sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Opinião do dia – Aécio Neves

No entanto, não demorou muito para que a máscara começasse a cair. O Brasil escondido pelo governo na campanha eleitoral está se revelando a cada dia. Alertei durante todo o processo sobre os riscos da inflação. Perante toda a nação, a presidente insistiu em negar o problema evidente da alta de preços, da carestia. O desenrolar dos fatos mostrou quem tinha razão.

Apenas três dias após as eleições – repito: três dias – o Banco Central elevou os juros já escorchantes da nossa economia e não sei se irá parar por aí…

Para a presidente, em sua campanha, elevar os juros era retirar comida do prato dos mais pobres.
Pois bem, se isso era verdade, foi o que ela fez logo que ganhou as eleições: prejudicando os brasileiros mais carentes. E sabia que iria fazer isso!

O governo escondeu o rombo das contas públicas brasileiras, que registraram em setembro o pior resultado da nossa história: R$ 20 bilhões num único mês! Resultado: desde o início do governo Dilma, a dívida pública brasileira já cresceu mais de oito pontos do PIB apenas nesse período.

Escondeu reiteradamente que havia a urgente necessidade de ajustes, mas agora antecipa que eles deverão ser “duríssimos”, no ano que vem, em meio a um ambiente econômico que já não cresce e que a cada dia gera menos empregos.

Para complicar, o déficit comercial só cresce, indicando problemas flagrantes na competitividade da nossa economia, e o rombo nas contas externas aumenta e nossas taxas de investimento e poupança só diminuem. Chegamos a ter a menor taxa de nossa economia em décadas.

A candidata oficial também negou a necessidade de reajustar tarifas públicas e, mais que isso, acusou a minha candidatura de estar preparando-os, caso vencêssemos as eleições.

Pois bem, a presidente já está fazendo o que disse que não faria: na próxima semana, teremos o aumento da gasolina e já nesta semana as tarifas de energia sofrerão reajustes que simplesmente anulam toda a redução obtida com a truculenta intervenção havida no setor elétrico nos últimos dois anos.

Sem falar na ameaça, estampada nos jornais de hoje, de que no verão nos esperam apagões de energia.

E o mais grave, senhoras e senhores, ao omitir dos brasileiros a verdade, e adiar medidas necessárias a conta a ser paga aumenta exatamente para aqueles que menos têm.

Me orgulho de ter feito uma campanha limpa

Mas isso parece não importar aos donos do poder. Ganhamos, devem estar dizendo, e é isso que importa.

Quem falou a verdade foi tachado de pessimista, de ser contra o Brasil, e quantas vezes ouvi essas acusações.

Mas a história rapidamente mostrou quem tinha razão: esconder, camuflar, virou a rotina deste governo.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB, no seu primeiro pronunciamento no Senado, em 5 de novembro de 2014

Gasolina aumenta 3% e inflação pode romper meta

• Petrobras sobe preço na refinaria. nos postos, alta é de 2%. Para analistas, inflação pode romper meta

Ramona Ordoñez, Cássia Almeida, Bruno Rosa, Sergio Fadul e Luiza Damé – O Globo

RIO e BRASÍLIA - Quase um ano após o último reajuste, a Petrobras anunciou no início da noite de ontem aumento de 3% no preço da gasolina e de 5% no diesel nas refinarias, que entrou em vigor a partir de hoje. De acordo com estimativas das distribuidoras e dos revendedores, o impacto na bomba para o consumidor no Rio será em torno de 2% na gasolina e de 3,5% no diesel. O reajuste - que veio antes do esperado pelo mercado e abaixo das expectativas dos analistas - aumenta o risco, na opinião de especialistas, de a inflação estourar o teto da meta no ano, de 6,5%.

Paulo Miranda, presidente da Fecombustíveis, que reúne os postos, disse que para o consumidor o aumento no litro da gasolina deve variar entre R$ 0,05 e R$ 0,06. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço médio da gasolina no município do Rio é de R$ 3,098 por litro. Com isso, o valor subirá para R$ 3,148 a R$ 3,158 por litro. Segundo as distribuidoras, o reajuste deverá ser imediato.

- É uma estimativa caso as distribuidoras repassem o valor integral para os postos - disse Miranda.

Na terça-feira, na reunião do Conselho de Administração, presidido pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, o governo já tinha dado aval para a estatal reajustar os preços de combustíveis. Na ocasião, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou que "reajuste de gasolina não se anuncia. Pratica-se".

Impacto de 0,1 ponto no IPCA
A presidente Dilma Rousseff, em entrevista aos principais jornais do país, disse ontem que foi o conselho da Petrobras que definiu o reajuste.

- Eles (o conselho da Petrobras) definiram o reajuste. Esse reajuste é para o passado, para parte do passado. Porque vai ter um período agora que vai ser assim, preço internacional aqui, preço nosso lá em cima. Eu passei ano a ano com essas variações, às vezes está para cima, às vezes está para baixo. Eu só não acho que é correto querer atrelar o preço do petróleo no mercado internacional ao preço dos combustíveis no Brasil - disse Dilma.

Mesmo com o reajuste, a Petrobras não conseguirá recuperar toda a perda acumulada no ano com a defasagem de preços. O último aumento nos combustíveis ocorreu no dia 30 de novembro de 2013, quando houve alta de 4% na gasolina e de 8% no diesel. Para o especialista Adriano Pires, de janeiro a agosto, a estatal acumulou perdas de R$ 2,4 bilhões. A partir de setembro, com a queda no preço do petróleo no mercado internacional, a defasagem foi reduzida e atualmente os preços estão alinhados com os do exterior:

- Para recuperar as perdas no ano, seria necessário reajuste de 20%. Esse reajuste só faz cócegas, não resolve os problemas da Petrobras e vai impactar na inflação.

A inflação corre o risco de estourar a meta fixada pelo governo para este ano. O reajuste de 3% na gasolina pode ter impacto de até 0,1 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A variação parece pequeno, mas é suficiente para o índice fechar em 6,55%.

- Estou prevendo que a inflação feche 2014 ente 6,3% e 6,4%, sem reajuste da gasolina. Com o reajuste, passará para entre 6,4% e 6,5%. Qualquer aumento acima do esperado nos alimentos, com a alta do dólar, fará a inflação estourar o teto da meta - disse Luis Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil.

Expectativa de novos reajustes
Para Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, o reajuste de 3% na refinaria pode ser integralmente repassados ao consumidor. Foi o que aconteceu em dezembro do ano passado. A Petrobras aumentou o preço do litro do combustível em 4% e a inflação captou 4,04%.

- Minha previsão é de 6,4%. Com esse reajuste, pode ficar em 6,52%. Mas vai depender da taxa de inflação que o IBGE divulgar (hoje). Se vier 0,46%, a chance de a meta estourar é maior. Se vier perto de 0,40%, pode ser que não.

Para Leal, o caixa da Petrobras se beneficiará mais do aumento de 5% no diesel, que tem impacto desprezível na inflação. Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, diz que serão necessários novos aumentos da gasolina em 2015. Ele vê risco pequeno de estouro da meta:

- A economia está fraca e o Banco Central deve continuar a subir os juros diante do dólar mais alto. Como a moeda não deve ficar abaixo de 2,40%, a Petrobras precisará subir mais a gasolina

Assim, David Zylbersztajn, ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), avalia que pode ser anunciado aumento maior de combustíveis neste ano, após o período de coleta do IPCA. Com isso, o governo conseguiria dosar o impacto para a inflação deste ano e de 2015:

- O reajuste está voltado mais para minimizar o impacto no IPCA do que para recuperar o caixa da Petrobras.

O reajuste, anunciado após o fechamento dos mercados, fez as ADRs da estatal em Nova York avançaram 1,12%. No horário regular, fecharam em baixa de 3,85%. No Brasil, as ações caíram 2,36%.

Gasolina sobe hoje 3% nas refinarias

• Petrobras também anuncia reajuste de 5% para o diesel; sindicato dos postos espera aumento menor na bomba

• Alta não é suficiente para estatal repor perdas com defasagem, mas deve evitar que inflação estoure a meta

Samantha Lima, Joana Cunha, Machado da Costa e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

RIO, SÃO PAULO e BRASÍLIA - Onze dias após as eleições, a Petrobras anunciou um reajuste de 3% no preço da gasolina e de 5% no do diesel nas refinarias. O aumento está em vigor desde a 0h desta sexta-feira (7).

O aumento vinha sendo defendido por especialistas do setor havia vários meses e chegou a ser tema de campanha --até recentemente, a Petrobras vendia no mercado interno combustível por preço menor que o pago pelo produto importado.

A alta, no entanto, não deve ser suficiente para a Petrobras recuperar o prejuízo dos últimos anos com a defasagem dos preços --estimado em R$ 60 bilhões, segundo a corretora Gradual.

O reajuste de ontem fora autorizado pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) em reunião do Conselho de Administração da empresa, na terça. Mantega é presidente do conselho. Na ocasião, não houve acerto sobre o preço.

