sábado, 7 de junho de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Essa mesma pesquisa traz dois dados que, para mim, são mais relevantes do que o próprio indicador de intenções de votos. O primeiro deles, que consolida esse sentimento que outras pesquisas já mostraram, de que mais de 70% da população brasileira quer mudanças e, mudanças profundas em relação a tudo que está aí. E essa pesquisa, no seu detalhe, mostra que a população percebe que entre os candidatos colocados aquele que tem as melhores condições, na visão da população, para fazer essas mudanças, é o candidato do PSDB. Esse é um dado que me alegra e me anima.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB. CBN /O Globo, 7 de junho de 2014

Dilma é recebida com protestos em Florianópolis

  • Três diferentes grupos de trabalhadores protestaram contra a presidente Dilma nesta sexta-feira (6) em Florianópolis (SC).
Jeferson Bertolini – Folha de S. Paulo

A presidente esteve na cidade para anunciar a liberação de recursos para obras de infraestrutura e assistir à formatura de 2.000 alunos do Pronatec –programa do governo federal para ampliar a oferta de educação profissional e tecnológica.

Enfermeiros, funcionários dos Correios e servidores da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) tentaram se aproximar do local da formatura, em um centro de eventos, mas não conseguiram por causa do isolamento feito pela Polícia Militar.

O grupo, então, protestou em uma área próxima. Nem eles sabem se foram notados pela presidente. Os enfermeiros pediram que Dilma interceda pela aprovação de um projeto, em tramitação na Câmara, que regulamenta a jornada de 30 horas semanais para enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares –atualmente são 44 horas.

No protesto, eles exibiram um termo de compromisso, assinado em 2010, no qual a então candidata à Presidência se compromete "a apoiar iniciativas legislativas que garantam a jornada de trabalho de 30 horas semanais".

Gelson Albuquerque, um dos manifestantes e membro do Conselho Federal de Enfermagem, disse que a PM impediu que o grupo chegasse perto do centro de eventos onde estava a presidente. "Ninguém estava de máscara e ninguém queria briga. Mesmo assim, fomos expulsos de forma truculenta."

Salário de grevistas
Os funcionários dos Correios pediram ressarcimento dos dias de trabalho descontados após a última greve da categoria, no início do ano. Alguns deles carregavam cartazes onde se lia: "Dilma, devolve o dinheiro dos grevistas".

Os servidores da UFSC, em greve desde o início do ano, também pediram a redução da jornada de 40 horas para 30 horas semanais. Teresinha Seccato, do sindicato da categoria, disse que os servidores queriam chegar ao pátio do centro de eventos, mas a polícia só permitiu que ficassem no canteiro da rua em frente.

"A polícia impediu que a gente chegasse mais perto", acrescentou ela, que não se queixou de truculência. Segundo os manifestantes, o protesto reuniu 200 pessoas por volta das 12h, quando a presidente chegou à cidade. Três horas depois, a Folha contou 30 pessoas.

A reportagem não conseguiu falar com o comandante do policiamento para comentar o caso. Policiais que trabalhavam no centro de eventos disseram que não poderiam falar sobre o assunto.

Casa Civil minimiza divergência entre Dilma e Temer

Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura - Agência Estado

Diante da divergência entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o vice Michel Temer (PMDB) em relação à melhor forma de criar os conselhos de consulta popular, a Casa Civil da Presidência da República tentou nesta sexta-feira, 6, amenizar a polêmica. Segundo nota da Casa Civil enviada ao Estado, Temer "tem muita experiência política e parlamentar e, seguramente, sua opinião também será levada em conta nessa questão".

O Palácio do Planalto, não sinaliza, no entanto, se poderá encaminhar um projeto de lei ao Congresso sobre o tema, para envolver os parlamentares na discussão, como sugeriu Temer, ou se promoverá qualquer alteração no texto. "É provável que venha a ter um projeto de lei sobre isso. É uma matéria que está sendo discutida. Os conselhos são sempre úteis, mas vale mais um projeto de lei para integrar o Congresso Nacional nesta discussão", afirmou Temer ao Estado na última quarta-feira, 5.

Na quinta-feira, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o chamado "Conselhão", a presidente defendeu o decreto. "Somos a favor da consulta, nós somos a favor da participação de todos os segmentos no processo de estruturação das políticas do governo. Muitas cabeças pensam mais do que só a cabeça do Executivo", afirmou Dilma. Para a oposição, no entanto, o decreto seria uma forma de burlar a democracia representativa e permitiria o "aparelhamento" desses conselhos por aliados do governo. Em resposta ao Estado, a Casa Civil informou que "com um pouco de esclarecimento" "essa questão poderá ser superada".

Mesmo com o apoio de dez partidos na Câmara dos Deputados ao pedido de urgência na votação de um projeto de decreto legislativo que pretende barrar os conselhos populares criados por decreto da presidente, o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), se recusou a colocar o projeto em pauta.

Segundo o Estado apurou, há dentro do governo uma corrente que avalia que seja difícil transformar a criação de conselhos em projeto de lei porque seria complexo amarrar tantas pontas num único texto, já que os conselhos existentes foram instalados por diferentes instrumentos, como decretos e leis.

Publicado no dia 23 de maio, o decreto assinado por Dilma cria nove instâncias de negociação e comunicação com a sociedade civil. O texto, que institui a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS), regula a relação do governo com os setores organizados. Os integrantes não serão remunerados e as propostas apresentadas não precisam necessariamente ser levadas adiante pelo poder público. O governo não é obrigado a atender as sugestões dos conselhos na elaboração das políticas públicas.

Lula faz nova crítica à política econômica do governo Dilma

• Na segunda crítica ao setor em dois dias, no RS, o ex-presidente reclamou publicamente do secretário de Tesouro Nacional

• A falta de dinheiro no mercado é o motivo para os baixos índices de investimento do país, segundo o ex-presidente

Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva escancarou nesta sexta-feira, 6, suas divergências com a política econômica do governo de sua sucessora, Dilma Rousseff. Em palestra promovida pelo jornal El País, em Porto Alegre, Lula criticou publicamente o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, que estava na plateia e hoje é um dos principais nomes da área econômica do governo federal.

“Se depender do pensamento do Arno você não faz nada. Não é por maldade dele, não. A nossa tesoureira em casa é a nossa mulher e também é assim. Elas não querem gastar, só querem guardar, mas tem que gastar um pouco também”, disse Lula.

Foi a segunda vez em menos de dois dias que Lula reclamou da economia. Na véspera, em palestra promovida pela revista Voto, também em Porto Alegre, o ex-presidente disse estar insatisfeito com as projeções de inflação e defendeu que o governo aplique um “remédio já” para evitar o descontrole dos preços.

Procurado à tarde, o Instituto Lula informou que as críticas do ex-presidente foram em tom de "brincadeira".

Pessimismo. Pesquisa do Datafolha divulgada nesta sexta-feira mostra que 36% da população está pessimista em relação à economia e espera um 2015 pior do que 2014.

Hoje o principal alvo das críticas de Lula foi a escassez de crédito. Durante mais de uma hora de palestra o ex-presidente deu várias alfinetadas no secretário do Tesouro.

Ao falar dos motivos do sucesso de seu segundo mandato, Lula citou o aumento do crédito, principalmente para pessoas de baixa renda. “Uma terceira medida que nós tomamos foi aumentar a oferta de crédito neste país. O Arno nem sempre gosta disso”, disse Lula.

Logo em seguida o ex-presidente cobrou abertamente explicações de Augustin sobre as medidas de contenção de crédito.

“Eu acho Arno que um dia você vai ter que me explicar porque, se a gente não tem inflação de demanda, porque a gente está barrando crédito. Porque o crédito precisa chegar. Com crédito todo mundo vai à luta. Sem crédito ninguém vai a lugar nenhum. Podemos chegar a 80% do PIB de crédito, 90%, não tem nenhuma importância. Tem país com 120%”, questionou Lula.

De acordo com o ex-presidente, a falta de dinheiro no mercado é o motivo para os baixos índices de investimento do país.

“Nós hoje não temos problema de investimento. O governo tem muito dinheiro para investir. E por que não tem investimento? O governo está fazendo o que nunca fez neste país. Não tem investimento porque está diminuindo a demanda. Pode ter dinheiro à vontade para investir mas se não tem gente para comprar eu não vou fazer”, diagnosticou o ex-presidente, e em seguida fez um alerta. “Temos que tomar muito cuidado para não entrarmos em uma rota delicada para nós”.

Lula também cobrou do secretário do Tesouro uma política mais ousada de alavancagem dos investimentos brasileiros no exterior e citou a criação de um fundo para alavancar projetos do país na África.

“O oceano Atlântico, Arno, não é obstáculo, é a solução. Comece a pensar Arno na possibilidade de a gente instituir um fundo de financiamento de pelo menos US$ 2 bilhões na África. Você sabe quanto a gente pode alavancar com US$ 2 bilhões? Pode alavancar US$ 15 bilhões. A China colocou US$ 12 bilhões. Então, ou o Brasil se comporta como uma grande nação e quer ser competitivo e disputar ou nós vamos ver o carro passar outra vez e vamos repetir o século XX. Não existe espaço para isso mais. Tem que ter ousadia”, disse Lula.

De acordo com o ex-presidente, o Brasil precisa ter mais iniciativa para diversificar as alternativas econômicas mas nem sequer “entrou em campo”. “Quem pode fazer esse jogo é o Brasil e para ser jogado a gente tem que entrar em campo”, afirmou o presidente.

Lula aproveitou para dar outra alfinetada no secretário do Tesouro, a quem responsabilizou pelo volume de investimentos diretos vindos só exterior, um dos principais pontos de crítica dos adversários de Dilma. “Em 2013 fomos o quarto ou quinto país do mundo a trazer investimentos diretos e se o Arno sorrir um pouco vamos trazer mais do que US$ 65 bilhões”.

