terça-feira, 30 de julho de 2013

OPINIÃO DO DIA – Luiz Werneck Vianna: jornadas de junho

O caminho eleitoral foi o da sua preferência, opção que conduziu à busca de alianças políticas, às quais aderiu com maior desenvoltura quando a conquista do governo se tomou uma possibilidade tangível. Nesse movimento, a expressividade do moderno, que era sua marca identitária, aos poucos se diluiu, em especial quando se tomou governo, levando-o a absolver acriticamente a História do País, antes objeto de sua feroz condenação. O passado não seria mais uma página virada, mas uma experiência a ser retomada, e, nessa toada, Lula e seu sindicalismo se reencontraram com a era Vargas, virando as costas para o moderno e tudo de novo que emergia da vida social.

Retomam-se a ideologia do nacional-desenvolvimentismo e políticas de grandeza nacional e, no pior estilo da modernização autoritária, o moderno se alia ao atraso oligárquico não para induzir sua transformação, mas para se fundir com ele. A estatalização dos movimentos sociais desertificou a sociedade civil, deixando-lhe apenas as redes sociais, por onde a juventude e seus valores por autonomia respiram.

O itinerário das jornadas de junho, das ruas aos sítios do Congresso e do Palácio do Planalto, significa um estado de rebelião contra esse retorno. Agora que o gênio saiu da garrafa, ninguém sabe o que ele pode aprontar, e não é verdade que tenhamos à mão um Aladim capaz de negociar com ele.

Luiz Werneck Vianna, sociólogo, professor-pesquisador da PUC-Rio. In “Aladim e o gênio da garrafa”, O Estado de S. Paulo, 28/7/2013

PT suaviza críticas a aliados e à economia

Texto polêmico é revisto em reunião extraordinária do diretório nacional

Tatiana Farah

SÃO PAULO - Para evitar confronto com o governo e com os partidos aliados da presidente Dilma Rousseff, o PT excluiu críticas à base aliada, à política econômica e à composição dos ministérios em documento aprovado ontem durante reunião extraordinária do diretório nacional em São Paulo. O diretório havia se reunido no dia 20 passado, mas não tinha aprovado o texto que trata das resoluções e da análise de conjuntura feitas pelos dirigentes do partido.

- O texto foi suavizado - criticou um dirigente nacional, que explicou que a ideia foi não confrontar o governo.

No documento anterior, os petistas diziam que era preciso fazer "inflexões necessárias na política econômica e na composição dos ministérios" e que "a evolução das necessidades do país coloca na agenda a revisão da política de alianças". O texto afirmava ainda que a base aliada do governo "não se dispunha a romper com os limites da institucionalidade conservadora".

No documento aprovado ontem e ainda não divulgado, o partido tenta mostrar unidade com o governo Dilma, mas, internamente, líderes petistas têm mostrado contrariedade com o Ministério e com a articulação do governo com os partidos e com a própria legenda. O presidente nacional do partido, Rui Falcão, defendeu o novo documento:

- Havia proposta de rever alianças. Não dizia em que direção e com quem. E essa proposta foi rejeitada- afirmou Falcão, que justificou a retirada das críticas à equipe econômica: -É muito genérico isso, você falar que precisa fazer inflexões na política econômica. Inflexões em que direção? Nada disso foi mantido.

Candidato a presidente da legenda, Markus Sokol, da corrente de esquerda O Trabalho, afirmou que o texto foi "lipoaspirado" e que a revisão da política de alianças foi extraída para evitar polêmica.

- Rui Falcão me disse na reunião que minhas intenções são reconhecidas. E são mesmo: minhas intenções são romper com o PMDB - disse Sokol, que chamou o vice-presidente Michel Temer de "sabotador" porque o peemedebista atuou contra a realização do plebiscito da reforma política, proposto por Dilma após os protestos de rua.

Apesar da tentativa de harmonia com o governo, alguns dirigentes não escondem críticas à presidente Dilma, como o deputado Devanir Ribeiro (SP), que, entre elogios à presidente, deixou escapar:

- Ela erra na comunicação e no diálogo. Na política, ela não tem tanta tarimba como Lula, ela é mais dura. Temos um problema sério que é a interlocução. Tem de ouvir mais o líder do governo e os líderes do Congresso.

A reunião extraordinária do diretório nacional tratou ainda das regras para a eleição interna do partido, marcada para 10 de novembro. Segundo Falcão, os petistas vão gastar R$ 2 milhões no processo eleitoral. As regras foram flexibilizadas para aumentar o quorum da eleição. Atualmente, o PT tem mais de 1,6 milhão de filiados.

Fonte: O Globo

Mensalão: julgamento de recursos começa até dia 15

Presidente do Supremo Tribunal Federal proporá que seja feita uma sessão extra por semana até conclusão do caso

Carolina Brígido

BRASÍLIA - As férias do Supremo Tribunal Federal (STF) terminam na quinta-feira, com uma novidade a ser anunciada em plenário: o presidente da Corte e relator do processo do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, vai marcar para até dia 15 o início do julgamento dos recursos dos réus condenados.

Barbosa também vai propor aos colegas que seja realizada uma sessão extra por semana até a conclusão do caso. Assim como no ano passado, quando o processo foi julgado, as sessões serão nas segundas, quartas e quintas-feiras.

O ministro tem a intenção de impor um ritmo breve à nova fase do julgamento, para não adiar ainda mais o cumprimento das penas impostas aos condenados. Dos 37 réus, 25 foram condenados. Todos recorreram da sentença.

Barbosa já deixou claro em decisões passadas que as penas só podem ser executadas depois do trânsito em julgado - ou seja, quando terminarem os julgamentos dos recursos.

Tempo da pena pode mudar

Primeiro, o STF vai julgar os embargos de declaração. Esse tipo de recurso serve para esclarecer pontos obscuros ou dúbios do julgamento. Nessa fase, é possível mudar o tempo de pena ou o regime inicial de cumprimento, por exemplo. Se houver novas dúvidas depois de tomada a decisão, a defesa pode entrar com embargos dos embargos. Caberá aos ministros do tribunal decidirem se o réu tem ou não direito ao novo recurso.

Depois dessa etapa, os ministros vão discutir se recebem ou não os chamados embargos infringentes. O Regimento Interno do STF prevê esse tipo de recurso para réus condenados que obtiveram pelo menos quatro votos pela absolvição. Onze réus do mensalão estão nessa situação: João Paulo Cunha, João Cláudio Genú e Breno Fischberg, por lavagem de dinheiro; José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Marcos Valério, Kátia Rabello, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz e José Salgado, por formação de quadrilha.

Embargos causam dúvida

Entre os ministros do STF, não há consenso sobre o direito a esses embargos. Isso porque a lei 8.038 de 1990 não os prevê em ações penais. Se os recursos forem aceitos, os 11 réus terão uma espécie de novo julgamento, com o reexame de provas do processo. Haverá sorteio de outro relator e revisor para o processo, excluídos os atuais - Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, respectivamente.

Em tese, há chance de réus terem condenações revertidas. Isso porque, desde o julgamento do ano passado, dois ministros foram substituídos: Teori Zavascki entrou no lugar de Cezar Peluso e Luís Roberto Barroso ocupa hoje a cadeira de Carlos Ayres Britto.

Fonte: O Globo

Supremo retoma mensalão em agosto com um olho nos autos e outro nas ruas

Felipe Recondo, Débora Bergamasco

BRASÍLIA - A retomada do caso do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal prevista para meados de agosto deve ser pautada, segundo os ministros e advogados dos condenados, por entraves jurídicos e temores de eventuais manifestações na porta da Corte, em Brasília.

Os entraves jurídicos ocorrerão, segundo os próprios magistrados, pelo fato de haver erros no acórdão do julgamento, decisão final publicada no Diário Oficial da Justiça que justificou a condenação de 25 dos 37 réus por integrarem um esquema de compra de apoio político no Congresso, com uso de verba pública, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Já o medo de manifestações contra a impunidade, dizem nos bastidores os advogados, poderá frear possíveis reduções de penas por parte dos ministros.

Na quinta-feira, o presidente do tribunal e relator do processo, ministro Joaquim Barbosa, anunciará a data de retorno do julgamento. A previsão inicial é que isso ocorra a partir do dia 14.

Possivelmente, o tribunal fará sessões extras às segundas para acelerar a conclusão do caso, que entra agora em sua fase de recursos. Os condenados já ingressaram com os chamados embargos declaratórios, que apontam problemas no acórdão. Depois, será a vez dos embargos infringentes. Nessa fase, a Corte terá de enfrentar outra polêmica: a legislação brasileira não prevê mais os embargos infringentes desde os anos 1990, mas o regimento interno do Supremo ainda mantém essa possibilidade. Os ministros, portanto, terão de decidir qual regra seguir.

Contraditório. Reservadamente, parte dos ministros do STF tem defendido que a figura do revisor do processo seja mantida nessa fase de recursos - algo que não está previsto no regimento da Corte. Quem ocupou o posto no julgamento foi Ricardo Lewandowski, que manteve discussões constantes com Barbosa, relator do caso. A ideia é que Lewandowski, que votou pela absolvição de boa parte dos réus, se mantenha como contraponto a Barbosa, que votou pela condenação da maioria deles.

