No lugar da utopia de eliminação do vírus, eles definiram o objetivo de combater a epidemia com doses limitadas de restrições à vida social.

Os discursos vulgares sobre a vacina inscrevem-se no campo lógico personificado por Ardern. Fala-se da Vacina no singular e com maiúscula. A sua chegada marcaria a Redenção: o alvorecer dourado da imunidade absoluta.

Hélio Schwartsman – Jair, tecelão de oximoros

- Folha de S. Paulo

Não surpreende que Bolsonaro aja como Bolsonaro

No dia em que o Brasil contabilizava 115 mil mortes por Covid-19 —o que representa uma taxa de óbitos por 100 mil habitantes 47 vezes maior que a do vizinho Uruguai—, Jair Bolsonaro promoveu um evento em que arrebanhou ministros e alguns médicos para juntos enaltecerem a cloroquina. O nome escolhido para a cerimônia foi "Brasil vencendo a Covid-19".

É genial. Com essa, Bolsonaro conquistou um lugar no panteão dos oximoristas, as pessoas que criam nomes ou expressões que aglutinam conceitos contraditórios ou absurdos. Meu exemplo favorito é o Sacro Império Romano Germânico (a designação dada ao mosaico de Estados alemães que conviveram entre 963 e 1806), que, como observou Voltaire, não era sacro, nem era um império e também não era romano. Ao menos era germânico. Uma lista mais tradicional de oxímoros inclui: silêncio eloquente, instante eterno, crescimento negativo e inteligência militar.

Contradições à parte, não surpreende que Bolsonaro aja como Bolsonaro. O que me preocupa mais é que existam médicos que aceitam participar de uma pantomima eleitoreira que nega o método científico pelo qual a medicina deveria se pautar.

Julianna Sofia – E os super-ricos?

- Folha de S. Paulo

O 1% mais rico do país tem 30% da renda; os 5% mais pobres ganham R$ 165 por mês

O ministro Paulo Guedes encontra-se numa encruzilhada na busca por recursos para o Renda Brasil, peça de propaganda capaz de pavimentar o caminho para reeleição de Jair Bolsonaro. A situação falimentar das contas públicas e as travas fiscais vigentes, a incompetência do governo em endereçar reformas estruturais, além do voluntarismo do ocupante do Planalto, fizeram da tarefa bufonaria autêntica.

Propostas a esmo para bancar o programa social de Bolsonaro. Guedes já tentou vincular o gasto à criação da nova CPMF —o imposto digital que não tributa só transações digitais. E alertou que um benefício de R$ 300 ao Renda Brasil exigiria o fim das deduções do Imposto de Renda. Planejou ainda cortar o abono salarial, o Farmácia Popular e o seguro defeso para abrir espaço no teto de gastos e, assim, turbinar com R$ 20 bilhões o novo Bolsa Família.

Oscar Vilhena Vieira* - 'Dar fim à bandidagem'

- Folha de S. Paulo

Políticos fizeram da miséria da segurança pública fonte inesgotável de votos

O afastamento de Wilson Witzel do governo do Rio de Janeiro não chega a surpreender, uma vez que conspirou, desde o primeiro dia de seu mandato, contra os princípios mais elementares do Estado de direito. Lamento, no entanto, que a intervenção judicial não tenha sido decorrência da postura miliciana assumida pelo ex-juiz e agora governador. Difícil esquecer a imagem do helicóptero do governador metralhando uma tenda de orações, nos arredores de Angra dos Reis, sob o pretexto de “dar fim à bandidagem”. Seria pedagógico que além da corrupção, a violação sistemática de direitos humanos também passasse a ser vista como um obstáculo ao exercício do poder no Brasil.

Witzel é apenas mais um oportunista numa cepa de políticos que fizeram da miséria da segurança pública uma fonte inesgotável de votos, do qual Bolsonaro é o prócer. Desinteressados na reforma das políticas criminais, modernização do sistema de Justiça e na profissionalização das forças policiais, exploram o medo da população, vendendo a ilusão de que com o aumento do arbítrio do Estado e impunidade de seus agentes, além do encarceramento em massa, a questão da segurança estará resolvida.