Imprensa. O ex-presidente aproveitou a palestra para fazer novas críticas à imprensa. Desta vez o alvo foram os correspondentes estrangeiros que, segundo Lula, reproduzem no exterior notícias pessimistas publicadas pela imprensa nacional.

Pouco depois, em conversa com o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), e com jornalistas do El País, Lula admitiu que a política de comunicação do governo Dilma tem uma “parcela de culpa” pelo conteúdo negativo publicado no exterior por “não ter um setor para tender a imprensa estrangeira”. Na verdade a Secretaria de Imprensa da Presidência possui um serviço exclusivo para atender aos veículos estrangeiros.

Lula ataca equipe de Dilma

• Lula manda recado à equipe econômica e diz que governo tem que retomar crédito a consumo

• Declaração do ex-presidente vem no mesmo dia em que Datafolha indica aumento do pessimismo com a economia brasileira

Flávio Ilha – O Globo

PORTO ALEGRE – No mesmo dia em que uma pesquisa divulgada pelo Datafolha revela que aumentou o pessimismo do brasileiro com a economia do país, o ex-presidente Lula cobrou que o governo aumente a oferta de crédito para o mercado interno como forma de retomar o crescimento da economia. Em um evento nesta sexta-feira promovido pelo jornal espanhol El País, em Porto Alegre, Lula se dirigiu diretamente ao secretário do Tesouro, Arno Augustin, e disse que sem crédito “não se vai a lugar nenhum”.

- Arno, um dia você vai ter que me explicar por que, se a gente não tem inflação de demanda, por que a gente está barrando crédito. Porque com o crédito todo mundo vai à luta, o comércio vai à fábrica, a fábrica vai produzir, melhora a vida de todo mundo. Sem crédito ninguém vai a lugar nenhum – disse.

Lula aproveitou a presença do secretário do Tesouro na plateia e cobrou mais ousadia da equipe econômica para reverter a desaceleração. Além disso, advertiu que a combinação entre queda da demanda interna e redução do fluxo de comércio internacional pode colocar o país numa “rota delicada”.

- Nós podemos chegar a 80% do PIB de crédito, a 90%, não tem nenhuma importância. Tem país com 120%. Nós não temos problema de dinheiro para investimento. Mas por que não tem investimento? Não tem porque o país não quer vender nada. Se está diminuindo a demanda, por que eu vou investir? Se tem dinheiro à vontade para investir mas não tem gente para comprar, eu não vou fazer. Não temos que ter medo. Temos que ficar um pouco mais afoitos agora. Apenas seguir a rotina técnica não dá mais certo. Tem que colocar um pouco do charme do compromisso social para a gente melhorar a situação – afirmou.

Segundo Lula, o país está passando “pelo momento mais delicado” da crise. O ex-presidente recomendou ao secretário da Receita a criação de um fundo de incentivo ao comércio de US$ 2 bilhões com a África como forma de vender mais ao continente africano. Também sugeriu que o governo faça um acordo com as montadoras para que direcionem uma parte da produção nacional de automóveis para o mercado africano.

- Temos que comprar uma briga, porque todas as empresas automobilísticas estão vindo produzir carro para o mercado interno. Acho que temos que dizer para as matrizes o seguinte: tchê, quer investir aqui, ótimo. Agora, uma parte das exportações para o mercado africano deve sair da produção brasileira. Quem pode fazer esse jogo, Arno, é o Brasil – recomendou.

Em tom de brincadeira, disse que é preciso superar a mentalidade de “tesoureiro” de Augustin.

- Se depender só do pensamento do Arno, você não faz nada. Não é por maldade dele não, é que um tesoureiro de um sindicato é assim. A nossa tesoureira dentro de casa, que é a nossa mulher, também é assim. Elas não querem gastar, só querem guardar. Mas tem que gastar um pouco também – disse Lula.

Na sua palestra, Lula voltou a fazer críticas à imprensa dizendo que, se depender da mídia brasileira, "o Brasil acaba todo dia".

Datafolha revela que eleitor está 'desencantado', diz cientista da Unicamp

• Ricardo Antunes, cientista político da Unicamp, diz que o fato de 30% do eleitor ouvido pelo Datafolha não ter candidato, revela insatisfação contra o governo e também com a oposição

Germano Oliveira - Globo

SÃO PAULO — A pesquisa Datafolha publicada hoje no jornal "Folha de S. Paulo", mostra que o eleitor está desencantado com os políticos de um modo geral, segundo explica Ricardo Antunes, cientista político da Universidade de Campinas (Unicamp). Esse desencanto seria responsável tanto pela queda nas pesquisas da presidente Dilma Rousseff (PT) - que caiu de 37% para 34% -, quanto dos candidatos da oposição que também caíram - Aécio Neves (PSDB) oscilou de 20% para 19% e Eduardo Campos (PSB) caiu de 11% para 7%. E o pior, de acordo com o Datafolha, é que 30% não têm candidato.

Como o senhor interpreta esses dados do Datafolha?
Existe uma insegurança do eleitor quanto ao futuro. Os dados sinalizam que o governo da presidente Dilma não vai bem e que a oposição também não tem alternativas boas. Isso acontece também em países da Europa, onde o descontentamento é grande e se reflete no absenteísmo. Se no Brasil a eleição não tivesse o voto obrigatório, é possível dizer que poderíamos ter uma eleição com abstenção de algo em torno de 50%. Acho que se não tivéssemos o voto obrigatório este ano, correríamos o risco de ter uma abstenção recorde.

A pesquisa mostra que a oposição não está conseguindo catalizar os votos que a presidente Dilma está perdendo?
O eleitor está percebendo que se Dilma não está fazendo um bom governo, também a oposição não é efetiva. O eleitor conhece as conexões de Aécio com o PSDB e sabe que o partido tem certa insensibilidade com o social. O pobre acha que um governo do PSDB pode lhes tirar o Bolsa Família e por isso esse descontentamento com Dilma não tem levado o eleitor para o lado de Aécio. Já Eduardo Campos é desconhecido pelo eleitor do país. Ele só é conhecido em Pernambuco. Mas quem o conhece sabe que ele estava até recentemente com Lula e Dilma e agora pode até apoiar Alckmin (governador Geraldo Alckmin, candidato a reeleição pelo PSDB em São Paulo).

E o que tem provocado essa insatisfação?
Os indicadores econômicos, a volta da inflação, mas até a Copa do Mundo de Futebol tem provocado desencanto. A população tem o futebol como paixão nacional, mas percebe que não é a coisa mais importante do mundo. Vê com desdém. Percebe que o país da Copa da Fifa não é verdadeiro. Se investe em estádios modernos, mas não se investe em saúde, educação, transporte. Quando Lula trouxe a Copa para o Brasil, seria o coroamento de um ciclo dourado do governo Lula, mas o eleitor está percebendo agora que foi o fim de um mito, que o mito ruiu.

Aécio: Pesquisa mostra que população quer mudanças na condução do país

• Senador diz que candidatura tucana é apontada pelo eleitor como a da transformação

O Globo

CAMPO GRANDE (MS) – O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves, disse nesta sexta-feira que a última pesquisa Datafolha confirma que a população quer mudanças na condução do país. Durante encontro com prefeitos locais e apoiadores de sua candidatura, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Aécio diz que a candidatura tucana é apontada como a da transformação.

- As pesquisas, sempre as vejo com muita cautela. Mas não posso deixar de perceber que a nossa proposta, a clareza da oposição que fazemos a tudo isso que está aí, reconhecendo inclusive os avanços quando eles ocorreram, vem permitindo que a nossa candidatura seja apontada, cada vez mais, como a da mudança.

Para o senador, o eleitor quer "mudanças profundas em relação a tudo o que está aí", se referindo ao governo da presidente Dilma Rousseff.

- Essa mesma pesquisa traz dois dados que, para mim, são mais relevantes do que o próprio indicador de intenções de votos. O primeiro deles, que consolida esse sentimento que outras pesquisas já mostraram, de que mais de 70% da população brasileira quer mudanças e, mudanças profundas em relação a tudo que está aí. E essa pesquisa, no seu detalhe, mostra que a população percebe que entre os candidatos colocados aquele que tem as melhores condições, na visão da população, para fazer essas mudanças, é o candidato do PSDB. Esse é um dado que me alegra e me anima - disse Aécio Neves.


Em decisão unânime, PSB paulista aprova apoio a Alckmin

• Partido de Campos vai se aliar à candidatura tucana em São Paulo, apesar da resistência de integrantes ligados a Marina Silva, que defendia candidatura própria no Estado

Ana Fernades - Agência Estado

SÃO PAULO - O diretório paulista do PSB aprovou no início da tarde desta sexta-feira, 6, por unanimidade um indicativo de apoio à pré-candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo de São Paulo, que tentará a reeleição.

A decisão do diretório ignora acordo feito entre Marina e o pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, para que a sigla lançasse candidatos próprios nos maiores colégios eleitorais do País. Representantes da ala 'marineira' decidiram comparecer ao encontro desta sexta. "Pode ninguém nos ouvir, mas não podemos deixar de manifestar nossa posição", disse o deputado Walter Feldman.

No encontro, além do presidente estadual do partido, Márcio França, e do prefeito de Campinas, Jonas Donizette, principais articuladores para essa coligação no Estado, discursaram a favor do indicativo os prefeitos Valdomiro Lopes (São José do Rio Preto) e Paulo Hadich (Limeira), a deputada federal Keiko Ota e os deputados estaduais Ed Thomas, Adilson Rossi, Marco Aurélio Ubiali e Carlos Cezar, este líder do PSB na Assembleia Legislativa, além do vereador da capital Eliseu Gabriel. O apoio do prefeito de Marília, Vinicius Camarinha, foi enviado por fax, já que ele realiza hoje a entrega de uniformes escolares na cidade e não pôde estar presente.

