segunda-feira, 15 de abril de 2013

OPINIÃO DO DIA – Roberto Freire: aglutinar a oposição

O que nos motiva é apostar numa nova formação política capaz de aglutinar as forças de oposição.

Presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP). O Globo, 14/4/2013

Manchetes de alguns dos principais jornais do País

O GLOBO
Moradias populares - Governo investigará fraude no Minha Casa Minha Vida
Venezuela: Máquina caça votos
Português nota zero: 'Egnorancia' no ensino superior

FOLHA DE S. PAULO
Maduro vence por margem estreita
Piloto da Gol terá bônus se economizar combustível
Aluno fica sem aula em instituto federal modelo
Indústria sofre com falta de foco na infraestrutura
Jornada católica planeja obter recursos públicos

O ESTADO DE S. PAULO
Ministros usam jatos da FAB em 6 mil voos
Estatal de aeroportos terá aporte bilionário
Milho vai para a China, mas não para o Nordeste

VALOR ECONÔMICO
Aos 26 anos, Norte-Sul continua fora do trilho
Inflação tem mais impacto no juro futuro
Economia, desafio na Venezuela

BRASIL ECONÔMICO
Receita ficará 24h nos aeroportos para apressar a liberação de cargas
Cartão pré-pago terá autorregulação
Fórum da indústria

ESTADO DE MINAS
Pavor na sala de aula
Coreia do Norte: Tensão cresce com rejeição a ultimato
Um drama nacional

O TEMPO (MG)
Falta fiscalização para leis de proteção do consumidor no país
Pesquisa dá vitória a Maduro
Investidas contra o Ministério Público habitam o Legislativo
Dilma e Lula juntos na capital

CORREIO BRAZILIENSE
Nicolás Maduro enfrenta o desafio de suceder Chávez
Cresce apreensão de anabolizantes
Inflação não desanima investidor estrangeiro
Estados seguem mau exemplo do Congresso

GAZETA DO POVO (PR)
Sem verba federal, Paraná atrasa prevenção de desastres naturais
Venezuela vai às urnas em disputa polarizada
Vacina contra HPV mais acessível
Falta de poder do Procon desencoraja reclamações
Desaposentadoria atingiria 700 mil pessoas, mas governo é contra
Vacinação contra a gripe começa hoje nas unidades de saúde

ZERO HORA (RS)
Jovem de 21 anos confessa assassinato de seis taxistas
Herança de problemas: CEEE ainda deve operar quatro anos no vermelho
Disputa na Venezuela: Suspeitas de irregularidades marcam eleição pós-Chávez

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Ações contra a seca chegaram atrasadas
Após eleição, troca de farpas na Venezuela
Porto de Suape

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do País

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Dilma e Lula vão a reduto de Aécio e reforçam pré-campanha

Presidente entregará imóveis populares; tucanos criticam agenda

BRASÍLIA - Depois de São Paulo e Fortaleza, a caravana do ex-presidente Lula faz escala hoje, com a presença da presidente Dilma Rousseff, em Belo Horizonte, reduto do pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG). Além de reforçar a campanha antecipada à reeleição de Dilma, o evento, cujo tema será Educação, servirá também para fortalecer o pré-candidato petista ao governo de Minas em 2014, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento).

Além de participar da comemoração dos dez anos do PT no governo, Dilma irá no dia seguinte ao município de Ribeirão das Neves entregar imóveis do programa Minha Casa Minha Vida, retroescavadeiras e motoniveladoras. Já Lula receberá hoje homenagem na Assembleia Legislativa.

A oposição criticou a visita da presidente Dilma a Belo Horizonte, classificando sua agenda como eleitoral. O presidente do PSDB de Minas, deputado Marcus Pestana, afirmou que a presidente só vai à capital em agenda partidária, e que teria incluído a programação em Ribeirão das Neves de última hora, para tentar disfarçar e ter uma agenda oficial:

- Ela é presidente de todos os brasileiros, mas em Belo Horizonte só aparece com a roupa petista. Gostaríamos que ela viesse como presidente da República para inaugurar a planta de acrílico que foi para a Bahia; a fábrica da Fiat que foi para Pernambuco; o metrô de Belo Horizonte, que nos dez anos de PT não ganhou uma estação; algum hospital - disse o tucano.

Já o presidente do PT mineiro, deputado Reginaldo Lopes, afirma que o PT tem muito o que comemorar nesses dez anos, e que o partido quer reforçar a comparação com os governos de Fernando Henrique Cardoso:

- Os indicadores são extraordinários. Essa é a melhor década da República nos últimos cem anos.

À medida que seus prováveis adversários nas eleições do ano que vem - Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves - colocam o bloco na rua, Dilma reforça sua agenda de viagens, principalmente no Nordeste.

PT investe onde partido foi derrotado

A candidatura à reeleição de Dilma foi lançada por Lula em fevereiro, em São Paulo, no primeiro evento para comemorar os dez anos do PT no governo. Em seguida, a caravana foi a Fortaleza, sem a presença de Dilma, onde o PT investe no racha do PSB. Os irmãos Ferreira Gomes - o governador Cid e o ex-ministro Ciro - defendem a reeleição de Dilma, apesar da pré-candidatura de Eduardo Campos.

O roteiro traçado pelo PT para a caravana do ex-presidente Lula, que prepara os alicerces para a campanha de reeleição da presidente Dilma, privilegiou cidades onde o partido é fraco ou foi derrotado nas eleições municipais do ano passado.

Não é à toa que a peregrinação começou pelo Nordeste, região em que os petistas sempre tiveram mais votos, mas perderam terreno nas últimas eleições - foram derrotados em Fortaleza, Recife e Salvador.

Lula também vai a Porto Alegre, onde os petistas também perderam as eleições municipais. O ex-presidente ainda irá a cidades como Manaus, onde o partido nem teve candidato, e ao Rio, onde a relação entre peemedebistas e petistas está conturbada.

Fonte: O Globo

Ministros usam jatos da FAB em 6 mil voos

Em pouco mais de dois anos de governo, integrantes do primeiro escalão usaram jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB) em 5,8 mil voos. As viagens correspondem a uma distância de dez vezes o caminho de ida e volta à Lua e tem um custo estimado em R$ 44,8 milhões. Parte dos voos serviu para compromissos particulares ou partidários.

Primeiro escalão de Dilma utiliza jatinhos da FAB em viagens de agenda ‘maquiada’

Integrantes do primeiro escalão da presidente Dilma Rous-seff usam jatinhos da Força Aérea Brasileira (FAB) para viagens de agenda amaquiada5?? com compromissos não relacionados à sua atividade no governo Também recorrem às aeronaves privê a fim de voltar para casa no fim de semana quando poderiam optar por voos comerciais disponíveis nos mesmos horários.

Em pouco mais de dois anos de governo Dilma, os voos em jatinhos do primeiro escalão somam uma distância equivalente a dez vezes o caminho de ida e volta à Lua. Foram 5,8 mil voos, com custo estimado de R$ 44,8 milhões, segundo cálculo feito pelo professor Fernando Martini Catalano, chefe do Departamento de Engenharia Aeronáutica da USP em São Carlos, a pedido do Estado a FAB não divulga o número por considerá-lo "estratégico".

No início do mandato, Dilma recomendou parcimônia no uso dos jatinhos. Isso não impediu que os pousos e decolagens aumentassem 5% de 2011 para 2012 e o tempo de voo crescesse 10%.

O decreto presidencial 4.244, de 2002, define as prioridades de utilizacão das aeronaves emergencias de segurança ou médica têm preferência. Depois, vêm as viagens a serviço. Recorrer ao táxi aéreo público para deslocamento às residências nos Estados aparece apenas como terceiro item de prioridade de uso.

São 18 aeronaves à disposição de ministros, vice-presidente da República e presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal. Dilma tem dois jatos, exclusivos da Presidência.

Agencias O ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, Luís Inácio Adams, recorreu a um Embraer ERJ145, com capacidade para ao menos 36 passageiros, para visitar, em 22 de agosto de 2011, uma segunda-feira, o ex-presidente Lula no Instituto Cidadania, em São Paulo. A preços de hoje, a viagem nessa aeronave custaria cerca de R$ 6,6 mil, ante R$ 700 em trecho de carreira, cotado, para o mesmo horário, com três dias de antecedência. Apesar de estar entre as atribuições da AGU cuidar de casos envolvendo ex-presidentes, a agenda oficial de Adams não registrou o evento.

O então ministro da Educação, Fernando Haddad, também participou do encontro com Lula. Discutiu sua futura candidatura à Prefeitura de São Paulo. Ele havia chegado ao interior de São Paulo, também de jatinho público, na sexta-feira anterior para eventos do governo em São José dos Campos. Justificou sua permanência na capital paulista dizendo que teria de dar uma entrevista, como ministro, a uma rádio na segunda-feira. Horas depois estava com Lula falando da eleição municipal.

Em 16 de janeiro deste ano, o vice-presidente Michel Temer, chefe do PMDB, solicitou um Embraer ERJ 135 para decolar de Brasília para São Paulo, às 18h. Na manhã seguinte, passou o dia a serviço do partido, negociando a candidatura do deputado peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN) ao comando da Câmara. A noite, participou de jantar de apoio ao parlamentar num restaurante dos Jardins. "É a vez do PMDB", disse o vice-presidente no evento. Sua agenda não registra nenhuma tarefa de governo na data.

Em 9 de outubro do ano passado, coube à Aeronáutica levar Temer a um encontro com Haddad, no qual costurou o apoio de seu partido ao petista no 2.0 turno das eleições municipais. O jato partiu do Rio de Janeiro para São Paulo na véspera, às 18h. Segundo o site da Vice-Presidência, Temer não teve atribuições governamentais naquela data.

Na Esplanada dos Ministérios, é comum o uso de compromissos genericamente descritos nas agendas oficiais para justificar viagens a bordo da esquadrilha do governo. Um dos mais freqüentes passageiros da FAB, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, embarcou em 17 de fevereiro de 2012 para São Paulo, uma sexta-feira, a título de participar de "reuniões internas" no prédio do Banco do Brasil.

A FAB também foi buscar ministro no retorno de evento que celebrou os dez anos do PT no poder, em 20 do mês passado em São Paulo. Naquele dia, uma quarta-feira, José Eduardo Cardozo (PT) despachou em Brasília até as 17h, viajando em seguida para a festa. Não pediu o benefício na ida, mas, segundo as planilhas da Aeronáutica, usou um na volta, no dia seguinte, às 15h.

Despropositado. Procurador do Ministério Público no Tribunal de Contas da União (TCU), Marinus de Vries Marsico diz que práticas do tipo são "absolutamente despropositadas". "Não me custaria pedir uma investigação sobre esses casos, porque é ouso da máquina pública para privilegiar um partido em detrimento de outros."

Ele afirma que, embora não seja ilegal, requerer estrutura pública apenas para voltar para o Estado de origem, com finalida-de privada, não está em consonância com o princípio da moralidade. "A Força Aérea Brasileira não é companhia de táxi aéreo e o ministro que quiser visitar sua casa deveria embarcar em um voo de carreira, como qualquer outro cidadão", comenta.

Entre os auxiliares de Dilma, há quem destoe do comportamento padrão. O ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, que não voou nenhuma vez em aviões federais, diz preferir a aviação comercial porque pode ser reservada com mais antecedência e a preços mais baixos. “Considero que, se o trajeto de avião de carreira sair mais barato e não houver impedimento para usá-lo, essa opção é a mais recomendável.”

Fonte: O Estado de S. Paulo

Milho vai para a China, mas não para o Nordeste

Apesar de o Brasil ser grande exportador de milho, parte de rebanho do Nordeste está morrendo de fome. Com a safra de soja à plena carga e estradas em péssimas condições, caminhoneiros se recusam a levar o milho para o Nordeste. Tem sido mais fácil atravessar 17 mil km de oceano até a China que transpor 3,5 mil km entre Sorriso (MT) e Recife (PE).

É mais fácil levar milho para a China do que para Recife

Com o apagão logístico, faltam caminhões para levar o produto da região Centro-Oeste para o Nordeste para alimentar os rebanhos

Renée Pereira

Enquanto o Nordeste vê parte de seu rebanho ser aniquilada por falta de comida, numa das piores secas da região, o Brasil se transforma no maior exportador de milho do mundo. A situação, que à primeira vista pode parecer um contrassenso, é mais um efeito devastador do caos logístico que assola o País. Produto há. O que não tem é transporte para levar o milho do Centro-Oeste para o Nordeste.

Hoje, apesar dos enormes congestionamentos nos portos, tem sido mais fácil atravessar 17 mil km de oceano até a China do que transpor 3,5 mil km entre Sorriso (MT) e Recife (PE), por exemplo. Com a safra de soja à plena carga e estradas em péssimas condições, os caminhoneiros se recusam a levar o milho até as cidades nordestinas. Quando raramente aceitam, o preço do frete dobra o valor do produto.

Uma das justificativas, além das deficiências da malha rodoviária, é que no transporte até os portos, o caminhão vai com soja e volta com fertilizantes, por exemplo. Para o Nordeste, além de gastar entre 8 e 10 dias (dependendo da cidade) de viagem, a carreta sobe cheia, com milho, e volta vazia. "Junta-se a isso a nova lei dos caminhoneiros, que reduziu a carga horária dos profissionais e, consequentemente, diminuiu a frota de veículos disponível para o transporte no Brasil", afirma o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Cesário Ramalho.

Para tentar resolver o problema no Nordeste, a Conab, do Ministério da Agricultura, decidiu fazer três leilões para aquisição do produto, com cláusulas que obrigam o vendedor a entregar o produto na região. No primeiro, realizado no fim de março, o governo comprou 50 mil toneladas de milho por R$ 43 a saca - em Campinas, uma das referências nacionais, o preço é de R$ 25.

Na quarta-feira, a Conab promove outro certame para 103 mil toneladas de milho, que deverão ser entregues nos portos do Nordeste. A expectativa é usar a cabotagem parà fazer o transporte. "Neste caso, vamos fazer uma doação aos Estados que poderão vender o produto a R$ 18,12 a saca", afirma o diretor de Operações e Abastecimento da Conab, Marcelo de Araújo Melo. Ele completa que ainda haverá outro leilão para compra de mais 70 mil toneladas nos moldes da primeira disputa. "O governo está sendo ágil. Agora precisamos rezar para chover."

Mais caminhões. Na opinião dos produtores locais, será preciso muito mais para resolver os problemas. "Só entre os pequenos produtores a demanda é de 300 mil toneladas de milho", afirma o presidente da Associação Cearense de Avicultura, João Jorge Reis. Para ele, a situação tende a piorar daqui para frente, se não chover na região. Com a produção de soja sendo escoada para os portos e o início da safra de açúcar, a demanda por caminhões vai aumentar. "Seremos duplamente sacrificados, ou pelo aumento do preço do frete ou pela falta do produto."

Ele explica que durante muitos anos o Nordeste foi abastecido pela importação de milho da Argentina, de 15 em 15 dias. A partir de 1995, a compra foi suspensa e os produtores passaram a adquirir milho do Centro-Oeste. Em 2007, essa parceria terminou. "O governo parou de comprar milho e fazer estoque. Agora estamos nessa situação." A solução apresentada por Reis e por Ramalho, da SRB, é voltar a importar milho do país vizinho, apesar de os produtores de grãos terem o produto estocado.

"Não temos condições de transportar o produto dentro do Brasil por caminhões nem levar pelos portos. Na Argentina, os terminais não estão sob tanta pressão. Será mais fácil e barato (trazer o milho)", diz Ramalho. Mas a decisão não é bem aceita pelo governo, já que representaria um desgaste político muito grande explicar por que importar um produto que o Brasil tem em estoque.

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli, defende a adoção de políticas públicas que permitam o aumento da produção do grão no Nordeste para reduzir a dependência da região de outros Estados. "Já apresentamos sugestão completa para o Ministério da Agricultura. Hoje o Mato Grosso produz cerca de metade da safra nacional."

O desabastecimento do Nordeste é reflexo da falta de rotas alternativas para escoar a safra agrícola brasileira. Sem ferrovias e hidrovias suficientes e baixa oferta de cabotagem (transporte interno de navio pela costa brasileira), a única alternativa é transportar os grãos por caminhão, em rodovias precárias, afirma o coordenador do Movimento Pró-Logística de Mato Grosso, Edeon Vaz Ferreira.

"No momento em que tivermos mais hidrovias, a BR-163 concluída ou uma nova regulamentação para a cabotagem, o caminho para o Nordeste ficará menos restrito", avalia o especialista. Ele acredita que o plano do governo de levar o milho do segundo leilão (103 mil toneladas) por navio para o Nordeste pode ser comprometido pela falta de oferta e elevado custo.

Falta de rotas alternativas agrava desabastecimento

Pela regra atual, diz Ferreira, o custo de uma carga do Rio Grande do Sul até o Nordeste feito por cabotagem é o mesmo de uma viagem de Santos à China.

A solução apresentada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) ao Ministério da Agricultura é a construção de dois grandes armazéns na região, com capacidade para 100 mil toneladas cada.

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli, aposta nas hidrovias para reduzir os estragos que a infraestrutura provoca no agronegócio. "Com a construção de duas eclusas, a hi-drovia Araguaia-Tocantins ajudaria bastante."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Campos ataca área social do governo

Para governador de PE, os dois últimos anos não foram "os desejados"

Letícia Lins

SÃO LOURENÇO DA MATA (PE) Em movimentação constante pelo país, estrela principal das inserções de TV de seu partido, e dando início a uma série de seminários da sigla, os chamados "Diálogos para o desenvolvimento", o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), afirmou ontem que os dois últimos anos do Brasil "não foram o que nós desejamos" e disse ser "preciso aperfeiçoar" os avanços da área social do governo federal. Ainda negou que esteja em pré-campanha para a sucessão.

Os comentários de Campos foram feitos depois de semanas seguidas tecendo críticas à política econômica da presidente Dilma Rousseff, já que as desonerações, segundo ele, não alcançam os efeitos desejados e provocam prejuízos "às finanças de estados e municípios". O socialista conversou rapidamente com os jornalistas em São Lourenço da Mata, onde participou de cerimônia na Arena da Copa, como é chamado o estádio que vem sendo construído na cidade pernambucana para eventos esportivos internacionais.

PSB promove seis seminários

Campos disse que o PSB fará, ao todo, seis seminários e que um documento resultante dos encontros será editado até dezembro. A publicação será enviada à presidente, como "prova do esforço do partido" para contribuir com o futuro do país. Negou, no entanto, que o resultado dos encontros do PSB seja o plano alternativo de governo de uma eventual candidatura à sucessão de Dilma. Mas ratificou que abordará três dos temas que ele mais tem cobrado do governo: a retomada do crescimento econômico, o controle da inflação, e a preservação do mercado de trabalho.

- O PSB trabalha assim. Vem fazendo um conjunto de seminários e o primeiro deles ocorreu no sábado, dia 6, na PUC do Rio de Janeiro. Teremos mais cinco em outras regiões do país. As pessoas querem discutir suas preocupações, além de eleições. Não estão pensando só nisso. E não é proibido fazer política assim, como nós fazemos. No dia que isso for proibido, fazer política vai ficar muito chato - disse o governador. - Há todo um reconhecimento do esforço, tanto do governo do ex-presidente Lula quanto o de Dilma, na área social, que é preciso aperfeiçoar.

Campos nega plano de poder

Segundo Campos, os debates ajudariam na retomada do crescimento, na preservação do mercado de trabalho, e a conter a inflação.

- Falam que isso é um plano de poder mas, sinceramente, não é esse o objetivo - disse, ao afirmar que seu partido faz política com "P" maiúsculo:

- O PSB está fazendo o maior esforço para fomentar a discussão política com P maiúsculo. O mundo inteiro está discutindo o futuro, e é isso que estamos fazendo.

Para o governador, o PSB apenas toma uma "atitude de responsabilidade".

Fonte: O Globo

Aécio Neves diz que PT 'precisa de férias'

Silvio Barsetti

O ex-governador de Minas Gerais e senador Aécio Neves, provável candidato do PSDB à Presidência da República, disse, na manhã deste domingo, que a oposição vai "dar férias" ao PT, há dez anos no poder. Apesar dos desencontros entre Aécio e o tucano paulista José Serra, o senador mineiro disse que os dois estão juntos no projeto de evitar a continuação do PT no poder. "Temos objetivos comuns e vamos dar umas férias ao PT. O PT precisa de férias para se reorganizar e voltar às suas origens", disse Aécio.

Aécio assistiu da tribuna de honra do Maracanãzinho à final da Superliga masculina de vôlei, entre o time mineiro Sada Cruzeiro e o carioca RJX, do empresário Eike Batista. O ex-governador minimizou o desencontro da semana passada, quando Serra atribuiu a uma crise de coluna a ausência no congresso do PPS, que teve a presença de Aécio Neves, na quinta-feira (11). O ex-governador de São Paulo foi ao encontro do PPS no dia seguinte.

Aécio disse que, de fato, Serra teve um problema de saúde e por isso os dois não estiveram juntos em Brasília. Ao lado do presidente da Federação Internacional de Vôlei, Ary Graça, e vigiado por seguranças, Aécio torceu para a equipe mineira. O senador disse que a oposição tem de "conversar com o Brasil'' e "construir o projeto mais ético, mais eficiente e mais moderno para o País".

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eduardo: críticas "sem viés eleitoral"

Colocando o PSB como "fomentador do debate", governador afirma que os últimos dois anos "não foram como desejávamos" e que a discussão é sobre o "futuro do País"

Carolina Albuquerque

Durante a entrega da Arena Pernambuco ontem, o governador Eduardo Campos (PSB) voltou a mirar o governo da presidente Dilma Rousseff (PT). "O Brasil teve dois anos que não foram exatamente como nós desejávamos", resumiu o socialista, cotado à Presidência da República nas eleições de 2014. Enquanto o presidenciável tem tratado seus "alertas" sobre a economia brasileira como um "debate necessário", nos bastidores do PT a estratégia é de pregar a pecha de que "há uma torcida contra o País", segundo afirmou a coluna Painel da Folha de S. Paulo, ontem.

"Temos uma tarefa que é fazer o debate, que não tem o viés eleitoral como muitos querem dar. É sobre o futuro do País. O que podemos fazer para o Brasil ganhar este ano? Precisamos retomar o crescimento econômico, conter a inflação, preservar o mercado de trabalho e gerar mais", frisou o governador. Afastando de si qualquer especulação eleitoral, Campos colocou o PSB como um "fomentador do debate". Como exemplo, destacou o seminário Diálogos do Desenvolvimento Brasileiro, de onde sairá uma publicação até o final do ano com sugestões para o futuro do País.

Ele define a iniciativa como uma "contribuição de conteúdo do PSB". "O que temos procurado fazer é uma discussão política com ?P? maiúsculo sobre o futuro do Brasil." E completou: "Há reconhecimentos sobre os avanços do governo lula e Dilma nessa questão social. Mas existe pensamentos de que há o que aperfeiçoar. É um debate que tem diversas linhas, para ter contradição, para haver o debate".

Questionado sobre o teor eleitoral das inserções nacionais do PSB, veiculadas desde a semana passada nas rádios e TVs, Campos rebateu. "O PSB está fazendo exatamente o que todos os partidos têm direito de fazer. Os partidos tem por lei um espaço para colocar suas ideias, mostrar o que está fazendo. Não estamos discutindo eleição", sentenciou. Apesar da negativa, as inserções tem no governador e no seu governo a principal e única estrela. Através do slogan "é possível fazer mais", é ele o único a falar. Há apenas duas citações a administrações socialistas, a do Ceará e a de Belo Horizonte (MG).

Fonte: Jornal do Commercio (PE

PPS e PMN acertam processo de fusão

Siglas temem que legislação restritiva em análise prejudique ação política

Em um primeiro efeito da possibilidade de aprovação de novas regras para dificultar a atuação de partidos de pouca expressão, o diretório nacional do PPS aprovou no final de semana a fusão com o Partido da Mobilização Nacional (PMN). Os passos legais para a união das duas siglas serão tomados na quarta-feira, em congressos extraordinários dos partidos que serão realizados em Brasília.

O PPS informa que o processo de fusão, que já vinha sendo costurado há meses, foi antecipado "em virtude de um golpe engendrado pelo governo do PT para impedir a criação de novos partidos". O congresso extraordinário do PPS acontece a partir das 10 h da próxima quarta-feira.

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), explicou que a nova formação política iniciada com a decisão não se restringe apenas fusão com o PMN.

– Estamos convocando esse congresso para empreendermos uma fusão com o PMN e ou outra sigla, o que nos garante um plano B – disse ele.

Freire afirmou que "com a tentativa de golpe representada pela votação no Congresso, na próxima semana, da urgência do projeto que quer impedir a formação de novos partidos, não há mais tempo a perder".

Ele lembrou que a ex-ministra Marina Silva e o deputado Paulo Pereira da Silva também estão empenhados em erguer suas próprias estruturas e "as normas não podem ser mudadas ao longo do jogo, como quer o governo".

O deputado compara a fusão com a mudança do PCB para PPS.

– Só que naquela época foi dolorido; não nascemos numa festa – afirmou.

Ele lembrou que o Partido Comunista Italiano havia mudado um ano antes do PCB com o intuito de se ampliar, como foi o caso também do PPS.

A partir da fusão, deverá ser aberto um prazo de 30 dias para que os políticos mudem para o partido sem o risco de perder o mandato. Esse período também é conhecido como "janela".

Com a criação da janela, a expectativa de parte dos integrantes do PPS é que o ex-governador José Serra deixe o PSDB para fazer parte da nova legenda – o que possibilitaria, por exemplo que o tucano garantisse participação como candidato outra vez à Presidência da República.

Fonte: Zero Hora (RS)

Partidos se mobilizam para evitar perdas com nova sigla

PSD de Kassab e DEM temem defecções com a fusão do PPS com o PMN

Eduardo Campos ajuda a organizar legenda, que poderá aumentar o tempo de TV da oposição na corrida presidencial

Daniela Lima

SÃO PAULO - Dirigentes de partidos que podem perder deputados para a nova sigla que nascerá da fusão do PPS com o PMN começaram a se mobilizar para evitar defecções em suas bancadas. A união das duas legendas está prevista para ser formalizada quarta-feira.

O PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab e o DEM, presidido pelo senador Agripino Maia (RN), são os dois partidos mais ameaçados de perder deputados para a nova legenda.

O objetivo da nova sigla, que deverá se chamar Mobilização Democrática, é aumentar o tempo de televisão e os recursos financeiros que a oposição terá na campanha presidencial do ano que vem.

No Congresso, calcula-se que o PSD poderá perder 15 de seus 48 deputados para a nova legenda, considerando as ligações que integrantes do partido de Kassab têm com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Campos, que há dois anos ajudou Kassab a criar o PSD e agora deseja ser candidato a presidente da República, colaborou com o deputado Roberto Freire (PPS-PE) na organização da sigla que deve ser criada nesta semana.

Os dois se encontraram há cerca de um mês para discutir o assunto, num hotel em Brasília, e o governador ofereceu a assessoria de advogados do PSB para a organização do novo partido.

Outra dificuldade para Kassab é que muitos deputados do PSD são oriundos da oposição e não concordam com sua recente aproximação com a presidente Dilma Rousseff, que planeja concorrer à reeleição em 2014.

