Apesar de já terem conseguido até mais do que inicialmente haviam pedido, motoristas continuavam bloqueando estradas no País
- O Estado de S. Paulo.
A paralisação dos caminhoneiros escapou ao controle das associações da categoria e chegou ao 8.º dia ontem, mesmo após o governo ter aceitado praticamente tudo o que o movimento pediu. Diante de um quadro de ausência de lideranças e de exigências claras por parte dos manifestantes, o País passou a questionar: o que querem os caminhoneiros que insistem em manter a população refém de suas vontades?
Entre as possíveis respostas está a do presidente da Associação Brasileira de Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, para quem o movimento ganhou caráter político. “Tem um grupo muito forte de intervencionistas fazendo greve. Estão prendendo caminhões e tentando derrubar o governo”, disse. Segundo a Abcam, pelo menos 250 mil grevistas permaneceram fiéis ao movimento, ontem. No grupo, que tem as redes sociais como aliadas, estão motoristas autônomos adeptos do “quanto pior, melhor” e divididos entre os que pedem intervenção militar no País (eleitores de Jair Bolsonaro), os que trabalham pela deposição de Michel Temer e os que pedem a liberdade do ex-presidente Lula, condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro. O Planalto diz ter indícios de que possa haver “infiltrados” na greve.
Para o presidente da União Nacional dos Caminhoneiros, José Araújo Silva, a situação está “sem controle”. Até ontem, os grevistas haviam conseguido diesel mais barato, reajuste mensal, isenção de pedágio para eixo suspenso e valor mínimo para frete. Agora, querem a redução no preço de todos os combustíveis.
O que os caminhoneiros queriam, o governo deu. Diesel mais barato, reajuste mensal, isenção de pedágio para eixo suspenso, tabela de valor mínimo para frete. Na verdade, os motoristas conseguiram até um pouco mais do que inicialmente pediam. Mesmo assim, a paralisação não dá sinais de terminar. Grupos permanecem bloqueando estradas em todo o País.
De acordo com a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), cerca de 250 mil caminhões permaneciam ontem parados nas estradas, o equivalente a 30% dos que vinham participando do movimento. E a negociação com esses motoristas tem se mostrado praticamente impossível.
Esses caminhoneiros não seguem lideranças tradicionais. Têm pedidos difusos, que incluem a saída do presidente Michel Temer e a intervenção militar no Brasil. Querem que não só o diesel, mas agora também a gasolina, baixe de preço. Acreditam piamente em mensagens que recebem no WhatsApp – como a informação falsa de que, após sete dias e seis horas de paralisação, os militares tomariam o poder. Por isso, nenhum acordo fechado com o governo surte efeito. “Virou uma situação sem controle”, diz o presidente da União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam), José Araújo da Silva, conhecido como China. Fontes do governo federal informam que foram identificados pelo menos três grupos políticos “infiltrados” nas paralisações.
Com o desabastecimento colocando o País em um quadro cada vez mais caótico, a indignação da população tem aumentado. Uma pesquisa da empresa Torabit, especializada em medição de comentários nas redes sociais, mostrou que o apoio explícito dos internautas à greve caiu vertiginosamente. Na sexta-feira, 53,5% dos posts em redes sociais e blogs eram favoráveis à paralisação. Ontem, essa porcentagem havia caído para 34,5%.