No início da reunião, Márcio França defendeu a aliança e argumentou que o PSB estaria sozinho na campanha se decidisse lançar candidato próprio, pois os outros partidos da coligação nacional não estariam juntos nesse projeto paulista. PPL, PRP e PHS terão candidatos e o PPS apoiará Alckmin, disse França. Além disso, apontou que a Rede, partido de Marina, defende nomes novos, descartando a possibilidade de ele próprio ser o nome do PSB para disputar Palácio dos Bandeirantes. "É claro que eu não sou novidade, sou político", afirmou França.

As falas das lideranças do PSB mostraram uma posição coesa do partido em São Paulo em favor do apoio ao tucano e demonstraram confiança na indicação de França para ser vice na chapa de Alckmin. Houve diversas outras menções ao nome do presidente estadual do PSB para vice, todas ovacionadas.

Com a condenação do presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, nesta semana, por improbidade administrativa, os pessebistas avaliam que sua figura está enfraquecida, abrindo espaço para Márcio França.

'Marineiros'. As vozes dissonantes foram minoria na reunião. A principal delas foi a de Walter Feldman, representando a Rede de Marina Silva. Para ele, a união com o PSDB em São Paulo contradiz o discurso defendido nacionalmente em favor da mudança e da renovação política. "Eu vivi dentro do próprio governo. Há um esgotamento", disse Feldman, que já foi filiado ao PSDB. "A polarização não é boa nem para esses dois partidos que se encastelaram dentro da estrutura de poder", disse criticando a divisão política tradicional entre PT e PSDB. O deputado deixou a reunião antes da formalização da decisão por motivos familiares.

Feldman lembrou a iniciativa "programática" encabeçada pelo presidenciável Eduardo Campos e por Marina. "Por que nós, em São Paulo, não poderíamos ser esse vento de mudança?", questionou. Feldman admitiu ser minoria dentro do PSB de São Paulo. "Desejo, neste último instante, tentar uma virada dessa decisão (de apoio a Alckmin). Essa nossa posição é muito sincera, transparente, política e não é pessoal. Podemos ser a via que está sendo buscada."

Durante a fala de Feldman, França o interrompeu para dizer que o PSB recebeu por duas vezes uma lista com indicações de nomes para candidatura própria no Estado. Segundo França, em nenhuma delas seu nome estava listado pela Rede. Na primeira, havia seis nomes de integrantes da Rede e na segunda, estavam o ambientalista João Paulo Capobianco e o historiador Celio Turino. Feldman reconheceu essas listagens, mas ressaltou que a Rede nunca vetou formalmente o nome de França para a disputa.

Geddel diz que PMDB vai dividido para a convenção nacional do partido

• Presidente da legenda na Bahia é favorável ao apoio a Aécio Neves

O Globo

SALVADOR – O presidente do PMDB-BA e pré-candidato do partido ao Senado, Geddel Viiera Lima, secretário-geral da legenda, considera difícil um prognóstico sobre o resultado da convenção nacional peemedebista que será realizada dia 10, para votar a aprovação ou não da coligação PMDB/PT e o nome de Michel Temer como candidato à vice na chapa de reeleição de Dilma Rousseff.

- A convenção será disputada, o partido está muito dividido - disse, sem admitir que é uma das lideranças peemedebistas que está se articulando com os delegados de outros estados para derrubar a aliança.

O PMDB da Bahia tem 27 votos na convenção que vão votar alinhados com a orientação da direção estadual.

Geddel reiterou sua posição de que o partido não deveria confirmar a aliança com o PT e reafirmou que o PMDB-BA já fechou o apoio ao candidato Aécio Neves (PSDB) à presidência da República.

- Vou me posicionar em relação aos rumos do partido, após a convenção - avisou.

Além da Bahia, haveria discordância quanto à proposta da direção nacional renovar a aliança com o PT nos diretórios do Rio de Janeiro, Ceará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Espirito Santo e Pernambuco. Além disso, a maioria da bancada federal peemedebista seria favorável ao rompimento.

Lula ataca imprensa por 'processo de desinformação premeditado'

Felipe Bachtold – Folha de S. Paulo

PORTO ALEGRE- Em fala a militantes do PT na noite desta sexta-feira (6) em Porto Alegre, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atacou a imprensa nacional e internacional e disse que "há um processo de desinformação premeditado neste país" para levar à tona apenas as notícias negativas do governo Dilma Rousseff.

A presidente também compareceu ao evento e afirmou que existe uma "campanha sistemática contra a Copa" visando atingir o governo federal.

Em discurso, Lula afirmou que existe um "desejo mortal" da imprensa internacional de "diminuir o papel do Brasil e do governo" e de mostrar Dilma em um "perfil que não é o dela".

O ex-presidente pediu aos militantes que estejam preparados para saber exatamente o que acontece no país, para poder rebater as críticas dos adversários.

Na sequência, ironizou o "choque de gestão", tema de campanha dos tucanos ao tratar das gestões de Aécio Neves, presidenciável do PSDB, no governo de Minas Gerais.

"Toda vez que um tucano abre a boca pra falar em choque de gestão eu já sei que o trabalhador vai entrar pelo cano."

Lula disse que está mais interessado com a eleição deste ano do que com a disputada e vencida por ele em 2002. "Porque o que está em disputa não é disputa de nome. O que é mais sério que isso é que nós temos dois projetos em disputa."

Ao falar na sequência, Dilma disse que, na eleição, "a verdade vai vencer toda quantidade de mentira e desinformação disseminada pelo país".

"E é importante que a verdade vença essa quantidade de mentiras pra que o futuro possa vencer aqueles que querem voltar ao passado", afirmou, diante dos militantes petista.

Dilma também atacou a oposição e disse concordar com as críticas de Lula ao modelo de "choque de gestão". "A agenda deles é a agenda do retrocesso. É a volta de um país para poucos."

Ao lembrar da trajetória do PT na Presidência, disse que a "esperança" venceu o "medo instilado pelas elites nas grandes massas".

A presidente citou as manifestações do ano passado e disse que os atos não eram contra a Copa. Para ela, as críticas sobre a organização do evento são, na verdade, contra "nós".

"Nem na ditadura nós confundimos Copa com política."

Ao falar de aeroportos, Dilma disse: "Nada do que fizemos foi feito para a Copa. Foi feito para atender a imensa demanda do nosso país". E completou: "É padrão Brasil. Não é padrão Fifa."

Dilma ataca oposição e diz que campanha é feita de mentiras e desinformação

Flávio Ilha – O Globo

PORTO ALEGRE – A presidente Dilma Rousseff aproveitou um encontro estadual do PT no Rio Grande do Sul na noite desta sexta-feira e partiu para a ofensiva contra a oposição. Acompanhada pelo ex-presidente Lula, Dilma disse que vai combater as “mentiras e a má informação” que estão sendo espalhadas pelos adversários e prometeu manter as conquistas sociais dos mandatos petistas. Segundo a presidente, “há muitos na oposição que querem voltar ao passado”.

- Repudiamos o passado atrasado implantado no Brasil pelos nossos adversários. A agenda deles não é a nossa, a agenda deles é a do retrocesso, é a volta de um país para poucos. Não fui eleita nem para desempregar nem para arrochar salários. Não fui eleita para alienar nenhuma empresa pública deste país, muito menos a Petrobras. Nem para varrer a corrupção para debaixo do tapete como faziam no passado – acusou Dilma.

A presidente também disse, em seu discurso aos militantes, que esta será a eleição em que a verdade irá vencer a mentira.

- Se na eleição do Lula (em 2002) a esperança venceu o medo, nesta a verdade é que vai vencer a quantidade de mentira e desinformação semeada pelo país. É importante que (a verdade) vença e que o futuro também vença quem quer voltar ao passado – disse.

Dilma enumerou o que classificou como uma “campanha sistemática” contra a Copa do Mundo. Segundo ela, a campanha “é muito mais contra nós”. De acordo com a presidente, a oposição usou de “deliberada má informação” para transmitir a ideia de que os gastos com estádios foram viabilizados retirando recursos da área social.

- Disseram que haveria racionamento de energia na Copa. Não há a menor possibilidade. O Lula é testemunha de que viemos enfrentando isso desde 2006, mas a situação hoje é milhares de vezes melhor. Graças aos mecanismos de geração e de distribuição, superamos a politica desorganizada e imprevisível que vigia no sistema elétrico – afirmou.

Também citou a inauguração do terminal 3 do aeroporto de Guarulhos, no dia 20 de maio. Segundo a presidente, foram inaugurados 145 mil metros quadrados de área, mas “a coisa que o pessoal viu foi um único pingo, imediatamente contido”.

A presidente também disse que irá priorizar a reforma política e defendeu um modelo de participação por meio dos conselhos populares, aprovados por decreto presidencial em maio. Ela afirmou que os conselhos não querem substituir o Congresso "de jeito nenhum".

- Agora é a hora de avançarmos com reformas profundas, entre elas a política. Na campanha temos que discutir isso. Se fomos capazes de fazer a maior maior transformação social e econômica do país, nossa missão agora é construir uma mudança política e uma transformação que altere toda a estrutura. Mas só será possível se tiver a força perusasória da participação popular - discursou.

Lula conclama militância a não se acomodar
Lula, por sua vez, reclamou do tratamento dado pela mídia à presidente Dilma e classificou a estratégia como um “processo de desinformação premeditado”.

