terça-feira, 5 de junho de 2012

OPINIÃO DO DIA – Fernando Henrique Cardoso :controle ideológico

Ainda recentemente, um sociólogo mexicano, falando na Fundação iFHC e se referindo a outro aspecto da mesma questão, disse que o resultado das eleições em seu país independe das campanhas eleitorais. Isso porque, quando a propaganda partidária tem vez na mídia, a "opinião" já está enraizada nos eleitores, pois nos anos anteriores se elegeram os heróis e os vilões cujas virtudes e defeitos foram repetidos todo o tempo, sem contestação crítica. Será muito diferente entre nós? É dessa maneira que se exerce nas modernas sociedades de massa o controle ideológico da opinião, seja pelos governos, seja pelos grupos dominantes na sociedade, econômicos ou políticos.

CARDOSO, Fernando Henrique, sociólogo e ex-presidente. ‘Política e meios de comunicação’, O Estado de S. Paulo, 3/6/2012

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Congresso desafia Dilma com 620 emendas a Código Florestal
Arma no Riocentro, nem mesmo com porte
Delta fala em bullying e pede concordat
BC intervém em banco de consignados

FOLHA DE S. PAULO
Principal alvo da 'faxina' de Dilma, PR se alia a Serra
Delta se diz vítima de bullying e tenta evitar a falência
Ministro nega o fim de aluguel de horários nas TVs
BC intervém no Cruzeiro do Sul após rombo de R$ 1,3 bi

O ESTADO DE S. PAULO
Delta tenta evitar falência e se diz vítima de "bullying"
Cruzeiro do Sul usava 300 mil créditos fictícios
Dilma quer ação "pró-cíclica" de investimentos
Acordo vai facilitar entrada de turistas

VALOR ECONÔMICO
Vale abre disputa judicial contra taxas de mineração
Intervenção no Cruzeiro do Sul afeta pequenos
Sobra crédito do BNDES para usinas
Brasil vai recorrer à OMC contra África do Sul
Inflação é de novo arma da oposição na Argentina
Ferrovia da soja começa a sair do papel

CORREIO BRAZILIENSE
Solto o espião que grampeou a República
BC intervém no Banco Cruzeiro do Sul

ESTADO DE MINAS
Caloteiros vão às urnas
Dilma em BH

ZERO HORA (RS)
IPI menor não basta para elevar consumo
Transparência

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Professores da rede particular em greve
Resultado do PT deve sair apenas amanhã

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Mercado já prevê alta do PIB inferior à de 2011

No primeiro levantamento após divulgação do PIB do 1º trimestre, pesquisa do BC indica queda na estimativa de crescimento de 2,99% para 2,72%

Eduardo Cucolo

BRASÍLIA - O mercado financeiro já espera para 2012 um crescimento da economia abaixo do verificado em 2011. A pesquisa Focus do Banco Central divulgada ontem mostrou que a estimativa de expansão caiu de 2,99% para 2,72%. No ano passado, o País cresceu 2,73%.

Esse é o primeiro levantamento divulgado após a apresentação, na sexta-feira, dos números do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2012, que decepcionaram o governo e os economistas do setor privado. O crescimento foi de 0,2% sobre o trimestre anterior e de 1,9% em 12 meses.

A pesquisa mostra ainda que a previsão mais otimista para 2012 entre os economistas consultados é de expansão de 3,5%, abaixo da meta do governo divulgada no início do ano de 4,5%.

O piso das estimativas para crescimento do País é de 1,8%, segundo a pesquisa do Banco Central. O próprio governo já reconhece que não vai conseguir alcançar a meta inicial e tenta garantir agora uma expansão próxima de 3%.

A expectativa no mercado é que as medidas de estímulo já anunciadas, como corte de juros e impostos, tenham impacto maior no fim deste ano e início do próximo. Para 2013, a pesquisa aponta expansão de 4,5%.

Os economistas também revisaram novamente para baixo a estimativa de crescimento da indústria, que caiu de 1,58% para 1,15%, apesar de os números do setor no primeiro trimestre terem surpreendido positivamente os analistas.

Roberto Padovani, economista-chefe da Votorantim Corretora, por exemplo, revisou sua projeção de 2,9% para 2,2%, por causa dos números do primeiro trimestre e considerando um cenário de estabilização na economia internacional.

O economista avalia, no entanto, que há espaço para a retomada da atividade, com recuperação do consumo e dos investimentos, considerando, por exemplo, os efeitos defasados das políticas de estímulo anunciados pelo governo. "A retomada esperada sustenta nossa visão de que o PIB em 2013 possa ficar em 4,2%."

Juros e dólar. Diante dessa desaceleração, os economistas esperam mais um corte da taxa Selic, que está em 8,5% ao ano desde a semana passada e deve cair para 8% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de 10 e 11 de julho.

Outro efeito da crise é a alta do dólar. A projeção para o preço da moeda é de R$ 1,90 no fim deste ano e R$ 1,85 em dezembro de 2013. Para o fim de junho, a expectativa é de uma taxa de R$ 2, que deverá recuar gradativamente nos meses seguintes.

A alta do dólar deve pressionar os índices de inflação usados na correção de tarifas e aluguéis (IGP-DI e IGP-M), que devem ficar entre 5,5% e 6% no ano. Ainda segundo a pesquisa, a projeção para a inflação medida pelo IPCA em 2012 caiu de 5,17% para 5,15%. Para 2013, segue em 5,6%.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Mercado diminuiu projeção de crescimento do país para 2,72%

Analistas também estimaram que a inflação será menor este ano: 5,15%

O mercado reduziu a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, após a divulgação do resultado quase estagnado da economia durante o primeiro trimestre. Segundo o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central ontem, os analistas do mercado financeiro esperam agora que o PIB brasileiro cresça 2,72%, em vez dos 2,99% que previam na semana passada.

Na sexta-feira, o IBGE informou que a economia registrou no primeiro trimestre do ano expansão de apenas 0,2% frente aos três últimos meses de 2011, com queda forte da agropecuária e do investimento. Na comparação com o mesmo período do ano passado, a economia cresceu 0,8%. Foi a quarta semana consecutiva em que o mercado revisou para baixo sua expectativa para o PIB. Em 4 de maio, esperava-se que a expansão fosse de 3,23% no ano, mas a série de resultados negativos da economia divulgados desde então derrubou as previsões. Os analistas reiteraram, porém, a estimativa para o avanço do PIB do ano que vem em 4,5%.

Câmbio deve manter-se estável com dólar a R$ 1,90

O mercado também manteve a perspectiva para a Selic neste ano em 8%, após o Comitê de Política Monetária (Copom) ter levado a taxa básica de juros para o menor nível histórico na semana passada (8,5%), deixando a porta aberta para mais cortes. Até então, o menor nível alcançado pela taxa era de 8,75%.

Com expectativa de economia mais fraca, a previsão para a inflação oficial, o IPCA, caiu de 5,17% para 5,15% ao ano. A previsão para o câmbio ao fim do ano manteve-se estável, com o dólar fechando o período valendo R$ 1,90. O mercado financeiro estima que a moeda americana estará cotada também a esse valor na média do ano. Há uma semana, a expectativa era de que o dólar estivesse a R$ 1,87.

Apesar de uma expectativa de inflação oficial mais baixa, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-S), que mede a inflação semanalmente, aumentou em quatro das sete capitais pesquisadas, na última semana de maio, informou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV). A maior alta foi observada em Salvador, onde a taxa variou 0,18 ponto percentual, ao passar de 0,83%, na terceira semana de maio, para 1,01%, na quarta. Também foram registrados acréscimos na inflação no Rio de Janeiro (de 0,4% para 0,46%), em Recife (de 0,8% para 0,86%) e em São Paulo (de 0,41% para 0,43%). As demais cidades apresentaram as seguintes reduções: Brasília (de 0,41% para 0,4%), Belo Horizonte (de 0,48% para 0,39%) e Porto Alegre (de 0,46% para 0,4%).

Na média nacional, o IPC-S fechou o mês de maio com variação de 0,52%. O resultado é 0,02 ponto percentual superior ao da apuração passada.

Já o crédito, que está sendo usado para impulsionar a economia cresceu este ano. As concessões de crédito imobiliário com recursos da poupança somaram R$ 23,3 bilhões nos quatro primeiros meses de 2012, montante 5,2% maior frente ao mesmo período no ano passado, informou, ontem, a Abecip, associação que representa o setor no país. O valor equivale ao financiamento de 137,3 mil unidades no quadrimestre, número 4,9% menor em relação ao mesmo intervalo em 2011, refletindo os preços dos imóveis em alta.

Se considerado apenas o mês de abril, entretanto, houve queda de 7% no volume de recursos concedidos na comparação com o mesmo mês de 2011, somando R$ 5,7 bilhões. Em número de unidades, foram financiados 32,5 mil imóveis em abril, 16% na mesma comparação.

Já o total concedido nos 12 meses até abril atingiu R$ 81 bilhões, alta de 27% sobre um ano antes, enquanto o número de unidades foi 8% superior, em 485,9 mil.

FONTE: O GLOBO

BNDES baixa juro para linha de curto prazo

Dilma convoca reunião de emergência para reativar economia; principal preocupação é com setor de transportes

Governo quer medidas "anticíclicas" para incentivar empresas privadas e destravar investimentos públicos

Valdo Cruz, Sheila D’Amorim e Kelly Matos

BRASÍLIA - A presidente Dilma convocou ontem reunião de emergência com sua equipe econômica para determinar a elaboração de "medidas efetivas" que destravem os investimentos públicos e estimulem empresas privadas a fim de reativar a economia.

