quinta-feira, 10 de março de 2016

Opinião do dia – Roberto Freire

O 13 de março anunciará um novo tempo. A partir deste domingo, começaremos a deixar para trás o lulopetismo, que tanto nos infelicita, e escreveremos juntos uma nova página de nossa história. O Brasil se levantou e vai se encontrar com seu destino, pois é muito maior que Dilma, Lula e o PT. Eles não estão acima das leis e não podem cometer crimes ou atacar as instituições da República impunemente. Com a força de milhões de brasileiros que ocuparão as ruas de todo o país, o impeachment ganha um impulso definitivo e se impõe, pelo bem do Brasil. Domingo é dia de fazer história.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS, ‘Um domingo para fazer história’ Blog do Noblat/ O Globo, 10.03.2016

Procuradoria de SP denuncia Lula por 'ocultar' triplex do Guarujá

Promotoria denuncia Lula por falsidade e lavagem de dinheiro no caso tríplex

• Ministério Público de São Paulo sustenta que o petista cometeu crimes ao supostamente ocultar a propriedade de imóvel no Guarujá, reformado pela OAS

Por Fausto Macedo, Julia Affonso e Ana Fernandes – O Estado de S. Paulo

O Ministério Público de São Paulo denunciou criminalmente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do tríplex 164-A, no Condomínio Solaris, no Guarujá. A denúncia foi protocolada na Justiça, em São Paulo, nesta quarta-feira, 9. São acusados também a ex-primeira-dama Marisa Letícia, o filho mais velho do casal Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, e mais 13 investigados. Na lista estão o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o empresário Léo Pinheiro, da empreiteira OAS, amigo de Lula, e ex-dirigentes da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop).

A Promotoria sustenta que o petista cometeu os crimes de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica ao supostamente ocultar a propriedade do imóvel – oficialmente registrado em nome da OAS.

A acusação tem base em longa investigação realizada pelos promotores Cássio Conserino e José Carlos Blat. O promotor afirma ter indícios de que houve tentativa de esconder a identidade do verdadeiro dono do tríplex, o que, segundo ele, caracteriza lavagem de dinheiro.

A investigação mostrou que a empreiteira OAS bancou uma reforma sofisticada do apartamento., ao custo de R$ 777 mil. Segundo o engenheiro Armando Dagre, sócio-administrador da Talento Construtora, contratada pela OAS, os trabalhos foram realizados entre abril e setembro de 2014.

Em 2006, quando se reelegeu presidente, Lula declarou à Justiça eleitoral possuir uma participação em cooperativa habitacional no valor de R$ 47 mil. A cooperativa é a Bancoop que, com graves problemas de caixa, repassou o empreendimento para a OAS.

Lula apresentou sua defesa por escrito no inquérito da Promotoria. O petista afirma que não é o dono do tríplex.

O ex-presidente se se recusou a comparecer pessoalmente ao Ministério Público de São Paulo, na quinta-feira, 3. A audiência havia sido marcada pela segunda vez. O promotor Conserino, inicialmente, pretendia ouvir Lula no dia 17 de fevereiro, mas, na ocasião, uma liminar do Conselho Nacional do Ministério Público barrou a audiência.

Mesmo com a interrupção da investigação da Promotoria paulista e do adiamento da audiência de Lula, manifestantes pró e contra PT se confrontaram na frente do Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo.

A liminar fora concedida a pedido do deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que alegou perante o Conselho que o promotor Conserino já havia antecipado ‘juízo de valor’. Segundo o parlamentar, Conserino não é promotor natural do caso.

Uma semana depois, o Conselho Nacional do Ministério Público destravou a investigação. Por unanimidade, o colegiado derrubou a liminar e permitiu que Cássio Conserino prosseguisse a investigação. O promotor intimou novamente o ex-presidente, mas um detalhe técnico provocou novo tumulto na apuração. A notificação trazia advertência de uma possível condução coercitiva de Lula, medida que não cabe para investigados, caso do ex-presidente.

Lula também é alvo da força-tarefa da Operação Lava Jato, do Ministério Público Federal, que o investiga pela suposta propriedade do sítio Santa Bárbara, localizado em Atibaia (SP).

As duas frentes de investigação levaram a defesa de Lula a ingressar com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF), em que afirma haver duplicidade de procedimentos com o mesmo objetivo. Os defensores do ex-presidente pediram a suspensão das duas apurações. A ministra Rosa Weber negou liminar e manteve de pé tanto o inquérito da Promotoria de São Paulo quando o inquérito da Procuradoria.

A força-tarefa apura se Lula recebeu supostas ‘vantagens indevidas’ de construtoras investigadas na Operação Lava Jato, materializadas, dentre outros, em imóveis em Atibaia/SP e em Guarujá/SP.

MP de São Paulo denuncia Lula por lavagem e falsidade

• Pedido se refere a tríplex de Guarujá e envolve dona Marisa e Lulinha

PF encontra em depósito caixas de mudança do ex- presidente com referências a ‘praia’ e ‘sítio'

O MP de São Paulo denunciou o ex-presidente Lula por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. O pedido de abertura de processo diz respeito ao tríplex de Guarujá reformado para Lula e investigado pela Lava- Jato. Para os promotores, o ex-presidente teria tentado ocultar patrimônio. A mulher de Lula, Marisa Letícia, e um dos filhos, Fabio Luís, o Lulinha, também foram denunciados. A PF achou em depósito caixas de mudança do petista referentes a “praia” e “sítio”.

MP denuncia Lula por tríplex

• Ex- presidente é acusado de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica por tentar ocultar bem

Thiago Herdy - O Globo

- SÃO PAULO- O Ministério Público de São Paulo apresentou ontem à Justiça de São Paulo a primeira denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no processo que apura a compra de um tríplex no Guarujá. Na ação, Lula é acusado pelos crimes de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. A acusação, com 192 páginas, foi protocolada na 4 ª Vara Criminal do Fórum da Barra Funda, em São Paulo. Os promotores Cássio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique Araújo sustentam que Lula teria tentado ocultar a propriedade do imóvel, que oficialmente está registrado em nome da empreiteira OAS. O ex- presidente admite ter visitado o apartamento, mas nega tê-lo adquirido.

Além de Lula, também foram denunciados na ação sua mulher Marisa Letícia e um dos filhos do casal, Fabio Luís Lula da Silva. Respondem na mesma ação o ex- dirigente da construtora OAS, Adelmário Pinheiro, conhecido como Léo Pinheiro; o ex- dirigente da Bancoop, João Vaccari Neto; e outras 11 pessoas. Este processo não tem relação formal com a Lava- Jato, embora trate de tema que também é investigado pelo MPF em Curitiba.

O advogado de Lula, Cristiano Zanin, disse ontem desconhecer a iniciativa. Mas afirmou que ela era esperada pela defesa:

— Essa denúncia foi informada pelo promotor em 22 de janeiro, quando deu entrevista à revista “Veja” dizendo que denunciaria o ex-presidente. Apenas formalizou o resultado, deixando claro que a apuração não foi isenta, decorrendo tão somente da parcialidade e da intenção deliberada de macular a imagem de Lula — afirmou.

Por nota, o Instituto Lula disse que a denúncia “reforça a necessidade de o Supremo Tribunal Federal (STF) avaliar ação dos advogados do expresidente sobre a competência da investigação feita em duplicidade pelo Ministério Público Federal e pelo Ministério Público de São Paulo”.

Se a denúncia for aceita pela Justiça, o ex presidente Lula passa a ser réu na ação penal. O MP paulista investigava irregularidades na construção e venda dos apartamentos do condomínio Solaris desde quando a Bancoop quebrou, em 2006, e repassou à OAS a construção de imóveis que estavam sob sua responsabilidade.

Família visitou o imóvel
A família do ex-presidente havia adquirido em 2004 um apartamento simples no edifício, na praia das Astúrias, no Guarujá. Os promotores sustentam que ao assumir a construção do prédio, a OAS decidiu reservar para o ex-presidente o tríplex situado na cobertura, incluindo reformas que custaram aproximadamente R$ 750 mil e compras de móveis de luxo por cerca de R$ 320 mil, a pedido de Lula e de sua família.

Depois que O GLOBO publicou reportagem sobre obras no tríplex, o ex- presidente desistiu de ficar com a unidade. De acordo com informações de sua assessoria, Lula investiu R$ 179,6 mil no imóvel, mas notícias sobre o tema teriam rompido “a privacidade necessária ao uso familiar do apartamento”. O ex-presidente solicitou, então, a devolução de valores pagos. A assessoria afirma que Lula pagaria pelas modificações realizadas a seu pedido no imóvel.

Testemunhas ouvidas pelos procuradores nos últimos meses citaram visitas de Marisa e do filho Fábio ao imóvel investigado durante as reração formas, realizadas em 2013, quando Lula não era mais presidente. Dirigentes da OAS teriam acompanhado a família durante as visitas ao imóvel, que ganhou elevador privativo para atender aos novos moradores. Quinta- feira passada, o “Jornal Nacional” exibiu fotos de Lula visitando o tríplex junto com Léo Pinheiro.