Diferentemente da época em que o julgamento foi concluído, agora o STF tem mais dois ministros indicados pela presidente Dilma Rousseff: Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso.

Na sua sabatina no Senado, Barroso afirmou que o julgamento do mensalão foi “um ponto fora da curva” e que o STF endureceu sua jurisprudência ao condenar os 25 réus.
Dilema. Os ministros dizem ter passado os últimos meses estudando com lupa os pedidos dos advogados de defesa que requerem mudanças nas sentenças via embargo de declaração. Alguns desses recursos têm mais de cem páginas.

Segundo fontes do STF, há ministros que se mostram “arrependidos de seus votos” por admitirem que algumas falhas apontadas pelos advogados de defesa fazem sentido. O problema, dizem essas fontes, é que esses mesmos ministros não veem nenhuma brecha para um recuo neste momento.

O dilema entre os que acham que foram duros demais nas sentenças é encontrar um meio termo entre rever parte do voto sem correr o risco de sofrer desgaste com a opinião pública.

Alguns ministros avaliam que os advogados conseguirão, por meio dos embargos declaratórios, reduzir algumas das penas impostas no julgamento concluído no ano passado.

Prisões e rito. A expectativa do Supremo é de que os mandados de prisão comecem a ser expedidos conforme os embargos de declaração sejam julgados, desde que o condenado não possa pedir novo julgamento por meio dos embargos infringentes.

Em princípio, a retomada do julgamento nas próximas semanas começaria pela análise dos embargos de declaração.

No entanto, alguns ministros defendem a ideia de que Barbosa retome a ação penal com a discussão sobre a possibilidade de novo julgamento para os casos em que a Corte ficou dividida - ou seja, validar ou não os embargos infringentes.

Alguns dos condenados que poderão recorrer a esse tipo de embargo são o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, apontado como chefe do esquema de pagamento de parlamentares, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado como operador do mensalão.

Somatória. 282 é a soma dos anos de prisão aplicados aos condenados pelo mensalão; apontado como o chefe do esquema, o ex-ministro José Dirceu, por exemplo, foi sentenciado a 10 anos e 10 meses.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PT blinda Dilma e recua nas críticas aos aliados

Depois de embate entre correntes, direção do partido exclui de texto com análise sobre conjuntura do País os ataques à formação da base e à economia

Pedro Venceslau

A direção nacional do PT promoveu uma a “lipoaspiração” no documento oficial da sigla sobre a conjuntura nacional pós-manifestações de junho. Entre outros itens, foi eliminado o ponto mais polêmico - e que mais preocupava o Palácio do Planalto: a restrição à política de alianças para a campanha de Dilma em 2014.

Se fosse aprovada, essa passagem poderia causar estragos na já tensa relação entre PT e PMDB. Segundo dirigentes petistas, o documento original também causaria constrangimento para o PSD de Gilberto Kassab, que caminha para apoiar Dilma Rousseff em 2014.

A primeira versão do balanço, que foi debatida na semana passada durante um encontro do Diretório Nacional em Brasília e acabou vazando na imprensa, tinha também um tom crítico à condução econômica do governo Dilma, e previa a realização de segundo turno em 2014. A nova versão do documento, que deve ser divulgada amanhã, eliminou essas passagens, reduziu o espaço dedicado às manifestações e repactuou as articulações em curso para o pleito do ano que vem.

A elaboração do texto foi alvo de um embate interno entre as correntes petistas que disputam o comando da legenda no PED (Processo de Eleição Direta) . O pleito será em novembro. “O texto sofreu uma lipoaspiração”, reclamou Markus Sokol, Membro do Diretório Nacional, ele é dirigente da corrente.

O Trabalho e candidato à presidência do PT. “O PMDB sabota o governo Dilma. Eu defendo a ruptura da aliança nacional do PT com eles”, disse o petista na saída do encontro.

O trecho que previa a realização de segundo turno em 2014 e as críticas à política econômica de Dilma também foram suprimidos. “O documento ficou mais leve”, resume o deputado federal Paulo Teixeira, que disputa a presidência da sigla pela tendência Mensagem ao Partido, da qual fazem parte o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro.

Inflexões. Presidente nacional do PT, o deputado Rui Falcão minimizou a polêmica. “Havia uma proposta de rever alianças, mas ela não dizia em qual direção e com quem”, afirmou.

O dirigente disse, ainda, que o trecho que tratava da condução da economia pedia de forma “genérica” que fossem feitas “inflexões na política econômica”. O tratamento do PT aos réus do mensalão foi outro assunto que se transformou em causa de atrito entre as corrente que disputam o PED.

Questionado sobre a exclusão de Delúbio Soares, João Paulo Cunha, José Dirceu e José Genoino de sua chapa no PED, Rui Falcão lembrou que Delúbio já não está na chapa. E garantiu que Dirceu e Genoino não quiseram estar no direção do PT a partir de 2014. “O Genoino me disse de voz própria que não queria. E o Dirceu disse que não fazia questão”, afirmou.

Sobre João Paulo Cunha ele não se pronunciou. Ambos estiveram na reunião de ontem. Já Genoino, internado no Hospital Sírio-Libanês, não teve como comparecer.

Em artigo publicado no site Brasil 247, o jornalista Breno Altman, amigo de Dirceu, afirmou que a exclusão dos réus do mensalão da chapa que apoia Falcão é uma “bomba de efeito imoral”. Ao saber da exclusão, Markus Sokol convidou o grupo para sua ehapâ, que disputa o PED com pouca chance de vitória. Nenhum deles aceitou.

A reunião de ontem terminou com pelo menos uma vitória política da esquerda do PT. Ficou definido que 35% dos R$ 2 milhões destinados à campanha interna serão divididos por igual entre as correntes e o restante de forma proporcional, conforme a participação no diretório. Antes, apenas 20% seriam repartidos igualitariamente.

"Lipo"

“O texto sofreu uma lipoaspiração”
Markus Sokol
Dirigente da corrente ‘O trabalho’

“O documento ficou mais leve”
Paulo Teixeira
Dirigente da corrente ‘Mensagem ao partido’

Fonte: O Estado de S. Paulo

Sem fusão, PMN arma candidaturas

Com a decisão do partido de manter a atual legenda e disputar cadeiras de deputados estaduais e federais nas eleições no ano que vem, o PMN de Minas Gerais já se prepara para o pleito. De acordo com o presidente estadual da legenda, Carlos Alberto Pereira, que assumiu o comando há pouco mais de um mês, a meta é eleger três parlamentares para a Assembleia Legislativa e seis para a Câmara. Atualmente a legenda tem apenas um deputado estadual, Duílio de Castro. A decisão do PMN foi tomada por unanimidade em reunião dos convencionais realizada no domingo, em São Paulo.

O prazo para filiações de quem quer disputar as eleições de 2014 é até o fim de setembro. A princípio, o PMN tem evitado a filiação de políticos com mandato, para dar mais chances de eleição de novos nomes. "O corte que estamos fazendo é de 60 mil votos para deputado federal e 35 mil para deputados estaduais", disse Carlos Alberto Pereira.

Por sua vez, o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, lamentou ontem a decisão do PMN de não se aliar à legenda em prol da criação do Movimento Democrático (MD) e divulgou nota convocando militantes a participarem dos encontros dos socialistas, que terão início no mês que vem. "Respeitamos a decisão soberana do PMN, mas reiteramos que a fusão entre os dois partidos, aprovada em congresso extraordinário do PPS realizado em abril deste ano, representaria, em nosso entendimento, o surgimento de uma nova formação política que possibilitaria um maior protagonismo da oposição ao atual governo e revigoraria a própria democracia brasileira", afirmou Freire.

Com a criação do MD, a expectativa era de que o ex-governador José Serra se filiasse à nova legenda para disputar a sucessão da Presidência da República nas eleições do ano que vem. Em sua página no twitter, Roberto Freire afirmou que "quanto à candidatura de Serra pelo PPS ou outro partido, ainda é uma incógnita".

Ontem, o presidente do PPS fez questão de convocar os militantes das legendas a participarem dos congressos municipais, estaduais e nacional da legenda, marcados a partir do mês que vem. Sem a aliança com o PMN, Freire afirmou em nota que a mobilização democrática do PPS não cessará. Ao contrário, a legenda seguirá firme por uma oposição ao governo Dilma Rousseff (PT).

Fonte: Estado de Minas

PMN aborta fusão e MD é "enterrada"

Desistência da fusão entre o PMN e o PPS para a criação de uma nova legenda pode prejudicar os planos de José Serra de se lançar candidato à Presidência

SÃO PAULO - Em reunião extraordinária realizada em São Paulo, o Partido da Mobilização Nacional (PMN) formalizou a desistência de fusão com o Partido Popular Socialista (PPS) para formar a Mobilização Democrática (MD). Segundo a secretária nacional do PMN, Telma Ribeiro, a diferença de tempo entre os dois partidos é o que impossibilitou a fusão. "Não posso mexer na vida de tanta gente e ficar dependendo da posição de um só (integrante)", disse a dirigente.A nova sigla, fruto da fusão do PPS com o PMN, era articulada pelo deputado Roberto Freire (PPS-SP), que é próximo do ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Se a criação do MD fosse aprovada, o novo partido poderia lançar a candidatura de Serra à Presidência da República em 2014.

