Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
terça-feira, 6 de abril de 2021
Merval Pereira - Homens pequenos
Cristovam Buarque* - Vacinas estruturais
Foram necessárias 300 mil mortes, para perceberem a necessidade de vacinar todos os brasileiros contra o coronavírus. Mas depois de dois séculos de independência, 130 anos de república, ainda não percebemos a necessidade de outras vacinas para construir uma nação eficiente, justa e sustentável. Ainda não se descobriu a necessidade de vacinar o Brasil contra suas doenças sociais e econômicas.
Vacinas estruturais que permitam superarmos a tragédia da pobreza que atinge quase metade de nossa população, parte dela em miséria extrema, sem água encanada, esgoto tratado, lixo recolhido, sem emprego ou salário, sem habitação, nem atendimento médico de qualidade, até mesmo sem comida suficiente. Uma vacina estrutural contra o abandono secular de milhões de brasileiros, grande parte crianças, sobrevivendo em condições abaixo do mínimo necessário para uma vida digna. Vacina também contra a vergonha da concentração de renda, que nos faz um dos cinco países com a maior desigualdade entre todos os outros duzentos. Sem essas vacinas, não podemos nos considerar uma República, nem mesmo uma nação.
Andrea Jubé - PT quer repetir 2002, mas antes vem 2021
Paes
é aliado prioritário do PT no Rio, diz Quaquá
Uma
ala do PT não esconde a euforia com a perspectiva da candidatura presidencial
do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e expectativa de vitória, amparada
na convicção de que 2022 repetirá a bem sucedida campanha de 2002.
Naquele
ano, o Lulinha “paz e amor”, candidato de uma aliança do trabalho com o
capital, representado pelo vice e empresário mineiro José Alencar, fez a
“esperança vencer o medo”, para relembrar o “slogan” daquela eleição.
Não
é aleatório, portanto, que Lula tenha exclamado em seu recente discurso em São
Bernardo do Campo: “Não tenham medo de mim.”
Nesse
contexto que o deputado Alexandre Padilha (PT-SP), que se tornou interlocutor
frequente de Lula para as questões da pandemia, afirma que o ex-presidente
desponta hoje no cenário como “uma injeção de esperança em meio a um rastro de
sangue”.
Embora
prevaleça no mundo político o temor da polarização, a bússola petista pode
envergar para o meio. Antigo aliado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) disse
ao Valor nesta
semana que Lula será o candidato do centro em 2022.
Nessa
linha, o vice-presidente nacional do PT, Washington Quaquá, afirmou em entrevista
a esta coluna que a prioridade do partido no Rio de Janeiro para 2022 não será
uma candidatura própria ao governo, mas, sim, uma coligação que contemple o
prefeito Eduardo Paes, do DEM, como “aliado prioritário”.
Ontem a última rodada da pesquisa XP/Ipespe alvoroçou os céticos e os otimistas no PT: Lula e o presidente Jair Bolsonaro continuam tecnicamente empatados na liderança da disputa presidencial, mas o petista apareceu pela primeira vez numericamente à frente.
Luiz Schymura* - Momento crítico
Vacina
é prioridade, mas país precisa tomar mais medidas
Como
primeira coluna neste espaço nobre, optei por trazer uma reflexão sobre alguns
dos principais dilemas e desafios que afetam a economia política nacional. Para
começar, é evidente que a pandemia promoveu uma desarrumação no país, trazendo
dificuldades e desesperança para milhões de brasileiros. Por causa disso,
vivemos um período dramático em muitos aspectos: sanitário, social, econômico,
político e institucional.
Antes de surgir no país o novo coronavírus, em fevereiro do ano passado, os analistas apostavam em crescimento modesto da economia, não muito superior a 2%, para 2020. Com a chegada da covid-19, o cenário, que já não era alvissareiro, piorou de forma radical. A economia recuou fortemente e a situação fiscal se fragilizou devido à necessidade da criação de programas de apoio a empresas, empregos e famílias. Agora, com o recrudescimento da doença, o desânimo retornou.