Neste ano, o MP tentou por duas vezes obter o depoimento de Lula e Marisa, mas não conseguiu. Uma liminar na Justiça suspendeu o primeiro depoimento. Depois, Lula informou que prestaria esclarecimentos apenas por escrito, e não pessoalmente.

Durante cumprimento de busca e apreensão no apartamento 164- A do Edifício Solaris, realizada no último mês, durante a 22 ª fase da Operação Lava-Jato, policiais federais constataram que o imóvel se encontra vazio, sem moradores e sem os móveis adquiridos pela OAS para atender ao ex-presidente. Segundo funcionários da empreiteira, não era prática usual da empresa reformar apartamentos antes da entrega a eventuais compradores.

Ontem, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) acusou o promotor Cássio Conserino de perseguir o ex-presidente:

— Isso não é nenhuma novidade. Esse é o procurador que anunciou a uma revista que denunciaria o Lula. Não há fato novo nisso, já esperávamos isso. É uma coisa de louco. Eles não querem aceitar as explicações do Lula — afirmou. (Colaboraram Silvia Amorim e Cristiane Jungblut)

‘ Estão forçando a barra’, disse Lula sobre rumos da operação

• Moro afirma que país precisa vencer desafios ‘ sem violência ou ódio’

Simone Iglesias, Cristiane Jungblut, Júnia Gama – O Globo 

- BRASÍLIA- Na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), numa reunião que durou mais de três horas com dezenas de senadores da base aliada, o ex- presidente Lula criticou a atuação do Ministério Público na Operação Lava- Jato, dizendo que sofre “perseguição política”. O ex-presidente disse, no entanto, que estava pronto para a “guerra”. Ele reafirmou que não era necessário ter sido levado de forma coercitiva para depor e fez um desabafo dizendo que ele e a ex-primeira- dama Marisa Letícia estão “tristes com a situação”. Lula reclamou que queriam colocá-lo dentro da Lava- Jato “de qualquer jeito”.

— Lula falou que não se oporia a depor, mas que fizeram de tudo para colocá- lo na Lava Jato. Ele falou um pouco mal do Ministério Público. Está triste, incomodado e disse que dona Marisa não está bem — relatou um dos senadores.

A reunião na residência de Renan havia sido combinada, a princípio, para ocorrer somente entre Lula e a cúpula do PMDB. O intuito era discutir saídas para a crise de governabilidade diante do acirramento da crise política. Mas senadores de diversos partidos, como PMDB, PDT, PCdoB e PT, compareceram ao encontro.

Na saída, Renan ficou lendo com Lula trechos da Constituição. Lula reclamou também que, quando tudo estava bem politicamente, não se questionava nada a respeito de seus atos.

— Agora, tudo tem que ser explicado. Estão querendo me incluir de todo o jeito. Estão forçando a barra — disse o ex-presidente aos senadores.

Renan, que também é investigado na Lava- Jato, disse que não se tratou diretamente das investigações da operação, que “ninguém pode ser contra as investigações”. Mas outros senadores afirmaram que Lula se defendeu das acusações:

— Ele não tratou das investigações, não seria o caso. Ali ninguém é contra as investigações. Todo mundo entende, no entanto, que é preciso que as investigações avancem, mas no devido processo legal — afirmou o presidente do Senado.

O líder do governo no Senado, Humberto Costa ( PT- PE), disse que Lula negou ser dono do tríplex de Guarujá e do sítio de Atibaia e contou aos senadores que está “indignado” com as denúncias. O ex-presidente afirmou que a todo o momento surgem novos fatos para tentar incriminá-lo.

— Ele manifestou indignação por achar que tudo que está sendo assacado contra ele é um conjunto que não tem consistência — contou Costa.

O juiz Sérgio Moro participou ontem de um jantar- debate em Curitiba, promovido pelo Lide, grupo empresarial liderado por João Doria Júnior, pré- candidato à prefeitura de São Paulo. No encontro, Moro afirmou que o quadro de corrupção sistêmica no país envergonha os brasileiros:

— Esse quadro nos envergonha, envergonha os brasileiros que acabam tendo uma imagem de malandro lá fora.

O Brasil, disse o juiz, não pode empurrar a questão para baixo do tapete:

— Uma coisa é a corrupção isolada. Outra é a corrupção sistêmica. Precisamos saber como chegamos e como sairemos dela.

À véspera de um fim de semana de manifestações contra e a favor do governo, Moro defendeu que o país ande para frente “sem violência ou ódio”. Sem citar possíveis enfrentamentos, Moro afirmou ainda que é preciso vencer os desafios:

— Já superamos crises econômicas terríveis, vencemos duas ditaduras, a do Estado Novo e a ditadura militar, tivemos triunfo contra a hiperinflação nos anos 90. Superamos tudo isso andando juntos. Devemos vencer andando juntos e caminhando para frente, não para trás. Devemos vencer sem violência ou ódio contra ninguém.

Petista propõe foro privilegiado para ex- presidente

• Proposta, que virou lei e foi derrubada pelo STF em 2005, beneficiaria Lula

Leticia Fernandes - O Globo

- BRASÍLIA- Preocupado com o que chamou de ilegalidades crescentes cometidas na Operação Lava- Jato, o deputado Wadih Damous ( PT- RJ) disse ao GLOBO ontem que estuda apresentar um projeto de lei restabelecendo foro privilegiado para ex- presidentes. Com Lula no centro da operação e dias após ele ser levado à força pela Polícia Federal para depor, o petista pode escapar de um possível julgamento pelo juiz Sérgio Moro caso seja beneficiado pelo projeto. Há uma preocupação real no PT de que Lula venha a ser preso no âmbito da Lava- Jato.

— Se um ex-presidente será julgado por atos que cometeu enquanto ocupava o cargo, que seja pela Corte Suprema. A Lava- Jato é uma operação ilegal, com um festival de práticas arbitrárias. O ( Sérgio) Moro não é um juiz, é um inquisidor — criticou o deputado, ao defender a ideia.

Restrições à delação
Wadih Damous já é autor de projetos de lei que restringem o uso da delação premiada no país. Entre os principais pontos estão o que criminaliza o vazamento de trechos de delações, e a necessidade de homologação das delações apenas no caso de acusados ou indiciados que respondam a processo em liberdade.

Antes da escolha do ex- procurador da Bahia Wellington Lima e Silva para o Ministério da Justiça, Lula defendia o nome de Damous, ex- presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio, para assumir a pasta no lugar de José Eduardo Cardozo, realocado na Advocacia- Geral da União ( AGU). Com a decisão do Supremo Tribunal Federal de impedir que um membro do Ministério Público, caso de Wellington César, tenha cargo no Executivo, o nome de Damous pode voltar a ganhar força. Um dos maiores defensores de Lula na Câmara, o deputado assumiu a vaga na Casa em maio do ano passado, após articulação do ex-presidente, com o argumento de que o partido precisava de quadros jurídicos para sustentar as discussões sobre a Lava- Jato.

O fim do foro privilegiado para ex- presidentes passou a valer em setembro de 2005, após decisão do STF que julgou inconstitucional o dispositivo que criou o benefício. Três anos antes, em um dos últimos atos do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), uma lei estendeu o foro privilegiado para ex- autoridades. O texto foi aprovado em um acordo com o PT, que à época era oposição. FH temia ser alvo de processo após deixar a Presidência, sobretudo se ficasse nas mãos de juízes de primeira instância, temor agora compartilhado por Lula.

Ação do ministério público
A ação direta de inconstitucionalidade da lei foi proposta pela Associação Nacional dos Membros do Ministério Público. Os ministros do STF derrubaram a lei porque, para eles, a Constituição protege o cargo, não a pessoa que o ocupou.

Segundo a Constituição, o presidente da República, senadores, deputados federais e ministros têm o direito de serem processados e julgados pelo STF. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) é o foro para governadores e os tribunais de Justiça, para prefeitos. Essas prerrogativas permaneceram apenas para quem está à frente do cargo.

No caso de improbidade administrativa, crime previsto pelo Código Civil, não há mais foro especial para nenhum brasileiro. A lei foi derrubada por sete votos a três.

Em busca de blindagem contra investigações, Lula vai a Brasília

• Ex- presidente pode se tornar ministro para evitar risco de prisão

Alvo da Lava- Jato, o ex-presidente Lula recebe abraço do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele passou o dia em sucessivas reuniões em Brasília, em busca de blindagem, e recebeu do Planalto oferta para que ocupe um ministério, que teria recusado. Chegou a ser cogitado para a Fazenda, a Casa Civil, as Comunicações ou a Justiça. O posto lhe daria foro privilegiado e o livraria da jurisdição do juiz Sérgio Moro.

Júnia Gama, Simone Iglesias, Cristiane Jungblut, Evandro Éboli Eduardo Barreto - O Globo

- BRASÍLIA- Em busca de blindagem contra as investigações da Operação Lava- Jato, o ex-presidente Lula manteve ontem negociações com a presidente Dilma Rousseff e ministros. Ao fim de sucessivas reuniões no Palácio da Alvorada — e também na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), onde compareceram cerca de 20 senadores aliados —, o Palácio do Planalto abriu as portas para que ele se torne o mais novo integrante do governo.

