terça-feira, 6 de abril de 2021

Merval Pereira - Homens pequenos

- O Globo

Quem atentar para o número de vezes em que a defesa da liberdade está sendo utilizada para a consumação de atos nocivos à sociedade dará razão ao Marquês de Maricá (Rio, 1773-1848): “Quando em um povo só se escutam vivas à liberdade, a anarquia está à porta e a tirania pouco distante”. A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Nunes Marques de liberar os cultos religiosos presenciais no auge da pandemia — certamente para agradar ao presidente Bolsonaro — foi errada em todos os sentidos, mesmo que a liberdade religiosa seja usada para a defesa da tese.

O “novato”, como o qualificou o decano do Supremo, ministro Marco Aurélio Mello, foi contra a deliberação do próprio STF, que já decidira que prefeitos e governadores têm a prerrogativa para decidir sobre as restrições durante a pandemia. No afã de atender aos evangélicos, foi além do pedido da Associação Nacional de Juristas Evangélicos, que estava preocupada com decretos estaduais e municipais que proibiram a realização de cultos evangélicos até mesmo para transmissão pela internet, o que é um absurdo.

Nunes Marques liberou completamente os cultos presenciais, com algumas restrições, como distanciamento entre os fiéis e uso de máscara. O ministro Gilmar Mendes, que é o relator de duas ações no Supremo sobre o tema, rejeitou ontem o pedido do PSD de São Paulo contra a decisão do governo de São Paulo de proibir os cultos presenciais. Para o ministro, “em cenário tão devastador, é patente reconhecer que as medidas de restrição de cultos coletivos, por mais duras que sejam, são não apenas adequadas, mas necessárias ao objetivo maior de realização de proteção da vida e do sistema de saúde”.

Cristovam Buarque* - Vacinas estruturais

- Correio Braziliense

Foram necessárias 300 mil mortes, para perceberem a necessidade de vacinar todos os brasileiros contra o coronavírus. Mas depois de dois séculos de independência, 130 anos de república, ainda não percebemos a necessidade de outras vacinas para construir uma nação eficiente, justa e sustentável. Ainda não se descobriu a necessidade de vacinar o Brasil contra suas doenças sociais e econômicas.

Vacinas estruturais que permitam superarmos a tragédia da pobreza que atinge quase metade de nossa população, parte dela em miséria extrema, sem água encanada, esgoto tratado, lixo recolhido, sem emprego ou salário, sem habitação, nem atendimento médico de qualidade, até mesmo sem comida suficiente. Uma vacina estrutural contra o abandono secular de milhões de brasileiros, grande parte crianças, sobrevivendo em condições abaixo do mínimo necessário para uma vida digna. Vacina também contra a vergonha da concentração de renda, que nos faz um dos cinco países com a maior desigualdade entre todos os outros duzentos. Sem essas vacinas, não podemos nos considerar uma República, nem mesmo uma nação.

Andrea Jubé - PT quer repetir 2002, mas antes vem 2021

- Valor Econômico

Paes é aliado prioritário do PT no Rio, diz Quaquá

Uma ala do PT não esconde a euforia com a perspectiva da candidatura presidencial do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e expectativa de vitória, amparada na convicção de que 2022 repetirá a bem sucedida campanha de 2002.

Naquele ano, o Lulinha “paz e amor”, candidato de uma aliança do trabalho com o capital, representado pelo vice e empresário mineiro José Alencar, fez a “esperança vencer o medo”, para relembrar o “slogan” daquela eleição.

Não é aleatório, portanto, que Lula tenha exclamado em seu recente discurso em São Bernardo do Campo: “Não tenham medo de mim.”

Nesse contexto que o deputado Alexandre Padilha (PT-SP), que se tornou interlocutor frequente de Lula para as questões da pandemia, afirma que o ex-presidente desponta hoje no cenário como “uma injeção de esperança em meio a um rastro de sangue”.

Embora prevaleça no mundo político o temor da polarização, a bússola petista pode envergar para o meio. Antigo aliado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) disse ao Valor nesta semana que Lula será o candidato do centro em 2022.

Nessa linha, o vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, afirmou em entrevista a esta coluna que a prioridade do partido no Rio de Janeiro para 2022 não será uma candidatura própria ao governo, mas, sim, uma coligação que contemple o prefeito Eduardo Paes, do DEM, como “aliado prioritário”.