Os mais de 1 milhão de mortos por homicídio nos últimos 30 anos são a expressão mais cabal de que a prevalência de uma política repressiva e arbitrária de segurança é absolutamente ineficaz para assegurar o direito à vida e à paz da população.

Na contramão dessa espiral autoritária, que vem agravando a violência e a violação de direitos das populações vulneráveis no Brasil, o Supremo Tribunal Federal proferiu duas relevantes decisões.

Igor Gielow - Bolsonaro pode celebrar, mas caso Witzel é aviso à 'geração de 2018'

Afastamento de governador mostra que a caveira de burro da política do Rio segue viva

A caveira de burro, figura extraída da mitologia do futebol que indica um lugar onde tudo dá errado, é o símbolo máximo da política do estado do Rio de Janeiro.

Dos 8 governadores que o estado elegeu desde que voltou a fazer isso, em 1982, 6 estão vivos. Todos foram implicados em algum esquema de corrupção, 5 foram presos em algum momento e 1, Sérgio Cabral, está na cadeia condenado a uma pena de quase 300 anos.

Agora foi a vez de Wilson Witzel (PSC), talvez o mais exótico exemplar em termos de trajetória política a frequentar o assombrado Palácio Laranjeiras, sob o qual parece enterrado o proverbial crânio muar.

Seu afastamento, somado ao processo de impeachment que sofre na Assembleia Legislativa, parece ser o prego no caixão da meteórica carreira política desse ex-juiz, eleito no tsunami conservador-bolsonarista de 2018.

O patrono da turma, o presidente Jair Bolsonaro, tem motivos para celebrar a queda em desgraça do antigo apoiador. Ao longo de 2019 e, principalmente, com a ascensão da realidade pandêmica, Witzel buscou afastar-se do Planalto com tom ácido.

Entrevista | ‘Rio vive vácuo político’, diz Ricardo Ismael

Ricardo Ismael, doutor em ciências políticas pelo Iuperj e professor da PUC-RIO

Para cientista político, afastamento de Witzel se soma ao escândalos das lideranças do MDB e do casal Garotinho

Pedro Venceslau | O Estado de S.Paulo

A celeridade na apuração das denúncias contra Wilson Witzel, afastado na sexta-feira, 28, do cargo de governador do Rio, se deve mais ao fato de os supostos desvios na área da Saúde terem acontecido em plena pandemia do que por influência política do Palácio do Planalto. A avaliação é do cientista político Ricardo Ismael, doutor em ciências políticas pelo Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro) e professor da PUC-Rio. Para ele, o Rio vive um “vácuo” político – cinco ex-governadores do Estado eleitos desde a redemocratização já foram presos.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

• O presidente Jair Bolsonaro é beneficiado pelo afastamento do governador Witzel ?

Witzel foi eleito naquela onda do Bolsonaro. Ele passou a maior parte da campanha na rabeira e começou a crescer no fim do 1.° turno fazendo campanha com Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). No segundo turno, ganhou com uma diferença de 20 pontos porcentuais. Depois, ele começa a se afastar de Bolsonaro e diz que poderia ser candidato à Presidência em 2022. Após a busca e apreensão na secretaria da Saúde, ele começou a se retrair. Com o processo de impeachment na Assembleia, ele ficou mais ainda na defensiva. O voo dele nacional já estava completamente inviabilizado. Com o afastamento, cresce muito a chance dele sofrer impeachment. Se ele for mesmo afastado e não voltar, Bolsonaro pode ter um aliado no governo para 2022.

• Os Bolsonaros podem ocupar espaço nesse vácuo de poder do Rio de Janeiro?