A Folha apurou que a presidente da Petrobras, Graça Foster, havia feito, no encontro, uma apresentação que trazia o percentual de 8%.

Segundo o governo, o reajuste menor --chamado internamente de "simbólico"-- deve evitar que a inflação estoure o teto da meta em 2014.

A consultoria Gradual estima que o reajuste terá um impacto de 0,11 ponto percentual na inflação do ano e passou a prever um IPCA de 6,46% em 2014 --índice próximo do teto da meta, de 6,5%.

O aumento, segundo interlocutores do governo, também serve para sinalizar ao mercado um desejo de fortalecer a Petrobras e praticar uma política de preços mais realista no segundo mandato.

Além das dificuldades de caixa provocadas pela defasagem de preços, a Petrobras tem sua imagem prejudicada pelo escândalo revelado pela Operação Lavo Jato.

As ações preferenciais, as mais negociadas, acumulam queda de 17,7% no ano.

Segundo Adriano Pires, presidente do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), para a Petrobras reverter o prejuízo acumulado ao longo deste ano com a defasagem de preços, os reajustes precisariam ter sido de 20% para a gasolina e para o diesel.

Nas últimas semanas, com a queda do petróleo no mercado internacional, a defasagem foi zerada.

De acordo com Pires, após o reajuste, a gasolina deve ficar 3% mais cara no Brasil do que no golfo americano, enquanto o diesel fica com preço equivalente.

Na bomba
O preço nas bombas, que é livre, deverá ser reajusta- do à medida que novos estoques de combustível cheguem aos postos.

O presidente do Sincopetro (sindicato dos postos), José Alberto Gouveia, estima que o repasse para o consumidor fique "um pouco abaixo" do reajuste aplicado nas refinarias.

"No aumento anterior, que foi de 4% [em 29 de novembro de 2013], o repasse na bomba foi de cerca de 3%."

Para analistas, reajuste não recupera perdas

• Segundo cálculos de Adriano Pires, do CBIE, para cobrir os prejuízos do passado da Petrobrás, aumento teria de ficar em torno de 20%

Fernanda Nunes, Antonio Pita, Mariana Sallowicz - O Estado de S. Paulo

RIO - O reajuste de 3% no preço da gasolina não será suficiente para recompor as perdas da receita da Petrobrás este ano, segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, habitual crítico do governo.

"O Brasil está indo contra a lógica do mercado internacional. É um sinal econômico ruim", afirmou. "Foi um aumento muito pequeno. Se o objetivo fosse cobrir os preços do passado, teria de aumentar em torno de 20%."

Ainda que tímido, o efeito do reajuste concedido pela Petrobrás só aparecerá no balanço da petroleira no quarto trimestre deste ano. O mesmo deve acontecer com a queda do preço do petróleo no mercado internacional iniciada em outubro deste ano, que também deve ajudar a estatal a obter melhores resultados financeiros no fechamento do ano.

A estratégia de reajustes da estatal também foi criticada pelo presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, André Rocha. Segundo ele, o aumento mais forte do diesel, de 5%, vai acabar pressionando os custos do setor de etanol.

"O aumento não corrige as distorções da Petrobrás. A alta do diesel implica em um aumento muito grande do custo do setor, que vai ser maior do que qualquer ganho de competitividade com esse pequeno aumento da gasolina", disse Rocha.

Na avaliação dele, a expectativa dos produtores de etanol era de que houvesse um aumento maior da gasolina e menor no diesel. Ainda segundo Rocha, é controversa a avaliação de que o impacto na inflação é maior com a alta na gasolina do que a do diesel, o que justificaria um reajuste maior para o diesel.

"Essas fórmulas deveriam ser revistas, porque o diesel impacta nos custos de produção e cria um efeito cascata que pode não ter impacto num primeiro momento, mas que chegará ao consumidor final", afirmou.

Margem. A defasagem no preço dos combustíveis tem pressionado os resultados da Petrobrás. Até a semana passada sem aval do governo para elevar os preços, a petroleira viu sua margem operacional encolher no primeiro semestre de 11% para 10%, de acordo com um estudo elaborado pelo professor do Insper e consultor da M2M, Eric Barreto.

No mesmo período, a receita caiu 1%, enquanto o custo operacional aumentou 2%. Como consequência, a rentabilidade da empresa passou de 5% para 4% em relação ao ano passado, um porcentual muito abaixo da média das grandes petroleiras, que gira na casa dos 13%.

Nos últimos anos, o principal motivo para que a Petrobrás tivesse um desempenho abaixo das suas concorrentes foi a defasagem dos preços internos em relação à cotação internacional. Uma diferença que somou 20% na maior parte do primeiro semestre de 2014.

No período, as margens da área de abastecimento da companhia, que inclui o refino e o comércio de derivados de petróleo, amargaram uma queda de 7%. Cifra que significa que a estatal gastou mais para produzir os combustíveis do que lucrou com a sua venda.

O grande desafio da Petrobrás hoje é reduzir o seu endividamento. A empresa tem o objetivo de baixar o seu nível de alavancagem, que mede a capacidade de pagar suas dívidas, dos atuais 45% para 35%.

Atualmente, no entanto, mais da metade dos ativos da empresa estão comprometidos com dívidas. A dependência financeira, que contabiliza a relação entre ativo e passivo, aumenta a cada ano, tendo passado de 45%, em 2011, para 51%, em 2012, 54% no ano passado e 55% neste ano. / Colaborou Gustavo Porto

Marina diz que governo passa por 'dose de realidade' após marketing eleitoral

• Ex-ministra derrotada nas eleições presidenciais atacou medidas do governo adotadas após o período eleitoral e falou sobre aumento da miséria

Luiz Felipe Barbiéri - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva criticou, em artigo publicado em seu blog nesta quinta-feira, 6, a demora na veiculação de estatísticas negativas ao governo e disse que, com a diminuição da propaganda eleitoral, a dose de realidade aumenta. Ela ainda citou a adoção de medidas impopulares pela presidente Dilma Rousseff, como o reajuste nos preços da gasolina e do diesel, além da alta dos juros.

No artigo intitulado "Quando a realidade desmonta o marketing", Marina condena o adiamento na divulgação de dados sensíveis ao Planalto. A ex-ministra lembra o aumento no número de pessoas que vivem na faixa de extrema pobreza, de acordo com levantamento divulgado na quarta pelo Ipea, e afirma que a inflação é que prejudica os mais carentes.

"Analistas e técnicos dizem que os efeitos nocivos da inflação voltam a fazer vítimas na camada mais desprotegida da sociedade brasileira. Em sua campanha, a presidente candidata negou com veemência que o aumento dos preços colocaria sob risco as conquistas de melhoria de renda dos mais pobres."

Segundo Marina, "a tática de esconder maus resultados também foi seguida pela Receita Federal", que segurou a publicação dos números referentes à arrecadação do mês de setembro - 4,42% inferior a agosto - para depois do pleito.

"Ainda há doses de realidade guardadas. A sociedade espera a palavra das autoridades governamentais sobre o desmatamento da Amazônia e o desempenho dos alunos da rede pública em português e matemática", diz o artigo. Sobre este último, Marina acusa a Casa Civil, chefiada por Aloizio Mercadante, ex-ministro da Educação, de guardar nas gavetas do Planalto o relatório sobre o desempenho dos estudantes no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).

"Essa forças políticas terão de explicar às brasileiras e aos brasileiros quais as saídas para impedir a avalanche de retrocessos que se observa na economia e na gestão pública (...) e, agora, como se não bastasse, retrocesso até na área em que se diziam imbatíveis, com o aumento da degradação social."

Para tucanos alta da gasolina é estelionato eleitoral

Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

O reajuste no preço da gasolina, anunciado nesta quinta-feira, 6, pela Petrobras, é na avaliação de líderes do PSDB, mais um item no que eles classificam de "estelionato eleitoral" praticado pelo governo petista. Segundo o partido, os reajustes nos preços dos combustíveis e da energia elétrica, além do aumento de juros, foram feitos logo após a reeleição da petista, em contradição ao discurso que ela fez durante a campanha presidencial. Na avaliação do líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Antonio Imbassahy (BA), esses são alguns itens do pacote de maldades que começou a ser entregue aos brasileiros logo após as eleições.

Segundo o líder, três dias após ser eleita, a presidente Dilma mandou subir os juros, enquanto dizia na campanha que isso não iria acontecer. "Ela mentiu para os brasileiros, agora caiu a máscara", emendou. E, na mesma linha, disse que ela autorizou o reajuste da gasolina, em contradição ao que dizia durante a corrida presidencial. "Quem pode acreditar (na Dilma)?", questionou, emendando: "Essa é a presidente que fez uma campanha há algumas semanas e agora anuncia medidas que dizia repudiar. É por isso que ela perdeu a credibilidade e, quando isso acontece, a situação tende a piorar."

O deputado Otavio Leite (PSDB-RJ) citou o aumento das tarifas de energia. Segundo ele, os cariocas terão aumento em suas contas de 17,75% a partir de amanhã e para os consumidores industriais o aumento poderá chegar a 20,25%. Para os tucanos, aumento como este anula o desconto na conta de luz concedido pelo governo federal em 2012. Para o parlamentar tucano, "a falta de honestidade em deixar claro que a luz iria aumentar é um verdadeiro estelionato eleitoral".

PSDB critica Dilma por aumento da gasolina

Daniel Galvão – O Estado de S. Paulo

O Diretório Nacional do PSDB afirmou nesta quinta-feira, em postagem no Twitter, que o governo autorizou o aumento da gasolina e do diesel, enquanto a presidente reeleita, Dilma Rousseff, está "no Palácio da Alvorada comemorando a vitória com petistas".

"Urgente: Governo autoriza aumento da gasolina e do diesel. Sabe onde está Dilma? No Palácio da Alvorada comemorando a vitória com petistas", postou o partido, em sua conta. A Petrobras anunciou hoje que reajustará o preço de venda da gasolina A em 3% e do diesel em 5% nas refinarias, a partir da 0h de amanhã (7).

Já o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, afirmou, também no Twitter, que a Petrobras anunciou o aumento na gasolina e no diesel que a presidente reeleita "represou pela eleição". "Aumento que Dilma represou pela eleição! Anunciado aumento de 3% no preço da gasolina e de 5% no diesel", postou Freire, logo após a estatal fazer o anúncio.

Oposição acusa presidente de mudar discurso

• Para líderes, Dilma contradiz o que defendeu durante a campanha eleitoral

Maria Lima e Fernanda Krakovics - O Globo

BRASÍLIA - Os líderes da oposição ironizaram ontem declarações da presidente Dilma Rousseff, especialmente o fato de ter dito que, embora não vá cortar ministérios, seu governo terá limites fiscais e irá olhar com lupa onde pode haver redução ou corte de gastos. Tucanos e democratas disseram que ela está praticando "estelionato eleitoral" e que parece ter acordado de repente para o que não foi feito ao longo de seu mandato.

- Somando tudo que aconteceu depois da eleição e o que a presidente Dilma disse nessa entrevista, a impressão que se tem é que ela estava em estado de coma. Três dias depois da eleição, o Banco Central descobre que houve um aumento descontrolado de gastos e é preciso aumentar juros para conter a inflação. Só depois da eleição se descobre que em um mês houve um rombo de R$20 bilhões, o maior déficit da história nas contas públicas. Sem contar que quem demitiu o Sérgio Machado da Transpetro, denunciado no esquema do petrolão, foi a PricewaterhouseCoopers e a Bolsa de Valores de Nova York. Se ela acordou mesmo do coma, só vamos saber lá na frente - disse o ex-governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB).

Marketing se desmonta
O líder do PSB, deputado Beto Albuquerque (RS), afirmou que a presidente Dilma não pode mais se esconder atrás do marketing do publicitário João Santana, e que as "mentiras" ditas durante a campanha serão agora desmascaradas.

- A Dilma não tem mais o João Santana, que governou a campanha e suas ideias, suas palavras e as mentiras que desferiu contra os outros. Sem ele, Dilma começa a ter que falar e aparecer como é, e reconhecer a realidade do governo fora da TV. Vai ter que fazer tudo ao contrário do que disse na campanha - criticou Albuquerque.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), disse que ou Dilma muda a forma de ser autossuficiente, "prisioneira do petismo", ou haverá um colapso também na arrecadação que vai acabar de travar o governo.

- Com o corte de gastos no plano das conjecturas líricas que ela anuncia, é esperar a criação de mais impostos. Aí morre qualquer proposta de diálogo - disse Agripino.

- Agora a presidente começou a desmontar o marketing do PT. Isso é inaceitável. É um atentado a inteligência do povo brasileiro - completou o líder do DEM na Câmara, deputado Mendonça Filho (PE).

Já o presidente do PT, Rui Falcão, minimizou a declaração da presidente de que não representa o partido na Presidência, e sim todo o país.

- Ela é presidente do país todo mesmo - disse Falcão na chegada para uma confraternização com Dilma, no Palácio da Alvorada. 

Aécio começa por SP série de viagens pelos estados

• Festa tucana, marcada para a próxima sexta, reunirá Alckmin, Serra e FH

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA - O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), vai começar por São Paulo - estado onde teve a maior votação - uma série de viagens aos estados para agradecer os 51 milhões de votos recebidos na disputa presidencial. O ato, marcado para a próxima sexta-feira, às 11h, está sendo organizado pela cúpula tucana paulista: o governador Geraldo Alckmin, seu braço-direito, Edison Aparecido, e o ex-coordenador da campanha em São Paulo, Alberto Goldman.

Estão sendo convidados prefeitos, parlamentares, integrantes do Diretório Nacional e representantes dos partidos aliados. Como o candidato a vice e líder no Senado, Aloysio Nunes Ferreira, e o senador eleito José Serra estavam no exterior e não puderam estar no ato em Brasília, eles participarão do evento paulista, que deverá contar ainda com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

- Falei com o Aécio e disse: você precisa vir logo a São Paulo. Ele me deu o sinal verde para organizar para a próxima sexta-feira. Já acertei com Geraldo (Alckmin), e Goldman vai acertar com Fernando Henrique - disse Edison Aparecido.

Conexão com o eleitor
Como presidente do partido, Aécio deverá participar de eventos em outros estados para manter a conexão com os eleitores.

- Será um ato político em que o Aécio vai repetir o discurso feito em Brasília e reafirmar sua liderança no estado, onde teve sua maior votação. Como presidente do PSDB, ele vai visitar posteriormente todos os estados - disse Goldman.

- Permitam-me os colegas do PSDB e da nossa coligação, mas Santa Catarina vai ter que ser o primeiro que V. Exª visitará como grande líder das oposições e representante dos 51 milhões de brasileiros que agora têm voz - cobrou o senador Paulo Bauer (PSDB-SC), durante o discurso no Senado.

Lula e senadores discutem como 'frear' oposição

• Encontro de petistas foi realizado a pedido de ex-presidente

- O Globo

SÃO PAULO - Um dia após o senador Aécio Neves (PSDB), na sua volta ao Congresso, fazer discurso firme de oposição contra o governo, o ex-presidente Lula reuniu-se ontem com 15 senadores petistas, em São Paulo. O grupo discutiu estratégias para enfrentar a mobilização do senador tucano, que se articula para ser o líder da oposição no Senado.

A reunião foi convocada a pedido do ex-presidente, e apenas Jorge Viana, por motivo de viagem, não esteve presente. Além dos 12 senadores atuais, os eleitos Paulo Rocha (Pará), Fátima Bezerra (Rio Grande do Norte) e Maria Regina Souza (suplente de Wellington Dias, eleito governador do Piauí) também participaram do encontro com Lula.

O senador Humberto Costa (PE), líder do PT, foi escalado como porta-voz do encontro e disse que petistas precisam se preparar para o enfrentamento com a oposição.

A aflição oculta de Dilma - O Estado de S. Paulo / Editorial

A presidente Dilma Rousseff agarrou-se ao que seria a "consciência democrática" para dar um verniz de grandeza política à hipocrisia de propor o desmonte dos palanques em obediência ao imperativo de "saber ganhar e saber perder". A sua invocação, em um encontro com a cúpula do PSD de Gilberto Kassab - candidato a ministro das Cidades em troca de seu apoio ao Planalto -, não passa de uma tentativa esfiapada de ocultar o que de fato a aflige. Apesar da soberba e do senso de onipotência indissociáveis de sua personalidade, Dilma sabe que passou raspando pelo escrutínio popular para a conquista do novo mandato. O seu triunfo não foi político, mas estritamente eleitoral, obtido a torpezas, como a de infundir na população mais desvalida o temor de que uma eventual vitória do tucano Aécio Neves seria o fim do Bolsa Família.

Ela há de saber também que o enfraquecimento do PT, evidenciado na perda de 18 das suas 88 cadeiras na Câmara dos Deputados, contrastando com a ampliação da bancada do PSDB de 44 para 54 membros e incentivando as ambições hegemônicas do PMDB na Casa, a deixará ainda mais vulnerável do que neste último ano do atual mandato. Sinal dos tempos também, setores da base aliada parecem propensos a formar um bloco "independente", cuja lealdade ao governo, portanto, seria medida caso a caso. Políticos profissionais que são, não ignoram que uma coisa foi o desfecho aritmético da disputa pelo poder; outra é a persistência da rejeição a Dilma na opinião pública não petista. Eis o cenário que cerca desde já a segunda posse da presidente. E é em razão desse panorama adverso que ela se põe a desfilar como porta-bandeira da conciliação. "Se o nosso ritmo (sic) era de mostrar as diferenças, nós agora temos que fazer a trajetória inversa", apelou.

Ela seria mais convincente se tivesse a decência de pedir desculpas pela virulência com que o PT derrotado em 1998 tratou o governo Fernando Henrique. Não só aos berros de "Fora FHC", como se esgoelava, entre tantos outros companheiros, o hoje "moderado" governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (que, aliás, não conseguiu se reeleger). Mas também mobilizando os sindicatos do funcionalismo federal dominados pela CUT para afogar o governo em greves. À época, Lula teria preferido perder a mobilidade a descer dos palanques. Presidente, continuou aboletado neles durante oito anos, enquanto transpirava "a pretensão de ser o último grito em matéria de visão política", o que a oportunista Dilma hoje rejeita. O seu mentor, além disso, ficou afônico de tanto se queixar da "herança maldita" que teria recebido. Sem querer, a apadrinhada faz lembrar a expressão: "O passado nunca está morto. Nem sequer passado é".

E o que tem sido este primeiro período dilmista, se não a antítese do diálogo que deu de pregar - repetiu o termo cinco vezes no improviso ao lado de Kassab e sua turma. Nenhum setor da sociedade brasileira, nenhuma força política foi objeto natural dessa interlocução, uma conduta costumeira dos dois governantes tão diversos entre si que a antecederam. E quando, a insistentes rogos de Lula, os empresários foram autorizados a ascender ao santuário planaltino, dali saíram, como se diz, roucos de tanto ouvir. Sobram testemunhos disso. A solidão autossuficiente é o abrigo de Dilma. Segundo um ex-colaborador, citado pela revista Piauí, seria a marca psíquica que lhe deixou a clandestinidade de integrante de organizações de luta armada contra a ditadura militar. De todo modo, nada indica, além das palavras que já se desgastam de tanto ser repetidas, que Dilma II será diferente de Dilma I.

O que justifica inteiramente o ceticismo dos políticos, à semelhança de outros, diante da metamorfose prometida. Ainda ontem, este jornal noticiou que Lula está empenhado em construir uma firme base de apoio à afilhada no Senado. Ele teme que, se Dilma persistir no seu olímpico isolamento, o provável líder da frente de oposição à petista, Aécio Neves, atrairá senadores de partidos nominalmente alinhados com o governo, mas com sintomas de fraturas internas, como o PMDB, o PP e o PDT. O problema é que eles contam nos dedos as vezes em que Dilma se dignou a recebê-los.

Dilma mudando – Folha de S. Paulo / Editorial

• Se eleitorado dividido ao meio recomenda moderação ao novo governo, estado crítico da economia obriga a adotar orientação diversa da atual

As manifestações em favor do impeachment e até da deposição da presidente Dilma Rousseff, embora toleráveis em respeito à liberdade de expressão, não passam de desvario político. Restringem-se a grupelhos isolados, em mais uma evidência de que o respeito às regras do jogo democrático se enraizou solidamente no Brasil.

Como costuma acontecer com governantes vitoriosos por margem estreita de votos, tudo indica que a presidente reeleita tenderá à moderação. Cabe aqui a conhecida analogia entre o poder e o violino, instrumento que se usa tomar com a mão esquerda, mas se toca com a direita.

Que quase metade do eleitorado tenha condenado sua administração já seria motivo bastante para fazê-la esquecer os arroubos da campanha. Mas há razões mais prementes, traduzidas na notória deterioração da economia.

No afã de sustentar a bonança que beneficiou o segundo mandato de seu antecessor, a presidente meteu os pés pelas mãos. Adotou um intervencionismo errático que gerou distorções, afugentou investimentos e solapou a confiança empresarial. Colheu inflação alta (média anual estimada de 6,2% no quadriênio) e crescimento raquítico (de 1,6%).

É hora de mudar, como apregoaram todos os candidatos. Passo decisivo será a indicação, para a chefia da futura equipe econômica, de um nome que imponha respeito ao mercado, anunciada para a segunda metade deste mês.

Ontem mesmo a mandatária disse em entrevista que é preciso "apertar o controle da inflação" e que "sempre haverá gastos para cortar", dando indícios de uma lucidez que vinha lhe faltando durante o primeiro mandato.

No flanco político, os problemas não serão menores. O governo terá de se haver com sua imensa base parlamentar, sempre sequiosa por cargos e verbas, sempre disposta a chantageá-lo quando as dificuldades aumentam.

Nesse capítulo, a melhor política será o rigor republicano que a presidente encetou no início do primeiro governo, para depois abandonar. Uma real disposição de contribuir para esclarecer e punir as gravíssimas evidências de corrupção na Petrobras emitiria a mensagem correta, ainda que ao preço de atingir as entranhas do próprio governo.

Quanto à oposição, derrotada mas fortalecida nas urnas, espera-se que evite tanto a leniência que a desfigurou nos últimos anos, como a tentação de enveredar por uma diretriz de "quanto pior, melhor". Afinal, competirá a ela fiscalizar e criticar a implantação de um programa de governo que, ironicamente, será em grande parte o seu.

PSDB rejeita acordo para evitar convocação de políticos à CPI

• Irritado, Aécio diz que partido é contra qualquer entrave às investigações

Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - O anúncio de um acordo entre parlamentares da base e da oposição para adiar a convocação, na CPI mista da Petrobras, de políticos citados no esquema de corrupção da estatal provocou ontem reação da cúpula do PSDB. O partido divulgou nota negando tratativas para abafar as investigações. Foi grande a irritação do senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato derrotado no segundo turno da eleição presidencial, e que, na sua volta ao Senado, discursou defendendo o aprofundamento das investigações e a punição dos envolvidos no caso.

"O PSDB não pactua com qualquer tipo de acordo que impeça o avanço das investigações da CPMI da Petrobras. Lutamos pela instalação da CPMI. Temos de ir a fundo na apuração do chamado "petrolão" na responsabilização de todos que cometeram eventuais crimes, independentemente da filiação partidária. Essa é a posição inarredável do PSDB", diz nota assinada por Aécio Neves.

Logo pela manhã, Aécio telefonou ao deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que dera entrevista relatando o acordo de procedimento feito com petistas na CPI. Aécio pediu explicações sobre a polêmica e ouviu de Sampaio que o PT teria tentado criar um "factoide" para "igualar" a oposição aos representantes da base. O deputado alegou que houve um entendimento de que os depoimentos de parlamentares citados no esquema seriam inócuos neste momento, porque a CPI ainda não teve acesso ao conteúdo da delação premiada do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Vaccari e Meirelles não foram chamados
Como a expectativa de Sampaio é que o Supremo Tribunal Federal (STF) entregue os documentos à CPI em breve, a estratégia da oposição é deixar para ouvir esses políticos em uma nova CPI, a ser instalada no próximo ano. O acordo acabou adiando votação de requerimentos para convocar o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, e também o empresário Leonardo Meirelles, que denunciou envolvimento de tucanos com o doleiro Youssef.

Aécio decidiu entrar em campo depois da notícia dada pelo relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), de que havia um acordo para blindar a convocação de políticos. A interlocutores, o senador tucano disse considerar um "desserviço" o clima gerado sobre a CPI, inverso ao que tentou criar com seu primeiro discurso na volta ao Senado. Aécio também afirmou haver uma diferença absoluta entre acordo de procedimentos, para ouvir outras pessoas e obter subsídios para a oitiva dos políticos, e acordo para evitar a convocação de políticos. E voltou a afirmar que nem ele nem os partidos que integram a oposição autorizaram qualquer acordo para evitar a convocação de políticos ou qualquer envolvido no "petrolão".

Aécio também acionou o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), para que comandasse uma reação ampla. A nota assinada pelas lideranças da oposição (PSDB, DEM, Solidariedade e PPS) saiu à tarde. No texto, os deputados dizem que "rechaçam veementemente o suposto acordo" anunciado por Marco Maia e dizem que Carlos Sampaio "classifica como "vergonhosa" a citação de seu nome como partícipe de um acordo para proteger quem quer que seja, negando qualquer articulação para beneficiar agentes políticos". "Não compactuamos e nem participaremos de qualquer acordo que resulte em impunidade. É inaceitável que os desvios já comprovados na maior estatal brasileira sejam ocultados por interesses escusos, especialmente político-partidários".

Acordo em CPI provoca crise interna no PSDB

• Aécio solta nota para desautorizar acerto para não ouvir políticos, ocorrido no dia em que cobrou investigações sobre caso Petrobrás

Isadora Peron, Ricardo Brito e Lilian Venturini - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O acordo entre PT e PSDB na quarta-feira para evitar a convocação de políticos na CPI Mista da Petrobrás provocou uma crise entre os tucanos. O senador e presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, desautorizou a negociação e divulgou nota nesta quinta-feira, 6, negando que o partido tivesse feito um acerto nesse sentido.

“O PSDB não pactua com qualquer tipo de acordo que impeça o avanço das investigações da CPMI da Petrobrás”, afirma o texto. “Lutamos pela instalação da CPMI. Temos de ir a fundo na apuração do chamado ‘petrolão’ e na responsabilização de todos que cometeram eventuais crimes, independentemente da filiação partidária.”

Na sessão da CPI, parlamentares da base e da oposição decidiram que não votariam requerimentos para ouvir políticos citados nas delações do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. No mesmo dia, Aécio havia feito seu primeiro discurso no Senado após as eleições, no qual condicionou a abertura do diálogo com a presidente Dilma Rousseff às investigações das denúncias.