Gabriel Galípolo* e Luiz G. Belluzzo** - A outra coisa é a mesma coisa
Economia
sucumbe, mas os juros sobem para conter os reflexos da retomada da atividade
das economias centrais
Uma
das cenas mais fantásticas do cinema ocorre em 2001 - Uma Odisseia no Espaço,
quando um dos primatas olha para o osso e tem um estranhamento com seu conceito
inicial. Pelas expressões e reações percebemos o desenvolvimento de um
pensamento crítico, negando a forma como naturalmente o osso se apresentava,
até compreender que ele também contém a possibilidade de ser uma ferramenta
para caçar ou se defender.
Muitas
coisas são, em potência, uma coisa e outra coisa. Um bem contém a possibilidade
de ser utilizado ou trocado. Se utilizado, é renunciado a apropriação do seu
valor de troca. Se trocada, seu uso é alienado para quem a adquiriu. Uma
possibilidade nega e rejeita a outra, mas ambas convivem em potência na
mercadoria.
A
moeda, além de unidade de conta, é meio de pagamento e reserva de valor. O seu
emprego como meio de pagamento, na aquisição de bens e serviços, implica a
negação da sua conservação como reserva de valor, enquanto preservação da
riqueza ao longo do tempo na forma líquida. O raciocínio inverso também é
verdadeiro, quem prefere a liquidez abdica ao consumo.
Por essa razão a inflação não é função da quantidade de moeda. Para o bem e para o mal, a quantidade de moeda disponível não é capaz de gerar poder aquisitivo, demanda e inflação. Configura um exemplo radical, a política de flexibilização quantitativa (QE), inaugurada como combate a crise de 2008 e aprofundada como resposta aos efeitos econômicos da covid-19.
Luiz Carlos Azedo - Bolsonaro e o mito de Sísifo
Como
disse Camus, “sempre houve homens para defender os direitos do irracional”. O
problema é quando se trata do presidente da República
O
consagrado escritor francês Albert Camus foi um existencialista, para quem o
homem vive em busca de sua essência, do seu sentido, e encontra um mundo
desconexo, ininteligível, guiado por religiões e ideologias políticas. Num de
seus ensaios filosóficos, Camus classifica Sísifo, um dos grandes personagens
da mitologia grega, como um herói absurdo. “Tanto por causa de suas paixões
como por seu tormento. Seu desprezo pelos deuses, seu ódio à morte e sua paixão
pela vida lhe valeram esse suplício indizível no qual todo seu ser se empenha
em não terminar coisa alguma. É o preço que se paga pelas paixões desta terra”,
resumiu.
Os deuses condenaram Sísifo a rolar incessantemente uma rocha até o cume de uma montanha, de onde a pedra se precipitava por seu próprio peso. “Imaginaram que não haveria punição mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança”, afirma Camus, que publicou O Mito de Sísifo em 1942. Nessa obra, destaca o mundo imerso em irracionalida- des. “Ou não somos livres, e o responsá- vel pelo mal é Deus todo-poderoso, ou somos livres e responsáveis, mas Deus não é todo-poderoso”, questionava.
Ricardo Noblat - Ciro Gomes passa recibo do seu incômodo com Lula candidato
A
democracia só tem a ganhar
No
dia em que Lula apareceu numericamente à frente de Jair Bolsonaro na mais
recente pesquisa XP/Ipespe, Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará, aspirante
a candidato a presidente da República pela quarta vez, pediu-lhe a
“generosidade” de não disputar as eleições presidenciais do ano que vem. Que
tal?
A
fazê-lo, Ciro defendeu que Lula se inspirasse no “passo para trás” da
ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner que concordou em ser vice de
Alberto Fernández, ajudando assim a elegê-lo. Segundo Ciro, se Lula for
candidato, Bolsonaro se aproveitará do antipetismo para tentar emplacar um
segundo mandato.
“Imagine uma campanha: Bolsonaro, querendo se recuperar da impopularidade, lembrar a esculhambação do Palocci, a esculhambação do José Dirceu, a esculhambação de não sei de quem”, argumentou. “E do outro lado, o cabra dizendo que os filhos do Bolsonaro são ladrões. É isto?” Se o eleitor quiser, será.
