domingo, 5 de agosto de 2018

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

Aliança é fundamental para a governabilidade, e antecipa a vitória. Juntos, venceremos.

O Brasil confia em vocês. Os dois despertam a confiança do Brasil em si mesmo. Eu confio em vocês. Confio mesmo, porque conheço os dois.

As pessoas hoje têm medo, medo porque não sabem se terão emprego amanhã. Vocês restabelecerão a confiança. E com autoridade, não autoritarismo.

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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo ex-presidente da República, em discurso na Convenção do PSDB, de aprovação das candidaturas de Alckmin e Ana Amélia, 4/8/2018

Alckmin direciona críticas a Bolsonaro no primeiro discurso como candidato

Geraldo Alckmin é oficializado candidato à Presidência da República pelo PSDB

Ex-governador afirmou mais cedo estar 'acostumado' a enfrentar o PT em eleições

Breno Pires, Pedro Venceslau e Renan Truffi | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O PSDB oficializou a candidatura de Geraldo Alckmin para a Presidência da República nas eleições 2018 neste sábado, 4, na Convenção Nacional do partido, em Brasília. Dos 290 delegados do partido que votaram, 288 foram a favor da indicação do tucano para concorrer ao Planalto em outubro. Houve uma abstenção e um voto contrário. A convenção aprovou também a coligação com todos os partidos (PP, DEM, PR, Solidariedade, PRB, PSD, PTB e PPS) e a candidata a vice-presidente, senadora Ana Amélia (PP-RS). O PSDB não divulgou de quem foi o voto contrário e a abstenção.

Durante o evento, Alckmin fez um discurso repleto de críticas indiretas ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, que lidera as pesquisas de intenção de voto nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Os petistas, com quem os tucanos polarizaram a disputa política nos últimos anos, também foram alvo de críticas de Alckmin por sua "herança de radicalismo".

"Ainda hoje na América Latina, vemos degenerar regimes conduzidos por quem promete dar murro na mesa, dizendo que faz e acontece, que pode governar sozinho, ou acompanhado apenas por um grupo de fanáticos", disse. "Gente assim quer é ditadura. Ditadura que logo degenera em anarquia. Precisamos da ordem democrática, que dialoga, que não exclui, que tolera as diferenças", disse o tucano.

Ainda que não tenha sido direto nas sua citações, é parte da estratégia da campanha tucana mirar em Bolsonaro. Isso porque, na avaliação dos estrategistas do partido, o PT não deve cumprir o papel de desconstruir o candidato do PSL. Caberá ao próprio Alckmin este trabalho.

Sobre o PT, Alckmin procurou relacionar de forma irônica o número do partido nas urnas, o 13, com os dados do IBGE sobre pessoas desempregadas atualmente no País. "Vamos mudar o Brasil, mas não com bravatas, com tumulto. 13 é o número do partido que esteve lá. Temos 13 milhões de desempregados", disse. "Radicalismo e bravatas sintetizam a herança trágica que os petistas nos deixaram", complementou.

Apesar das críticas às candidaturas concorrentes, Alckmin também alternou o discurso se colocando contra a "divisão do País" e disse ter condições de "unir o Brasil". "Um país dividido não multiplica felicidade. Quero, em nome de todos, empunhar essa chama chamada esperança, que ficou guardada dentro de nós", disse.

Outro eixo importante do discurso foi a defesa das alianças partidárias. Alckmin tem sido criticado por fechar acordo com dirigentes investigados, que fazem parte do Centrão, bloco formado por PP, PR, PRB, DEM e Solidariedade. "Não basta um homem e uma mulher, um governo de qualidade requer alianças", defendeu. "Aqueles que dizem que aprovarão reformas, sem o apoio da maioria dos partidos, mentem." Presente na convenção, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que alianças fazem parte da governabilidade e antecipam vitória.

Entre os líderes do Centrão, apenas ACM Neto, presidente do DEM, esteve com Alckmin e discursou no evento. Nomes como Valdemar Costa Neto, do PR, Ciro Nogueira, presidente do PP, e Marcos Pereira, do PRB, investigados na Lava Jato, não participaram.

'Acostumado' com o PT
Mais cedo, na convenção do PPS, Alckmin afirmou estar "acostumado" a enfrentar o PT em eleições. Ele tem repetido que espera disputar o segundo turno contra um candidato petista num eventual segundo turno. Embora o PT mantenha Lula como seu candidato, o ex-presidente é considerado ficha suja por ter sido condenado em segunda instância e deve ter seu registro de candidatura negado pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Dos últimos candidatos à Presidência do partido, apenas o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que disputou em 2014, não participou do evento em Brasília. Réu no Supremo Tribunal Federal (STF), o mineiro desistiu de tentar a reeleição para disputar uma cadeira na Câmara dos Deputados. “Dos fundadores do partido, só restaram nós dois: eu e Fernando Henrique Cardoso”, disse o senador José Serra (PSDB-SP) ao lado do ex-presidente. Serra foi candidato em 2002 e em 2010.

Entre os líderes do Centrão, apenas ACM Neto, presidente do DEM, esteve com Alckmin e discursou no evento. Nomes como Valdemar, Ciro Nogueira, presidente do PP, e Marcos Pereira, do PRB, investigados na Lava Jato, não participaram do evento.

Vice
Chamada de "vice dos sonhos" por Alckmin no evento, Ana Amélia também foi enaltecida por líderes tucanos. "Todos queríamos Ana Amélia representando todas nós, mulheres de fibras, mulheres de respeito. Geraldo e Ana Amélia que vão construir uma campanha respeitosa, positiva. O Meu Rio Grande do Sul agradece. Esse enorme Brasil vai ter o Rio Grande do Sul na chapa da Presidência", disse a deputada federal Yeda Crusius (PSDB-RS).

Uma caravana de senhoras do PSDB Mulher veio do Pará e também celebrou a indicação de Ana Amélia para vice. Em sua fala, Ana Amélia comentou que a 'régua moral' de Alckmin é a mesma que ela usou em sua atuação no Senado.

'Aliança faz parte da governabilidade e antecipa vitória', diz FHC

Ex-presidente defendeu alianças do PSDB com o 'Centrão': 'É necessário para governar'

Breno Pires, Pedro Venceslau e Renan Truffi | O Estado de S.Paulo

Em discurso na convenção nacional do PSDB que oficializou a candidatura de Geraldo Alckmin ao Planalto nas eleições 2018, o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso afirmou que o Brasil está avançando e que a confiança perdida sobre a classe política poderá ser restabelecida pela chapa tucana.

A aliança com partidos do grupo chamado de Centrão, foi defendida pelo ex-presidente da República como necessária para governar. "Para governar, tem que ter aliança. A aliança na democracia faz parte da governabilidade e antecipa vitória. A vinda da Ana Amélia simboliza essa aliança e antecipa a vitória", afirmou FHC, sem citar o nome dos oito partidos que se coligaram com o PSDB: PP, DEM, PR, Solidariedade e PRB, que compõem o chamado "Centrão", além de PSD, PTB e PPS.

O ex-presidente disse, sem citar o atual presidente, Michel Temer, que o "Brasil está avançando, mas precisamos avançar mais". Discursou que Alckmin e Ana Amélia foram "escolhidos para representar esse novo momento do Brasil". "Geraldo e Ana Amélia, vocês expressam a confiança no Brasil. Eu confio em vocês porque conheço os dois", disse.

Fernando Henrique disse que o Brasil hoje tem medo e incerteza. "É um medo que tem base porque as pessoas sabem que a violência existe. É preciso botar na cadeia quem for necessário, seja por corrupção, seja por assaltos. Vamos fazer o futuro do Brasil dentro da lei, com ordem e respeito", disse.

O ex-presidente disse também que o período tucano no Planalto trouxe avanços também na área social e na saúde, não só na economia. "Demos saltos grande na saúde com o ministro José Serra. Eu uso hospital que é do SUS. Nós que fizemos o SUS, foi o Serra que fez. Outros fizeram também, mas o principal foi o Serra."

"Temos que fazer o Brasil crescer sem megalomania. Para isso, é necessário restabelecer a confiança. Geraldo simboliza uma pessoa simples, o que é bom. A mordomia é a porta de entrada para a corrupção. Precisamos de gente simples, mas que creia e possa dizer o que é necessário. Brasil está avançando, mas precisamos avançar mais", disse FHC.

