sexta-feira, 22 de junho de 2018

Opinião do dia: Roberto Freire

Ele é o que melhor representa as forças políticas que não estão ligadas ao ‘bolsonarismo’ da direita nem ao ‘lulopetismo’ da esquerda que, na minha concepção, não têm nenhum compromisso com a democracia. Alckmin não traz antagonismos, sabe dialogar e foi um excelente gestor em São Paulo.

.Os institutos estão avaliando cenários que não existem, como a possibilidade de eleição do ex-presidente Lula (PT). Isso distorce os resultados e torna os estudos irrelevantes.

É a primeira eleição em que os aliados não assistirão aos jogos juntos, porque não tem aliado. Estamos passando por uma crise política séria que está dificultando a criação de laços políticos, tanto a nível nacional como estadual. Porém, até o fim da Copa acho que veremos uma concretização do cenário.

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Roberto Freire é presidente nacional do PPS, entrevista ao Jornal de Jundiaí(SP).

Bruno P. W. Reis: *Um Réquiem para os Partidos?

Sistema partidário no Brasil, daqui para o futuro

*Este artigo foi retirado da edição de maio de 2018 do Journal of Democracy em Português — publicação do Plataforma Democrática, uma iniciativa da Fundação FHC e do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais.

Tema canônico da ciência política, objeto de uma apreciável linhagem de estudos clássicos (Duverger 1951, Lipset & Rokkan 1967, Sartori 1976, Katz & Mair 1995), o estudo dos sistemas partidários recebeu novo respaldo com a publicação recente, no âmbito do projeto Varieties of Democracy (V-Dem), de um trabalho que aponta a institucionalização do sistema partidário como um dos principais preditores da longevidade da democracia, ao lado de (porém mais que) a sociedade civil (Bernhard et al. 2015).

O argumento sobre a importância da sociedade civil para a democracia remonta pelo menos à primeira metade do século 19, quando Tocqueville empreendeu longa viagem aos Estados Unidos e reuniu suas impressões num volume de vasta repercussão junto a seus contemporâneos e sua posteridade, dos dois lados do Atlântico (Tocqueville 1835). A tradição tocquevilleana na compreensão da democracia ganhou sua fórmula no cultivo da “arte da associação”. Para muito além da obra e do tempo de seu fundador, essa tradição deitou raízes fundas na compreensão partilhada pelos próprios americanos sobre as fundações de seu sistema político, conformando o eixo central do pluralismo que estruturou a ciência política norte-americana no século 20 sobre o alicerce da postulação de uma teia de interesses tecida por filiações múltiplas dos cidadãos a organizações que se entrecruzavam em suas disputas e interesses partilhados (Truman 1951, Bentley 1955, Dahl 1956).

Comparado ao lugar explanatório central ocupado pela sociedade civil na tradição tocquevilleana de compreensão da democracia, um sistema partidário estável (ou “institucionalizado”) tende a comparecer antes como variável dependente. Afinal, basta uma consulta ao Contrato Social de Rousseau (1762) para se constatar que os partidos políticos não necessariamente fazem parte do cânone doutrinário sobre democracia e soberania popular. Partidos não estão previstos na Constituição dos Estados Unidos da América e — pelo menos em tese, a depender do sistema eleitoral adotado — não necessariamente serão indispensáveis à realização de eleições. No entanto, alinhamentos e identidades partidárias, bem como a organização subsequente, parecem emergir de maneira quase instantânea onde quer que se organize alguma competição eleitoral pelo poder político. Nesse sentido, como propriedade emergente da rotinização democrática, a presença de um sistema de partidos tenderá a ser tomada antes como sintoma característico da existência de uma democracia saudável que como sua explicação. Porém, poucos atributos de uma democracia terão mecanismo de retroalimentação positiva tão imediatamente plausível como a decantação estável do alinhamento de interesses e a absorção institucional de conflitos potenciais implicadas na institucionalização do sistema partidário. Crucialmente, no que diz respeito à dinâmica da competição intra-elite, tão frequentemente desestabilizadora, a cristalização de um sistema partidário reforça o interesse da elite política na manutenção do regime, comprometendo-a com a preservação do status quo.

Embora se ocupe primariamente de um caso, o do Brasil, este não é primariamente um trabalho empírico. Não apresenta e testa uma hipótese confrontando-a com dados sistematicamente produzidos. É antes um ensaio rumo a um diagnóstico que tenta ser prospectivo quanto à dinâmica esperada para a vida partidária no Brasil, que confronta a conjuntura brasileira com aquilo que a literatura disponível sobre partidos, sistemas partidários, democracia e estabilização democrática nos permite divisar.

O que é uma democracia consolidada?
Tomado seriamente, o problema da “consolidação democrática” nada tem de trivial. A consolidação de um quadro institucional para o balizamento dos conflitos sociais configura um sistema complexo de coordenação de expectativas mútuas, em que eu me atenho à norma caso espere que outros também se atenham a ela, mas me disponho a violá-la em proveito próprio diante da expectativa de violação por meus rivais (Taylor 1976, 1987; Axelrod 1984; Skyrms 2004). De fato equilíbrios na interação estratégica entre milhões de agentes tendem a exibir considerável resiliência, e não deve surpreender que se apresentem aos olhos das pessoas a eles submetidas como um estado “natural” do mundo, cuja reversão habita o reino da utopia — ou o dos pesadelos. Aceitando o risco de certo exagero em favor de uma imagem para ilustrar o argumento: rupturas institucionais talvez sejam inconcebíveis até o momento em que se tornem inevitáveis. Elas nunca serão, nesse enquadramento, uma possibilidade que se mantenha no horizonte rotineiro das pessoas que vivem sob um sistema político qualquer.

No momento em que se torna plausível que alguém esteja cogitando da ruptura, os atores políticos tendem a precipitá-la, mesmo involuntariamente: ao incluírem a ruptura em seus cálculos, uma corrida pela antecipação da iniciativa alheia tenderá a instalar-se. Tudo isso nos induz a superestimar a consolidação e a institucionalização de regimes políticos tão logo eles se tornem minimamente rotinizados — e assim a trivializar o complexo problema do equilíbrio político-institucional. Seja por desejo orientado normativamente ou por resignação conformista, dissemina-se uma irresistível tendência à reificação do status quo — e assim o mundo tenderá a ser constituído, em nossa percepção cotidiana, por estereótipos de ditaduras mais ou menos sanguinárias e democracias relativamente consolidadas. Por temor de profecias que se autocumprem (ou mesmo por seu efeito real) e pela delicada coordenação de expectativas implicada na estabilização de um regime político, tende a ser inviável a operação rotineira de um regime percebido como não consolidado.

Mas o que é uma democracia consolidada? Ou, mais propriamente, sob que condições poderemos acreditar haver-se consolidado um regime democrático, tornando-o invulnerável às vicissitudes da disputa política? Sob um ponto de vista mais ambicioso, pode-se dizer que um regime político está consolidado quando os valores e princípios que orientam e animam suas instituições e sua constituição encontram ressonância disseminada na adesão sincera da população a esses mesmos princípios e valores. Algo análogo à tese da congruência entre os sistemas de autoridade presentes na população e no sistema político, a que se referiu Eckstein (1966), e que tratei como “sacralização” das instituições pela população (Reis 1997).

