- O Estado de S.Paulo
Se abrirem mão de suas picuinhas fratricidas, as oposições serão úteis ao Brasil
Acaba de sair o Democracy Index 2019, preparado pela revista inglesa The Economist. Não se trata de uma publicação socialista ou “de esquerda”. Ao contrário, o semanário secular é uma das mais sólidas referências liberais no mundo democrático. A Economist, que gosta de se identificar como um “jornal” (um newspaper), era até outro dia a bíblia periódica da política mundial na opinião de muita gente que hoje apoia o governo brasileiro. Essa gente deveria ler outra vez “o” Economist e entender por que, segundo o Democracy Index 2019, a democracia brasileira não vai nada bem.
O levantamento aponta um declínio das garantias democráticas em escala global, mas a situação do nosso país é particularmente preocupante. De 2018 a 2019 o Brasil registrou uma queda de 6,97 para 6,86 na pontuação (a escala vai de 0 a 10) e vem classificado como “democracia falha”. Um dos pontos críticos para essa nota ruim é o tópico “funcionamento do governo”, um dos cinco avaliados pelo ranking. Nesse quesito, a nota brasileira marcou apenas 5,36 pontos.
Não que a gente precise das métricas da Economist para saber que a coisa não anda direito no governo brasileiro. Outro dia, autoridade federal responsável pela área da cultura gravou um vídeo macaqueando um discurso do ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels. Em sua imitação mal feita, o então secretário conclamou os concidadãos a uma estética nacional-populista-patriotária e usou como fundo musical de seu pronunciamento-decalque um trecho da ópera Lohengrin, de Richard Wagner, o predileto de Adolf Hitler. Para ele, o nacionalismo brasileiro dança conforme a linha melódica cultuada pelo III Reich.