Do ponto de vista do sistema político-eleitoral, Fernando Henrique afirmou que é preciso diminuir o número de partidos. "Precisamos refazer a vida política, não desprezar a vida política. Para governar, é preciso ter competência, não boa vontade; boa vontade leva para o céu."

'Nós não trocamos a população pelo Centrão', diz Marina Silva

Candidata rebateu críticas de que seu eventual governo não teria viabilidade por ela não ter conseguido realizar alianças com partidos de expressão

Mariana Haubert e Marianna Holanda | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Em um longo discurso, com recados para seus principais oponentes, a candidata à Presidência da República pela Rede nas eleições 2018, Marina Silva, se apresentou como o "projeto mais preparado" para "unir o Brasil". Ela falou a militantes do seu partido na convenção que oficializou sua candidatura neste sábado, 4, em Brasília.

"O povo brasileiro não vai ser substituído por 'Centrões' de direita e esquerda. No centro está o povo brasileiro", disse, arrancando aplausos e gritos de "Brasil para frente, Marina presidente". Em uma fala de quase 50 minutos, Marina afirmou não ser a dona da verdade e destacou ter o compromisso necessário para governar o Brasil em um momento crítico tanto econômica quanto socialmente.

A candidata rebateu as críticas feitas por adversários de que seu eventual governo não teria viabilidade por ela não ter conseguido realizar alianças com partidos de expressão no Congresso Nacional. A Rede se uniu ao PV, uma sigla com pouca representatividade no País, que tem uma capilaridade bastante limitada.

"Estão dizendo que não temos viabilidade mesmo quando as pesquisas nos colocam de forma favorável. É porque não substituímos a população pelo Centrão, é porque não trocamos o futuro dos brasileiros por tempo de televisão", disse.

Marina fez referência direta ao candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, que agregou os partidos do chamado Centrão (DEM, PP, PR, PSD e Solidariedade) à sua campanha. Para ela, esse tipo de negociação é puramente fisiológica. Além disso, destacou sua aliança com o PV como uma "junção programática".

Em crítica a Bolsonaro, Alckmin combate ódio e pancadaria na eleição

Em convenção, tucano diz que não precisa de pimenta para ser presidente

Daniel Carvalho, Thais Bilenky | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Oficializado neste sábado (4) candidato a presidente, Geraldo Alckmin (PSDB) criticou sem citar o adversário Jair Bolsonaro (PSL) em um discurso contra o ódio e a pancadaria.

“Precisamos da ordem democrática, que dialoga, que não exclui, que tolera as diferenças, que não busca resolver tudo na pancadaria nem usa o ódio como combustível da manipulação eleitoral”, afirmou, na convenção do PSDB, em Brasília.

Simpático à ditadura militar e entusiasta dos presidentes generais, Bolsonaro, que é capitão reformado, insuflou nos últimos meses um discurso autoritário como forma de resolver a crise nacional. Alckmin se contrapôs.

“Ainda hoje, na América Latina, vemos em que degeneraram regimes conduzidos por quem promete dar murro na mesa, dizendo que ‘faz e acontece’, que pode governar sozinho ou acompanhado apenas de um grupo de fanáticos. Gente assim quer é ditadura. E é ditadura que implantam quando chegam ao poder. Ditadura que logo degenera em anarquia”, atacou.

O tucano disputa com Bolsonaro uma vaga no segundo turno e precisa recuperar votos do campo da centro-direita. A escolha da senadora Ana Amélia (PP-RS) como vice reforça a estratégia de acenar ao eleitorado que flerta com o capitão reformado.

Ana Amélia prometeu ser leal e respeitar a palavra dada. “Quando tiver alguma coisa que eu não concorde, direi para ele corrigir o rumo, se for o caso, com a franqueza que precisa ter”, afirmou ela na saída.

Para elogiá-la, Alckmin lançou uma indireta a Bolsonaro e também a João Doria (PSDB), que se elegeu prefeito negando ser político, mas um gestor.

“Em seu primeiro mandato, ela já fez muito mais do que muitos que fingem há décadas não serem políticos”, alfinetou.

O tucano brincou ainda com sua fama de ser sem sal. “Alguns dizem que eu serei um bom presidente, mas que não sou um candidato com a dose necessária de pimenta. Mas esta não é eleição para candidato. É a eleição para presidente!”.

Prevendo nova polarização com o PT no segundo turno, o candidato tucano responsabilizou o partido pelo desemprego que assola o país, como antecipou a Folha.

Alckmin critica 'fanáticos' e 'radicalismo' ao ser confirmado candidato

Tucano defendeu aliança com centrão dizendo que não se governa sozinho

Cristiane Jungblut / Silvia Amorim / Letícia Fernandes | O Globo

BRASÍLIA — Candidato à Presidência da República, Geraldo Alckmin teve sua candidatura homologada neste sábado pelo PSDB com ataques ao PT e a Jair Bolsonaro (PSL) e uma defesa enfática da aliança com lideranças envolvidas em escândalos de corrupção.

Alckmin associou o grupo de Bolsonaro a “fanáticos” e defensores de uma ditadura que tende a se tornar “anarquia”.

— Ainda hoje a América Latina vê regimes produzidos por quem promete dar murro na mesa dizendo que faz e acontece, que pode governar sozinho ou apenas acompanhado de fanáticos. Gente assim quer a ditadura, que degenera em anarquia. Precisamos da ordem democrática que dialoga, tolera diferença, ouve contraditório — atacou.

Alckmin acusou o PT de “bravatas” e "radicalismos":

— Vamos mudar o Brasil não com bravatas, conversas fiadas, gritaria, tumulto e desarmonia entre os poderes. Foram bravatas e radicalismos que criaram a coincidência que sintetiza a herança trágica que o governo petista nos deixou. São 13 milhoes de desempregados, o número do PT.

O tucano, criticado por não crescer nas pesquisas, disse que é um nome competitivo:

— Alguns dizem que serei bom presidente mas não sou bom candidato porque falta uma dose de pimenta. Mas essa eleição não é para candidato, mas para presidente. Estamos mais do que preparados para liderar esse processo de mudança.

Em defesa de aliança de sua candidatura com o centrão — DEM, PP, PR, PRB e SD — disse que não se faz um governo apenas comum bom presidente.

— Não basta uma mulher ou homem. Um governo de qualidade requer espírito público, coesão, alianças para fazer o melhor para o povo. Aceito ser candidato pelo PSDB e dos demais partidos que aqui nos apoiam nesta ampla aliança dos que acreditam no caminho do desenvolvimento e não na rota da perdição do radicalismo.

Mesmo ao lado de políticos investigados, ele afirmou que “ninguém tolera mais um estado infestado pela corrupção”.

A escolha da senadora Ana Amélia (PP-RS) como vice foi explicada pelo candidato como sinal do “empoderamento” feminino:

— É uma palavra nova. Ana Amelia é empoderamento.

Marina diz que 'o povo não pode ser substituído pelo centrão'

Após ser oficializada candidata da Rede, ela adotou bordão 'não dá mais'

Jeferson Ribeiro / Maria Lima / Dimitrius Dantas | O Globo

BRASÍLIA — Em sua terceira campanha presidencial, a candidata da Rede, Marina Silva(Rede), remodelou seu discurso de representante da "nova política", atacando as alianças tradicionais dos partidos ao dizer, durante a convenção da sua legenda neste sábado, que "o povo não pode ser substituído pelo centrão". A ex-senadora adotou o mote "não dá mais" para usar o tom de indignação que marca a eleição deste ano.

Marina Silva foi confirmada como candidata da Rede ao Palácio do Planalto neste sábado e terá como vice o ex-deputado Eduardo Jorge, do PV, que concorreu à Presidência em 2014. Ela fez questão de dizer que a aliança é programática e que as diferenças de posição das legendas sobre temas como aborto e drogas são muito pequenas se comparadas às compatibilidades.

— Não quero mais que o país tenha líderes para liderar o atraso, temos que disputar os avanços, e para isso o maior protagonista chama-se povo brasileiro. Só vocês podem fazer a mudança. Estamos aqui, pela terceira vez, talvez em situação bem mais difícil do ponto de vistas dos recursos, do tempo de televisão, das estruturas, mas confiante que desta vez a postura vai derrotar o mecanismo, a postura vai derrotar as estruturas, o povo brasileiro não vai ser substituído por centrões de esquerda, de direita, de centro. Eu estou é com o povo brasileiro — discursou Marina.