O tucano enfrenta dificuldades em seu partido para tentar ser candidato novamente - ele já disputou a cadeira de presidente duas vezes: em 2002 e 2010. O presidente do PSDB, o senador Aécio Neves, deve ser o indicado pelo partido para concorrer às eleições no ano que vem. Com isso, Serra tem procurado alternativas para se viabilizar candidato e a fusão entre o PMN e o PPS seria um caminho viável.

Para o PPS, a fusão era considerada essencial para fortalecer a sigla rumo à eleição de 2014. Com a criação de uma nova legenda, haveria uma janela de oportunidade para que políticos com mandato pudessem mudar de partido, formando uma sigla mais robusta, com direito a mais tempo de TV.

A visão de Roberto Freire é que seria importante agregar insatisfeitos com mandato. Ele estava muito preso a essa visão. "A minha posição é no outro sentido, de definir logo para tocar as coisas práticas", disse Telma Ribeiro. E completou: "Você não pode fazer uma fusão esperando as pessoas olharem o partido como um produto em uma prateleira, escolhendo entre vários partidos."

Em nome do partido, o presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire, divulgou nota ontem lamenta a não concretização da fusão com o PMN.

No texto, Freire convoca os militantes a participarem dos congressos municipais, estaduais e nacional da legenda este ano. Os eventos, que definirão as novas direções da legenda, começam a partir do mês de agosto.

Fonte: Jornal do Commercio (Pe)

Ala do PPS defende apoio a Marina

Por Fernando Taquari

SÃO PAULO - A antecipação da campanha eleitoral de 2014 já provoca fissuras nas fileiras da oposição. Um dia depois de ver naufragar a fusão com o PMN para criar o Mobilização Democrática (MD), o PPS se encontra dividido quanto aos rumos do partido na disputa presidencial. Uma ala do PPS paulista defende um ultimato ao governador José Serra (PSDB), convidado a se filiar ao partido para concorrer ao Palácio do Planalto nas eleições do ano que vem.

O secretário de comunicação da legenda no Estado, Maurício Huertas, encaminhou um documento à direção nacional do PPS em que propõe dar um prazo de 15 dias para Serra se manifestar sobre a saída do PSDB e a eventual candidatura presidencial. "O partido não pode ficar subjugado aos humores ou ao bel prazer dos interesses pessoais do tucano", afirma o texto. A incerteza quanto ao futuro político do ex-governador, inclusive, pesou contra a fusão com o PMN, como reconheceu a presidente da legenda, Telma Ribeiro, no domingo.

O grupo que cobra celeridade na decisão de Serra, na verdade, é a favor de uma aliança com a ex-senadora Marina Silva, que colhe assinaturas para fundar o Rede Sustentabilidade. Segundo Huertas, lideranças paulistas e de outros Estados teriam decidido se unir para atuar formalmente pela coligação do PPS com o Rede. O ultimato seria uma forma de acelerar o processo, já que a filiação do tucano, considerada improvável pelo grupo, encerraria a discussão interna. Nesse caso, a tese de candidatura própria teria o apoio majoritário do partido e atenderia aos objetivos da direção nacional de ganhar musculatura para se fortalecer na campanha eleitoral.

O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), considera uma "bobagem" a ideia de colocar Serra contra a parede. "Não se dá ultimato a ninguém para entrar no seu partido. Não fizemos isso com a Marina quando a convidamos para entrar na legenda. Agora, isso não me parece uma posição majoritária do PPS", afirma. A candidatura de Serra, segundo Freire, vai depender da conjuntura econômica e política: "Serra tem dito que a precipitação da campanha não foi uma coisa boa porque o Brasil precisa discutir seus problemas. Ele não está focado ainda nesta questão de presidente, mas o PPS está e neste foco o ex-governador está presente."

O deputado contesta ainda tese de que a candidatura de Serra não seria competitiva após as manifestações de junho, que evidenciaram o desgaste da sociedade com a classe política. Para Freire, o recall do tucano e sua gestão bem sucedida no Ministério da Saúde, uma das áreas consideradas críticas no governo Dilma Rousseff, ajudariam a levar a disputa presidencial ao segundo turno. "Algumas pessoas podem não gostar do Serra, mas uma coisa é certa. É alguém que o PT teme porque o agride de forma consistente. Por isso não podemos abrir mão dessa hipótese."

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), desponta como o favorito a ganhar o apoio do PPS, caso Serra decida permanecer no PSDB, confidencia um dirigente do partido. Freire, no entanto, afirma que não há nada decidido e ressalta que aguarda a manifestação do tucano. Apesar disso, reconhece que a opção por Campos conta com o apoio da maioria do partido. "É arriscado dizer com certeza qual caminho vamos tomar se a tese de candidatura própria não prosperar. Antes do Serra, estávamos mais próximos da ideia de apoiar o Eduardo, mas houve um refluxo de sua candidatura. De qualquer modo, ainda temos alas no partido que defendem a aliança com Marina e outros que são favoráveis ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). Temos tempo para discutir isso."

Fonte: Valor Econômico

PMN desiste de fusão com PPS e dificulta tática de Serra para 2014

Sigla que seria criada era opção para tucano disputar a Presidência

SÃO PAULO - Em convenção extraordinária realizada no domingo, o PMN formalizou a desistência da fusão com o PPS, processo que daria origem à MD (Mobilização Democrática).

A nova sigla era a principal alternativa estudada pelo ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) para concorrer à Presidência em 2014.

O PMN justificou a desistência afirmando que não poderia ficar "parado" aguardando a definição de políticos que cogitam ingressar no novo partido. "Não posso mexer na vida de tanta gente ao anunciar a fusão e ficar dependendo da posição de alguém", diz Telma Ribeiro dos Santos, secretária nacional.

Serra hoje enfrenta dificuldades para se viabilizar novamente candidato pelo PSDB, que deve laçar o senador mineiro Aécio Neves para disputar a sucessão de Dilma Rousseff no Planalto.

O processo de fusão com o PMN era articulado pelo presidente do PPS, o deputado Roberto Freire (SP), que é amigo de Serra e já tinha feito o convite para o ingresso do tucano na nova sigla.

Para o PPS, a fusão era considerada essencial para fortalecer a sigla. Isso porque, com a criação de uma nova legenda, parlamentares poderiam mudar de partido sem risco de perder o mandato. A expectativa era que tucanos aliados de Serra o seguissem na mudança de partido.

Freire diz que o convite para Serra se mantém, mesmo sem a fusão. Sem a união, no entanto, políticos que acompanhem Serra em eventual migração para o PPS correm o risco de perder o mandato, o que deve inibir mudanças.

A aproximação com Serra não é unanimidade no PPS. Nomes do partido como o vereador paulistano Ricardo Young defendem contato maior com a ex-senadora Marina Silva, que tenta formar seu partido, Rede, a tempo de disputar o Planalto em 2014.
"Com o descarte da fusão, há uma questão estratégica colocada. Ou o PPS vai se alinhar no campo da Rede ou vais retroceder na decisão anterior de não se alinhar mais com o PSDB", diz Young.

Fonte: Folha de S. Paulo

IDH: Rio muito longe dos melhores no país

No Rio, de 92 municípios, 63 tiveram índice de Desenvolvimento Humano (IDH) abaixo da média nacional. Apesar de ter o segundo PIB do país, o estado é o quarto em bem-estar. Já a capital está em 45º lugar no ranking das Nações Unidas. Com isso, fica de fora da "elite" dos municípios, de muito alto desenvolvimento. Nesse seleto grupo está apenas Niterói, em sétimo lugar. O governador Sérgio Cabral disse que, com os investimentos que o estado está recebendo, o IDH deve subir. No Brasil, a educação deu o maior salto, mas está abaixo de renda e saúde

Rio fora da elite do IDH

Capital está em 45º lugar, e estado tem 63 cidades com índice abaixo da média do país

Clarice Spitz, Nice de Paula, Cristiane Bonfanti e Demétrio Weber

RIO e BRASÍLIA - Os avanços na qualidade de vida dos brasileiros nos últimos 20 anos foram acompanhados a passos mais lentos pelo Estado do Rio, mostra o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013, lançado ontem, em Brasília. A capital fluminense, que em 1991 aparecia como um dos dez maiores Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) do país, agora está no 45º lugar. A exemplo do IDH nacional, o IDHM mede a qualidade de vida da população a partir dos critérios de renda, saúde e educação. Apesar do Estado do Rio ter a segunda maior economia do Brasil, perdendo apenas para São Paulo, dos 92 municípios fluminenses, 63 tinham IDHM inferior à média nacional, de 0,727 (o índice varia entre zero e um e, quanto mais perto de um, melhor), em 2010.

Produzido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro, o atlas utiliza dados dos censos do IBGE de 1991, 2000 e 2010. Ao lançar a publicação, o presidente do Ipea e ministro interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri, destacou que o quadro do Brasil é desafiador. Ele disse que a fotografia ainda é ruim, mas o filme aponta avanços. O ministro ressaltou que, nos últimos dois anos, os indicadores sociais e do trabalho seguem avançando. Segundo ele, programas de transferência de renda, como Bolsa Família, tiveram apenas um papel de coadjuvante na melhoria da renda e do IDHM como um todo.