Marco Aurélio Nogueira: Vinte anos e um futuro a construir*

Quando, em maio de 1998, chegou às bancas o primeiro número da revista Época, o Brasil vivia um momento de otimismo. Pesquisa do Latinobarômetro dava conta de que o país ingressara no futuro, a confiança ressurgira e as famílias começavam a acreditar que seus filhos conheceriam dias melhores à frente. Os computadores estavam entrando no cotidiano dos brasileiros, o DVD prometia se expandir, hábitos novos chegavam à classe média e movimentavam o setor de serviços.

Havia alguma preocupação com o futuro do emprego. A ocupação na indústria caía e a torcida era para que os serviços funcionassem como fator de compensação. A taxa de desemprego de 8,18% (hoje é de 13%) incomodava, e a oferta de vagas vinha acompanhada da exigência de maior escolarização e especialização, o que prometia impulsionar o sistema educacional do país. A expectativa era que a economia manteria o pique e freasse a tendência a uma expansão caótica do mercado informal e da precarização do trabalho. Já então se ouviam vozes defendendo a reforma da legislação trabalhista, de modo a aumentar o poder de negociação entre sindicatos e empresas.

A sensação era de que a sociedade havia atravessado o trecho mais difícil da redemocratização, da luta contra a inflação e da modernização administrativa. Os próximos passos seriam de avanço, com melhor distribuição de renda e maior inclusão social.

Armadilhas da transição
Sociedades são entidades que se movem com dificuldade, tensão e sofrimento. Mas sempre se movem. Mesmo quando a paralisia parece prevalecer e tudo se mostra congelado, os germes da mudança trabalham em silêncio, corroendo a situação prevalecente. Começam então a ser percebidos os primeiros indícios de que algo irá se romper. Mas somente após um longo, lento e árduo processo de desconstrução é que emerge uma nova situação.

Nem tudo, porém, se desfaz. Ecos e pedaços do que existia antes permanecem na memória coletiva e nas estruturas sociais. O passado, a rigor, nunca passa. Verdade conhecida por historiadores e sociólogos, o fato assume proporções trágicas no Brasil, que carrega em seu DNA a dificuldade de romper com os arranjos sociopolíticos que, acumulados pelo tempo, terminam por condicionar o progresso social. Entre nós, ressoam fortes as célebres palavras de Karl Marx no Dezoito Brumário de Luís Bonaparte: “A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos”.

A passagem de uma ordem mais “tradicional”, agrária, para uma ordem mais “moderna”, industrial, por exemplo, sempre implica muita turbulência, deslocamento de forças e alterações no modo como se estratificam os grupos e se pensa a vida. A superação de uma ditadura enraizada e sua substituição por uma democracia estável, que são difíceis e conflituosas por definição, não podem ser viabilizadas sem uma boa dose de persistência, sem elites qualificadas e um padrão mínimo de unidade nacional, coisas que nem sempre estão ao alcance das mãos.

O Brasil entrou no século XXI convencido de que o pior havia ficado para trás.

Aos poucos, porém, foi ficando claro que as coisas não eram tão simples. Primeiro porque as estruturas arcaicas mostravam resiliência, ainda que estivessem sistematicamente pressionadas por uma modernidade que vinha embalada pelos ventos da globalização e da revolução tecnológica. O país resistia a abraçar o século XXI e insistia em continuar exibindo déficits assustadores em saúde, educação e infraestrutura.

*José Álvaro Moisés: As eleições e a reforma da política

- O Estado de S.Paulo

Os brasileiros querem saber como o novo presidente enfrentará os gargalos da democracia

Um terço ou mais de eleitores deixarão de escolher governantes e programas de políticas públicas nas eleições deste ano. Isso não é fake news, mas reflexo da crise de confiança política que assola o País, podendo significar que o novo governo não terá apoio da maioria da população. A responsabilidade de reverter esse quadro é do governo e do Congresso Nacional, mas, sobretudo, dos candidatos à Presidência da República. Quem quer dirigir o Estado e a Nação precisa ser capaz de convencer a sociedade de que ela não é apêndice da equação democrática, mas peça importante do jogo.

Hoje, muitos brasileiros não se percebem assim, et pour cause, se alienam do processo ou escolhem soluções radicais que não ajudam o País a sair da crise. Mas na democracia o voto é o principal instrumento de que os cidadãos dispõem para exercer sua soberania e, dessa forma, garantir direitos, escolher representantes, defender interesses e preferências. Essa forma de participação envolve duas condições fundamentais que diferenciam a democracia de suas alternativas: primeiro, assegura os meios pelos quais o princípio de autogoverno dos cidadãos se pode realizar; segundo, cria o mecanismo designado como accountability vertical, um dos instrumentos mais efetivos de controle social de quem governa, pelo qual os eleitores confirmam seu apoio a políticos eleitos ou os mandam para casa por causa da qualidade do seu desempenho.

As duas condições são indispensáveis para assegurar a qualidade da democracia. Mas a sua efetividade depende do funcionamento do sistema eleitoral, pelo qual a soberania dos eleitores pode ou não se realizar. Em última análise, a questão diz respeito a saber se esse sistema funciona de forma a traduzir os desejos e as aspirações dos cidadãos. Quando essa possibilidade está bloqueada, as pessoas se frustram com a política, retiram a sua confiança do sistema, passam a descrer das instituições e duvidam que a democracia possa resolver os problemas da comunidade. O efeito é a perda de legitimidade do regime e, em consequência, a possibilidade de surgimento de apoio a soluções autoritárias.

José de Souza Martins: Cadê a graça?

- Eu & Fim de Semana / Valor Econômico

Do humor e da gozação das conversas de botequim ao rádio, à TV e às publicações impressas, nós, brasileiros, durante boa parte de nossa história republicana, soubemos não perdoar os políticos. Somos grandes desancadores dos que merecem ser desancados.

Sempre tiveram o que mereciam, no corrosivo humor popular. Piadas sobre políticos e sobre a política, mesmo que muito mais pobres do que já foram, ainda lhes demole a pose e a prosa. A piada política tem sido entre nós instrumento de consciência política, expressão do que pensamos sobre os equivocados autores de iniciativas descabidas. Ou os beneficiários de privilégios ofensivos a quem depende da Bolsa Família para comer um pão. O humor político popular está em decadência entre nós. A crise de humor é um dos indícios sérios da profundidade de nossa crise política. Os políticos já não merecem a misericórdia do riso.

Até 1964, éramos mestres em rir dos políticos e da política. Mesmo nas horas do golpe de Estado, que nos mergulharia em longa e sombria ditadura, fazíamos piada sobre os novos donos do poder. Conheci um gaúcho que era capaz de passar uma noite inteira contando anedotas sobre os poderosos da hora. Todas muito finas e muito bem elaboradas, caricatura do modo desencaixado como os novos governantes se situavam no interior de funções bem diversas daquelas a que estavam acostumados. Governar é bem diferente de comandar. Esse desencaixe fazia dos atos e gestos dos protagonistas do poder uma piada na própria ação. Não era preciso inventá-la.