O tom de indignação da população que vem sendo mostrado nas pesquisas mais recentes, com altas taxas de "não-voto", foi adotado pela pré-candidata também.

— Não dá mais para ficar numa situação em que a maioria da população quer mudar e não muda. Porque é isso que vem acontecendo nas últimas décadas. Não dá mais para crianças, como Marcos Vinícius, morrerem enquanto vão para a escola, enquanto os mais altos cargos da república são sabotados por pessoas que se escondem dentro dos palácios e do Congresso para não serem alcançados pela Justiça. Isso precisa acabar. Não dá mais — gritou a candidata em tom enfurecido, enquanto um vídeo com as palavras piscavam no telão, e a plateia repetia o mesmo bordão.

Marina refutou a ideia de que a sua candidatura não é competitiva. Ela está em segundo lugar nas pesquisas, nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas terá poucos recursos e pouco tempo no horário eleitoral.

— Não venham dizer que eu e Eduardo não temos viabilidade, mesmo com as pesquisas dizendo o contrário. Eu e Eduardo temos diferenças, mas eu aprendi a viver na diversidade — disse.

TRAJETÓRIA RELEMBRADA
Sob o canto entoado pelos militantes “eu, sou marineiro, com muito orgulho, com muito amor”, Marina começou seu discurso agradecendo a Deus por permitir que, mesmo sobrevivendo a doenças, tenha chegado até aqui para “fazer algo que o Brasil precisa”. A ex-senadora gastou grande parte da sua fala para falar de sua trajetória de superação na vida e na política.

— Tenho 60 anos, e vocês são educados e esqueceram de dizer: não parece - brincou Marina, dizendo que é movida a fé e a determinação.

Disse que é um milagre dos médicos e de Deus, por ter sobrevivido a cinco malárias e hepatites.

— E agora estou aqui, saudável, com 60 anos, mãe de quatro filhos e com esse porte admirável — completou arrancando risadas.

Além do discurso focado no diálogo com a população, Marina falou bastante também sobre necessidade de bons projetos de educação, a “primeira” fresta que teve na vida ao ser alfabetizada aos 16 anos, pelo Mobral e curso supletivo.

Em outra parte do discurso, Marina fez uma homenagem ao ex-companheiro de chapa em 2014, Eduardo Campos, falecido em um acidente de avião que a colocou como a candidata a presidente.

— Eu queria ser candidata a presidente pela Rede, mas cassaram o registro, jamais as custas de uma pessoa cheia de vida e de sonhos — disse Marina, dizendo que foi muito duro assumir a candidatura em meio à tragédia que vitimou Campos.

A pré-candidata disse ainda que 2014 foi uma guerra sem ética, sem parâmetros e agora está mais serena.

— Por isso, a Marina que chega aqui, traz essa trajetória da menina do seringal, que de tanto receber generosidades entra com o coração tranquilo. Querendo o melhor para o Brasil, com o mesmo espírito de que pessoas boas existem no PT, PSDB, MDB em todos os partidos. Com o mesmo espírito de que se ganhar vamos , eu e Eduardo, governar com os melhores. Mas não só dos partidos.

REVOLUÇÃO AMBIENTAL
Saudado como um pop star, o vice de Marina fez um discurso focado na necessidade de uma "revolução ambiental" e disse que os eleitores da chapa não devem se envergonhar de defender a postura dos partidos a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e as investigações contra corrupção.

— A Rede e o PV enfrentaram corretamente essa conjuntura. Não temam defender a posição do PV e da Rede em nenhum campo. O impeachment foi correto, a Justiça faz um trabalho necessário, que tem que valer para todos, como diz a Marina. E nós, na verdade e a rigor, a nossa posição é que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) devia ter cassado a chapa que fraudou a eleição de 2014. Estas posições cruciais são corretas. Não se intimidem — disse o pré-candidato a vice.

Ele defendeu uma postura "sonhática", mas, ao mesmo tempo, com os "pés fincados na terra":

— Para que nós possamos ser sonháticos, tem que ter uma mulher que seja sonhática, mas que tenha os pés fincados na terra, como tem a Marina — acrescentou.

DIFERENÇAS MINIMIZADAS
Após os discursos de unidade na convenção, em entrevista coletiva, a pré-candidata da Rede minimizou suas diferenças com o PV em relação a temas polêmicos, como aborto e drogas. Segundo ela, as divergências programáticas estão pacificadas desde 2010, ano de sua primeira candidatura à Presidência. À época, Marina entrou no Partido Verde apesar de ser contra algumas das principais bandeiras da sigla, como a descriminalização do aborto e a legalização do cultivo e consumo de maconha. A divergência gerou incômodo com a ala tradicional do PV. A relação também não é lembrada com carinho por alguns marineiros, que reclamaram que a legenda não investiu a estrutura necessária para a campanha daquele ano.

Marina deixou o partido fazendo críticas duras à liderança do PV, sobretudo ao seu presidente, Luiz Penna. Os dois estavam rompidos até as vésperas da convenção, quando uma conversa entre ambos, realizada no último dia 26, dois dias antes do encontro nacional do PV, reatou o diálogo. A oferta para que a legenda sugerisse um vice foi feita durante a convenção do partido de Penna.

— Inteiramente pacificado desde 2010. Eu fui candidata pelo PV e a mesma mediação que o Partido Verde fez com o olhar daqueles que se filiaram ao PV é a mesma mediação que está sendo feita agora — disse.

Em convenção, Marina Silva admite situação 'difícil', mas diz confiar em 'derrota das estruturas'

Candidata da Rede foi oficializada neste sábado (4) ao lado do vice Eduardo Jorge (PV)

Angela Boldrini/ Joelmir Tavares | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com o desafio de provar que tem viabilidade eleitoral, Marina Silva foi oficializada neste sábado (4) como candidata à Presidência da República pela Rede Sustentabilidade.

"Estamos aqui pela terceira vez, talvez em situação bem mais difícil, mas confiando que dessa vez a postura vai derrotar as estruturas", afirmou a candidata.

Em evento em Brasília, o partido homologou a chapa “Unidos para Transformar o Brasil”, composta pela ex-senadora e o ex-deputado Eduardo Jorge (PV). Ele foi chamado por ela de "querido amigo de luta e de paz".

"Não quero mais disputa para o atraso, temos que disputar os avanços", discursou ela, em crítica aos chamados partidos tradicionais.

Na fala aos apoiadores, de cerca de 50 minutos, a ex-senadora disse que representa "o projeto mais preparado" e que sua candidatura "é a que tem mais condições de unir o Brasil".

Ela reforçou mensagens como a de que não fará desconstrução de biografias de adversários e de que defenderá o fim da reeleição, caso chegue ao Planalto.

Também exaltou sua história pessoal de superação e falou de bandeiras como educação e igualdade social.

Candidata em 2010 e 2014, Marina obteve 22 milhões de voto no último pleito, mas não conseguiu chegar ao segundo turno, que foi decidido entre o PT e o PSDB.

Neste ano, pela Rede, ela mantém o discurso de que é a terceira via e contra a “velha política” e fechou apenas uma aliança, com uma sigla da qual já fez parte, o PV. Segunda colocada nas pesquisas de intenção de voto em cenários sem o ex-presidente Lula, com 15%, terá que enfrentar dificuldades geradas pelas escassas alianças, como a falta de recursos e tempo de televisão.

Em Brasília, a convenção contou com a presença de políticos, militantes e do ator Marcos Palmeira, que atuou como mestre de cerimônias. “Ele foi eleito o segundo homem mais bonito, só depois de mim”, brincou o porta-voz da Rede e coordenador de campanha Pedro Ivo Batista, ao abrir o evento.
Palmeira, que chegou até a ser cotado para vice na chapa, abriu o evento dizendo que ali ocorria um encontro "de pessoas do bem".

Após duas horas de espera por caravanas de apoiadores saídas de São Paulo e do Mato Grosso, Marina Silva e seu vice saíram do camarim para o palco sob aplausos.

Organizados com camisetas verdes, laranjas e amarelas, militantes se dividiram em três as arquibancadas ---os de verde ficaram atrás da candidata.

O primeiro a falar foi o pastor Levi Araújo, da Igreja Batista. "Há esperança para o Estado laico, esperança para aqueles que não misturam Bíblia com Constituição", afirmou.