Ontem a última rodada da pesquisa XP/Ipespe alvoroçou os céticos e os otimistas no PT: Lula e o presidente Jair Bolsonaro continuam tecnicamente empatados na liderança da disputa presidencial, mas o petista apareceu pela primeira vez numericamente à frente.

Luiz Schymura* - Momento crítico

- Valor Econômico

Vacina é prioridade, mas país precisa tomar mais medidas

Como primeira coluna neste espaço nobre, optei por trazer uma reflexão sobre alguns dos principais dilemas e desafios que afetam a economia política nacional. Para começar, é evidente que a pandemia promoveu uma desarrumação no país, trazendo dificuldades e desesperança para milhões de brasileiros. Por causa disso, vivemos um período dramático em muitos aspectos: sanitário, social, econômico, político e institucional.

Antes de surgir no país o novo coronavírus, em fevereiro do ano passado, os analistas apostavam em crescimento modesto da economia, não muito superior a 2%, para 2020. Com a chegada da covid-19, o cenário, que já não era alvissareiro, piorou de forma radical. A economia recuou fortemente e a situação fiscal se fragilizou devido à necessidade da criação de programas de apoio a empresas, empregos e famílias. Agora, com o recrudescimento da doença, o desânimo retornou.

Gabriel Galípolo* e Luiz G. Belluzzo** - A outra coisa é a mesma coisa

- Valor Econômico

Economia sucumbe, mas os juros sobem para conter os reflexos da retomada da atividade das economias centrais

Uma das cenas mais fantásticas do cinema ocorre em 2001 - Uma Odisseia no Espaço, quando um dos primatas olha para o osso e tem um estranhamento com seu conceito inicial. Pelas expressões e reações percebemos o desenvolvimento de um pensamento crítico, negando a forma como naturalmente o osso se apresentava, até compreender que ele também contém a possibilidade de ser uma ferramenta para caçar ou se defender.

Muitas coisas são, em potência, uma coisa e outra coisa. Um bem contém a possibilidade de ser utilizado ou trocado. Se utilizado, é renunciado a apropriação do seu valor de troca. Se trocada, seu uso é alienado para quem a adquiriu. Uma possibilidade nega e rejeita a outra, mas ambas convivem em potência na mercadoria.

A moeda, além de unidade de conta, é meio de pagamento e reserva de valor. O seu emprego como meio de pagamento, na aquisição de bens e serviços, implica a negação da sua conservação como reserva de valor, enquanto preservação da riqueza ao longo do tempo na forma líquida. O raciocínio inverso também é verdadeiro, quem prefere a liquidez abdica ao consumo.

Por essa razão a inflação não é função da quantidade de moeda. Para o bem e para o mal, a quantidade de moeda disponível não é capaz de gerar poder aquisitivo, demanda e inflação. Configura um exemplo radical, a política de flexibilização quantitativa (QE), inaugurada como combate a crise de 2008 e aprofundada como resposta aos efeitos econômicos da covid-19.

Luiz Carlos Azedo - Bolsonaro e o mito de Sísifo

- Correio Braziliense

Como disse Camus, “sempre houve homens para defender os direitos do irracional”. O problema é quando se trata do presidente da República

O consagrado escritor francês Albert Camus foi um existencialista, para quem o homem vive em busca de sua essência, do seu sentido, e encontra um mundo desconexo, ininteligível, guiado por religiões e ideologias políticas. Num de seus ensaios filosóficos, Camus classifica Sísifo, um dos grandes personagens da mitologia grega, como um herói absurdo. “Tanto por causa de suas paixões como por seu tormento. Seu desprezo pelos deuses, seu ódio à morte e sua paixão pela vida lhe valeram esse suplício indizível no qual todo seu ser se empenha em não terminar coisa alguma. É o preço que se paga pelas paixões desta terra”, resumiu.

Os deuses condenaram Sísifo a rolar incessantemente uma rocha até o cume de uma montanha, de onde a pedra se precipitava por seu próprio peso. “Imaginaram que não haveria punição mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança”, afirma Camus, que publicou O Mito de Sísifo em 1942. Nessa obra, destaca o mundo imerso em irracionalida- des. “Ou não somos livres, e o responsá- vel pelo mal é Deus todo-poderoso, ou somos livres e responsáveis, mas Deus não é todo-poderoso”, questionava.