A avaliação é que o governo tem que liderar o processo de investimento e evitar o "desânimo" no setor privado. No primeiro trimestre, os investimentos como um todo no país caíram 1,8%.

O setor que mais preocupa é o dos transportes: no primeiro trimestre de 2011, o investimento foi de R$ 3,7 bilhões e, no mesmo período deste ano, caiu para R$ 1,7 bilhão.

Hoje, por orientação presidencial, o BNDES anuncia a criação de linha de crédito para financiar capital de giro das empresas, com redução dos juros de 9,5% para menos de 7% anuais.

Esse tipo de linha não é rotineira no BNDES, mas sempre é reforçada em momentos de crise na economia, quando as empresas brasileiras enfrentam dificuldades de se financiar no mercado, como aconteceu na crise internacional de 2008/2009.

Segundo assessores, a iniciativa é ação "anticíclica" para oferecer a empresas recursos para seu dia a dia num momento de crise global.

Quanto aos investimentos públicos, o diagnóstico preliminar do governo é que muitos projetos estão andando devagar e que recursos orçamentários deixam de ser acessados por problemas "gerenciais". Segundo a Folha apurou, a ideia é lançar entre esta e a próxima semana medidas para impulsionar os investimentos tanto do governo federal como de estatais.

Superavit

Está em discussão, mas sem decisão, reduzir o superavit primário para abrir espaço para mais investimentos públicos. Dilma considera que a medida é extrema e que, antes, a equipe deve gastar o que está disponível.

Segundo assessores, a presidente decidiu "mobilizar sua tropa" para adotar uma "ação coordenada" que resulte em ações para tentar evitar um crescimento abaixo dos 2,7% registrados em 2011.

Em discurso ontem no fim da manhã, após a reunião de emergência, Dilma mostrou sua preocupação em aumentar os investimentos, embora tenha trocado o nome da orientação econômica que recomenda aumento de gastos públicos em períodos de estagnação da economia, definida como "anticíclica".

"O Brasil também se prepara para ter, diante do acirramento das crises e de processos recessivos na economia internacional, uma política pró-cíclica de investimento."

Para realizar a reunião de ontem, a presidente mudou a agenda dos ministros Guido Mantega (Fazenda) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e do presidente do BNDES, Luciano Coutinho.

Mantega teve que mudar os planos e estar em Brasília pela manhã. Pimentel antecipou volta do exterior. Coutinho adiou em um dia entrevista para anunciar as medidas do banco.

Participaram também da reunião as ministras Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e Mirian Belchior (Planejamento). Nova rodada de conversas ocorreu no início da noite, com mais cinco ministros.

Banco repete estratégia da crise de 2009

Em resposta à crise 2008/2009, o BNDES lançou programa de financiamento a capital de giro, cortou juros, ampliou prazos e concedeu mais crédito. Só para capital de giro o banco reservou R$ 6 bilhões a fim de compensar a secura de crédito. Foram desembolsados R$ 4,7 bilhões até agosto de 2010.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Hora de mudar

O péssimo resultado do PIB brasileiro no primeiro trimestre do ano produziu uma rara convergência de avaliações sobre a gestão da economia no governo Dilma Rousseff: o caminho perseguido até agora está equivocado, não está produzindo resultados positivos e precisa ser mudado. É hora de humildade para redirecionar o rumo e evitar o pior.

Os dados do IBGE mostraram que a alternativa de levantar o PIB por meio da expansão do consumo, definitivamente, deixou de funcionar. A demanda das famílias ainda cresce, mas num ritmo incapaz de contrabalançar a anemia de outras áreas, principalmente os investimentos - tanto os públicos, quanto os privados.

Há anos ouvem-se clamores para que o governo realize os investimentos necessários para melhorar as condições de competitividade do país. Há anos o que se vê, como resposta, é um desempenho medíocre das gestões petistas neste quesito. Foi assim com Lula, continua sendo assim com Dilma.

Neste ano, os investimentos federais correspondem a 0,9% do PIB, menos que o registrado em 2010 (1,2%) e em 2011 (1%). Especificamente em infraestrutura, investe-se hoje menos que na década de 80 - aquela que era chamada de "perdida" até pouco tempo atrás: segundo a OCDE, são 0,4% do nosso PIB, menos da metade da média mundial.

A crítica situação atual dos investimentos representa uma espécie de acerto de contas com os descalabros em série produzidos ao longo de toda a era petista. O Estado não apenas não fez a sua parte, como também erodiu as condições para que os empreendedores privados fossem adiante.

As condições de concorrência se deterioraram com o aumento da intervenção estatal nas condições de mercado, marca dos governos petistas. Com os vencedores sendo escolhidos nos gabinetes brasilienses, investir para produzir mais tornou-se temerário.

Ao mesmo tempo, a estrutura regulatória - tão cuidadosamente erigida na era Fernando Henrique Cardoso - foi sendo, dia após dia, implodida. Em toda e qualquer área, passou a imperar a discricionariedade e o interesse político-partidário. Quem se aventura a investir num ambiente assim?

Estímulos ao investimento privado jamais foram adotados. As parcerias público-privadas continuam engavetadas. Concessões e privatizações demoraram anos para serem retomadas, levando nossa infraestrutura literalmente para o buraco. Com tanto desincentivo, não é surpresa que seja tão difícil acreditar na decolagem do Brasil.

Mais alguns números servem para ilustrar a marcha à ré. Os investimentos em infraestrutura viária feitos neste ano até agora representam apenas metade do que foi aplicado no mesmo período de 2011. O Dnit está paralisado, com 55% da malha rodoviária nacional, ou 33 mil quilômetros de estradas, sem contratos de manutenção e recuperação, como mostra hoje o Valor Econômico em manchete.

Outro exemplo: por absoluta incompetência gerencial, o governo não consegue concluir uma das mais importantes obras logísticas do país, a ferrovia Norte-Sul. A estatal Valec deixou vencer contratos com empreiteiras e a obra só ficará pronta no ano que vem, prolongando sobrecustos de transporte que chegam a R$ 12 bilhões ao ano, informou a Folha de S.Paulo ontem.

Para piorar, as intenções de investimento nos próximos quatro anos já diminuíram R$ 35 bilhões, segundo O Estado de S.Paulo. As maiores quedas são em siderurgia, celulose, petroquímica e eletroeletrônicos. Neste ano, os gastos em máquinas e equipamentos - ou seja, em modernização e aumento de produção - devem cair 11%, de acordo com a Fiesp.

Se os empresários brasileiros tiraram o pé do acelerador, os estrangeiros pisaram fundo no freio: investimentos em carteira caíram de US$ 17,4 bilhões no primeiro quadrimestre de 2011 para apenas US$ 3,2 bilhões neste ano. O encantamento e a euforia com o país "não existem mais", como atestam até aliados importantes do petismo, como o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

Diante desta avalanche negativa, as expectativas estão convergindo pesadamente para baixo. Há pouco, o BC divulgou que a previsão para o PIB deste ano afundou para 2,72%. Foi a quarta queda seguida de um prognóstico que não costuma ser alterado tão bruscamente em tão curto espaço de tempo pelos analistas - há um mês, estava em 3,23%.

Os resultados do primeiro trimestre do ano não são um ponto fora da curva; o país atravessa um claro momento de estagnação - para se ter ideia, entre 24 economias emergentes, estamos apenas em 15° lugar no ranking do crescimento pós-2009. Para este ano, uma expansão de 2,5% passou a ser tida, majoritariamente, como teto para nosso PIB.

Passou da hora de recuperar uma agenda de reformas voltada a dar melhores condições de competitividade à economia brasileira, impulsionando tanto o investimento público quanto o privado. Há uma lista enorme de medidas modernizantes clamando para ser implementada. A política do puxadinho, com benesses esparsas, favores dirigidos, incentivos desconexos, falhou, e só o PT não vê.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

BC intervém em banco de consignados

O Banco Central decidiu intervir no Banco Cruzeiro do Sul, após constatar rombo de R$ 1,3 bilhão nas contas da instituição, principalmente com operações de crédito consignado. O banco, com quase dois milhões de clientes, tinha 0,22% de ativos do sistema financeiro. Os administradores foram afastados e o BC ainda espera que seja saneado e depois vendido.

Intervenção no Cruzeiro do Sul

Rombo de R$ 1,3 bi na contabilidade do banco leva a afastamento de administradores

Ronaldo D"Ercole, Aguinaldo Novo e Gabriela Valente

A descoberta de um rombo de R$ 1,3 bilhão na contabilidade levou o Banco Central a decretar ontem o Regime de Administração Especial Temporária (Raet) no Banco Cruzeiro do Sul. O problema começou a ser identificado em abril, quando o BC fez uma auditoria na instituição e identificou problemas na qualidade das carteiras, solvência e liquidez. Os técnicos constataram ativos registrados no balanço que não existiam ou foram classificados de forma errada. E isso causou problema nas provisões do banco - reserva para se proteger de calotes - que ficou abaixo do valor necessário para manter a saúde bancária.

Há duas semanas, o BC deu prazo para que os controladores do Cruzeiro do Sul fizessem um aporte de capital. Como eles não conseguiram levantar os recursos nem deram argumentos convincentes que justificassem a sucessão de erros, o BC decidiu decretar a indisponibilidade dos bens dos administradores e instalou a comissão de inquérito para apurar os fatos. Se a fraude for confirmada, eles responderão criminalmente.

Na época, o controlador do banco, Luis Octavio Índio da Costa, buscava uma solução. Ele chegou muito próximo de vender o seu controle para o BTG Pactual, mas o negócio não prosperou porque não há garantia de que o rombo não seja maior. Por isso, o BC optou pela intervenção.