Marina é evangélica e tem procurado manter pontes com igrejas, embora tente se distanciar da bancada religiosa.

Depois, um grupo de mulheres puxou a presidenciável e o vice para o palco para uma apresentação. Em ciranda, eles cantaram uma música sobre a força da mulher rendeira. A letra continha um jogo de palavras unindo as expressões "rede" e "vai balançar".

Entremeando as falas, houve performances de black music e música regional. Discursaram pré-candidatos do partido, como a indígena Joênia Wapichana (RR) e a ex-senadora Heloísa Helena (AL), que disputarão vagas na Câmara dos Deputados.

Eduardo Jorge sugeriu que o nome da coligação deveria priorizar outra mensagem em vez de transformação. "Prefiro que ela [Marina] seja a candidata da pacificação. Pacificar para transformar", disse.

O vice falou que "Marina é uma voz de esperança neste momento dramático".

Além de Eduardo, o presidente do PV, José Luiz Penna, compareceu à convenção. Penna, que é ligado ao pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB), foi vencido pelo grupo que defendia o apoio à ex-senadora.

A coligação foi representada por militantes do PV do Distrito Federal, e uma faixa com os dizeres “Marina Silva + Eduardo Jorge = O Brasil que eu quero” foi colocada embaixo do telão principal.

Além dos verdes, um pessebista também compareceu à convenção. O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, cujo partido está coligado com Rede e PV na disputa local passou “para dar um abraço na Marina”.

A presidenciável fez gracejo também com a aparição de um tucano na entrada do local da convenção. Ela disse que a presença do pássaro foi uma homenagem.

“Os tucanos de verdade sabem quem ainda está comprometido com a social-democracia”, afirmou ela, em alfinetada ao PSDB do adversário Geraldo Alckmin.

Não faltaram, aliás, indiretas ao adversário no discurso da ex-senadora, que voltou a afirmar que sua aliança com o PV é programática e não por causa de tempo de televisão. "Não substituímos a população pelo centrão. O povo brasileiro não vai ser destruído por centrões de esquerda, de direita, de centro, de nada. Quem está no centro é o povo brasileiro", afirmou ela.

CLÁUSULA DE BARREIRA
Neste pleito, a candidata terá outro desafio além de demonstrar viabilidade na corrida presidencial.

A Rede Sustentabilidade, partido fundado por ela em 2015, passa por sua primeira eleição geral pressionado pela cláusula de barreira aprovada no Congresso em 2017. A Rede aposta na ex-senadora e na coligação tardia com o PV para fazer o número mínimo de votos necessários.

"Nós da rede somos um partido em movimento e nós acreditamos nas candidaturas em movimento, nas candidaturas avulsas", afirmou Marina, quando questionada sobre as estratégias da Rede para vencer a cláusula de barreira. "E as nossas estratégias são no sentido de não permitir que partidos programáticos tenham que ser desconstruídos."

Alckmin diz que o PPS é o “coração da aliança” e “vanguarda na política brasileira”

- Portal do PPS

O pré-candidato a presidente da República e ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou, neste sábado (4), na abertura da Convenção Nacional Eleitoral do PPS, que o partido é “o coração da aliança” que o apoia na disputa presidencial e vanguarda na política brasileira. Por unanimidade, o partido aprovou oficialmente o apoio ao tucano. Alckmin agradeceu a decisão do PPS e disse ser preciso proporcionar as “mudanças” de que o Brasil necessita, e que a “democracia é o melhor caminho” para que o País volte a crescer.

“É preciso dizer da alegria de celebrarmos essa aliança. O PPS está no coração. É o coração da nossa aliança pela vanguarda que representa na política brasileira. A nossa candidatura é para mudar e fazer avanços”, afirmou.

Alckmin disse que “mudar não é tarefa isolada”, mas “um dever coletivo” por meio da democracia, “o melhor caminho para melhorar” o País. “O melhor caminho é nós nos unirmos para a gente fazer as mudanças de que o Brasil precisa e que os brasileiros e brasileiras esperam”, ressaltou.

Desafio
O tucano disse que seu desafio como candidato à Presidência é ajudar o País crescer. “Temos agora o desafio de fazer o Brasil crescer, gerar empregos e melhorar a vida da população. E essa não é uma missão para uma pessoa só, é uma tarefa coletiva”, afirmou Alckmin.

Ele também falou sobre o seu alinhamento político com o partido e ressaltou a importância política do presidente do PPS, Roberto Freire (SP).

“Fomos constituintes juntos. Estivemos unidos nessa luta importante. Lá atrás, na redemocratização e depois na Constituinte. Foi um líder do [ex-presidente da República] Itamar quando tivemos o [Plano] Real, que estabilizou a moeda quando tínhamos 3000% de inflação e hoje em torno de 3%”, lembrou.

“Vamos devolver aos brasileiros a dignidade que lhes foi roubada”, diz Geraldo Alckmin

Portal do PSDB

O presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, foi eleito neste sábado (04/08), na Convenção Nacional do partido, em Brasília, o candidato do PSDB à Presidência da República. Quatro vezes governador de São Paulo, Alckmin terá a senadora gaúcha Ana Amélia como candidata a vice em sua chapa.

“Que todos os brasileiros compreendam o que representa Ana Amélia na política: é ela o verdadeiro novo. Em seu primeiro mandato, ela já fez muito mais do que muitos que fingem há décadas não serem políticos”, afirmou Alckmin. “O grau de participação das mulheres na política é um indicador confiável do grau de amadurecimento das democracias. Com Ana Amélia, vamos avançar”.

Em discurso que antecedeu o de Alckmin, a senadora reforçou a necessidade de união em prol da retomada do crescimento do país. “Nós não podemos estar sozinhos nesta caminhada. Precisamos de todos vocês”, disse. “O Brasil tem jeito, mas só tem jeito com a participação de todos vocês”.

Ana Amélia foi eleita para o cargo em 2010 pelo Partido Progressista (PP) com mais de três milhões de votos. A senadora, conhecida por sua dedicação e assiduidade, atua em várias comissões, dando especial atenção ao agronegócio e a projetos na área de saúde.

A senadora tratou o convite para integrar a chapa como o maior desafio de sua carreira. “Esse desafio me foi posto porque eu não poderia, como política que entrou no Senado com vontade de mostrar que a política tem jeito, recusá-lo. Não se muda nada a não ser pelo voto, pela democracia”, afirmou. A senadora reforçou que seguirá uma mulher de palavra, e disse: “A régua moral de Geraldo Alckmin é a mesma que usei em meu mandato”.

Alckmin abriu seu discurso ressaltando a responsabilidade de sua candidatura. “É com muita honra, humildade e senso de responsabilidade que recebo essa convocação e aceito ser candidato à Presidência da República”, afirmou Alckmin. “Sou candidato para buscar um mandato que pode ser resumido em uma frase: vamos mudar o Brasil e devolver aos brasileiros a dignidade que lhes foi roubada”, prosseguiu. “Aceito ser o candidato pelo PSDB e pelos demais partidos desta ampla aliança dos que acreditam no caminho do desenvolvimento, e não na rota da perdição do radicalismo”.

“Vamos reformar o Estado porque escutamos o que o povo quer: um Estado eficiente que sirva ao cidadão, à Dona Maria e ao seu José; e não um Estado que continue a servir os plutocratas do corporativismo, sangue-sugas dos favores políticos, privilégios e verbas públicas”, prosseguiu.

“Quero ser presidente para mobilizar o entusiasmo, a confiança e a determinação que não esmorecem no coração de cada um, mesmo quando o nosso olhar só alcançava o cenário inóspito da recessão e do desgoverno. Quero, em nome de todos, empunhar essa chama chamada esperança, que ficou guardada dentro de nós. Com seriedade, com a experiência política e administrativa acumulada, com pulso firme e o apoio da ampla maioria dos partidos, eu me candidato a Presidente. Para consertar este país, para reformar a política, reformar o Estado e fazer o Brasil voltar a crescer. Para que a gente brasileira possa viver seus sonhos.

Vamos juntos à Vitória. Vamos juntos mudar o Brasil”, encerrou.

Segue a íntegra do discurso.