• Eliane Cantanhêde – Com culto, sem vacina
-
Liberar cultos, missas e aglomerações equivale a mandar o gado para o matadouro
O
Brasil vive duas tragédias simultâneas, em meio a um negacionismo criminoso que
tenta garantir até aglomerações em
igrejas e cultos: o número de infectados e mortos
pela covid-19 só dispara, enquanto as previsões de doses de
vacinas só caem. A boca do jacaré aumenta e vai devorando vidas, a economia, os
empregos, a comida na mesa. E não está se falando de jacaré que tomou vacina...
Como
advertiam desesperadamente os epidemiologistas, março de 2021 foi o mês mais
macabro da pandemia, com o dobro das mortes registradas em julho de 2020, até
então o pior mês em mortes e infecções. E a nova má notícia é que a escalada da
carnificina deve continuar em abril.
Quanto mais brasileiros morrem, mais a previsão de vacinas cai, em sentido inverso. No dia 17 de fevereiro, quando o Brasil atingiu 242.178 mortos, o então ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, anunciou 46 milhões de novas doses em março. O número de mortes disparou desde então, mas o de doses minguou. Março fechou com menos de 10% dos brasileiros vacinados.
Pedro Fernando Nery* - Após a queda de Trump, quem será o 'Biden brasileiro'?
Caberá
ao Biden nacional combater a desigualdade de renda e abrir um futuro de maior
produtividade para a economia
Pela
ocasião da alta votação de Joe Biden em 2020, que reuniu
um amplo espectro de apoio para derrotar Trump, muito se especulou sobre
quem seria “o Biden brasileiro”. Perto da marca dos 100 primeiros dias do novo
presidente americano, já é possível vislumbrar quais temas quer transformar. Um
que destoa é o da infância, com uma espécie de renda universal infantil. Quem
será o Biden brasileiro?
Biden
já conseguiu sancionar uma de suas propostas de campanha: o pagamento de US$
250 mensais para a maior parte das crianças e adolescentes americanos, com
valor ampliado para US$ 300 no caso das crianças de até seis anos (1.ª
infância). Não se exige que pais não tenham emprego.
Os valores passam a ser decrescentes para famílias com maior renda. Para outro limite de renda, não há direito ao pagamento (uma renda equivalente à do décimo mais rico dos americanos). Como poucas crianças estão em famílias no topo da distribuição de renda, o benefício é semiuniversal.
Hélio Schwartsman - Eles não sabem o que fazem
Kassio
e milhões agem como se a epidemia fosse uma fatalidade imposta por Deus
A liminar
do ministro Kassio Nunes Marques, do STF, que liberava a presença do
público em cerimônias religiosas é um contrassenso, sintomático de quem
ainda não
entendeu bem o que está acontecendo no país.
O raciocínio marquiano parte de um elemento de verdade. Os decretos anti-Covid-19 de governadores e prefeitos limitam a liberdade religiosa. Mas não só. Também limitam a liberdade de ir e vir, de reunir-se pacificamente etc. E é o que se espera que façam. Os decretos, afinal, estão baseados numa lei de emergência sanitária, que tem o propósito explícito de limitar temporariamente direitos para conter a epidemia.
Cristina Serra - Fanatismo jurídico-cristão
- Folha de S. Paulo
Não
é a liberdade religiosa que está em jogo, mas a vida dos brasileiros
A
decisão do ministro do STF Kassio
Nunes Marques a favor dos cultos religiosos presenciais sabota os
esforços de prefeitos e governadores para controlar a pandemia, agride a
ciência, empurra mais brasileiros para o cemitério e desrespeita o sacrifício
dos profissionais de saúde, que estão trabalhando no limite da exaustão física,
mental e emocional.
Reportagem
da revista Piauí (edição 169) revela o intenso lobby da Anajure para emplacar
em cargos importantes do poder público defensores da sua agenda cristã
ultraconservadora. A associação trabalhou, por exemplo, pelos nomes do
procurador-geral da República, Augusto Aras, do defensor público-geral federal,
Daniel de Macedo, e do ministro da Educação, Milton Ribeiro, também pastor e
apologista da "vara da disciplina" para corrigir os filhos.
A
Anajure parece ter obsessão com o tema. Recentemente, saiu em defesa de uma
escritora que tivera um livro proibido pela Justiça por preconizar castigos
físicos na educação das crianças. Outras fixações são o aborto e a
"ideologia de gênero".
Nesta quarta-feira (7), o plenário do STF decidirá sobre cultos e missas presenciais ou virtuais. Espera-se que recoloque a questão em sua real dimensão, afastando da discussão qualquer traço de fanatismo. Não é a liberdade religiosa que está em jogo, mas a vida dos brasileiros.
Joel Pinheiro da Fonseca* - O bolsonarismo é anticristão
Culto às armas de fogo, elogio explícito à tortura; é esse o tipo de moralidade que se depreende dos evangelhos?
O
ministro Kassio
Nunes Marques parece querer agradar os eleitores do presidente
que o indicou ao STF. Só isso explica sua decisão irresponsável de
permitir, mesmo contra a vontade de prefeitos e governadores, celebrações
religiosas coletivas —eventos com alta probabilidade de contágio— num
momento de alta da pandemia, em que morrem mais de 3.000 pessoas diariamente.
Ainda pior que a irresponsabilidade do ministro, contudo, é constatar que algumas lideranças religiosas de peso —como o pastor Silas Malafaia— celebraram a decisão. Fico em dúvida se sua religião ainda é o cristianismo, ou se ele já o trocou pelo bolsonarismo.
Paulo Hartung* - 2021, ano decisivo para um futuro mais verde
O
Brasil tem a chance de se tornar um farol a iluminar o horizonte dessa
caminhada global
“O futuro não é um lugar para onde estamos
indo, mas um lugar que estamos construindo.” Nos dias que se sucedem neste
2021, a máxima de Saint-Exupéry deve ser observada com preciosa atenção: a
significativa agenda ambiental que mobiliza o planeta este ano tem o condão de
firmar as bases de um novo futuro, para as atuais e as próximas gerações.
Não
podemos mais negligenciar discussões e decisões sobre a sustentabilidade do
planeta. A covid-19, que, tragicamente, tem sido muito dura e vem ceifando
milhares de vidas, é também fruto do descontrole na relação entre humano e
natureza. Temos de agir e aproveitar as oportunidades para acelerar uma
retomada verde.
Joe Biden convocou a Cúpula do Clima para o próximo dia 22, com o objetivo de ampliar políticas de combate a desmatamento e redução de emissões de dióxido de carbono (CO2). Também haverá duas Conferências da ONU. A COP-15 da Convenção da Diversidade Biológica, que negociará o novo Marco Global de Biodiversidade. Já a COP-26 sobre Mudança Climática será a chance para, enfim, aprovar o artigo 6.º do Acordo de Paris, que estabelece e regula um mercado global de carbono.
José Serra* - Patentes: um debate do Congresso Nacional
Legislação
brasileira sobre o tema deve se alinhar a acordo internacional
Senador
da República (PSDB-SP), ex-governador de São Paulo (2007-2010), ex-prefeito de
São Paulo (2005-2006) e ex-deputado federal (1987-1991); doutor em economia
pela Universidade Cornell (EUA)
Temos
dois tipos básicos de leis: as que geram benefícios para a sociedade no curto e
longo prazos, e as que impõem uma troca (a sociedade opta por perder agora para
ganhar depois). Temos aqui um conflito que exige decisões políticas. Grupos de
interesse perdem privilégios assegurados em lei para aumentar o bem-estar
social, mas aos poucos a nova legislação passa a ser aceita por todos como
legítima.