O ex-prefeito diz não se preocupar com a possibilidade de perder filiados. "O que todos têm, a começar por mim, é muita admiração pelo Eduardo [Campos], mas ninguém quer sair", afirmou.

O DEM, que perdeu mais de uma dezena de parlamentares para Kassab em 2011, está alarmado com a possibilidade de ver sua bancada de 28 deputados encolher mais.

Advogados da sigla entregaram ontem a Agripino Maia parecer que aponta um caminho jurídico para cassar os mandatos dos parlamentares que deixarem a legenda.

A legislação eleitoral pune com a perda do mandato os políticos que trocam de partido, mas abre exceções para a criação de novas agremiações e fusões de siglas.

Ao aprovar a criação do PSD de Kassab há dois anos, o Tribunal Superior Eleitoral decidiu que a nova sigla absorveria parte do tempo de TV e do dinheiro dos partidos que perderam deputados.

Um minuto

Segundo articuladores da fusão, Kassab agora quer acabar com a decisão que o beneficiou. Ele trabalha para aprovar amanhã na Câmara projeto de lei que proíbe a transferência de tempo de propaganda e recursos dos partidos nesses casos.

Juntos, PPS e PMN têm hoje 13 deputados. Os organizadores da fusão calculam que será possível chegar a 30, o suficiente para garantir cerca de um minuto extra na propaganda eleitoral na TV.

Os advogados do DEM dizem que, em caso de fusão, apenas os deputados filiados aos partidos que se uniram seriam beneficiados pela brecha na lei eleitoral. Para o PPS, o que valeu para Kassab também vale agora.

Deputados que quiserem migrar para o novo partido terão 30 dias para fazê-lo após a criação da sigla.

A movimentação preocupa Dilma e seus aliados, e é vista com simpatia no PSDB, maior partido da oposição.

O governador Geraldo Alckmin disse à Folha que a fusão é "positiva". O ex-governador José Serra, descontente no PSDB, foi convidado a migrar para a nova sigla e estuda a possibilidade.

Fonte: Folha de S. Paulo

Tolerância zero – Aécio Neves

Não dá mais para tentar esconder a escalada da inflação, como insiste em fazer o governo federal, tratando-a como se fosse um parente incômodo atrapalhando a festa da família.

Os fatos estão aí, incontestáveis. O Dieese apontou que os preços dos gêneros alimentícios essenciais continuaram em alta e subiram em 16 das 18 capitais, onde o órgão faz pesquisa sobre a cesta básica.

Ligado aos sindicatos de trabalhadores, o Dieese é 100% insuspeito de alarmismo para assustar a população, atitude que os petistas teimam em atribuir à oposição.

A alimentação no domicílio saltou cerca de 14% em 12 meses. O bom humor dos brasileiros fez a disparada do preço do tomate virar piada nacional. Mas podia ser a farinha de mandioca, que teve crescimento de 151% em um ano.

O impacto é maior entre as famílias mais pobres. Elas gastam do seu orçamento com comida e bebida bem mais que as famílias mais ricas.

Para ampliar a lista de notícias ruins, a inflação anual registrada em março, de 6,59%, estourou o teto da meta, fixada em 4,5%, com margem de dois pontos percentuais.

Confirmou-se também que a pressão maior veio dos alimentos. No trimestre, tomate, cebola e cenoura foram as altas de destaque, 60,9%, 54,9% e 53,3%, respectivamente.

Em boa parte, o descontrole nos preços está associado à forma equivocada como o governo federal gasta, a começar pela máquina administrativa em permanente regime de engorda.

A irresponsabilidade fiscal tem consequências maléficas. O país precisa se afastar, com urgência, do projeto anacrônico de inchaço estatal, reconhecidamente fracassado no planeta.

Cultiva-se uma farta distribuição de privilégios, movida com recursos públicos. Predomina a manipulação de setores importantes da economia para fins meramente políticos e partidários.

Ninguém sabe quanto custarão ao Tesouro Nacional as perdas da Petrobras e da Eletrobras, resultantes da má gestão. Ou do BNDES e da Caixa Econômica Federal para socorrer projetos empresariais de acerto duvidoso.

O PT sempre foi permissivo com a inflação. Basta lembrar que se posicionou contra o Plano Real, instrumento que derrotou a inflação e fez o país entrar numa era de prosperidade.

Os mais jovens não conheceram os dias difíceis vividos pela geração de seus pais e avós nos anos 80 e 90, quando os preços mudavam todos os dias nos supermercados e alcançavam a estratosfera.

Inaugurada pelo Plano Real, a estabilidade econômica converteu-se em patrimônio de todos os brasileiros e não pode ser colocada sob ameaça.

É senso comum que a marcha da inflação sacrifica os mais pobres, em primeiro lugar. Por isso, para nós, a receita é uma só: com a inflação, a tolerância é zero.

Aécio Neves, senador (PSDB-MG)

Fonte: Folha de S. Paulo

Em busca da Brasileia prometida - Marina Silva

Ex-ministra fala da pequena cidade acreana onde nasceram as reações contra o desmatamento e hoje abriga, como pode, mais de mil haitianos

Acompanho com atenção e preocupação as notícias da grande crise que atravessa a humanidade. Em toda parte há problemas: guerra, miséria, falência econômica e os desastres provocados pelas mudanças no clima. As sociedades mobilizam-se, buscam soluções, experimentam alternativas e cobram de seus governos ações e estratégias para viver nesta era de incertezas. Nesses movimentos e suas novas utopias procuro ancorar minhas esperanças.

Mas meu coração - devo confessar - voltou a ficar apertado com as notícias que chegaram de minha terra natal, onde, por estes dias, agravou-se uma situação que já dura dois anos. Na pequena cidade de Brasileia, no Acre, mais de mil imigrantes haitianos arrumam-se como podem num abrigo precário e sobrevivem com alimentos doados pelo governo estadual. São comoventes as imagens de sua pobreza e o olhar espantado de suas inúmeras crianças, lançadas numa vertiginosa mudança que não compreendem.

Mais dramática que a situação que encontram hoje em Brasileia é a memória do caminho que percorreram para chegar ali. Deixam sua pequena ilha natal em um barco que os leva até o Panamá. Daí seguem como podem, cruzando o Equador até chegar ao Peru, depois Bolívia. Atravessam florestas e montanhas, transportados como gado, clandestinos, explorados por traficantes de gente, vítimas de todo tipo de violência, expostos a doenças e acidentes, num caminho desconhecido que termina nas margens de um rio. Do outro lado está um país luminoso, uma terra de promessas, onde sonham refazer suas vidas e de suas famílias, devastadas por uma longa história de desgraças.

Não preciso descrever o Haiti, que conhecemos das notícias: uma ilha no Caribe em que uma população pobre, de origem majoritariamente africana, viveu por longos anos sob uma das ditaduras mais cruéis e tornou-se um símbolo mundial de miséria. Caetano Veloso, ao cantar a violência nos guetos e prisões brasileiras, denunciou a dubiedade que vivemos, em nossa sociedade cindida, na qual o Haiti é e não é aqui. Respiramos aliviados por não ter sido aqui o terrível terremoto que devastou a ilha e interrompeu milhares de vidas, entre elas a de nossa inesquecível Zilda Arns, que lá estava em sua missão de solidariedade. Seguiram-se as epidemias de doenças como a cólera e uma fome ainda maior, que a passageira e superficial solidariedade do mundo não consegue saciar. De tudo isso fogem os haitianos, em busca de um lugar não seja o Haiti.

É necessário, entretanto, que eu descreva Brasileia para um Brasil que não se conhece. Tantas vezes estive naquela pequena e agradável cidade, em companhia de Chico Mendes e outros companheiros de luta seringueira. Ali nasceram os "empates" contra o desmatamento, liderados por Wilson Pinheiro, que foi assassinado na sede do sindicato, um casarão de madeira ao lado de uma pracinha deserta, quase um terreno baldio. Brasileia era movimentada pelo comércio com a cidade boliviana de Cobija, que se avistava do outro lado do rio com seus prédios de alvenaria em antigas ruas calçadas com pedras trazidas das montanhas. Do lado de cá, paralela ao rio, a rua do comércio de Brasileia era adornada com árvores podadas de fícus-benjamin, em cuja sombra parávamos para tomar raspadilha ou picolé, nos intervalos das reuniões.

Muitas vezes alertamos o governo brasileiro: antes de pavimentar a estrada que leva ao Oceano Pacífico, era necessário proteger a floresta, demarcar as terras indígenas, diminuir as desigualdades sociais, pois a miséria e a violência certamente aumentariam com a exposição de uma sociedade frágil aos tráficos intensos de uma fronteira aberta. Não fomos ouvidos. Depois de Wilson, foram mortos vários companheiros, até Chico Mendes. Disseram que éramos contra o progresso, a produção agrícola, a carne farta e barata, os produtos importados que tirariam a Amazônia do atraso.

Assim, a outrora pacata Brasileia e suas vizinhas, a boliviana Cobija e a brasileira Epitaciolândia, assim como Xapuri, Assis Brasil, Plácido de Castro e todas as pequenas cidades do interior e da fronteira, transformaram-se em pontos de aglutinação do êxodo rural. Suas periferias inchavam e desinchavam a cada ano, com as famílias expulsas a ferro e fogo dos seringais, que ali paravam algum tempo antes de rumarem para a capital, Rio Branco, em que formariam novas e precárias periferias. Muito antes de chegar, o Haiti já estava aqui.