Ricardo Noblat - Ciro Gomes passa recibo do seu incômodo com Lula candidato

- Blog do Noblat / Veja

A democracia só tem a ganhar

No dia em que Lula apareceu numericamente à frente de Jair Bolsonaro na mais recente pesquisa XP/Ipespe, Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará, aspirante a candidato a presidente da República pela quarta vez, pediu-lhe a “generosidade” de não disputar as eleições presidenciais do ano que vem. Que tal?

A fazê-lo, Ciro defendeu que Lula se inspirasse no “passo para trás” da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner que concordou em ser vice de Alberto Fernández, ajudando assim a elegê-lo. Segundo Ciro, se Lula for candidato, Bolsonaro se aproveitará do antipetismo para tentar emplacar um segundo mandato.

 “Imagine uma campanha: Bolsonaro, querendo se recuperar da impopularidade, lembrar a esculhambação do Palocci, a esculhambação do José Dirceu, a esculhambação de não sei de quem”, argumentou. “E do outro lado, o cabra dizendo que os filhos do Bolsonaro são ladrões. É isto?” Se o eleitor quiser, será.

• Eliane Cantanhêde – Com culto, sem vacina

- O Estado de S. Paulo

- Liberar cultos, missas e aglomerações equivale a mandar o gado para o matadouro

O Brasil vive duas tragédias simultâneas, em meio a um negacionismo criminoso que tenta garantir até aglomerações em igrejas e cultos: o número de infectados e mortos pela covid-19 só dispara, enquanto as previsões de doses de vacinas só caem. A boca do jacaré aumenta e vai devorando vidas, a economia, os empregos, a comida na mesa. E não está se falando de jacaré que tomou vacina...

Como advertiam desesperadamente os epidemiologistas, março de 2021 foi o mês mais macabro da pandemia, com o dobro das mortes registradas em julho de 2020, até então o pior mês em mortes e infecções. E a nova má notícia é que a escalada da carnificina deve continuar em abril.

Quanto mais brasileiros morrem, mais a previsão de vacinas cai, em sentido inverso. No dia 17 de fevereiro, quando o Brasil atingiu 242.178 mortos, o então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, anunciou 46 milhões de novas doses em março. O número de mortes disparou desde então, mas o de doses minguou. Março fechou com menos de 10% dos brasileiros vacinados.

Pedro Fernando Nery* - Após a queda de Trump, quem será o 'Biden brasileiro'?

- O Estado de S. Paulo

Caberá ao Biden nacional combater a desigualdade de renda e abrir um futuro de maior produtividade para a economia

Pela ocasião da alta votação de Joe Biden em 2020, que reuniu um amplo espectro de apoio para derrotar Trump, muito se especulou sobre quem seria “o Biden brasileiro”. Perto da marca dos 100 primeiros dias do novo presidente americano, já é possível vislumbrar quais temas quer transformar. Um que destoa é o da infância, com uma espécie de renda universal infantil. Quem será o Biden brasileiro?

Biden já conseguiu sancionar uma de suas propostas de campanha: o pagamento de US$ 250 mensais para a maior parte das crianças e adolescentes americanos, com valor ampliado para US$ 300 no caso das crianças de até seis anos (1.ª infância). Não se exige que pais não tenham emprego.

Os valores passam a ser decrescentes para famílias com maior renda. Para outro limite de renda, não há direito ao pagamento (uma renda equivalente à do décimo mais rico dos americanos). Como poucas crianças estão em famílias no topo da distribuição de renda, o benefício é semiuniversal. 

Hélio Schwartsman - Eles não sabem o que fazem

Folha de S. Paulo

Kassio e milhões agem como se a epidemia fosse uma fatalidade imposta por Deus

liminar do ministro Kassio Nunes Marques, do STF, que liberava a presença do público em cerimônias religiosas é um contrassenso, sintomático de quem ainda não entendeu bem o que está acontecendo no país.

O raciocínio marquiano parte de um elemento de verdade. Os decretos anti-Covid-19 de governadores e prefeitos limitam a liberdade religiosa. Mas não só. Também limitam a liberdade de ir e vir, de reunir-se pacificamente etc. E é o que se espera que façam. Os decretos, afinal, estão baseados numa lei de emergência sanitária, que tem o propósito explícito de limitar temporariamente direitos para conter a epidemia.