Conflitos dessa natureza ocorrem com frequência quando se trata de inovação e seu papel econômico e social. Por exemplo, a regulação de combate aos cartéis promove, a um só tempo, crescimento e eficiência. Oligopólios e monopólios tendem a não inovar, e a concorrência promovida pela legislação produz mais eficiência graças ao incentivo à inovação. O fim dos lucros extraordinários permite preços mais baixos, o que incentiva o consumo e, consequentemente, o crescimento econômico.
PSDB isola bolsonaristas do partido e busca pontes com esquerda
Tucanos
trabalham para reforçar viés de oposição e identidade própria para disputa de
2022
João Pedro Pitombo / Folha de S. Paulo
SALVADOR
- Preparando
terreno para a sucessão de Jair Bolsonaro (sem partido), o PSDB
endureceu o discurso de oposição, isolou parlamentares do partido com
ligação mais estreita com o presidente e, nos estados, começa a ensaiar uma
aproximação até com partidos de esquerda.
Os
movimentos têm como objetivo tentar unificar a bancada no Congresso Nacional e
construir um discurso que consolide o partido como uma opção ao Planalto em
meio à polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT).
A
legenda tem como pré-candidatos os governadores João
Doria (SP) e Eduardo
Leite (RS).
Na última quinta-feira (31), ambos assinaram uma carta em defesa da democracia divulgada em conjunto com outros quatro presidenciáveis: Ciro Gomes (PDT), João Amoêdo (Novo), Luiz Henrique Mandetta (DEM) e Luciano Huck (sem partido). A coalizão é vista como embrião de uma possível união para a corrida presidencial.
O
principal movimento dos tucanos em direção à esquerda aconteceu, sem alarde, no
estado do Maranhão: depois de três anos afastado do partido, o vice-governador
Carlos Brandão deixou o Republicanos e retornou ao PSDB, onde deve disputar
a sucessão do governador Flávio Dino (PC do B). A parceria deve reeditar a
aliança local entre comunistas e tucanos de 2014.
Brandão
voltou ao partido na condição de presidente estadual, movimento que acabou
isolando o senador Roberto Rocha (PSDB-MA), um dos mais fiéis aliados de
Bolsonaro no Nordeste. Há pouco mais de um mês, rasgou
elogios ao presidente em uma visita a Alcântara (98 km de São Luís).
O senador já anunciou que deve deixar o PSDB e se filiar ao partido que o presidente Bolsonaro escolher para disputar a sua reeleição. Rocha deve disputar o Governo do Maranhão ou tentar a reeleição ao Senado no próximo ano.
Desaprovação a Bolsonaro é recorde e chega a 60%, diz XP/Ipespe
Na
disputa pela Presidência, em 2022, Bolsonaro e Lula estão tecnicamente
empatados, com o petista numericamente à frente, com 29% das intenções de voto
e o presidente, com 28%
Por Cristiane Agostine e Lilian Venturini / Valor Econômico
SÃO
PAULO - Com o recrudescimento da pandemia no país, a desaprovação à forma como
o presidente Jair Bolsonaro administra o Brasil bateu recorde e chegou a 60% da
população, segundo pesquisa XP/Ipespe divulgada ontem.
A
desaprovação segue a tendência de crescimento. No fim do ano passado, em
dezembro, 46% aprovavam a forma de Bolsonaro governar e 45% reprovavam. A
aprovação caiu nos meses seguintes e chegou a 33% no fim de março. O período
coincide com o fim do auxílio emergencial, em dezembro. O pagamento das
parcelas será retomado hoje.
A rejeição ao governo também segue trajetória ascendente. Em apenas seis meses, o percentual da população que avalia o governo como “ruim ou péssimo” saltou de 31% para 48%. Já a avaliação de que o governo é “ótimo ou bom” foi de 39% para 27%. De acordo com a pesquisa, 24% avaliam a gestão como “regular”.
Lideranças do PSOL dizem que falas de Freixo sobre o centro podem indicar saída do partido
Eles dizem que não há chance de acontecer a aproximação de setores de centro aventada pelo deputado
-
Folha de S. Paulo / Painel
Entrevistas recentes em que o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) falou em aproximar campo progressista e centro e tratou das eleições de 2022 (quando pretende ser candidato ao governo do Rio) foram mal recebidas no PSOL.