- Eu daria um Oscar de ator coadjuvante para o Bolsa Família - disse Neri. - Estamos num momento crítico de mudanças. Acho que o Brasil, o chamado das ruas, nos pede respostas. E acho que esse trabalho identifica lugares. A resposta para o Brasil não é uma só.

No mapa do desenvolvimento humano brasileiro, o Rio aparece em quarto entre os estados brasileiros, atrás de Distrito Federal, São Paulo e Santa Catarina. A capital fluminense, que já teve o nono melhor IDHM do país, caiu para a posição 61 em 2000 e, agora, está em 45.
Para o economista Leonardo Muls, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFF), a posição do Rio no ranking surpreende negativamente, mas ajuda a entender os protestos que têm varrido as ruas da cidade.

- O IDH mede o bem-estar da população, que significa qualidade de transportes, educação, segurança. Esse indicador diz que a gente está muito aquém do que deveria e os protestos, também. A impressão é que existe um discurso oficial se vangloriando de ter atraído investimentos, de sediar grandes eventos, mas no dia a a dia da população as carências estão aí - diz.

Para o professor da UFF, o Rio sofre principalmente pela falta de planejamento de longo prazo, capaz de desenvolver a economia para não deixar o estado tão dependente dos recursos do petróleo. Mesmo cidades que recebem elevados royalties do petróleo, como Campos dos Goytacazes e Quissamã, têm IDHM inferior à média do Brasil.

Especialista em economia fluminense, Mauro Osório, acha que, no caso da capital, a desigualdade elevada dificulta o desenvolvimento humano.

- Enquanto 22% da população vivem em favelas, em São Paulo são 11,42% e Belo Horizonte, 12,96% - afirma.

Em nota, o governador do Rio, Sérgio Cabral, destacou os investimentos que o estado tem atraído: "O Rio nesses últimos sete anos vem fazendo um grande esforço em busca do tempo perdido. Foram décadas de ausência de investimentos na educação, na saúde, no saneamento, na infraestrutura. Tenho certeza de que com o Rio de Janeiro tendo hoje o maior volume de investimentos públicos e privados do Brasil, inclusive na infraestrutura e nos serviços públicos essenciais para a população, o nosso IDH nas próximas avaliações certamente estará em melhor posição", afirmou.

Procurado, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, não respondeu o pedido para comentar os resultados dos IDH.

No estado, somente Niterói tem índice de desenvolvimento considerado muito alto. No país, são 44 municípios nesta situação. A cidade de Niterói, no entanto, caiu duas posições no ranking nacional na última década. Em 2010, aparece em sétimo lugar geral e tem a segunda maior renda do país. Em 1991, era a terceira no ranking de todos os 5.565 municípios do país. O estado não tem municípios classificados como de desenvolvimento baixo ou muito baixo.

- Ficamos orgulhosos com a posição de Niterói. É uma população com escolaridade maior que a média do Rio e um capital humano extraordinário. Entretanto, nos anos recentes, a cidade observou ausência de ações do poder público municipal. Estamos melhorando o plano estratégico para recuperar as posições que a cidade perdeu - diz Rodrigo Neves, prefeito de Niterói.

Camila Alves da Silva mora em São Gonçalo. Aos 17 anos, cursa o segundo ano do ensino médio e já superou a mãe, que só conseguiu concluir o ensino fundamental. Decepcionada com a falta de estrutura e professores da escola pública, resolveu se matricular num colégio particular e ontem tirou sua primeira carteira de trabalho.

- Eu estou querendo ver esse negócio do Jovem Aprendiz e começar a trabalhar agora, para ter meu próprio dinheiro e futuramente poder pagar minha faculdade - planeja a jovem, que sonha em estudar Gastronomia.

Fonte: O Globo

Os brasileiros ainda esperam uma resposta - Gil Castello Branco

Há várias frases anedóticas que expressam a incompetência dos governos. O americano Milton Friedman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 1976, afirmava: "Se o governo administrar o deserto do Saara, em cinco anos faltará areia." Já o economista Delfim Netto prognosticou: "Se o governo comprar um circo, o anão começará a crescer."

Nas recentes manifestações sociais as reivindicações foram difusas, mas tiveram como pano de fundo a péssima qualidade dos serviços públicos (saúde, educação, segurança e mobilidade urbana) frente à elevada carga tributária e à corrupção deslavada.

Decorridos quase dois meses do início das mobilizações, poucas foram as respostas efetivas. A presidente Dilma reuniu-se com uma dúzia de ONGs chapas-brancas e empurrou o pepino para o Legislativo, ao propor uma constituinte "inconstitucional" exclusiva sobre a reforma política e, posteriormente, ao sugerir temas óbvios para um plebiscito relâmpago e inviável. Além disso, propôs pactos que não se consumaram. Nesse contexto, o Mais Médicos gerou mesmo foi mais confusão. Mas, se a intenção for mesmo consultar a sociedade, são várias as perguntas em relação às quais a enorme maioria dos brasileiros gostaria de responder "Sim" ou "Não".

Apostaria no "Sim" em várias situações como: redução para menos da metade dos 39 ministérios. Corte de 2/3 das 22.417 funções comissionadas de Direção e Assessoramento Superior (DAS). Férias de somente 30 dias para os membros do Legislativo e do Judiciário, como ocorre com qualquer trabalhador. Redução da quantidade de deputados federais, estaduais e vereadores. Votação imediata dos 130 projetos de lei relativos ao combate à corrupção, engavetados há anos no Congresso Nacional. Redução para 1/3 dos gastos com publicidade na União, estados e municípios. Julgamento imediato dos mensalões (PT, PSDB e DEM) e dos processos que envolvem parlamentares, a começar pelo do presidente do Senado. Proibição do uso de recursos públicos ou de isenções fiscais para bancar aquelas propagandas partidárias, repetidas, irritantemente, nos horários nobres. Fim dos suplentes de senadores sem votos. Maioridade penal aos 16 anos, para exterminar o "sou di menor". Proibição para que parlamentares condenados pelo Supremo Tribunal Federal continuem legislando, a seu favor ou contra aqueles que os condenaram. Fim do voto secreto no Congresso. Ampliação da Ficha Limpa para todas as instâncias e Poderes. Fim do imposto sindical obrigatório que retira compulsoriamente do trabalhador o valor correspondente a um dia de trabalho por ano em prol de sindicatos (alguns fictícios), militantes e dirigentes com fortunas amealhadas sabe-se lá como. Esse plebiscito do bem daria um livro.

Por outro lado, creio que surgiria um "Não" sonoro às propostas que implicam em dar mais poder e dinheiro aos caciques políticos. Dessa forma, parecem mínimas as chances de os brasileiros concordarem em votar em uma "lista fechada" de candidatos definida pelos "proprietários" dos partidos, bem como de aprovarem o financiamento público exclusivo das caríssimas campanhas eleitorais, à custa dos impostos pagos. Neste ano, mesmo sem eleições, os partidos políticos irão receber do orçamento da União (via Fundo Partidário) R$ 294,2 milhões, além dos R$ 300 milhões das isenções fiscais concedidas aos veículos de comunicação pelas inserções políticas publicitárias.

Plebiscito à parte, prova da surdez dos parlamentares está no fato de terem saído de "recesso" sem votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias, contrariando a própria Constituição. Justificam a "gazeta" argumentando que as Casas estão funcionando, apenas sem as votações. A "mentirinha" faz lembrar o historiador Capistrano de Abreu, que imaginava como artigo principal da Constituição Federal o dispositivo: "Todo brasileiro deve ter vergonha na cara." Ao contrário, alguns dos nossos deputados e senadores devem lustrar os rostos com óleo de peroba. Tomara que não o façam com a verba indenizatória...

Enfim, como as autoridades - por incompetência ou conveniência - continuam fazendo vista grossa às reais demandas da sociedade, os protestos tendem a continuar. A queda abrupta da popularidade da presidente Dilma e da maioria dos governadores é reflexo natural da insatisfação coletiva. O que os governantes e marqueteiros não percebem é que o anão do circo cresceu e que as manifestações não morrerão na praia ou no deserto de providências concretas que atendam, de fato, os anseios de milhões de brasileiros.

Gil Castelo Branco é economista e fundador da organização não governamental Associação Contas Abertas.

Fonte: O Globo

Acabou a "pax lulista" – Arnaldo Jabor

De repente, do momento imóvel fez-se o drama. Assim, com um verso de Vinicius, podemos descrever o que temos pela frente. Não mais a paralisia do país, tão do agrado da "aliança para o atraso" que rege o Brasil há dez anos. Parecia que tinham conseguido o milagre da exclusão da sociedade. De repente, não mais que de repente, a herança maldita do PT explodiu e abriram-se estradas divergentes. O que parecia um fracasso assimilado, deu lugar a manifestações entusiasmadas de desejos. A torpe "pax lulista" acabou. Que acontecerá com o país?

A história de minha vida política sempre oscilou entre dois sentimentos: esperança e desilusão. Cresci ouvindo duas teses: ou o Brasil era o país do futuro ou era uma zorra sem nome, um urubu caindo no abismo. Nessa encruzilhada, eu cresci. Além disso, dentro dessa dúvida, havia outra: UDN ou PTB?