- Acho que por conta do tratamento que a imprensa tem dado ao governo, o povo não sabe 30% do que a Dilma está fazendo. Há um processo de desinformação premeditado neste país para as pessoas só saberem o que acontece de errado. Alguns veículos internacionais expressam um desejo mortal de tentar diminuir o papel do Brasil e da Dilma com um perfil que não é da presidente e não é do governo – acusou.

O ex-presidente conclamou a militância do PT a “continuar brigando” e a não “se acomodar”.

- Temos instrumentos e argumentos para reeleger Dilma, coisa que eles não têm. A única palavra nova deles é choque de gestão. E toda vez que um tucano abre a boca para dizer isso já sei que um trabalhador vai entrar pelo cano porque vem perda de salário ou de emprego – disse Lula.

Ainda segundo o ex-presidente, “é importante uma aguinha gelada nas costas” da militância para que a campanha eleitoral ganhe força:

- É importante que todos saibam o que foi feito neste país, pois eles (a oposição) sabem e continuam dizendo que não foi feito nada. Precisamos levantar a cabeça, tem muita gente de cabeça baixa, e fazer uma cartilha para essa juventude que está na rua pedindo mais educação e saúde.

O 21° Encontro Estadual do PT, que ocorreu ontem, aprovou o lançamento da chapa majoritária da legenda que concorrerá às eleições de 2014 no Rio Grande do Sul, encabeçada pelo governador Tarso Genro.

Hoje a presidente cumpre agenda oficial no Rio Grande do Sul. A partir das 8h30, Dilma acompanha a abertura do viaduto José Pinheiro Borda, no entorno do Beira-Rio. Depois, participará da inauguração da fábrica de semicondutores HT Micron, no Parque Tecnológico São Leopoldo (Tecnosinos).

Em Florianópolis, Dilma participou ontem da formatura de alunos do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) e anunciou recursos nas áreas de mobilidade e saúde.

Especialista diz que Dilma vive hoje ‘pior momento’

• Para pesquisador, Campos não se consolida como candidato de oposição

- O Globo

SÃO PAULO- Para o cientista político Rubens Figueiredo, da USP, a pesquisa Datafolha mostra que a presidente Dilma Rousseff vive um dos piores momentos da pré-campanha eleitoral. Por trás da queda nas
pesquisas de intenções de voto e do aumento nos índices de desaprovação de seu governo está, segundo ele, a sensação do eleitor de que a economia está “muito ruim”.

— O eleitor com menos renda e com menor escolaridade, que era um eleitor de Dilma, também começou a direcionar seus votos para Aécio, e isso é ruim para a presidente. E isso acontece num momento em que a presidente vive na mídia, inaugurando obras todo dia, ganhando de dez a zero da oposição em matéria de exposição. Por isso, vejo um quadro muito desconfortável para a candidata do PT — disse Figueiredo,
lembrando que desta vez até o ex-presidente Lula caiu nas pesquisas.

Figueiredo destaca que se Dilma pensava em ganhar a eleição no primeiro turno, agora até no segundo já está cada vez mais difícil, pois a diferença que chegou a ser de 27 pontos a favor da presidente em fevereiro, agora é de apenas oito pontos percentuais.

Cláudio Couto, da Fundação Getulio Vargas, diz que todos caíram, mas acha que o mais relevante é o fato do ex-governador do Pernambuco não ter se firmado como candidato da oposição.

— A queda de Eduardo Campos é significativa. Ele não está conseguindo se firmar como o candidato da terceira via, como vem se apresentando ao eleitor. Por enquanto, Campos é o que foi sem nunca ter sido, ou seja, não está conseguido se identificar como candidato de oposição. Afinal, candidato de situação só tem uma, que é Dilma — disse Couto.

O professor da FGV explica que não esperava que a oposição crescesse agora por conta de serem menos conhecidos e de terem mídia menor que a presidente. Ele acredita que isso mude com o início da campanha de rua e com a propaganda no rádio e TV.

— Campos, por exemplo, só é conhecido por quem lê jornal, e esse número é pequeno no Brasil — afirmou Couto. l

Aliança com tucanos em SP pode afastar Marina de campanha

• PSB paulista oficializa apoio a Alckmin, sob protestos da Rede

Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO - A decisão do diretório de São Paulo do PSB de aprovar a aliança com a candidatura à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB) pode fazer a candidata a vice da chapa, a ex-senadora Marina Silva, a se afastar das atividades da campanha presidencial de Eduardo Campos no estado, disseram ontem aliados.

A crise é mais um problema para a candidatura de Campos, que caiu quatro pontos na pesquisa Datafolha divulgada ontem. O ex-governador de Pernambuco conta com a popularidade de sua vice para se tornar conhecido.

O indicativo de apoio a Alckmin foi aprovado por unanimidade pelo diretório de São Paulo, na manhã de ontem. À tarde, Campos e Marina, que exige uma candidatura própria no estado, reuniram-se reservadamente para discutir o tema. Os dois decidiram na conversa que não jogarão a toalha e ainda vão trabalhar para tentar viabilizar um nome do PSB para a eleição paulista. O ex-governador de Pernambuco se comprometeu a chamar o presidente do partido no estado, Márcio França, para uma conversa.

— Nós lamentamos a decisão. Foi um erro histórico na nossa avaliação — afirmou João Paulo Capobianco, que coordenou a campanha presidencial de Marina, em 2010.

A decisão aprovada pelo diretório estadual terá que ser levada à convenção marcada para o dia 21, mas o placar da votação de ontem indica que a chance de reversão do quadro é muito baixa. Estavam presentes 132 dos 156 integrantes do diretório, e todos se manifestaram a favor do apoio aos tucanos.

Porta-voz nacional da Rede, o ex-deputado federal Walter Feldman foi o único aliado de Marina que discursou no evento de ontem.

— É uma contradição com o plano nacional. Alckmin está desgastado — afirmou Feldman.

Nos discursos, França foi aclamado como vice da chapa de Alckmin, mas a questão ainda não está definida. O PSB pode ficar com a vaga ao Senado, se o governador paulista conseguir também o apoio do PSD, de Gilberto Kassab. A única condição aprovada para fechar a aliança é que o PSDB aceite incorporar ao seu programa de governo quatro pontos definidos pelo partido, entre eles um que trata de sustentabilidade.

Os líderes do PSB que discursaram ontem também destacaram a possibilidade de Alckmin ficar constrangido em negar apoio a Campos na disputa presidencial tendo um vice da legenda do ex-governador de Pernambuco.

França afirmou que a candidatura própria não pôde se realizar porque a Rede não apresentou um nome viável. O presidente estadual do PSB havia se lançado como candidato, mas foi vetado pelos aliados de Marina.

— A gente ajuda o Eduardo e a Marina se tiver em São Paulo um palanque consistente. O Geraldo, com a força dele no interior, permite que o Eduardo se sinta mais seguro — disse França.

PSB sugere que Kassab abandone Dilma

• Partido quer que PSD apoie Eduardo Campos ao Planalto; em troca, abriria mão da vice na chapa de Alckmin em SP

• Nesta sexta, PSB de SP aprovou por unanimidade a aliança do partido com o governador do PSDB

Natuza Nery, Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA, SÃO PAULO - O PSB de São Paulo sugeriu nesta sexta-feira (6) uma solução para resolver a disputa pela vaga de vice do tucano Geraldo Alckmin: pessebistas abririam caminho para o ex-prefeito Gilberto Kassab assumir o posto desde que seu partido, o PSD, desista de se coligar com Dilma Rousseff e apoie o presidenciável Eduardo Campos.

Durante reunião do diretório estadual do PSB, que aprovou por unanimidade a aliança do partido para a reeleição de Alckmin, o deputado Márcio França, um dos principais interlocutores de Campos, apresentou a proposta ao colega Walter Feldman, porta-voz nacional da Rede e próximo a Kassab.

Apesar de a ideia ter sido colocada à mesa como uma possibilidade viável, nos bastidores, poucos veem a chance de uma operação dessa magnitude vingar.

Com o acordo entre PSB e PSDB aprovado em São Paulo, dirigentes do partido do ex-governador de Pernambuco defenderam o nome de Márcio França como o candidato a vice-governador na chapa de Alckmin.

Além do deputado do PSB, Kassab também postula a vaga, mas o governador ainda não decidiu qual partido estará a seu lado nas eleições de outubro como vice.

No plano nacional, entretanto, o ex-prefeito de São Paulo prometeu apoiar a reeleição da presidente Dilma, mas se considera liberado para costurar alianças com adversários do PT nos Estados, como é o caso de São Paulo.

Uma mudança dessas significaria verdadeira reviravolta no desenho da eleição presidencial, pois daria a Eduardo Campos, hoje terceiro lugar nas pesquisas, o segundo maior tempo de TV da disputa, passando, portanto, o tucano Aécio Neves (MG) no cronômetro do horário eleitoral gratuito.

Constrangimento
Durante a reunião do PSB, um dos integrantes do diretório estadual do partido e prefeito de São José do Rio Preto, Valdomiro Lopes, afirmou que indicar a vice na chapa do PSDB irá fazer com que o governador tenha que "medir as palavras" antes de falar de Aécio Neves ou Eduardo Campos.

"Se o PSB for vice, Alckmin vai ficar constrangido em negar apoio ao nosso candidato à Presidência, Eduardo Campos, no maior colégio eleitoral do país. Alckmin vai saber medir as palavras para falar dos dois candidatos".

A decisão do PSB, porém, é contrária à opinião de Marina Silva, vice na chapa de Campos, que desde o ano passado defende a candidatura própria no Estado.

