terça-feira, 24 de outubro de 2017

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

Se não organizarmos rapidamente um polo democrático (contra a direita política, que mostra suas garras), que não insista em “utopias regressivas” (como faz boa parte das esquerdas), que entenda que o mundo contemporâneo tem base técnico-científica em crescimento exponencial e exige, portanto, educação de qualidade, que seja popular, e não populista, que fale de forma simples e direta dos assuntos da vida cotidiana das pessoas, corremos o risco de ver no poder quem dele não sabe fazer uso ou o faz para proveito próprio. E nos arriscamos a perder as oportunidades que a História nos está abrindo para ter rumo definido.

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Sociólogo, foi presidente da República, ‘Quais os rumos do País?’, O Estado de S. Paulo, 8/10/2017.

2018 começa quarta | Merval Pereira

- O Globo

Com a mais que provável vitória da maioria governista na votação de amanhã na Câmara, livrando o presidente Temer da segunda denúncia remanescente da era Janot, começa a tomar corpo a disputa sucessória, com uma novidade fundamental: dificilmente se repetirá a polarização entre PT e PSDB que marcou as últimas seis eleições presidenciais. Temer ainda sonha um sonho improvável: presidir uma recuperação econômica de tal porte que lhe dê condições de ser um eleitor de peso na sua sucessão.

Os dois partidos que dominaram a cena política desde 1994 chegam a mais uma eleição presidencial feridos de morte, buscando alternativas às principais lideranças, dentro ou fora de suas legendas.

O ex-presidente Lula, se conseguir disputar a eleição em 2018, chegará provavelmente sub judice, depois de condenado em segunda instância, pelo TRF-4, e em primeira instância pelo menos mais uma vez. Pode criar um impasse jurídico-político de amplas consequências, pois pela legislação um candidato pode ser impugnado mesmo depois de eleito e diplomado. Mas seria improvável a impugnação de qualquer candidato nessa situação, ainda mais sendo Lula.

O PSDB, sem seu candidato natural, o senador Aécio Neves, derrotado em 2014 por diferença mínima, quase certamente escolherá saída tradicional, que seria o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

O prefeito João Doria seria uma novidade fora dos quadros ortodoxos do partido, mas parece estar perdendo fôlego ao tentar queimar etapas nessa maratona, que tem características diferentes das demais disputas presidenciais, mas exige resistência que o veterano Alckmin está mostrando ter.

Battisti e seus fantasmas | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

Em São Paulo, debate sobre Mãos Limpas e Lava Jato; em Brasília, o que fazer com Cesare Battisti

Vamos convir que o governo e a sociedade italianos têm razão: Cesare Battisti não é nenhum herói como Garibaldi e não tem a aura de um Che Guevara, apesar de posar com a gravura do revolucionário cubano “casualmente” ao fundo. Nos governos do PT, aqui no Brasil, ele foi tratado como um réu político. Em qualquer governo, lá na Itália, ele é considerado um criminoso comum, um assassino frio de ao menos quatro cidadãos.

Discretamente, os italianos ponderam que vivem uma democracia e, mesmo condenado à prisão perpétua, Battisti dificilmente morreria no cárcere caso extraditado. Seus companheiros já foram soltos, integrados à vida normal e há quem esteja muito bem de vida. Na Itália, a prisão perpétua só vale na teoria, assim como as penas no Brasil são reduzidas para 1/6. Sérgio Cabral já está condenado a 72 anos. Quanto vai cumprir?

A história de Battisti no Brasil é tortuosa. Ele chegou fugido, clandestinamente. Foi preso e iniciou-se um longo debate. Os pareceres técnicos e jurídicos do Itamaraty e do Ministério da Justiça eram favoráveis à extradição, mas o então ministro Tarso Genro, que é da área jurídica, preferiu o viés ideológico e liderou o processo de mantê-lo no Brasil.

A última chance do presidente | Raymundo Costa

- Valor Econômico

Vencida a denúncia, Temer quer reforma e arrumar sucessão

O Palácio do Planalto espera um resultado similar à votação da primeira denúncia, quando 263 deputados responderam não ao pedido de autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar e processar o presidente Michel Temer. Especialista em votações na Câmara, o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) trabalha com uma variação de 10% para mais ou para menos, o que significaria cerca 237 votos no piso inferior e 289 na banda superior. Para Eliseu Padilha não será surpresa se der uma variação positiva.