Bruno Boghossian: ’Bacanal eleitoral’

- Folha de S. Paulo

Em ambiente de incerteza, dirigentes políticos multiplicam flerte com candidatos

A eleição de 2018 registrou sua primeira traição política de peso. Seis dias depois de posar sorridente para fotos ao lado de Márcio França (PSB) em São Paulo, a cúpula do PP bandeou para o lado rival e decidiu apoiar João Doria (PSDB) na disputa pelo governo do estado.

O vaivém em tempo recorde retrata a licenciosidade da corrida eleitoral deste ano. O desgaste dos partidos tradicionais e a incerteza da campanha embaçaram de vez as fronteiras entre diferentes campos políticos.

A pouco mais de três meses da disputa, ninguém é de ninguém. Ao subir ao altar com França, o PP paulista recebeu a promessa de que apadrinharia o chefe da Polícia Civil e o secretário do Meio Ambiente. Alguma cláusula foi descumprida, e o partido decidiu bater à porta de Doria.

Na imprevisível corrida presidencial, a dispersão é maior. Dirigentes do DEM jantaram com Ciro Gomes (PDT) na terça (19) para discutir um possível apoio ao candidato de esquerda. Horas depois, voltaram à direita e receberam Geraldo Alckmin (PSDB) para um café da manhã.

César Felício: União entre DEM e Ciro está longe do impossível

- Valor Econômico

Na tradição política, a ideologia raramente prevalece

Casamentos de jacaré com cobra d'água, ou seja, arranjos eleitorais aparentemente pouco congruentes do ponto de vista ideológico, têm sido uma regra, e não a exceção, na crônica política brasileira. Daí ser necessário encarar com naturalidade algo antinatural, como é a possibilidade de uma aliança entre os partidos do autoproclamado "centro" com Ciro Gomes.

Seja como PFL, seja como DEM, a sigla do presidente da Câmara sempre foi muito atenta à perspectiva de poder. A aliança mais ou menos fixa que mantém com o PSDB ganha maior ou menor força a depender da perspectiva de poder que o candidato tucano de ocasião encerra. Com Fernando Henrique havia ardor, havia paixão. Em 2002 não houve aliança e foi um verdadeiro fenômeno José Serra chegar ao segundo turno, uma vez que tudo conspirava contra sua candidatura.

Em 2014, o partido estava a contragosto com Aécio. Tentaram uma aproximação com Eduardo Campos. Tentaram até estabelecer um pacto com Dilma Rousseff, de neutralidade na eleição em troca sabe se lá do quê, porque o princípio de negociação que era tentado pela cúpula do DEM foi abortado pelo então coordenador político de Dilma, Aloizio Mercadante.

No decorrer da campanha, partiu do DEM a sugestão para Aécio desistir, no momento em que Marina entrou com força na corrida eleitoral depois da tragédia com o candidato do PSB.

Os dirigentes do DEM deram um passo de lado, cauteloso, para manter a distância em relação a Alckmin, quando perceberam que os próprios caciques tucanos o sabotavam. A conversa entre eles ficou desanimada diante das expedições de João Doria país adentro, posando como alternativa. O alerta soou mais forte ainda com as divagações de Fernando Henrique em torno de Luciano Huck e outras heterodoxias. Por que apoiar Alckmin se nem seus colegas de partido pareciam firmes neste sentido? Rodrigo Maia tornou-se pré-candidato para ter o privilégio de tentar decidir o destino de seu grupo mais adiante, manobra que Temer também procurou fazer, mas não conseguiu.

Fernando Abrucio: Renovação política não é trocar nomes

- Eu &Fim de Semana / Valor Econômico

Renovação política virou a palavra de ordem no debate atual. A Operação Lava-Jato e afins, o enfraquecimento (e envelhecimento) das principais lideranças políticas do país e a crise econômica e social, que parece nunca ter fim, aprofundaram esse sentimento renovador. Em si, tal demanda da sociedade é boa, mas sua simplificação, traduzida na mera troca de nomes, pode frustrar o eleitorado e, pior, produzir uma armadilha: mudar os políticos sem transformar a política.

O próprio conceito de renovação precisa ser mais bem definido. Isso porque a rotatividade de parlamentares no Legislativo é maior do que se imagina, e bastante grande quando comparada com os países desenvolvidos. Na eleição de 2014, a renovação dos que concorreram a um novo mandato foi de 47% e a média histórica das eleições da redemocratização fica próxima desse número. Os pesquisadores Eduardo Cavaliere e Otavio Miranda mostraram recentemente que 75% dos deputados federais brasileiros não ultrapassam o segundo mandato, enquanto na última eleição houve a reeleição de 95 % dos congressistas americanos, 90% dos parlamentares britânicos, 88% dos espanhóis, 80% dos australianos e 72% dos canadenses.

Tomando como base esses números, quer dizer então que a cada eleição muita gente nova, sem experiência política, é eleita para o Congresso Nacional? Não é bem assim. A maior parcela dos novos é composta por pessoas que já ocuparam outros postos públicos, alguns pela via eletiva, como ex-prefeitos, deputados estaduais e mesmo ex-congressistas, e outros que serviram a governos, como ex-secretários de Estados ou municípios. Conhecer os caminhos da política e do jogo eleitoral favorece galgar novos cargos eletivos. E tal trilha não deveria, em si, ser negativa, pois o aprendizado político pode ser uma qualidade importante para se construir melhores líderes numa democracia. O problema está em outra lógica, vinculada à oligarquização do jogo partidário-eleitoral, como mostrarei mais adiante.

Além da circulação dos que já participam do sistema, a maior parte dos que chegam ao Congresso Nacional advém de cinco grupos. O primeiro são os próprios parentes de políticos. O familismo ainda é muito forte no Brasil, como mostrou matéria do "Congresso em Foco", que revelou números impressionantes: 62% dos deputados federais e 73% dos senadores têm familiares na política. Esse quadro relaciona-se tanto com as barreiras de entrada que há nos partidos, pois os dirigentes comportam-se como donos vitalícios das legendas e favorecem os seus, como em razão das características sociais do país, onde o tamanho diminuto da elite - mais claramente em alguns Estados mais pobres - e a desigualdade afetam a seleção dos políticos. Por esta via, os oligarcas mais antigos conseguem catapultar seus parentes mais novos - os filhos são os preferidos - e esposas para vários cargos eletivos, inclusive no Congresso Nacional.

Míriam Leitão: Projeto de demolição

- O Globo

O Congresso não vota medidas de ajuste de despesas e ainda aumenta os gastos. A Câmara aprovou um pacote de bondades para o transporte de carga com oito diferentes tipos de renúncia fiscal. O Senado aprovou o regime de urgência para o projeto que mantém benefícios para o setor de bebidas. As duas Casas decidiram que o Tesouro terá que financiar o pagamento de precatórios de estados e municípios.