Um dos principais aliados da ex-senadora, Feldman disse durante seu discurso que compor a chapa com Alckmin contradiz o discurso nacional da sigla, que prega a "nova política" em detrimento das alianças com " caciques".

Nos último dias, Campos avisou a companheira de chapa que não iria intervir no diretório do PSB paulista para impedir a aliança com o governador do PSDB.

Segundo a Folha apurou, a equipe do ex-governador já elabora um discurso que justifique o acordo sem grandes perdas políticas em termos nacionais.

Em reação ao ‘Aezão’, Lindbergh diz que PMDB faz jogo duplo

• Candidato petista afirma que Cabral e Pezão apoiam movimento em favor de tucano

Leandra Lima – O Globo

RIO - Um dia após um número expressivo de peemedebistas se reunirem em torno do “Aezão”, movimento que apoia a aliança entre o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB-RJ) e o pré-candidato à Presidência da República Aécio Neves (PSDB-MG) no Rio, o senador e pré-candidato petista ao Palácio Guanabara, Lindbergh Farias, decidiu acabar com a trégua que vinha mantendo com o governo estadual e o PMDB. Em um almoço ontem numa churrascaria em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, Lindbergh fez críticas aos governos de Sérgio Cabral e Pezão. O petista chegou a afirmar que não acha possível 60 prefeitos peemedebistas terem assumido a aliança com o candidato tucano sem o apoio do Palácio Guanabara. Oficialmente, Cabral e Pezão reprovam o “Aezão” e pregam o apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff.

— Só se reúnem 60 prefeitos peemedebistas como aconteceu no almoço do “Aezão” com a autorização do Cabral e do Pezão. Eles estão fazendo mais do que jogo duplo. O Lula e a Dilma ajudaram muito essas pessoas. Na hora em que o cenário piora um pouco, eles fogem do barco? — questiona.

O petista evitou comentar a queda da presidente Dilma Rousseff na pesquisa de intenções de voto para o Palácio do Planalto, divulgada ontem pelo Datafolha, e não pediu votos para a candidata no discurso. Para uma plateia de 200 militantes, a maioria formada por vereadores pedetistas de municípios como Belford Roxo, Japeri, Nilópolis e Mesquita, além de São João de Meriti, o senador concentrou esforços para criticar a política de Segurança Pública do governo do estado e a crise no abastecimento de água na Baixada Fluminense.

— Temos um policial militar para cada cem moradores no Leblon. Enquanto temos um PM para 1.600 habitantes na Baixada Fluminense. Para piorar, está havendo a migração da violência da capital para a Baixada. E estamos passando pela maior falta d’água dos últimos 30 anos. Isso se deve à falta de prioridade do governo atual em atender às necessidades mais básicas da população. O Maracanã, por exemplo, foi construído 100% com recursos estaduais e custou R$ 1,2 bilhão. Com muito menos, eu resolveria o problema da falta de abastecimento de água em toda a Baixada — disse.

Sobre suas tímidas aparições em público com a presidente Dilma, Lindbergh Farias acredita que, após a convenção estadual do PMDB, marcada para o dia 10, a candidata à reeleição passará a ir para as ruas ao seu lado com mais frequência.

Lindbergh chegou ao almoço acompanhado da deputada Jandira Feghali (PCdoB), pré-candidata ao Senado, e Roberto Rocco (PV-RJ), candidato a vice-governador na chapa do petista. O evento foi organizado pelo prefeito de São João de Meriti, Sandro Mattos, do PDT, partido que indicou o deputado estadual Felipe Peixoto para a vaga de vice-governador na chapa do adversário Pezão.

Também presente no almoço, o prefeito de Maricá e presidente do PT no estado, Washington Quaquá, chamou os peemedebistas que participaram do almoço de lançamento do movimento “Aezão” de traidores:

— Esse movimento não devia se chamar “Aezão”. Devia se chamar “Trairão”.

Vice-prefeito do Rio e coordenador da campanha de Dilma Rousseff no estado, Adilson Pires afirmou não estar preocupado com o “Aezão” e com o desempenho da presidente nas pesquisas eleitorais.

— A campanha começa mesmo depois da Copa do Mundo — disse, acrescentando ainda que confia na fidelidade de Pezão e Cabral: — Nas vezes em que estivemos juntos, eles se mostraram comprometidos com a reeleição da Dilma.

Reeleger governador é novo tabu dos gaúchos

Luciana Nunes Leal - Agência Estado

PORTO ALEGRE - Poucos Estados preservam tanto suas tradições quanto o Rio Grande do Sul, e a política não fica alheia a essa característica. Mudar de partido é quase tão grave quanto mudar de time de futebol, e isso raramente passa incólume pelo exigente eleitorado gaúcho, que desde os anos 90 vem cultivando uma espécie de tabu. Desde que foi instituída a reeleição, em 1997, nenhum governador foi reeleito - uma curiosidade no Estado que, no início da República, criou caudilhos como Borges de Medeiros, um dos mais longevos governadores na história do País.

Eleito em 2010 para o Palácio Piratini, o petista Tarso Genro tenta romper essa nova tradição. Na semana passada, reforçou a chapa da reeleição com a candidatura do ex-governador Olívio Dutra (PT) para o Senado. No 5.º maior colégio eleitoral do País, quatro partidos da base da presidente Dilma Rousseff - PT, PP, PMDB e PDT - disputam o governo do Estado. Apesar de evitarem mudar de partido, os pré-candidatos gaúchos não são necessariamente fiéis às alianças das direções nacionais. Tanto que, dos quatro partidos acima, só o PT está com Dilma, mineira que passou a maior parte da vida em Porto Alegre.

O principal adversário do governador é a senadora Ana Amélia Lemos (PP), aliada do pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves. O embate entre Dilma e o tucano se reproduz na disputa local. Ana Amélia se alia a Aécio no discurso de enxugamento da máquina e racionalização de gastos. Tarso, como a presidente, põe em dúvida a disposição dos adversários de manterem os investimentos em programas sociais. "Não há descontrole das finanças do Estado, o que há é um controle para sair de uma crise herdada. Choque de gestão é o discurso do Aécio repetido pela Ana Amélia, que é uma figura respeitável, mas que nunca foi gestora e não conhece a estrutura do Estado. É preciso dizer que os gastos que aumentamos são sociais", diz o governador.

Tarso defende a estratégia do PT de difundir o medo ante o risco de vitória da oposição. "Não se faz choque de gestão sem que se cortem recursos. Como o pagamento da dívida não pode ser cortado, o corte só pode ser no arrocho salarial e nos programas sociais. Isso é um equívoco. É apostar na recessão e no aumento do desemprego", ataca o petista, que ocupou três ministérios (Educação, Relações Institucionais e Justiça) no governo Luiz Inácio Lula da Silva.

O petista conta com a aprovação pelo Senado, esperada para novembro, do projeto de lei que muda o indexador da dívida de Estados e municípios para reduzir o déficit orçamentário. Em 2013, o déficit foi de R$ 1,4 bilhão, agravado, segundo o governo, pelo rombo previdenciário e pelos pagamentos da dívida e de precatórios. Ana Amélia critica o "pouco compromisso dos governantes com o controle de gastos". "Terei de assumir um Estado com gravíssimos problemas financeiros e estruturais. Meu mantra é trabalhar muito e economizar o máximo para o Estado", diz. "Sou uma pessoa pé no chão e vejo as coisas com simplicidade. Quando uma família está endividada, todos entram em processo de comprometimento para sair do vermelho." A senadora admite que disputar o governo não estava nos planos, mas o interesse do PP gaúcho falou mais alto. "De um lado me alegra e, de outro, me atemoriza, pelo tamanho do desafio."

Neutralidade
Embora a direção nacional do PP tenha declarado apoio à reeleição de Dilma, líderes estaduais aliados de Aécio se esforçam para aprovar na convenção nacional a neutralidade do partido, a fim de garantir a presença do tucano no material de campanha e no programa de rádio e TV. "Não adianta liberar o partido regionalmente se eu não puder colocar o Aécio na minha propaganda", diz Ana Amélia. Antes do acerto com o PSDB, a senadora se aproximou do pré-candidato do PSB, Eduardo Campos, mas a Rede Sustentabilidade, grupo da ex-ministra Marina Silva, reagiu por causa da ligação de Ana Amélia com o agronegócio.

Pesquisa Ibope/RBS realizada entre 27 e 31 de março e divulgada em 5 de abril aponta Ana Amélia na liderança, com 38%, seguida por Tarso, com 31%. Pré-candidato do PMDB, o dissidente José Ivo Sartori, que se aliou a Eduardo Campos na disputa presidencial, tem 5% dos votos. Com 3% aparece Vieira da Cunha (PDT), aliado ao DEM e ao PSD, que deverá abrir o palanque a vários presidenciáveis. Roberto Robaina, do PSOL, ficou com 1%. A pesquisa registrada no Tribunal Regional Eleitoral sob o número RS-00003/2014 teve 812 entrevistados. A margem de erro é de três pontos porcentuais.

"Tradicionalmente as eleições no Rio Grande do Sul são muito polarizadas. O PP tem crescido, tem força no agronegócio e militância na juventude. As coisas estão marcadas, com Tarso à esquerda e Ana Amélia à direita. Mas não se pode desprezar a força do PMDB, que sempre pegou um eleitorado de centro", diz o cientista político Benedito Tadeu César, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O governador usa o discurso polarizado não só na busca pela reeleição, mas para defender suas posições dentro do PT - Tarso faz parte da corrente que prega mudanças no partido, com alianças no campo da esquerda e reaproximação dos movimentos sociais. "O PT, com a sua condição de partido de governo, se aproxima de um pragmatismo perigoso. No futuro, tem de assumir novamente uma função transformadora na sociedade", diz. "Se não o fizer, o campo popular, de esquerda, vai se fragmentar em milhares de micro-organizações e a direita e a centro-direita vão reinar por muito tempo."