Num caso ou noutro, o governo do presidente Temer sai da segunda votação acreditando que pode tocar a reforma da Previdência, a partir da próxima semana. "O clima tanto no plenário quanto na rua mudou muito", segundo o ministro da Casa Civil. Na opinião dele, o momento é agora. "Fica mais difícil quanto mais próximo da eleição". Os números são "terríveis" - a expressão é de Padilha - com um salto no déficit previdenciário de R$ 55 bilhões de 2017 para 2018. É o que está no Orçamento.

A expectativa no Palácio do Planalto é que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), assuma a condução desse processo, tão logo seja votada a denúncia. Não será apenas um trabalho de "mobilização", no qual o governo Temer tem mostrado competência, mas também de "conscientização". Hoje parece mais claro a Padilha que a necessidade da reforma é bem mais compreendida do que à época em que o governo enviou o projeto. E uma reforma que terá de ser feita mais cedo (atual governo) ou mais tarde (o governo a ser eleito em 2018).

Lula e o populismo | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

A entrevista que Luiz Inácio Lula da Silva deu ao jornal espanhol "El Mundo" não nos faz vislumbrar uma campanha eleitoral muito auspiciosa em 2018.

Nem tudo, porém, são más notícias. É positivo o fato de Lula admitir que o governo Dilma Rousseff cometeu erros. O maior deles, segundo o petista, foi ter "exagerado" nas desonerações dadas a empresas. Tal reconhecimento me pareceu um avanço, porque ainda vejo petistas que defendem a política econômica de Dilma, atribuindo o desastre ocorrido sob sua gestão só a fatores externos.

Lula, entretanto, se trai ao afirmar que o segundo maior erro de Dilma foi ter tentado, em 2015, promover o ajuste fiscal, contrariando tudo o que afirmara na campanha de 2014. O problema de Dilma não foi propor o ajuste (eu diria até que foi um de seus raros acertos), mas sim ter prometido o que ela sabia que não poderia entregar. Nesse particular, Lula errou junto com Dilma, pois ele também tinha conhecimento da encrenca fiscal e isso não o impediu de participar ativamente da campanha.

O acerto não abona | Míriam Leitão

- O Globo

Nesta quarta-feira, o presidente Michel Temer estará diante do melhor e do pior do seu governo. Na política, responderá à segunda denúncia de crime em três meses e usando as armas que usou da primeira vez: políticas e recursos públicos. Na economia, o Banco Central deve levar a 7,5% a taxa de juros que estava em 14,25% no começo do seu governo. O acerto na economia não abona o erro no resto.

Como na primeira denúncia, o presidente tem usado o seu poder de comando do país para socorrer-se dos apuros em que entrou. No fim de semana, um dos seus decretos perdoou 60% das multas ambientais das empresas. E o que não foi perdoado poderá ser usado pelos empresários em investimentos para recuperação ambiental. O temor é que eles acabem usando os recursos que terão que pagar em projetos do seu interesse ou que eles tenham mesmo que fazer para respeitar as leis ambientais. De novo, o governo estará premiando quem desrespeitou a lei.

Em artigo intitulado “Riqueza Ambiental”, publicado na “Folha de S.Paulo”, o presidente distorce o que acabou de acontecer e afirma que assinou “a maior e mais inovadora iniciativa ambiental do governo”. Desconto do valor de multas e dívidas de empresas sempre foi concedido. Entra governo e sai governo. A atual administração reduziu e parcelou dívidas previdenciárias do setor rural. Não há nada de inovador em dar um desconto de 60% em multa ambiental. Usar os restantes 40% em projetos ambientais também não é novo. “Tal volume de recursos, que não dependerá do Tesouro Nacional, é uma verdadeira revolução no setor”, escreveu Temer, em outro argumento sem sentido. Ora, se as multas fossem pagas, os recursos, 100% deles, iriam para o setor público, ou seja, para o Tesouro. Temer tenta dourar a pílula de mais uma concessão feita pelo seu governo.

Uma apatia conveniente | Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A semana da votação que poderia derrubar Michel Temer começou em clima de marasmo. Governo e oposição apostam no arquivamento da segunda denúncia contra o presidente. Se a previsão se confirmar, ele ganhará mais 14 meses de hospedagem grátis no Jaburu.

Nesta segunda, a Câmara permaneceu vazia. A sessão da tarde foi cancelada por falta de quorum. Mais cedo, um deputado solitário discursou em homenagem à Sociedade Brasileira de Eubiose. Os próximos eventos da entidade serão um simpósio sobre o bem e o mal, um recital de piano e uma oficina de origami.