O BC determinou que o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) permaneça à frente do Cruzeiro do Sul até a conclusão do processo. Na prática, trata-se de uma intervenção mais branda, usada geralmente quando o BC acredita que há possibilidade de recuperação da instituição.

Este é mais um caso de bancos de pequeno e médio porte em apuros, desde que o BC apertou a fiscalização, em setembro de 2011. Antes, já em outubro, o banco Morada havia sido liquidado, e, em abril deste ano, o Schahin foi vendido ao BMG, com as bênçãos do próprio governo.

Crédito consignado, raiz dos problemas

Os problemas encontrados pelo BC referem-se a uma carteira antiga de créditos consignados, sem a comprovação de que as operações existam de fato. Por não saber se há contaminação parecida no restante da carteira do banco - que passa de R$ 6,5 bilhões, sendo 90% dela em empréstimos consignados, considerados de baixo risco -, o FGC recusou-se a garantir ao BTG Pactual que cobriria eventuais rombos que surgissem adiante, além do R$ 1,3 bilhão já detectado. O BTG não aceitou fechar a compra, com receio de perdas futuras. As negociações se estenderam até o último fim de semana.

O FGC, que é comandado pelos grandes bancos- públicos e privados - tem todo interesse em manter o Cruzeiro do Sul em pé. Não apenas para preservar o patrimônio dos correntistas com recursos aplicados no banco, mas principalmente o dos investidores internacionais que apostaram em títulos da instituição. O Cruzeiro do Sul tem R$ 2 bilhões em bônus emitidos no exterior, além de R$ 800 milhões em dívida subordinada contratada junto a instituições internacionais.

- No caso dos bônus no exterior, é perda (se o banco quebra). Vamos buscar uma equalização que minimize ao máximo as perdas de todo o mundo - disse Antônio Carlos Bueno, diretor-executivo do FGC.

O FGC também contratou a PricewaterhouseCoopers (PwC) para fazer uma varredura na contabilidade do banco. A ideia é ter uma medida exata das fragilidades contábeis identificadas pelo BC. Só assim seria possível tentar vender novamente o banco.

- Em 90 dias, no máximo, vamos ter o resultado apurado da PwC. Aí fica mais seguro para se promover a venda - disse Bueno.

O BTG Pactual é sério candidato a voltar ao negócio, tão logo se saiba o tamanho da parte podre do banco. O certo, neste momento, é que o Cruzeiro do Sul não volta mais às mãos dos antigos controladores. Além disso, Luis Octavio e seu pai, Luis Felippe Índio da Costa, que dividiam o comando do banco, assim como todos os ex-diretores do Cruzeiro do Sul estão com os bens bloqueados até o fim do Raet, que tem prazo inicial de 180 dias, podendo ser prorrogado pelo mesmo período.

- Não existe mais diretoria, tem um conselho que somos nós (o FGC), e vamos cuidar do banco - disse Celso Antunes da Costa, diretor do Fundo que vai dirigir o Cruzeiro do Sul.

Nesse período, o banco, que tem oito agências (Rio, São Paulo, Campinas, Recife, Salvador, Belém, Palmas e Macapá), continuará funcionando normalmente. Os depósitos à vista podem ser movimentados, e os investidores com títulos do banco (CDBs, por exemplo) receberão seu dinheiro no vencimento dos papéis, assegura o FGC.

A decisão do BC de apertar o cerco aos bancos pequenos veio depois da descoberta de um rombo de mais de R$ 4 bilhões na contabilidade do PanAmericano. O banco, que era controlado pelo empresário Silvio Santos, vendia suas carteiras de empréstimos a outros bancos, não repassava os pagamentos feitos pelos clientes e ainda mantinha as operações como ativos seus.

Por isso, em junho do ano passado o BC criou a Central de Cessão de Crédito, que centraliza o registro de compra e venda de carteiras de crédito entre as instituições financeiras.

Banco tem apenas 0,22% dos ativos

Como os bancos pequenos não têm redes de agências para captar recursos, a cessão de carteiras a instituições maiores era a principal fonte de recursos para operar, o que ficou mais complicado com as novas regras de controle do BC.

As empresas Cruzeiro do Sul Corretora de Valores e Mercadorias, Cruzeiro do Sul DTVM e Cruzeiro do Sul S.A. Companhia Securitizadora de Créditos Financeiros também entraram no regime especial. Fontes do governo dizem que a atuação da autoridade monetária não significa que há um problema generalizado em bancos de médio ou até pequeno porte.

De acordo com o BC, o Cruzeiro do Sul detém apenas 0,22% do total dos ativos do sistema financeiro e 0,35% dos depósitos. A instituição tem R$ 12 bilhões de ativos e R$ 6,2 bilhões em depósitos. Ao todo, o sistema bancário brasileiro tem R$ 4 trilhões de ativos.

FONTE: O GLOBO

Solução foi diferente da usada no PanAmericano, de Silvio Santos

Na ocasião, outras empresas do apresentador foram dadas como garantia

Paulo Justus

SÃO PAULO . A intervenção do Banco Central no Cruzeiro do Sul mostra uma mudança da fórmula adotada pelo BC para resolver problemas semelhantes enfrentados pelo Banco PanAmericano, em novembro de 2010. Na ocasião, em vez de intervir no banco com dificuldades, o BC decidiu usar os recursos do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para fechar um rombo patrimonial que chegou a R$ 4,3 bilhões em troca de recebíveis de R$ 450 milhões do banco BTG Pactual, que adquiriu o PanAmericano.

A falta de ativos que garantissem os recursos do FGC para sanear o banco foi o principal motivo para que o BC optasse pela intervenção no caso do Cruzeiro do Sul, de acordo com Luis Miguel Santacreu, analista de instituições financeiras da consultoria Austin Rating. Ele lembra que, no caso do PanAmericano, os ativos do Grupo Silvio Santos foram usados como garantia da operação - além do próprio banco, as quatro empresas do grupo entraram no negócio: Baú Financeira, Liderança Capitalização, Jequiti (da área de cosméticos) e SBT, avaliados em R$ 2,7 bilhões.

- Os bens do Silvio Santos viabilizaram a venda ao BTG - explica Santacreu.

O fato de o PanAmericano ter uma participação societária da Caixa Econômica Federal também ajuda a compreender a atuação do BC. Quatro meses antes do anúncio do rombo, o banco estatal havia adquirido uma fatia de 35,54% do capital do banco por R$ 739,2 milhões.

- O PanAmericano tinha muitas características diferentes, porque fazia muita cessão de crédito a outros bancos, o que não acontece com o Cruzeiro do Sul - diz Celso Antunes da Costa, diretor do FGC indicado para dirigir o banco no período do Regime de Administração Especial Temporária (Raet), que também participou da gestão do Panamericano período da crise, até ser vendido para o banco BTG Pactual.

Segundo o Banco Central, o PanAmericano fraudou seu balanço ao contabilizar em duplicidade as carteiras de crédito. Isso significa o banco vendia participações em suas carteiras de crédito, mas continuava contabilizando esses recursos como se ainda estivessem em seu poder.

No primeiro trimestre deste ano, pouco mais de um ano depois da concretização da venda ao BTG, o PanAmericano registrou um lucro de R$ 2,9 milhões, valor 96,2% menor que os R$ 76,2 milhões registrados no mesmo período do ano passado. Segundo Santacreu, da Austin Rating, a piora no desempenho se deve ao processo de reestruturação administrativa do banco, que inclui a demissão de pessoal e o próprio pagamento de recursos ao FGC.

FONTE: O GLOBO

Delta tenta evitar falência e se diz vítima de "bullying"

Pivô no caso Cachoeira, empreiteira pede recuperação judicial e afirma sofrer calote por causa de denúncias

A empreiteira Delta entrou na Justiça do Rio com um pedido de recuperação judicial. A medida é recurso usado por empresas em dificuldades para evitar a falência. Em nota, a Delta se diz vítima de "bullying empresarial" e afirma que "várias administrações públicas estão deixando de honrar os pagamentos de obras já executadas", em razão das notícias do envolvimento de seus executivos em "supostos atos ilícitos". Principal empreiteira do PAC, a Delta é alvo de denúncias de ligação entre diretores da construtora e o contraventor Cadinhos Cachoeira. Na sexta-feira passada, a holding J&F desistiu de comprar a empresa alegando "crise de confiança e credibilidade".

Delta vai à Justiça para evitar falência

Em pedido judicial para "recuperar fôlego financeiro", empreiteira diz ser vítima de "bullying empresarial" e que levou calote de governos

Alfredo Junqueira

RIO - A Delta Construções anunciou, no início da noite de ontem, que entrou com um pedido de recuperação judicial na Justiça do Rio de Janeiro. A medida é um recurso usado por empresas em dificuldades financeiras para evitar a falência. Em nota de sua assessoria de imprensa, a construtora diz ser vítima de "uma espécie de bullying empresarial".

Principal empreiteira do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a Delta é alvo de denúncias nos últimos três meses, desde que a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, revelou ligações entre diretores da construtora e o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Na sexta-feira, a holding J&F anunciou que havia desistido de comprar a empresa de Fernando Cavendish alegando "crise de confiança e credibilidade". A Delta é alvo da CPI do Cachoeira no Congresso Nacional, tem executivos investigados pela PF e pode ser considerada inidônea pela Controladoria-Geral da União (CGU) - o que a impediria de participar de novas licitações do poder público.