Nas questões do cotidiano dos gaúchos, um dos flancos em que Tarso é mais atacado pelos adversários está no fato de não aplicar o piso nacional dos professores, instituído por ele próprio no Ministério da Educação. O petista alega que o Congresso, ao votar a lei, mudou o indexador, o que inviabilizou o pagamento. O Estado paga um complemento mensal aos professores fora do salário oficial. Além desse tema, para Benedito César a campanha gaúcha também discutirá a própria concepção de Estado e infraestrutura. "O Rio Grande do Sul depende da produção agrícola, mas não tem como escoar a produção." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Alckmin mantém o favoritismo em São Paulo

Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Se a eleição para governador de São Paulo fosse hoje, o tucano Geraldo Alckmin seria reeleito no primeiro turno com 44% dos votos, mostra pesquisa Datafolha finalizada quinta-feira (5).

Num cenário com o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD) na disputa –ele é cotado para ser vice na chapa do tucano–, os adversários de Alckmin somam 31%.

A corrida pelo Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado de São Paulo, parece paralisada.

Considerando a margem de erro de dois pontos, os resultados do novo levantamento podem ser considerados iguais aos da pesquisa feita seis meses atrás. Que, por sua vez, já eram iguais aos do levantamento de junho de 2013, há um ano.

O principal rival de Alckmin é o líder empresarial Paulo Skaf (PMDB), presidente licenciado da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), com 21% agora.

Kassab soma 5%. E o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT) está com 3%.

Esta rodada considerou ainda dois pré-candidatos de partidos pequenos: Gilberto Maringoni (Psol) e Gilberto Natalini (PV) têm 1% cada.

O total de eleitores sem candidato a governador é de 26% em São Paulo. São os que declaram voto nulo, em branco ou afirmam não saber em quem votar em outubro.

Sem Kassab na disputa, Alckmin alcança 47%, Skaf mantém os 21% e Alexandre Padilha marca 4%.

Assim como as intenções de voto, a avaliação do governo Alckmin praticamente não sofreu alteração em um ano.

Depois dos protestos de junho de 2013, a aprovação da gestão caiu de 52% para 38%, movimento parecido com o das intenções de voto no tucano. Na pesquisa mais recente, o total de eleitores que classifica a gestão de Alckmin como ótima ou boa está apenas três pontos acima, 41%.

Apesar da manutenção de seu patamar de liderança na pesquisa estimulada (quando o entrevistado recebe um cartão com os nomes dos candidatos para escolher), Alckmin tem caído na pesquisa espontânea (sem cartão).

Antes do auge dos protestos de 2013, ele era lembrado espontaneamente por 19%. Logo depois, caiu para 15%. Agora é citado por 10%.

Senado
O Datafolha também investigou as intenções de voto para a eleição de senador. Neste ano, estarão em disputa 27 das 81 cadeiras do Senado, uma em cada Estado.

O ex-governador José Serra (PSDB) lidera com 41% das intenções de voto. O senador Eduardo Suplicy (PT), que concorrerá à reeleição, tem 32%. Márcio França (PSB) alcança 4%.

Metodologia
A pesquisa do Datafolha é um levantamento por amostragem estratificada por sexo e idade, com sorteio aleatório dos entrevistados. O universo é composto pela população brasileira com 16 anos ou mais.

Neste levantamento realizado de 3 a 5 de junho, foram feitas 2.029 entrevistas, com uma margem de erro máxima de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, considerando um nível de confiança de 95%.

Isso significa que, se fossem realizados 100 levantamentos com a mesma metodologia, em 95 os resultados estariam dentro da margem de erro.

Essa pesquisa foi encomendada pela Folha e feita pela Gerência de Pesquisas de Opinião do Datafolha. Está registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o nº BR-00007/2014.

Merval Pereira: Polarização mantida

- O Globo

O candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves, tem razão de estar “alegre” e “animado” com a pesquisa Datafolha divulgada ontem, mesmo tendo ficado no mesmo lugar: descolou-se de Eduardo Campos, do PSB, e a presidente Dilma manteve uma trajetória de queda. Ele trabalhava com a hipótese de os novos números repetirem os das últimas pesquisas, mas o resultado foi melhor do seu ponto de vista, pois seus concorrentes caíram além da margem de erro.

Há outra leitura importante na pesquisa divulgada, que demonstra que é apenas aparente a estagnação da candidatura do tucano. No segundo turno, cuja realização essa pesquisa confirma, a diferença de Aécio para Dilma está sendo reduzida a cada rodada. Ela já foi de 27 pontos percentuais a favor da presidente, e agora caiu para apenas 8, com Dilma perdendo 8 pontos e Aécio Neves subindo 11.

Uma análise no detalhe da pesquisa do segundo turno mostra que a presidente Dilma vence apenas entre os eleitores de até 2 salários mínimos, onde faz 56% a 28%. É esse o eleitor que o PSDB vai ter que buscar, sobretudo no Nordeste, onde Dilma mantém uma forte dianteira. Entre os eleitores de 2 a 5 salários mínimos, Aécio vence de 44% a 41%, e, na faixa de cinco a dez mínimos, Aécio faz 51% a 35%.

A confirmação da contínua queda de popularidade da presidente Dilma é especialmente grave se levarmos em conta que ela vem de uma ofensiva midiática e política. Eduardo Campos fica ferido gravemente, 12 pontos atrás de Aécio Neves e em virtual empate técnico com o Pastor Everaldo, do PSC, que aparece com 4%.

Os candidatos evangélicos somam, assim, 6% na pesquisa, com 2% para Magno Malta, do PR, o que mostra que o voto evangélico, importante na eleição de 2010 para Marina, está indo para os candidatos declaradamente evangélicos, e não para Eduardo Campos por meio dela.

Nesse momento, com as convenções de PMDB, PP e PR, e com o PSD tendo que se definir, a pesquisa é muito ruim para Dilma. O Aezão no Rio foi o maior movimento de rebelião aberta feito até agora, no principal partido da coalizão governamental, o PMDB, além de pegar franjas dos demais partidos da aliança, numa clara erosão da base.

Lula ainda é o grande eleitor, mas a trajetória dele de queda está mais acentuada que a de Dilma, pois
perdeu 5 pontos percentuais de uma pesquisa para outra.

Mesmo continuando em primeiro na hipótese de se candidatar, a pesquisa mostra que Lula não tem condição de se expor, pois, mesmo só falando para plateias simpáticas e blogueiros governistas, está caindo nas pesquisas. Passou a ficar contaminado por Dilma, sua criatura.

Dilma continua forte no Norte e no Nordeste, onde os principais candidatos oposicionistas são menos conhecidos. No Nordeste, Eduardo Campos tem apenas 9% de eleitores que dizem conhecê-lo bem, e o seu nível de rejeição é de 36%, o que mostra que ele é o candidato de Pernambuco, não da região.

A maior rejeição a Aécio Neves é também no Nordeste, de 44%, índice que cai para 29% em nível nacional. A pesquisa mostra também que caiu a rejeição a Aécio Neves e Eduardo Campos: o tucano tinha 31%, e o peessebista, 33%, e ambos têm agora 29%. Dilma manteve os 35% e é a candidata mais rejeitada.

Por fim, a do Datafolha é mais uma pesquisa que coloca o nível de aprovação do governo Dilma num patamar que indica a dificuldade, quase impossibilidade, de reeleição, segundo pesquisas do cientista político Alberto Carlos Almeida: os que consideram o seu governo ótimo ou bom caíram de 37% para 33%.

Dos 74% que responderam que querem mudanças no próximo governo, fora Lula, que é o mais lembrado, Aécio superou Dilma como o mais capaz de realizá-las. 

José Roberto de Toledo: Continuidade ou mudança

- O Estado de S. Paulo

O desejo de mudança ou de continuidade é o principal motor de qualquer eleição. Quando o eleitor expressa a vontade de não mudar as coisas, quase sempre o governante acaba reeleito. Quando a maioria quer mudar, aumenta o favoritismo da oposição - mas nem sempre, porém, um candidato oposicionista ganha. Às vezes, o eleitor calcula que o risco de perder o que sobrou não vale a aposta no que ele pode ganhar com a mudança.

O Brasil teve eleições presidenciais em que a ideia do “em time que está ganhando não se mexe” levou o governo à vitória. Foram os casos de 1994 (Fernando Henrique Cardoso era o candidato de Itamar Franco e o pai do real) e de 2006 (reeleição de Lula). Na disputa de 2010, 63% dos eleitores diziam que queriam pouca ou nenhuma mudança no governo. Dilma Rousseff (PT) acabou eleita como uma prorrogação de Lula.

Houve apenas dois candidatos oposicionistas que venceram impulsionados pelo desejo de mudança: Fernando Collor em 1989 e Lula em 2002 (com o seu “a esperança derrotou o medo”).

Mas também houve uma eleição em que muitos brasileiros queriam mudança, porque a economia ia mal, mas o governo venceu. Foi em 1998. Fernando Henrique foi reeleito, derrotando Lula pela segunda vez seguida, porque a maioria achou que o risco de mudar para um governo petista era ainda maior do que o de permanecer com um governo tucano. O medo bateu a esperança.

Em 2014, dois em cada três eleitores têm dito e repetido ao Ibope que querem mudar tudo ou muita coisa no governo federal. Então, como é possível que Dilma continue liderando as pesquisas de intenção de voto? A presidente tem o voto de 7 a cada 10 dos que querem continuidade. Isso seria insuficiente para garantir sua reeleição, pois o minoritário contingente de eleitores continuístas é cada vez menor.