Temer compareceu a uma cerimônia militar, mas abriu mão de discursar. Os parlamentares que decidirão seu futuro não estão interessados em palavras, e sim no "Diário Oficial". Nesta terça-feira, deve ser publicado o decreto que oferece desconto de até 60% em multas ambientais.

Liberalismo puro é a incivilização, diz Alckmin

Apontado como pré-candidato à Presidência no ano que vem, governador de São Paulo tenta resgatar os valores originais social-democratas do PSDB apostando no investimento em políticas sociais

Ricardo Galhardo | O Estado de S.Paulo

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, apontado como pré-candidato do PSDB à Presidência da República, disse, em encontro com o grupo tucano PSDB Esquerda Pra Valer, na quinta-feira, 19, que o “liberalismo completo” se contrapõe aos príncípios civilizatórios.

“O laissez-fair, o liberalismo completo, é a incivilização. Porque é o grande comer o pequeno. O rico esmaga o pobre”, disse o governador.

Conforme o Estado noticiou, Alckmin tenta resgatar os valores originais social-democratas do PSDB apostando no investimento em políticas sociais. Os objetivos são se distinguir de pré-candidatos com discursos de direita como o prefeito João Doria (PSDB), o ministro da Fazenda Henrique Meirelles e o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e herdar os votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva caso o petista seja impedido de disputar as eleições do ano que vem.

No encontro da semana passada, o governador falou claramente em social-democracia e destacou a importância de buscar o equilíbrio entre a economia de mercado e os programas sociais.

“Não tem economia moderna sem consumo nem salário ou renda. Não existe isso. Nós temos que ter um foco na inovação e outro na questão social. Aí vem a social-democracia”, disse Alckmin.

Segundo o governador, a política de livre mercado pura “contrapõe a questão civilizatória”.

“Você contrapõe a questão civilizatória porque você tem que ter regras de convício social. O grande não pode pisar em cima do pequeno. Tem que ter um mínimo de regras”, afirmou.

Renovação ‘nem de direita, nem de esquerda’

Apoiado por Huck, RenovaBR foge de polêmicas ideológicas e pretende lançar 100 candidatos

Vera Rosa, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Construir uma candidatura em tempos de Lava Jato não é tarefa fácil, mas, à procura de talentos desconhecidos, o movimento RenovaBR começa a chamar a atenção na busca de nomes para disputar as eleições de 2018. Idealizado pelo empresário Eduardo Mufarej, o grupo já ganhou o apoio de famosos, como o apresentador Luciano Huck e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, e vai oferecer cursos de formação para jovens que desejam entrar na política.

A ideia é preparar potenciais candidatos para os cargos de deputado federal e estadual. Ao menos na próxima eleição, porém, o RenovaBR não vai investir no treinamento para a cadeira hoje ocupada pelo presidente Michel Temer. “O nosso foco é o Legislativo, mas não se trata de um movimento nem de direita, nem de esquerda”, disse Mufarej, mentor do projeto e sócio da Tarpon Investimentos. “Queremos tentar aproximar o Brasil, e não dividir. Existe gente competente nos diferentes espectros ideológicos.”

Desde o último dia 7, o RenovaBR recebeu 600 interessados em participar de suas aulas. As inscrições terminam no fim deste mês e serão escolhidos até 150 participantes para o programa. Deste total, o grupo acredita que poderá lançar cerca de cem candidatos a deputado – a maioria a federal –, em 2018. Há também um esforço para que mais mulheres entrem na corrida eleitoral.

‘Eleitor se sentiu traído por Dilma’, diz Lula

Ao jornal espanhol “El Mundo”, Lula disse agora que o eleitor se sentiu traído pelo ajuste fiscal e pela desoneração da folha no governo Dilma.

Lula diz que ajuste fiscal de Dilma fez eleitorado se sentir traído

Para ex-presidente, que escolheu sucessora, governo ‘jogou fora a base social’

- O Globo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o eleitorado brasileiro que reelegeu Dilma Rousseff em 2014 se sentiu traído pela petista após ela anunciar que promoveria um ajuste fiscal no governo. A declaração foi dada ao jornal espanhol “El Mundo”, em entrevista publicada anteontem. Inicialmente, o periódico publicou que Lula disse que Dilma “traiu o eleitorado que a elegeu em 2014”. Porém, ontem, após Lula afirmar que não havia dito tal frase, o jornal espanhol alterou a declaração em seu site. O ex-presidente publicou, em sua conta nas redes sociais, trecho da entrevista, no qual diz que o governo “jogou fora a base social” que tinha reeleito Dilma.