Com status de ministro, Lula obteria foro privilegiado e se livraria do juiz federal Sérgio Moro, que está à frente das investigações da Lava- Jato na primeira instância da Justiça, e de um eventual mandado de prisão. Sua entrada no governo seria ainda uma forma de a administração petista tentar superar a crise política e econômica.

No entanto, interlocutores do ex-presidente afirmam que ele resiste à ideia por dois motivos: o temor de parecer covarde ao fugir de uma possível prisão e a necessidade de ter autonomia total como ministro, o que poderia parecer uma “renúncia branca” de Dilma. Isso, dizem auxiliares da presidente, ela não se mostra disposta a aceitar.

Segundo fontes do Palácio do Planalto, a nomeação de Lula para um ministério é uma “unanimidade” e depende somente de sua concordância. Lula apenas escolheria a pasta a comandar para exercer duas importantes funções: organizar uma frente contra o impeachment e ajudar na aprovação de medidas que recuperem a economia.

Para Planalto, Lula dirá “sim”
A denúncia contra Lula apresentada ontem pelo Ministério Público de São Paulo foi mal recebida pelo Planalto e fez aumentar a chance de Lula aceitar o cargo de ministro. A avaliação no Planalto é que a denúncia “foi muito política”, principalmente por ocorrer a quatro dias dos protestos. No governo, é dado como certo que Lula vai dizer “sim”.

Ministros, senadores e deputados petistas têm feito apelos para que Lula seja indicado ministro. Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, defendeu a proposta:

— Quem não quer Pelé jogando no seu time?

No entanto, há no PT dúvidas se essa seria a melhor opção para Lula e o partido.

— É melhor Lula ser preso e fazermos barulho, vigília na cadeia, do que ele ser acusado de covarde. E, para salvar a economia, Dilma teria que dar carta branca para Lula tomar decisões. Acho que ela não topa — afirmou o deputado Reginaldo Lopes (PT- MG).

Crítico do governo Dilma, o senador Lindbergh Farias ( PTRJ), que esteve com Lula de manhã na casa de Renan, disse que o ex-presidente não descarta assumir um ministério:

— Concordo que ele vá para o governo, desde que o governo mude. Entrar para continuar como está aí é virar sócio de uma experiência fracassada. Pode ser uma boa opção para ele ter um julgamento isento no Supremo, porque a Justiça do Paraná está cometendo ilegalidades para condená-lo artificialmente. Mas é algo que tem de ser bem analisado.

O líder do governo no Senado, Humberto Costa ( PT- PE), propôs que Lula assuma o papel de coordenador político, mas fora do governo:

— Seria uma coordenação macro, com o objetivo de unir os componentes da aliança.

Durante todo o dia, diversas opções de ministérios para Lula foram avaliadas. Além de Fazenda, Casa Civil, Secretaria de Governo e Relações Exteriores, falou- se na possibilidade de elevar o status do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Assim, Lula teria a estrutura necessária para negociar com a sociedade civil, o empresariado e o Congresso.

Segundo auxiliares palacianos, Lula tem dito a Dilma que ainda não se decidiu porque considera polêmico assumir um ministério e enfrentar o desgaste de ser acusado de usar a máquina pública para escapar da Lava- Jato. Mas, no governo, a avaliação é que haverá desgaste tanto se ele entrar no governo quanto se for preso.

Pressa para a decisão
Há um sentimento de urgência sobre a decisão, devido ao temor de que um mandado de prisão contra Lula seja expedido em breve. No Planalto, teme-se que isso aconteça esta semana, antes das manifestações de domingo. Por isso, cresceram as pressões para que ele integre o governo.


Preocupado com o que chamou de ilegalidades na Lava Jato, o deputado Wadih Damous (PT- RJ) disse que estuda apresentar um projeto de lei que restabeleça o foro privilegiado a ex- presidentes.

Já a oposição reagiu à possibilidade de Lula se tornar ministro de Dilma.

— Nenhum homem público está acima da lei. Se isso se consagrar e ele assumir o ministério, acho preocupante no que diz respeito às investigações — disse o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG).

Temer diz a Wagner que PMDB se distanciará do governo

• Ministro da Casa Civil esteve com vice-presidente no Palácio do Jaburu

Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer afirmou nesta quarta-feira ao ministro Jaques Wagner (Casa Civil) que o PMDB dará um passo no sentido de se distanciar do governo na convenção deste sábado, mas que não se sabe ainda o grau deste distanciamento. O aviso foi dado após Wagner procurar o vice na tarde desta quarta-feira, no Palácio do Jaburu, para perguntar sobre a possibilidade de rompimento do PMDB com o governo.

Segundo interlocutores de Temer, Wagner demonstrou preocupação com a convenção do partido. O vice-presidente disse que existe um grupo no PMDB que irá propor uma moção de independência e que ela deve ser votada no plenário pelos representantes dos diretórios. Há, ainda, um grupo de senadores e governadores do PMDB que costura uma posição mais “light” em relação ao governo, mas, na avaliação de Temer, é uma ala minoritária. Temer relatou ainda a Wagner que o clima em relação ao governo não está bom.

– Com as novas denúncias e o agravamento da crise, esse grupo que quer o rompimento com o governo hoje é majoritário e ostensivo. O partido quer um afastamento, só não se sabe ainda em que nível isto se dará – disse Temer a Wagner, segundo um auxiliar.

Há uma avaliação de que a ala que quer o rompimento com o governo hoje está mais forte, porque o grupo que defendia a permanência está “recolhido”. É o caso do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), e também do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), que tem adotado uma postura “eclética” na avaliação de aliados de Temer. Pela manhã, Renan esteve com o ex-presidente Lula; agora pela noite, se reúne com a cúpula do PSDB.

Na terça-feira, o GLOBO mostrou que a base peemedebista nos estados se mobilizava para aprovar no próximo sábado, durante convenção nacional que reconduzirá Temer ao comando partidário, uma moção pela independência. Só que para evitar serem associados aos movimentos contra o governo, o vice e seus principais aliados — como os ex-deputados Eliseu Padilha (RS) e Moreira Franco (RJ) — pretendem ficar longe dos holofotes.

Com aval de Temer, PMDB avalia liberar voto contra Dilma

PMDB avalia liberar parlamentares em votação sobre impeachment de Dilma

• Articulação conta com aval do vice-presidente Michel Temer; texto será apresentado em convenção

Daniel Carvalho, Beatriz Bulla - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Com aval do vice-presidente da República, Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Romero Jucá (RR) e parte da ala oposicionista do PMDB na Câmara costuram um documento que defende a liberação dos membros do partido na votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff e de todas as matérias que a legenda decida por não fechar questão, inclusive as da pauta econômica.

O documento será apresentado na convenção nacional do partido, neste sábado, e aparece como uma alternativa mais branda à proposta de desembarque imediato do governo, defendida pela ala mais radical da legenda e que vem crescendo conforme a data da convenção se aproxima.

Deputados da ala oposicionista estiveram na tarde de ontem com Temer, presidente nacional do PMDB. Disseram, contudo, que não chegaram a abordar o assunto. A previsão era de que se reunissem com um emissário do vice-presidente da República ainda na noite de ontem para fechar a redação do texto, a cargo do deputado Osmar Terra (RS). Romero Jucá também esteve ontem no Palácio do Jaburu, residência oficial de Temer.

Um dia antes, seis peemedebistas antigoverno estiveram com Renan. De acordo com um deles, o presidente do Senado se disse preocupado com a situação atual do País, mas defendeu que este não é o momento de rompimento.

“Radicalizamos, mas temos consciência de que é difícil chegar (à aprovação do desembarque). Vamos trabalhar por uma nota de independência. Entendo isso como um passo para o desembarque”, disse Darcísio Perondi (RS), um dos articuladores do documento.

A saída alternativa não é consenso. Parte da sigla ainda defende o rompimento imediato com o governo federal, com a entrega de cargos e ministérios. “Não existe meio grávida ou meio virgem. Ou se está no governo ou não. Não se consegue construir uma candidatura ocupando cargo. É hora de o PMDB tomar posição. Não somos sócios da crise e o PT quer que a gente assuma este papel”, afirmou Lúcio Vieira Lima (BA). No Senado, Valdir Raupp (RO), também defende a entrega de todos os cargos.

Estados. A ala antigoverno contabiliza que dez Estados já aderiram à chamada Carta de Porto Alegre, que pede o rompimento total com o governo. Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Bahia, Pernambuco, Bahia, Acre, Rondônia, Roraima e Espírito Santo, juntos, contabilizam 241 dos 655 votos. Eles acreditam que também têm parte dos votos em São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Paraíba e Sergipe, Estados que concentram 172 votos.

Segundo interlocutores de Temer, o diretório de São Paulo pode ser liberado pelo vice-presidente para apoiar oficialmente o rompimento. Mas os peemedebistas paulistas negam estar envolvidos em qualquer conversa com Temer. O presidente do PMDB-SP, Baleia Rossi, tem dito a interlocutores que tem posição mais amena, condizente com a linha defendida no documento em gestação.