O vice Cláudio Castro, do PSC, tem pouca experiência em política. Se não for comprovado nada contra ele, Castro fica com o mandato e, pelas circunstâncias no Rio, será forçado a se aproximar do Governo Federal, até para poder buscar recursos. A situação das finanças públicas no Rio é bem delicada. Seria uma tendência natural. Castro não iria sombrear Bolsonaro em uma tentativa para disputar a Presidência. O outro cenário é, se houver o afastamento do vice, que também está sendo investigado, pode ocorrer uma eleição direta. Nesse caso, o bolsonarismo não tem candidato. A pré-campanha para a prefeitura da capital mostrou isso. Bolsonaro se aproximou do Crivella e não tem um candidato.

• Como o sr. explica a decadência da política do Rio, que já teve cinco governadores presos e agora um governador afastado?

Os casos de Cabral, Pezão e Witzel se parecem e envolvem desvio de dinheiro público. Os mecanismos de controle do Rio, como Tribunal de Contas e Ministério Público Estadual e Polícia Civil, têm falhado. Lembrando que o Tribunal de Contas é um órgão auxiliar da Assembleia Legislativa, que também tem função fiscalizadora.

• Houve celeridade no caso de Witzel?

Sempre se levanta a hipótese que o governo Bolsonaro apertou os botões, mas governador tem foro privilegiado. Tudo foi feito com autorização do ministro Benedito Gonçalves, do STJ. Todos os procedimentos foram analisados por ele. Salta aos olhos no Rio que, durante uma pandemia, surjam uma sucessão de denúncias. Isso chama atenção da mídia e o processo ganhou mais velocidade. Foi a pandemia que fez andar mais rápido. É muito mais grave desviar dinheiro público nessa situação.

• A queda de Witzel coloca em xeque o discurso da nova política?

Sim e não. Vamos começar pelo sim. Witzel foi eleito dizendo que representava a nova política e nunca tinha se misturado com políticos acusados na Lava Jato e vinha da Justiça Federal. O discurso casava com o momento do País pós Lava Jato de buscar políticos ficha-limpa. Nesse aspecto foi uma ducha de água fria. Rio e Minas Gerais apostaram em caras novas. Nesse sentido foi um revés. A população vai perceber que não adianta votar em alguém que não é da política, só indo atrás de outra atividade profissional. Por outro lado, o Rio de Janeiro vive um vácuo político. Estão fora do jogo todas as lideranças do MDB, Garotinho e Rosinha, o Witzel. O sentimento de renovação vai continuar.

Vera Magalhães – Governador do Rio colapsou com a mesma rapidez que surgiu

- O Estado de S. Paulo

Wilson Witzel é um fenômeno sui generis na política brasileira, que vem acumulando espécimes desta natureza desde 2018. Na campanha ao governo do Rio, era um ex-juiz desconhecido, algo caricato, de um partido nanico, figurante. Foi então que colou sua imagem à de Jair Bolsonaro, tentou surfar na então maré influente de juízes valentões, participou do gesto de rasgar a placa de Marielle Franco e enfrentou Eduardo Paes num debate.

Foi esse o “currículo” que levou o desconhecido cujo nome ninguém sabia pronunciar direito à vitória no terceiro maior Estado da Federação já encalacrado, com dois ex-governadores (Sérgio Cabral e até então também Luiz Fernando Pezão) na prisão, outros três (casal Garotinho e Moreira Franco) tendo feito escalas por lá, absolutamente quebrado do ponto de vista fiscal e econômico, fraturado socialmente, dominado pela violência, loteado entre tráfico e milícia.

Não que houvesse grandes opções. O adversário favorito era Eduardo Paes, que, embora não tenha sido engolfado pelo escândalo de Cabral diretamente, foi aliado do exgovernador o tempo todo de seus dois mandatos na prefeitura. Na capital do Rio o comandante é o bispo Marcelo Crivella, que transformou a cidade num experimento de política neopentecostal, levado adiante mesmo no enfrentamento da pandemia.