Votei em Jânio, confesso. Eu tinha 18 anos e não me interessei por Lott, aquele general com cara de burro, pescoço duro. Jânio me fascinava com sua figura dramática, era uma caricatura vesga cheia de caspa e dava a impressão de que ele, sim, era de "esquerda", doidão, "off".

Meses depois, estava no estribo de um bonde quando ouvi: "Jânio tomou um porre e renunciou!". Foi minha primeira desilusão. Eleito esmagadoramente, largou o governo como se sai de um botequim.

Ali, no estribo do bonde, eu entendi que havia uma grossa loucura brasileira rolando por baixo da política, mais forte que programas racionais: a maldição do Mesmo. Percebi que existia uma "sub-história" que nos dirigia para além das viradas políticas. Uma anomalia secular que faz as coisas "des-acontecerem", que criou "um país sob anestesia, mas sem cirurgia".

Já na UNE, eu participei febrilmente da luta pela posse do vice João Goulart, que a "direita" queria impedir. O Exército do Sul, com Brizola à frente, garantiu a posse de Jango, e botei na cabeça que, com militares "legalistas" e heróis de esquerda, o Brasil ia ascender a seu grande futuro.

Vivi a esperança de um paraíso vermelho que ia tomar o país, numa réplica da rumba socialista de Cuba, a revolução alegre que acabaria com a miséria e instalaria a cultura, a grande arte, a beleza, com o presidente Jango e sua linda mulher fundando a "Roma tropical", como berrava Darcy Ribeiro em sua utopia.

Não haveria golpes, pois o "exército é de classe média e, portanto, a favor do país" – nos ensinava o PCB. Dá arrepios lembrar a assustadora ingenuidade política da hora.
No dia 31 de marco de 64, estava na UNE. Havia um show com Grande Otelo, celebrando a "vitória do socialismo". Um amigo me abraçou, gritando: "Vencemos o imperialismo norte-americano; agora, só falta a burguesia nacional!".

Horas depois, a UNE pegava fogo, e eu pulava pelos fundos sob os tiros das brigadas juvenis de "direita". Acho que virei adulto naquela manhã, com a UNE em fogo, com os tanques tomando as ruas. Eu acordara de um sonho para um pesadelo. No dia seguinte, diante de mim, materializou-se a "figura" de Castelo Branco, como um ET verde-oliva.

No entanto, os tristes dias militares de Castelo ainda tinham um gosto democrático mínimo, que até serviu para virilizar nossa luta política. Agora, o inimigo tinha rosto e contra ele se organizou uma resistência cultural refinada pelo trauma e que perdeu o esquematismo ingênuo pré-64. As ideias e as artes se engrandeceram na maldição.

Nossa impotência estimulou uma nova esperança. A partir daí, as passeatas foram enchendo as ruas, num movimento democrático que acreditava que os militares cederiam à pressão das multidões. Era ilusão.

Ventava muito em Ipanema, em 1968, enquanto o ministro Gama e Silva lia o texto do Ato Institucional 5 na TV, transformando o país num campo de concentração. Com uma canetada, o Costa e Silva, com sua cara de burro, instado pela louca "lady Macbrega Yolanda", fechou o país por mais 15 anos.

Vieram os batalhões suicidas das guerrilhas urbanas. Nos anos do milagre brasileiro, os jovens românticos ou foram massacrados à bala ou caíram na esperança da contracultura, enquanto os mais caretas enchiam o rabo de dinheiro nos "milagres" de São Paulo.

O bode durou 15 anos, e a democracia virou uma obsessão. "Quando vier a liberdade, tudo estará bem!", dizíamos. Só pensávamos na democracia, mas ninguém reparou que ela foi voltando menos pelos comícios e mais pelas duas crises do petróleo que criaram a recessão mundial.

Os milicos e a banca internacional nos devolveram a liberdade na hora de pagar a conta da dívida externa. Os militares queriam se livrar da batata quente da falência do Estado e entregaram-no aos paisanos eufóricos com a vitória de Tancredo. Nova esperança! Aí, veio um micróbio voando, entrou no intestino do Tancredo e mudou nossa história. E começou a grande desilusão. Com a volta da democracia, no período Sarney, tudo piorou. Nossos velhos vícios reapareceram. Apavorado, vi que a democracia só existia de boca, não estava entranhada nas instituições que passaram a ser pilhadas pelos famintos corruptos que tomaram o "pudê" – todos "nobres vítimas da ditadura". A ditadura virou um OMO, para lavar canalhas. Daí para frente, só desilusão e dor: inflação a 80% ao mês (lembram?), o messianismo de Collor, montado no cavalo louco da República.

Depois, nova esperança com o impeachment; depois, mais esperança com o Plano Real, vitória da razão reformista com FHC, com o Brasil no tetra, céu azul, esperança sem inflação. Nunca acreditei tanto na vida.

Mas, hoje, estou aqui, com medo e tristes pressentimentos.

Dilma poderia ter sido uma ponte entre a teimosia regressista e uma modernização mais liberal; mas se revelou teimosa e arrogante por um lado e fiel "tarefeira" pelo outro, dominada pela gangue que quer "mudar o Estado". O maior inimigo do Brasil é a aliança entre uma ideologia "de esquerda sindicalista" e a oligarquia "de direita" – como é hoje. Nem UDN nem PTB. Vêm grandes crises por aí, mas continua no horizonte a vitória do partido do Mesmo.

Fonte: Segundo Caderno / O Globo

Bom, mas tem de melhorar - Eliane Cantanhêde

O IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) confirma que o Brasil, mesmo que aos trancos e barrancos, vai no bom caminho. E que, apesar das críticas e da guerra cruenta entre PSDB e PT, foi sob o comando do sociólogo Fernando Henrique Cardoso e do grande líder de massas Luiz Inácio Lula da Silva que o país efetivamente deu seu grande salto.

A pesquisa mostra que o IDH do Brasil melhorou 47,5% em duas décadas e saiu de "muito baixo" para "alto". Em 1991, 85,8% dos municípios brasileiros tinham um IDH "muito baixo". Em 2010, era apenas 0,6%.

O maior salto é no Norte/Nordeste, mas o Sul/Sudeste continua na dianteira. O DF fica em primeiro lugar, mas, como é "hors-concours" por ser muito peculiar, cede lugar a São Paulo, ou seja, à "locomotiva" do Brasil. De onde, aliás, o carioca Fernando Henrique e o pernambucano Lula saíram para o Planalto e para mudar a cara do país.

Um porque combateu a inflação, elevou o patamar internacional do país, botou a casa em ordem na economia e deu o "start" em programas sociais cruciais. O outro porque manteve uma política macroeconômica saudável e transformou o grande momento mundial em oportunidade para uma inclusão social histórica.

Caminhando ao lado dos dois regimes --um continuação do outro--, estávamos a população em geral, a academia, a indústria, o agronegócio e a imprensa independente cobrando, provocando, apontando erros e exigindo sempre mais. Assim se constrói um país melhor. Assim se consolida a cidadania. E daí 1 milhão de pessoas vão às ruas botando o dedo nas feridas e na cara dos governantes de todos os níveis.

Há muito ainda a fazer, principalmente na educação. O último lugar em desenvolvimento humano foi Melgaço (PA), onde metade da população não sabe ler nem escrever. Enquanto houver "Melgaços" no Brasil, gritemos. Oba-oba os governantes já fazem à exaustão.

Fonte: Folha de S. Paulo

Costela de Adão - Dora Kramer

A clareza na expressão de linguagem não é o forte da presidente Dilma Rousseff. Em suas declarações, verbos, substantivos, adjetivos e advérbios não primam pela harmonia. Nisso é parecida com o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, mas com sinal trocado.

Na dificuldade com o manejo das palavras, ele torna simplista o argumento, usa a "quase lógica" que dispensa a coerência, mas parece convincente aos ouvidos do senso comum. A precisa conceituação foi feita pela cientista política Luciana Veiga ainda nos primórdios do governo Lula sobre os espantosos discursos dele.

Já Dilma é tortuosa. Falta-lhe fluência mesmo nos pronunciamentos escritos. No improviso, não raro diz alguma coisa que parece significar outra. Esta, por sua vez, dá margem a uma terceira interpretação e o conjunto nem sempre forma um raciocínio claro.

É o caso da recente afirmação que mereceu destaque na entrevista à Folha de S. Paulo, edição de domingo último, sobre a hipótese de o antecessor disputar a eleição de 2014 no lugar dela.

Disse a presidente: "Eu e o Lula somos indissociáveis. Então esse tipo de coisa, entre nós, não gruda, não cola. Agora, falar volta Lula e tal... Eu acho que o Lula não vai voltar porque ele não foi. Ele não saiu".

Não saiu do governo? Não foi aonde? Haveria na declaração da presidente uma confissão de tutela ou terá ela querido apenas sair pela tangente no assunto reeleição que, com seu beneplácito, foi posto à mesa por Lula no início do ano alegadamente para conter o crescimento da palavra de ordem "volta" no PT e adjacências?