Freixo,
recém-eleito líder da minoria na Câmara, falou sobre os temas à Folha e aos jornais O Globo e a O
Estado de S. Paulo.
Membros
de destaque do partido dizem que não há qualquer perspectiva de se aproximar de
partidos de centro, que não há chance de se juntarem a Eduardo Paes e Rodrigo
Maia, ambos do DEM, e que falar em eleição no atual momento da pandemia
sinaliza que Freixo quer deixar mesmo o PSOL —o deputado tem sido especulado
em PDT e PT.
"Estou conversando muito com todos os setores do PSOL. Toda nossa ação no Congresso tem como prioridade a pandemia. Enfrentar Bolsonaro também é enfrentar a pandemia", diz Freixo ao Painel.
PSOL resiste a aliança eleitoral de Freixo com Maia e Paes
Bernardo
Mello e Paulo Cappelli / O Globo
RIO
E BRASÍLIA - Em reunião marcada para a noite desta terça-feira, o diretório
estadual do PSOL no Rio deve se manifestar sobre a possibilidade de formar
aliança em 2022 com nomes do centro, como o ex-presidente da Câmara Rodrigo
Maia (DEM-RJ) e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM). A tendência, segundo
fontes do partido, é de uma sinalização na contramão do acordo desenhado pelo
deputado psolista Marcelo Freixo para concorrer ao governo do estado. Ontem,
Freixo disse ao GLOBO que, além das conversas com siglas da esquerda, vem
tratando da formação de uma frente anti-bolsonarista com Paes e Maia, antigos
adversários do PSOL.
Internamente, membros do PSOL receberam de forma fria a articulação de Freixo e apontaram que o deputado ainda não tem maioria interna para uma aliança fora da esquerda. O deputado federal Glauber Braga (RJ), colega de Freixo na Câmara, criticou a hipótese de uma costura com Paes e Maia e lembrou que o PSOL se coloca até hoje como oposição a ambos na política fluminense. Sem citar o nome de Freixo, Braga disse que a aliança seria “totalmente descabida”.
Presidente do MDB descarta apoio a Bolsonaro ou Lula
Paulo
Cappelli / O Globo
BRASÍLIA —
Com políticos do MDB que defendem uma candidatura do próprio partido à
Presidência, outros que sustentam o apoio a Lula, e ainda com parcela que tem
preferência por Bolsonaro, a legenda inicia de forma mais incisiva, este mês,
discussões para definir qual será a posição oficial da sigla na eleição do ano
que vem. Presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP) afirmou ao GLOBO que, no
momento, o apoio a Lula ou Bolsonaro estão descartados, pois essas hipóteses,
diz, sequer estão sendo aventadas nas conversas envolvendo a cúpula do partido.
Baleia afirma que o consenso é o lançamento de uma candidatura própria. E
acredita que, caso um nome da sigla não venha a se mostrar competitivo, o
melhor caminho para o MDB seria abraçar uma candidatura externa de centro, como
João Doria (PSDB-SP), Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) ou Luciano Huck (sem
partido).
Para Baleia, Doria é nacionalmente reconhecido pelo empenho na vacinação contra a Covid-19, mas precisaria melhorar sua popularidade na própria São Paulo para se tornar viável no ano que vem. Mandetta, por sua vez, é visto pelo dirigente emedebista como um nome que ganhou projeção ao participar dos debates quando era ministro da Saúde e tem a imagem associada à defesa da ciência. Já Huck seria eleitoralmente um bom nome, de fácil assimilação, mas precisaria demonstrar mais interesse no pleito presidencial.
Zuenir Ventura - Ainda pode ser pior
É
a palavra da Ciência. O neurocientista Miguel Nicolelis assim definiu a
responsabilidade pela situação atual da pandemia no Brasil: “Se o país fosse
uma empresa, os executivos seriam demitidos”. Ou até presos, pode-se
acrescentar. A pneumologista Margareth Dalcolmo, que previu “o março mais
triste de nossas vidas”, volta a dizer o mesmo em relação a abril. Também o
Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde, da Universidade de Washington,
registrou entre nós 66 mil óbitos ligados à Covid-19 em março e, em abril,
calcula que serão 100 mil.