Cristina Serra - Fanatismo jurídico-cristão


- Folha de S. Paulo

Não é a liberdade religiosa que está em jogo, mas a vida dos brasileiros

A decisão do ministro do STF Kassio Nunes Marques a favor dos cultos religiosos presenciais sabota os esforços de prefeitos e governadores para controlar a pandemia, agride a ciência, empurra mais brasileiros para o cemitério e desrespeita o sacrifício dos profissionais de saúde, que estão trabalhando no limite da exaustão física, mental e emocional.

O ministro atendeu a um pedido da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure). Não é uma entidade qualquer. Fundada em 2012, a associação já teve a delirante Damares Alves como sua diretora de assuntos legislativos. Tem 700 associados, entre advogados, juízes, procuradores e desembargadores.
O advogado-geral da União e pastor, André Mendonça, era assíduo frequentador dos eventos da entidade, antes da pandemia. Aliás, foi Mendonça que, mais que depressa, pediu a intimação do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, quando este anunciou que não cumpriria a decisão de Nunes Marques. Depois da ameaça, Kalil voltou atrás.

Reportagem da revista Piauí (edição 169) revela o intenso lobby da Anajure para emplacar em cargos importantes do poder público defensores da sua agenda cristã ultraconservadora. A associação trabalhou, por exemplo, pelos nomes do procurador-geral da República, Augusto Aras, do defensor público-geral federal, Daniel de Macedo, e do ministro da Educação, Milton Ribeiro, também pastor e apologista da "vara da disciplina" para corrigir os filhos.

A Anajure parece ter obsessão com o tema. Recentemente, saiu em defesa de uma escritora que tivera um livro proibido pela Justiça por preconizar castigos físicos na educação das crianças. Outras fixações são o aborto e a "ideologia de gênero".

Nesta quarta-feira (7), o plenário do STF decidirá sobre cultos e missas presenciais ou virtuais. Espera-se que recoloque a questão em sua real dimensão, afastando da discussão qualquer traço de fanatismo. Não é a liberdade religiosa que está em jogo, mas a vida dos brasileiros.

Joel Pinheiro da Fonseca* - O bolsonarismo é anticristão

- Folha de S. Paulo

Culto às armas de fogo, elogio explícito à tortura; é esse o tipo de moralidade que se depreende dos evangelhos?

O ministro Kassio Nunes Marques parece querer agradar os eleitores do presidente que o indicou ao STF. Só isso explica sua decisão irresponsável de permitir, mesmo contra a vontade de prefeitos e governadores, celebrações religiosas coletivas —eventos com alta probabilidade de contágio— num momento de alta da pandemia, em que morrem mais de 3.000 pessoas diariamente.

Ainda pior que a irresponsabilidade do ministro, contudo, é constatar que algumas lideranças religiosas de peso —como o pastor Silas Malafaia— celebraram a decisão. Fico em dúvida se sua religião ainda é o cristianismo, ou se ele já o trocou pelo bolsonarismo.

Paulo Hartung* - 2021, ano decisivo para um futuro mais verde

- O Estado de S. Paulo

O Brasil tem a chance de se tornar um farol a iluminar o horizonte dessa caminhada global

 “O futuro não é um lugar para onde estamos indo, mas um lugar que estamos construindo.” Nos dias que se sucedem neste 2021, a máxima de Saint-Exupéry deve ser observada com preciosa atenção: a significativa agenda ambiental que mobiliza o planeta este ano tem o condão de firmar as bases de um novo futuro, para as atuais e as próximas gerações.

Não podemos mais negligenciar discussões e decisões sobre a sustentabilidade do planeta. A covid-19, que, tragicamente, tem sido muito dura e vem ceifando milhares de vidas, é também fruto do descontrole na relação entre humano e natureza. Temos de agir e aproveitar as oportunidades para acelerar uma retomada verde.

Joe Biden convocou a Cúpula do Clima para o próximo dia 22, com o objetivo de ampliar políticas de combate a desmatamento e redução de emissões de dióxido de carbono (CO2). Também haverá duas Conferências da ONU. A COP-15 da Convenção da Diversidade Biológica, que negociará o novo Marco Global de Biodiversidade. Já a COP-26 sobre Mudança Climática será a chance para, enfim, aprovar o artigo 6.º do Acordo de Paris, que estabelece e regula um mercado global de carbono.