Diante da quantidade de sombras de dúvidas que permeiam a resposta, a conclusão ficou ao gosto de cada freguês. Segundo a oposição, Dilma deu sinal de fraqueza, reconheceu que governa teleguiada pelo antecessor. De acordo com a situação, a presidente quis dizer que a nação petista é firme e indissolúvel como uma rocha.

Aqui também cabe uma terceira avaliação sobre o significado das palavras da presidente. Ao repudiar qualquer possibilidade de separação entre orientador e orientanda, Dilma praticamente anula a chance de armação de um plano B do PT para 2014 tendo como candidato o ex-presidente.

Se não foi essa a intenção da presidente ao dizer que os dois são "indissociáveis", deixou patente que Lula não poderá se apresentar em feitio de contraposição a ela, apresentada que foi ao País por ele como uma versão melhorada de sua imagem e semelhança.

Na mesma linha, o ex-presidente outro dia informou: "Dilma não é mais que uma extensão da gente lá". O eleitor haverá de concordar. Para o bem ou para o mal.

Sinuca. Quando mudou a regra de cálculo para o reajuste do salário mínimo a partir de 2012, o governo retirou do Congresso a prerrogativa de debater anualmente o assunto.

O argumento: a norma deveria ser permanente e, o aumento, estabelecido pela combinação do índice Nacional de Preços ao Consumidor com a taxa de crescimento da economia dos dois anos anteriores.

Na prática, agora, dois problemas: criou-se uma indexação, perigosa em tempos de inflação escapando da meta, e eliminou-se a possibilidade de divisão de responsabilidade com o Legislativo por reajuste reduzido em decorrência do PIB diminuto.

Emérito. Na celebração geral ao papa Francisco falta o reconhecimento ao antecessor Bento XVI por ter aberto espaço, com sua renúncia, para a pessoa certa no momento certo na condução da Igreja Católica.

Jorge Mario Bergoglio fala de humildade, simplicidade, reencontro da humanidade com valores da espiritualidade em contraposição aos excessos da materialidade. Joseph Ratzinger disse o mesmo com seu gesto de desprendimento.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Qual o sentido? - Merval Pereira

Minha primeira reação quando li a inacreditável declaração da presidente Dilma de que "não haverá "volta, Lula" porque Lula nunca saiu", na entrevista que concedeu a Mônica Bergamo da "Folha", pensei que ela caíra na própria armadilha. Ao tentar escapar de uma pergunta incômoda, fizera uma frase de efeito que acabou sendo uma admissão de submissão.

Não considerei nem mesmo que fora um ato falho, como sugeriu o Carlos Alberto Sardenberg na conversa comigo na CBN ontem, acreditando que fora, sim, uma infelicidade de quem não está acostumada com a política.

Mas, durante o dia, conversando com um e com outro, acabei abrindo uma janela na interpretação para aceitar a possibilidade de que o que considerava uma autêntica "barbeiragem" da presidente pudesse ser na verdade audaciosa manobra: e se em vez de uma frase infeliz a presidente tivesse dado, isso sim, uma "trucada" nos que querem vê-la substituída por Lula na campanha eleitoral de 2014?

Ao explicitar a simbiose com o ex-presidente, Dilma esvazia a principal razão de uma eventual substituição sua por Lula. Ao dizer que Lula sempre esteve no governo, Dilma deixa nas entrelinhas a mensagem de que seus acertos e erros têm que ser divididos com o ex-presidente, o responsável final pela sua candidatura e, sobretudo, o parceiro do que tem sido feito no governo, o avalista de sua candidatura à reeleição.

Os que nos bastidores tramam para que Lula venha a ser o candidato à Presidência em 2014 certamente consideram que a manobra vale a pena, mesmo com os riscos que ela traz. Lula, no entanto, parece estar ciente dos perigos da empreitada, e resiste aos apelos. Como bom político, ele sabe que é quase impossível assumir o posto de candidato deixando no Palácio do Planalto uma presidente em pleno exercício do mandato, mas abandonada pelos seus e pelos aliados.

Como justificar a presença de Lula na campanha sem atribuí-la ao fracasso de Dilma? Como pedir para os eleitores esquecerem que foi ele o responsável por colocá-la no Palácio do Planalto? Além do mais, no limite, para o PT, perder com Dilma é melhor do que perder com Lula.

Há quem compare a atual situação da presidente Dilma ao final dos governos Jânio Quadros e Collor, mas não creio que o momento político seja semelhante, nem vejo sinais de que a presidente Dilma esteja perdendo a capacidade de governar. Se bem ou mal, essa é outra questão.

Ela está enfraquecida, é verdade, e até o momento não tem dado sinais de se preparar para dar a volta por cima. Nenhuma das medidas anunciadas parece razoável para dar resposta aos anseios da população, e a insistência em manter inalterada a equipe ministerial, seja em tamanho ou em pessoas, mostra uma incapacidade de mudança de rumos preocupante.

A continuar nessa marcha, o mais provável é que chegue à eleição desidratada de poder político, com sua base aliada abandonando o navio em busca de novos rumos, talvez como o ex-presidente José Sarney no fim do mandato.

Antecipando-se a essa provável debandada, o grupo do governador gaúcho, Tarso Genro, e do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sugere que a presidente abra mão de seus aliados "conservadores" para seguir adiante com uma aliança de esquerda, dando uma guinada em seu governo.

Essa seria talvez a maneira mais rápida de perder completamente o apoio da classe média, que já está nas ruas pedindo mudanças em setores-chave como Saúde, Educação, transportes, segurança pública. Por isso mesmo, atribui-se ao ex-presidente Lula sugestão oposta.

Para recuperar esse apoio, e manter sob suas asas os partidos que hoje já estão à procura de outro caminho eleitoral, a manobra do governo teria que ser diametralmente contrária, com uma guinada ao centro que abrisse perspectivas futuras de melhorias.

Talvez não haja tempo mais para ter resultados ainda em 2014, mas fazendo mudanças na direção correta, a presidente poderia pelo menos vender a possibilidade de um futuro melhor em seu segundo mandato. Para tal teria que aceitar mudar a política econômica, colocando no lugar de Guido Mantega um ministro com luz própria, que por si só levasse esperança ao mundo dos negócios.

Mas, embora ela negue que seja tão centralizadora quanto dizem, há quem não veja chance de mudanças dessa ordem por ser Dilma quem dizem que ela é.

Os pontos-chave

1. A frase de Dilma - "Não haverá "volta, Lula" porque Lula nunca saiu" - foi uma infeliz admissão de submissão ou uma manobra contra os que no PT trabalham pela volta do ex-presidente em 2014?

2. Como justificar a presença de Lula na campanha sem atribuí-la ao fracasso de Dilma? Como pedir para os eleitores esquecerem que foi ele o responsável por colocá-la no Planalto?

3. Para recuperar apoio, Dilma teria de aceitar mudar a política econômica. Mas nada indica que isso será feito

Fonte: O Globo

Crise está na base de apoio no Congresso - Raymundo Costa

Na entrevista que concedeu ao jornal "Folha de S. Paulo", publicada no domingo, a presidente Dilma Rousseff nomeou o interlocutor econômico do governo: é e continuará sendo o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Faltou dizer quem é o interlocutor político, outro fator de tensão na atual conjuntura. Como a presidente também afirmou que não pretende mexer na equipe de governo, o pressuposto é que Dilma decidiu enfrentar os duros embates com o Congresso, previstos para este semestre, com a mesma equipe e o mesmo modus operandi até agora empregados.

Mudanças no ministério devem ficar mais para o fim do ano ou início de 2014, quando a presidente terá de substituir de 10 a 12 ministros que serão candidatos às eleições de 2014, entre eles Ideli Salvatti (Relações Institucionais), que tanto pode ser candidata ao governo estadual como ao Senado por Santa Catarina. O Palácio do Planalto conhece o cardápio indigesto que o Congresso pretende lhe oferecer na volta do recesso, mas não tem muitas opções além das que atualmente dispõe para coordenar e tentar conduzir esse processo. As alternativas apresentadas pelo PT são piores.

Uma delas seria a nomeação do deputado Ricardo Berzoini (SP) para o lugar. Ex-ministro do governo Lula e ex-presidente do PT, a nomeação de Berzoini seria mais um problema que solução para o governo. Em 2006, então presidente da sigla, Ricardo Berzoini foi afastado do comando da campanha da reeleição do ex-presidente Lula da Silva por conta do envolvimento de meia dúzia no escândalo dos "aloprados", como Lula chamou auxiliares que teriam confeccionado um dossiê para incriminar o PSDB no desvio de recursos para a Saúde. O deputado também é investigado por envolvimento em suposto desvio de recursos da Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop) para o caixa 2 do PT.

Reforma no fim do ano deve atingir pelo menos 12 ministros

O Congresso mudou as regras de convivência entre os dois poderes com o jogo em andamento, ao decidir votar vetos da presidente da República logo na reabertura do semestre legislativo, e com isso surpreendeu o Palácio do Planalto. Numa avaliação realista, o governo pode perder, entre outras, a votação do veto ao fim da multa de 10% sobre o FGTS e a do projeto que estabelece o Orçamento impositivo.