No início deste século, alguma coisa melhorou. A chegada de antigos companheiros de Chico Mendes ao governo do Acre e do Brasil diminuiu, por alguns anos, o ritmo da devastação e as desigualdades sociais. Os problemas permanecem e são muitos, mas há ao menos uma estrutura básica em que os serviços do Estado podem alcançar a população. Um alojamento precário e três refeições por dia o governo do Acre pode dar aos haitianos que atravessam a fronteira, algum atendimento à saúde e o transporte dos que conseguem se legalizar para que alcancem o mercado de trabalho em Porto Velho, Manaus ou Cuiabá.

Já se passaram dois anos desde que os primeiros imigrantes haitianos chegaram ao Acre. Mais de 4 mil deles passaram por ali e hoje estão espalhados pelo Brasil. O atendimento foi feito quase todo pelo governo do Estado, pois a ajuda do governo federal foi pouca e insuficiente, tanto no repasse de recursos quanto na articulação institucional. Nessa semana, a situação agravou-se a ponto de o governador Tião Viana decretar estado de emergência social e o senador Jorge Viana clamar publicamente pela atenção dos ministros e demais autoridades nacionais.

Finalmente, foi formada uma equipe interministerial e uma força-tarefa para acolher, atender, regularizar e encaminhar os imigrantes. Não é tão difícil para o Brasil. Mil ou 2 mil pessoas é um número pequeno se comparado ao volume total da migração entre o Brasil e os Estados Unidos ou a Europa. Temos 50 mil brasileiros ali mesmo ao lado do Acre, na Bolívia. Mais de 200 mil brasileiros vivem no Paraguai. E quantos milhares de bolivianos e paraguaios vivem em São Paulo?

Ajuda e 'ajuda'

O Brasil é um país aberto, com sua história pontuada por grandes imigrações e um antigo trabalho institucional com o trânsito de populações. Pode ajudar os haitianos, começando por fornecer apoio efetivo ao Estado do Acre e a seu povo, que é hospitaleiro, mas tem muitas limitações. Brasileia tem pouco mais de 20 mil habitantes. Seus equipamentos não suportam uma demanda tão grande e imediata.

Mas a ajuda que o País pode dar vai muito além do acolhimento aos imigrantes. Ela deve distinguir-se da "ajuda" internacional que vemos diariamente no noticiário, especialmente dirigida aos países africanos. Uma comitiva de governantes e empresários de um país economicamente emergente visita uma região mergulhada em crise social, oferece pequenas dádivas destinadas mais a manter do que superar a pobreza e aproveita para fazer bons negócios. A antiga expansão colonial disfarçada de solidariedade.

A ajuda real deve partir da realidade sociocultural local, com a internalização de conhecimento e tecnologia, reforço à educação, respeito e estímulo à autonomia, investimentos com retorno para a população local em médio e longo prazo. Não deve ser uma forma de competição para ampliar áreas de influência, mas deve reforçar as negociações multilaterais e os compromissos estratégicos da agenda mundial para vencer os desafios do século.

Um imperativo ético foi construído, nos últimos séculos, e se expressa na noção de humanidade. Vivíamos separados em povos isolados, Estados nacionais beligerantes, economias em competição, identidades culturais marcadas por um espírito defensivo e com necessidade de autoafirmação. A humanidade não se sentia inteira. Tudo está mudando rapidamente, com a interdependência econômica, a comunicação instantânea, as trocas e misturas multiculturais. Até mesmo as guerras e revoluções do século 20 levaram a uma emergência da humanidade, transbordando os limites dos Estados nacionais. Cada povo ou nação pode agora compreender-se como parte de um todo, cada pessoa pode sentir-se humana ao mesmo tempo que brasileira ou japonesa, asiática ou europeia. Realizam-se os versos de John Donne: "Nenhum homem é uma ilha".

É como humanidade, não apenas como Estados ou sociedades, que enfrentamos hoje nosso maior desafio: a mudança no clima do planeta em que vivemos. Ninguém está isento; até mesmo as poucas comunidades indígenas isoladas nos confins da floresta amazônica sofrem os efeitos da grande mudança. E não adianta construir torres, castelos, bolhas, qualquer tipo de abrigo ou defesa tecnológica. Foram encontrados no litoral dos Estados Unidos objetos e até motocicletas arrastados pelo tsunami desde o Japão. A água da chuva na Argentina vem, em nuvens, dos rios afluentes do Amazonas. A poluição da China sopra no vento do Saara. A Terra não tem fronteiras.

Eis o Haiti. Seus imigrantes são refugiados ambientais, como as populações que fogem da seca, das enchentes ou do gelo, em todos os continentes. Chegam ao Brasil pela Amazônia, justamente ao Acre, que quase todos os anos tem de abrigar milhares de famílias desalojadas de suas casas pelas enchentes dos rios. Talvez tenham que encontrar emprego no Nordeste, cujo povo pede socorro numa seca que, de tão longa, já se torna permanente. Ou no Sul castigado pelas geadas.

A responsabilidade é nossa. E também do Peru, da Bolívia, Equador, Panamá, de todos os países em que passam os haitianos em seu roteiro de fuga. A diplomacia brasileira precisa ajudar a liderar um esforço internacional pela solidariedade e pela garantia dos direitos humanos desses imigrantes.

Não há mais "eles", agora somos todos "nós". Haitianos.

* Marina Silva é ex-senadora pelo Acre e ex-ministra do Meio Ambiente

Fonte: O Estado de S. Paulo / Aliás

Choro fora de hora - Ricardo Noblat

Não há nada que justifique qualquer nova investigação sobre o chamado mensalão- José Dirceu

Foi Luiz Fux que admitiu ter saído por aí durante o segundo governo Lula à caça de apoios para ser nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). (Acabou nomeado por Dilma.) Em meio ao julgamento do mensalão, líderes do PT plantaram notas em jornais garantindo que o episódio acontecera. Irado, Fux aproveitou uma festa em Brasília e comentou o fato com o ex-deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF).

NA SEMANA SEGUINTE, procurado por Mônica Bergamo, colunista da “Folha de S. Paulo”0, admitiu que fizera, sim, campanha para ocupar uma vaga no STF . E que conversara a respeito com o ex-ministro José Dirceu. Conversou seis vezes. E mais de uma dezena com Evanise, mulher de Dirceu. Negou, porém, que tivesse prometido absolvê-lo caso participasse do julgamento. “Não me lembrei que ele era réu” , alegou Fux, o distraído.

ÀS VÉSPERAS DA publicação do acórdão do julga-mento, o que pretende Dirceu ao revisitar o episódio e dizer que foi assediado moralmente por Fux para ajudá-lo a se tornar ministro do STF? Vingar-se por ter bancado o bobão? Desmoralizar o ministro? Difícil que consiga. O distinto público está satisfeito com o resultado do julgamento. E com Fux e todos que votaram pela condenação dos réus.

DIRCEU IMAGINA sugerir que houve parcialidade no julgamento pelo menos da parte de Fux? Difícil de entender o raciocínio dele. Digamos que Fux prometeu votar a favor de Dirceu. Haveria parcialidade se ele tivesse honrado a palavra. Ou a intenção de Dirceu seria forçar a Procuradoria Geral da Re-pública a investigar o comportamento de Fux? Com base em que provas? Fux tem credibilidade, Dirceu, não, segundo o procurador .

QUANTOS MINISTROS não procederam como Fux para ganhar uma cadeira no STF? Joaquim Barbosa foi um dos poucos que não procederam. O objetivo de Dirceu não era esse , certamente não era, mas ao dizer o que disse sobre Fux pode ter estimulado uma discussão acerca do que os três poderes da República sempre passaram ao largo — a natureza doméstica do processo de escolha dos ministros de tribunais superiores .

A CONSTITUIÇÃO exige de um aspirante a ministro que tenha notório saber jurídico e reputação ilibada. A escolha é do presidente da República, submetida ao Senado. Na história de mais de 100 anos do STF , o Senado só rejeitou um nome. A aprovação, portanto , é um mero e inócuo ritual. Ninguém se interessa em interrogar a fundo um candidato a ministro. E se no futuro precisar dele no exame de alguma questão?

JOAQUIM BARBOSA tem um notável currículo. O que pesou mais para que virasse ministro, contudo , foi sua cor . Em certa época, Lula encantou-se por ministros temáticos — negro, mulher , do Nordeste, do Sudeste. Dias Toffoli entrou na cota do PT . Dele não se exigiu notório saber jurídico. Por duas vezes foi re-provado em concursos para juiz. O que vale é que por longo tempo serviu a Lula e ao PT com lealdade .

SE DIRCEU DISCORDA do modo pouco republicano como os ministros do STF costumam ser indicados, deveria , no mínimo, ter dado um for a em Fux ao ser procurado por ele atrás de patrocínio. Se não discorda, choraminga for a de hora. Deixou Dilma sob a suspeita de que promoveu Fux a ministro de olho no voto favorável dele à absolvição dos mensaleiros. Na verdade, o maior cabo eleitoral de Fux foi Antonio Palocci.