Basta acompanhar a marcha da insensatez. Diariamente o Congresso faz uma despesa nova e manda para o Executivo, como se os cofres públicos não tivessem limites. O Judiciário também faz das suas, quando dá sentenças que oneram estatais ou governo. Ontem, aqui neste jornal, o jornalista Ascânio Seleme contou a decisão do TST que manda o Serpro pagar R$ 20 milhões a 10 funcionários. A Petrobras também sofreu uma derrota histórica na maior ação trabalhista já vista no país. Terá que pagar aos seus funcionários R$ 17 bilhões por um acordo feito na época do governo Lula.

É exatamente desta forma que se destrói a estabilidade e se contrata uma nova onda de inflação e crise. A inflação descontrolada parece improvável diante de taxas tão baixas. A divulgada ontem, do IPCA-15, é um ponto fora da curva. Ela voltará a cair. O problema, como sabem os economistas, é que um rombo fiscal deste tamanho, uma dívida com esta trajetória, e decisões amalucadas podem desembocar numa crise de insolvência ou inflação, ou ambas.

O governo errou quando concedeu subsídio ao diesel. Amedrontado com a greve, cedeu. Para não desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal, cortou alguns benefícios, como forma de compensar. O Congresso quer restabelecer os benefícios retirados e aumentar as vantagens concedidas ao setor transportador. Na quarta-feira, o Senado aprovou o regime de urgência para o projeto que desfaz o corte do governo nos incentivos fiscais concedidos à indústria de bebidas de Manaus. Só dois senadores votaram contra essa urgência, Ana Amélia Lemos e Lasier Martins, do Rio Grande do Sul. E por que tanta pressa? Difícil entender os lobbies porque 80% da renúncia fiscal serão para a Coca-Cola e Ambev. Faz sentido subsidiar essas duas empresas?

Vinicius Torres Freire: Batata cara no país das batatadas

- Folha de S. Paulo

Inflação alta, não se sabe se duradoura, é só um efeito do estouro da boiada do caminhonaço

O caminhonaço de maio abriu de vez as porteiras para várias bestas. Como não temos mata-burros, os danos do paradão dos transportes degringolaram em besteiras que se espalharam pela política e atropelam o que resta de recuperação econômica.

O paradão e seus desdobramentos contribuíram para elevar dólar, juros e, como se confirmou nesta quinta-feira (21), inflação. Antes de tratar dos preços, é preciso lembrar quem animou o estouro da boiada.

Políticos da extrema direita à extrema esquerda deram corda para a desordem, muitos se omitiram e poucos sussurraram críticas. Associações empresariais, de transportes, lojistas, distribuição, ruralistas da soja apoiaram ou fizeram o caminhonaço.

Michel Temer e seu núcleo político trataram do problema como "business as usual", como se barganhassem cargos, emendas ou outras prendas da política politiqueira, em ignorância profunda da desordem adicional que promoviam. Inventaram tabelamentos, cartéis, cartórios, rombos extras no Tesouro e passaram uma rasteira na Petrobras, para citar danos mais imediatos. Presidentes e líderes de Câmara e Senado disputavam com o Planalto o pódio da demagogia.

Claudia Safatle: País vive sob confusão de competências

- Valor Econômico

Fim da gestão Temer remete à política do " feijão com arroz"

O ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, agendou para o dia 27 de agosto nova audiência pública para a decisão final sobre a tabela de fretes dos caminhoneiros. O Executivo, depois de várias versões, elaborou uma tabela que está sob intensa contestação, dentro e fora do governo. Combalido, o Palácio do Planalto, em uma iniciativa com a marca do desespero, retrocedeu aos anos 80, quando se tabelava os preços da economia, do leite ao aço.

Em dezembro de 2017, dentro de um amplo leque de medidas que costuma desovar no fim do ano, o Congresso aprovou a Emenda Constitucional 99, colocando na conta do Tesouro Nacional o financiamento subsidiado dos precatórios dos Estados e municípios. A notícia só se tornou pública em reportagem do Valor, de autoria de Ribamar Oliveira e Cristiano Romero, na edição do dia 19.

Governado pelos três Poderes - Executivo, Legislativo e Judiciário -, o país vive uma enorme confusão de competências. Só a perda da razão explica a Suprema Corte do Brasil estar encarregada de negociar uma tabela de fretes para os transportes de cargas, tendo, na mesa da audiência de conciliação, de um lado os empresários industriais e agrícolas e, do outro, as empresas de transportes e os caminhoneiros.

Uma típica configuração das reuniões do Conselho Interministerial de Preços (CIP) e da Superintendência Nacional de Abastecimento (Sunab), órgãos poderosos dos anos 80, que tentaram, mas jamais conseguiram, controlar os preços da economia por tabelas como instrumentos de combate à inflação.

Ambos - CIP e Sunab - foram extintos nos anos 90, depois que ficou mais do que claro, aqui e no mundo, que tabelamentos e congelamentos de preços não funcionam como política antiinflacionária e nem mesmo como ações populistas de governos encurralados.

Derrota do arbítrio: Editorial | O Estado de S. Paulo

Ao considerar inconstitucional a condução coercitiva de réu ou investigado para interrogatório, o Supremo Tribunal Federal (STF) corrigiu gritante violação dos limites do Direito por parte de agentes públicos que, a pretexto de investigar suspeitas de corrupção, vinham atropelando garantias fundamentais dos cidadãos conduzidos “sob vara” para prestar depoimento.

O placar no STF, contudo, foi apertado (6 a 5), indicando a dificuldade de vários ministros de ler a Constituição sem os óculos da ideologia e do ativismo judicial. Um deles, Luís Roberto Barroso, dias depois da decisão, manifestou publicamente seu inconformismo e afirmou que o voto vencedor foi uma “manifestação simbólica daqueles que são contra o aprofundamento das investigações” da Lava Jato, um “esforço para atingir e desautorizar simbolicamente juízes corajosos que estão ajudando a mudar o Brasil”. Afora a deselegância com os ministros que ousaram discordar do iluminado juiz, a declaração denota incapacidade de interpretar a opinião contrária senão como uma afronta ao País.

Não deveria haver dúvida hermenêutica a respeito do inciso LXIII do artigo 5.º da Constituição, que garante o direito dos cidadãos ao silêncio perante a autoridade judicial, pois ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo. Logo, no entender da maioria do colegiado do STF, a condução coercitiva seria uma violação desse preceito, pois, se ninguém pode ser obrigado a produzir prova contra si mesmo, a condução de réu ou investigado à força para depoimento não se justifica em nenhuma hipótese.

Fatores internos condicionam Banco Central: Editorial | O Globo

Se o lado externo da economia está sob controle, há indefinições no front interno — em que se destaca o quadro eleitoral — que justificam manter os juros no mesmo nível

Não se esperava mesmo que o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, alterasse a taxa básica de juros, estacionada em 6,5%, o mais baixo índice da história da Selic. Há um nevoeiro denso em torno da economia brasileira, com escassa possibilidade de se enxergar à frente. Melhor manter estacionada a política monetária.

A greve de caminhoneiros ainda não se refletiu por inteiro nos índices, embora não haja dúvidas de que impulsionará a inflação e servirá em alguma medida de freio na tímida expansão da economia. Então, é preciso aguardar para ver. Mas não se espera algo desastroso.