A disputa pela multa dos 10% será árdua, pois envolve interesses combinados de empresários e dos congressistas, independentemente de cor partidária. Pior para o programa Minha Casa Minha Vida, ao qual seriam destinados os recursos arrecadados. Votação difícil, o que não quer dizer que o governo jogou a toalha. O empenho maior, no momento, é em torno da negociação do orçamento impositivo. Caminham bem as conversas no sentido de restringir o alcance do projeto, talvez apenas às emendas parlamentares. Não deixará de ser uma derrota para este e os próximos governos. Os presidentes manobram com o Orçamento autorizativo - como é atualmente - para conquistar simpatias e votos no Congresso. O Executivo perde, o Legislativo ganha.

Chega a ser desconcertante a tranquilidade exibida pelo governo diante da ameaça de derrotas no Congresso, sobretudo na derrubada de vetos da presidente da República, sempre fator de risco para a decantada governabilidade. Os dois maiores partidos da aliança que elegeu a presidente Dilma esperavam e esperam mudança no comando da coordenação e articulação política. O PMDB espera que o vice-presidente Michel Temer seja mais acionado; o PT é um partido estraçalhado, o explica a desorganização e potencializa o risco de desintegração da base de apoio, se a presidente continuar a perder o apoio da opinião pública. Não é por acaso que Dilma insiste na associação de sua imagem com a de Lula, quando afirmou à Folha que "Lula não vai voltar porque nunca saiu".

O PMDB é sempre o problema apontado no Congresso, especialmente na Câmara. Pode ser. Mas certamente seria menor não fosse a divisão interna do PT. Em todo o processo do mensalão, desde a denúncia do esquema até hoje, passando por mais de 100 dias de julgamento ano passado, a corrente dominante do partido, antes denominada campo majoritário e que hoje atende pela designação de Construindo um Novo Brasil, perdeu espaços no governo e no Congresso. Na gestão passada, os dois líderes de bancada, Paulo Teixeira (SP), na Câmara, e Walter Pinheiro (BA), eram de outra tendência, a Democracia Socialista, ou simplesmente DS, como é chamada. O ex-presidente da Câmara, Marco Maia, é da CNB, mas, devido ao mensalão, passou o mandato constrangido e imobilizado para encaminhar as demandas de interesse do grupo.

A CNB recuperou agora os espaços congressuais: tem os vice-presidentes da Câmara (André Vargas, do Paraná) e do Senado (Jorge Viana, do Acre) e os líderes das duas bancadas, o deputado José Guimarães (CE) e o senador Wellington Dias (PI). Posicionada no Legislativo, quer agora recuperar espaços (muitos) perdidos no governo.

O campo majoritário queixa-se de não participar das decisões estratégicas do governo e não se considera representado por Ideli Salvatti (Relações Institucionais) ou pelo senador Aloizio Mercadante, ministro da Educação cada vez mais enfronhado nos arranjos de natureza política. Ao contrário, a CNB vê o governo com a "cara" da DS, tendência a que pertence, por exemplo, o secretário do Tesouro, Arno Augustin, o dono das chaves do cofre e senhor das concessões de rodovias, ferrovias, aeroportos e do pré-sal a ser feitas neste semestre. Em associação com o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, essa é a principal fonte do boicote da base governista. Antes Cunha usava o PT; agora é usado por ele para fazer o que o partido não pode assumir publicamente.

A disputa no Congresso é por espaço no governo. Na falta de uma oposição maior e mais consistente, o conflito se desenvolve dentro da base de apoio do governo e dentro dos partidos que integram a coalizão governista.

Fonte: Valor Econômico

Luz de Francisco - Tereza Cruvinel

A passagem do papa Francisco pelo Brasil foi uma brisa fresca e reconfortante, para a Igreja, em sua hora de renovação, e para o Brasil e seu momento turbulento. Com simplicidade, a figura de "bispo alegre", como preconizou, o papa nos deu grandes lições nesses sete dias de uma convivência que não se limitou ao Rio nem à Jornada Mundial da Juventude. O mundo midiático levou a figura luminosa e a fala mansa a todas as casas.

Ele chegou dizendo que não trazia ouro nem prata, mas deixa-nos um legado valioso. Com o que disse e o que não disse, puxou-nos da mesquinharia cotidiana para um refrigério do espírito. Num tempo em que minorias radicais cometem depredações em série, a reunião pacífica de 3,5 milhões de pessoas na missa de domingo, em Copacabana, evidenciou seu poder de mobilização e a índole dominante no país. Francisco chegou cauteloso e foi seduzindo os brasileiros, inclusive os não católicos, como aquele garoto que participou da peregrinação com um cartaz: "Sou evangélico, mas gosto do papa". Em falas sucessivas, foi tocando nas feridas do Brasil e do mundo, mas sempre com a voz suave, jamais no tom severo ou sapiente dos bispos tristes. Falou de desigualdade, drogas, tragédias. "Candelária, nunca mais." Dos protestos atuais, ensinando que entre o vandalismo e a alienação pode existir o diálogo. De corrupção, pedindo aos jovens que não desistam de querer mudar o mundo. "O futuro exige hoje reabilitar a política, uma das formas mais altas de caridade." Na visita à favela , qual político conseguiria ser tão gentil, e ao mesmo tempo condenar o alcoolismo: "Queria bater em cada porta, dizer "bom dia", pedir um copo de água, beber um cafezinho, e não um copo de cachaça".

Um dos segredos de Francisco é a linguagem, plena de metáforas sutis, mas eficientes. Mais de uma vez condenou a cultura do consumo e do descartável, do ter acima de tudo. "Não há lugar para o idoso nem para o filho indesejado; não há tempo para se deter com o pobre caído à margem da estrada." Olha aí, no meio de frase, a alfinetada nos que defendem o aborto, embora não tenha colocado o dogma no centro dos discursos.

Sua missão é reformar e resgatar a Igreja, tirando-a do conforto das sacristias. No Brasil, ele acordou os bispos e dirigentes para o desafio. "Eu quero agito nas dioceses, que vocês saiam às ruas. Eu quero que a Igreja vá para as ruas, eu quero que nós nos defendamos de toda acomodação, imobilidade, clericalismo. Se a Igreja não sai às ruas, se converte em uma ONG. A Igreja não pode ser uma ONG." E com que delicadeza ensinou-os que, assim como não existe mãe por correspondência, a Igreja não pode atuar através de bulas e homilias. Precisa tocar o próximo e buscá-lo. Na entrevista exclusiva ao repórter Gerson Camarotti, exibida pelo Fantástico, o tom coloquial realçou a personalidade sedutora e a vocação para a mudança. Explicou a opção pelo despojamento que tem despertado críticas, ainda contidas, dos setores mais conservadores do Vaticano, falando em populismo e demagogia. "Penso que temos que dar testemunho de uma certa simplicidade — eu diria, inclusive, de pobreza. O povo sente seu coração magoado quando nós, as pessoas consagradas, são apegadas a dinheiro."

A oratória clara e direta, mas sempre agradável, foi a chave da vitória na passagem pelo Brasil, com o mundo inteiro esperando sinais sobre os rumos do pontificado. Com enorme habilidade política, dizendo ou deixando de dizer, mostrou a quê veio. Evitou repisar os dogmas polêmicos, como os relacionados a celibato, aborto, homossexualidade e métodos contraceptivos. Seria inútil e pouco construtivo insistir nisso com os jovens, pois tais dogmas não vão cair, pelo menos tão cedo. Mas já voando, mostrou que, com ele, a Igreja será menos intransigente: "Se uma pessoa é gay, procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?". Condenou as correntes ideológicas dentro da Igreja, tanto as de viés marxista (Teologia da Libertação), como as voltadas ao passado, o conservantismo ortodoxo. Mas sinalizou também que não haverá perseguições. Até porque, a opção pelos mais pobres dialoga muito com a corrente socialmente engajada.

Passada a brisa, a vida continua e teremos semanas difíceis na política. Que a luz de Francisco ajude os que decidem e dissipe as brumas da intolerância que nos rondam.

Agosto quente
No governo, espera-se um mês de agosto agitado. Na próxima semana, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, marcará o dia de apreciação dos recursos apresentados pelos réus da Ação Penal 470, vulgo mensalão. Se os recursos forem rejeitados, a coisa para. Mas se forem aceitos, terá início uma fase de julgamento, com transmissões ao vivo e todos os debates que já vimos na primeira fase. Será fermento puro no mau-humor nacional. As sessões atravessarão agosto. E, como é sabido, está na agenda das ruas uma grande mobilização anticorrupção no 7 de Setembro. Afora isso, a pauta no Congresso tem assuntos para lá de polêmicos.

Mais médicos: MP ameaçada
A medida provisória do programa Mais Médicos, resposta do governo aos protestos contra a má qualidade da saúde, será analisada por uma comissão especial mista do Congresso, que já teve os integrantes indicados. Apesar do recesso, eles têm trocado figurinhas e há sinais de que a proposta da presidente Dilma pode ser bastante desfigurada. Um deles, o deputado peemedebista Francisco Escórcio (MA), arrisca: "Obrigar os estudantes de medicina a cumprir serviço obrigatório de dois anos no SUS é comprar uma briga ruim na hora errada. E dispensar os estrangeiros de fazer o exame Revalida soa como privilégio".

