O Globo
Bolsonaro disse no Oriente Médio que a
Amazônia não pega fogo porque é uma floresta úmida. E disse tranquilamente,
apesar de tantas evidências colhidas por satélites e depoimentos visuais.
Em vez de repetir que Bolsonaro é cínico e
mentiroso, continuo tentando entender como essas barbaridades acontecem.
Quando li “Guerra pela eternidade”, de
Benjamin R. Teitelbaum, pensei em articular um roteiro de estudo que pudesse
explicar para mim fenômenos como a vitória de Trump e Bolsonaro, para mencionar
apenas dois nomes.
A impressão que tenho é que a extrema
direita, apesar de ter apenas um milionésimo da capacidade de formulação da
esquerda, compartilha com ela, ao que me parece, duas ilusões essenciais: que a
História tem um sentido e que há atores predestinados a realizá-la. O sentido e
os atores não coincidem, uma vez que uma se dedica a impulsionar o rumo da História;
outra, a neutralizar sua trajetória materialista.
Steve Bannon manifestou sua simpatia pelos
americanos do interior, como se houvesse nas suas convicções e modo de vida
grandes qualidades a valorizar; Olavo de Carvalho, por sua vez, admiração por
fervorosos grupos religiosos.
O ex-chanceler Ernesto Araújo defendia abertamente uma espécie de recomeço universal em que os valores espirituais prevalecessem e via em Trump a encarnação do herói que conduziria essa batalha.