Vocês têm uma responsabilidade histórica, a de resgatar o Brasil”, diz FHC em convenção do PSDB

- Portal do PSDB

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ressaltou neste sábado (4), na Convenção Nacional do PSDB, em Brasília, a importância histórica do momento por que passa hoje o Brasil. Dirigindo-se ao candidato à Presidência Geraldo Alckmin e à sua candidata a vice, Ana Amélia, afirmou: “O vento da história passa hoje por vocês. Vocês têm uma responsabilidade histórica, a de resgatar o Brasil. De resgatar a crença em nós mesmos”.

FHC falou da necessidade de resgatar nos brasileiros a confiança na classe política. “Aliança é fundamental para a governabilidade, e antecipa a vitória. Juntos, venceremos”, disse. O ex-presidente também lembrou da importância de se governar o país com coragem. “O Brasil confia em vocês. Os dois despertam a confiança do Brasil em si mesmo. Eu confio em vocês. Confio mesmo, porque conheço os dois”, disse. “As pessoas hoje têm medo, medo porque não sabem se terão emprego amanhã. Vocês restabelecerão a confiança. E com autoridade, não autoritarismo”, prosseguiu FHC.

A convenção marcou a oficialização de Geraldo Alckmin como candidato do PSDB à Presidência da República. Quatro vezes governador de São Paulo, Alckmin terá a senadora gaúcha Ana Amélia como candidata a vice em sua chapa. Ela foi eleita para o cargo em 2010 pelo Partido Progressista (PP) com mais de três milhões de votos.

Lula, preso e sem vice, é escolhido pelo PT como candidato ao Planalto

Partido avalia implicações jurídicas de adiar anúncio completo da chapa; Fernando Haddad é tido como favorito para assumir a candidatura, se a Justiça impugnar o ex-presidente

Bruno Goes* e Sérgio Roxo | O Globo

SÃO PAULO / Sem o candidato que está preso em Curitiba desde 7 de abril e sem a definição do candidato a vice, o PT referendou ontem a indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para disputar a Presidência pela sexta vez. Condenado em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá, o líder petista está enquadrado na Lei da Ficha Limpa e deve ter a candidatura impugnada. Internamente, a legenda discute a indicação de um plano B quando isso acontecer.

O adiamento da indicação do vice pode trazer implicações jurídicas à chapa petistas, e por isso o PT avalia anunciar até hoje o nome do companheiro de chapa, preferencialmente do próprio partido. São opções o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, tido como favorito, a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro Jaques Wagner. Reunida à tarde, a executiva do PT informou que ainda negocia aliança com o PCdoB, que indicaria Manuela D’Ávila, e com o PDT, mas Ciro Gomes nega a possibilidade.

As discussões sobre a indicação ou não de um vice até domingo dominaram os bastidores da convenção. Pela manhã, dirigentes petistas se encontraram com caciques do PCdoB, mas não houve entendimento. O PT também anunciou o apoio de dois partidos à candidatura: PROS e PCO.

Na impossibilidade de contar com Lula no ato realizado em uma casa de eventos no centro de São Paulo, a organização distribuiu máscara com a imagem do ex-presidente para os militantes presentes. Na hora de fazer a aclamação simbólica da indicação de Lula, Gleisi pediu que os presentes vestissem as máscaras. Lula apareceu em um painel no fundo do palco.

Em carta lida pelo ator Sergio Mamberti, Lula disse que, pelo primeira vez, em 38 anos, não comparecia a um encontro nacional do PT. O ex-presidente reclamou das restrições colocadas à sua candidatura.

“Já derrubaram uma presidenta eleita; agora querem vetar o direito do povo escolher livremente o próximo presidente. Querem inventar uma democracia sem povo”.

ENTREVISTA
Especialistas em legislação eleitoral afirmam que, até 2016, havia consenso: a escolha do vice podia ser feita depois da convenção, até a data do registro (15 de agosto, neste ano), desde que a convenção deliberasse nesse sentido. Mas uma resolução do TSE, com as regras da eleição de 2018, estabeleceu prazo de 24 horas do fim do período de convenções para o registro da ata da convenção na Justiça Eleitoral.

Há divisão na interpretação de especialistas ouvidos pelo GLOBO se o prazo final para indicação de vice é de 24 horas após o fim das convenções, ou se a decisão pode acontecer só na data final do registro.

O jornal italiano “La Repubblica” publicou ontem uma entrevista com Lula. O expresidente está proibido de conceder entrevista pela Justiça. O deputado italiano Roberto Gualtieri, do parlamento europeu, visitou Lula na cadeia, levado por Gleisi Hoffmann, e fez as 19 perguntas enviadas pelo jornal.

*Enviado especial

Alckmin critica ‘ódio’, PT insiste em Lula e Marina ataca Centrão

Convenções dão tom da eleição; da prisão, petista desafia legislação eleitoral

- O Estado de S. Paulo.

Seis partidos oficializaram ontem em convenções seus candidatos a presidente e deram o tom de como será o início desta campanha, que promete ser uma das mais disputadas desde a redemocratização (1985). Em Brasília, Geraldo Alckmin, do PSDB, fez críticas diretas aos petistas e indiretas a Jair Bolsonaro (PSL). Em São Paulo, o PT oficializou a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva, três dias após o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luis Fux, ter afirmado que “condenado é inelegível”. 

Lula está preso em Curitiba, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, mas comanda as articulações do partido e adiou a escolha do vice. Marina Silva, da Rede, oficializou sua terceira candidatura seguida ao Planalto com ataques aos “centrões” de esquerda e de direita que dominam a política. Também foram confirmados candidatos Alvaro Dias (Podemos) e João Amoêdo (Partido Novo).

Na véspera do prazo final para as convenções, PSDB, PT, Rede, Podemos, Patriota e Novo realizaram ontem seus eventos partidários que confirmaram os candidatos à Presidência. O encerramento das convenções representa a largada para a corrida presidencial marcada por um cenário ainda de grande incerteza.

Doze anos depois de disputar a Presidência contra Luiz Inácio Lula da Silva, o tucano Geraldo Alckmin teve o seu nome novamente confirmado como o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto na convenção realizada em Brasília. A exemplo de 2006, Alckmin disse acreditar que o PT será o seu principal adversário na disputa deste ano. Mas em seu discurso fez críticas indiretas a Jair Bolsonaro, indicando que pretende disputar o eleitorado do presidenciável do PSL. Para o tucano, o País precisa “da ordem democrática, que dialoga, que não exclui, que tolera as diferenças” e que não “usa o ódio como combustível da manipulação eleitoral”.

Na capital paulista, o PT oficializou Lula como candidato. Condenado na Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro e cumprindo prisão em Curitiba desde 7 de abril, o ex-presidente está potencialmente inelegível com base na Lei da Ficha Limpa. Durante a convenção petista foi lida uma carta do ex-presidente na qual ele defende o direito de ser candidato. Porém, diante dos prazos da legislação eleitoral, horas após a convenção a cúpula do partido passou a discutir a possibilidade de deflagrar já o “plano B” na disputa pelo Palácio do Planalto. O nome pode ser anunciado hoje e mais cotado é Fernando Haddad – escolha que indicaria uma alternativa eleitoral concreta do partido.

Marina Silva foi oficializada como candidata da Rede. Ela se prontificou a “unir o Brasil” e atacou seus oponentes. “O povo brasileiro não vai ser substituído por centrões de direita e esquerda.”

Em Curitiba, confirmado como candidato do Podemos, o senador Alvaro Dias disse, que, se eleito, vai convidar o juiz Sérgio Moro – titular da Lava Jato no Paraná – para ser ministro da Justiça.

João Amoêdo, do Novo, fez críticas ao PT, a Bolsonaro e à “velha política”. O Patriota lançou Cabo Daciolo como candidato.

Sem outsider, antiga polarização PSDB e PT volta a ter hegemonia

Para analistas, quadro é explicado em parte pelo fato de nomes de fora da política terem desistido de disputar a Presidência

Gilberto Amendola e Valmar Hupsel Filho | O Estado de S.Paulo

A sedimentação das articulações partidárias para a disputa pelo Palácio do Planalto manteve em campos hegemônicos a polarização que nos últimos 24 anos domina as eleições presidenciais no Brasil. PSDB e PT saem das convenções que oficializaram as candidaturas liderando seus respectivos campos ideológicos: o da centro-direita e o da centro-esquerda.

Doze anos depois de disputar a Presidência contra Luiz Inácio Lula da Silva, o tucano Geraldo Alckmin teve o seu nome novamente confirmado como o candidato do PSDB ao Palácio do Planalto na convenção realizada neste sábado, 4, em Brasília. A exemplo de 2006, Alckmin disse acreditar que o PT será o seu principal adversário na disputa deste ano.