De acordo com Lula, promover o ajuste fiscal foi um dos erros cometidos por Dilma na Presidência — o principal equívoco, no entanto, teria sido a política de desonerações de empresas. Apesar da crítica, Lula afirmou que Dilma foi impedida pelo Senado de rever a própria política estabelecida por ela.

— Claro que falhamos. Nosso maior erro foi exagerar na política de desonerações das grandes empresas. O Estado deixou de arrecadar para dar aos empresários, e em 2014 saía mais dinheiro do que entrava. Entre 2011 e 2014 se desoneraram R$ 428 bilhões. Quando Dilma tentou acabar com essa ajuda, o Senado não permitiu. O segundo erro (do governo Dilma) ocorreu quando a presidente anunciou o ajuste fiscal e o eleitorado que a elegeu em 2014 se sentiu traído, ao qual havíamos prometido que manteríamos os gastos. Assim começamos a perder a credibilidade — disse Lula, segundo o jornal “El Mundo”.

O petista comparou a situação de Dilma com o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso e citou o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, hoje preso na Lava-Jato, para justificar a saída do PT da Presidência depois de 13 anos.

Petista busca os que foram traídos por Dilma

Lula, porém, não terá como maquiar todo o desastre econômico da sucessora

Paulo Celso Pereira | O Globo

Com cinco disputas presidenciais nas costas, o ex-presidente Lula sabe que não será possível passar toda a pré-campanha eleitoral de 2018 maquiando o desastre econômico do governo de sua sucessora. Nos 18 meses que separam a vitória de Dilma Rousseff nas urnas de seu afastamento determinado pelo Congresso, o desemprego salta de 6,6% para 11,2%, a inflação dispara, a renda do trabalhador cai e o PIB desaba, demarcando a maior recessão de nossa História.

A entrevista ao jornal espanhol “El Mundo” parece finalmente dar pistas de como o ex-presidente pretende pavimentar a rota pela qual tentará chegar pela terceira vez ao Palácio do Planalto. Trata-se de um equilíbrio tênue em que alardeia a receita econômica de seus dois governos — defendendo investimentos em infraestrutura, recuperação da credibilidade externa e políticas sociais relevantes — com a busca de uma justificativa para o desastre dos últimos anos do PT no poder.

Apesar de liderar todas as pesquisas eleitorais, Lula sabe que, além de superar os processos judiciais, precisa reduzir nos próximos meses sua alta rejeição. Fazer um mea-culpa para os que se sentiram traídos por Dilma é a primeira e mais óbvia tarefa.

Ganhos de véspera | Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

As análises sobre a votação da denúncia do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot contra o presidente Michel Temer, com base na delação premiada do doleiro Lúcio Funaro, são unânimes: o plenário da Câmara rejeitará amanhã a denúncia e a investigação será congelada até que termine o mandato presidencial. Mas Temer sairá mais enfraquecido, porque uma parte da base se ausentará do plenário. A oposição não tem os 342 votos de que necessitaria para afastá-lo; porém, ao contrário do que aconteceria em outras circunstâncias, caiu o número de aliados incondicionais do presidente de República.

É um non sense. Governistas e oposicionistas querem Temer mais fraco, mas não desejam que ele saia do Palácio do Planalto. Muitos parlamentares têm o discurso de defesa do governo na ponta da língua. Falam em retomada do crescimento, avanço das reformas, defendem o governo de transição, advertem que substituir o presidente novamente seria pôr em risco a democracia, abrir caminho para uma intervenção militar etc. Mas, na hora agá, mesmo assim, votarão a favor da denúncia ou não aparecerão para votar. O nome disso é medo do eleitor, temor de entrar na lista de parlamentares que serão atacados nas redes sociais nas eleições do próximo ano, por movimentos engajados na luta contra a corrupção, como o Vem Pra Rua, por exemplo.