Ainda não há previsão de que nenhum documento seja votado na convenção. No entanto, parlamentares defendem sua apresentação ao menos como demonstração de posição política e um sinal de que os parlamentares da sigla podem vir a apoiar o impeachment da presidente.

Renan e PMDB jantam com Aécio e selam reaproximação com tucanos

• Promovido pelo senador tucano Tasso Jereissati, encontro discutiu 'alternativa' à atual crise política

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em jantar realizado na noite desta quarta-feira, 9, em Brasília, integrantes da cúpula do PSDB e as principais lideranças do PMDB do Senado selaram reaproximação em busca de uma “alternativa” à atual crise política e econômica. O encontro ocorreu horas depois de os mesmos peemedebistas se reunirem com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na residência oficial do Senado.

Da parte dos tucanos, estiveram presentes o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), o líder do partido, senador Cássio Cunha Lima (PB) e os senadores Tasso Jereissati (CE), José Serra (SP) e Aloysio Nunes. Do lado dos peemedebistas, compareceu o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o líder do partido, senador Eunício Oliveira (CE), e o senador Romero Jucá (RR).

“Não dá para dizer que o PMDB e o PSDB se juntaram agora para derrubar a Dilma, para fazer o impeachment, não é verdade”, afirmou o senador Eunício Oliveira.
Segundo convidados, “todos os cenários” foram traçados, como o impeachment da presidente Dilma Rousseff, a cassação da chapa presidencial pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e até a própria permanência da presidente. “Não há um consenso ainda de qual é a saída”, afirmou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), anfitrião do jantar.

Os tucanos querem se reaproximar do PMDB no momento em que o principal aliado do governo expressa afastamento do Palácio do Planalto. Um obstáculo é o fato de setores do PMDB apresentarem certa resistência a Aécio em razão de o PSDB ter focado suas últimas ações no TSE, onde os tucanos pedem a cassação da chapa presidencial de Dilma, o que incluiria a queda também do vice-presidente Michel Temer.

Parlamentarismo volta à discussão

Por Raymundo Costa e Claudia Safatle - Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deve instalar nos próximos dias uma comissão especial para tratar da adoção do parlamentarismo no país. O relator da proposta deve ser o senador José Serra (PSDB-SP), antigo defensor da mudança do sistema de governo. A ideia é que a mudança seja feita a partir das eleições de 2018, mas na prática a comissão vai discutir uma saída para a crise do atual governo.

O nome de Serra para a relatoria ainda não foi formalizado pelo PSDB, mas o senador tem discutido o assunto com o presidente do Senado e é a indicação mais provável. Serra tem dito que a proposta não tem por objetivo resolver os impasses em relação ao atual governo. A atual crise, segundo o senador paulista, deveria ser resolvida dentro do regime presidencialista e quanto antes, melhor, em razão do agravamento da crise econômica.

Senadores do próprio PSDB e do PMDB, no entanto, defendem que a comissão avance em uma proposta capaz de apresentar uma solução mais rápida para a crise política que paralisou a gestão de Dilma Rousseff.

A hipótese em discussão é a adoção do parlamentarismo mitigado ou o semipresidencialismo, que tem a simpatia do vice-presidente da República, Michel Temer.

No semipresidencialismo, o presidente da República manteria grande parte de seus poderes, mas dividiria o governo com o Congresso a quem caberia escolher o primeiro-ministro. A proposta não é consensual, mesmo como saída de emergência, pois começa a se cristalizar também no Senado a ideia de que Dilma precisa deixar o cargo para um novo governo assumir e apresentar medidas para debelar a crise econômica.

A comissão do Senado é a terceira frente que ameaça o mandato da presidente Dilma Rousseff. A primeira é o processo de impeachment em tramitação na Câmara dos Deputados, que pode ser deflagrado a partir da próxima semana, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) der a palavra final sobre os ritos a serem obedecidos no processo.

A segunda frente é o pedido de cassação da chapa Dilma-Temer sob a análise do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O problema atualmente é que tanto o impeachment como a solução via TSE são processos demorados, e a cúpula do Congresso não vê mais muita margem de manobra para o prolongamento da "agonia", nas palavras de um senador. A crise tende a se agravar.

A mudança do regime de presidencialismo para parlamentarismo mitigado, a exemplo do que prevalece em boa parte da Europa, está sendo considerada a solução mais rápida e cirúrgica para enfrentar a lacuna de poder da presidente Dilma. Sua aprovação, como proposta de emenda constitucional (PEC), seria acelerada conforme a urgência de uma solução política.

O semipresidencialismo teria como vantagem não expulsar o PT do governo, como ocorreria com a aprovação do impeachment. Mas para isso seria preciso preservar o restante do mandato da presidente Dilma, o que é visto como um problema.

Renan foi chamado anteontem para conversar com a presidente Dilma Rousseff. O Palácio do Planalto está preocupado com o aumento da pressão, no PMDB, pelo rompimento com o governo. A tendência do presidente do Senado é tentar atuar como um pacificador. Ele deve levar adiante a ideia de uma conversa com ex-presidentes da República, como Fernando Henrique Cardoso e José Sarney. Mas ele também tem um limite.

O nome de José Serra é o mais mencionado tanto quando se fala de uma solução parlamentarista, como na hipótese de o vice Michel Temer assumir, em caso de impeachment da presidente. O senador até agora evitou tomar a frente do debate, mesmo sendo um reconhecido parlamentarista, para evitar especulações.

Se Dilma sofrer o impeachment, Serra deve dar as diretrizes econômicas de um eventual governo Temer. Já no caso da mudança de regime, ele é também o nome mais lembrado para ocupar o cargo de primeiro-ministro.

PMDB e PSDB falam em 'trabalhar juntos' para achar saída para o país

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - No momento em que o governo Dilma Rousseff vive o auge de sua fragilidade, dirigentes do PMDB e do PSDB assumiram nesta quarta-feira (9) que "vão trabalhar juntos para encontrar uma saída" para o país.

As declarações foram dadas no fim da noite, após umjantar patrocinado pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), em Brasília. O encontro reuniu as cúpulas dos dois partidos no Senado.

Do lado do PMDB, participaram o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o líder da sigla na Casa, Eunício Oliveira (CE), e o senador Romero Jucá (RR).

Já a cúpula do PSDB compareceu em peso. Foram ao local o senador Aécio Neves (MG), dirigente nacional da legenda, e os colegas José Serra (SP), Antonio Anastasia (MG), Cássio Cunha Lima (PB) e Aloysio Nunes (SP).

Ao final da reunião, Tasso foi escalado para falar. "Há uma constatação de que o momento é bastante grave", iniciou. "Tanto o PMDB como o PSDB não podem ficar omissos. Vamos trabalhar juntos para encontrar, o mais breve possível, uma saída para a crise que o Brasil vive."

As palavras foram endossadas por Eunício. "Essa aqui é uma conversa de gente adulta preocupada com o país", ele afirmou. "Não viemos aqui derrubar o governo Dilma. Viemos buscar uma saída para a crise."

Impeachment
O peemedebista disse ainda que as duas siglas vão trabalhar para "aglutinar outras forças políticas a esse processo", numa indicação de que começarão a consultar líderes de outras legendas.

Eunício disse que não foi traçado um plano definitivo, mas admitiu que entre os cenários projetados pelos senadores estava o impeachment da presidente.

Segundo ele, os tucanos disseram ser "muito difícil" qualquer solução com Dilma. E o PMDB, o que disse? Os três integrantes da sigla ficaram em silêncio.

"O impeachment é uma realidade colocada, há um processo em andamento", afirmou Eunício. "Assim como há uma ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e outros cenários que angustiam a população. Há um sentimento no Congresso de que é preciso encontrar uma solução."

A associação pública entre as cúpulas do PSDB e do PMDB é inédita e indica quão delicada é a situação da presidente Dilma no Congresso. Renan e Eunício sempre foram considerados integrantes da ala do PMDB mais fiel à petista e, no entanto, sinalizam claramente na direção de uma aproximação com a oposição.

O presidente do Senado deixou o encontro sem falar com a imprensa. Jucá também evitou os jornalistas. A caminho do seu carro, no entanto, bateu no ombro de Anastasia e comentou: "Agora é hora de arregimentar as tropas". Questionado sobre o que falava, o peemedebista riu. Anastasia, por sua vez, fez piada: "é futebol".

PMDB sinaliza ser a favor de regime semelhante ao parlamentarismo

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Aliados do vice-presidente Michel Temer (PMDB) sinalizaram que o peemedebista não colocaria obstáculos à formulação de um regime semelhante ao parlamentarismo no Brasil como saída para a crise.

Eles ressaltam que a disposição do vice está impressa, inclusive, no documento apresentado por ele no ano passado como uma espécie de plano de governo, o "Ponte Para o Futuro". A peça prega o fortalecimento do Parlamento e defende a autonomia do Congresso para formular o Orçamento.

A fala é um sinal verde na direção da iniciativa do presidente do Senado, Renan Calheiros, e do senador José Serra (PSDB-SP) de deflagrar uma operação para discutir a implantação do semiparlamentarismo no país.