No texto distribuído na noite de ontem, a Delta afirma que "várias administrações públicas estão deixando de honrar os pagamentos de obras já executadas", em razão das notícias do envolvimento de seus executivos em "supostos atos ilícitos".

A empresa afirma que pediu a recuperação judicial mesmo sem ter dívidas trabalhistas, previdenciárias e tributárias. "Os ativos patrimoniais e a receber são muito superiores à dívida atual com fornecedores e bancos", afirma o texto da construtora. A nota ainda ressalta que a empresa é responsável, direta ou indiretamente, pelo sustento de cerca de 80 mil famílias.

"Fôlego". "A administração da Delta está informando à Justiça que todas as empresas do grupo são viáveis economicamente e possuem ativos relevantes e que estão aptas a efetuar as obras e serviços públicos e privados para os quais foram contratadas. Afirma ainda que pretende honrar suas dívidas de forma integral, mas que necessita do amparo judicial para recuperar seu fôlego financeiro", explica o texto da construtora.

Para cuidar de seu processo de recuperação judicial, a Delta contratou a consultoria internacional Alvarez & Marsal - que já autuou em processos semelhantes com a Varig e a Casa & Vídeo (rede de varejo com sede no Rio). "No cenário internacional, a consultoria trabalhou no caso do banco Lehman Brothers", explica o texto distribuído pela empreiteira.

Obras. A Delta foi a empresa que recebeu o maior volume de recursos do governo federal nos últimos três anos. Foram R$ 2,4 bilhões em obras e serviços nesse período. A construtora tem mais de 300 contratos com 23 Estados e o Distrito Federal. Além de construção civil, a empreiteira atua em coleta de lixo em cidades como Rio e Brasília, concessão de rodovias e construção de linhas de transmissão de energia.

No Rio de Janeiro, onde fica a sede da empresa, a Delta prosperou principalmente a partir da gestão do governador Sérgio Cabral Filho (PMDB). Cavendish e o peemedebista são amigos íntimos. Nas primeira semana de CPI, a divulgação de fotos dos dois e suas respectivas mulheres em festas e jantares na França e em Mônaco tornou o governador fluminense um dos potenciais alvos da comissão. Na semana passada, no entanto, os parlamentares rejeitaram a convocação de Cabral. Nos cinco anos e cinco meses de gestão do peemedebista, a Delta faturou R$ 1,5 bilhão.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

STF confirma quebra nacional de sigilos bancário, fiscal e telefônico da Delta

Decisão de Rosa Weber é má notícia para empresa, que fez pedido de recuperação judicial

Mariângela Galluci

BRASÍLIA - Em sua primeira decisão individual sobre um tema polêmico, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), rejeitou na noite desta segunda-feira, 4, um pedido da Delta Construções para que fosse suspensa a quebra nacional dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da empresa. A quebra dos sigilos havia sido decretada pela CPI do Cachoeira.

O despacho de Rosa Weber, negando uma liminar à Delta, é um péssima notícia para a empresa, que nesta segunda protocolou um pedido de recuperação judicial. A íntegra da decisão da ministra, que tomou posse no Supremo em dezembro do ano passado, não foi divulgada até o fechamento desta edição. Mas no sistema de acompanhamento processual do STF foi incluída a informação de que a liminar foi indeferida.

Na ação protocolada na semana passada no STF, a Delta argumentou que a decisão da CPI do Cachoeira não foi devidamente fundamentada. Segundo a defesa, a CPI investiga fatos relacionados à atuação da Delta na região Centro Oeste. Por esse motivo, de acordo com os advogados, a quebra de sigilo não deveria atingir toda a empresa, que atua em mais de 20 Estados. A defesa também alegou que a quebra de sigilos envolveu um período muito longo, de janeiro de 2002 a março deste ano.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Livre da CPI, Cabral celebra seu governo em evento no RJ

Wilson Tosta

RIO - Liberado de depor na CPI do Cachoeira, o governador do Rio, Sérgio Cabral Filho (PMDB), transformou-se nesta segunda no centro de uma espécie de celebração de seu governo, na inauguração da C-4/Biblioteca Parque da Rocinha, uma das principais obras do PAC na favela. Por mais de duas horas, Cabral ouviu discursos cheios de elogios à sua gestão, como o da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e da secretária de Cultura, Ana Maria Rattes, além de assistir a apresentações de poesia, forró, samba e funk. Aparentando mais tranquilidade do que na semana passada, percorreu alguns andares do prédio e posou para fotos no palco do auditório com artistas que se apresentaram para ele. Na saída, recusou-se a falar sobre a decisão da comissão de não chamá-lo e descartou que os problemas da Delta Construções prejudiquem obras no Estado.

"Vamos trabalhar em cima de fatos", disse Cabral. "Neste momento, o único fato que ocorreu foi a comunicação da empresa, que chegou na sexta-feira, se retirando do consórcio do Maracanã, como já havia, no caso da cidade, se retirado da Transcarioca (uma das novas linhas de ônibus expresso, em construção para a Copa do Mundo e Olimpíada). Não acredito que vá prejudicar (a reforma do estádio). As duas empresas que ficam são de porte. Portanto, concluiremos a obra no prazo combinado, para a Copa das Confederações. Posso garantir à população que teremos a Copa das Confederações com o Maracanã aberto, sediando os jogos, e a final que espero que o Brasil jogue."

Na quinta-feira passada, por 17 votos a 11, a CPI do Cachoeira rejeitou a proposta de convocação de Cabral. O governador do Rio chamou a atenção da comissão por sua amizade com Fernando Cavendish Soares, sócio controlador da Delta, empreiteira com a qual seu governo fechou contratos de pelo menos R$ 1,49 bilhão. A empresa também tem obras em outros Estados, além de tocar investimentos federais. Imagens de Cabral e Cavendish em viagens ao exterior, divulgadas no blog do deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ), foram usadas para mostrar a proximidade do peemedebista com o empreiteiro, cuja empresa é investigada por ligações com o bicheiro Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Uma operação de bastidores salvou Cabral de ser convocado. Seus colegas Marconi Perillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF), porém, foram convocados.

Cabral disse ter certeza "absoluta" de que o governo federal, como os de Estados e municípios onde houver obras da Delta, tomarão providências para que a população não seja prejudicada. "Dou autonomia aos secretários, os secretários estão avaliando tudo isso, obviamente, mas por enquanto não tivemos nenhuma solução de continuidade. A não ser aquele pronunciamento da empresa, que formalizou a saída do Maracanã", declarou.

O governador também garantiu que vai participar da campanha eleitoral de 2012 para a prefeitura da capital - devido à crise que enfrenta por causa do caso Cachoeira, já se especula que sua participação seria discreta, para não "contaminar" o prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição. "Eu subi (no palanque eleitoral de Paes) em 2008 e subirei em 2012. Claro que limitado ao tempo que me limita o cargo de governador. Mesmo para a minha reeleição, tive restrições legais para realizar campanha, em função do tempo que a lei exige. Mas evidente que, nos finais de semana, fora do horário de trabalho, estarei como eleitor e como militante entusiasmado pela reeleição do Eduardo Paes", afirmou.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Petistas formam grupo contra aliança com o PMDB de Eduardo Paes no Rio

Coragem para Mudar planeja protestos a partir deste mês; petistas tradicionais pretendem apoiar Marcelo Freixo (PSOL)

Luciana Nunes Leal

RIO - Reunidos no grupo Coragem para Mudar, petistas do Rio insatisfeitos com a aliança do PT com o PMDB do prefeito Eduardo Paes já no primeiro turno da eleição farão a partir do dia 14 de junho uma série de encontros para protestar contra a decisão do comando do partido. Também vão discutir o que fazer na campanha municipal da capital.

Dirigente do Sindicato Estadual dos Profissionais de Ensino (Sepe) e filiado ao PT, Túlio Paolino é um dos fundadores do movimento Coragem para Mudar. Por enquanto, o grupo tem uma única decisão fechada: não apoiar Eduardo Paes.

"Estamos mobilizando a militância e deixando claro para a opinião pública que faltou democracia interna ao PT. O Eduardo Paes tem uma postura de falta de diálogo e arrogância com os movimentos sociais e não vamos apoiá-lo. Mas ainda discutimos o que fazer. Há um grupo que defende a campanha "vote no 13" (na prática, para a eleição de prefeito da capital significaria voto nulo), outros pensam em apoiar candidatos alternativos. Estamos ouvindo todos os lados", diz Túlio.

PSOL. Muitos eleitores tradicionais do PT têm anunciado, nas últimas semanas, apoio ao pré-candidato do PSOL à Prefeitura do Rio, o deputado estadual Marcelo Freixo. Ele já esteve com artistas como Chico Buarque, Dira Paes, Camila Pitanga, Wagner Moura.

O ator Osmar Prado, tradicional eleitor do PT, também vai votar em Freixo nesta eleição. "Estou votando em pessoas, porque a questão partidária está complicada. Apoio o PT no que é bom, mas critico no que é ruim. Vou com Freixo porque apoio pessoas comprometidas com as causas sociais", diz Osmar Prado, veterano em campanhas petistas, embora nunca tenha tido filiação partidária.

A corrente de eleitores ou aliados de Freixo é reforçada por militantes de direitos humanos como Frei Betto, Leonardo Boff e o padre Ricardo Rezende, do Movimento Humanos Direitos.