Nicolelis demonstra preocupação com o agravamento do colapso funerário, se não forem estabelecidas restrições de trânsito não essencial em aeroportos e estradas, o que poderia fazer parte de um lockdown nacional. “Diante desse cenário, o futuro que nos espera pode ser ainda mais dantesco, uma vez que não existe, por parte do governo federal, nenhuma iniciativa crível de combate real à pandemia.” Ele acredita que o Brasil está se aproximando rapidamente de um “ponto de não retorno”.
Carlos Andreazza - A falsa crise e a crise permanente
Militares
— ao menos os de alta patente — não respaldam o golpismo de Jair Bolsonaro. Ok.
Vá lá. Respaldam, porém, o governo por meio do qual Bolsonaro exercita seu
golpismo. Isso é um fato. Serei generoso a respeito. Admitamos que tenha
havido, entre os generais que embarcaram na canoa do capitão, os que
desconhecessem a figura. (Falei que seria generoso.) Passados dois anos,
contudo: se ficam, endossam. Se ficam, ante tudo quanto há, acumpliciam-se. Se
ficam e se ficaram, os que saíram anteontem, de súbito democratas: cúmplices.
O
governo é militar — e já vai tarde o tempo, um Pazuello de distância, em que se
poderia reverter essa associação. É orgânica, embora tenha como marca a
produção de cloroquina em laboratórios do Exército. São cerca de 6 mil os
militares (quase a metade, da ativa) incorporados à administração federal, em
ministérios, inclusive os palacianos, e estatais. E é com assento neste corpo,
na projeção de força que esta estrutura musculosa insinua, que o presidente da
República fala — e continua a falar —em “meu Exército”.
O governo é militar — e autocrático. O presidente não se tornou este populista-autoritário na semana passada; e foi por ser o que é que atraiu tantos generais-helenos. A dança das cadeiras se dá em torno — e em função — de Bolsonaro. Um general vai; outro vem. As Forças Armadas, o Exército acima de todas, permanecem.
Míriam Leitão - Orçamento é nó também político
O
Orçamento criou um nó cego para o governo. O ministro Paulo Guedes disse que
não há briga. Há sim. Briga entre os poderes e dentro do governo. Entre os
técnicos e a ala política. O Ministério Público de Contas quer que o TCU alerte
o governo preventivamente de que a sanção pode representar crime de
responsabilidade fiscal. O parecer do TCU deve sair amanhã. Paulo Guedes na
live para um banco disse que se o Orçamento for deixado como está as contas
podem ser reprovadas no ano que vem e “alguém” terá a “capacidade de atingir a
candidatura presidencial”. O assunto é técnico mas aperta todos os botões
políticos, do relacionamento com o Congresso e da sustentação do governo.
Quem
olhar o Brasil de fora deve achar que esse é o menor dos problemas. Vários
jornais do mundo têm publicado nos últimos dias matérias mostrando o desempenho
desastroso do governo brasileiro na gestão da crise. Os dados são eloquentes em
provar que o Brasil se tornou em termos de média móvel o pior caso do mundo.
Quem ouvisse o ministro da Economia ontem, falando a banqueiros, poderia considerar que o Brasil está em outro mundo. O Brasil, segundo ele, criou “680 mil empregos formais” e pode ter criado muito mais “do cara que vende churrasquinho e água na praia”. Onde exatamente andam os ministros do governo Bolsonaro? Em que planeta? O ministro Marcelo Queiroga, da Saúde, disse que “a ordem é evitar o lockdown”. Essa solução só deve ser usada quando? O que é mais grave do que ser o país onde mais se morre por Covid-19, não haver mais vagas de UTI, emergências não atenderem em hospitais privados, faltar oxigênio e estar perto do esgotamento dos remédios necessários para intubação?