Sem alarde, o Senado aprovou na semana passada a criação de uma comissão especial para debater o tema. A iniciativa foi revelada pela Folha. A ideia é tida como "uma saída honrosa" para o impasse que se instaurou no país.

Participam das conversas, além de Renan e Serra, nomes como o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) e Aloysio Nunes (PSDB-SP) –este apresentou um projeto defendendo a adoção do parlamentarismo nesta terça (8).

Nas discussões, tem ganhado força a ideia de que o Senado deve formular uma proposta que apresente um período de "transição" do regime presidencialista para o semipresidencialista nos próximos anos, com Dilma Rousseff ou Temer no poder. A mudança definitiva se daria em 2018.

Presidente do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) diz ver na tese a chance de "se criar uma saída que não seja temporária".

Um domingo para fazer história - Roberto Freire

- Blog do Noblat / O Globo

Quanto mais o governo de Dilma Rousseff faz o Brasil mergulhar na crise e sofrer com o desemprego, a inflação e a recessão econômica, além do profundo envolvimento com a corrupção revelada pela Operação Lava Jato, mais os cidadãos se motivam para tomar as ruas neste domingo, dia 13 de março, e protestar contra o desmantelo do lulopetismo. As novas manifestações convocadas por movimentos sociais e que contam com a adesão dos partidos de oposição, que pedem o impeachment da presidente da República, têm tudo para se transformar nos maiores atos de protesto da história brasileira e todos os cidadãos estão convidados a fazer parte deste momento especial.

A desfaçatez de Dilma, Lula e os seus, que estrebucham contra o avanço das investigações, tentam intimidar a Justiça e se colocam acima das leis do país, chega às raias da irresponsabilidade quando o ex-presidente insufla a militância e a convoca para reagir contra um suposto “golpe” destinado a liquidar o PT – apenas porque foi levado a prestar depoimento sob condução coercitiva, prática absolutamente comum e que atingiu outros investigados por corrupção durante todo o desenrolar da Lava Jato. O PT aposta no conflito e na divisão do país entre “nós” e “eles”, jogando brasileiros contra brasileiros e exigindo um tratamento diferenciado àqueles que se veem enredados em uma teia de conexões criminosas e indícios fortíssimos de ilegalidades.

Nossa melhor resposta às bravatas lulopetistas será dada nas ruas no próximo domingo. Em paz, sem aceitar provocações, manifestaremos nosso compromisso com a democracia e a defesa inegociável da Lava Jato e das instituições republicanas, protestando contra a corrupção e o desmantelo que tomou conta do país nos últimos 13 anos.

É importante ter a consciência de que as manifestações precisam aglutinar, e não dividir. Não devem ser discriminados aqueles que desejam participar dos protestos, independentemente de filiação a partidos políticos ou quaisquer outras organizações. Todos aqueles que quiserem cerrar fileiras contra a corrupção e pelo impeachment de Dilma serão bem-vindos. Em meados dos anos 1970, na emblemática Revolução dos Cravos em Portugal, uma das canções que quase se transformou em hino das manifestações pela derrubada da ditadura salazarista era “Traz outro amigo também”, do cantor português José Afonso (popularmente conhecido como Zeca Afonso), que serviu para angariar apoio e inflamar ainda mais a multidão. Ao fim e ao cabo, a música escolhida como tema dos protestos foi outra, “Grândola, Vila Morena”, mas podemos nos inspirar no exemplo português que sensibilizou o mundo e incentivar as pessoas a trazer mais um amigo no dia 13 para engrossar o coro em defesa da democracia.

A grave denúncia do senador petista Delcídio do Amaral – de que Dilma e Lula tentaram obstruir os trabalhos da Justiça na investigação do petrolão –, assim como a suspeita do envolvimento direto do ex-presidente e seus familiares em tenebrosas transações trazidas à tona pela Lava Jato apenas reforçam a dimensão do projeto criminoso de poder instalado a partir do Palácio do Planalto desde quando o PT chegou ao governo federal. É hora de dar um basta nesta sofisticada organização criminosa que tomou de assalto o Estado brasileiro e derrotá-la democraticamente, sem ódio e sem medo, de peito aberto, em paz e com o espírito leve de quem está pronto para dar as boas-vindas a um novo Brasil.

O 13 de março anunciará um novo tempo. A partir deste domingo, começaremos a deixar para trás o lulopetismo, que tanto nos infelicita, e escreveremos juntos uma nova página de nossa história. O Brasil se levantou e vai se encontrar com seu destino, pois é muito maior que Dilma, Lula e o PT. Eles não estão acima das leis e não podem cometer crimes ou atacar as instituições da República impunemente. Com a força de milhões de brasileiros que ocuparão as ruas de todo o país, o impeachment ganha um impulso definitivo e se impõe, pelo bem do Brasil. Domingo é dia de fazer história.
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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fechando o cerco - Merval Pereira

- O Globo

A decisão do Ministério Público de São Paulo de denunciar Lula e familiares por ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro, resultado da investigação sobre o tríplex no Guarujá, é um sinal mais do que claro de que também o Ministério Público Federal, que atua na Operação Lava- Jato, está na fase final da investigação, que tem provas compartilhadas.
A preocupação de Lula e seus próximos com um possível desfecho das investigações contra ele, com a consequente denúncia ao juiz Sérgio Moro em Curitiba, é mais do que razoável, e por isso a insistência para que ele aceite ir para o ministério da presidente Dilma, a fim de ganhar foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal.

Mesmo que aceite, porém, além do fato de ter que assumir praticamente uma confissão de culpa, Lula e o governo teriam que passar por outro constrangimento, o de defender no STF a nomeação insólita.

Por certo, a nomeação de ministro, de acordo com a Constituição, é ato político do presidente da República, que é quem decide quanto à conveniência e oportunidade da nomeação, imune, nestes aspectos, ao controle judicial, devido ao princípio da separação dos poderes.

Mas, seria essa imunidade absoluta, podendo se fazer tábula rasa do princípio constitucional da moralidade? Pode a presidente, a pretexto de ser um ato político, nomear Lula ministro, com a finalidade escancarada de livrá-lo das investigações da Lava- Jato na primeira instância?

Ontem mesmo, o Supremo impediu a nomeação do novo ministro da Justiça, por ser ele membro do Ministério Público da Bahia. A preocupação com um desfecho iminente dos processos da Operação Lava-Jato em relação ao ex-presidente Lula tem base nos fatos. Quem ler o documento de 89 páginas em que o Ministério Público Federal requer ao Juiz Sérgio Moro as medidas cautelares de busca e apreensão e a condução coercitiva de várias pessoas, inclusive o ex-presidente Lula, ficará com a certeza de que os procuradores encarregados do caso estão convencidos da culpabilidade do ex-presidente.

Ao longo de suas páginas, há trechos como o seguinte: “Mostrou- se, ainda, que esse esquema tinha como um de seus líderes José Dirceu, e que continuou a existir mesmo após este ser afastado por corrupção em esquema idêntico desvelado no caso mensalão, o que mostra que alguém de igual ou superior hierarquia comandava o esquema: e o elemento comum para esses esquemas todos, detentor do poder de nomeação e beneficiado com o apoio político era, particularmente, Lula".

“Nessa toada, considerando os dados colhidos no âmbito da Operação Lava Jato, há elementos de prova de que Lula tinha ciência do esquema criminoso engendrado em desfavor da Petrobras, e também de que recebeu, direta e indiretamente, vantagens indevidas decorrentes dessa estrutura delituosa".

“Nesse âmbito, considerando que uma das formas de repasse de propina dentro do arranjo montado no seio da Petrobras era a realização de doações eleitorais, impende destacar que, ainda em 2005, Lula admitiu ter conhecimento sobre a prática de ‘ caixa dois’ no financiamento de campanhas políticas. Além disso, conforme recente depoimento prestado à Polícia Federal, reconheceu que, quanto à indicação de diretores para a Petrobras ‘ recebia os nomes dos diretores a partir de acordos políticos firmados’. Ou seja, Lula sabia que empresas realizavam doações eleitorais ‘ por fora’ e que havia um ávido loteamento de cargos públicos. Não é crível, assim, que Lula desconhecesse a motivação dos pagamentos de ‘ caixa 2’ nas campanhas eleitorais, o porquê da voracidade em assumir elevados postos na administração pública federal, e a existência de vinculação entre um fato e outro".

“Repise- se que a estrutura criminosa perdurou por, pelo menos, uma década. (...) Considerando que todas essas figuras, diretamente envolvidas no estratagema criminoso, orbitavam em volta de Lula e do Partido dos Trabalhadores, não é crível que ele desconhecesse a existência dos ilícitos. (...) Além disso, é inegável a influência política que Lula continuou a ter no governo federal, mesmo após o término de seu mandato (encontrando-se até hoje, mais de cinco anos após o fim do seu mandato, com a atual presidente da República)”.

A volta dos profissionais -José Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Há uma tendência de crescimento moderado de buscas no Google Brasil pelos termos “manifestação”, “impeachment” e “protesto”. Mas nada parecido com as vésperas da grande manifestação de um ano atrás, ainda. Já a procura pela expressão “vem pra rua”, nas suas várias grafias, continua onde sempre esteve nesses 12 meses: tão baixa que mal se vê. Os focos maiores de movimentação nas redes estão em São Paulo, Distrito Federal e Rio de Janeiro.