A interrupção de linhas essenciais de suprimento de grandes centrais de distribuição de alimentos no Rio e em São Paulo, por exemplo, teve forte impacto nos preços, depois revertido à medida que as estradas eram desobstruídas.

As pressões que o dólar enfrenta no mundo e internamente — deflagradas pela expectativa, confirmada, de elevação dos juros americanos — não mais justificam, como tantas vezes no passado, que o BC eleve os juros para atrair divisas. Pois as reservas acumulam US$ 380 bilhões, suficientes para caucionar operações de “swap” (vendas de dólar a futuro, sem a entrega física da moeda), a fim de conter oscilações bruscas. O poder de fogo é elevado. Nunca o Brasil, no setor externo, esteve numa posição tão segura em meio a uma crise. O modelo clássico de estresse externo brasileiro é o esgotamento de reservas e a alta descontrolada do câmbio. Sempre o desfecho passava por um pedido de socorro ao Fundo Monetário, para repor reservas. É o que acaba de fazer a Argentina de Macri. Precisou de US$ 50 bilhões, para enfrentar especulações contra o peso.

O enigma das vacinas: Editorial | Folha de S. Paulo

Não basta constatar que cai de forma acentuada a cobertura da população infantil com imunizações

Reveste-se de enorme gravidade a constatação de que recua no Brasil oíndice de cobertura de vacinas obrigatórias para crianças. Um país cujo programa de imunização há pouco era exemplo mundial de eficiência parece caminhar para trás, de forma brusca e misteriosa.

A queda se concentra no período 2015-2017. Antes disso ocorriam variações de ano a ano, mas em torno de 95% da população alvo, como recomendam epidemiologistas.

Abaixo dessa marca, os vírus voltam a circular e ressurge o risco de surtos. Alguns já se materializaram, como os de sarampo.

Essa virose, da qual o país supostamente está livre, se combate com dois tipos de vacina, a trivalente (sarampo, caxumba e rubéola) e a a tetravalente (incluída a varicela). No primeiro caso, após 12 anos com cobertura beirando 100%, a imunização caiu para 96% em 2015, 95% em 2016, e 84% em 2017.

Sob pesadelo fiscal, governo e Congresso distribuem receitas: Editorial | Valor Econômico

A greve dos caminhoneiros causou prejuízos generalizados à economia e um recuo desorganizado e danoso do governo federal. A conta está chegando aos poucos, aumentando, e está desigualmente distribuída. Os grandes beneficiários da paralisação foram as empresas de transportes de cargas, a julgar pelo pacote que a Câmara dos Deputados aprovou ontem às pressas e que segue agora para o Senado. O projeto relatado por Nelson Marquezelli, dono de empresa do setor (hoje em nome dos filhos) consagra mais uma vez a criação de vantagens privadas à custa do Tesouro e do contribuinte.

Chamado de marco regulatório do transporte de cargas, o PL aprovado traz 8 renúncias fiscais, abatimento de impostos e anistia a multas (Valor, ontem). Regulação, para o Congresso, é qualquer coisa que os deputados achem que seja, o que explica o fato de que a lei já garanta em seu texto isenção de IPI, PIS e Cofins para compra de veículos de carga, reboques, contrareboques etc. Com o guichê dos subsídios fechados no BNDES, abre-se nova avenida de benefícios para aquisição que beneficia os donos das maiores frotas, cuja taxa de renovação da frota é maior.

Com o teto de gastos, os deputados demonstraram mais uma vez que se dedicam à destruição das receitas do Estado, já que não podem mexer nas despesas. A troca por um veículo de maior valor dará direito, segundo o PL, à redução de 50% do ganho de capital, assim como os gastos com pedágio servirão para abater imposto de renda e gerar créditos de PIS e Cofins. O PL estabelece que as relações de transportes são "sempre empresariais" - a estranha expressão significa que não haverá vínculo empregatício de qualquer espécie entre as empresas e caminhoneiros terceirizados ou autônomos que lhes prestem serviços.

Luciano Huck reafirma simpatia por Marina e Alckmin em jantar com ex-senadora

Apresentador usou encontro para aproximar o movimento Agora! e a campanha da presidenciável

Joelmir Tavares | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Fora da corrida presidencial (mas nem tanto), o apresentador Luciano Huck reiterou em jantar com a pré-candidata Marina Silva (Rede), nesta quarta-feira (20), que simpatiza com a candidatura dela e a do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB).

O comunicador e empresário, que em fevereiro decidiu ficar fora da disputa, recebeu a ex-senadora em sua casa, no Rio, na condição de representante do Agora!, movimento suprapartidário que prega renovação política. Os cientistas políticos Ilona Szabó e Leandro Machado, cofundadores do grupo, também participaram.

Huck tem dito desde o ano passado que deseja contribuir para a eleição de novos nomes no Congresso. Daí sua aproximação com o Agora! e com o RenovaBR, iniciativa que oferece capacitação e dá bolsas para bancar a formação de pré-candidatos ao Legislativo.

Na concorrência pelo Planalto, ele já disse ver como boas opções de centro tanto Marina ("Uma liderança importante") quanto Alckmin ("Um político sério"). O apresentador reafirmou no jantar que respeita os dois pré-candidatos, mas não sinalizou por ora um engajamento mais profundo em nenhuma das duas candidaturas.

Pelas regras da TV Globo, Huck pode declarar voto publicamente e até ter alguma atuação nos bastidores, mas é impedido de fazer campanha ou de aparecer ao lado de um postulante em compromissos eleitorais.

Há alguns dias, durante um evento em São Paulo, o apresentador afirmou que por ora não pretende endossar o nome de nenhum presidenciável e que o cenário segue muito indefinido.

Marina, que estava acompanhada de dois de seus assessores mais próximos —Pedro Ivo Batista, porta-voz nacional da Rede, e Bazileu Margarido, coordenador de finanças do partido—, sinalizou no encontro que sua candidatura poderá incorporar propostas de políticas públicas que também são defendidas pelo Agora!.

A ex-senadora está preparando seu programa de governo, que tem pontos de vista coincidentes com os do movimento. As duas partes já vinham dialogando e se aproximaram ainda mais em fevereiro, quando a entidade assinou uma carta de compromisso com a legenda, que se dispôs a receber alguns dos integrantes.

Dos 18 membros do Agora! que serão candidatos em outubro, cinco são filiados à Rede. Um acordo semelhante foi fechado com o PPS (que hoje caminha para aderir a Alckmin). O movimento não tem intenção de oficializar, por enquanto, apoio a algum candidato a presidente. Prefere priorizar a renovação no Congresso.

Após o jantar, o grupo de Marina se animou com a disposição de uma parcela dos integrantes do grupo de se envolver mais diretamente na campanha da ex-senadora. Nesse caso, a participação seria individual, e não em nome do coletivo.

A Rede enfrentou perda de parlamentares e hoje tem apenas dois deputados e um senador. Além do Agora!, os movimentos Brasil 21, Acredito e Frente Favela Brasil têm participantes filiados à sigla. Se eleitos, eles poderão ajudar a fortalecer a bancada da legenda e a garantir, por exemplo, o acesso a recursos do fundo partidário.