Alarmante é pouco para descrever a situação em que se encontra o Rio. A magnitude e a extensão da operação que afastou Witzel do cargo, prendeu políticos proeminentes, como Pastor Everaldo, e mostrou um esquema seriíssimo de fraude na Saúde em plena pandemia mostra um Estado carcomido por sucessivos grupos políticos que viram nele apenas uma casa a ser saqueada até não sobrarem nem as vigas.

Witzel não tinha projeto, não tinha noção de administração pública, não tinha partido e não tinha, agora vê-se, boas intenções. Desde o dia 1 no cargo se alternou entre declarações e ações midiáticas, brigas com Bolsonaro e encrencas com a Assembleia. A briga com o presidente e espelho político se mostrou seu maior erro, ocasionado pela ilusão de que poderia ser candidato a presidente.

Governador acidental, Witzel parece ter acreditado que era um ungido para voos maiores. A queda tão rápida quanto a ascensão ao menos corta na raiz uma carreira política de que Rio e Brasil não precisavam. E assim como ele está cheio de arrivista por aí, nos Executivos e Legislativos.

João Gabriel de Lima - A floresta, o agro e a fazenda do tio Militão

- O Estado de S.Paulo

No Brasil, quando parece que está tudo resolvido, surge alguém e estraga tudo

Era uma vez quatro primos. Todos sobrinhos do tio Militão, grande fazendeiro. Tio Militão morreu. Os primos Huguinho, Zezinho e Luisinho brigaram, brigaram e, afinal, chegaram a um acordo. Huguinho, que gostava de pecuária, ficaria com os bois e as pastagens. Zezinho, formado em agricultura, herdaria as plantações de cana. E Luisinho, bon vivant, transformaria o casarão com piscina num luxuoso hotel-fazenda. Era hora de comemorar o acordo com um grande churrasco – Huguinho forneceria a carne, Zezinho a caipirinha e Luisinho, os espetos.

Espera aí. Eram quatro sobrinhos, e não três. Havia o primo 04, Joãozinho, o que fugira para o exterior, sabe-se lá em que rolo se metera. Joãozinho voltou de Miami e reivindicou as vacas de Huguinho, a cachaça de Zezinho e uma suíte vitalícia na pousada de Luisinho. A briga recomeçou. O pasto virou erva daninha, o leite azedou e a piscina está cheia de sapos.

Na democracia brasileira, existem momentos em que huguinhos, zezinhos e luisinhos chegam a um consenso. Isso aconteceu na reforma da Previdência – passou de Dilma para Temer, de Temer para Bolsonaro e, no final, o Congresso aprovou uma reforma parecida com a de Dilma. Em outras vezes, somos a fazenda do tio Militão. Quando parece que está tudo resolvido, surge alguém e estraga tudo.

A Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura foi criada em 2015, ano da cúpula de Paris. Trata-se de uma dessas associações da sociedade civil que cumprem um papel fundamental: unir gente com ideias diferentes e buscar acordos. Segundo um de seus fundadores, Marcello Brito, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, o agro temia que o Brasil fechasse compromissos pesados demais – e os ambientalistas, leves demais. Formaram-se ao menos dois grandes consensos. Para ser uma potência agrícola, o Brasil teria de ser também uma potência ambiental, com voz forte nas discussões sobre mudanças climáticas. Para ter credibilidade como potência ambiental, teríamos de implantar de verdade o Código Florestal.

Marcus Pestana* - Gastança, responsabilidade e pandemia

Imagina que maravilha viver num mundo onde a concretização de todos os nossos sonhos não tivesse limites. Se alguém quisesse uma Ferrari 250 GT que custa a bagatela de 52 milhões de dólares, bastaria estalar os dedos e o carro apareceria na sua garagem. Se outro quisesse um apartamento de 500 m2 na Avenida Vieira Souto de frente para o mar de Ipanema, colocaria a mão na cartola e sairia além do coelho, a escritura. Se uma pessoa quisesse realizar a viagem que sempre desejou, cinquenta dias na Europa em hotéis 5 estrelas e restaurantes no top do Guia Michelin, esfregaria a Lâmpada Maravilhosa de Aladim e na mesa apareceriam as passagens e os vouchers para a realização do sonho. E aí vêm os chatos dos economistas, verdadeiros desmancha-prazeres, falar em um detalhe essencial chamado restrição orçamentária.

