Ainda segundo Faoro, por processos de modernização devem-se entender os que derivam das ações de elites políticas que intentam conduzir sociedades retardatárias, por meio do controle autocrático do poder político, no sentido de acelerar sua expansão econômica e intervir no sentido de fortalecê-las em termos da competição internacional pelo controle de mercados, como nos casos clássicos da Alemanha, da Itália e do Japão. Tem origem, portanto, em processos políticos que operam por cima da sociedade entre suas elites, e, como tais, impõem vias artificiais de desenvolvimento para uma sociedade que apenas padece dos seus efeitos.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023
Luiz Werneck Vianna* - Abrir a arca do tesouro
Luiz Carlos Azedo - Lula tem razão: os juros estão exagerados
Correio Braziliense
O presidente tem razão quando
ataca os juros extorsivos praticados pelo BC, mas isso não resolve o problema.
Pelo contrário: a forma como está fazendo facilita a vida da oposição
bolsonarista
;”É melhor ser feliz do que ter razão.” A
frase do poeta Ferreira Gullar se aplica a muitas coisas. Ao motociclista no
trânsito, por exemplo. E se aplica também ao presidente Luiz Inácio Lula da
Silva, principalmente nessa polêmica sobre os juros e a concentração de renda
no Brasil. Realmente, as taxas de juros do Banco Central (BC), com a Selic a
13,75%, são escorchantes (ultrapassam muito a medida justa; abusivas,
exorbitantes), ainda mais com uma previsão de que a inflação ficará, neste ano,
em 5,5% (Focus). São 8,25% de diferença. Nenhum país do mundo pratica uma taxa
de juros real dessa magnitude.
O enriquecimento no Brasil não pode ser atribuída apenas ao talento empresarial e à capacidade de trabalho. Porém, é injusta a generalização da tese de que os empresários não trabalham — a maioria trabalha muito. Entretanto, o rentismo e o patrimonialismo são formas seculares de acumulação de capital no Brasil, a gênese da formação do grande parte do empresariado brasileiro e, digamos também, da elite política do país. A inflação e as altas taxas de juros tornam os ricos mais ricos e os pobres mais pobres no Brasil.
Fábio Alves - Esse cidadão
O Estado de S. Paulo.
Até agora, a responsabilidade fiscal se traduziu apenas no esforço de elevar receitas
O Brasil pode perder a oportunidade de
surfar uma maré favorável da economia global em 2023, com a expectativa de que
uma recessão mundial deverá ser evitada e de que a inflação seguirá
desacelerando, caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantenha um discurso
bélico contra o Banco Central e o seu governo não apresente uma proposta crível
de um novo arcabouço fiscal.
Nas últimas semanas, o preço de vários ativos de risco, como as Bolsas de Valores mundiais e moedas de países emergentes, vem registrando consistente alta com surpresas positivas nos indicadores de atividade econômica, com índices de inflação cedendo e com a aposta crescente de que o ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed) está perto do fim.
Vera Magalhães - Uma marola que vai custar caro
O Globo
Lula parece imbuído de uma crença de que
será possível se manter no palanque reeditando o discurso da herança maldita
Parece irrazoável que alguém experimentado
como Lula acredite de verdade que o tipo de platitude que vem proferindo todo
dia sobre a autonomia do Banco Central e, mais recentemente, da “culpa” (!) de
Roberto Campos Neto pela demora na retomada do crescimento econômico vá
resultar em algum benefício para seu governo ou para o país.
O que pretende o presidente, gastando de forma acelerada e impensada um crédito já escasso com que venceu as eleições e chega ao fim do primeiro mês de governo? Lula parece acreditar, a despeito das evidências dramáticas apresentadas a ele e a todos nós em contrário, que o mundo de 2023 é o mesmo de 2003, quando chegou ao governo pela primeira vez. Assim como vimos que não é na política e na institucionalidade, é menos ainda na economia.
Elio Gaspari - Deixem o Banco Central em paz
O Globo
Depois de quatro anos de Bolsonaro com seus
destemperos de cercadinhos, era possível esperar uma distensão na vida política
nacional. Lula prometeu
paz, estabilidade e previsibilidade. Em pouco mais de um mês de governo, na sua
relação com o Banco Central independente, com o inevitável ricocheteio na economia,
entregou beligerância e balbúrdia.
A contrariedade de Lula tem dois aspectos.
Num, ele e seu ministro da Fazenda acham que a taxa Selic de 13,75% ao ano é
exagerada. Noutro, ele acredita que a autonomia do Banco Central é uma
“bobagem”. A respeito da taxa, a discussão está aberta. Quanto à “bobagem”, não
há o que discutir, a autonomia do Banco deriva de um ato do Congresso.
Num de seus momentos de crítica, Lula
formulou uma comparação:
— Eu duvido que
esse presidente do Banco Central [Roberto
Campos Neto] seja mais independente do que foi o [Henrique]
Meirelles.
Verdade, mas a diferença não está na figura de Campos Neto, está na de Lula. Do início de 2003 ao final de 2010, Henrique Meirelles presidiu o Banco Central, e o então presidente Lula deixou-o em paz. Nunca se referiu a ele como “esse presidente” ou “esse cidadão”.