As buscas por essas palavras no Google foram um bom termômetro das manifestações em 2015. O pico virtual de março foi três vezes maior do que o de agosto, e seis vezes superior ao de dezembro. Nas ruas, a proporção de manifestantes foi similar. É cedo, porém, para prever qual será o tamanho dos protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff no domingo. O crescimento costuma ser abrupto, se intensifica nos últimos dias antes do evento.

Seja como for, há diferenças fundamentais deste protesto em relação aos anteriores. Pela primeira vez, os partidos de oposição estão francamente engajados na sua organização. Se, há um ano, limitaram-se a olhar da janela com uma camisa amarela, desta vez caciques do PSDB estão convocando não só militantes, mas eleitores de modo geral, valendo-se de meios eletrônicos.

Autoridades tucanas prometeram segurança aos que pretendem protestar mas, eventualmente, estão temerosos de conflitos violentos com governistas e petistas, que, em algumas cidades, também ensaiaram ir para as ruas no mesmo dia. Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin proibiu demonstrações a favor de Dilma e de Lula na Avenida Paulista, pois é lá que os oposicionistas marcaram de se reunir já faz meses.

O trem pró-impeachment espichou, e os movimentos exóticos que deram a cara aos protestos enquanto os partidos de oposição não queriam correr o risco de se expor vão ser empurrados para os vagões de trás. Acabaram-se as preliminares: seja um sucesso, um fracasso ou meio a meio, a locomotiva da manifestação de domingo são os partidos, e os maquinistas, os políticos profissionais.

O PSDB e seus caciques pretendem capitalizar ao máximo os eventos de domingo. E não é só para apressar a desestabilização do governo e tentar precipitar a saída de Dilma do poder. O objetivo é usar as manifestações para apresentarem-se como a saída no fim do túnel. Não são os únicos, porém.

Na véspera, o PMDB também fará seu principal movimento para começar a sair de Dilma para entrar na história – e, se der certo, voltar ao governo com a faca e o queijo na mão. A reeleição do recém-calado Michel Temer como presidente do partido deve catalisar os divididos peemedebistas em torno de duas palavras: independência e união. Independência para votar como cada deputado e senador quiser (sem obediência ao líder do governo) e união para se contrapor aos polarizados PT e PSDB.

É, obviamente, uma aposta na transição pelo impeachment da presidente e só dela. Os peemedebistas sabem que precisam se antecipar ao julgamento da chapa que elegeu Dilma e Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral, ou correm o risco de se verem cassados junto com os petistas. Mas, para mudar a contabilidade na Câmara e no Senado e garantir os votos necessários para apear Dilma, também Temer e companhia dependem da pressão das ruas.

Assim, a manifestação de domingo é fundamental para os planos tanto do PSDB quanto do PMDB de voltar ao centro do poder. Se for contabilizada aos milhões, tucanos e peemedebistas terão andado muitas casas rumo ao mesmo objetivo. Uma contagem em centenas de milhares será uma vitória, mas não definitiva. Qualquer outra unidade de medida equivalerá a um retrocesso.

Tudo isso, é claro, se as delações de Delcídio Amaral não forem premiadas nem forem corroboradas por outras provas. Ou haverá protestos contra os protestantes.

Impeachment depende da rua – Rogério Gentile

- Folha de S. Paulo

O PT chamou a população para defender Lula nas ruas e agora corre o risco de ouvir como resposta no próximo domingo o mesmo "não" que derrubou Fernando Collor em 1992.

Acusado naquela época de ter contas pagas por terceiros, Collor fez um discurso exaltado no dia 13 de agosto daquele ano. Dizendo-se presidente dos descamisados, falou em "golpe", reclamou que a "central única dos conspiradores" pretendia promover o "terceiro turno das eleições" e conclamou a população a vestir as cores da bandeira nacional.

O efeito foi o de um bumerangue. Três dias depois, enquanto Collor reunia cerca de 300 apoiadores em frente à Casa da Dinda, o país presenciou uma onda de manifestações em favor do impeachment na qual o preto foi adotado como símbolo e as gargantas pediam "cadeia". Collor durou só mais 44 dias no cargo.

Lula não é um outsider como era o seu adversário de 1989. Tem na retaguarda um partido estruturado, ainda que combalido, uma central sindical e alguns movimentos sociais. Mas o fato de não conseguir formular uma resposta minimamente convincente para os presentes que recebeu de empreiteiras torna sua posição muito frágil. Como convencer alguém a defender o direito do Lula de ser paparicado pela Odebrecht?

Tanto assim que, na própria sexta, a despeito de o PT ter tentado mobilizar sua militância contra a condução coercitiva de Lula, pouca gente foi para rua. Houve alguns protestos, uma ou outra confusão, um ex-deputado mostrando a cueca, mas o máximo que o partido conseguiu foi lotar a quadra de um sindicato. É pouco para o Lula que já foi considerado o presidente mais popular da história.

A manifestação de domingo, dependendo da sua amplitude e vigor, pode significar o respaldo que a Câmara aguarda para o pedido de impedimento de Dilma. Como disse Michel Temer a aliados meses atrás, não é o Congresso quem aprova o impeachment. "É a rua."

O comunista e o empreiteiro - Luiz Carlos Azedo

• Condenado a quase 20 anos, o maior empreiteiro do país responde a outros processos e corre o risco de mofar na prisão

- Correio Braziliense

O deputado comunista Fernando Sant’Anna (1915-2012) era amigo do peito do empreiteiro Norberto Odebrecht (1920-2014). O primeiro era filho do Coronel Pompílio de Sant’Anna, patriarca da tradicional família de Irará, no interior da Bahia, à qual se refere Gilberto Gil no Baião Atemporal (uma homenagem ao produtor musical Roberto Sant’Anna, um dos criadores da Tropicália). A família se dividia em dois ramos políticos: um udenista e outro comunista.

Pernambucano, Norberto era filho de Emílio Odebrecht, que se mudaria para Salvador, na Bahia, área metropolitana promissora para o mercado da construção civil. Era bisneto de Emil Odebrecht, um engenheiro e cartógrafo alemão, que emigrou para o Brasil em 1856. Após se formar na Escola Politécnica da Bahia, em 1944, fundou a empresa de construção que deu origem ao que é hoje a Organização Odebrecht, sediada na capital baiana.

Norberto dividia o escritório que o coronel Pompílio havia bancado para o filho Fernando, seu amigo e colega de turma, recém-formado no curso de Engenharia Civil da então Escola Politécnica da Bahia. Santana, como assinaria na política, era um jovem líder estudantil, militante do Partido Comunista, que havia se reorganizado clandestinamente durante a ditadura de Vargas.

Enquanto Norberto erguia seu império, Santana se dedicava à política. Era fundador da UEB (União dos Estudantes da Bahia) e foi o primeiro presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes), eleito em 1942. Tornou-se engenheiro-chefe do Segundo Distrito da Aeronáutica (Bahia e Sergipe), em 1945; depois, foi chamado a trabalhar como assessor direto do educador Anísio Teixeira, no governo de Octávio Mangabeira, como engenheiro-chefe encarregado da “Planificação e Construção de Escolas Públicas”.

Fernando Sant’Anna foi eleito deputado federal em 1959. Sua campanha foi financiada pelo amigo Norberto. Em 1964, cassado pelos militares, se exilou no Chile, na União Soviética e na Iugoslávia. Durante esses anos, contou com a ajuda do amigo. Anistiado em 1979, voltou ao Brasil e foi eleito deputado federal pelo PMDB em 1982; em 1986, foi eleito para a Constituinte pelo PCB. As duas campanhas foram financiadas pela Odebrecht. Norberto chamava um dos engenheiros de sua empresa, comunista como Santana, e perguntava: de quanto é que o Fernando vai precisar para a campanha? Santana nem tomava conhecimento do problema. E passou ao largo do escândalo da CPI do Orçamento, no qual a Odebrecht esteve envolvida. Morreu aos 96 anos, na sua Irará, vítima de infarto. Era o presidente de honra do PPS. Não deixou fortuna para os herdeiros.

Outra geração
Ontem, a Justiça Federal condenou o empresário Marcelo Odebrecht a 19 anos e quatro meses de prisão por envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava-Jato (corrupção ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa). O juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, foi duríssimo: “há um conjunto de provas muito robusto que permite concluir, acima de qualquer dúvida razoável, que o pagamento das propinas pelo Grupo Odebrecht aos agentes da Petrobras, com destinação de parte dos valores a financiamento político, não foi um ato isolado, mas fazia parte da política corporativa do Grupo Odebrecht, e que Marcelo Bahia Odebrecht foi o mandante dos crimes praticados mais diretamente pelos executivos Márcio Faria da Silva, Rogério Santos de Araújo, Cesar Ramos Rocha e Alexandrino Alencar (…)”.