Temer age para repetir ao menos placar da 1ª votação

Segunda denúncia será votada amanhã; Planalto quer no mínimo 263 votos e libera R$ 829 milhões em emendas
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Daiene Cardoso, Igor Gadelha, Isadora Peron, Vera Rosa | O Estado de S. Paulo

/ BRASÍLIA - O governo avalia ter 240 votos garantidos e age para conseguir pelo menos os 263 obtidos na 1.ª votação, amanhã, quando deputados vão votar a 2.ª denúncia contra o presidente Michel Temer. A estratégia do Planalto para conquistar votos tem sido liberar emendas parlamentares e fazer nomeações em cargos. Desde 14 de setembro, quando a Procuradoria-Geral da República apresentou a denúncia por organização criminosa e obstrução da Justiça contra Temer, o governo liberou quase R$ 829 milhões em emendas. Do valor total previsto para este ano, R$ 6,8 bilhões, o Planalto ainda tem cerca de R$ 1,6 bilhão para distribuir. Os esforços estão concentrados em cerca de 40 deputados da base que ameaçam votar contra o peemedebista. “Se houver atuação semelhante à dos parlamentares na denúncia anterior, estou tranquilo”, disse Temer à coluna Direto da Fonte.

À véspera da votação da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer no plenário da Câmara, a “tropa de choque” do governo avaliava ontem ter garantidos 240 votos e trabalhava para conseguir um placar que chegue ao menos aos 263 obtidos no primeiro resultado. A estratégia do Palácio do Planalto, a exemplo da acusação por corrupção passiva, tem sido usar a liberação de emendas parlamentares e a nomeação de afilhados políticos em cargos no segundo e terceiro escalões do Executivo para conquistar mais votos.

Temer tenta obter margem de vitória maior em votação

Temer tenta frear debandada e ampliar margem de vitória

Ranier Bragon, Marina Dias, Daniel Carvalho | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com uma planilha de apoiadores cerca de 20 votos mais magra do que na análise da primeira denúncia, em agosto, o governo Michel Temer decidiu priorizar nas últimas 48 horas conversas com um grupo de 40 parlamentares para tentar evitar um resultado politicamente negativo na sessão desta quarta-feira (25).

A primeira acusação da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra Temer foi barrada com o apoio de 263 deputados, mas agora esse número pode ficar abaixo da metade das cadeiras da Câmara (257).

Governistas dizem ter certo, nesse momento, 240 votos. O foco é conter a debandada de um grupo de aproximadamente 40 parlamentares que têm demonstrado insatisfação e cobrado benesses do Palácio do Planalto.

PMDB, PR e PSD, que haviam fechado questão na primeira denúncia —ou seja, obrigado as bancadas a votar contra a denúncia, sob risco de punição—, não farão o mesmo agora.

Alckmin avalia exonerar secretários para ajudar Temer a barrar 2ª denúncia

Votos de Samuel Moreira (Casa Civil) e Floriano Pesaro (Desenvolvimento Social) já constam em levantamento feito por governistas

Igor Gadelha | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), avalia exonerar dois secretários estaduais que são deputados para que retomem os mandatos e votem pela rejeição da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer na quarta-feira, 25, no plenário da Câmara. Segundo tucanos ouvidos pelo Estadão/Broadcast Político, o movimento seria um aceno ao Palácio do Planalto, com vistas às eleições de 2018, quando Alckmin quer se candidatar a presidente da República.

O governador paulista pode exonerar os secretários Samuel Moreira (Casa Civil) e Floriano Pesaro (Desenvolvimento Social), ambos do PSDB. A exoneração é "necessária", pois os dois suplentes deles na Câmara - deputados Roberto Freire (PPS-SP) e Izaque Silva (PSDB-SP) - votaram pela aceitação da primeira denúncia contra Temer, por corrupção passiva, e, nas contas dos governistas, iriam repetir o posicionamento desta vez.

Os votos de Moreira e Pesaro a favor de Temer já constam, inclusive, em levantamentos feitos por líderes governistas na Câmara aos quais o Estadão/Broadcast Político teve acesso. Os dois chegaram a pedir exoneração dos cargos de secretários na semana passada para garantir a apresentação de emendas individuais ao Orçamento de 2019, mas foram nomeados para os cargos novamente no sábado, 21.

Aliados dizem que Temer pode chegar a 270 votos na segunda denúncia

Vice-líder do governo afirma que votação será última chance de parlamentares estarem na base do governo

Felipe Frazão | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Deputados da base aliada do presidente Michel Temer dizem que o peemedebista deverá ter “entre 260 e 270 votos” na quarta-feira, 25, na Câmara dos Deputados, quando o plenário vota a admissibilidade da segunda denúncia criminal contra ele. Temer recebeu 13 deputados e três ministros durante jantar no Palácio da Alvorada, em Brasília, para fazer um prognóstico detalhado, partido por partido, dos votos.