Bruno Boghossian - A bola nos pés de Haddad
Folha de S. Paulo
Pacote da Fazenda e atuação do ministro nos
bastidores ganham peso na cobrança por corte de juros
Os últimos capítulos da briga de Lula com
o Banco Central aplicam
uma dose extra de pressão sobre Fernando
Haddad e alimentam disputas internas no governo. O ministro da
Fazenda trabalhava para atender à plataforma política do presidente, ao mesmo
tempo em que oferecia a investidores alguma garantia de estabilidade. Agora,
ele se torna foco de tensão dos dois lados da disputa.
Haddad reconhece a posição que ocupa. Nesta terça (7), ele apontou que o BC havia destacado o esforço do Ministério da Fazenda para reduzir o buraco nas contas deste ano. Com a declaração, o ministro tentou baixar a fervura, mas acabou admitindo indiretamente que a queda de juros cobrada por Lula depende dos resultados dessa empreitada.
Vinicius Torres Freire - Lula dá murro na faca dos juros
Folha de S. Paulo
Sem plano real de mudança, na prática
presidente piora economia com suas críticas
Faz três meses, Luiz Inácio Lula da
Silva está em campanha contra a política econômica convencional. O
resultado prático dos discursos de palanque é evidentemente negativo.
Para ficar nas evidências mais elementares
e gritantes, as
taxas de juros subiram e o real continua desvalorizado além da conta, um
empecilho também para a queda da inflação. Esse aperto de condições financeiras
começa a ameaçar o crescimento da economia também em 2024.
Por que o presidente age assim? Lula poderia ter um projeto de mudança. Isso quer dizer propor novas instituições e métodos de política macroeconômica, por exemplo (gastos, dívida, inflação, Banco Central). Os governos do PT jamais apresentaram tal projeto, em 13 anos e meio no poder ou nos 6 anos e meio fora dele, quando criticavam o "rentismo", o "austericídio" e o "neoliberalismo". Particularmente sob Dilma Rousseff 1, a política convencional de controle de déficit e dívida e de metas de inflação foi avacalhada —não houve mudança institucional ou de método.
Maria Cristina Fernandes - Lula investiu contra trégua obtida por Haddad
Valor Econômico
Haddad assumiu a Fazenda buscando
alinhamento entre as políticas econômica e monetária e bancou, junto a Lula, a
interlocução com Campos Neto
Durou pouco a trégua obtida pelo ministro
da Fazenda com a ata do Comitê de Política Monetária. Pela
manhã, Fernando Haddad saudou como
“melhor” e “mais amigável” a ata do Banco Central que
menciona a percepção de alguns integrantes do Copom de que o pacote
fiscal da Fazenda poderia vir a atenuar o risco fiscal. À tarde, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou à sua
cantilena diária contra a independência do Banco Central e
seu atual titular jogando por terra o esforço de seu ministro em reconstruir
pontes com a autoridade monetária.
O documento sustenta a decisão do banco de manter a taxa de juros em 13,75% em função das pressões inflacionárias, mas abre uma janela de reconsideração para as iniciativas da Fazenda. Foi esta a brecha pactuada depois de ministro e presidente do BC terem discutido a repercussão do comunicado do Copom no início da semana. Haddad prontamente registrou esta abertura elogiando a ata tão logo seu texto se tornou público.
André Lara Resende* - O precipício fiscal e a realidade
Valor Econômico
Independentemente dos fatos e da realidade,
decide-se que o risco fiscal é alto
Depois de tanto ouvir os economistas e a mídia martelarem insistentemente o problema do déficit público, da insustentabilidade da dívida, que estaria numa trajetória explosiva, que o país estaria à beira de um abismo fiscal, saíram os números das contas públicas relativos ao ano passado. Pasmem: houve um superávit de R$ 126 bilhões, equivalente a 1,3% do PIB. A dívida pública bruta, aquela que os analistas insistem estar numa trajetória explosiva, caiu 1,1% em proporção do PIB, para 73,5%. Seria de se esperar que os arautos do abismo fiscal reconhecessem que, no mínimo, tinham exagerado o problema fiscal. Mas não, pelo contrário, voltaram com ênfase reforçada, impassíveis diante dos fatos e dos dados.
O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões
Em vez de atacar BC, Lula precisa começar a governar
O Globo
Diatribes contra os juros em nada
contribuem para resgatar a confiança necessária para que eles caiam
Na posse do economista Aloizio Mercadante
no comando do BNDES, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a repetir
suas diatribes contra o Banco Central (BC) e a taxa de juros. “Não existe
justificativa nenhuma para que a taxa de juros esteja em 13,5% ao ano [na
verdade, está em 13,75%]”, afirmou. “É uma vergonha esse aumento de juro.” Lula
pode não saber, mas declarações como essa só contribuem para o Comitê de
Política Monetária (Copom) do BC precisar manter o juro nas alturas. E o
desprezo que ele tem demonstrado por conceitos básicos da economia não ajuda.
Os próprios ministros da área econômica estão incomodados.
A incerteza diante da falta de regras fiscais confiáveis e os riscos de volta de um modelo econômico fracassado elevaram as expectativas inflacionárias pela oitava semana consecutiva (para 5,78%, segundo a pesquisa Focus, do BC). Como o BC não controla o juro real, apenas estabelece a taxa nominal necessária para conter a inflação, não é acaso que ela tenha de ser tão alta. Em vez de reclamar dos juros ou de tentar repetir em seu governo o que já deu errado nas gestões anteriores do PT, Lula deveria fazer avançar a agenda voltada para o crescimento prometida na campanha eleitoral.