A linguagem dos economistas, na maioria das vezes, é hermética, quase incompreensível. Mas esconde verdades muito simples. Qualquer cidadão sabe que não pode gastar indefinidamente mais que a renda familiar. Isto gera um buraco permanente no orçamento da família e agrava o endividamento. E quando maior o abismo, maior os juros. E a dívida começa a crescer qual bola de neve. Resultado: venda do patrimônio para pagar dívidas, aperto crescente, perda de credibilidade indo parar no SERASA ou no SPC e, no final, o estrangulamento financeiro total e a crise quase insolúvel. Assim também é com os governos e o país.

O SUS sob pressão – Editorial | O Estado de S. Paulo

A pandemia não acabou. Aos casos urgentes se somarão os eletivos. E o Sistema Único de Saúde, mais do que nunca, precisa ser cuidado

Já está mais do que demonstrado que hoje a Nação poderia estar pranteando a morte de muito mais vítimas do novo coronavírus, não fosse o inestimável serviço prestado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no socorro aos desvalidos. Em condições normais, 7 em cada 10 brasileiros só têm o SUS como guarida quando precisam de atendimento médico, desde os cuidados mais básicos até procedimentos de alta complexidade. A eclosão de uma emergência sanitária da magnitude da pandemia de covid-19 aumentou ainda mais a pressão sobre um sistema público de saúde que há décadas já vem operando no limite de sua capacidade técnica e financeira.

Embora as recentes estatísticas da pandemia no Brasil indiquem o que pode ser o início de um processo de queda consistente do número de infecções e mortes, um refrigério mais do que bem-vindo depois de tanto sofrimento, a propagação do novo coronavírus continua bastante ativa no País e o SUS segue pressionado por uma doença que ainda mata cerca de mil de nossos concidadãos a cada dia. Já se contam mais de 118 mil vidas perdidas para a covid-19 e o Brasil ultrapassou os Estados Unidos no ranking de mortes por 100 mil habitantes - 55,05 a 54,18, respectivamente, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins.

Não refeito dessa onda de pressão, o SUS está prestes a enfrentar uma outra. Mais cedo do que tarde, ela virá do aumento da demanda ocasionado pela inclusão de novos usuários no sistema e pela retomada dos atendimentos eletivos que foram sobrestados nos meses mais duros da pandemia.

Transferência do BC ao Tesouro não configura uma ‘pedalada fiscal’ – Editorial | O Globo

O problema não é em que bolso ficam guardadas as promissórias, mas o tamanho e o perfil da dívida

O impeachment de Dilma Rousseff popularizou a expressão “pedalada fiscal" para caracterizar as manobras contábeis que inflam o caixa do Tesouro e, por tabela, permitem ampliar os gastos públicos sem lastro. Na semana passada, o Tribunal de Contas da União (TCU) voltou a apontar o “risco de pedalada" na transferência ao Tesouro de lucros obtidos, graças à desvalorização do real, com as reservas em moeda estrangeira.

Depois de analisar a questão, o Conselho Monetário Nacional (CMN) acabou por autorizar a transferência de quase R$ 350 bilhões do BC ao Tesouro (R$ 325 bilhões de resultados cambiais). O CMN avaliou que, como estipulado na lei que regula esse tipo de transação, vivemos uma situação excepcional de restrição de liquidez — e reiterou que o dinheiro só poderá ser usado para abater dívidas. É a decisão correta.