“Nós deveremos ter entre 260 e 270 votos pelo arquivamento da denúncia. Todo esse grupo que esteve com o presidente fez uma reanálise de todos os partidos. Já tivemos uma votação expressiva de 263 e mais três deputados que declararam seu voto no microfone e não no painel”, disse após o jantar o deputado Beto Mansur (PRB-SP), contador informal de votos do Palácio do Planalto.

O vice-líder do governo cobrou fidelidade da base governista, mas disse que possíveis retaliações de infiéis são tema para depois da votação. Segundo ele, muitos parlamentares na base votam contra e o Planalto deve privilegiar quem vota pró-Temer. Ele admitiu que a liberação de emendas parlamentares ajuda o governo a conseguir votos e que ainda há alguns deputados insatisfeitos com promessas não cumpridas.

Governistas projetam aumento de margem a favor de Temer na Câmara

Por Andrea Jubé, Marcelo Ribeiro e Bruno Peres | Valor Econômico

BRASÍLIA - A dois dias da votação da segunda denúncia proposta pela Procuradoria Geral da República, o presidente Michel Temer reuniu os líderes governistas na Câmara em um jantar no Palácio da Alvorada e hoje fará um périplo noturno para reforçar a articulação contra a ação penal.

Na reta final das negociações, a contabilidade do Planalto tem expectativa de ampliar a margem de votos em relação à primeira denúncia em pelo menos 20 adesões. Contudo, um auxiliar presidencial reconhece a possibilidade de que esse número seja reduzido. Na análise da primeira acusação, foram 263 votos contra o processo.

Em meio à polêmica sobre a portaria do trabalho escravo, ele também fez gestos à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao entregar-lhe a comenda da Ordem do Mérito Aeronáutico em solenidade pelo Dia do Aviador na Base Aérea.

O partido da Lava Jato – Editorial | O Estado de S. Paulo

Aos poucos, a Lava Jato, que caminha para seu quarto ano, vai deixando de ser uma operação contra um esquema de corrupção em estatais e organismos de governo para se transformar em partido político. Essa metamorfose começou a se manifestar quando alguns procuradores que integram a operação começaram a falar em “saneamento” da política como seu principal objetivo. Ou seja, ao se atribuírem uma tarefa que claramente extrapola o escopo de seu trabalho, imiscuindo-se em seara que, numa democracia, é exclusiva dos eleitores e de seus representantes no Legislativo, esses procuradores acabaram por se comportar como militantes de um partido – e, como tal, passaram a tratar todos os críticos de sua “plataforma” como adversários políticos.

Em recente entrevista ao Estado, o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, deixou clara, de vez, essa disposição. Segundo Dallagnol, a Lava Jato não revelou apenas a corrupção de um político ou de um grupo, “mas de grande parte da classe política”. Por essa razão, “o objetivo da operação é colocar essas pessoas poderosas debaixo da lei”. Mas, segundo o procurador, “há um problema: elas fazem as leis”. Ou seja, a julgar pelo que diz o coordenador da Lava Jato, a operação só será considerada bem-sucedida se varrer do Congresso “grande parte da classe política”, gente que, em sua visão, faz leis exclusivamente para se proteger da Justiça.

Proliferação de cargos – Editorial | Folha de S. Paulo

A tabela de salários dos servidores do Executivo federal, listando as múltiplas situações funcionais existentes na máquina brasiliense, compõe hoje um calhamaço de 623 páginas —eram já copiosas 82 em 1998, quando o documento começou a ser divulgado.

De lá para cá, não aumentou somente o quadro de pessoal, atualmente de 635 mil civis; o que deu à publicação suas dimensões de Velho Testamento foi uma gestão caótica da força de trabalho.

Sob pressões corporativas, proliferaram novas categorias para acomodar o funcionalismo, em especial durante as administrações petistas. Contavam-se, no início da década passada, cerca de 30 carreiras e cem diferentes cargos. Estes foram triplicados; aquelas se tornaram difíceis de distinguir.

Há, ou deveria haver, sentido gerencial em tais classificações. A carreira de policial federal, por exemplo, inclui cargos como os de delegado, agente e escrivão. Cada um deles demanda habilidades específicas, a serem aprimoradas com treinamento e experiência.

Salvo casos pontuais, não faria sentido remanejar tais profissionais para outras funções no Executivo, tampouco substituí-los por servidores de formação diversa.

