Um dos pretendentes à candidatura, tucano diz que escolha tem de ocorrer até
janeiro de 2014, e não em março, como na eleição passada
Wilson Tosta, Marcelo Portela
BELO HORIZONTE - O senador e possível candidato tucano a presidente Aécio
Neves (MG) defendeu ontem que o partido inicie 2014 já com um nome definido
para a corrida ao Palácio do Planalto. Ainda saboreando a reeleição do afilhado
político, o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), o parlamentar assumiu
discurso de postulante à Presidência, embora dissesse que o posto poderá ser
disputado por ele ou "outro companheiro".
Para Aécio, o PSDB não pode fazer como em 2010, quando lançou candidato mais
tarde - no fim do prazo de desincompatibilização, em março. Ressaltou, porém,
que "2014 tem de chegar em 2014" - antes, é preciso discutir um
programa para o País.
"Entre o fim de 2013 e o início de 2014, a oposição tem de apresentar o
seu candidato", afirmou. "Acho que não pode ficar para a véspera da
eleição. Porque aí o conjunto dos partidos já estará definido. Para que (o
PSDB) amanheça 2014 com candidato, janeiro de 2014 deveria ser isso, lançamento
da candidatura."
Para o senador, esse seria um prazo adequado para a apresentação da proposta
tucana para o País e, principalmente, para a costura de alianças em torno do
"projeto alternativo" ao atual governo petista. Em 2010, o presidente
do PSDB, o deputado federal Sérgio Guerra (PE), admitiu que a demora na
definição do nome do partido para a disputa prejudicou a candidatura do então
governador de São Paulo, José Serra.
Embora ainda eufórico com a vitória de Lacerda sobre Patrus Ananias (PT),
candidato apoiado pela presidente Dilma Rousseff, Aécio disse que o episódio
não é algo que vá ser decisivo "lá na frente", ou seja, na próxima
sucessão presidencial. Para ele, se houve nacionalização da campanha em Belo
Horizonte foi por causa da forma como o Palácio do Planalto entrou na disputa.
"Não foi da minha parte", disse o senador, que introduziu o tema do
julgamento do mensalão na campanha e atacou duramente Dilma e o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva.
"Temos de discutir qual projeto de País queremos", disse "Se
cair sobre mim (a candidatura), tudo bem. Se for outro companheiro, tudo
bem", disse o tucano, que recebeu o Estado em seu apartamento na região
centro-sul de Belo Horizonte. Segundo ele, é preciso fazer "dois grandes
favores": um ao Brasil, livrando-o do que chamou de "período de
ineficiência" do governo petista; outro ao PT, mandando-o para "um
estágio na oposição".
"Minha vitória (em 2012) é a vitória de um projeto que está dando certo
em Minas Gerais", afirmou o senador tucano.
Defendendo que o PSDB dedique 2013 às discussões do projeto que apresentará ao
País na corrida presidencial, Aécio já alinhava críticas ao governo Dilma.
"O PT abriu mão de ter um projeto de País para ter um projeto de poder. As
grandes reformas não foram feitas, são as mesmas que precisávamos antes. Os
grandes gargalos não foram enfrentados. E não vai ser a presidente que terá
condições de fazê-lo. A economia não é a mesma", disse ele, criticando
também o baixo crescimento em 2012 e a abertura "envergonhada" do
governo ao setor privado, com problemas como as constantes mudanças no modelo
de concessão dos aeroportos.
O senador disse ainda que o PSDB formulará um projeto e buscará alianças,
mas afirmou que seria "indelicado" chamar agora o governador de
Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), para ir para a oposição. "Eu e Eduardo
somos amigos há 20 anos", afirmou. Uma eventual candidatura do
pernambucano à Presidência, afirmou o tucano, será um problema dos governistas,
não dos oposicionistas.
Pulverização. O parlamentar disse que pretende retomar a discussão da
cláusula de desempenho para partidos que queiram entrar na Câmara para acabar
com a "pulverização" partidária. A regra exigia que, para ter
representação parlamentar, os partidos tivessem ao menos 5% dos votos para a
Câmara dos Deputados, distribuídos por pelo menos nove Estados, cada um com no
mínimo 3% da votação. Foi derrubada pelo Supremo Tribunal Federal, porque foi
feita por lei complementar, o que foi considerado inconstitucional. A ideia de
Aécio é transformá-la em emenda constitucional.
"Os partidos têm de representar um segmento da sociedade",
afirmou, contando que, na campanha, ao gravar depoimentos de apoio para a TV,
às vezes lhe pregavam buttons com números de legendas que não conhecia.
"Hoje, 90% dos partidos representam grupos para vender tempo de televisão
na campanha ou para fazer dois vereadores." Se a cláusula estivesse em
vigor, afirmou, haveria apenas seis partidos representados na Câmara, todos
"grandes". "Tem de ser construída uma maioria. Não vai ter
consenso nunca sobre isso."
Segundo ele, no formato atual, "as grandes questões são impossíveis de
aprovar" e a criação de mais partidos sempre se dá pela migração "da
oposição para o governo" - alusão ao PSD, originado do DEM. "Será que
é bom para a democracia ter oposições tão fragilizadas?", perguntou.
"Tem espaço para retomar a discussão."
Fonte: O Estado de S. Paulo