Nem tudo o que parece pedalada é pedalada. Do ponto de vista contábil, trata-se de operação simétrica à que ocorreria caso houvesse valorização do real, e o Tesouro tivesse de emitir títulos da dívida e cedê-los ao BC para equilibrar seu balanço. Nos dois casos, a transferência não interfere na necessidade ou na capacidade de endividamento do governo. O problema não é o bolso em que ficam guardadas as notas promissórias — do Tesouro ou do BC. É o tamanho e o perfil da dívida.

A derrocada de Witzel – Editorial | Folha de S. Paulo

Governador é afastado por ministro do STJ; colegiado precisa avaliar caso com urgência

Mesmo para os padrões mais rasteiros da política brasileira, não deixa de provocar espanto a tradição de envolvimento de governadores do Rio de Janeiro em escândalos de corrupção.
Dos ex-dirigentes eleitos no estado que permanecem vivos (Anthony Garotinho, Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e Moreira Franco), todos foram afastados ou presos por suspeitas de malversação de recursos.

Essa pouco ilustre galeria passa agora a contar com o atual mandatário, Wilson Witzel (PSC), acusado de ocupar um dos “vértices da pirâmide” de um esquema fraudulento de contratos ligados ao combate da pandemia de Covid-19.

A decisão de afastá-lo do cargo por 180 dias, tomada pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça, representa, até o momento, o desdobramento mais estrepitoso da crise que se instalou na administração fluminense nos últimos meses.

No início de maio, uma operação do Ministério Público do Rio levou à prisão do ex-subsecretário de Saúde e de seu substituto. Posteriormente, foi detido o ex-titular Edmar Santos, solto neste mês após acordo de delação premiada.

É preciso estancar corrupção que tomou conta do estado – Editorial | O Globo

Independentemente da responsabilidade pessoal de Witzel pelo escândalo na saúde, o governo se tornou insustentável

O afastamento do governador Wilson Witzel (PSC), por ordem do ministro Benedito Gonçalves, do STJ, é o desfecho previsível para um governo que há meses vem se debatendo num mar de denúncias de corrupção. O Ministério Público estadual e a Procuradoria-Geral da República investigam fraudes em contratos emergenciais, sem licitação, para combater a pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 15 mil pessoas no estado. Enquanto gente morria sem atendimento, recursos públicos eram saqueados por uma organização criminosa instalada dentro do governo.

A casa começou a cair em 7 de maio, quando a Operação Mercadores do Caos prendeu o ex-subsecretário de Saúde Gustavo Borges e seu substituto, Gabriell Neves, além de representantes de empresas de saúde. Depois foram encarcerados o superintendente de Orçamento e Finanças, Carlos Frederico Duboc, e o ex-secretário de Saúde Edmar Santos (libertado no início deste mês pelo STJ).

O grupo é acusado de desviar recursos de contratos para a compra de respiradores. O próprio Witzel foi alvo da Operação Placebo, da PF, que cumpriu mandados de busca e apreensão no Palácio das Laranjeiras em 26 de maio. Na ocasião, ele se disse vítima de perseguição política. Para a PGR, há evidências que colocam o governador “no vértice da pirâmide” de um esquema fraudulento. Segundo as investigações, Witzel intermediou contrato da primeira-dama, Helena Witzel, com empresário favorecido no esquema.

Embora o envolvimento pessoal do governador ainda careça de comprovação mais sólida, o escândalo na saúde tornou o governo insustentável. Em 10 de junho, a Assembleia Legislativa aprovou por unanimidade a abertura de um processo de impeachment contra Witzel por improbidade administrativa. O governador obteve uma liminar do ministro Dias Toffoli, do Supremo, suspendendo a tramitação do processo por irregularidades na formação da comissão. A decisão só serviu para adiar um desfecho a esta altura inexorável.

Música | Quilapayún 1973 - Vamos mujer

Poesia | Mario Quintana - O auto-retrato

No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore...

às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança...
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão...

e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,

no final, que restará?
Um desenho de criança...
Corrigido por um louco!