Fonte: Correio Braziliense

‘O Papa quer uma Igreja mais próxima do pobre’

Padre João Batista Libânio, que defende a Teologia da Libertação, vê incentivo em Francisco

Tatiana Farah

SÃO PAULO - Aos 81 anos, o padre João Batista Libânio exibe fôlego jovem: é professor da Faculdade Jesuíta, de Belo Horizonte, escreve livros e artigos, e não deixa o ofício. Defende com animação a teologia da qual é um dos principais teóricos, a da Libertação. Antes da chegada do Papa Francisco, Libânio deixou Minas para pregar a mais de mil jovens de todo o mundo em Fortaleza, numa preparação para a Jornada Mundial da Juventude. O padre, que é primo de Frei Betto, outro defensor da Teologia da Libertação, vê no novo Papa um alento para os pregadores que, desde os anos 80, atuam junto às classes mais pobres e aos marginalizados na América Latina.

Como está a Teologia da Libertação hoje no Brasil?

Ela continua viva. Teve um congresso latino-americano no ano passado com uma presença muito forte de jovens, moças e rapazes. Com essa geração jovem, ela vai continuar.

O Papa Francisco tem um perfil mais próximo da Teologia da Libertação ou é mais parecido com o Papa Bento XVI?

O perfil dele é mais próximo do pobre, das pessoas marginalizadas e das pessoas perseguidas. Tanto que a primeira visita dele na Itália foi a Lampedusa, cidade onde estão muitos negros fugidos da África, buscando a Europa, vivendo em condições difíceis. Com a viagem, ele quis mostrar essa proximidade das pessoas mais marginalizadas no mundo de hoje.

João Paulo II também tinha uma atuação nesse sentido, mas não parecia ser favorável à Teologia da Libertação.

Quando ele era Papa, a Sagrada Congregação da Sé publicou dois textos (sobre a Teologia da Libertação), o segundo deles mais crítico. Mas depois ele escreveu uma carta aos bispos do Brasil dizendo que a Teologia da Libertação era necessária. Então ele também apoiou, à sua maneira. Talvez não estivesse próximo porque é muito difícil para um homem que viveu na Europa, nos países do Leste, entender a situação da América Latina, que é uma situação de opressão. O tipo de teologia que produzimos aqui é diferente da produzida naqueles países.

Pelo visto, então, não haverá essa dificuldade com o Papa Francisco porque é um homem da América do Sul. O senhor acredita que isso vá facilitar a compreensão da Igreja Católica acerca dos problemas da América Latina?

Sem dúvida. Sendo argentino, tendo sido arcebispo, cardeal na Argentina antes de ser Papa, ele mostra uma proximidade, uma compreensão melhor dos nossos problemas. Agora, o prefeito da Congregação da Doutrina da Fé escreveu um texto que correu o mundo inteiro, mostrando que a Teologia da Libertação é uma autêntica e verdadeira teologia. Portanto, há uma situação muito positiva de Roma em relação a ela.

Mas a Teologia da Libertação foi perseguida e chamada de marxista.

As dificuldades vieram de dois campos. Do político, porque era crítica ao capitalismo e aos governos da ditadura, e outra do interior da Igreja. Havia uma desconfiança de que a Teologia da Libertação poderia afetar algumas estruturas internas da Igreja com suas críticas. Considero a palavra perseguição muito forte. Mas houve uma certa reserva e um certo controle por se entender que essa teologia tinha um viés ideológico. Agora, isso está superado, principalmente com o Papa Francisco.

O senhor diz que a Teologia da Libertação continua viva, mas ela sofreu um enfraquecimento.

Eu distinguiria dois tipos de atualidades, a mais externa e midiática, e quanto a essa, sem dúvida houve uma diminuição. Mas a realidade do significado, da importância dela, do alcance dela, continua forte.

A vinda do Papa dá mais alento à Teologia da Libertação?

Ele tem feito gestos que mostram sua proximidade com o povo. Para nós, que somos comprometidos com as massas, as camadas populares, é um incentivo para que continuemos o trabalho de ajuda, de conscientização e de libertação dos marginalizados do nosso continente. O Papa quer formar uma Igreja mais próxima do pobre e isso é mais do que a Teologia da Libertação. É todo um processo da Igreja que se aproxima dos mais pobres. Isso, sem dúvida, nos dá alento. A teologia é só uma reflexão, o mais importante é a prática libertadora da Igreja.

Onde estão hoje os nichos dos católicos e do clero mais próximos da Teologia da Libertação?

Certamente são as pastorais sociais e, se você se lembrar bem, as campanhas da Fraternidade, praticamente todas elas têm um cunho social, o que mostra que a Igreja no Brasil está engajada com os problemas sociais.

Mas tem dois jeitos de a Igreja estar mais próxima do povo, pela libertação e pela caridade. Muitas dessas campanhas não vão mais no caminho da caridade?

Eu prefiro usar a palavra compromisso, porque a palavra caridade está mais desgastada. Compromisso com as camadas populares. E o compromisso é para ajudar o povo em seu processo de libertação.

O que o senhor considera mais importante no discurso do Papa para o Brasil e a América do Sul?

Ele tem dado muitos sinais de simplicidade de vida e de desejo de estar próximo das pessoas. Isso já é uma grande ajuda, porque é ruim para a Igreja ficar longe do povo.

Qual o diferencial de Francisco em relação a João Paulo II e Bento XVI?

Bento XVI era, primeiramente, o teórico, o acadêmico. Papa Francisco, pelo trabalho pastoral, tem mais proximidade com as pessoas. João Paulo II era um homem muito capaz de comunicar-se pela via midiática, de falar com as multidões.

Papa Francisco também poderá dar um novo fôlego aos católicos no Brasil, que hoje vê um forte processo de crescimento das igrejas evangélicas?

Sem dúvida dará um novo alento e vai conhecer essa situação, podendo nos ajudar a encontrar soluções para esse diálogo mais claro, mais lúcido e mais livre com os nossos irmãos evangélicos. Ele é mais ecumênico e poderá nos ajudar nessa questão

Fonte: O Globo

Panorama Politico -Ilimar Franco

Discutindo a relação
A conturbada relação do Planalto com o Legislativo vai reunir, na próxima semana, ministros e líderes do governo no Congresso. A nova sistemática de votação dos vetos é o drama da hora. Na volta do recesso, os vetos terão que ser votados obrigatoriamente. Por isso, o Executivo vai ter que negociar melhor seus projetos e MPs, além de fazer maiores concessões se quiser aprovar suas medidas.

Não vejo ninguém na minha frente
Na campanha de Aécio Neves (PSDB), não há temor com a competitividade de José Serra (pelo PPS) e de Marina Silva (Rede). Seus estrategistas dizem que as pesquisas mostram que "Serra tem um teto baixo, acumulou uma rejeição razoável, que o eleitor procura uma liderança nova e que Serra está ligado ao passado". No caso de Marina, avaliam: "É natural que ela se beneficie mais das manifestações, mas suas fragilidades tendem a aparecer". E citam "a falta de preparo para governar, a ausência de sustentação partidária e um discurso nebuloso sobre o que fazer com o país". Quanto a Aécio, registram que ele pulou de 10% para 17%, após o programa do PSDB na TV.

Para inglês ver
Os discursos inflamados de setores petistas contra os aliados conservadores, sobretudo do PMDB, não sensibilizam o Planalto. Os porta-vozes do governo Dilma minimizam. Eles dizem que são "discursos da boca para fora".

Mudar de canal
A maior batalha entre o PT e o PSDB é pelo PP. O governo aposta que o ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades) é a garantia do apoio do partido presidido pelo senador Ciro Nogueira (PI), na foto. Os tucanos apostam nas contradições regionais para conseguir a neutralidade do PP, evitando que seu tempo de TV vá para a campanha da presidente Dilma.

Recordistas
As duas MPs mais polêmicas do Congresso, nos últimos anos, receberam um número recorde de emendas parlamentares. A dos Portos recebeu 646 propostas de reformulação e a dos Médicos recebeu 567 sugestões de mudanças no texto.

Procura-se
O chapéu que a presidente Dilma usou na missa do Papa Francisco, domingo, em Copacabana, foi fruto de uma ginástica. Com muito sol no rosto, Dilma pediu providências. Um assessor foi à beira da praia e convenceu uma senhora, que caminhava, a emprestá-lo. A generosa mulher foi à ala de autoridades e até tirou fotos com Dilma. No final da missa, o chapéu foi devolvido.

Ufa!
Um dos padres designados a ficar com o Papa Francisco desde sua chegada dava sinais de cansaço no domingo. E ele contou à presidente Dilma que, por baixo da batina, usava uma camiseta com a frase: "Eu amo segunda-feira."

A explicação
O fundo Postalis, dos funcionários dos Correios, diz que o déficit de R$ 985 milhões não se refere apenas à rentabilidade dos investimentos (MDX, de Eike Batista), mas também à mudança na taxa de juros e ao aumento da expectativa de vida.

O pré-candidato ao governo da Bahia Rui Costa, da tendência Reencantar, decidiu apoiar a reeleição de Rui Falcão para a presidência do PT.

"A eleição presidencial do ano que vem será uma eleição aberta. Qualquer um dos candidatos pode ganhar o pleito e chegar ao Planalto"
Arnaldo Jardim
Deputado federal (PPS-SP)

Fonte: O Globo