BC vê mais concentração e ativos problemáticos – Editorial | Valor Econômico

Quando divulgou o mais recente Relatório de Estabilidade Financeira (REF), o Banco Central traçou um panorama razoavelmente otimista do sistema bancário, após superar com louvor o choque de 17 de maio, quando a divulgação da gravação da conversa entre o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista exigiu um reforço de margens de R$ 30 bilhões nos mercados em um único dia.

A solvência não apresenta risco para a estabilidade financeira, de acordo com o relatório; e os índices de capitalização e de alavancagem estão robustos o suficiente para a transição para as regras prudenciais de Basileia 3. A liquidez está elevada e o retorno sobre o patrimônio líquido aumentou, para o patamar de 12% ao ano, beneficiado pela redução nas despesas de provisão e pela queda dos custos de captação propiciada pela redução de juros.

A realidade mostrou nuances alguns dias depois, quando ganhou evidência o aperto em que a Caixa Econômica Federal se encontra. O banco teria pisado no freio do crédito porque precisa elevar o capital para atender as regras de capitalização previstas pelo Acordo de Basileia para o próximo ano. Para complicar, os ativos problemáticos na carteira de pessoa física caíram ou estabilizaram em todas as modalidades exceto na de crédito imobiliário, que registrou também o aumento das reestruturações. Uma das saídas seria emitir R$ 10 bilhões em "bônus perpétuos", título de crédito sem vencimento, que frequentemente paga taxas de juros mais altas, junto ao FGTS. A operação exige sinal verde do conselho curador do fundo. Há quem diga que isso não é suficiente e que a Caixa precisaria de pelo menos o dobro. Daí uma possível negociação para a venda de parte da carteira para o BNDES.

Argentina à frente do Brasil na reconstrução – Editorial | O Globo

Vitória de Macri em eleições legislativas contra kirchnerismo e peronistas comprova a viabilidade nas urnas de uma plataforma de reformas liberais

Brasil e Argentina, por diversas circunstâncias históricas de formação, costumam cumprir ciclos semelhantes na política. É o que mostram as fases de autoritarismo e distensão. Assim como os surtos de populismo.

Se os brasileiros tiveram Getulio Vargas, os argentinos contaram com Juan Domingo Perón — para azar da Argentina, um caudilho que se enraizou de forma bem mais profunda no país do que o varguismo no Brasil.

A coincidência mais recente, e ainda em fase de desdobramentos, é o esgotamento, aqui e lá, de projetos populistas, conduzidos pelo casal Kirchner — Néstor e Cristina —, e pela dupla Lula e Dilma. Com algumas características peculiares a depender do lado da fronteira, ambas as experiências, como foi previsto, resultaram em euforia no povo e em alta popularidade dos governantes, no início, com um desastroso desfecho em meio à inflação alta, à recessão e ao desemprego.

Reforma trabalhista e política monetária | José Márcio Camargo *

- O Estado de S.Paulo

A flexibilização dos salários nominais parece favorecer os trabalhadores, mas tem um resultado muito perverso

A nova legislação trabalhista, que entrará em vigor no dia 11 de novembro, vai introduzir mudanças importantes que vão afetar não apenas o mercado de trabalho, mas a economia como um todo. Uma dessas mudanças é a flexibilização dos salários nominais.

Pelas regras atuais, os salários nominais dos trabalhadores somente podem ser reduzidos durante a negociação coletiva, que ocorre uma vez por ano, com a anuência do sindicato. À primeira vista, essa cláusula parece favorecer os trabalhadores. Entretanto, o resultado final é extremamente perverso.

Quando a economia entra em desaceleração e as receitas e os lucros das empresas começam a cair, diante da impossibilidade de baixar o custo do trabalho por meio da redução do salário nominal, as empresas os demitem e contratam outros por um salário mais baixo para substituí-los. Ou seja, a empresa ajusta o custo do trabalho usando como instrumento a rotatividade do trabalhador.

Alckmin diz que é melhor para o país Temer permanecer no cargo

Pré-candidato do PSDB à Presidência, governador defendeu continuidade do peemedebista em nome da recuperação econômica

Silvia Amorim | O Globo

SÃO PAULO - Pré-candidato do PSDB à Presidência, o governador Geraldo Alckmin disse nesta terça-feira que o melhor para o país é que o presidente Michel Temer (PMDB) continue no cargo até o fim do mandato. O plenário da Câmara começa a apreciar a segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer nesta quarta-feira.