Marina está em segundo lugar nas pesquisas, atrás apenas de Jair Bolsonaro (PSL), nos cenários sem o ex-presidente Lula (PT). Alckmin teve 7% no mais recente Datafolha e ficou empatado com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que oscila entre 10 e 11%.

Com dificuldade de fechar alianças, a ex-senadora buscou o apoio do PPS, partido que estava pronto para abrigar Huck caso o apresentador confirmasse a intenção de disputar o Planalto. A legenda presidida pelo deputado federal Roberto Freire (SP), porém, hoje tende a apoiar Alckmin.

Marina falou nesta semana que Freire tem o perfil de vice que ela procura, por ter credibilidade e representar um campo político alinhado ao dela. Não houve, entretanto, um convite para o deputado ocupar o posto. Ele diz que respeita a orientação da maioria de seu partido.

Alckmin afirma que vitória do populismo resultaria em Brasil 'venezuelano'

Em almoço-palestra, ex-governador afirmou que sua equipe econômica trabalha para desenhar formas de 'dobrar a renda do brasileiro'

Roberta Pennafort | O Estado de S.Paulo

RIO DE JANEIRO - O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, disse nesta quinta-feira, 21, que as eleições de outubro serão um "divisor de águas" para a história do País e que uma vitória do "populismo" poderia resultar num Brasil "venezuelano". Ele falou por mais de uma hora a empresários na Federação das Indústrias do Rio (Firjan). A entidade vem recebendo os candidatos a presidente.

No almoço-palestra, Alckmin afirmou que a equipe econômica que o assessora, formada por nomes como Edmar Bacha e José Roberto Mendonça de Barros, trabalha para desenhar formas de "dobrar a renda do brasileiro", por meio, por exemplo, de investimentos na área de educação e no sentido da dinamização da economia do País.

Para cerca de 100 pessoas, o tucano defendeu as reformas previdenciária, tributária e fiscal, entre outras medidas que deverão ser prioritárias num eventual governo seu. Ele lembrou que a campanha eleitoral será curta. Declarou que, se eleito, terá de agir nos primeiros seis meses de governo para aprovar as reformas, valendo-se da legitimidade da escolha nas urnas.

O ex-governador de São Paulo, instado pela plateia a falar sobre segurança pública, defendeu a criação de uma "guarda nacional de caráter permanente" e um maior engajamento dos municípios para o combate ao crime. Quanto a seu posicionamento com relação à possibilidade de descriminalização das drogas, ele disse que "não tem comprovação de que a legalização poderia trazer benefício maior", e que é preciso acompanhar o impacto da legalização em países como o Uruguai.

Sobre o peso do papel estatal no crescimento do País, disse que "o Estado não deve ser empresário", e sim focar em seu papel de "planejador, regulador e fiscalizador".

Em sua fala, ele não mencionou a Operação Pedra no Caminho, deflagrada nesta quinta-feira pela Polícia Federal. A ação foi às ruas prender 15 pessoas suspeitas de desviar dinheiro das obras do trecho Norte do Rodoanel Mário Covas; o principal alvo foi Laurence Casagrande Lourenço, colaborador de Alckmin de longa data, tendo sido seu secretário de Transportes e Logística e passado por outras áreas da gestão estadual. Hoje ele preside a Companhia Energética de São Paulo.

As obras cujas contas foram superfaturadas ficaram a cargo das empreiteiras OAS e Mendes Junior. A construção ainda não terminou. De acordo com as investigações que resultaram na "Pedra no caminho", teria havido um sobrepreço de R$ 600 milhões.

O pré-candidato do PSDB também já teve seu nome citado pela Operação Lava Jato. Delatores da Odebrecht disseram que ele recebeu R$ 10 milhões entre 2010 e 2014 oriundos do chamado "departamento de propina" da empresa.

Roberto Freire diz que Geraldo Alckmin pode reunir Brasil polarizado

Em Jundiaí, Roberto Freire diz que Alckmin pode reunir Brasil polarizado

Bárbara Nóbrega Mangieri – Jornal de Jundiaí

Em visita a Jundiaí na noite desta quarta (20), o presidente nacional do PPS, deputado federal e pré-candidato à reeleição, Roberto Freire, reafirmou sua preferência pelo presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB). No começo da semana, lideranças da Rede afirmaram que a pré-candidata Marina Silva estava considerando convidá-lo a compor sua chapa como vice-presidente. Freire conta, porém, que o PPS decidiu apoiar Alckmin ainda em março.

Isso porque o deputado vê no tucano o pré-candidato mais capaz de resolver os problemas da polarização intolerante. “Ele é o que melhor representa as forças políticas que não estão ligadas ao ‘bolsonarismo’ da direita nem ao ‘lulopetismo’ da esquerda que, na minha concepção, não têm nenhum compromisso com a democracia”, afirma. “Alckmin não traz antagonismos, sabe dialogar e foi um excelente gestor em São Paulo”, elogia.

Sobre a dificuldade do tucano em avançar nas intenções de voto da população, Freire se diz despreocupado com as pesquisas. “Os institutos estão avaliando cenários que não existem, como a possibilidade de eleição do ex-presidente Lula (PT). Isso distorce os resultados e torna os estudos irrelevantes”, critica.

Para ele, as pesquisas só poderão refletir a real opinião pública quando o cenário estiver mais definido, o que ele acredita que irá acontecer até o fim da Copa do Mundo. “É a primeira eleição em que os aliados não assistirão aos jogos juntos, porque não tem aliado. Estamos passando por uma crise política séria que está dificultando a criação de laços políticos, tanto a nível nacional como estadual”, opina. “Porém, até o fim da Copa acho que veremos uma concretização do cenário”.

Alfinetadas
Durante o encontro, Freire aproveitou para cutucar aqueles que, em sua visão, usam o discurso da renovação política de forma equivocada. “Tem gente que acha que o Jair Bolsonaro (PSL) é anti-establishment, mas é o contrário. Ele sempre foi omisso à intervenção militar no Rio de Janeiro e, em sua atuação parlamentar, foi aliado dos petistas. Nem oposição direito ele é”, condena.

Em alusão ao Partido Novo, ele também depreciou alguns ‘jovens com ideias velhas’. “Tem gente que veio do banco dizendo que não vai usar recurso público, aí fica fácil. Mas quem disse que queremos entregar a república ao mercado financeiro?”, alfinetou. A renovação necessária, diz ele, não tem a ver com idade ou experiência, mas com um novo projeto de Brasil. “Será que vai ter uma renovação superando o papel do partido? Acho que é por aí. Partidos viraram negócios, assim como sindicatos e igrejas, e a mudança virá queiramos ou não”, finaliza.

Maia cobra de Perillo gesto de Alckmin para aliança

Por Vandson Lima | Valor Econômico

BRASÍLIA - Articulador político do pré-candidato do PSDB à Presidência Geraldo Alckmin, Marconi Perillo esteve na manhã de ontem na residência oficial da Câmara dos Deputados para uma conversa com Rodrigo Maia (DEM).