Dilma segue na liderança porque 1 a cada 4 eleitores que querem mudanças declara voto na presidente. Eles são responsáveis por quase metade das intenções de voto da candidata governista. E por que eleitores que querem tanto mudar ainda declaram voto nesse mesmo governo? As pistas para responder a essa pergunta estão entremeadas nas reportagens que compõem este caderno especial.

Não há uma resposta única. Os motivos variam de região para região, de classe social para classe social. Muitas vezes, a mesma razão que leva um eleitor a querer mudança - a piora da percepção sobre a economia - é motivo para ele não querer arriscar seu voto num novo presidente. Ele se apega ao que ainda tem e se torna eleitoralmente conservador. É o medo.

Não por acaso, o discurso eleitoral ensaiado pelos marqueteiros do governo durante a mais recente propaganda do PT no rádio e na TV advertiu os eleitores para o suposto risco de eles perderem, por exemplo, o Bolsa Família. É uma reedição, 16 anos depois, do discurso tucano que reelegeu Fernando Henrique em 1998. Naquela vez, o fantasma era a perda da estabilidade econômica. Agora, são os programas sociais.

Reflexos desse temor se espalham até pelo discurso dos candidatos de oposição. Para contrapor-se a Dilma e diferenciar-se da novidade simbolizada por Eduardo Campos (PSB), Aécio Neves (PSDB) diz que ele representa a mudança com segurança. Hoje, o tucano tem uma penetração equivalente à de Dilma no eleitorado mudancista - 25%, contra 27% -, enquanto o candidato do PSB tem apenas 14% nesse segmento.

Para mudarem essas proporções a seu favor, os oposicionistas terão de convencer o eleitor de que mudar vale a pena, de que o risco de ele perder o que conquistou é menor do que o de ganhar votando na oposição. Ao mesmo tempo, Dilma vai usar Lula em sua campanha para dizer que ela é capaz de promover os necessários ajustes de curso sem afundar o barco de vez.

Fernando Rodrigues: Um mau momento

- Folha de S. Paulo

Durante meses em 1989 ouvi de marqueteiros de Ulysses Guimarães que sua candidatura a presidente decolaria após o horário eleitoral. Ele era honesto. Havia comandado a elaboração da nova Constituição. Seu apelido, "senhor Diretas". Tudo verdade. Sem contar o principal: Ulysses teria o maior tempo de TV disponível.

O resto é história. Ulysses amargou o sexto lugar na eleição presidencial de 1989. Teve meros 4,7% dos votos válidos. Não empolgou os brasileiros. O PMDB o abandonou. Havia um desejo de mudança no ar. Dois novatos foram ao segundo turno --Fernando Collor e Lula.

Dilma Rousseff não é Ulysses Guimarães. O Brasil de 2014 não é o de 1989. O PT não é o PMDB. Mas o fato é que as coisas começam a andar mal para a petista. As análises ouvidas são as de sempre: ela é honesta, o país melhorou e após o horário eleitoral vai deslanchar.

Na política vale a mesma explicação usada sobre tragédias aeronáuticas. Um avião nunca cai apenas por um motivo isolado, mas por causa de um conjunto de erros. O desastre decorre de uma sucessão de equívocos, desídia e falta de atenção.

É assim numa campanha eleitoral. A presidente da República negligenciou durante seus três primeiros anos de mandato certos protocolos básicos. Não recebeu políticos de maneira regular e orgânica. Evitou o quanto pode entrevistas nas quais poderia ter sido submetida ao contraditório. Há inúmeros exemplos. A pesquisa Datafolha de ontem é a consequência disso tudo. Dilma recuou para 34% das intenções de voto.

Em junho de 2002, Lula tinha 40% no Datafolha. Em 2006, tinha 46% nesta época. Dilma, em 2010, registrava 38%. Além dos percentuais, qual é a diferença da eleição atual em relação a esses três pleitos anteriores? Nas últimas vezes, a curva petista era nitidamente ascendente. Agora, está embicando para baixo. É um mau momento para o governo.

Miguel Reale Júnior: Copa e desalento

- O Estado de S. Paulo

Recordo-me do entusiasmo vivido, quando cursava o terceiro ano ginasial, durante a Copa de 1958, na Suécia. Já havia álbuns de jogadores, eu e meus colegas colecionávamos figurinhas com avidez. Mas o jogo era acompanhado apenas pelo rádio, com possibilidade de se verem com atraso na televisão algumas cenas do confronto de dias antes.

Idêntico entusiasmo foi vivenciado na Copa de 1962, no Chile, com a preocupação diante da contusão de Pelé, substituído por Amarildo. Decepções aconteceram, especialmente diante das intensas expectativas com a seleção treinada por Telê Santana, que tinha Sócrates como sua principal atração, na Copa de 1982, na Espanha.

Assim se seguiram as Copas, mas sempre com o envolvimento positivo da população brasileira em favor do escrete canarinho. O que se destacava era a identificação de nosso povo com sua seleção, numa torcida que refletia o orgulho de nosso país sentido por todos, homens, mulheres e crianças.

Esse espírito contrasta, contudo, com o desalento que se vem observando às vésperas do grande torneio. O que está a suceder e por quê? Irá, no decorrer da competição, modificar-se o clima de desânimo que hoje predomina, longe das expectativas de alegria imagináveis pelo fato de estarmos a recepcionar em nossa terra o grande evento futebolístico?

Há, sem dúvida, uma atmosfera global de insegurança que conduz à angústia. Mas esta é agravada no Brasil. Na era digital universal, como diz Zygmunt Bauman, a paúra dissemina-se, espalha-se horizontalmente, e se comunicam as desgraças rapidamente na sociedade dita líquida, pois sem alicerces, sem terreno sólido, sem formas, numa fluidez geradora da sensação desagradável de impotência diante do futuro. Como diz Marc Augé, antes tinha-se medo da morte, agora se tem da vida, por se reconhecer não haver controle sobre o que quer que seja. Viver passou a constituir a adoção de modos de ser efêmeros difundidos por celebridades vazias, com o que cada qual se despersonaliza.

Fragiliza-se não só o Estado-nação no mundo globalizado, mas principalmente os órgãos intermediários, como a família, a escola, a igreja, o clube, nos quais se vivia a solidariedade, com o preço de estar sob o olhar dos demais, porém com o benefício da troca de experiências, do compartilhamento de dúvidas e angústias a viva voz, olho no olho.

Há também, por consequência, uma crise da democracia representativa nos países centrais, com o surgimento de forças decisivas e determinantes dos grandes conglomerados do comércio internacional lícito, em especial com redes como Facebook ou enciclopédias do tipo Google, além das potentes organizações ilícitas, que traficam drogas e armas.

As redes sociais, todavia, instalam uma comunicação que, curiosamente, isola, pois a sinceridade é camuflada pela exposição prevalecente do Mundo das Maravilhas, transformando-se o universo numa grande Academia do Elogio Mútuo. Passa-se, nessa solidão digital, a ser dependente dos meios eletrônicos - outro dia, após maravilhoso casamento em jardins de casa secular em Verona, uma moça brasileira ao meu lado, finda a cerimônia, abriu a bolsa e suspirou fundo, dizendo: "Que saudades do meu iPhone".

A esse quadro de angústia difusa por coisa nenhuma se soma a indicação de males distantes, mas identificáveis: a possibilidade do desastre ecológico, o terrorismo, que nos faz concordar sem pestanejar em ter nossa bagagem visualizada no raio X dos aeroportos, os desatinos que matam jovens a tiros nos EUA ou na Noruega, noticiados como se ocorressem na casa vizinha.

Mas o quadro brasileiro acentua ainda mais a desesperança: a violência urbana, que nos faz temer o assalto a cada semáforo vermelho, certos da impotência policial que descobre apenas 2% dos roubos à mão armada e garante a impunidade; a ausência de políticas sociais de inclusão cultural e de socialidade. E nossa descrença se aprofunda ao verificarmos terem os donos do poder se assenhoreado da administração pública, como sucedeu na Petrobrás, instituindo a corrupção como forma de governar, para depois montarem investigações de "faz de conta", tratando os compatriotas como tolos.

De outro lado, com vista às eleições, unem-se os populistas ocupantes do governo federal com os mesmos "coronéis" de sempre: José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá, Jader Barbalho, Fernando Collor, Paulo Maluf, cujas seriedade e visão de interesse público foram já tão firmemente questionadas, mas são vistos como se nada tivesse acontecido, em despudor gritante, no qual o que menos importa é a coerência.

No Brasil, a crise do Parlamento ganha contornos mais prosaicos: o vice-presidente da Câmara descobre-se ser sócio e amigo íntimo do doleiro para o qual convergem ilicitudes de toda ordem; deputado do PT, amigo de ministros e potentados do seu partido, reúne-se com líderes do crime organizado que promovem incêndios de ônibus. Aos saltos e sobressaltos, na busca frenética de poder político ou econômico, sem escrúpulos, ficam esquecidos quaisquer limites éticos: vale tudo. Adicione-se ainda o sombrio panorama econômico brasileiro, com significativa redução de investimentos, retração no campo da indústria, crescimento pífio do PIB e queda do consumo das famílias.

Por tais razões não se vive com alegria a hospedagem do grande acontecimento da Copa do Mundo. Em 58 ou 62 éramos mais pobres, subdesenvolvidos, mas tínhamos esperança e crenças positivas. Hoje, doentes, ao menos respondemos com indiferença à Copa, a indicar um corpo social que ainda reage às bactérias da corrupção, da desabrida ambição de poder, da mentira e da empulhação.

Espero, otimistamente, que a sensação de desalento se modifique no correr do evento, para se imbuir de espírito esportivo, do calor da competição, fazendo-se valioso e breve hiato na tristeza que recobre a Nação. O brasileiro merece viver uma festa saudável.