Fidelidade. Fundador e militante histórico do PT, o músico Wagner Tiso não embarcou na turma de artistas petistas pró-Freixo. "Vou votar com o PT e participarei da campanha se for preciso. Não votaria nesse candidato(Eduardo Paes), mas se é a decisão do PT, vou com o partido. Eu colhi assinaturas para a fundação do PT no Rio, acompanho o partido nesses anos todos", afirma Tiso.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

PR anuncia apoio a Serra em SP e dá troco no PT

Alfredo Nascimento, que deixou o Ministério dos Transportes após denúncias de corrupção, participa de solenidade

Silvia Amorim, Sérgio Roxo

SÃO PAULO . Com as relações com o PT estremecidas, o PR anunciou ontem apoio ao pré-candidato do PSDB à prefeitura de São Paulo, José Serra. Ao lado do senador Alfredo Nascimento (AM), que deixou o Ministério dos Transportes após denúncias de corrupção, e do deputado Tiririca (SP), Serra fez um discurso em defesa da ética na política.

- Todos me conhecem bastante. Todos sabem do meu estilo, da forma que eu escolhi na vida pública para trabalhar. Todos que estão escolhendo nos apoiar estão se somando a isso. Temos um programa para a cidade.

Até a semana passada, o comando da campanha do petista Fernando Haddad ainda tinha esperança de fechar aliança com o PR, que pertence à base aliada da presidente Dilma Rousseff. O acordo esteve muito próximo em março, mas a turbulência nas relações do partido com Dilma emperrou as conversas. Haddad ainda não anunciou alianças. Restam o PSB e o PCdoB.

Nascimento negou que a aliança com o PSDB no maior colégio eleitoral do país seja uma retaliação ao PT por não ter entregue, até agora, um ministério ao partido, que perdeu os Transportes em 2011. O PR esteve, no ano passado, no centro de denúncias sobre um suposto esquema de cobrança de propina na gestão de Nascimento nos Transportes. Ele deixou o cargo em julho.

- A decisão foi regional e estou aqui como presidente nacional para homologar a decisão. Eu não tenho nenhum ressentimento nem do Lula nem da presidenta Dilma. Política é muito dinâmica. É assim que funciona. Da forma como eu estou homologando aqui uma decisão da regional de São Paulo vou homologar em outros estados acordos com o PT.

A sigla é considerada estratégica pelos tucanos por ter um minuto e meio de tempo de TV no horário eleitoral e uma bancada de bons puxadores de voto.

Perguntado se o fato do PR ter um dirigente - o secretário-geral, Valdemar Costa Neto - como réu no processo do mensalão não fragilizaria o discurso do PSDB na política nacional, Serra disse que faz aliança com o partido e não com pessoas.

- Estou fazendo uma aliança com o partido, não com pessoas. E, se for proibido (fazer coligação) com partidos que têm pessoas que estão no processo, o PT não poderia nem disputar a eleição porque foi ele quem coordenou e comandou a organização desse chamado mensalão.

O PR é o quarto a compor a coligação tucana, que reúne PV, DEM e PSD. Em São Paulo, o PR apoia o prefeito Gilberto Kassab (PSD) e integra a base do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

Mentor da candidatura de Haddad, o ex-presidente Lula criticou a união PR-PSDB.

- Decepcionado não estou porque os partidos agem de acordo com as conveniências políticas. É, no mínimo, um pouco estranho porque o PR está no governo federal.

Lula disse que o acordo exigirá que os petistas "trabalhem um pouco mais", mas colocou em dúvida a adesão completa do PR.

- O fato de a direção do PR ter feito o acordo com o PSDB não significa que muitos vereadores ou militantes vão trabalhar para eles.

FONTE: O GLOBO

Isolamento de Haddad alerta PT em SP e Lula age para enquadrar Marta

Eleição paulistana. Enquanto o tucano José Serra arregimenta apoios, como o anunciado ontem pelo PR, petista não consegue adesões e vê propaganda na TV cada vez menor; nos bastidores ex-presidente demonstra irritação com ausência de senadora

Vera Rosa, Daiene Cardoso, Fernando Gallo e Lauriberto Braga

No dia em que o PR anunciou apoio ao candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou em cena para tirar a campanha de Fernando Haddad (PT) do isolamento. Irritado com a senadora Marta Suplicy (SP), que boicotou o ato de lançamento de Haddad, no sábado, Lula escalou o presidente do PT, Rui Falcão, para enquadrar a petista e determinou "intervenção branca" do partido para impor a candidatura do senador Humberto Costa no Recife.

A solução do impasse na capital pernambucana é agora a única condição imposta pelo PSB para anunciar o apoio a Haddad.

Lula tentou amenizar ontem o aval do PR a Serra, mas acusou o golpe e intensificou os esforços para acelerar a adesão de PSB e PC do B a Haddad. "É um pouco estranho o apoio do PR a Serra porque o partido está no governo federal", provocou Lula. Desde julho, porém, quando Alfredo Nascimento foi defenestrado do Ministério dos Transportes, o partido vive às turras com a presidente Dilma Rousseff.

"Agora, me parece que o PR entrou no governo estadual", afirmou o ex-presidente. "Mas o fato de a direção do PR ter feito acordo com o PSDB não significa que todos os vereadores e militantes vão trabalhar para eles."

Intervenção. Na tentativa de alavancar a campanha de Haddad, a Executiva Nacional do PT se reúne hoje, em São Paulo, com o objetivo de limpar o caminho para o PSB apoiar petista. Apesar da vigília prometida pelo prefeito de Recife, João da Costa (PT), que quer disputar a reeleição, a cúpula petista já acertou tudo com o PSB para aprovar resolução tirando-o do páreo. Por exigência do governador Eduardo Campos - que é presidente do PSB e virou desafeto do prefeito -, a cúpula vai impor a candidatura de Humberto Costa, como acordado entre Lula e Campos.

No outro front, o ex-presidente ainda tenta atrair Marta e pediu a Falcão, que foi secretário municipal quando ela era prefeita, para conversar com a senadora.

Depois de boicotar o ato de lançamento da candidatura de Haddad, no sábado, Marta se recusou ontem a atender companheiros do PT e manteve os celulares desligados. Ela ainda está magoada com Lula, que a obrigou a desistir em favor de Haddad.

"Deve ter acontecido algum problema com a Marta. Ela não é de falhar", amenizou o ex-presidente, após tomar vacina contra a gripe. "Tenho certeza de que ela estará presente na campanha, com o mesmo carinho com que eu vou participar."

Embora as declarações públicas sejam de compreensão, nos bastidores dirigentes do PT não se conformam com a atitude de Marta. Ontem, a senadora divulgou nota de duas linhas, informando que um impedimento "de caráter privado" a impossibilitou de ir ao encontro do PT.

A nota foi recebida com preocupação. O clima de apreensão foi agravado depois que o deputado estadual Edinho Silva, presidente do PT paulista, disse ao Estado que Marta está cometendo um grave erro político ao se ausentar da campanha. Contrariado com as estocadas de Silva, Rui Falcão disse que Marta "é a maior liderança de São Paulo e vai saber participar da campanha quando for mais útil".

Valorizando o passe do PC do B, o ex-ministro do Esporte Orlando Silva afirmou estar preocupado com a candidatura de Serra. "Espero que essa movimentação do PR sirva para que os partidos da base da presidente Dilma estejam alerta em São Paulo, já que o campo adversário se fortalece cada vez mais."

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Serra terá 27% do tempo de TV; petista, até 20%

Daniel Bramatti

Com o leilão das coligações praticamente definido, o tucano José Serra terá o maior tempo de propaganda no rádio e na televisão durante a disputa pela Prefeitura de São Paulo.

Serra conquistou o apoio do PR e ampliou sua aliança, que já incluía PSDB, DEM, PP, PV e PSD. Com isso, terá 27% do tempo no horário eleitoral e também das inserções de 30 segundos distribuídas ao longo da programação das emissoras.

Já o petista Fernando Haddad ainda negocia uma coligação com o PC do B e o PSB, o que lhe dará, no máximo, cerca de 20% do espaço de propaganda. Ele deve ter direito a 17 inserções por semana, 6 a menos que Serra.

As inserções são vistas pelos marqueteiros políticos como as armas mais poderosas de propaganda. No horário político tradicional, a vantagem do tucano sobre o petista será de pouco mais de dois minutos em cada bloco de meia hora, exibido duas vezes por dia, três dias por semana.

Serra deve ter 8 minutos e 14 segundos, ante 6 minutos e 3 segundos para Haddad.

Os cálculos do Estado levam em conta o atual cenário, em que 14 partidos manifestam a intenção de lançar candidatos.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Após críticas, PT muda tom e diz esperar Marta em SP

Lula elogia ex-prefeita e afirma que ela vai ajudar Haddad "com carinho"

Em nota, senadora diz que faltou a ato de lançamento por motivo "privado"; explicação não convence petistas

Diógenes Campanha, Bernardo Mello Franco

SÃO PAULO - Depois de deixar clara a insatisfação com Marta Suplicy, que boicotou o ato de lançamento da campanha de Fernando Haddad no sábado, o PT mudou o tom e adotou discurso diplomático para tentar convencê-la a ajudar seu pré-candidato em São Paulo.

Ontem, o ex-presidente Lula, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, e o próprio Haddad elogiaram a senadora e disseram ainda esperar seu apoio na eleição.

"A Marta vai participar com o mesmo carinho, a mesma força com que eu vou", disse Lula, em aparição ao lado do prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), que tentará a reeleição.

O ex-presidente tomou vacina contra a gripe em posto de saúde recém-inaugurado pelo aliado no ABC.

Lula disse não ter conversado com Marta no dia seguinte à sua ausência, que dominou o noticiário sobre a festa montada para Haddad. "Era domingo, meu filho, e no sábado eu descansei."

No domingo, petistas fizeram críticas públicas à senadora e disseram não contar mais com ela na campanha.