José Serra* - Patentes: um debate do Congresso Nacional

- Folha de S. Paulo

Legislação brasileira sobre o tema deve se alinhar a acordo internacional

Senador da República (PSDB-SP), ex-governador de São Paulo (2007-2010), ex-prefeito de São Paulo (2005-2006) e ex-deputado federal (1987-1991); doutor em economia pela Universidade Cornell (EUA)

Temos dois tipos básicos de leis: as que geram benefícios para a sociedade no curto e longo prazos, e as que impõem uma troca (a sociedade opta por perder agora para ganhar depois). Temos aqui um conflito que exige decisões políticas. Grupos de interesse perdem privilégios assegurados em lei para aumentar o bem-estar social, mas aos poucos a nova legislação passa a ser aceita por todos como legítima.

Conflitos dessa natureza ocorrem com frequência quando se trata de inovação e seu papel econômico e social. Por exemplo, a regulação de combate aos cartéis promove, a um só tempo, crescimento e eficiência. Oligopólios e monopólios tendem a não inovar, e a concorrência promovida pela legislação produz mais eficiência graças ao incentivo à inovação. O fim dos lucros extraordinários permite preços mais baixos, o que incentiva o consumo e, consequentemente, o crescimento econômico.

PSDB isola bolsonaristas do partido e busca pontes com esquerda

Tucanos trabalham para reforçar viés de oposição e identidade própria para disputa de 2022

João Pedro Pitombo / Folha de S. Paulo

SALVADOR - Preparando terreno para a sucessão de Jair Bolsonaro (sem partido), o PSDB endureceu o discurso de oposição, isolou parlamentares do partido com ligação mais estreita com o presidente e, nos estados, começa a ensaiar uma aproximação até com partidos de esquerda.

Os movimentos têm como objetivo tentar unificar a bancada no Congresso Nacional e construir um discurso que consolide o partido como uma opção ao Planalto em meio à polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A legenda tem como pré-candidatos os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS).

Na última quinta-feira (31), ambos assinaram uma carta em defesa da democracia divulgada em conjunto com outros quatro presidenciáveis: Ciro Gomes (PDT), João Amoêdo (Novo), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Luciano Huck (sem partido). A coalizão é vista como embrião de uma possível união para a corrida presidencial.

O principal movimento dos tucanos em direção à esquerda aconteceu, sem alarde, no estado do Maranhão: depois de três anos afastado do partido, o vice-governador Carlos Brandão deixou o Republicanos e retornou ao PSDB, onde deve disputar a sucessão do governador Flávio Dino (PC do B). A parceria deve reeditar a aliança local entre comunistas e tucanos de 2014.

Brandão voltou ao partido na condição de presidente estadual, movimento que acabou isolando o senador Roberto Rocha (PSDB-MA), um dos mais fiéis aliados de Bolsonaro no Nordeste. Há pouco mais de um mês, rasgou elogios ao presidente em uma visita a Alcântara (98 km de São Luís).

O senador já anunciou que deve deixar o PSDB e se filiar ao partido que o presidente Bolsonaro escolher para disputar a sua reeleição. Rocha deve disputar o Governo do Maranhão ou tentar a reeleição ao Senado no próximo ano.

Desaprovação a Bolsonaro é recorde e chega a 60%, diz XP/Ipespe

Na disputa pela Presidência, em 2022, Bolsonaro e Lula estão tecnicamente empatados, com o petista numericamente à frente, com 29% das intenções de voto e o presidente, com 28%

Por Cristiane Agostine e Lilian Venturini  / Valor Econômico

SÃO PAULO - Com o recrudescimento da pandemia no país, a desaprovação à forma como o presidente Jair Bolsonaro administra o Brasil bateu recorde e chegou a 60% da população, segundo pesquisa XP/Ipespe divulgada ontem.

A desaprovação segue a tendência de crescimento. No fim do ano passado, em dezembro, 46% aprovavam a forma de Bolsonaro governar e 45% reprovavam. A aprovação caiu nos meses seguintes e chegou a 33% no fim de março. O período coincide com o fim do auxílio emergencial, em dezembro. O pagamento das parcelas será retomado hoje.

A rejeição ao governo também segue trajetória ascendente. Em apenas seis meses, o percentual da população que avalia o governo como “ruim ou péssimo” saltou de 31% para 48%. Já a avaliação de que o governo é “ótimo ou bom” foi de 39% para 27%. De acordo com a pesquisa, 24% avaliam a gestão como “regular”.

Lideranças do PSOL dizem que falas de Freixo sobre o centro podem indicar saída do partido

Eles dizem que não há chance de acontecer a aproximação de setores de centro aventada pelo deputado

- Folha de S. Paulo / Painel

Entrevistas recentes em que o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) falou em aproximar campo progressista e centro e tratou das eleições de 2022 (quando pretende ser candidato ao governo do Rio) foram mal recebidas no PSOL.