O acordo na CPI beneficia os dois partidos: o PT evita os depoimentos do tesoureiro João Vaccari Neto e da senadora Gleisi Hoffman (PR) e o PSDB, o de Leonardo Meirelles, testa de ferro de Youssef que disse à Justiça Federal que o doleiro também atuava para os tucanos.

Nova CPI. Em entrevista à Rádio Estadão, Aécio afirmou que vai propor uma nova CPI mista da Petrobrás em 2015, caso a comissão atual se encerre sem resultados claros. O senador negou responsabilidade pelo acordo na comissão e alegou que o PSDB tem uma “minoria pouco expressiva na CPI mista”.

“O governo é que define as oitivas. Eu não participei dessas reuniões. Mas, no que depender de mim, se não for possível chamar (os políticos citados nas delações) ainda este ano, que isso seja feito a partir do início do ano que vem”, disse. Questionado se está preocupado com o fato de a investigação poder atingir também ao seu partido, Aécio defendeu que é preciso “investigar todo mundo”.

Diante da repercussão do caso, os líderes dos partidos da oposição na Câmara também emitiram nota negando o acordo: “Reafirmamos nossa disposição de ir até o fim em busca de respostas e dos responsáveis pelos desvios, enquanto o interesse do governo é confundir a opinião pública e misturar inocentes com culpados”. O texto é assinado por deputados do PSDB, DEM, PPS e Solidariedade.

O deputado tucano Carlos Sampaio, que representou o PSDB na reunião de quarta-feira, disse que houve “má fé” por parte do relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS) ao dizer ter havido um acordo no encontro.

Dilma aponta monopólios na mídia como alvo

- Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O governo federal quer discutir a regulação econômica da mídia provavelmente a partir do segundo semestre de 2015, mas não apresentará um projeto pronto para o Congresso.

Segundo a presidente Dilma Rousseff, apesar da pressão do PT neste sentido, o ideal é promover "ampla discussão" com a sociedade por meio de consultas públicas, inclusive pela internet, e reuniões.

Ela voltou a negar qualquer intenção de regular conteúdo e pela primeira vez avançou no que entende por regulação econômica da mídia. "Oligopólio e monopólio. Por que qualquer setor tem regulações e a mídia não pode ter?"

Dilma citou a regulação existente no Reino Unido, que muitos acham draconiana: "Do meu ponto de vista, uma das mais duras que tem. Não quero para nós uma regulação tal qual a inglesa ou a americana".

Ela citou o escândalo do "News of the World", tabloide britânico que fechou após seus profissionais se envolverem com grampos ilegais. Após o escândalo, em 2011, uma lei ampliou os poderes do órgão de regulação já existente e criou multas pesadas para condutas ilícitas em meios de comunicação.

Perguntada sobre o conceito de monopólio incluir a chamada propriedade cruzada, quando um mesmo grupo econômico possui rádios, TVs e jornais, a presidente disse: "Não só a propriedade cruzada. Tem inclusive um desafio, que é saber como fica a questão na área das mídias eletrônicas. O que é livre mercado total? Tenderá a ser a rede social, eu acho".

O PT historicamente defende regulamentar inclusive conteúdo. "Isso eu repudio", afirmou Dilma.

Em resolução aprovada nesta semana, a Executiva Nacional do PT defendeu a a adoção de uma "Lei de Mídia Democrática". O partido sempre defendeu o fim da propriedade cruzada, mirando especialmente o grupo Globo, maior do país.

"Acho que tudo o que é concessão" entraria no escopo da regulação, disse Dilma. No Brasil, rádios e TVs são concessões públicas. Mas ela negou que o alvo principal das novas regras seja a Globo, que considerou não ser mais majoritária como nos anos 70. "Isso é uma visão velha da questão da regulação da mídia", disse.
(IG E NN)

Fernando Gabeira - Pílula do dia seguinte

- O Estado de S. Paulo

Com robusta experiência em derrotas eleitorais, arrisco-me a prescrever esta pílula do dia seguinte.

Um dos primeiros aprendizados na derrota é superar qualquer impulso de culpar os eleitores ou regiões inteiras pelo resultado das urnas. É preciso examinar as políticas que nos levaram a esse resultado, os erros que cometemos ao longo do caminho.

Outra ilusão é supor que, eleito, o adversário vá realizar a política de quem perdeu. Muitos esperam mudança na política econômica de Dilma. Sou mais cético, embora reconheça a força da realidade, a enorme pressão que os próprios fatos vão exercer sobre seu governo.

A política econômica de Dilma não nasceu apenas de sua cabeça. Ela tem uma base teórica que sempre foi bastante influente entre os economistas e acadêmicos. O centro do debate é o papel do Estado na economia. Até a crise de 2008 era uma visão na defensiva na própria conjuntura mundial. Como casais condenados a viver juntos, era preciso rediscutir a relação Estado e mercado, o peso que teriam na nova pós-crise.

Isso aconteceu até nos Estados Unidos, onde Obama lançou um plano de recuperação na economia, que agora chega a seu fim, atingindo o objetivo. Caminhos teóricos distintos levaram a escolhas distintas. Na compreensão de Obama, o Estado precisava impulsionar a economia porque é dele que depende sua sobrevivência.

A intervenção do Estado na economia brasileira, em linhas gerais, enfraqueceu o papel do mercado, pelo fortalecimento da intervenção do governo. No campo da energia, as intervenções de Dilma para baixar o preço da eletricidade, voluntariosamente, e conter o preço da gasolina são evidências de que superestimam o papel do Estado. Aliadas, é claro, a uma grande vontade de ganhar as eleições. Os estímulos à indústria automobilística foram uma faca de dois gumes.

Eles agravaram o problema da mobilidade urbana, que era um dos motores das manifestações de 2013. Essa política é uma contradição ambulante. Além disso, valeu um processo de protecionismo na Organização Mundial do Comércio.

No meu ponto de vista, o governo esteve sempre mais preocupado com a área da economia que domina: estatais e, indiretamente, a constelação de empresas que giram em torno delas. Houve estímulos via BNDES criando uma órbita em torno do governo. Uma órbita favorecida: toma-se dinheiro público coberto pelo sigilo bancário.

A conclusão oficial foi expressa por Guido Mantega: nossa política econômica foi aprovada nas eleições. A alguns quilômetros dali, Dilma afirmou que a mudança foi a palavra mais ouvida na campanha. Não vi contradição entre os dois, porque Dilma jamais associou a palavra mudança à economia, sempre afirmou que estava no caminho certo, que seu modelo era exemplo universal de como atravessar uma crise sem perda de salário ou emprego.

Durante esse período de exaltação do próprio desempenho, o governo jogou para baixo do tapete dados essenciais. Dois deles já vieram à tona: o rombo de R$ 20 bilhões nas contas públicas e o da redução da pobreza. Outros esperam no pipeline: índice de desmatamento na Amazônia, redução da pobreza, performance no ensino.

Dilma afirma querer esclarecido, em todos os detalhes e nomes, o escândalo de corrupção na Petrobrás. Tenho inúmeras razões para duvidar. O governo tentou bloquear a CPI, os vazamentos indicaram que a própria base do governo está envolvida; Lula e Dilma foram mencionados pelo doleiro Alberto Youssef. A realidade é que o governo vai considerar estratégico desqualificar as investigações. E não está sozinho nisso. As grandes empresas envolvidas contrataram poderosos advogados que fracassaram no mensalão, mas ganharam experiência para o novo confronto: o petrolão.

O Supremo terá 10 dos 11 ministros indicados pelo PT. Claro que alguns deles sabem que o PT passa e o Supremo fica. Mas sua gratidão será cobrada, como foi intensamente cobrada de Joaquim Barbosa. Esse processo do escândalo na Petrobrás será uma intensa luta entre quem quer saber e punir e quem quer esconder e inocentar. Não creio no êxito da tentativa de esconder. O escândalo ultrapassou as fronteiras: auditorias internacionais serão realizadas e as leis americanas são difíceis de driblar.

O assalto à Petrobrás e a política econômica se entrelaçam e podem nos levar a um debate um pouco mais concreto sobre este capitalismo de Estado que o PT impulsiona. A corrupção instalou-se no cofre da maior empresa estatal e se estendeu para toda a constelação que gira em torno dela.

Dilma afirmou que vai entregar o Brasil pronto para um novo ciclo de crescimento. Obama fala como se tivesse concluído a tarefa. Alguém perdeu tempo nestes cinco anos.

Nunca tive a experiência de uma vitória em eleição majoritária. Mas havia uma questão temível esperando o vencedor na manhã seguinte: como fazer tudo o que prometi?

Os anos serão duros para Dilma. Seca no Sudeste, seca de ideias sobre política de recursos hídricos, economia estagnada e uma tentativa de provar que vivemos na realidade dos programas de televisão da campanha. Será preciso um grande plantel de macunaímas para o governo escapar ileso dos fatos, das leis da economia e de um bilionário processo de corrupção.

E não podem dizer como o nosso herói sem nenhum caráter: ai, que preguiça!