Durante aproximadamente uma hora, Maia e Perillo, que têm boa relação, discutiram as possibilidades do cenário eleitoral.

Maia, maior representante do grupo de partidos aglutinados no Centrão da Câmara, deu o recado ao tucano: a tendência natural à aliança de DEM, PP, PR, Solidariedade e PRB com o PSDB existe, mas Alckmin precisa abandonar a postura de "jogar parado" e fazer gestos mais enfáticos ao grupo, sob pena de vê-lo caminhar rumo a Ciro Gomes (PDT).

A cúpula do Centrão saiu muito bem impressionada do jantar com Ciro e isso foi transmitido por Maia a Perillo. A disposição do pedetista de rediscutir seu programa e tornar o bloco participante ativo da elaboração do projeto que apresentará na campanha presidencial surpreendeu e encantou alguns dos presentes.

Alckmin precisa, portanto, mostrar "algo mais" para que o Centrão se junte em torno dele. O bloco trabalha para manter-se unido na disputa eleitoral. Mas admite-se também que, a depender do quadro, as legendas sigam separadas em diferentes alianças para a Presidência.

Mesmo dentro de cada partido há diferenças: no DEM, uma parte é entusiasta de Ciro, outros de Alckmin e há um grupo menor pró-Jair Bolsonaro (PSL).

Nomeado articulador político tucano após muitas críticas internas à pré-campanha de Alckmin, Perillo fez entre ontem e hoje vários encontros com potenciais aliados: além de Maia, esteve com os presidentes do PSD, PRB, Pros e PP, enquanto Alckmin encontrou com os presidentes do DEM, ACM Neto, e do PTB, Roberto Jefferson.

Havia a expectativa de Perillo encontrar-se com o presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), mas as informações são de que a reunião ficou para outra data. Ontem, Perillo esteve com outro emedebista, o presidente do Senado, Eunício Oliveira (CE).

‘Centro se afunila entre Alckmin e Marina’, afirma Roberto Freire

Presidente nacional do PPS diz que trabalha para consolidar pré-candidatura tucana, mas não descarta apoio à sigla da ex-ministra

Emanuel Bomfim e Pedro Venceslau , O Estado de S.Paulo

O presidente nacional do PPS, Roberto Freire, disse, em entrevista ao Estado e à Rádio Eldorado, que o centro político do País está se afunilando em torno de dois nomes nas eleições 2018: o tucano Geraldo Alckmin e Marina Silva, da Rede. Freire avalia que o debate eleitoral ocorre em meio a um momento de raiva e indignação. “As pessoas estão escolhendo com o fígado. É nesse tom de raiva que cresce o Bolsonaro.” Abaixo os principais trechos da entrevista:

• O nome do sr. foi apontado por emissários de Marina Silva como possível vice dela. Como avalia essa tentativa de aproximação?

É claro que é uma honra ser lembrado, ainda mais por uma pessoa que merece ser respeitada como Marina. Mas foi algo que surgiu mais pela imprensa e por pessoas ligadas a ela. Não houve nenhuma conversa entre nós. Isso só é possível de ser discutido se o PPS porventura entender que não tem que cumprir com o indicativo que aprovou em seu congresso nacional, de apoio ao Geraldo Alckmin. Eu como presidente do partido vou fazer cumprir a decisão do congresso. Posso adiantar que não cumpro apenas por dever de ofício, mas por achar que a melhor opção que temos.

• Está 100% descartada qualquer possibilidade do PPS formar uma aliança com Marina?

Se eu disser que não é 100%, a manchete vai ser: ele admitiu. Não posso dizer qual será o cenário futuro, mas estou trabalhando para consolidar a candidatura de Geraldo Alckmin. Ele fez uma boa gestão em São Paulo, é um homem tolerante e moderado. O Brasil está precisando disso. O Brasil perdeu qualquer possibilidade de tolerância.

• O PPS apoia o movimento que tenta unificar as candidaturas do centro em uma só. Para isso, alguém precisaria abrir mão. Marina pode ser essa candidata?

Nenhum desses candidatos vai dizer que não é. Ninguém começa uma discussão dessa abrindo mão. Mas a coisa está afunilando.

• Em torno de quem?

Ainda não de um, mas dois nomes: Alckmin e Marina.

• Por quê Alckmin não decola nas pesquisas?

A palavra da moda é essa: ‘não decolou’. As pesquisas não podem ser levadas ao pé da letra. Elas têm distorções gravíssimas. O ex-presidente da República (Luiz Inácio Lula da Silva) foi condenado a pena de reclusão e está ainda nos cenários. Vocês acham que o brasileiro vai ser ingênuo de acreditar que quem não participa de debate tem algo a dizer ao País? Nesse momento a raiva é fundamental, a indignação. As pessoas estão escolhendo com o fígado. É nesse tom de raiva que cresce o (Jair) Bolsonaro (pré-candidato do PSL).

Encontro com Marina frustra integrantes do Agora!

Jantar organizado pelo apresentador Luciano Huck tinha objetivo de aproximar o movimento da pré-candidata da Rede

Gilberto Amendola, Marianna Holanda e P.V | O Estado de S. Paulo.
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O jantar promovido anteontem pelo apresentador Luciano Huck com a presença da exministra Marina Silva (Rede) e integrantes do movimento Agora! frustrou as expectativas dos ativistas presentes. Segundo relatos de participantes, a ideia era tentar romper o isolamento político da pré-candidata, que até agora não se aproximou de nenhuma legenda.

Defendida por setores da Rede, uma eventual aliança com o PPS, que poderia indicar o presidente da legenda, Roberto Freire, como vice na chapa, foi abordada no encontro, mas Marina teria demonstrado pouca disposição para o diálogo.

No domingo, o senador Randolfe Rodrigues (AP) afirmou ao Estado que a Rede estaria buscando Freire para ser vice na chapa de Marina. O presidente do PPS, contudo, nega que tenha sido procurado e continua defendendo que o seu partido mantenha o compromisso de apoio ao tucano Geraldo Alckmin.

No jantar, Marina elogiou Freire, lembrou que eles estiveram juntos na disputa presidencial de 2014 (o PPS apoiou a candidatura de Eduardo Campos/Marina, do PSB) e que isso tornaria uma aliança entre as siglas algo “natural”. Marina não deu, porém, nenhum indicativo de que iria procurá-lo, ou de que se esforçaria para costurar um acordo.

Após o encontro, o apresentador telefonou para Freire, relatou o encontro e estimulou o dirigente a procurar a ex-ministra. A avaliação no PPS, porém, é de que a iniciativa de um eventual diálogo teria que partir dela.

O partido, que conta com oito deputados federais, está hoje alinhado com Geraldo Alckmin por determinação aprovada no último seu congresso nacional, realizado em março deste ano. A avaliação majoritária do PPS é de que a legenda sozinha não tornaria Marina competitiva.

A Rede tem apenas cerca de 10 segundos no horário eleitoral gratuito de rádio e TV. Além disso, a legenda, que possui somente dois deputados federais, não conta com pré-candidatos competitivos nos Estados, tem uma estrutura partidária precária e poucos recursos do fundo público eleitoral.

