O Globo
Presidente trabalha mais contra sua
candidatura que a oposição, que erra ao lhe dar colher de chá
O ato golpista com os embaixadores na
segunda-feira e as pesquisas variadas que apontam um estreitamento da diferença
entre Lula e Jair Bolsonaro, tanto nacionalmente quanto nos colégios eleitorais
mais importantes para definir a eleição, mostram que, hoje, o caos provocado
pelo presidente é um entrave maior a suas chances de ser competitivo em outubro
que as estratégias da oposição.
Lula e o PT deram uma enorme colher de chá
para Bolsonaro se recuperar em diferentes momentos. Na fase mais aguda da
pandemia, quando ainda não havia vacina, e o auxílio emergencial deixou de ser
pago, e depois, quando ela saiu de sua fase mais aguda.
Enquanto o presidente armava, ao longo dos
últimos dois anos, o discurso golpista, com a participação ativa de altos
escalões das Forças Armadas, representado pelos dois últimos ministros da
Defesa, Lula e o PT preferiram não lhe dar o combate direto, duro, olho no
olho, na esperança de que ele seria contido e naufragaria sozinho.
A crença segundo a qual a eleição teria tudo para se decidir no primeiro turno — justamente por esse show de horrores que é o governo Bolsonaro, da emergência sanitária à destruição institucional, passando pela devastação ambiental e pelo desmonte da Educação — levou a um clima de “vamos ganhar a eleição, e amanhã a gente vê o estrago”.