O desdobramento de uma política econômica fracassada e o desenrolar do maior processo de corrupção da história do País devem produzir um debate muito mais próximo da realidade do que uma fantasia novelesca da agenda eleitoral. Minha esperança é que as pessoas olhem bem para a falência da economia e a gravidade da corrupção na Petrobrás. E esqueçam um pouco quem foi parado na Lei Seca, quem estava preparando tirar a comida da mesa dos pobres para depositá-la no Banco Central independente. Assistimos a uma ficção da pior qualidade.

Precisamos voltar à realidade cotidiana. O assalto à Petrobrás foi uma audácia. Audácia maior é o assalto à nossa lucidez.

*Fernando Gabeira é jornalista

Merval Pereira - Ver para crer

- O Globo

A presidente Dilma saiu ontem da propaganda eleitoral e caiu na realidade, admitindo que a inflação não está sob controle e que é preciso fazer corte nas despesas. Desceu do palanque para enfrentar a dura tarefa que tem pela frente antes mesmo de iniciar seu segundo mandato, que só não começará com cara de envelhecido se ela fizer um salto triplo carpado e apresentar uma novidade para a condução da economia.

Dilma saiu do palanque fisicamente, admitindo em público o que já ficara evidente pelas medidas represadas que liberou assim que as urnas se fecharam. Ontem, saiu o aumento da gasolina, ainda em nível menor do que o necessário. Antes, já haviam sido anunciados aumentos nas tarifas de energia de até 54% em alguns estados, e dados ruins da economia foram finalmente divulgados. Confirmou-se o que era dito à boca pequena: a desigualdade voltou a crescer depois de dez anos, por culpa da alta da inflação e do crescimento baixo dos últimos quatro anos.

Oveto a Henrique Meirelles ou coisa do gênero para a Fazenda explicita o verdadeiro dilema de Dilma: a presidente reeleita não gostar ia de colocar na Fazenda alguém que ela não possa demitir sem criar uma convulsão nos mercados financeiros. Seria refém de um ministro, assim como, aliás, Lula foi de Meirelles no Banco Central. No final do segundo mandato, quando se sentiu em condições de tirá-lo do Banco Central, Lula chegou a conversar com o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, mas foi atropelado pelo grau de investimento que o país recebeu das agências internacionais, e teve que recuar.

A situação é simples : ninguém acredita quando a presidente Dilma diz que vai fazer o dever de casa, e que sempre há onde cortar , porque simplesmente ela se recusa a tocar no tamanho do Ministério, ou seja, do Estado. Ao dizer que não agirá como "aquela maluquice do choque de gestão da oposição", Dilma Rousseff reduz o impacto positivo que sua primeira frase poderia causar, pois todo mundo sabe que não haverá medida indolor para re coloca r a economia no lugar. A presidente Dilma parece querer se livrar da canga que o PT quer lhe colocar, mas não tem muito para onde ir.

Apareceram em se u socorro dois aliados de polos distintos : o governador Cid Gomes quer for mar um par tido de esquerda para apoiar o segundo governo Dilma, e o ex-p re feito de Sã o Paulo Gilberto Kassab oferece-lhe o PSD pela direita, mas no meio deles está o PMDB, cada vez mais arredio. Não apenas pela péssima relação que tem com o PT, mas, sobretudo, devido à tendência majoritária de se afastar de um governo que já começou com cara de velho e que pode se desgastar à medida que os problemas econômicos ficarem evidentes. O tamanho do desgaste poderá ser medido pela força que o deputado Eduardo Cunha demonstrar na sua caminhada rumo à presidência da Câmara, contra a vontade do Palácio do Planalto e contra um acordo tácito com o PT de divisão de poderes no Congresso, que parece já ter ido pelo ralo.

O PT, diante das novas dificuldades, resolveu dobrar sua aposta em um governo mais à esquerda, e reivindica maior participação nos ministérios e órgãos públicos, como se o aparelhamento do Estado já não fosse uma realidade. Dilma se desvencilha de suas pregações radicais afirmando que na Presidência da República não representa o PT, mas os brasileiros. Será preciso ver para crer.

Dora Kramer - Tropeço e mau começo

- O Estado de S. Paulo

O PSDB queimou a largada rumo ao exercício da "oposição mais vigorosa que o Brasil já assistiu", conforme palavras de Aécio Neves em seu discurso de terça-feira, da tribuna do Senado.

Por mais razões táticas e estratégicas que o partido possa ter tido para se acertar com o PT a fim de evitar a convocação na CPI da Petrobrás de políticos e empresários citados nos depoimentos dos acordos de delação premiada de Paulo Roberto da Costa e Alberto Youssef, a imagem que fica para o público é a de que, na hora do vamos ver, as onças se acomodam e bebem água no mesmo riacho.

Melhor dizendo, sem metáforas: a oposição discursa cobrando investigação, mas quando há o risco de que os seus sejam envolvidos dá o dito por não dito e embarca na operação abafa. É assim que o episódio será entendido. Como se sabe, na política as coisas que precisam ser muito explicadas já começam mal paradas.

É a razão pela qual o PT opera pelo método da simplificação e na maioria das vezes consegue emplacar a sua versão. Trabalha com a "quase" lógica, enquanto o PSDB insiste na lógica plena.

No caso da CPI da Petrobrás, a julgar pelos argumentos apresentados, os tucanos raciocinaram que não valeria a pena convocar nenhum dos citados nos acordos de delação premiada antes que os depoimentos estivessem liberados do segredo de Justiça, porque eles alegariam desconhecimento dos fatos, uma vez que não teriam validade judicial e ficaria tudo por isso mesmo. De onde melhor seria criar uma nova CPI em 2015.

Poderia até ser, não fosse a força do fator "mulher de César". É preciso ter, mas, sobretudo, transparecer confiabilidade. Ainda mais quando a comunicação é como a atual - de massa.

A partir do momento em que o senador Aécio Neves condiciona a abertura de diálogo com o governo ao aprofundamento das investigações sobre as transações na Petrobrás, o partido dele está impedido de fazer quaisquer acordos com o PT.

Pelo simples fato de que não será bem entendido. Como explicar que o diálogo às claras está condicionado ao aprofundamento das investigações e, ao mesmo tempo, aceitar no escuro uma conversa que leva à interrupção do prosseguimento natural dos trabalhos da CPI? Fica no mínimo esquisito.

O PSDB já havia padecido desse mal quando, em 2005, por ocasião da CPI dos Correios, não teve uma posição contundente quando se descobriu que o então presidente do partido, Eduardo Azeredo, usara o esquema de Marcos Valério na tentativa de se reeleger em 1998. Os tucanos arrefeceram os ânimos e pagam o preço até hoje.

Cobrado pelo mesmo PT com o qual fizeram agora um acordo de "melação" premiada para evitar as convocações de João Vaccari Neto, Gleisi Hoffman e Leonardo Meirelles que, segundo consta, poderia implicar tucanos.

É de se perguntar se tática e estratégica justificam ou se há algo mesmo a ser escondido e que não pode ser dito. Os 51 milhões decerto esperam dos "45" uma boa, sucinta e rápida explicação.

Pior a emenda. O vice-presidente Michel Temer tenta desanuviar o clima nebuloso no PMDB na Câmara armado sob a liderança do deputado Eduardo Cunha, candidato à presidência da Casa.

Temer teve com o deputado uma longa (não necessariamente produtiva) conversa na terça-feira.

Conforme noticiado, apelou para que Cunha não se apresentasse como candidato de oposição.

Obteve o disfarce. O deputado saiu dizendo que representa a independência do Congresso.

Piorou, porque o discurso dificulta a vida do Planalto.

Agrada ao Congresso como um todo: soa como música tanto aos ouvidos da oposição quanto aos partidos ditos de situação. Temer fica entre a cruz e a caldeirinha, pois não pode se contrapor ao governo, muito menos virar as costas ao partido.

Maria Cristina Fernandes - A disputa no asfalto

• PT perdeu, pela 1ª vez, onde o Brasil é mais junto e misturado

- Valor Econômico

O Brasil tem 24 cidades com mais de 500 mil eleitores. Este colégio eleitoral, que equivale a um quarto do nacional, abrange 16 capitais, municípios da Baixada Fluminense e da Região Metropolitana de São Paulo. Nessas cidades o Brasil é mais junto e misturado. Foi desse caldeirão que saiu junho de 2013.

O conjunto desses municípios deu sucessivas vitórias ao PT desde 2002. Ganhou pelo dobro dos votos do PSDB na primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, manteve dianteira folgada em 2006 e viu a diferença se estreitar em 2010. Este ano, pela primeira vez desde que chegou ao Planalto, o partido perdeu nessas cidades - redutos dos brasileiros apelidados de 'nova classe média'

Nas eleições municipais que aconteceram em seu período no poder, o PT elegeu entre seis a sete prefeitos deste colégio eleitoral. Chegou, pela primeira vez, à Prefeitura de São Bernardo do Campo, perdeu Fortaleza, Belo Horizonte e Recife, manteve Guarulhos e reconquistou São Paulo.

O que acontece numa eleição não determina a outra, mas é nas disputas municipais que se formam as bases para as bancadas de deputados estaduais e federais e é nelas que as candidaturas aos governos estaduais ganham corpo.

Antes de chegar ao Planalto, o PT encorpou-se em todas essas esferas de poder. No exercício da Presidência continuou a ganhar terreno no Congresso e nos executivos estaduais. Nesta eleição, a redução de bancadas parlamentares e a perda de votos nas metrópoles amarelaram os prognósticos para o partido em 2016.

A primeira rodada de votações do Congresso desde o segundo turno mostrou que os partidos estão de olho redobrado em suas bases municipais. Foi este o sinal dado pelo aumento no repasse no Fundo de Participação dos Municípios e pela mudança do indexador das dívidas estaduais e municipais.

Das 24 cidades com mais de 500 mil eleitores, dez serão beneficiadas pela mudança do indexador. O projeto foi uma das principais bandeiras encampadas por Fernando Haddad, prefeito da maior delas. Acumulada durante o reinado malufista, a dívida paulistana levou a cidade a investir no ano passado metade da média das capitais do Sudeste. Em outubro, São Paulo deu ao partido a pior votação em eleição presidencial desde 2002.

O mercado não se mexeu com a mudança no indexador. Uma sanção sem vetos pela presidente Dilma Rousseff sinalizará que o ajuste fiscal a ser perseguido por quem-quer-que-seja o ministro da Fazenda, manterá salvaguardas numa federação que, afetada por receitas em queda, engordou as urnas da oposição.

É nesse conjunto de cidades que podem vir a ter um acesso mais facilitado a recursos para mobilidade e saneamento a partir da renegociação de suas dívidas que prosperam manifestações inconformadas com os resultados das urnas.

É chocante quando esse inconformismo deixa a virulência das redes sociais e vai à rua escoltada por um deputado golpista armado. Mas é a céu aberto que essas manifestações despertam democratas de todas as estirpes a rechaçá-las e a reafirmar compromisso com as regras do jogo.

No PSDB, a voz mais dissonante foi a do coordenador jurídico da coligação do senador Aécio Neves, que, durante a campanha, encabeçou uma caça indiscriminada a quem postasse críticas na internet ao seu candidato. No segundo turno, alardeou nas redes sociais a internação de Alberto Youssef como sinal de alerta. Passada a eleição, pediu auditoria nas urnas. Não pretendia por em dúvida a lisura da justiça eleitoral, explicou, mas queria tranquilizar os brasileiros - os mesmos que havia alarmado com suas postagens na internet - sobre o resultado da disputa.

Em seu longo discurso na tribuna, o senador Aécio Neves dividiu o Brasil em dois. A metade que votou nele viu que o seu projeto era o melhor para o país. A outra metade foi vitima da mentira e da chantagem governistas.

Mas o discurso parecia menos voltado para sua banda de eleitores do que para a guerra interna já aberta no PSDB pelo comando da oposição. Pela primeira vez em 20 anos, sem uma administração a defender, o senador está em luta livre. Só não subiu o tom contra quem, na sua campanha, duvida dos resultados da eleição, única oportunidade em que os brasileiros beneficiários do Bolsa Família valem tanto quanto os do Bolsa Refis.

Aécio pretende marcar diferença em relação ao governador Geraldo Alckmin, que já busca com Dilma uma solução para as torneiras de São Paulo. Candidato tucano mais bem sucedido das últimas quatro eleições, escolheu sua trincheira. Vai disputar a opinião pública com um discurso mais radicalizado de oposição numa difícil calibragem com a extrema direita que, acolhida por correligionários, teima em se manter por perto.

O eleitorado das 24 grandes cidades desencantado com o PT parece ser seu primeiro alvo. Para mantê-lo ao seu alcance até 2018 ainda precisa pagar o pedágio de 2016. Já sinalizou que pretende manter Marina Silva à mão na tentativa de manter acesa uma mobilização nunca vista na história de seu partido. Veio dela uma grande parte dos votos que o PSDB angariou para ultrapassar o PT nas metrópoles.

Assediado como em campanha, Aécio manterá o discurso inflamado contra um Alckmin que tem como principal ativo o maior refúgio de poder do seu partido.

Na trilha para 2018 o PT tem quatro anos no poder e muito mais do que contas fiscais a ajustar se quiser recuperar o eleitor que perdeu para o trânsito, a insegurança, as filas - e para o PSDB.


Rogério Furquim Werneck - Missão impossível

• Sem uma equipe nova, Dilma não conseguirá dar credibilidade à política econômica

- O Globo

O país afinal se dá conta das reais proporções do desafio que o novo governo terá de enfrentar para restaurar a credibilidade da política econômica, restabelecer o controle sobre as contas públicas, trazer a inflação de volta à meta e superar o quadro de desconfiança e estagnação que se instalou na economia.

Seria tarefa hercúlea, mesmo para um governo convicto do que precisa ser feito e da necessidade de incorrer nos inevitáveis custos políticos que estarão envolvidos. Muito mais difícil será para a presidente Dilma, ao cabo de uma campanha eleitoral inconsequente, em que se permitiu não só negar a necessidade de qualquer correção de rumo na política econômica, como demonizar os penosos ajustes que agora terão de ser feitos.

Fosse a presidente mais afeita à delegação de responsabilidade, a simples nomeação de uma nova equipe econômica, claramente alinhada à agenda de mudanças requeridas, poderia ser vista como sinal convincente da sua efetiva disposição de imprimir novo rumo à condução da política econômica.

Mas tendo construído sólida reputação de centralizadora implacável, que jamais abriu mão de manter controle férreo sobre cada detalhe da política econômica, a presidente precisa de bem mais do que uma mudança de equipe, para dar credibilidade à ideia de que a mudança de rumo é de fato para valer. De nada adiantará uma nova equipe, se Dilma continuar apegada às mesmas ideias equivocadas que redundaram no desastroso desempenho da economia que hoje se vê.

Ter isso em conta ajuda a perceber quão disparatada é a ideia de que um simples remanejamento da equipe econômica do primeiro mandato, com reescalação de reservas, seria suficiente para dar credibilidade à suposta disposição da presidente Dilma de dar rumo mais promissor à condução da política econômica.

A manutenção de Guido Mantega na Fazenda tornou-se insustentável. E a presidente já deixou claro que vai substituí-lo. Mas isso não impediu que o ministro se sentisse confortável para declarar que o resultado da eleição mostrou que a população aprova a política econômica em curso. Como Mantega sobreviveu mais de oito anos no cargo, sem jamais ter proferido frase que não contasse com chancela prévia dos seus superiores, é bem provável que essa sua leitura peculiar da mensagem das urnas seja a que de fato prospera no Planalto.

No cenário de simples remanejamento da equipe econômica do primeiro mandato, os nomes que têm sido mencionados na mídia para ocupar o cargo de ministro da Fazenda são Nelson Barbosa e Luciano Coutinho.

Reiterando recomendação mais alentada que já fiz nesse mesmo espaço, em 31 de janeiro deste ano, sugiro, a quem está propenso a acreditar que Nelson Barbosa está apto a comandar a restauração da credibilidade da política econômica, que leia o artigo que ele publicou sob o título "A inflexão do governo Lula: política econômica, crescimento e distribuição de renda", disponível em http://migre.me/hEprG

Escrito em tom triunfalista, em meio à euforia de 2010, o artigo apresenta relato quase épico dos grandes feitos que vinham sendo logrados pela "opção desenvolvimentista", após a derrota da "visão neoliberal" no governo Lula, com o abandono da proposta de ajuste fiscal de longo prazo. Passados quatro anos, e estando a economia como está, sua leitura tornou-se imperdível.

Não é razoável supor, tampouco, que a restauração de credibilidade possa ser comandada por Luciano Coutinho, arquiteto do gigantesco orçamento paralelo que vem sendo operado no BNDES com recursos provenientes de emissão de dívida pelo Tesouro, foco de boa parte do descrédito em que caíram a condução da política fiscal e o registro das contas públicas nos últimos anos.

Com uma simples dança de cadeiras, a presidente não conseguirá que o país leve a sério sua suposta disposição de enfrentar a pesada agenda de política econômica que tem pela frente. Se Dilma nem mesmo puder contar com uma nova equipe econômica, a restauração da credibilidade que hoje se faz necessária está fadada a se tornar missão impossível.

Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC-Rio

Claudia Safatle - Orçamento em debate

• Falta de transparência nas finanças fere a democracia do país

- Valor Econômico

Nos últimos dias uma discussão insólita permeou a preparação de uma mudança da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que terá que ser enviada ao Congresso este mês, para adequar a lei ao resultado fiscal possível para este ano. Técnicos do Tesouro Nacional se dividiam entre reduzir a meta de superávit primário do governo central ou aumentar o montante do abatimento possível. A diferença, para a economia, é rigorosamente nenhuma. A forma de empacotar a notícia é que, na visão de alguns, poderia ter maior ou menor repercussão.

A LDO, que orientou a elaboração do Orçamento para este exercício, previa um superávit primário do governo central de R$ 116,072 bilhões. Esse valor, porém, estaria sujeito a abatimento de até R$ 67 bilhões, se necessário. Com as estatais federais em equilíbrio, a meta fiscal menos o desconto máximo, portanto, cairia para R$ 49,072 bilhões. De janeiro a setembro houve déficit primário do setor público de R$ 15,28 bilhões, o equivalente a 0,4% do PIB. No governo central o rombo chegou a R$ 19,47 bilhões em nove meses. Só um milagre transformaria esse buraco no superávit previsto até dezembro.

As contas do governo central envolvem as receitas e despesas do Tesouro Nacional, da Previdência Social e do Banco Central. Os dados consolidados do setor público agregam os resultados dos governos estaduais, municipais e suas empresas. Só em setembro o déficit consolidado foi de R$ 25,5 bilhões. Desses, o governo central, os governos regionais e as empresas estatais apresentaram, respectivamente, déficits de R$ 21 bilhões, R$ 3,1 bilhões e R$ 1,4 bilhão.

Ao mesmo tempo em que gasta além das suas posses, o governo vinha, também, resistindo a mudar a meta de superávit primário com a qual o ministro da Fazenda se comprometeu: 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Não se trata somente de um amontoado de números que só interessam aos economistas e nada dizem aos cidadãos. Ao contrário, os contribuintes são chamados a pagar essas contas.

O não cumprimento da meta é apenas um lado da acelerada deterioração das contas públicas nos últimos dois anos que levou o déficit nominal (que contabiliza também os juros) a praticamente dobrar, saindo de 2,48% do PIB em 2010 para 4, 92% do PIB em 12 meses até setembro, ou seja, um "rombo" de R$ 249,7 bilhões. A dívida bruta do setor público em igual período era de R$ 2,7 trilhões (56,7% do PIB) e subiu para R$ 3,13 trilhões (61,7% do PIB).

As implicações do descompromisso do governo com uma gestão fiscal mais austera, compatível com a politica de controle da inflação e com a desejada redução da taxa de juros são, também, de ordem democrática. Ao corromper todas as métricas das finanças públicas com artimanhas contábeis e ao insistir em sustentar compromissos que sabidamente não serão cumpridos, subtrai-se do cidadão a possibilidade de compreender e de fiscalizar o destino que o governo está dando aos pesados impostos que ele paga.

Há uma tradição, no Brasil, de não se levar a sério o orçamento público. É conhecida a história de que, por aqui, o Orçamento sempre foi uma peça de ficção. Nos tempos da ditadura militar, existiam dois orçamentos sendo que o que o Congresso analisava e aprovava era o menos importante. O que retratava melhor as prioridades do governo era o orçamento monetário e a conta movimento, pela qual o Banco do Brasil financiava os gastos públicos à revelia do parlamento. Com a democratização, a regulação das finanças públicas foi, com muito esforço, melhorando até se chegar à Lei de Responsabilidade Fiscal, em 2000.

A história do orçamento está na gênese de inúmeras revoltas pelo mundo, se confunde com a própria criação do parlamento e finca raízes democráticas na gestão das contas públicas desde o século XIII. O seu embrião surge na Inglaterra, em 1215, quando da Magna Carta, assinada pelo rei João Sem Terra, que limitou o poder de tributar da realeza. Só muitos séculos depois é que incorporou-se a despesa, consolidando o orçamento que passa a ser um importante instrumento da política econômica do Estado.

No Brasil, a Revolta de Felipe dos Santos, a Inconfidência Mineira, a Guerra dos Farrapos e o Levante dos Quebra-Quilos, entre os anos de 1700 e 1800, retratam a indignação do povo com a cobrança de impostos e a ausência dos interesses coletivos na definição das prioridades do gasto público.

Os estudiosos conferem à lei orçamentária o mais elevado grau de relevância nos regimes democráticos. Nos últimos anos, porém, a falta de transparência com que o Tesouro Nacional vem tratando as finanças do Estado fere a democracia brasileira. A concessão de subsídios sem sua devida contabilização como despesa no Orçamento, o endividamento acelerado para repassar recursos aos bancos públicos, os financiamentos a juros módicos feitos a poucas empresas, comprometem o futuro da política fiscal sem que Congresso e sociedade saibam exatamente o que acontece.

O governo justifica os déficits com frustração de receitas. Em uma economia estagnada as receitas com impostos não crescem mesmo. A estagnação / recessão em curso, porém, não tem nada a ver com uma suposta crise internacional. Ela foi produzida aqui mesmo. Com "novo governo, novas ideias", abre-se a oportunidade de consertar os erros cometidos ou continuar com "mais do mesmo". Decisões que forem tomadas agora vão definir se o país volta a crescer ou se afunda de vez em uma recessão.


Míriam Leitão - Pobreza e inflação

- O Globo

O Banco Central admitiu que a inflação está subindo, há mais pressões vindas de diversas áreas: câmbio, preços administrados, alimentação. O Ipea, enfim, fez a conta e registrou um aumento do percentual de miseráveis. Há quem acredite, ainda hoje, pasmem, que combater a inflação é preocupação de neoliberal e reduzir a pobreza é objetivo dos bons, os progressistas.

Não existe combate à pobreza e à miséria sem redução da inflação. Eu gostaria, queridos leitores, de não ter que dizer obviedades como a dessa frase acima, mas o debate eleitoral fez sair do armário os que simplificam o mundo entre "nós e eles", como se estivessem em confronto os defensores dos pobres e os amigos dos banqueiros.

O Brasil fez uma caminhada tão longa por uma moeda estável e, como jornalista, vi com orgulho o avanço do entendimento do aspecto mais perverso da inflação: ela tira capacidade de compra de quem tem menos renda. Há quem, dentro do governo, professe convicções ultrapassadas de que política monetária e política social pertencem a mundos diferentes. Há quem proclame no governo, diante de todos os dados contrários, que a miséria está caindo e que o ganho é "extraordinário", mesmo estando num ambiente de recessão e inflação crescente. Em ambiente assim, não há progresso que se mantenha.

Ganho social de forma permanente depende de inflação baixa. Só assim a renda é preservada, as políticas públicas de combate à pobreza são sustentáveis, e o país pode crescer de forma constante. A ata do Copom de ontem alerta mais uma vez que quando a inflação está persistentemente alta perde-se o horizonte para investimentos e consumo.

Resta ao Banco Central explicar por que ficou parado, vendo a inflação subir, enquanto estávamos em período eleitoral, e mudou a avaliação agora. Talvez um dia ele explique. No texto de ontem, ele se esforçou para mostrar que, desde a ultima reunião, houve um aumento do risco, subiu a inflação média, a taxa acumulada em 12 meses, a taxa de câmbio e o processo de realinhamento dos preços administrados. Tudo ficou um pouco pior, é verdade. Mesmo que hoje se divulgue um IPCA um pouco melhor sobre o mês anterior, o fato é que o ambiente está propício a reajustes porque durante todo o primeiro mandato de Dilma ficou a dúvida sobre que grau de autonomia tinha o Banco Central para fazer seu trabalho e buscar suas metas.

Essa mesma dúvida perseguirá o próximo ministro da Fazenda, venha o nome de onde vier. O que é preciso é o governo entender a ligação direta entre o combate à inflação e a política social como duas partes do mesmo progresso.

A pobreza e a extrema pobreza caíram ao longo do tempo pela vitória sobre a hiperinflação. O percentual de pobres e miseráveis começou a cair no Plano Real e essa queda avançou com politicas sociais que a estabilização tornou possíveis. A taxa de juros é remédio amargo, com efeitos colaterais pesados, mas tem que ser usada principalmente se o controle dos gastos não é feito. Se o BC tiver a ajuda da política fiscal, usará menos esse remédio. Se o Banco Central tiver autonomia, terá mais credibilidade e a dose poderá ser menor.

A ideia de que BC autônomo e política monetária vigilante aumentam o lucro dos banqueiros é uma enorme bobagem. Os bancos ganham em qualquer situação, basta ver os seus gordos lucros. A política econômica tem que buscar um ambiente em que os investidores possam empreender com segurança e a inflação não destrua a renda dos mais pobres.

O aumento do número de miseráveis admitido pelo Ipea, depois das eleições, precisa ser entendido. Quem tem renda mensal de mais de R$ 70 não é mais considerado miserável por essa arbitrária linha. Claro que há muito tempo tinha que ter sido revisto esse ponto que divide o grupo dos pobres do grupo dos extremamente pobres. Uma família de quatro pessoas com renda total de R$ 300 continua na miséria, diga o que disserem as linhas governamentais feitas sob encomenda para engordar as estatísticas dos "retirados da miséria" que compõem as propagandas do governo.

Se o governo quiser mesmo desarmar os palanques deve começar a reconhecer que desinformou quando fez uma divisão de mundo que revoga o progresso recente do Brasil. A melhor política de proteção dos pobres é a que mantém a inflação baixa.