Freixo, recém-eleito líder da minoria na Câmara, falou sobre os temas à Folha e aos jornais O Globo e a O Estado de S. Paulo.

Membros de destaque do partido dizem que não há qualquer perspectiva de se aproximar de partidos de centro, que não há chance de se juntarem a Eduardo Paes e Rodrigo Maia, ambos do DEM, e que falar em eleição no atual momento da pandemia sinaliza que Freixo quer deixar mesmo o PSOL —o deputado tem sido especulado em PDT e PT.

"Estou conversando muito com todos os setores do PSOL. Toda nossa ação no Congresso tem como prioridade a pandemia. Enfrentar Bolsonaro também é enfrentar a pandemia", diz Freixo ao Painel.

PSOL resiste a aliança eleitoral de Freixo com Maia e Paes

Executiva do partido no Rio se reunirá nesta terça e tende a esfriar possibilidade de chapa com o centro. Colega na Câmara, Glauber Braga diz que tentativa não tem ‘respaldo’

Bernardo Mello e Paulo Cappelli / O Globo

RIO E BRASÍLIA - Em reunião marcada para a noite desta terça-feira, o diretório estadual do PSOL no Rio deve se manifestar sobre a possibilidade de formar aliança em 2022 com nomes do centro, como o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM). A tendência, segundo fontes do partido, é de uma sinalização na contramão do acordo desenhado pelo deputado psolista Marcelo Freixo para concorrer ao governo do estado. Ontem, Freixo disse ao GLOBO que, além das conversas com siglas da esquerda, vem tratando da formação de uma frente anti-bolsonarista com Paes e Maia, antigos adversários do PSOL.

Internamente, membros do PSOL receberam de forma fria a articulação de Freixo e apontaram que o deputado ainda não tem maioria interna para uma aliança fora da esquerda. O deputado federal Glauber Braga (RJ), colega de Freixo na Câmara, criticou a hipótese de uma costura com Paes e Maia e lembrou que o PSOL se coloca até hoje como oposição a ambos na política fluminense. Sem citar o nome de Freixo, Braga disse que a aliança seria “totalmente descabida”.

Presidente do MDB descarta apoio a Bolsonaro ou Lula

Baleia Rossi cita possibilidade de candidatura própria ou apoio a nomes como Doria, Mandetta ou Huck

Paulo Cappelli / O Globo

BRASÍLIA — Com políticos do MDB que defendem uma candidatura do próprio partido à Presidência, outros que sustentam o apoio a Lula, e ainda com parcela que tem preferência por Bolsonaro, a legenda inicia de forma mais incisiva, este mês, discussões para definir qual será a posição oficial da sigla na eleição do ano que vem. Presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP) afirmou ao GLOBO que, no momento, o apoio a Lula ou Bolsonaro estão descartados, pois essas hipóteses, diz, sequer estão sendo aventadas nas conversas envolvendo a cúpula do partido. Baleia afirma que o consenso é o lançamento de uma candidatura própria. E acredita que, caso um nome da sigla não venha a se mostrar competitivo, o melhor caminho para o MDB seria abraçar uma candidatura externa de centro, como João Doria (PSDB-SP), Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) ou Luciano Huck (sem partido). 

Para Baleia, Doria é nacionalmente reconhecido pelo empenho na vacinação contra a Covid-19, mas precisaria melhorar sua popularidade na própria São Paulo para se tornar viável no ano que vem. Mandetta, por sua vez, é visto pelo dirigente emedebista como um nome que ganhou projeção ao participar dos debates quando era ministro da Saúde e tem a imagem associada à defesa da ciência. Já Huck seria eleitoralmente um bom nome, de fácil assimilação, mas precisaria demonstrar mais interesse no pleito presidencial.

Zuenir Ventura - Ainda pode ser pior

- O Globo

É a palavra da Ciência. O neurocientista Miguel Nicolelis assim definiu a responsabilidade pela situação atual da pandemia no Brasil: “Se o país fosse uma empresa, os executivos seriam demitidos”. Ou até presos, pode-se acrescentar. A pneumologista Margareth Dalcolmo, que previu “o março mais triste de nossas vidas”, volta a dizer o mesmo em relação a abril. Também o Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, da Universidade de Washington, registrou entre nós 66 mil óbitos ligados à Covid-19 em março e, em abril, calcula que serão 100 mil.