Na capital paulista, o PT oficializou Lula, condenado e preso na Lava Jato, como candidato. Porém, a cúpula do PT passou a discutir a possibilidade de um 'Plano B' - o ex-presidente está potencialmente inelegível com base na Lei da Ficha Limpa

Na avaliação de analistas políticos ouvidos pelo Estado, esse quadro se deve em parte à desistência de nomes de fora da política - os chamados outsiders - de concorrer, como o do empresário e apresentador Luciano Huck e o do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa – que se filiou ao PSB.

Nas últimas duas semanas, os dois partidos mostraram que ainda possuem força de atração, seja para formar a maior aliança, no caso do PSDB, seja para manter o terreno da centro-esquerda em compasso de espera, como faz o PT.

A legenda de Alckmin conseguiu amarrar um acordo com o Centrão, bloco partidiário composto por DEM, PP, Solidariedade, PR e PRB, que também negociava com o candidato do PDT, Ciro Gomes.

Com isso, a campanha tucana consolidou um tempo de TV inigualável e palanques estaduais importantes. O PT asfixiou ainda mais a candidatura de Ciro ao fechar um acordo como PSB – impondo neutralidade no pleito nacional aos pessebistas.

Hegemonia não significa, contudo, favoritismo e a eleição presidencial de 2018 continua marcada pela incerteza. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, conforme as mais recentes pesquisas do Ibope, mantém a liderança nas intenção de voto, mas está potencialmente enquadrado na Lei da Ficha Limpa, o que o tornará inelegível.

No cenário sem Lula, Jair Bolsonaro, do PSL, lidera a disputa, seguido por Marina Silva (Rede). Ciro e Alckmin aparecem em situação de empate técnico.

Eleição presidencial sofreu afunilamento
A eleição de 2018 vinha se configurando como a mais fragmentada desde 1989, mas sofreu um natural afunilamento nas últimas semanas. “Esse cenário já era esperado. Primeiro esses partidos lançam nomes para depois fazer as coligações. Isso é típico da nossa estrutura partidária”, disse Marcia Cavallari, diretora Ibope Inteligência.

Jaques Wagner rejeita sondagem para ser vice da chapa presidencial do PT

Sem ex-governador, alternativas do PT são Haddad e Gleisi; anúncia deve ocorrer neste domingo

Catia Seabra/ Marina Dias | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Consultado por emissários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a hipótese de assumir a vice na chapa petista, o ex-governador da Bahia Jaques Wagner declinou.

Wagner já tinha dito a interlocutores que não pretendia ser o plano B petista para a disputa presidencial.

Na sexta-feira (3), durante reunião com o ex-presidente da Superintendência da PF, Lula citou, segundo petistas, três hipóteses para o posto de vice: Wagner, o ex-prefeito Fernando Haddad e a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR).

Sem Wagner, os nomes cotados são de Haddad e Gleisi. Haddad tem ganhado adeptos no partido.

Mas o nome deverá ser anunciado no domingo (5).

No início da tarde deste sábado (4), Lula foi aprovado por militantes e dirigentes do PT como o candidato do partido ao Planalto. Uma carta dele foi lida no evento.

Há quatro meses, Lula está preso em Curitiba, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, mas tem coordenado as principais movimentações da pré-campanha para abrir espaço a uma candidatura competitiva de seu partido na disputa de outubro.

Durante a convenção nacional do PT, em São Paulo, a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann (PR), fez um discurso inflamado, em que repetiu que vai registrar o petista no dia 15 de agosto como uma afronta ao que chamou de "sistema podre".

Alckmin terá 44% da TV; líderes, Bolsonaro e Marina dependerão da internet

PT e Meirelles deverão ter 17% e 15% do horário eleitoral, segundo estimativa; mecanismo é historicamente determinante

Ranier Bragon/Bruno Boghossian | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Líderes na corrida eleitoral nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) e a ex-ministra Marina Silva (Rede Sustentabilidade) terão, juntos, menos de 5% do espaço da propaganda de TV e rádio, que começa no próximo dia 31.

Sem perspectiva de alianças relevantes e também com palanques fracos nos estados, os dois candidatos serão obrigados a tentar suprir na internet a fragilidade estrutural de suas campanhas.

Em cada bloco do horário eleitoral, Bolsonaro terá direito a apenas 7 segundos, menos de 1% do total.

Marina, que fechou aliança com o PV, aparecerá por 24 segundos —pouco mais de 3% do programa.

O maior tempo de TV, disparado, será o do tucano Geraldo Alckmin, com cerca de 44% de todo o espaço da propaganda —5 minutos e 32 segundos por bloco.

O candidato do PT —Lula, que está preso em Curitiba desde abril, deve ser barrado pela Justiça Eleitoral— e Henrique Meirelles (MDB) vêm logo em seguida, com cerca de 17% e 15% respectivamente.

O tempo oficial de propaganda será definido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) na segunda quinzena deste mês, após o registro de todas as candidaturas.

Fernando Henrique Cardoso: Farol alto

- O Estado de S. Paulo

O Brasil precisa não de ‘candidatos’, mas de líderes que tenham visão de estadistas

As sondagens sobre o voto popular no próximo dia 7 de outubro mostram que uma grande parcela da população repudia o jogo dos partidos ou ainda não sabe como se posicionará. Não assim os dirigentes partidários. Estes “tomam partido” por antecipação. Na fase que está por terminar, que culmina com as convenções partidárias, é natural que estejam mais interessados nas alianças para formar a rede de apoio eleitoral e no tempo de televisão à disposição de seus candidatos. Natural, mas insuficiente, quando não negativo, pois gera a percepção de que a “política” é só um jogo de poder; no limite, um jogo pessoal.

Não sou ingênuo, nem poderia haver ganhado duas eleições presidenciais no primeiro turno se não entendesse que as alianças partidárias contam para a vitória e antecipam a possibilidade de governar. Mas o importante, o decisivo mesmo, é outra coisa: a mensagem e a credibilidade que o candidato desperte no eleitorado. Mormente agora, com o sistema político-eleitoral que criamos na Constituição de 1988 exaurido. Sei que o Congresso aprovou a lei de barreira e que no futuro haverá menos partidos. E também que as alianças entre eles nas eleições para deputados devem acabar. Elas distorcem a vontade do eleitor, que vota em candidato de um partido e elege alguém de outro.

Não basta, entretanto. Além de outras reformas eleitorais (como a introdução de formas de voto distrital e de candidaturas avulsas), há que enfrentar a cultura política de personalismo, clientelismo e corporativismo. Com ela os “partidos” aparecem aos olhos populares como trampolim para salvaguardar os interesses dos que se elegem e de quem os sustenta. É mais fácil mudar leis e decretos do que sentimentos e atitudes permissivas arraigadas na cultura política. Sua mudança depende de virtudes exercidas pelas lideranças e da punição das práticas corruptoras.

Daí a responsabilidade dos que vão falar ao País para pedir votos e a necessidade da vigilância constante da opinião pública sobre o que dizem. Hoje a formação da opinião pública não se limita às mídias tradicionais. As “mídias sociais” exercem influência crescente na decisão de voto. As fake news (que antigamente se chamavam de “mentiras”) se difundem mais rapidamente, criando imagens falsas ou distorcidas sobre os candidatos. É o preço da maior acessibilidade às redes de comunicação, que em si são um progresso, mas precisam de contrapesos que verifiquem a veracidade das informações que por elas circulam.

Nas eleições a palavra se torna crucial. Não só seu significado literal apenas, mas o conteúdo simbólico e o modo de expressá-la. A política eleitoral implica tanto alianças como propostas e, sobretudo, requer desempenho dos candidatos. Não por acaso o “demagogo”, ao se comprometer com os interesses populares, sempre encontra espaço na vida pública. Entretanto, em especial nos momentos de crise, demagogos podem ser batidos por quem tiver virtude e capacidade de mostrar um rumo para o país que seja percebido como confiável para os “mercados”, mas principalmente bom para o povo, sem apelar à ilusão distributivista e/ou a impulsos autoritários. Foi o que fiz quando liderei o Plano Real.

Merval Pereira: Egolatria

- O Globo

Arriscar ter a chapa impugnada pelo TSE apenas para ganhar mais 10 dias sem definir o substituto de Lula é exemplar da egolatria que marca sua liderança

‘Vim para confundir, não para explicar”, brincava o velho guerreiro Chacrinha, que parece ter inspirado a estratégia do PT nessa disputa presidencial.

Arriscar ter a chapa impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apenas para ganhar mais 10 dias sem definir o substituto de Lula é exemplar da egolatria que marca sua liderança, e o máximo da idolatria por parte dos petistas, todos caminhando para um suicídio coletivo, que pode até significar a não participação do PT na disputa presidencial.

Talvez seja mesmo isso que Lula quer, tentar fixar para a história que a eleição deste ano não foi legítima porque não o deixaram participar. Sem ele, não existe o PT, parece querer dizer para seu público interno.

Essa estratégia, aliás, já foi cogitada pela direção nacional do PT, que passaria a ter um mote nas campanhas para as outras escolhas —governador, senadores, deputado estadual e deputado federal. Trata-se, no entanto, de uma jogada de alto risco, pois o que interessa ao partido é fazer uma boa bancada na Câmara e no Senado. Sem disputar a Presidência, perderá o ponto de referência nacional.

Os partidos que não disputam normalmente a Presidência da República, como, entre tantos, o DEM e o MDB, perdem substância política e se sustentam com as bancadas nacionais. Mas sempre estão coligados, coisa que o PT não pretende fazer para a Presidência.

O candidato a senador pelo PT da Bahia, Jaques Wagner, que era cotado para ser o substituto de Lula, defende a tese de que o PT deveria apoiar um candidato de outro partido, referindo-se indiretamente a Ciro Gomes do PDT. E aceitaria até ser o vice dele.

Ao contrário, o PT ofereceu a vice na chapa de Lula a Ciro. Ofereceu também a Manuela D’Ávila, do PCdoB, mas foram impugnados no único tribunal que vale no PT, a opinião de Lula. A relutância de Lula em indicar ontem, na convenção, um candidato a vice para assumir seu lugar na urna eletrônica deve-se a que se transferiria para o escolhido a expectativa de poder que move as energias políticas, e isso Lula quer adiar até quando puder, ou impossibilitar, pela impugnação da chapa petista, que se concretize o aparecimento de um líder político que passe a ser o centro das negociações.

Clóvis Rossi: PT entroniza dom Sebastião Lula da Silva

- Folha de S. Paulo

Ex-presidente teve morte jurídica decretada pela Lava Jato, mas seus seguidores não acreditam na morte, rezam e jejuam pelo seu reaparecimento

A convenção do PT entronizou neste sábado (4) a candidatura de dom Sebastião Lula da Silva. Dom Sebastião é aquele rei de Portugal que supostamente morreu na batalha de Alcácer-Quibir (1578). Como o corpo nunca foi encontrado, nasceu um movimento místico —o sebastianismo— que acreditava que o rei voltaria para salvar Portugal de todos os problemas surgidos após seu desaparecimento.

Luiz Inácio Lula da Silva teve sua morte jurídica (como candidato) decretada na esteira da Operação Lava Jato. Mas seus seguidores não acreditam na morte, rezam e jejuam pelo seu reaparecimento para superar o único problema que aflige o PT neste momento: ter um candidato presidencial viável.

O “sebastianismo” —“lulismo", em sua versão brasileira— era onipresente na Casa de Portugal, que abrigou o encontro petista que, por aclamação, indicou Lula como seu candidato presidencial.

Presente até no nome oficial da convenção: “Encontro Nacional do PT 2018 - Lula livre". Presente na frase, bem “sebastianista", de uma militante no vídeo sobre os cem dias da prisão de Lula: “Você é e sempre será nosso eterno presidente".

Presente, sempre como essa característica de solução para todos os problemas, no grande banner que ocupava o fundo do palco e gritava em letras brancas sobre fundo negro: “O Brasil feliz de novo”.

Presente nas camisetas polo vendidas a R$ 30 ou nas t-shirts, pela metade do preço.

Justifica-se, pois, o rótulo de religião que Ciro Gomes, candidato do PDT, cravou no petismo em entrevista à GloboNews. Esse “lulismo” místico é definido como “perversão do petismo” por Francisco de Oliveira, fundador do PT mas depois rompido com o partido. Lulismo seria “o carisma de Lula combinado com assistencialismo”, segundo esse sociólogo, um dos raros intelectuais de esquerda que se manteve de esquerda.

Que o PT vive da expectativa de renascimento de Lula fica evidente no fato de que a convenção deste sábado não indicou candidato a vice-presidente. Fazê-lo seria lido como um sinal de que há, sim, um plano B, ao contrário do que dizem oficialmente todos os petistas, graúdos ou miúdos.

Pior para o partido: o reinado de Lula impediu o surgimento de qualquer nome que pudesse rivalizar com ele, mesmo que fosse um pouquinho. É uma característica do caudilhismo. Caudilhos em geral impedem que nasça até grama em suas imediações, quanto mais uma palmeira que lhes faça sombra.

Se os aplausos dos convencionais deste sábado significam alguma coisa, o único eventual plano B seria a inelegível Dilma Rousseff, ovacionada quando o nome foi anunciado. Abaixo dela, Fernando Haddad. Para os demais, as palmas foram tímidas, pouco mais que protocolares.

Bruno Boghossian: Direita sem clube

- Folha de S. Paulo

Eleitorado adere a ideias conservadoras, mas sistema dispensa rótulo no país

Fernando Henrique Cardoso jura que é de esquerda, embora muitos brasileiros enxerguem o PSDB no outro lado da régua política. Durante seu governo, 31% dos eleitores diziam que os tucanos eram de direita. Anos depois, FHC ainda tentava convencer: “Se eu disser que sou de esquerda, as pessoas não vão acreditar, embora seja verdade”.

As bússolas ideológicas são desorientadas no Brasil, mas não há partido forte que se assuma de direita por aqui. O ícone conservador do momento, Jair Bolsonaro, atrai quase 20% do eleitorado, mas precisou alugar o nanico PSL para poder disputar a Presidência este ano.

Ainda que muitos brasileiros concordem com valores liberais na economia e tradicionalistas nos costumes, a estrutura política nacional parece repelir o rótulo da “direita”. O PFL, que nasceu como dissidência do partido de sustentação do regime militar, chegou a mudar de nome em 2007 para se livrar da marca.

“O sistema partidário atual nasce negando a ditadura, uma visão conservadora da sociedade”, pondera Marco Antônio Teixeira, da FGV. “Hoje, há uma estruturação do pensamento de direita em torno de pessoas, como Bolsonaro, ou movimentos, como o MBL. Não há partidos que reivindiquem esse legado.”

Eliane Cantanhêde: Larga o osso, Lula!

- O Estado de S.Paulo

Haddad tem de parar de fingir que não é candidato; Manuela, de fingir que é

Fecha-se o tabuleiro presidencial hoje, com aquela peça disforme e mal colocada que segura o jogo e imobiliza o próprio lado: Lula, preso há 100 dias, sem conseguir dar o sinal verde para Fernando Haddad parar de fingir que não é candidato e para Manuela Dávila parar de fingir que é.

Com a avalanche de convenções no fim de semana, vai se fechando a escolha dos vices com dois focos claros, resultados não de amor ou de saudável afinidade ideológica, mas do puro pragmatismo. Daí a preferência por mulheres e/ou nomes do Rio Grande do Sul.

A síntese disso é a senadora gaúcha Ana Amélia, que entra na chapa do tucano Geraldo Alckmin não apenas como três em um, mas seis em um. É mulher, do PP, do Sul, da área de comunicação, assumidamente de direita e crítica contundente das maracutaias na política.

Ana Amélia não está aí para só embelezar as fotos do PSDB, mas para conquistar os 80% do eleitorado feminino ainda indecisos ou dispostos a anular voto e para tentar frear o ímpeto do PP gaúcho para Jair Bolsonaro e do PP do Piauí para o PT. Além disso, ela tem uma missão específica: resgatar os 4% de votos surrupiados do PSDB no Sul pelo paranaense Alvaro Dias, ex-tucano hoje no Podemos.

E ela também cumpre funções mais subjetivas. Alckmin tem de se firmar à direita, para disputar com Bolsonaro a vaga de principal contraponto ao PT. Ana Amélia, clara e contundente, tem ação e discurso que calam fundo no agronegócio e no eleitorado irritado com os políticos e conservador nos costumes. Ou seja, nos bolsões do Bolsonaro (com perdão do trocadilho).