Neto de Norberto e filho do casal Emílio Alves Odebrecht (fundador da Braskem) e Regina Bahia, Marcelo liderou a era de ouro do grupo familiar, que tem 15 divisões e presença em 21 países. Ele sucedeu seu pai, Emílio, no fim de 2008, em meio à crise financeira global, aos 40 anos. Engenheiro formado na Bahia, fez mestrado em Lausane, na Suíça. É o maior empregador do país e líder de um dos cinco principais grupos privados nacionais. Sua ascensão coincide com o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pretendia transformar o Brasil em potência global através da promoção de empresas nacionais.

Nem de longe sua relação com Lula se compara à de Léo Pinheiro, o ex-presidente da OAS, mas, desde que assumiu o comando da empresa, a Odebrecht obteve do BNDES R$ 5,8 bilhões em empréstimos para financiar projetos do grupo no exterior, como o Porto de Muriel, em Cuba. Nos bastidores da Lava-Jato, diz-se que negocia com o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro a possibilidade de fazerem acordos de delação premiadas simultâneos, para salvar as duas empresas. O maior empreiteiro do país responde a outros processos e corre o risco de mofar na prisão.

Governo quase zerado. E o difícil processo de substituição dele - Jarbas de Holanda

A delação premiada do ex-líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (pelo já revelado e pelo que pode conter de ingredientes ainda mais comprometedores do Palácio do Planalto) implicou o que antecipei no TopMail anterior como efeito da operação Acarajé, centrada no marqueteiro João Santana e no financiamento da campanha reeleitoral de 2014: a subordinação maior da chefe do governo (ou desgoverno) ao ex-presidente Lula. Refletida, de pronto, numa troca do ministro da Justiça, promovida com o objetivo de passos bem mais desinibidos e eficientes para o cerceamento e restrições do papel autônomo da Polícia Federal nas investigações do petrolão e paralelas. Subordinação, avaliei no início da semana passada, que forçaria o abandono da proposta de algumas reformas para enfrentamento da crise fiscal, como a da Previdência, prometidas pelo novo (e já esgotado) ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, aos investidores internos e externos.

Abandono esse que se afirmou ainda mais com a postura assumida por Dilma Rousseff diante dos episódios da operação Aletheia (busca da verdade) da Lava-Jato: interrogatório do ex-presidente Lula pelo Ministério Público durante três horas no aeroporto de Congonhas; quebra do seu sigilo bancário; cumprimento de 33 mandados de busca e apreensão em imóveis dele e de pessoas de suas relações (inclusive o Instituto Lula); e outros atos investigativos. Postura que, começando na sexta-feira por “indignação” manifestada contra a condução coercitiva do principal interrogado, ganhou graves implicações políticas e institucionais no sábado quando, deslocando-se como chefe do Executivo para visita de solidariedade a Lula, ela endossou pessoal e explicitamente os agressivos ataques dele às autoridades do Ministério Público e da Polícia Federal pelo desempenho de funções rigorosamente legais na apuração do desvio criminoso de vultosos recursos da Petrobras e de outros órgãos e empresas da União, ao longo dos governos petistas. Ataques estendidos à prática da liberdade de imprensa pelo conjunto da mídia. Endosso presidencial a esses ataques que, de um lado, configurou a ultrapassagem de limites institucionais que uma presidente precisa respeitar, e, de outro, evidenciou a necessidade sentida por ela de vincular a defesa de seu mandato à guerra “popular” declarada por Lula às investigações sobre corrupção. Vinculação que deverá acentuar-se com o forte adensamento do respaldo social à Lava-Jato (e ao juiz Sérgio Moro como símbolo do combate à impunidade), com os últimos desdobramentos das referidas investigações, e com os que estão à frente. E vinculação que pode ganhar uma dimensão de escandaloso e desesperado desafio à Justiça se se confirmar o que a imprensa informa hoje: a nomeação de Lula para um cargo de ministro, pedida pelo PT e aceita pela presidente, para protegê-lo com foro privilegiado de uma prisão pela Lava-Jato, após a já esperada troca da condição de investigado pela de denunciado.

Conjunto de fatos entre cujas repercussões políticas destacam-se o revigoramento da tendência oposicionista existente no PMDB (inclusive na bancada do Senado), a manifestar-se na convenção partidária do próximo sábado; e a retomada da capacidade de iniciativa por parte da oposição – do PSDB liderado por Aécio Neves e dos demais partidos aos quais agora se junta o PSB – com a superação do isolamento a que ela estava submetida. Variáveis que abrem caminho para que o Congresso possa passar a cumprir o papel central que lhe cabe nas respostas constitucionais às graves crises econômica, fiscal, política e ética que sufocam o país. Respostas que não serão fáceis, mas ao contrário difíceis e complicadas, em face da profundidade e complexidade dessas crises. As de caráter político-institucional envolvendo quatro alternativas. As duas primeiras dependentes de um amplo entendimento político-partidário, possível mas ainda inexistente: a decretação do impeachment pelo Congresso, mais rápida, e novas eleições com a cassação da chapa Dilma/Temer pelo TSE e confirmação pelo STF, mais legítima porém mais demorada. Terceira – a renúncia da presidente, desejada pelo mercado mas também traumática porque só viável sob pressão irresistível do conjunto da sociedade. E quarta – a continuidade do atual governo até 2018, pelo que o país terá de pagar um preço bem mais alto que aquele que já está pagando hoje, com a extensão até lá dessas crises e a falta de perspectivas concretas de superação delas. As duas primeiras respostas com o expressivo reforço que podem ganhar a partir de grandes manifestações de rua, em todo o país, no próximo domingo.

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Jarbas de Holanda é jornalista

Desculpa ao capoteiro - Maria Cristina Fernandes

• Vítima de Moro e do PT, Jorge Blanco resiste a ambos

- Valor Econômico

Jorge Washington Blanco foi eleitor de Marina Silva e Aécio Neves na disputa presidencial de 2014. Votou em Luiz Inácio Lula da Silva a última vez em 2002, antes mensalão. Reforma bancos de carro desde criança, quando começou a trabalhar na capotaria do avô. Com a pequena oficina, no bairro de São Geraldo, bairro pobre na zona leste de Belo Horizonte, criou seus dois filhos, hoje adultos, e chegou a tirar R$ 4 mil por mês. Com a recessão, os ganhos caíram pela metade.

Na noite do dia 26 de fevereiro, Blanco tinha acabado de chegar em casa, vindo da oficina, quando um oficial de Justiça tocou a campainha e lhe entregou uma intimação para depor à Justiça. No papel, constavam apenas nome e sobrenome, herdado do avô espanhol, além do CPF. Os filhos suspeitaram de trote e ele disse ao oficial de justiça que deveria ser algum engano, mas Blanco foi convencido que não havia como resistir. "É aquele negócio do Cerveró, você tem que ir", lhe disse o oficial de Justiça.

Nos sete dias que se seguiram, Blanco mal dormiu. Na sexta-feira, 4 de março, no mesmo dia em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva acordou com a força-tarefa à sua porta para levá-lo ao aeroporto de Congonhas, o capoteiro pegou um táxi para ir à sede do Ministério Público Federal, no centro da capital mineira.

Por videoconferência, ouviu calado o juiz Sergio Moro lhe dizer que, na condição de testemunha, estava comprometido a dizer a verdade sob pena de ser processado. Responsável pela inquirição, o representante do Ministério Público não passou da terceira pergunta. Blanco lhe informou a profissão, disse nunca ter trabalhado no banco Schahin nem tampouco conhecer [o ex-diretor da Petrobras ], Jorge Zelada.

Em três minutos, conclui-se que se tratava de homônimo de um funcionário argentino do Schahin citado em depoimento do ex-presidente do banco, Sandro Tordin. Moro ainda perguntou se algum defensor gostaria de se pronunciar mas, além de Blanco, o jovem advogado amigo da família que Blanco havia levado ao depoimento, também parecia intimidado. O microfone ficou aberto e o capoteiro ouviu quando juiz e procurador riram. Ninguém lhe pediu desculpas.

Ontem, pela manhã, como antecipou o Valor PRO, o juiz lhe telefonou para se desculpar. Blanco aceitou o pedido de desculpas mas não desistiu de acionar o Estado por dano moral. Um advogado lhe disse que teria de abrir a ação em Curitiba e o capoteiro não sabe como nem com que dinheiro.

Como quase todo mundo, o capoteiro era um entusiasta da Lava-Jato. Queria que as acusações fossem colocadas em pratos limpos para o país voltar a andar e que os culpados devolvessem o que não lhes pertencia. O episódio, no entanto, lhe deixou inconformado. Quando o vídeo chegou à internet, ele passou a ser alvo de chacota na rua. A capotaria, ouviu, seria apenas a fachada de uma lavanderia.

Ao voltar pra casa naquela sexta-feira, Jorge Blanco ficou sabendo que Lula tinha sido conduzido para depor. Não viu paralelo entre sua intimação e a condução coercitiva do ex-presidente. Parece convencido de que Lula foi levado à força porque se recusou a ir, mas quando fala de seu maior patrimônio até parece que é ele, e não o ex-presidente, quem o mimetiza: "O nome é o que a gente tem de mais importante. Como é que vou consertar o meu se esse cara [o homônimo] se enrolar?".