A PRISÃO ESPERA Dirceu. Uma aposentadoria cinco estrelas, Fux. Que não pode se queixar da vida amena e repleta de mimos que leva desde agora

Fonte: O Globo

Inflação e voto - Vinicius Mota

De cada 100 brasileiros aptos a comparecer às urnas em outubro do ano que vem, 40 tinham menos de 16 anos ou nem haviam nascido quando o Plano Real liquidou a superinflação. Para essa fatia do eleitorado, é fraca a memória de preços galopantes, corridas aos supermercados no dia do pagamento e estresse cotidiano com o valor do dinheiro no banco.

Em meados dos anos 1990, o Brasil aproveitou-se tardiamente de uma onda mundial que, desde o início da década anterior, vinha reprimindo a inflação. O feito propiciou ao consórcio liderado por Fernando Henrique Cardoso oito anos de domínio da Presidência da República.

Os pressupostos da política econômica sob FHC foram mantidos pelo PT nos seis anos seguintes. Até que apareceu a crise financeira no final de 2008. Três décadas depois, os parâmetros que haviam baixado a inflação no mundo e inaugurado uma era de frenética finança global estavam de pernas para o ar.

Para quem gosta de fixar-se a padrões algo misteriosos, talvez haja ciclos longos, de 25 a 30 anos, alternando-se no capitalismo mundial. Estaríamos agora de novo entrando num período de maior tolerância com a inflação?

Na vizinhança, Argentina e Venezuela já reabriram a caixa de Pandora inflacionária. O efeito indesejável, para seus governantes, é o potencial político desestabilizador dessas variações abruptas no poder de compra das famílias.

Logo após o chamado milagre econômico da ditadura militar brasileira, a "carestia" animou a primeira vitória eleitoral da oposição, o MDB, em 1974. A inflação costuma oferecer aos adversários de quem está no governo uma plataforma imediata e poderosa de contestação.

A oposição ao PT no Brasil já entendeu esse jogo. Por isso, elevar os juros e evitar a escalada dos preços passou a ser crucial para a reeleição de Dilma Rousseff.

Fonte: Folha de S. Paulo

Em busca do tomate perdido - José Roberto de Toledo

Enquanto presidenciáveis da oposição falam para empresários è públicos j á catequizados, Dilma Rousseff (PT) acelera a própria sucessão. Transforma inaugurações em comícios, e pronunciamentos formais em discursos de campanha. O descompasso entre a velocidade da presidente e a lentidão dos opositores faz parecer que são eles e não ela a ostentar intenção de voto recorde.

Dilma tem 35% das intenções de voto espontâneas tanto no Ibope quanto no Datafolha. É uma taxa inédita para um presidente disputando reeleição a um ano e meio do pleito. Mas grande parte desses eleitores é cativa, declara voto no candidato petista seja ele quem for. Partidários, aprovam qualquer gestão do PT.

É o que acontece com o prefeito paulistano Fernando Haddad, cujo saldo de aprovação com cem dias de mandato só não é maior do que o de outra prefeita petista de São Paulo: Marta Suplicy. Mas Marta não conseguiu se reeleger - porque o eleitorado cativo do PT nunca basta para um petista alcançar maioria absoluta.

A questão, portanto, não é quão intenso está ou não o apoio do terço de petistas ao seu candidato, mas qual a força da candidatura do PT nos outros dois terços do eleitorado - seja o brasileiro ou o paulistano.
Segundo o Datafolha, quase metade dos 35% de votos espontâneos de Dilma vem hoje de eleitores que se declaram petistas ou simpatizantes. É um fato contra o qual a oposição pode pouco.

O peso dos petistas no total dos que declaram voto em Dilma diminui quando a intenção de voto é estimulada. Isso ocorre porque mais eleitores não petistas tomam conhecimento, pelo pesquisador, de quem são os candidatos e, a partir dessa informação, escolhem um nome. Se só conhecem ou ouvem falar do nome de Dilma, tendem a citá-lo com mais frequência.

Esse é o campo de manobra dos oposicionistas. Mas, para manobrar, os candidatos a presidente da oposição precisam se tornar conhecidos e ter um discurso com apelo às aspirações desses eleitores não petistas. Por enquanto, nenhum presidenciável oposicionista encontrou seu público nem seu mote.

"Faremos uma campanha permanente de oposição clara ao governo do PT porque, para o Brasil, esse ciclo de governo do PT precisa e deve ser interrompido", disse Aécio Neves (PSDB-MG), em seminário promovido pelo PPS na Câmara dos Deputados.

A frase joga a oposição ao futuro, como algo a ser feito. Antes tarde do que nunca. Mas ao chamar sua campanha de "permanente", as palavras do candidato contradizem os votos do senador.

Nos dois primeiros anos de mandato, Aécio foi mais governista do que opositor nas votações nominais no Senado: votou com o governo 55% das vezes. Foi superado em "oposicionismo" por seis colegas da bancada tucana, mas em "governismo", por apenas três. Não é das mais claras e permanentes demonstrações de oposição.

Aécio Neves mirava o governador Eduardo Campos (PSB-PE), um aliado que sobe em palanques com Dilma enquanto aguarda e torce por uma oportunidade para lançar-se em voo solo à Presidência. O governador de Pernambuco faz um discurso oposicionista que mais assopra do que morde, à espreita de uma crise econômica que ainda não chegou - e talvez não chegue em tempo para a sucessão.

As chances de Campos residem num fracasso claro de Dilma na área econômica. Não um fracasso de índices e indicadores, mas de percepção popular. Algo que seja sentido no bolso antes de ser propagandeado em campanhas de comunicação. Mas a eventual derrocada da presidente não poderia ser rápida e forte aponto de ressuscitar um fantasma hoje esquecido: a volta de Lula.

O problema do governador de Pernambuco, portanto, não é apenas o timing da pressuposta crise econômica, mas também a sua intensidade. Ele não controla nenhum desses fatores e, portanto, sua candidatura será, se for, fruto apenas de oportunidade - salvo, é claro, a hipótese de Campos assumir um discurso frontalmente oposicionista e abrir mão das benesses federais.

Outra banda da oposição tenta fazer do tomate uma limonada. No desejo de provar a si mesma que o precipício econômico está logo ali em 2014, confunde preço alto com inflação. Na busca de um ícone popular para a crise ansiada, trocou o PIB pelo fruto.

O que corrói a renda são aumentos sucessivos de preços, não oscilações sazonais exorbitantes. Só será possível extrair sumo eleitoral do tomate se seu preço continuar a subir sem parar. E não basta ser soo tomate e a cebola. Tem de subir todo o resto do churrasco: a carne, o arroz, o pão. Tem de subir e não cair. Fora esse cenário, a piada com tomate já vem pronta e repisada.

Fonte: O Estado de S. Paulo

O ano de 2014 e a sucessão em Minas Gerais - Marcus Pestana

É impressionante como as discussões sobre as eleições de 2014 ganharam inesperada, frenética e, até certo ponto, artificial velocidade. Diferentemente de outras épocas, quando as cartas só iam para a mesa e os blocos para a rua no ano da própria eleição.

Muito disso se deve à curiosa precipitação imposta por Dilma, Lula e o PT desde o final de 2012. A partir daí, qualquer gesto de Dilma, Aécio Neves, Eduardo Campos e Marina Silva tem sido tratado como de natureza eleitoral. Isso a 18 meses da eleição.

A dinâmica nacional contaminou os quadros regionais. Em Minas, contrariando todas as tradições e características da política mineira, a sucessão de Anastasia ganhou as ruas e as páginas da imprensa, de forma inédita e um tanto irracional. Fernando Pimentel, que tinha dúvidas em se posicionar como candidato, lançou ofensiva no horário eleitoral, iniciou circuito de palestras no interior e chegou a colocar "outdoors" nas ruas de Montes Claros, assumindo de vez a condição de candidato do PT.

Por seu lado, o PMDB lançou o nome do senador Clésio Andrade, que procura seduzir, em Brasília e no interior, lideranças municipais.

Desde 2002, um amplo leque de forças formou-se em torno da maior liderança política mineira, o senador Aécio Neves. Ganhamos todas as últimas três eleições. Temos o governador Anastasia no comando do Estado.

O bloco liderado por Aécio e Anastasia, no tempo certo, lançará forte alternativa, alavancada pela candidatura presidencial de Aécio, pela boa avaliação do governador Anastasia e por ampla coligação. A movimentação dos potenciais adversários introduz pressões localizadas por gestos precipitados e ações ineficazes. Precisamos ter habilidade e sabedoria. O ano de 2013 é de fortalecer Anastasia e seu governo, colhendo os frutos das sementes plantadas. Nada se decidirá antes de se ter clareza sobre qual papel Anastasia desempenhará em 2014 e, principalmente, antes da consolidação da arquitetura política que dará sustentação à candidatura presidencial de Aécio. Portanto, não há outro caminho para pré-candidatos, bases no interior, aliados: caldo de galinha, paciência, Lexotan e visão de grupo.

