• Preso, Paulo Roberto Costa quer falar de corrupção na estatal em troca de pena
• Proposta foi apresentada horas após a Polícia Federal fazer busca e apreensão em casa s e empresas de parentes do acusado, que está detido no Paraná; doleiro Alberto Youssef também pretende se oferecer para depor
Germano oliveira,Tiago Dantas, Cristiane Jungblut e Dimitri do Valle - O Globo
Ex-diretor agora quer falar
Horas depois de a Polícia Federal fazer uma operação nas casas e empresas de suas filhas e seus genros no Rio de Janeiro, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, preso na Operação Lava-Jato, decidiu fazer um acordo de delação premiada. Promete dar um depoimento e contar tudo o que sabe sobre contratos com a Petrobras. Ontem, Costa se reuniu com a advogada Beatriz Lessa da Fonseca Catta Preta, na sede da Superintendência da PF em Curitiba, onde está preso, e acertou que encaminhará o pedido formal ao juiz do caso, Sérgio Moro.
A ideia é, com isso, negociar uma redução de pena e até pedir que seus parentes não sejam envolvidos nos processos que ele responde. O ex-diretor da Petrobras é acusado de envolvimento com o doleiro Alberto Youssef e de superfaturamento no caso da construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco.
Costa percebeu que, pelo encaminhamento das ações abertas contra ele, dificilmente deixaria de sofrer pesadas condenações. Se o acordo de delação premiada por formalizado, ele deverá envolver outros dirigentes da Petrobras e também políticos que teriam se beneficiado com o esquema de fraudes que ele supostamente montou. Na prisão, Costa já teria dito que, se contasse tudo que sabe, não haveria eleições este ano.
MP e juiz vão analisar proposta
A advogada Beatriz é especialista em delação premiada, recurso com o qual o réu colabora com a Justiça em troca de uma pena menor. A decisão não agradou o atual advogado de Costa, Nélio Machado, que só soube da decisão dele ontem.
- Não concordo com a decisão da delação premiada e, por isso, pretendo deixar a causa. Afinal, ontem (anteontem) ainda impetrei habeas corpus pedindo a libertação de meu cliente - disse Machado.
Agora, a advogada deverá encaminhar o pedido ao Ministério Público Federal e à 13ª Vara Federal de Curitiba, a quem caberá decidir os termos da delação premiada e quais os benefícios que ele poderá obter.
O doleiro Alberto Youssef, outro preso durante a operação Lava-Jato, também deve aderir à delação premiada nos próximos dias. A decisão deve ser anunciada na segunda-feira, segundo o advogado do doleiro, Antônio Basto.
- Não recomendo essa estratégia para ele. Acho que ainda há teses processuais que podem ser esgotadas. Mas isso demoraria muito tempo, e ele esperaria preso - disse Basto ao GLOBO: - Desaconselho o acordo com a Justiça, mas compreendo completamente.
Ontem, a PF cumpriu no Rio 12 mandados da sexta fase de diligências da Operação Lava-Jato, sendo 11 deles de busca e apreensão e um de condução coercitiva - quando a pessoa é obrigada a prestar depoimento - em empresas vinculadas a Costa e a seus familiares.
No início da tarde, três carros da operação chegaram à Superintendência da PF de Curitiba com os malotes de documentos apreendidos. As medidas foram requeridas ao juízo da 13ª Vara Federal de Curitiba pelos integrantes da Força Tarefa do Ministério Público Federal, em trabalho conjunto com a PF. Um sócio do genro de Costa seria ouvido pelo suposto empréstimo de dinheiro a ele, o qual foi apreendido posteriormente com o executivo em casa.
Os mandados foram cumpridos em vários endereços no Rio, a maioria na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Seis empresas investigadas ficam no shopping Downtown e têm como sócio Marcelo Barboza Daniel, de quem Costa teria recebido um empréstimo de R$ 1,9 milhão. Parte do dinheiro, R$ 700 mil, foi encontrada na casa de Costa quando ele foi preso pela PF, em março. Na lista de endereços dos mandados também estavam empresas que têm como sócios Arianna Azevedo Costa Bachmann, Marici da Silva Azevedo Costa e Humberto Sampaio Mesquita. Eles são, respectivamente, filha, mulher e genro do ex-diretor da Petrobras.
A sala comercial da consultoria, no segundo andar de um dos blocos de escritórios do Downtown, foi visitada pelos agentes da PF no início da manhã. Os policiais deixaram o local com três malotes. Essa e outras duas salas do mesmo bloco constam como endereço de seis das doze empresas que integram a lista dos mandados, sendo duas delas do Grupo Pragmática.
O site do Grupo Pragmática apresenta uma lista de mais de trinta clientes da consultoria, entre eles a Petrobras. O grupo, criado em 1990, presta serviços de consultoria em gestão empresarial, recursos humanos, formação de executivos, profissionalização de empresas familiares e eventos corporativos. Barboza Daniel, que deveria ser levado à PF para prestar depoimento, foi localizado nos EUA e teria se prontificado a prestar esclarecimentos quando voltar ao Brasil.
Doação suspeita de R$ 1 milhão
Numa das empresas, a Pragmática Consultoria em Gestão Empresarial, Humberto Mesquita figura como sócio desde 2004. Ele teria recebido de Barboza Daniel, em 2012, uma doação de R$ 1 milhão, que chamou a atenção dos investigadores. As outras empresas sediadas no mesmo local são AGP Recursos Humanos, AA2 Agência de Viagens, DM3P Comunicações e World Cap Indústria, Comércio, Importação e Exportação de Vestuários.
Ainda na Barra, os mandados contemplavam outros cinco endereços. Um deles no centro empresarial Península Office, onde ficam as sedes da Costa Global Consultoria e Participações, empresa de Costa, e da Versalles Assessoria Empresarial, que seria de Mesquita.
O endereço da Bachmann Representações, que tem como sócias Arianna e a mulher de Costa, é um condomínio residencial próximo à casa do ex-diretor, na Rua João Cabral de Mello Neto.
Para reduzir pena, paulo roberto costa enviará à justiça proposta de delação premiada
Já na Estrada da Barra, endereço apontado como sede da B&X Consultoria, os agentes da PF foram vistos bem cedo, com pacotes de documentos. O local também é residencial. Vizinhos informaram que o apartamento é onde mora Maria Christina Rodrigues Xavier de Souza Pereira, sócia de Arianna da empresa.
Na Avenida Ministro Ivan Lins, a cobertura onde funcionaria a BAS Consultoria Empresarial é, na verdade, a sede de uma imobiliária e de uma empresa de publicidade. Funcionários disseram que agentes da PF não estiveram lá ontem, mas há quinze dias, procurando responsáveis pela BAS. Eles teriam desistido ao constatar o engano.
(*Especial para O GLOBO. Colaboraram Paula Ferreira, Antonio Werneck, Alexandre Rodrigues, Luiz Ernesto Magalhães, Carina Bacelar)