Assim como ela, são ou foram consideradas para vice, de olho nas mulheres, sempre desconfiadas: Janaína Paschoal, a advogada e professora histriônica, na chapa de Bolsonaro, e Manuela d’ Á vila, a jovem e aguerrida “candidata” do PCdoB, que espera sentada o anúncio para ser vice de Lula, ops!, do PT.

Vera Magalhães: A imprensa como inimiga

- O Estado de S.Paulo

A tática de minar a imprensa não é nova nem restrita aos polos estridentes da política

Jair Bolsonaro disse em sua entrevista à GloboNews que odeia o PT “em regra”. Pode até ser. Mas como o ódio é o oposto do amor, e ambos carregam em sua manifestação um tanto de paixão e irracionalidade, os dois extremos – Bolsonaro e PT – se encontram em uma série de manifestações. Uma das mais claras e recorrentes é o ataque sistemático à imprensa.

Para os eleitores convertidos e militantes dos dois lados, as críticas ao jornalismo são vistas como sinal de coragem ou independência, mas, da maneira como são feitas significam, na verdade, tentativa de intimidação e de desqualificação. E quando a política mira instituições para tentar enfraquecê-las o que sai arranhada, na verdade, é a democracia.

O PT passou 13 anos no poder, e continua agora, em sua fase penitenciária, vociferando sobre a existência de uma imprensa “golpista”. A narrativa tinha por objetivo vender aos fiéis que a revelação de escândalos como o mensalão, que teve na imprensa seu ponto de partida, era na verdade campanha contra o partido.

Como toda narrativa fake, esta foi derrubada pelas evidências. No caso do mensalão, saiu da boca de Duda Mendonça, o marqueteiro de Lula, todo o enredo de pagamentos no exterior, caixa 2, 3 e 4. Antes, Roberto Jefferson já havia dado a letra do samba.

Depois, foi o Congresso a chancelar a existência do mensalão, por meio da CPI dos Correios. Por fim, o Ministério Público fez a denúncia. E o Judiciário condenou a maioria dos implicados.

Portanto, a imprensa não inventou nada ali. Como também não o fez no petrolão, no qual, aliás, teve um papel mais de reportar os passos da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário, em vez de fornecer a eles matéria-prima, como acontecera no mensalão.

Bernardo Mello Franco: De tédio, não morreremos

- O Globo

Nunca houve uma eleição presidencial tão estranha e imprevisível quanto a de 2018. Pelo que se viu nas convenções partidárias de ontem, ninguém morrerá de tédio até outubro

O fim de semana marca o início oficial da corrida ao Planalto. Nunca houve uma eleição tão imprevisível —e, ao mesmo tempo, tão estranha — quanto a de 2018. Para quem acompanhou as convenções de ontem, uma coisa ficou clara: de tédio, não morreremos até outubro.

Em São Paulo, o PT lançou um candidato fantasma e reeditou o tom raivoso do passado. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, declarou guerra contra a “elite política”, o “sistema financeiro” e a “mídia golpista”. “Essa é a ação mais confrontadora que fazemos contra esse sistema podre”, vociferou.

O dono da festa não compareceu por motivos de força maior. Preso em Curitiba, Lula teve que enviar um discurso por escrito. Os petistas ensaiaram projetar sua imagem num holograma, mas a ideia não foi adiante. Sem o recurso high tech, apelaram para máscaras de papelão.

Elio Gaspari: Fux matou no peito e fez gol contra

- O Globo

O ministro Luiz Fux, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, tinha diante de si um pedido para declarar a inelegibilidade de Lula. A petição era processualmente imprópria e ele rejeitou-a. Fez o mesmo que a ministra Rosa Weber há algumas semanas. A notícia foi divulgada pelo UOL. Fux deu-se conta de que rejeitando o pedido apenas por impróprio, poderia dar a impressão de que admitiria, em tese, a elegibilidade de Lula.

Deve-se ao repórter Reynaldo Turollo Jr. a narrativa do que aconteceu em seguida, nas palavras de Fux:

“Depois que saiu essa notícia, eu fui verificar se a decisão tinha sido publicada [no Diário da Justiça]. Então, peguei a decisão, para não deixar dúvida, e fiz questão de colocar nela (...) aquilo que tenho defendido publicamente, que é a inelegibilidade de candidatos que já incidiram em uma condenação em segunda instância”.

Fux deixará o TSE no próximo dia 14 e decidiu acrescentar um parágrafo ao despacho informando que vislumbrava a “inelegibilidade chapada” de Lula. Se o pedido tinha um vício processual, a questão estava resolvida, não havia porque acrescentar “aquilo que tenho defendido publicamente”, muito menos usando o termo “chapada”.

Lula sabe que será declarado inelegível, mas isso só poderá acontecer quando ele estiver na condição legal de candidato. Ademais, “chapado” não quer dizer nada.

Lula é candidato a vítima para eleger o “Poste”. Quanto mais o vitimizarem, maior será a sua capacidade de transferir simpatias e preferências. A barafunda provocada pelo drible do desembargador Rogério Favreto, abrindo uma temporada de bate-cabeças no Judiciário, premiou-o com as trapalhadas dos que não querem vê-lo como candidato ou mesmo em liberdade.

O complemento de Fux ao despacho foi um mimo para Lula. Primeiro, porque não é adequado que o presidente de um tribunal tenha “defendido publicamente” uma posição relacionada a um julgamento que ainda não aconteceu. Mesmo que o seja, foi despicienda a iniciativa de repeti-la num despacho que tratava de um pedido processualmente viciado.

Até a balbúrdia “prende-solta” dos desembargadores e do juiz Moro, podia-se achar que Lula era um apenado fingindo que era candidato. Depois dela, tornou-se uma vítima. Fux, como Moro, matou no peito e chutou contra o próprio gol.

Ricardo Noblat: Lula, de candidato a ventríloquo

- Blog do Noblat | Veja

À procura de um boneco. Ou mais uma jogada do guia genial

Procura-se um candidato a vice que se resigne a ser uma espécie de boneco de ventríloquo de Lula. Pode ser de carne e osso e movimentar-se como se fosse uma pessoa normal. Exige-se apenas que abra e feche a boca em sincronia com a voz do seu dono. E que faça tudo o que ele mandar até o fim da campanha eleitoral e, caso se eleja, até o último dia do mandato de presidente da República.

Se tivesse procedido dessa maneira, é bem possível que Dilma ainda fosse a locatária do Palácio da Alvorada, às vésperas de transferir a faixa presidencial para seu sucessor – provavelmente Lula. Mas ela rebelou-se e preferiu governar ao seu estilo, obedecer às próprias ideias, candidatar-se a um novo mandato quando não deveria, e aí deu no que deu. É história conhecida.

A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, tem o perfil do boneco ao gosto de Lula. O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, menos, mas Lula poderá escolhê-lo à falta de algo melhor. Manuela d’Ávilla foi reprovada no primeiro teste. Lula queria que ela renunciasse primeiro à candidatura a presidente mesmo depois de lançada por seu partido.Só mais tarde seria indicada para vice.

Manuela talvez topasse. Quem não topou foi o Partido Comunista do Brasil (PC do B). Seria humilhação demais para os dois – Manuela e o partido. E se mais tarde, por qualquer razão, Lula desse o dito pelo não dito? Não foi assim com Marília Arraes, candidata do PT ao governo de Pernambuco? Lula disse que votaria nela se militasse por lá. Depois rifou sua candidatura.

Não se descarte a hipótese de que Lula acabe por não escolher boneco algum. Ou que só a escolha, vencido o prazo estipulado pela Justiça que termina hoje, e que ele quer prorrogar até o próximo dia 15 contra a opinião dos seus advogados. Mais uma afronta à Justiça que serviria a Lula para que se vitimizasse. Todavia, poderia ser também mais uma jogada bolada por ele de dentro do cárcere.

Sem candidato a presidente (e para Lula é inconcebível que o PT concorra ao cargo com outro nome), o partido usaria o que lhe cabe no milionário Fundo Partidário para financiar a eleição de deputados e senadores, preservando sua força no Congresso. Ainda sobraria grana para sustentar-se pelos próximos anos. Seria, digamos assim, uma nova versão do mensalão. O mensalão ponto três.