
(Luiz Werneck Vianna, no 33º Anual da ANPOCS, Caxambu/MG de 26 à 30/10/2009)
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
O governador José Serra acerta quando se cala sobre se será ou não candidato à sucessão de Lula.
Do alto das pesquisas de intenção de voto, por que ele haveria de se tornar alvo desde já da fúria do PT e dos seus aliados? Nada lucraria com isso.
De resto, não há um só tucano emplumado que duvide da disposição de Serra para sair candidato.
À sombra, Serra tem trabalhado duro para pavimentar o caminho que poderá leválo a concorrer à Presidência da República pela segunda e última vez. Se não concorrer ou for derrotado, dará adeus em definitivo ao sonho cultivado desde que começou a fazer política. Lula perdeu três eleições consecutivas antes de vencer a primeira em 2002. Se depender dele, tentará um novo mandato em 2014. Estará com 69 anos — e Serra com 72.
A diferença de idade entre eles não é o que permite imaginar Lula eleito para um terceiro mandato e Serra metido em um pijama dentro de casa observando o crescimento da grama no seu jardim.
Lula deixará o cargo em janeiro de 2011 ostentando a privilegiada condição de o presidente mais popular da história do país. Falta ao PT outro nome capaz de disputar com ele a indicação para candidato em 2014. Quem ousaria? A situação de Serra é bem distinta. Se fugir ao desafio de enfrentar Dilma Rousseff cederá a vaga a Aécio Neves, governador de Minas Gerais. Mesmo que perca, é razoável que Aécio assegure o direito de concorrer em 2014. Terá apenas 54 anos. Terá ganhado com a derrota para Dilma a exposição nacional que hoje lhe falta. O PSDB não se dará ao luxo de desprezar uma estrela em ascensão. É um partido de poucas estrelas.
De 1989 para cá, Lula disputou todas as eleições presidenciais.
Disputará mais uma. Onde se lê Dilma, leiase Lula. O que Dilma tem até agora em intenções de voto foi o que Lula já lhe transferiu. A transferência tende a aumentar. O brasileiro está satisfeito com a vida que leva. E reconhece que boa parte da satisfação decorre do desempenho de Lula e do seu governo. Eleitor satisfeito nunca votou para mudar. Nem aqui nem em parte alguma.
Há duas desgraças que Serra diligenciará para varrer do seu caminho — ele ou qualquer outro candidato.
A primeira: trombar com Lula sem necessidade. Ou mesmo se for necessário. A não ser em caso extremo. A segunda: passar a impressão de que uma vez eleito mudará o que o eleitor não quer que mude. Dilma dirá que representa a continuidade de Lula. Serra não poderá dizer isso, mas é tudo o que gostaria que o eleitor achasse dele.
Essa história de candidato “pós-Lula” inventada por Aécio é uma maneira mais refinada de afirmar: manterei tudo que Lula fez e ainda farei melhor. Serra pretende ir por aí. O PT decidiu encarar a eleição como um confronto entre o Brasil pontilhado de crises de Fernando Henrique e o Brasil ladeira acima de Lula. Votar em Serra é desejar a volta do Brasil das crises e do desemprego em alta.
Votar em Dilma — bem, não vale a pena repetir.
O PSDB se empenhará em transformar a eleição em um confronto entre um candidato com larga experiência política e administrativa e uma candidata que não era nada até outro dia. Que virou candidata por vontade exclusiva de uma única pessoa. Serra pergunta a seus botões: que vantagem levaria se partisse logo para a briga contra Dilma? É o que interessa a Dilma: polarizar cedo com ele para crescer.
A próxima tende a ser uma eleição curiosa. O PT olhará Serra e enxergará Fernando Henrique com todos os seus eventuais defeitos. De sua parte, o PSDB olhará Dilma e enxergará o PT dos muitos escândalos, do aparelhamento e do inchaço da máquina do Estado, da cooptação por meio de grana dos movimentos sociais e da cumplicidade com o MST que invade e depreda fazendas.
Foi na eleição de 2002 que estre ou Lulinha “ paz e amor”. Na de 2010 estreará Serrinha “paz e amor” — pelo menos no que depender dele. O ex-metalúrgico enfezado estará de volta.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Para presidente hondurenho deposto, acordo de Tegucigalpa está fracassado
O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, anunciou ontem que rejeita a proposta feita pelo presidente do governo de facto, Roberto Micheletti, para dividir em partes iguais o governo de unidade, proposto no acordo assinado por ambos na semana passada.
"Agora estão pedindo um resgate por Honduras. Para entregar Honduras estão pedindo que façamos a concessão de metade do gabinete, além disso, que Micheletti coordene o governo de unidade e reconciliação", declarou Zelaya, deposto em 28 de junho, à Rádio Globo. "O que estão propondo é praticamente outro golpe à democracia, por isso as propostas não foram aceitas por nós", acrescentou Zelaya, que está abrigado na Embaixada do Brasil em Tegucigalpa desde 21 de setembro. Ele declarou fracassado o Acordo Tegucigalpa-San José depois que, na quinta-feira - data-limite para a formação do governo de unidade -, Micheletti anunciou um governo com ele na presidência, sem a participação de zelaystas. O governo de facto acusou ontem Zelaya de descrumprir o acordo, mas voltou a pedir a retomada do diálogo e a formação do governo de unidade.
DESISTÊNCIA
O candidato independente à presidência de Honduras, o esquerdista Carlos Reyes, anunciou ontem a retirada de sua candidatura ao considerar que participar da disputa equivaleria a "legitimar" o golpe contra Zelaya. Reyes, que aparecia como o terceiro na preferência do eleitorado, diz que as condições no país após o golpe não permitem eleições livres.
Mas o embaixador dos EUA em Honduras, Hugo Llorens, disse ontem que rejeitar as eleições seria "um erro histórico". A declaração é mais um sinal de que a Casa Branca poderá reconhecer o próximo governo hondurenho mesmo que Zelaya não seja restituído. "Não se pode negar ao povo esse direito (de votar). Isso seria um erro histórico", afirmou.
ATAQUE
Desconhecidos dispararam no sábado à noite contra um comboio que levava o promotor-geral de Honduras, Luis Rubi, perto de Montagua, centro de Honduras. Rubi, que escapou ileso, analisa os 18 processos abertos contra Zelaya e deve dar sua opinião ao Congresso sobre se procede a restituição de Zelaya ao cargo.