Nicolelis demonstra preocupação com o agravamento do colapso funerário, se não forem estabelecidas restrições de trânsito não essencial em aeroportos e estradas, o que poderia fazer parte de um lockdown nacional. “Diante desse cenário, o futuro que nos espera pode ser ainda mais dantesco, uma vez que não existe, por parte do governo federal, nenhuma iniciativa crível de combate real à pandemia.” Ele acredita que o Brasil está se aproximando rapidamente de um “ponto de não retorno”.

Carlos Andreazza - A falsa crise e a crise permanente

- O Globo

Militares — ao menos os de alta patente — não respaldam o golpismo de Jair Bolsonaro. Ok. Vá lá. Respaldam, porém, o governo por meio do qual Bolsonaro exercita seu golpismo. Isso é um fato. Serei generoso a respeito. Admitamos que tenha havido, entre os generais que embarcaram na canoa do capitão, os que desconhecessem a figura. (Falei que seria generoso.) Passados dois anos, contudo: se ficam, endossam. Se ficam, ante tudo quanto há, acumpliciam-se. Se ficam e se ficaram, os que saíram anteontem, de súbito democratas: cúmplices.

O governo é militar — e já vai tarde o tempo, um Pazuello de distância, em que se poderia reverter essa associação. É orgânica, embora tenha como marca a produção de cloroquina em laboratórios do Exército. São cerca de 6 mil os militares (quase a metade, da ativa) incorporados à administração federal, em ministérios, inclusive os palacianos, e estatais. E é com assento neste corpo, na projeção de força que esta estrutura musculosa insinua, que o presidente da República fala — e continua a falar —em “meu Exército”.

O governo é militar — e autocrático. O presidente não se tornou este populista-autoritário na semana passada; e foi por ser o que é que atraiu tantos generais-helenos. A dança das cadeiras se dá em torno — e em função — de Bolsonaro. Um general vai; outro vem. As Forças Armadas, o Exército acima de todas, permanecem.

Míriam Leitão - Orçamento é nó também político

- O Globo

O Orçamento criou um nó cego para o governo. O ministro Paulo Guedes disse que não há briga. Há sim. Briga entre os poderes e dentro do governo. Entre os técnicos e a ala política. O Ministério Público de Contas quer que o TCU alerte o governo preventivamente de que a sanção pode representar crime de responsabilidade fiscal. O parecer do TCU deve sair amanhã. Paulo Guedes na live para um banco disse que se o Orçamento for deixado como está as contas podem ser reprovadas no ano que vem e “alguém” terá a “capacidade de atingir a candidatura presidencial”. O assunto é técnico mas aperta todos os botões políticos, do relacionamento com o Congresso e da sustentação do governo.

Quem olhar o Brasil de fora deve achar que esse é o menor dos problemas. Vários jornais do mundo têm publicado nos últimos dias matérias mostrando o desempenho desastroso do governo brasileiro na gestão da crise. Os dados são eloquentes em provar que o Brasil se tornou em termos de média móvel o pior caso do mundo.

Quem ouvisse o ministro da Economia ontem, falando a banqueiros, poderia considerar que o Brasil está em outro mundo. O Brasil, segundo ele, criou “680 mil empregos formais” e pode ter criado muito mais “do cara que vende churrasquinho e água na praia”. Onde exatamente andam os ministros do governo Bolsonaro? Em que planeta? O ministro Marcelo Queiroga, da Saúde, disse que “a ordem é evitar o lockdown”. Essa solução só deve ser usada quando? O que é mais grave do que ser o país onde mais se morre por Covid-19, não haver mais vagas de UTI, emergências não atenderem em hospitais privados, faltar oxigênio e estar perto do esgotamento dos remédios necessários para intubação?

Música | Beth Carvalho - As Rosas não falam (Cartola)

 

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - O Tempo

Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.

Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.

Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente.

Para você, desejo o sonho realizado,
o amor esperado,
a esperança renovada.

Para você, desejo todas as cores desta vida,
todas as alegrias que puder sorrir,
todas as músicas que puder emocionar.

Para você, neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família seja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.

Gostaria de lhe desejar tantas coisas…
Mas nada seria suficiente…

Então desejo apenas que você tenha muitos desejos,
desejos grandes.

E que eles possam mover você a cada minuto
ao rumo da sua felicidade.