Ontem, após dois dias sem se manifestar, ela divulgou nota alegando não ter ido ao ato por causa de um "impedimento de caráter privado", que se recusou a explicar.

A justificativa não convenceu. Reservadamente, dirigentes do PT disseram acreditar que ela faltou para causar novo desgaste a Haddad, seis meses após ser forçada a retirar sua pré-candidatura.

Em público, porém, os petistas evitaram novas críticas à ex-prefeita. "Deve ter tido algum problema com ela. A Marta não é de falhar", disse Lula, embora ela já tenha faltado a outros eventos do PT para promover Haddad.

Caixa Postal

O pré-candidato contou que ligou para Marta ontem, mas não foi atendido. Mesmo assim, repetiu o discurso de que ainda espera seu apoio.

"É uma pessoa que mobiliza e motiva. Nós sempre estaremos aguardando a [ex] prefeita para nos auxiliar."

Ele disse crer que Marta o ajudará. "Lógico, com certeza. Com total segurança."

Segundo Rui Falcão, Marta "dará as explicações dela" para explicar a falta. "O que posso garantir é que não há crise alguma", desconversou.

O presidente municipal do PT, Antonio Donato, também foi apaziguador. "A Marta é a maior liderança do PT em São Paulo. A gente sempre conta com ela na campanha."

A ex-prefeita está isolada no PT e viu seu grupo político migrar para Haddad. Mesmo assim, seu apoio público é considerado fundamental, especialmente na periferia.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Eleições em Recife - resultado do PT deve sair apenas amanhã

Direção nacional se reúne hoje para definir o candidato a prefeito do Recife. Como decisão só será tomada tarde da noite, divulgação pode ser adiada.

João da Costa x Humberto

PT x PT. Cúpula nacional do partido decide hoje, em São Paulo, quem será o candidato a prefeito no Recife, se o atual gestor ou o senador

Gilvan Oliveira

Seis dias de expectativa, desde a renúncia do deputado federal Maurício Rands à sua pré-candidatura, na semana passada, e finalmente para hoje é aguardada a decisão da Comissão Executiva Nacional do PT sobre quem será o postulante do partido à Prefeitura do Recife. Essa decisão é aguardada por aliados da Frente Popular e até por adversários, porque todos estão condicionando seus movimentos à decisão petista. O prefeito João da Costa embarcou ontem para São Paulo, onde a Executiva se reúne, para acompanhar a reunião do colegiado. E o senador Humberto Costa, preferido da cúpula petista para ir à disputa, sinalizou que também deve ir à capital paulista para o encontro.

Mesmo com toda a expectativa gerada em torno dessa decisão, a assessoria do presidente nacional do partido, Rui Falcão, informou que ele só vai falar com a imprensa amanhã, às 15h, sobre a decisão. Justificou que o encontro, a portas fechadas, só deve começar no início da noite e terminaria tarde, o que o impediria de emitir um anúncio oficial em razão do horário.

A assessoria de Rui Falcão informou também que o partido está convocando todos os 20 membros do colegiado, que são de diversos Estados, para participarem da reunião devido à gravidade do caso Recife. No julgamento que redundou na anulação da prévia petista, ocorrido no último dia 24 e ganha por João da Costa, apenas 12 integrantes estavam presentes.

Na reunião, os integrantes da Comissão Executiva, presidida por Rui Falcão, terão que decidir se homologam a candidatura à reeleição do prefeito ou se indicam Humberto Costa como prefeiturável petista. O senador é da corrente interna Construindo um Novo Brasil (CNB) e tem a preferência da direção nacional para encabeçar a chapa. Além disso, 11 dos 20 membros da Comissão Executiva pertencem à CNB.

Humberto esteve ontem na capital paulista e, em rápido contato telefônico com a reportagem, informou que estava retornando a Brasília. Mas sinalizou que deverá voltar a São Paulo hoje. O senador, porém, manteve sua postura de não falar sobre o imbróglio do PT. Ele vem cultivando esse silêncio desde o último dia 20, data da realização da prévia petista.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Daniel nega apoio do PSDB a Mendonça do DEM, em Recife

Pré-candidato tucano à PCR descarta qualquer tipo de acordo entre o DEM e o PSDB para a retirada do seu nome da disputa e apoio ao democrata no Recife

Débora Duque

O retorno dos rumores sobre a possibilidade de o PSDB desistir de lançar a candidatura do deputado estadual Daniel Coelho (PSDB) à Prefeitura do Recife para apoiar o deputado federal Mendonça Filho (DEM) causou um novo mal-estar na oposição. Buscando reafirmar seu ingresso na disputa, o prefeiturável tucano reagiu, mais uma vez, às especulações de que seria rifado pelo próprio partido e alfinetou o pré-candidato do DEM.

Na manhã de ontem, o blog de Josias de Souza, colunista da Folha de S. Paulo, publicou uma matéria na qual afirmava que o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, estaria articulando uma aliança com Mendonça. A negociação estaria sendo feita diretamente com o presidente nacional do DEM, José Agripino Maia, e serviria para garantir o apoio desta legenda aos candidatos tucanos em outras cidades do País. A dobradinha, segundo o blog, ainda teria como objetivo fazer frente à aproximação do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB) com seu maior adversário político, o governador Eduardo Campos (PSB). Isso porque, nos bastidores, circula a informação de que o socialista poderia vir a dar um suporte “branco” à candidatura do deputado federal Raul Henry (PMDB), que, aliás, já rechaçou essa versão em outras ocasiões.

Bastante incomodado, Daniel Coelho voltou a afirmar que a informação sobre a retirada de sua candidatura era “falsa” e enfatizou que esse tipo de rumor só prejudica a candidatura de Mendonça Filho. “O comentário está sendo prejudicial a Mendonça porque é algo (o apoio) que não vai se confirmar e eles (o DEM) vão terminar apostando e se frustrando no final. O PSDB tem candidato e a aliança vai existir em outros municípios, onde o DEM tenha um candidato favorito, o que não é o caso do Recife”, disse.

À noite, em sua página no Facebook, o tucano ainda postou a seguinte mensagem, em tom de provocação: “Quando um processo de renovação está em curso, os conservadores são os primeiros a reagir”. Pela manhã, foi o próprio Sérgio Guerra quem assegurou, em entrevista à Rádio JC/CBN, a manutenção da candidatura própria do partido. Ele afirmou que o apoio ao DEM está sendo discutido em outras cidades, mas não no caso do Recife, onde, segundo ele, o PSDB é o partido mais “estruturado” da oposição. 

“Estamos com uma posição muito forte na área metropolitana e vamos completar isso com a candidatura no Recife. Não há menor dúvida sobre isso”, rechaçou, repetindo a reação que teve, no início de maio, quando surgiram os primeiros rumores sobre a possível aliança.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Em Jaboatão (PE), Elias age e apaga incêndio com PPS

O prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Elias Gomes (PSDB), agiu rápido para contornar a crise que se estabeleceu entre ele e o PPS do vice-prefeito Edir Peres. A celeuma foi motivada por uma declaração de Elias, feita na semana passada, considerando a possibilidade de compor chapa com o PSB na vice e causou a reação da direção estadual do PPS, que, após uma reunião na última sexta-feira, decidiu “interromper os entendimentos políticos e eleitorais” com o tucano até que ele explicasse a situação. Indicava, inclusive, que o partido se sentia livre para iniciar novas costuras.

Mesmo com as declarações fortes do final de semana por parte do PPS estadual, Elias buscou contornar a situação, se explicando e acalmando os ânimos da direção municipal dos pós-comunistas em Jaboatão. Logo após as notícias dando conta de um “rompimento” entre o PPS e o prefeito, ele procurou Edir Peres para reafirmar que ainda não há qualquer definição quanto à vice e que suas declarações acabaram por tomar uma dimensão maior do que deveriam ter tomado.

Em resposta ao gesto do prefeito, o PPS municipal se reuniu para tomar uma posição e desfazer o discurso do rompimento. “Nunca houve discussão de rompimento, nem na reunião do última sexta, nem agora. O que houve foi nos mantermos em stand by nas discussões eleitorais até que o prefeito esclarecesse essas declarações”, explicou o presidente do PPS em Jaboatão, Paulo Mendes.

O dirigente acrescentou, ainda, que o PPS de Jaboatão entende a posição do prefeito e aceitou completamente suas explicações. “As declarações causaram um mal-estar realmente, mas está tudo esclarecido. Não há afastamento, estamos com Elias desde o início da gestão e esperamos marchar juntos pra reelegê-lo prefeito de Jaboatão”, disse Paulo Mendes.

O vice-prefeito Edir Peres preferiu a cautela ao comentar o assunto, mas referendou a boa relação com Elias Gomes. “Prefiro não interferir diretamente nessa situação para não parecer que estou atuando com interesse próprio. Mas não concordo com essa história de afastamento. Estamos participando normalmente da gestão e tenho uma ótima relação com o prefeito”, disse.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Congresso desafia Dilma com 620 emendas a Código Florestal

Relator tentará impor rito sumário para acelerar tramitação de MP

Insatisfeitos com a medida provisória que a presidente Dilma Rousseff editou após vetar artigos do Código Florestal aprovado pelo Congresso, parlamentares apresentaram ao menos 620 emendas ao texto enviado pelo Palácio. O prazo para propor alterações se encerrou ontem. O relator da comissão que analisará a MP, senador Luiz Henrique (PMDB-SC), tentará impor rito sumário e aceitar o mínimo de emendas, para construir um texto de consenso antes da Rio+20. Hoje, a presidente anuncia pacote ambiental com criação de reservas extrativistas e homologação de terras indígenas.