*Advogado, professor titular aposentado da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

Demétrio Magnoli - Supercorporativismo

• Por decreto, o lulopetismo pretende subordinar os cidadãos ao império das corporações estatizadas

- Folha de S. Paulo

No septuagésimo aniversário da proclamação do Estado Novo, em 2007, Lula celebrou a Consolidação das Leis do Trabalho e, num português claudicante, definiu Getúlio Vargas como o presidente "que tirou toda uma nação de um estágio de semiescravidão para tornar os cidadãos com direito a terem um emprego com carteira assinada". Vargas usinou o Estado brasileiro no torno mecânico do corporativismo. Por meio do Decreto 8.243, o lulopetismo pretende reinventá-lo no torno do supercorporativismo. Como no Estado Novo, a meta é degradar a democracia representativa, subordinando os cidadãos ao império das corporações estatizadas.

O varguismo fez da carteira de trabalho a prova da cidadania, e dos sindicatos, a representação da sociedade. Depois de reiterar o corporativismo tradicional, incorporando as centrais sindicais às estruturas do Estado, o lulismo dá um passo adiante, criando uma segunda prova de cidadania, que é a militância organizada num "movimento social". No fundo, o supercorporativismo cinde a sociedade em duas categorias de cidadãos, conferindo uma cidadania de segunda classe aos indivíduos que não militam em "movimentos sociais".

O Estado Novo organizava-se num Conselho da Economia Nacional, dividido em seções da indústria, da agricultura, do comércio, dos transportes e do crédito, formadas pelo governo e pelos sindicatos patronais e de trabalhadores. O supercorporativismo projeta erguer um Estado Novíssimo constituído por "conselhos de políticas públicas" formados pelo governo e pelos "movimentos sociais". Segundo o Decreto, os "conselhos" setoriais têm a prerrogativa de participar da gestão das políticas públicas. No Estado Novo, Parlamento e partidos foram abolidos. No Estado Novíssimo do lulismo, eles seguem existindo, mas apenas como registros fósseis da democracia representativa.

O Decreto que institui o Sistema Nacional de Participação Social (SNPS) tem como alvo verdadeiro a pluralidade política. Na democracia representativa, o foro institucional de debate político é o Congresso, constituído por representantes eleitos pelos cidadãos. Na "democracia participativa" inaugurada pelo SNPS, o povo passa a ser "representado" por líderes de "movimentos sociais" selecionados pelo governo. Os "conselhos" resultantes serão majoritariamente integrados por militantes que gravitam na órbita do PT. A natureza consultiva dos "conselhos" é quase um detalhe, pois sua característica forte é a permanência: a nova "representação" da "sociedade civil" não está sujeita ao crivo das eleições.

A ordem corporativa varguista repousava, diretamente, sobre o princípio da harmonia social. Arquitetado na moldura democrática, o supercorporativismo lulista almeja produzir a harmonia por meio da administração partidária do conflito. O Decreto institui "mesas de diálogo" destinadas a "prevenir, mediar e solucionar conflitos sociais". De um lado, as tais "mesas" procuram abolir a negociação direta, sem mediação governamental, entre atores sociais. De outro, concluem o processo de estatização dos "movimentos sociais" aliados ao PT, que já são financiados pelo poder público.

O SNPS não pode ser comparado às audiências públicas eventuais convocadas pelos governos ou pelo Congresso. Nos termos do Decreto, ele se configura como uma vasta estrutura burocrática, de "conselhos", "mesas", "fóruns interconselhos" e "conferências", comandada por um "secretário-geral". Em termos práticos, isso significa que Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e imagem holográfica de Lula, converte-se no Lorde Protetor da "democracia participativa".

Vargas precisou de um golpe de Estado para instituir o Estado Novo. O lulopetismo instituiu o Estado Novíssimo por um mero decreto, na expectativa de que um Congresso desmoralizado curve-se à vontade soberana do Executivo.

Rolf Kuntz: A política da estagflação e do atraso industrial

- O Estado de S. Paulo

A emperrada economia brasileira está sujeita a dois dos governos mais desastrosos do mundo, o da presidente Dilma Rousseff, gerente da estagflação, e o de sua colega Cristina Kirchner, chefe da diplomacia comercial do Mercosul e dona, portanto, da palavra final em qualquer negociação relevante. Isso vale para as discussões com parceiros de fora, como a União Europeia, ou para os arranjos internos, como o acordo bilateral para o setor automotivo - revisto mais uma vez segundo os critérios da Casa Rosada. De janeiro a maio deste ano o Brasil exportou para os Estados Unidos produtos no valor de US$ 10,51 bilhões, pouco mais do que o vendido para o Mercosul, US$ 10,13 bilhões, e muito mais do que o embarcado para a Argentina, US$ 6,19 bilhões. As exportações para o mercado argentino foram 18,6% menores que as de um ano antes, pelas médias diárias, enquanto as vendas para os Estados Unidos ficaram 13,2% acima das contabilizadas no mesmo período de 2013.

Nenhum outro mercado aumentou tanto a absorção de produtos brasileiros, segundo registros do Ministério do Desenvolvimento. Indústria e Comércio Exterior. Mas o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ao explicar o pífio crescimento econômico do Brasil no primeiro trimestre, 0,2%, apontou de novo as condições do mercado internacional, incluída a desaceleração americana, como principais entraves à expansão brasileira. Como de costume, ele descreveu um mundo bem diferente daquele reconhecido por qualquer observador razoavelmente atento e informado.

De janeiro a abril, 50,36% das exportações brasileiras para os Estados Unidos foram de manufaturados. Esse é o último período com informações detalhadas sobre a composição do comércio com cada parceiro. Nesses quatro meses, as vendas de manufaturados corresponderam a apenas 35,6% da receita geral. A dos básicos, a 48,9%. Somados os semimanufaturados, a parcela das commodities correspondeu a 61,6% do total (outros 2,8% ficaram na categoria de operações especiais).

A participação dos manufaturados continuou em queda. De janeiro a maio, esses produtos proporcionaram 34,8% do total faturado. O resto - quase dois terços - veio das commodities, principalmente dos básicos, 50,3% das vendas totais.

O Brasil assume, cada vez mais claramente, o papel de fornecedor de matérias-primas, principalmente no comércio com a China e outros países da Ásia. Até abril, os manufaturados foram só 3,09% das exportações para o mercado chinês. Em contrapartida, a China exporta principalmente manufaturados para o mercado brasileiro e, de quebra, toma do Brasil fatias crescentes do comércio com os latino-americanos.

Mas há nessa história um aspecto paradoxal, pelo menos à primeira vista. Cerca de metade das vendas brasileiras para os Estados Unidos ainda é formada por manufaturados. O peso desses produtos nas vendas à União Europeia é bem menor, 34,96% de janeiro a abril, mas, ainda assim, muito maior que no comércio com os parceiros da Ásia. No entanto, a indústria brasileira perde espaço no mercado externo, incluída a vizinhança latino-americana, e até no mercado interno. Aqui, a participação de fornecedores estrangeiros tem crescido há vários anos e passou de 20,4% no primeiro trimestre de 2012 para 22,5% dois anos depois, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Em resumo: algumas indústrias conseguem manter presença no mercado americano e também - com dificuldade crescente - no europeu, enquanto a maior parte do setor manufatureiro perde espaço em quase todos os mercados. Montar uma história clara e coerente com esses pedaços é uma boa tarefa para pesquisadores, mas pelo menos alguns detalhes parecem evidentes. Um deles é a acomodação da maior parte do setor industrial no comércio com economias em desenvolvimento, quase todas menos industrializadas que a brasileira. Hoje até esse papel é inseguro, por causa da presença crescente de fortes competidores, especialmente asiáticos, na América Latina e até no Mercosul. Essa acomodação é denunciada também pelo baixo grau de inovação, discutido quarta-feira no Fórum Estadão - Inovação, Infraestrutura e Produtividade. O protecionismo, outro detalhe importante, é obviamente parte dessa história.

O estímulo à modernização e à busca de competitividade teria sido, com certeza, maior se o Brasil houvesse buscado acordos comerciais com os países mais avançados, como os da América do Norte e da Europa, mas a diplomacia econômica brasileira preferiu outro caminho a partir de 2003. O governo recusou o projeto da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), no começo da primeira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e fixou como prioridade a integração Sul-Sul.

O acordo com a União Europeia poderia ter aberto uma porta no mundo mais avançado, mas a aliança com o protecionismo argentino, depois convertida em sujeição, entravou as negociações. Enquanto isso, outros emergentes com facilidade de acesso ao mercado europeu, como a Turquia, consolidavam suas posições. Os demais Brics - Rússia, Índia, China e África do Sul - jamais se juntaram ao delirante e anacrônico projeto terceiro-mundista do governo brasileiro.

Alguns capítulos dessa história são temas do dia a dia: a tributação sobre o investimento e a exportação, a infraestrutura insuficiente e ruim, o atraso educacional, agravado pelas prioridades mal escolhidas, o excesso de gastos e o desperdício do dinheiro público, a tolerância à inflação elevada e o intervencionismo desastrado. As tentativas de maquiar as contas públicas e a inflação ilustram de maneira pitoresca a baixa disposição do governo de reconhecer e de resolver problemas.

O investimento reduzido a apenas 17,7% do produto interno bruto (PIB) no primeiro trimestre, 0,5 ponto abaixo do nível já ridículo de um ano antes, 18,2%, resume boa parte do quadro: incompetência governamental somada à crescente e muito compreensível insegurança do setor privado. É o Brasil em rápido processo de subdesenvolvimento.

Jornalista