— Espero que o presidente continue, porque estamos a menos de um ano do processo eleitoral. Precisamos ter cuidado para não fragilizar a economia que dá os primeiros passos de recuperação. Acredito que ele vai continuar e acho bom para o Brasil — afirmou Alckmin.

Na votação da primeira denúncia, em agosto, 10 dos 11 deputados federais do PSDB de São Paulo votaram a favor da abertura de ação criminal contra Temer. O alinhamento anti-Temer da bancada tucana paulista foi atribuído a Alckmin. Ele, entretanto, nega que tenha interferido na definição de voto dos parlamentares. Nesta manhã, o governador reafirmou que não se envolverá no assunto.

— Não vou interferir agora, assim como não interferi na primeira denúncia. É assunto da Câmara e dos deputados. Cada um votará de acordo com a sua convicção — disse ele.

‘O perigoso caso de Donald Trump’ | *Rubens Barbosa

- O Estado de S.Paulo

Está em jogo a credibilidade da palavra do governo norte-americano

Durante a campanha eleitoral, Jeb Bush previu corretamente que Donald Trump era o candidato do caos e, caso eleito, seria um presidente do caótico. Questões de guerra e paz, armas nucleares, imigração e previdência social, que afetam milhões de pessoas nos EUA e em outros países, são tratadas surpreendentemente de maneira pública, muitas vezes contrariando as posições de seus ministros, em tuítes matinais.

Decorridos dez meses da posse e diante das atitudes desconcertantes de Trump, aumentam as incertezas sobre as perspectivas do atual governo norte-americano. O formato e o estilo de seus pronunciamentos públicos, sem precedentes na história política de Washington, a atitude quase autoritária de impor a sua vontade contra a de seus ministros e a maneira como pauta a imprensa, atacada e desprezada por ele, causam perplexidade não só na política interna, sobretudo na relação com o Congresso, mas igualmente ao redor do mundo, em especial entre os principais aliados dos EUA na Europa e na Ásia.

As ações unilaterais de Trump, em muitos casos incoerentes, estão mudando políticas em vigor sem definições alternativas. Disputas com aliados republicanos, opositores democratas e membros de seu ministério começam a ser percebidas como ameaças à estabilidade do governo, como indicam os primeiros pedidos de impedimento apresentados ao Congresso. Em várias frentes, como saúde, imigração, na chamada guerra cultural, que se estende da briga com atletas por seus protestos contra a violência policial na hora do hino nacional à suspensão da proteção contra a discriminação a transgêneros no trabalho, Trump coleciona derrotas, embora muitos (mais de 38% da população) ainda o apoiem, pelo que entendem ser a defesa dos valores americanos, perdidos com Barack Obama.

Espumas do Mar | Joaquim Cardoso

Cavalos ligeiros
De eriçadas crinas
Por que sobre as ondas
Passais sem parar?
Vencendo procelas,
Ressacas em flor,
Num fulgor de estrelas
A poeira das águas
Fazeis levantar.

Espumas do mar.

Nas serenas curvas
Da carne marinha
Há sopros, há fugas
De véus a ondular;
Vestidos de rendas...
Vestidos, mortalhas
De noivas morenas
Que em noites de lua
Virão se afogar.

Virão se afogar.

Se há fomes noturnas
Mordendo e chorando,
Lívidas, remotas
Fúrias soltas no ar,
Que os lábios do vento
Se abrindo devorem
A flor de farinha
Que as vagas maiores
Irão derramar.

Espumas do mar.

Nesse fogo verde
De cinza tão branca
Que se apure um mel

De brilho sem par;
Turbinas, moendas
No giro girando
E o açúcar nascendo
Na folha das ondas
Constante a rolar.

Constante a rolar.

Sobre os seios mansos
Das baías claras
Em puro abandono
Não hei de ficar;
Saudades das ilhas,
Amor dos navios,
Segredo das águas
Nas barras dos rios
Irei desvendar.

Espumas do mar.

Em mares incertos
Irei navegar;
E direi louvores
Às velas latinas
Por bem velejar;
Louvores direi
Aos lírios de sal
E às vozes dos búzios
Que sabem cantar.

Que sabem cantar.

Teu rosto esqueci,
Teus olhos? Não sei...
Da face marcada
O espelho quebrei
De muito sonhar;
Nos laços retidos
Das águas profundas
Tesouros perdidos
Quem há de encontrar?
Espumas do mar.

Ademilde Fonseca - "Odeon" de Ernesto Nazareth e Vinicius de Moraes