Congresso reage a vetos de Dilma

Parlamentares apresentam mais de 620 emendas para alterar o novo Código Florestal

Maria Lima

BRASÍLIA - Numa clara demostração de que não estão satisfeitos com os vetos nem com a medida provisória editada pela presidente Dilma Rousseff para substituir o texto aprovado na Câmara sobre o Código Florestal, deputados e senadores apresentaram ontem uma enxurrada de emendas à MP. Às 20h30m, quando se encerrou o prazo para apresentação de propostas de alteração, a assessoria do Congresso havia registrado mais de 620 emendas.

Hoje recomeça mais um round. A comissão mista que vai analisar a admissibilidade da MP será instalada e o relator, senador Luiz Henrique (PMDB-SC), deve anunciar um cronograma de trabalho, com a tentativa de impor um rito sumário para agilizar a votação. A ideia do relator é aceitar o mínimo de emendas possível, para construir, já na comissão, um texto de consenso antes da Rio+20.

- Tem emenda de toda sorte, mas a ideia é olhar com lupa e evitar o máximo possível de emendas para não reabrir todas as polêmicas e voltar a estaca zero. Aceitar só emendas que venham a aperfeiçoar, para fazer algum ajuste que não foi conseguido. Se abrir tudo de novo, será o melhor jeito de não ter solução. Devemos ter um cronograma com rito sumário, o Luiz Henrique apresentar o relatório na próxima semana e votar o mais rápido possível - disse o senador Jorge Viana (PT-AC), que deve auxiliar o relator na comissão mista.

- O fato de Dilma ter priorizado, ter dado atenção especial ao pequeno produtor, no caso da recomposição das áreas degradas, tirou o argumento de quem estava contra. Isso vai facilitar um entendimento - completou Viana.

Ruralistas: MP pune médios produtores

O presidente da Frente Nacional da Agropecuária, deputado Homero Pereira (PR-MT), disse que os ruralistas apresentaram 58 emendas que, fundamentalmente, visam a dar mais segurança jurídica e tentam flexibilizar o escalonamento para recuperação das áreas degradadas, beneficiando também os médios produtores. Ele disse que a MP beneficia os pequenos, até quatro módulos, mas é muito dura com os médios. Segundo Pereira, quem tem cinco módulos é quase igualado aos grandes nas obrigações de recuperação das áreas .

Outra emenda sugere que os recursos de multas e licenciamentos sejam destinados a um fundo para subsidiar pequenos e médios produtores na recuperação de áreas degradadas. Para Pereira, 90% do código e da MP são bons e representam avanços, mas é preciso ajustar 10% do texto.

A MP 571, editada em 28 de maio, prevê trinta mudanças no novo Código Florestal. Em imóveis com área de um a dois módulos, será obrigatória a recomposição de faixa de mata de oito metros de largura, e em imóveis de dois a quatro módulos, serão 15 metros de mata, para rios de qualquer tamanho.

- A MP é muito dura com os médios produtores, que acabaram penalizados. Quem tem mais de cinco módulos está sendo quase igualado aos grandes proprietários que tem condições de fazer essa recuperação. Tem que ter um apoio financeiro do governo para ajudar esses pequenos e médios, quem tem de cinco a 15 módulos. Se não houver essas mudanças, vai ser uma lei que não vai pegar, não terá efeito na prática - disse Pereira.

Após passar pela comissão mista, a MP será votada na Câmara e, depois, no Senado. Caso haja mudanças, voltará para a Câmara.

FONTE: O GLOBO

Paulinho da Viola - Coração Imprudente

As dúvidas do mensalão:: Merval Pereira

Antes mesmo de começar, o julgamento do mensalão já suscita crises políticas e polêmicas jurídicas. Se, como tudo indica, ele começar a partir do dia 1 de agosto, uma quarta-feira, ou no dia 6, uma segunda-feira, estaremos às vésperas do início da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV - no dia 21 de agosto.

E provavelmente o julgamento estará chegando ao final perto do dia da eleição para prefeitos e vereadores, 7 de outubro, daí a preocupação de Lula.

Isso quer dizer que, com todo o atraso já verificado, principalmente devido ao fato de que o ministro Ricardo Lewandowski ainda não entregou seu voto de revisor, os eventuais efeitos políticos do julgamento não serão evitados.

Lula e seus seguidores não estão seguros de qual será o resultado e gostariam que fosse anunciado somente depois que as urnas tivessem sido fechadas.

Mas, se ao contrário do que teme o PT, os mensaleiros forem absolvidos, esse certamente será um mote da propaganda petista com bastante apelo eleitoral.

Dependendo das penas que eventualmente receberem, 22 dos 38 réus do mensalão - entre eles o ex-ministro José Dirceu - poderão terminar o julgamento com a prescrição do crime de formação de quadrilha, o que equivale a uma absolvição.

De acordo com especialistas, especificamente para o crime de quadrilha, a prescrição se dá em oito anos, mas só se o máximo da pena for superior a dois anos (a pena máxima para esse tipo de crime é de três anos).

A prescrição pode vir a ocorrer em quatro anos se os réus, ao final do processo, forem condenados a menos de dois anos no crime de formação de quadrilha.

Como o recebimento da denúncia foi em 28 de agosto de 2007, ela já teria ocorrido no ano passado. A interpretação mais acatada é que o prazo para a prescrição do crime de formação de quadrilha é contado a partir do recebimento do processo no STF.

Outra interpretação, embora menos provável de ser adotada, é de que o momento em que cessou a associação teria acontecido em 2005, quando o então deputado Roberto Jefferson denunciou a existência do mensalão.

Se a condenação for superior a dois anos, a prescrição ocorrerá em 2015. E, mesmo na interpretação menos provável, a prescrição seria em agosto de 2013.

Com o calendário fixado em três dias da semana dedicados na parte da tarde ao mensalão - segundas, quartas e quintas -, o julgamento deverá entrar por setembro, o que fará com que o ministro Cezar Peluso tenha que se aposentar antes de seu final.

Se a proposta do presidente Ayres Britto, de fazer sessões diárias para julgar o processo, pela manhã e à tarde, tivesse vingado, esse contratempo seria evitado.

Será preciso saber se o ministro Peluso apresentará seu voto antes de se aposentar, no início de setembro. Caso não o faça, o julgamento poderá continuar com os dez juízes restantes, sem que seja necessário substituí-lo.

Pode ser, no entanto, que a maioria considere imprescindível que o plenário esteja completo para que o julgamento continue, e, nesse caso, será preciso esperar a decisão da presidente Dilma sobre o novo ministro para retomar o julgamento.

O novo ministro, por sua vez, poderá pedir vista do processo para se inteirar dele a fim de proferir seu voto, o que garantirá que o julgamento entre por 2013.

A maioria do Supremo não quer dar ao julgamento do mensalão um caráter excepcional e por isso não aceitou cortar o recesso de julho para ganhar tempo, e da mesma maneira deve entender que o julgamento pode prosseguir sem a necessidade de um novo ministro ser indicado.

O número par pode provocar novamente situações constrangedoras como os empates acontecidos em alguns casos, mas há também a possibilidade de que o ministro Dias Toffoli se considere impedido de participar do julgamento por já ter sido advogado do PT.

Nesse caso, o julgamento entrará por setembro com nove ministros no plenário do STF. A pressão do ex-presidente Lula para adiar o julgamento a fim de que o anúncio do resultado não coincida com as eleições municipais, cujo primeiro turno é no dia 7 de outubro, também ajudou a que esse detalhe político fosse considerado irrelevante pela maioria do Supremo, que procura dar ao julgamento o ar de normalidade.

Alguns mensaleiros estão interessados diretamente no atraso do julgamento também para poderem concorrer às eleições municipais, como o deputado João Paulo Cunha, que pretende se candidatar a prefeito de Osasco.

Se for condenado no processo do mensalão, ficará impedido de concorrer, enquadrado na Lei da Ficha Limpa, que proíbe a candidatura de políticos condenados por colegiado.

Ele já conseguiu uma vantagem, pois o registro da candidatura precisa ser feito até o dia 5 de julho e é concedido de acordo com a situação do político naquela data.

Mas, ainda assim, Cunha correrá riscos, pois há interpretações de que, condenado no processo do mensalão, ele não poderá tomar posse mesmo se eleito.

Tudo indica que a Assembleia-Geral da OEA em Cochabamba não aprovará a proposta do Equador, que é apoiada por diversos outros países "bolivarianos" como Bolívia e Nicarágua, de reduzir a autonomia da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Apesar do discurso agressivo do presidente equatoriano, Rafael Correa, ontem, acusando a CIDH de ser dominada por ONGs e grupos econômicos ligados aos interesses dos Estados Unidos, o movimento para contê-la não tem a simpatia da maioria dos países, e a comissão continuará cumprindo seu papel de advertir contra os abusos dos direitos humanos e a falta de liberdade de expressão.

Como não deve haver uma disputa acirrada, o governo brasileiro ficará dispensado de explicitar sua posição, que tendia para o apoio aos países "bolivarianos".

FONTE: O GLOBO

Fora da curva:: Dora Kramer

Há duas maneiras de se analisar a resistência da senadora Marta Suplicy em mergulhar fundo na campanha de Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo.

Uma trata da motivação da senadora para manter distância do processo e tem alcance local.

Outra transcende a eleição municipal e diz respeito ao modo petista de atuar, com base no pressuposto de que exista uma visão santificada imutável em relação a Lula que por isso gozaria de infalibilidade papal.

A desobediência civil da senadora Marta Suplicy obviamente não pode ser atribuída a "mágoa" decorrente do veto do ex-presidente Lula à candidatura dela a prefeita de São Paulo.

