Saída de Pagot é decidida apesar da pressão de ministros ligados a Lula, como o secretário-geral da Presidência
A ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, foi encarregada pela presidente Dilma Rousseff de anunciar que o diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, atualmente em férias, não retornará mais ao cargo, em meio a escândalo de corrupção. O vice Michel Temer e ministros ligados ao ex-presidente Lula defendiam a permanência de Pagot. Numa reunião no Planalto, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) tentou introduzir na conversa a necessidade de manter Pagot. Dilma afirmou que, se fosse para traze-lo de volta, teria de reconduzir outros seis que ela tinha demitido e isso não vai acontecer. Dilma orientou ainda o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, a finalizar rapidamente a "limpeza" no setor.
Dilma contraria grupo de Lula, reitera saída de Pagot e pede "limpeza" total
Presidente rechaça abordagem de Gilberto Carvalho e ainda orienta ministro Paulo Passos a concluir, se possível esta semana, afastamento de todos os supostamente envolvidos em denúncias de corrupção na pasta; indicado do PT é o próximo da lista
Tânia Monteiro e Leonencio Nossa / BRASÍLIA e Júlio Castro / FLORIANÓPOLIS
A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, foi encarregada ontem pela presidente Dilma Rousseff de anunciar que o diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, atualmente em férias, não retornará mais ao cargo.
Dilma orientou ainda o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, a concluir, se possível esta semana, a "limpeza" na pasta, com o afastamento do petista Hideraldo Luiz Caron, diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, e de Felipe Sanches, presidente interino da Valec, e outros supostos envolvidos num esquema de corrupção que abala o governo desde o início do mês.
Logo pela manhã, a presidente deu o primeiro recado. Numa reunião no Planalto, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, tentou introduzir na conversa a necessidade da permanência de Pagot. Dilma afirmou que, se fosse para trazê-lo de volta, teria de fazer o mesmo com os outros seis que ela havia demitido, e isso não ocorrerá. Gilberto Carvalho, braço direito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vocalizava, no atual governo, a defesa da permanência de Pagot.
A presidente observou ainda, na conversa com o petista, que Pagot tinha responsabilidade sobre a direção do órgão e, portanto, esse assunto é página virada.
Numa entrevista em Santa Catarina, a ministra Ideli Salvatti ratificou oficialmente a demissão de Pagot. "Tudo indica que sim, até pelas reiteradas vezes que ela (Dilma) tem se comportado dessa forma", afirmou. "Operacionalmente, com alguém de férias, você não pode tomar essa medida." Após a declaração, auxiliares diretos confirmaram que Dilma mantém a decisão de afastar o diretor do Dnit.
Mudanças. Em uma conversa, antes do almoço, com o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, Dilma o avisou que Pagot, mesmo com as pressões e apoio dentro do governo de auxiliares muito próximos a Lula, é carta fora do baralho. Informou também que é preciso promover, o quanto antes, as mudanças necessárias em todos os órgãos da área de transportes.
Ela também deseja que o ministro apresente os novos indicados para substituir os afastados. Dilma quer um olhar com lupa sobre os nomes escolhidos.
Resolução publicada ontem no Diário Oficial da União permite ao ministro Paulo Passos designar o novo diretor interino do Dnit. O objetivo é evitar que o órgão fique acéfalo com o afastamento de José Henrique Sadok de Sá e durante o recesso parlamentar. Os diretores já são escolhidos pelo ministro, mas os nomes precisam ser sabatinados pelo Senado.
Por determinação da presidente, as mudanças já estão sendo articuladas por Passos, que ontem avisou Hideraldo Luiz Caron, diretor de Infraestrutura Rodoviária do Dnit, que se preparasse para deixar o cargo. Caron, militante do PT gaúcho e indicado pelo partido para o ministério, não aceita sair sob suspeição. Mas a decisão de tirá-lo da pasta já havia sido desenhada com o Planalto na sexta-feira e era esperada para o fim de semana.
Nesse acerto com o Planalto, além de Caron também está fora do governo Felipe Sanches, que ocupa interinamente a presidência da Valec e entrou no lugar de José Francisco das Neves, afastado na primeira leva.
As mudanças deverão incluir ainda cargos de diretorias do Ministério dos Transportes. A saída do petista Caron já estava sendo articulada porque o governo entendia que era preciso "fazer um gesto" para os aliados, especialmente ao PR, que viam nele o foco do "fogo amigo" para atacar os demais integrantes da pasta sem que fosse atingido. Com o afastamento de Caron, o governo entende que está dando uma demonstração de "cortar a própria carne".
Apoio. O vice-presidente Michel Temer e ministros ligados a Lula defendiam a permanência de Pagot no cargo. Temer chegou a pedir que Dilma só tomasse uma decisão no início do próximo mês, quando se encerram as férias do diretor do Dnit. Os auxiliares da presidente que defendiam um recuo de Dilma em relação a Pagot chegaram a usar relatórios da Controladoria-Geral da União (CGU) para destacar que o diretor do Dnit não era citado em processos de investigação. Um dos temores é que a saída de Pagot prejudique a aliança do PT com o senador Blairo Maggi (PR) em Mato Grosso.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO