Por
diferentes motivos, mesmo os crédulos que confiaram nas promessas liberais e
modernizantes de Bolsonaro começam a suspeitar que foram enganados
O desapontamento com o governo Bolsonaro não é um fato novo. Há quem tenha se desencantado com Jair Bolsonaro em razão, por exemplo, da saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça em abril de 2020. Na ocasião, o ex-juiz da Lava Jato relatou tentativas de interferência por parte do presidente na condução da Polícia Federal. O episódio levou a que muita gente revisse sua ideia sobre a suposta carta branca que Jair Bolsonaro teria dado a Sérgio Moro para o combate à corrupção.
Na
semana passada, a interferência de Jair Bolsonaro na presidência da Petrobrás
produziu uma nova onda de decepção. Além dos efeitos devastadores sobre a
empresa, com prejuízos muito concretos para as centenas de milhares de
acionistas minoritários, a ordem para mudar a chefia da empresa consolidou a
percepção de que Jair Bolsonaro não tem nenhum compromisso com a agenda liberal
proposta na campanha de 2018. Não há mais nem mesmo o cuidado de manter as
aparências.
Sempre
houve bons motivos para desconfiar da adesão de Jair Bolsonaro a uma pauta de
reformas. Basta pensar, por exemplo, que, por mais de duas décadas, a atuação
do ex-capitão na Câmara dos Deputados foi oposta a todo o conjunto de reformas
anunciado por Paulo Guedes na campanha eleitoral do então candidato do PSL à
Presidência da República.
O
fato, no entanto, é que muita gente confiou em Jair Bolsonaro: em sua
disposição e capacidade de promover uma profunda mudança liberal no Estado
brasileiro. A ideia era a de que, sob a batuta de Paulo Guedes, haveria um
choque de gestão. O déficit fiscal acabaria, muitas privatizações seriam
feitas, o poder público seria mais eficiente e o ambiente de negócios sofreria
uma revolução.
“Quando candidato, Bolsonaro falava em privatização, e o ministro Guedes, que é liberal, defendia a tese da redução do tamanho do Estado. Me senti motivado a deixar meus negócios para contribuir com isso”, disse o empresário Salim Mattar ao Estado. De janeiro de 2019 até agosto de 2020, Salim Mattar foi o secretário especial de Desestatização e Privatização do Ministério da Economia.