Renovação. Neste ano, o PPS e Rede abriram as portas para os movimentos de renovação política. O Agora! foi um deles. A aproximação capitaneada por Huck representa essa ala “nova” do partido de Freire. Esse grupo, contudo, resiste em apoiar Alckmin.

Procurada, a assessoria da Rede disse que o jantar foi uma conversa sobre “uma eventual possibilidade” de apoio do Agora! à candidatura de Marina.

A assessoria de Huck e integrantes do movimento não quiseram se manifestar.

Polo democrático. O movimento Agora!, do qual Huck faz parte, vai participar do próximo dia 28, em São Paulo, de ato político do chamado “polo democrático e reformista”, movimento suprapartidário que tenta unificar as pré-candidaturas do centro ainda no primeiro turno. Também estarão presentes os movimentos Juntos e Acredito. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso confirmou presença. Os integrantes do grupo tentam atrair Marina Silva para o debate, mas ela resiste.

Segundo interlocutores do PPS, Luciano Huck estaria empenhado em reduzir o número de candidaturas para evitar que a eleição seja polarizada entre um nome da esquerda e Jair Bolsonaro, do PSL.

Corte à esquerda e à direita pode deixar Ciro isolado e sem apoios

Por Raymundo Costa | Valor Econômico

BRASÍLIA - O pré-candidato do PDT ao Palácio do Planalto, Ciro Gomes, pode acabar isolado em sua terceira tentativa de chegar à Presidência da República. Ciro tem cortejado ora a esquerda ora a direita, mas não são as questões programáticas que podem deixá-lo sozinho. Na prática, o charme do pedetista para ampliar apoios se reduziu drasticamente no momento em que o PT sinalizou que terá candidato próprio nas eleições de outubro.

A crença generalizada entre os dirigentes partidários é que Ciro somente terá condições de vencer a eleição se tiver o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa não é uma hipótese inteiramente descartada no PT, mas perdeu força no momento em que as pesquisas eleitorais indicaram que um nome do PT com o apoio de Lula pode rapidamente sair de 3,5%, 4% para 11% nas pesquisas eleitorais. E o candidato a vice dos sonhos de Lula é o empresário Josué Gomes (PR), filho de José Alencar, seu companheiro de chapa em 2002.

Ciro namorar ora à esquerda, ora à direita não chega a constituir problema, sobretudo em partidos pragmáticos como DEM, PRB, PP e SD. Lula fez a mesma coisa em 2002, ao atrair o então Partido Liberal, hoje PR, para a aliança vitoriosa naquela eleição. Mas há problemas de difícil superação por onde o pré-candidato pedetista passa. Ou não passa. À esquerda, o PCdoB avalia que "tem alguém enganando alguém", quando Ciro diz que, antes de fazer um acordo à direita, quer dar estatura "moral e intelectual" à chapa, num acordo com os comunistas e o PSB. Ninguém falou com o PCdoB.

O PSB também tem em Ciro Gomes uma alternativa ao Planalto. Acontece que o partido está sendo literalmente amassado por Lula para ceder a uma aliança com o PT. Ciro tentou atrair os socialistas por meio de governadores e petistas de expressão do Nordeste. Quando soube da articulação, Lula mandou o PT sair de cena. Com o PSB de Pernambuco - que é quem dá das cartas na sigla - passando por dificuldades, Lula pressiona o partido a apoiar o PT à Presidência - em troca retira a candidatura da vereadora Marília Arraes ao governo do Estado.

MDB reúne-se para decidir se mantém pré-candidatura de Meirelles

Por Andrea Jubé e Carla Araújo | Valor Econômico

BRASÍLIA - A menos de um mês das convenções para definição das alianças, e em meio a uma rodada intensa de conversas em torno das composições nacionais, a cúpula do MDB reúne-se na terça-feira para discutir o futuro da sigla: se mantém a pré-candidatura de Henrique Meirelles à Presidência, ou se o partido caminhará livre no plano nacional, sem atrelar-se a nenhum candidato. Um cacique nacional adianta que não haverá meio termo: com seis minutos de tempo de propaganda na televisão, o MDB não comporá com um candidato que não se disponha a defender o legado de Michel Temer.

"Hoje a tendência é o MDB ir sozinho com Meirelles, se alguém quiser se aliar, venha", diz um dirigente da sigla. "O Meirelles será um continuador das ações do governo, mas terá que agregar um discurso social à parte econômica, as ações do governo Temer foram muito boas", complementa.

Esta liderança acrescenta que as pesquisas neste momento também devem ser interpretadas conforme o índice de rejeição dos candidatos. "Pela rejeição dos que estão hoje na frente, vocês vão ver que dificilmente eles estarão lá na reta de chegada", observa.

É por isso que se consolidou no entorno de Temer a leitura de que os brasileiros estão indo para o primeiro turno com cabeça de segundo turno, porque já sabem "em quem não irão votar". Nesse cenário, a cúpula emedebista que deseja a candidatura própria aposta na baixa rejeição de Meirelles, de 17% segundo a última pesquisa Datafolha, de 11 de junho.

Neste levantamento, os candidatos que tentam atrair os aliados do MDB para suas alianças aparecem com índices negativos maiores que os de Meirelles: Geraldo Alckmin (PSDB) é rejeitado por 27% dos eleitores, e Ciro Gomes (PDT) por 23%.

A reunião da Executiva do MDB no dia 26 não é decisiva: ela indicará um norte para a convenção nacional, no final de julho, quando somente então o destino do partido estará selado diante da Justiça Eleitoral. Se a maioria dos mais de 600 convencionais do MDB não chancelar a candidatura do ex-ministro da Fazenda, a sigla marchará solta na sucessão presidencial.

Nesta hipótese, o tempo de propaganda e a ampla capilaridade do partido, com mais de três mil prefeitos, serão negociados no plano das alianças estaduais. A Executiva também vai discutir nesta reunião outro tema delicado: a divisão dos recursos do fundo eleitoral, atribuição delegada à cúpula partidária.

Meirelles articula de olho no relógio: tem pouco mais de um mês até a convenção para percorrer mais 14 diretórios estaduais do MDB a fim de convencer as lideranças locais quanto à viabilidade de seu projeto presidencial.

A bandeira da retomada do crescimento econômico, com retração inflacionária e queda dos juros, é o trunfo do MDB, mas Temer também quer uma defesa de suas ações no plano social. Na última terça-feira, ele cobrou dos ministros da área mais divulgação de seus feitos, como os dois reajustes do Bolsa Família.

O MDB sabe que o tempo de propaganda é um ativo ainda mais valioso numa eleição em que candidatos como Alckmin alegam que se viabilizarão quando começar a campanha no rádio e na televisão, o que só ocorrerá a partir de 31 de agosto.^

Do outro lado, lideranças de partidos do Centro que defendem a aliança em torno de Alckmin - alas do DEM, PP, PR, PTB, PRB, PSC -, advertem que o MDB ficou "pesado demais para carregar".

Lucy Alves e Elba Ramalho: Xaxado no Chiado

Manuel Bandeira: Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.