Nomes não nos faltam. No PSDB, temos o presidente da Assembleia, Dinis Pinheiro, o deputado e secretário de Ciência e Tecnologia Nárcio Rodrigues, o secretário de governo Danilo de Castro, os secretários Fuad Norman e Renata Vilhena, o ex-governador Eduardo Azeredo, o ex-ministro e ex-prefeito de Belo Horizonte Pimenta da Veiga, entre tantos outros. Nos partidos aliados, temos, no PP, o vice-governador Alberto Pinto Coelho e o ex-prefeito Odelmo Leão; no PSD, os deputados Marcos Montes e Alexandre da Silveira; no DEM, o deputado e secretário de Obras Carlos Melles e o deputado Lael Varella, para citar só alguns.

Temos que organizar um movimento suprapartidário e desencadear ações coletivas e unificadas.
É inútil atropelar a realidade. Como a sabedoria popular mineira já ensinou, não adianta passar o carro na frente dos bois, e quem se apressa come cru.

Marcus Pestana, deputado federal (PSDB-MG)

Fonte: O Tempo (MG)

O governo é melhor que o povo? - Renato Janine Ribeiro

Será nosso governo melhor, em termos democráticos, do que o povo? Esta espantosa pergunta é inevitável para quem lê o importante relatório anual da Economist Intelligence Unit, "Democracy Index 2012", que conheci graças a Clóvis Rossi, o primeiro e até agora um dos raros a comentá-lo em nossa imprensa. Mas achei Rossi pessimista demais, ao frisar que o Brasil não melhorou de ranking nos últimos anos, continuando uma democracia com falhas ("flawed") - e pessimista de menos, ao não salientar o que mais me preocupou no levantamento: somos reprovados com notas baixas em cultura política (nota 4,38) e participação política (nota 5), justamente os pontos que mais dizem respeito ao povo do que ao governo.

Insisto: são nossas instituições políticas melhores que o povo? Não saímos mal no ranking final, pois estamos no mesmo estrato que uma das três pátrias da democracia moderna, a França, cuja média final (7,88) é pouco superior à nossa (7,12). Ela pontua pior que nós no quesito "funcionamento do governo"; empatamos (com 9,58) em "processo eleitoral e pluralismo". O que derrubou a França e a zona euro foi a atual crise econômica. Já nós, em 28 anos, passamos da ditadura à democracia.

Por que o governo é bem avaliado e também o sistema eleitoral? Há pelo menos duas definições de governo nas pátrias da democracia. Na França, o "governo" é chefiado pelo primeiro-ministro. Consiste no Poder Executivo, mas sem o Presidente da República, que tem mandato próprio e, quando há coabitação - isto é, quando ele é do partido oposto ao do "governo" -, controla as relações exteriores e a defesa. Já nos Estados Unidos, o governo tem três ramos, Executivo, Legislativo e Judiciário. Aqui, a nota dada ao governo parece incluir os três - mas, deles, o Legislativo é o menos atuante. Na verdade, a nota positiva do País se concentra nas instituições. A Constituição é boa, sendo cada vez mais aplicada, o sistema eleitoral é livre e justo.

Nossa participação política é bastante pobre

É bom, é mau as instituições serem mais consistentemente democráticas do que o povo? Instituições sólidas são cruciais para a democracia. São elas que lhe dão duração. Impedem que paixões ou vitórias momentâneas mudem tudo. Vejam como Chávez mudou por completo as instituições venezuelanas, enquanto as brasileiras são estáveis há décadas. Mas, por outro lado, é o povo que dá vida a elas. Se não houver empenho dele - e em especial se ele não tiver a convicção de que é democrático discordar, de que o adversário não é inimigo, a quem devemos destruir, nem bandido, a quem devemos privar dos direitos políticos e civis - leis e órgãos de governo serão carcaças vazias. Penso que, quase trinta anos após o fim da ditadura, a permanência da democracia se deve mais à fraqueza das tendências autoritárias, do que a uma consciência popular de que ditadura não deveríamos - nunca mais - ter.

Mas onde pontuamos mal? Vamos esmiuçar. Nosso 5 em participação política vem dos seguintes fatores, segundo o Economist: as mulheres não chegam a 10% dos assentos no Congresso; é baixo o engajamento dos cidadãos na política, sua participação em manifestações públicas, seu interesse pela política, medido em sondagens e pesquisas; poucos acompanham a política pela mídia; o voto é obrigatório; as autoridades se empenham pouco em promover a participação política. Desses itens, só o último responsabiliza diretamente o governo (o penúltimo, as instituições).

Já na cultura política, onde estaríamos ainda pior, com 4,38, discordo da avaliação do Economist. Aqui os pontos principais seriam se preferimos ter um governo militar, tecnocrata ou um ditador - não preferimos. Nem penso que os brasileiros considerem a democracia ruim para a economia; mas pode ser, sim, que não a considerem capaz de conter a criminalidade. Nesses pontos, o Brasil deveria pontuar melhor do que 4,38. Em suma, com base no relatório mas corrigindo-o neste ponto (desculpo-me pela pretensão), nossa cultura política seria fraca em dois pontos principais, estratégicos, mas talvez só neles: primeiro, a dificuldade de aceitarem, os eleitores, um real pluralismo político. Quer dizer: a dificuldade de aceitar que o "outro lado", nosso opositor nas eleições, também é decente e honesto, e que divergimos dele por convicções políticas, não porque somos do Bem e ele é do Mal. Segundo, uma crescente influência das Igrejas - cada vez mais as evangélicas - sobre o Estado e o poder público.

Deputado Feliciano. Para defendê-lo na presidência da Comissão de Direitos Humanos, alguns argumentam que ele é o legítimo representante de seu eleitorado. Errado. Primeiro: o fato de representar um segmento do eleitorado brasileiro não o credencia para representar a sociedade como um todo, incumbência dos presidentes de comissões. Segundo: mesmo nas democracias, a eleição de um representante está limitada por preceitos constitucionais, que em vários casos proíbem a pregação do ódio e da discriminação. Por exemplo, a Alemanha proíbe a atividade política de nazistas. Democracias podem barrar a propaganda do preconceito.

Uma coisa é respeitar o oponente, não o demonizar, como tenho defendido que façam petistas e tucanos. Outra coisa é sair do âmbito democrático, negando as bases da democracia. A excessiva condescendência com os anti-democratas na Alemanha, entre 1919 e 1933, destruiu seu sistema político. Quem prega contra direitos humanos básicos deve ser responsabilizado por isso. Porque, se a democracia é uma planta tenra, como dizia Otavio Mangabeira, ela deve ser protegida de quem a quer destruir.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

A volta da TPC - Valdo Cruz

A tensão pré-Copom voltou a infernizar o governo Dilma, que já trabalha com a hipótese de o Banco Central subir os juros nesta semana, mas ainda sonha com a possibilidade de a decisão ser postergada para o mês de maio.

Hoje, por sinal, depois de ter ficado explícito que o próprio Palácio do Planalto dá como certo um aumento nos juros em breve, assessores presidenciais passaram a demonstrar receio com o tamanho do aperto monetário que vem por aí.

Ninguém acredita numa paulada nos juros, mas o novo temor é que o BC aplique uma dose mais forte na largada de um novo ciclo de ajuste na política monetária para mostrar que tem as rédeas do processo.

Em vez de uma leve alta de 0,25 ponto percentual, o Copom poderia subir, de cara, a taxa dos atuais 7,25% para 7,75%. Afinal, o banco precisa, reconhece o governo, recuperar sua credibilidade. Somente subir os juros já não seria suficiente para atingir tal objetivo.

Nada mais irônico é o Planalto despertar, somente agora, para a importância de o BC restaurar seu poder de coordenador das expectativas sobre os rumos da inflação. Afinal, ele foi duramente atingido por obra do chamado fogo amigo.

Trágico, porém, é notar que o governo descobriu, tardiamente, que uma inflação girando na casa de 6% durante tanto tempo criou resistências para sua queda. E gera um risco de reindexação na economia.

Parece ter acordado apenas depois que a inflação alta, como se diz, caiu na boca do povo. Deixou de ser um debate entre economistas e passou a fazer parte do cotidiano dos eleitores. Nada pior às vésperas de uma eleição presidencial.

Por essas e por outras, muita gente no governo crê num aumento dos juros, mas no fundo no fundo torce para que não seja agora.

Daí que, se o BC avalia que não pode mais esperar, a hora é essa. As pressões internas perderam força, mas podem ressurgir.

Fonte: Folha de S. Paulo

Terrorismo inflacionário - Amir Khair

Com o resultado da inflação de março, de 0,47%, ocorreu o que os analistas e o governo já sabiam, ou seja, seria rompido o teto da meta de 6,50%. Nos últimos 12 meses encerrados em março o IPCA registrou 6,59%. O que ressalta são as fortes elevações de preços nos alimentos in natura (verduras, legumes, frutas, etc.).

Isso está gerando forte pressão do mercado financeiro sobre o Comitê de Política Monetária (Copom) pelo aumento da taxa Selic, em mais uma tentativa de recuperar lucros dos bons tempos da farta Selic. A pergunta é: deve o Copom elevar a Selic para combater a inflação? Não creio.

Como se sabe, o Banco Central (BC) sempre afirmou que qualquer alteração da Selic leva de 6 a 9 meses para surtir efeito, e as previsões de experientes analistas indicam queda da inflação nos próximos dois meses. Daí para a frente, as previsões costumam falhar.