Quando dizem isso, os petistas simplificam a questão, põem as coisas no plano pessoal/emocional, desqualificam as razões políticas de Marta e fingem desconhecer a natureza do temperamento dela.

A senadora não é de obedecer por obedecer, notadamente se estão em jogo sua carreira, seus interesses e seu patrimônio político.

O fato de não ter sido candidata está profissionalmente digerido. Ela não tem veleidades a acreditar que Lula possa recuar até a data da convenção. Seria uma crença excessivamente distanciada da realidade.

Ocorre que Marta Suplicy não concorda com a condução da campanha e, se é assim tão festejada como peça fundamental, gostaria de ser ouvida. Como não é porque suas opiniões fogem ao roteiro escrito por Lula, faz gestos fortes.

E com eles atrai mais a atenção do partido do que se estivesse para cima e para baixo rodando a periferia de São Paulo com Haddad a tiracolo.

E quais os erros que ela aponta? Primeiro, considera que Lula não levou a sério a hipótese de José Serra ser o candidato do PSDB e resolver fazer uma experiência.

Segundo, acha que de novo ele errou ao incentivar a aproximação com o prefeito Gilberto Kassab que, depois de provocar reação na base petista, ainda deixou Haddad no ora veja ao se aliar a Serra. Como, de resto, avisara que faria.

Em terceiro lugar, a senadora vê equívocos na política de alianças. Na opinião dela deveriam ter sido feitos investimentos mais pesados, por exemplo, na coalizão com o PMDB.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Marta:: Eliane Cantanhêde

Linda, rica, inteligente, cheia de sobrenomes próprios e adquiridos, Marta Suplicy emprestou por 30 anos esse pacote paulistano quatrocentão para ajudar a edificar o PT e a ascensão de Lula.

Mas, se Marta sempre gostou de Lula e foi fiel a ele, não se pode dizer que a recíproca seja totalmente verdadeira. Lula nunca morreu de amores por esta mulher tão poderosa, cheia de si, que empurrou para o Turismo no seu governo.

Essa diferença explodiu na eleição para a Prefeitura de São Paulo. Com 29% a 30% em setembro, Marta liderava todas as pesquisas, em todos os segmentos, mas Lula estava inebriado com a vitória de sua criatura Dilma e decidiu que era hora do "novo" também na principal capital do país.

Marta tinha um trabalho bem avaliado na periferia quando prefeita e acabara de se eleger para o Senado. Haddad nunca tinha sido candidato a nada, andava enrolado com os erros do Enem e era capaz, como foi, de confundir Itaim Bibi com Itaim Paulista. Estava com 2% (hoje, tem 3%).

Lula não quis saber de conversa. Tirou a "companheira Marta" da frente, impôs Haddad goela abaixo da direção do PT, cooptou todo o grupo "martista". O rei sou eu.

Ok. Lula tem instinto e Haddad é, de fato, um bom produto eleitoral, mas dá para Marta ficar feliz com o processo, com o jeito, com a imposição? Ponha-se no lugar dela. Não dá.

Criado o problema, os líderes petistas voltaram-se contra Marta. Avaliam que, se ela vier com Haddad, ajuda muito; se não, não atrapalha tanto quanto pensa. Até porque, com ou sem Marta, o PT tem o seu capital eleitoral consolidado e Lula cobre, de sobra, a força dela na periferia.

Conclusão: o PT vai usar e abusar da gestão Marta como vitrine, mas sem Marta. E ainda tripudia: ela não tem para onde correr. Primeiro, porque é inimiga quase pessoal de Serra e Kassab e, segundo, porque todo mundo que saiu do PT se deu mal.

Lula isolou Marta Suplicy.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Lula é contestado pela primeira vez:: Raymundo Costa

Do mensalão à campanha de Fernando Haddad para prefeito de São Paulo, deu errado quase tudo o que o PT tentou fazer, nos últimos dias. O diagnóstico é um só: falta comando para encadear as ações delineadas pelo partido. Sem falar, o que não é menos importante, na doença do ex-presidente Lula.

Menos mal que a ofensiva contra o Supremo tenha, na realidade, oferecido alguma blindagem aos ministros para o julgamento do processo do mensalão. No caso Haddad, o insperado: a senadora Marta Suplicy transformou-se no primeiro petista a "encarar" o ex-presidente da República, desde que ele deixou o Palácio do Planalto quase na condição de um semi-deus.

A festa para celebrar o lançamento da candidatura de Haddad expôs com nitidez a fratura do PT. Marta não apareceu no palanque em que se acotovelavam os dignatários petistas. Ainda assim a festa terminou com eles discutindo o Plano B: a ex-prefeita entraria com força na campanha de rádio e televisão do candidato.

Trapalhadas do PT podem ter blindado STF das pressões

Acredita quem quiser, mas os quase 2 mil convidados à festa foram embora achando que fizeram papel de bobo: ora Marta estava chegando, ora presa num engarrafamento. Ninguém conseguia falar com ela. Seu telefone celular chamava, mas ninguém atendia. Os dos principais assessores, também.

Foi quando Eduardo Suplicy teve a brilhante ideia de enviar um SMS. Nada. Haddad mudou a ordem dos discursos. Marta falaria em primeiro lugar; Lula em seguida e Haddad faria a grande apoteose.

Estava no discurso. O ex-ministro da Educação faria um histórico dos principais feitos de Marta Suplicy à frente da Prefeitura de São Paulo. Ele cortou tudo. Para os petistas, entre os quais um grande número de prefeitos, ficou a sensação de que não há volta na campanha paulistana. Marta expôs toda amargura que sentiu ao ser retirada da campanha para prefeito de São Paulo pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Sem honrarias. Da outra vez, quando queria concorrer ao governo de São Paulo e Lula impôs o nome de Mercadante, a senadora pelo menos foi homenageada com o convite para o Ministério do Turismo. Desta vez soube que estava fora por meio de uma auxiliar de Lula no instituto que leva seu nome, o antigo Instituto da Cidadania.

Não é de hoje, ou de sábado, que Marta mostra descontentamento por ter sido excluída do processo sucessório paulistano. Ela sempre argumentou que José Serra seria o candidato tucano, e que, portanto, o PT deveria sair com quem pudesse comparar o governo do PT - o dela - com o governo da dupla Serra/Kassab. Lula não deu atenção. No fundo, o ex-presidente entende que a geração do mensalão, em São Paulo, acabou e que é necessário renovar. Marta, por seu turno, acha que a renovação não é de idade, mas de ideias e de projetos para a cidade. Marta, registraram os petistas, desde que Lula saiu do governo é a primeira petista a "peitar" o ex-presidente.

Da semana, o saldo positivo que pode ficar para o país - e também para parcelas do PT - é que diminuíram as abordagens de réus, advogados e simpatizantes sobre os ministros encarregados do julgamento do mensalão. Mas mesmo entre os ministros as conversas ganharam um tom mais moderado. Ninguém quer ser o autor de algum comentário que no dia seguinte possa parecer estampado nas páginas dos jornais. Existe um clima efetivo de desconfiança entre colegas, que já se manifestou em outras ocasiões e agora voltou com intensidade.

Até o estouro da bolha na qual estavam encerrados os dois ex-presidentes dos dois Poderes (o da República e o do Supremo), o STF era um alvo cada vez mais visível para dardos arremessados algumas vezes de longe (geograficamente falando), mas com a precisão de quem estava a apenas alguns passos de distância. É certo que o presidente do PT, Rui Falcão (que passa uma parte da semana em São Paulo e outra em Brasília), arrependeu-se por ter relacionado a CPI do Cachoeira com uma tentativa do PT de provar que o mensalão foi uma farsa. Era o que todos pensavam, mas ninguém no PT reconhecia. Mas o que dizer quando o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, insiste em dizer que o ministro do STF José Antonio Dias Toffoli não tem o direito de se declarar impedido no julgamento?

Rui Falcão e Luiz Marinho apenas expuseram uma estratégia delineada no PT. O resto, é recuo tático. O bombardeio de Marinho sobre Toffoli confundiu a amizade e eventual solidariedade que o ministro deva ter pelo PT - ou com alguns dos acusados - com um voto de absolvição. Pode até ser, o que parece difícil diante da complexidade jurídica de um processo com 40 acusados, dos quais alguns devem escapar, de acordo com a análise de juristas. O certo, no momento, é que Marinho foi grosseiro, simplesmente, com Toffoli. Para dizer o mínimo.

Situação parecida é a do ministro-revisor do processo, Ricardo Lewandowski, morador de São Bernardo, amigo de Luiz Marinho e de Lula, com quem inclusive já trocou ideias sobre a conveniência de se adiar o julgamento do processo do mensalão, talvez para o próximo ano, quando os votos dos juízes podem ser proferidos sem o barulho das patrulhas partidárias no volume que certamente terá neste ano. Aliás, antes de Lewandowski apresentar seu voto, não haverá julgamento.

Pressão também sofre o ministro Ayres Brito, presidente do STF. Com a opinião pública decididamente favorável a que se ponha um ponto final à novela, o ministro tem se mostrado favorável ao julgamento ainda este ano. Mas segundo réus do mensalão, Ayres acha que, com isso, escreverá seu nome na história. Na prática, segundo criticam os que ainda podem ser considerados bons emissários junto ao revisor, em vez de passar para a história como ministro que atendeu à opinião pública, apenas se curvou diante da "opinião publicada", como o PT costuma diferenciar a rua que o aplaude daqueles que criticam o partido.

FONTE: VALOR ECONÔMICO