Tratado em Curitiba como um lapso do Ministério Público 'sem maiores consequências', o episódio não revela apenas o descuido do MP, que poderia ter sido evitado pela simples checagem da filiação de Blanco. Se a força-tarefa dedicou-se às minúcias dos grandes alvos, como os pedalinhos dos netos de Lula, não parece justificável que despreze os grandes transtornos causados na vida de pequenas - e equivocadas - vítimas, como o capoteiro.

Moro e o MP levaram menos de 24 horas para divulgar notas em que buscaram se justificar pela condução coercitiva de Lula e cinco dias para o pedido de desculpas ao capoteiro.

A agilidade das notas sobre Lula se irmana com o susto da oposição com a sobrevida dada pelo ex-presidente ao discurso "eu não sou eu, eu sou vocês". A reação de Lula levou uma fatia do PSDB a temer que a Lava-Jato, para não se deslegitimar, tenha que queimar caravelas tucanas.

Como se se antecipasse às próximas delações, artigo de Fernando Henrique Cardoso tratou de se opor à criminalização das doações empresariais. No texto, o ex-presidente não cita o impeachment uma única vez. Prefere a "exaustão do atual arranjo político brasileiro".

Parece improvável que Lula sobreviva à Lei da Ficha Limpa e possa realizar a ameaça, anunciada em ambos os discursos da sexta-feira, de volta triunfal em 2018. Mais do que em campanha eleitoral, o ex-presidente está em maratona que ele mesmo definiu como ideológica. Depois de ver o PT e a base de governo se desanimarem frente aos encorpados indícios de corrupção, pôs-se a tentar convencê-los do contrário. A inspiração do filho de dona Lindu é o dia em que levou o ex-diretor-gerente do FMI, Horst Koehler às lágrimas com sua história.

A presidente Dilma Rousseff, que buscava sobreviver numa rota de aproximação com a agenda reformista de centro, não teve outra alternativa senão se submeter à liderança lulista pelas evidências de que a indignação com a condução coercitiva ultrapassa sua magra margem de popularidade.

O primeiro subproduto da crise precipitada é o afastamento do PT da rota que, em alguns momentos dos últimos 13 anos, se cruzou com a da oposição em nome de uma agenda de reformas fiscais. A criminalização de Lula e de Dilma radicaliza o partido e a política brasileira por tempo indefinido. Na era petista, o 13 de março da Central do Brasil caiu no dia 4 da quadra dos bancários. A guinada à esquerda tenta impedir a queda do governo com ameaça de radicalização social sob a liderança de um Lula mitificado.

Se todos estão na mira da Lava-Jato, Lula tenta mostrar que ele, ao contrário dos demais, tem exército. Na eventualidade de a manifestação de domingo se frustrar, a estratégia do ex-presidente ganha fôlego e tem chances de manter o que restar do PMDB em apoio ao governo. Mas se a mobilização for maiúscula, os planos petistas terão se mostrado incapazes de converter aqueles que, a exemplo do capoteiro, nem mesmo vitimados pela Lava-Jato, perdem o foco de quem meteu o país nesta crise sem pedir desculpas.

Siga o pedalinho - Demétrio Magnoli

- O Globo

“Esta pergunta não está à altura da Polícia Federal”, reagiu um arrogante Lula ao ser indagado, na fatídica sexta- feira, sobre os pedalinhos mantidos no sítio de Atibaia. Mas a lógica da pergunta decorre da regra “siga o dinheiro”. No rastro dos pedalinhos, há muito mais que a propriedade do próprio sítio. Eles indicam o caminho da Internacional lulista — uma articulação que, ao contrário das internacionais operária, socialista, comunista e trotskista, rege- se por um misto de política e negócios.

Do Casco Antiguo da Cidade do Panamá, não se avista mais a península. “O horizonte do Golfo se perdeu”, lamenta a presidente de uma organização consagrada à proteção do patrimônio histórico do país ístmico. De fato, em 20 de maio de 2011, foi inaugurado o viaduto de seis pistas e 2,8 quilômetros que rasga o mar à frente do centro histórico, uma obra da Odebrecht contratada por US$ 780 milhões. Lula participou da inauguração, a convite do presidente panamenho Ricardo Martinelli, com quem participaria de um jantar oferecido pela Odebrecht. O evento contou com a presença do ministro José Domingo Arias, candidato do presidente a sucedê-lo, que acabou derrotado em 2014, apesar dos esforços do marqueteiro João Santana.

Lula, Odebrecht, Santana. Na Internacional lulista, o quarto componente é o BNDES, responsável pelo financiamento do metrô da capital panamenha e da Autopista Madden- Colón, obras tocadas pela mesma Odebrecht, que venceu todas as grandes licitações no governo Martinelli. O Panamá não é um caso singular: o esquema quadripartite repetiu-se na Argentina ( Ferrovia Sarmiento), no Peru ( Hidrelétrica de Chaglla), na Venezuela (ponte sobre o Orenoco e metrô de Caracas), na República Dominicana ( Termelétrica de Punta Catalina e 16 outras obras) e em Angola ( Hidrelétrica de Lauca e dezenas de outras obras). Sem Santana, mas com a Odebrecht e o BNDES, a Internacional operou em Moçambique ( BRT de Maputo e Aeroporto de Nacala), no Equador ( hidrelétricas de San Francisco e Manduriacu) e em Cuba ( Porto de Mariel). Finalmente, com a Odebrecht e Santana, mas sem o BNDES ( ufa!), seus tentáculos alcançaram El Salvador.

“Lula é uma fonte de inspiração para a América Latina”, proclamou Danilo Medina, presidente da República Dominicana, em janeiro de 2013, durante uma visita de Lula patrocinada pela Odebrecht e seguida pela concessão de vultosa linha de financiamento do BNDES. A Internacional dos negócios expandiu- se em países sob governos “progressistas”, um adjetivo com dúbios significados políticos. Na América Latina, apoiou- se nos ombros do chavismo, do kirchnerismo e do castrismo, mas estabeleceu laços com líderes populistas como Ollanta Humala, do Peru, Mauricio Funes, de El Salvador, e o próprio Medina. Na África, ligou- se ao ditador angolano José Eduardo dos Santos, do MPLA, presidente desde 1979, que converteu os processos eleitorais em farsas macabras e comanda um dos regimes mais corruptos do mundo.

Tudo começou durante os mandatos de Lula, mas prosseguiu sob Dilma Rousseff. Bombado por multibilionárias transferências de recursos oriundos da emissão de dívida pública, o BNDES lançouse numa escalada de financiamentos no exterior. A Odebrecht, a maior beneficiária deles, obteve cerca de US$ 8 bilhões. Dias atrás, na esteira do depoimento de Lula, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, disse que será preciso “dialogar com o povo brasileiro” para “explicar como são feitas as palestras, em que países aconteceram”. Há muito a explicar, mas inexiste mistério sobre os países selecionados: em geral, coincidem com empreendimentos da Odebrecht subsidiados pelo BNDES.

Lula deixou a Presidência, mas não o poder, o que pode ser verificado pelas quedas sucessivas dos ministros Aloizio Mercadante, Joaquim Levy e José Eduardo Cardozo. O Instituto Lula e a empresa que agencia as palestras do ex- presidente receberam R$ 56 milhões em quatro anos. Lula tornou- se, ao lado de Bill Clinton, o palestrante mais caro do planeta. Sem o BNDES, tais feitos seriam impossíveis. Luciano Coutinho, presidente do banco público, deveria “explicar” ao “povo brasileiro” os critérios de seleção dos países e empreiteiras agraciados por empréstimos subsidiados. Até hoje, ele proferiu platitudes sobre o estímulo a negócios de empresas brasileiras no exterior, mas nunca enfrentou a questão do custo de oportunidade desses financiamentos. Num país tão carente em infraestruturas e saneamento básico como o Brasil, falta uma justificativa plausível para o direcionamento de capitais escassos ao metrô de Caracas, ao viaduto monumental do Panamá, ao Porto de Mariel ou às múltiplas obras do regime cleptocrático angolano.

A ciranda financeira no duto que interliga o BNDES, a Odebrecht e o Instituto Lula seria suficiente, num país sério, para destruir a carreira política de Lula e ensejar processos judiciais devastadores. Tudo se complica com as evidências de que, muitas vezes, o triângulo transforma- se em retângulo pela adição dos serviços de João Santana, proprietário de uma empresa de marketing político que já confessou operar caixa dois nas suas aventuras internacionais. As excessivas coincidências sugerem que a Internacional lulista, como sua predecessora comunista, organiza- se sob a égide do “centralismo democrático”.

Num país sério, os pedalinhos, esses singelos presentes aos netinhos de Lula, poderiam ser ignorados por policiais, procuradores e juízes. Mas, no Brasil, onde o “governo popular” dedicou- se à modernização das mais tradicionais práticas patrimonialistas, a Polícia Federal tinha o dever de formular as perguntas que provocaram a indignação de Lula. Os pedalinhos não são patrimônios, mas indícios. Seguindo as delicadas ondulações causadas pelo movimento deles, chegamos a um projeto internacional que associa poder e dinheiro: a geopolítica do lulismo.

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Demétrio Magnoli é sociólogo