Assim, qualquer precipitação em elevar a Selic joga por terra a "cautela" recomendada na última reunião do Copom. A maior parte dos analistas já admite que a elevação não será agora, na reunião do dia 17/4, mas alguns ainda apostam que isso ocorrerá no dia 29/5, na outra reunião do Copom. Não creio.

Não há razões técnicas para elevar a Selic e, mesmo que fosse elevada em um ou dois pontos, em nada alteraria o crescimento ou a inflação, muito menos os alimentos in natura. Vale observar que as expectativas inflacionárias são comandadas tecnicamente pela " inflação de curto prazo e essa é cadente desde o início do ano.

O que se espera nos próximos meses, pois, é o retorno do IPCA para abaixo do teto da meta.

BCs no mundo. Desde dezembro, nenhum (!) banco central no mundo elevou a taxa básica de juros e oito a reduziram, pois a decisão é enfrentar o impacto da crise, que arrefeceu o crescimento. Além disso, a política dos bancos centrais é posicionar a taxa no nível da inflação, que na média dos emergentes está próxima a 5% ao ano. No caso dos países desenvolvidos, essa taxa tem sido inferior à inflação.

Ao que tudo indica, essa pressão parece ter viés político, como apontou o jornalista José Paulo Kupfer (Estadão, 11/4, B4) no artigo Preço arrefece, mas decisão sobre juros ganha viés político. O preço do tomate está sendo usado como símbolo para isso.

A questão política é marcada pelo que a oposição ao governo ganharia com o argumento que vem sendo apresentado, de que a presidente usou seu voluntarismo para reduzir a Selic e olha no que deu: elevou a inflação. Esse argumento não resiste aos fatos, pois metade da inflação se deve aos alimentos que sofreram choque internacional de oferta, que está progressivamente se dissipando. O índice das commodities agrícolas saiu do máximo de 155, no final de julho, para 121, no dia 9 deste mês.

Na realidade, o que parece desejar o mercado financeiro é voltar aos velhos tempos da Selic dos dois dígitos. Vale lembrar que, nas últimas gestões de presidentes do BC, a Selic foi caindo de 23,8% (Gustavo Franco, 1996 a 1998) para 19,8% (Armínio Fraga, 1999 a 2002), 14,9% (Henrique Meirelles, 2003 a 2010) e, na gestão Alexandre Tombini, caiu de 11,8%, em 2011, para 8,6%, em 2012, e 7,25%, neste ano.

Crescimento. Não creio no efeito de alteração da Selic para influir no crescimento. O que influi é a taxa de juro ao tomador, e esta é bem superior e não sofre estatisticamente influência da Selic.

Os sinais da baixa atividade econômica são claros: 1) indústria quase estagnada; 2) crédito perdendo força; 3) mercado de trabalho desacelerando; 4) volume de vendas do varejo estável desde outubro; e 5) crise internacional jogando a Europa na recessão, com a Alemanha, locomotiva da eurozona, amargando previsão de crescimento de 0,3% e o Japão parado há tempo.

Perspectivas. A consequência do impacto internacional é de continuação da queda nas commodities e nos preços internacionais. O mundo desinflaciona. A derrubada dos preços dos alimentos in natura já começou, pois a v oferta agora é crescente e firme tanto no Brasil quanto nos principais países produtores. O BC acompanha isso e considera importante, ao tomar sua decisão.

Combate. A forma de impacto imediato de combate à inflação é a que o governo vem fazendo com desonerações, que reduziram as tarifas de energia elétrica e os produtos da cesta básica, e segurando os preços defasados dos combustíveis, sacrificando a Petrobras. Fato é que o governo vai continuar as desonerações e, com isso, vai segurar a inflação para não romper o limite superior da meta. Nota-se o deslocamento da responsabilidade exclusiva do Banco Central pelo controle inflacionário para a equipe econômica (Fazenda e BC), coordenada pela presidente.

O momento é de pôr o pé no acelerador, reduzindo juros básicos e, principalmente, ao tomador, desonerando os produtos de consumo popular, depreciando o câmbio, completamente fora de lugar, e ampliando políticas de renda.

Que o governo não caia na armadilha de 2011, quando o terrorismo inflacionário gerou as medidas macroprudenciais que seguraram o crescimento. E preciso firmeza do governo para enfrentar o que se assemelha a uma nova edição desse terrorismo.

Mestre em finanças publicas pela FGV e consultor

Fonte: O Estado de S. Paulo

Inflação: de volta ao passado? - Luiz Carlos Mendonça de Barros

É muito triste para o analista acompanhar o debate atual sobre a política monetária do Banco Central (BC). Este sentimento nasce principalmente em função da volta da inflação para o centro das discussões, depois de mais de dez anos de esquecimento por parte da sociedade. Esta nossa sensação de "déjà vu" fica reforçada pelo aparecimento de velhos protagonistas de corte heterodoxo - com suas mesmas ideias e soluções do passado - ao lado de novos economistas liberais, com os mesmos erros e utopias de seus colegas mais velhos. Ou seja, em mais de 30 anos, os membros destes dois grupos não esqueceram nada, mas também não aprenderam nada de novo.

Como escrevi acima, considero um retrocesso voltar à questão da inflação nos termos que vêm sendo colocados pela mídia, aqui e no exterior. Em um extraordinário trabalho a quatro mãos, os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula conseguiram convencer a sociedade brasileira que a estabilidade de preços é uma condição absolutamente necessária para que o crescimento econômico seja perene. Mais do que isto, que para atingir este objetivo é preciso ter um Banco Central comprometido com uma meta clara para a inflação e com um mínimo de independência para persegui-la ao longo do tempo.

Não serão só medidas clássicas como a alta da Selic que vão tirar os preços da perigosa trajetória atual

Aliás, é bom lembrar que foi por conta deste compromisso que a economia brasileira cresceu continuadamente entre 1994 e 2008, apesar das crises que enfrentamos. Nestes 14 anos, a renda real do brasileiro cresceu mais de 3,5% ao ano e a parcela da sociedade que vive na economia de mercado passou de 34% para mais de 60%. Um resultado incrível e que ganhou reconhecimento internacional. Pensava eu que, por isto, estivessem sepultadas de vez as teorias alternativas que sempre fizeram parte do programa de ação do Partido dos Trabalhadores e de parte da esquerda brasileira.

Também por isso me surpreendeu quando a presidenta Dilma começou a deixar de lado este compromisso com o aparecimento de alguns entraves ao crescimento da economia. Ela não percebeu que o problema tinha sua origem em questões estruturais não enfrentadas adequadamente nos anos Lula e no início de seu mandato. No começo, estas mudanças foram sutis, mais relacionadas a intervenções pontuais do governo. Mas, a partir da frustração com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, as ações passaram a ser mais abrangentes, enfraquecendo o arcabouço macroeconômico que havia prevalecido até então.

Nos anos Lula o governo considerava os mercados como um instrumento de ação do governo na busca da geração de renda para, a partir daí, alterar a natureza da distribuição dos frutos do crescimento. De certa forma, o governo Lula utilizou-se da mesma estratégia que os chineses desenvolveram nos últimos anos para construir uma nova economia.

Já a presidenta Dilma colocou a ação do governo como peça central da política econômica, sujeitando a ação privada a um papel apenas complementar e secundário. Ao fazer isto recolocou o ideário do PT tradicional - e também do PDT brizolista - novamente no comando de suas ações. Daí o teor de suas declarações recentes de que não concorda com a utilização dos juros como instrumento de redução do consumo privado no combate à aceleração da inflação. E foi mais longe ainda, ao resgatar a antiga e desgastada imagem do remédio matando o paciente.

Mas vamos também olhar de forma crítica para o outro lado do espectro ideológico e que procura vender a imagem de que estamos próximos a um total descontrole da inflação. O gráfico abaixo mostra, de forma clara, dois momentos distintos dos números do IPCA nos últimos anos. No primeiro, que corresponde à passagem do ponto A para o B, temos um período de desinflação em função da valorização do real e da existência de espaços produtivos ociosos no tecido econômico, como o índice de desemprego de dois dígitos. Por isto a inflação chega a ficar momentaneamente abaixo do centro da meta do BC entre 2006 e 2007.

Já entre B e C temos um período em que pressões inflacionárias por conta da ocorrência de vários choques externos - câmbio e commodities - em um ambiente de redução rápida dos espaços ociosos na economia, levam a inflação a mais de 6% ao ano.

Em resumo, nos últimos anos, mesmo durante o período de um Banco Central ortodoxo e com liberdade de ação, a inflação no Brasil nunca ficou abaixo dos 5% ao ano por um período mais longo. Um sinal claro de que não conseguimos sair da armadilha de um sistema de preços indexados à inflação passada e, portanto, ultrassensível a choques externos de oferta. Por isto, quando voltamos agora a uma situação limite e perigosa, temos que buscar uma política de combate a inflação menos rudimentar do que a proposta pelos dois lados do espectro ideológico que domina o debate econômico nestes dias.

Não serão apenas medidas clássicas como a elevação da taxa Selic que vão tirar a dinâmica de aumento de preços da perigosa trajetória atual. Temos que voltar os olhos ao Plano Real e buscar na sua agenda um conjunto abrangente de medidas de política econômica.

Luiz Carlos Mendonça de Barros - engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações

Fonte: Valor Econômico