Ao antecipar gastos, governo sabota sua credibilidade fiscal
O Globo
Antes mesmo de novo arcabouço completar um
ano, regras já são alteradas segundo a conveniência
O governo começa a jogar contra a própria
credibilidade na gestão da dívida pública. Antes mesmo de o novo arcabouço
fiscal completar o primeiro ano, as regras já começam a ser alteradas de acordo
com a conveniência. A Câmara
aprovou uma proposta, patrocinada pela Casa Civil, de antecipar um gasto extra
de R$ 15,7 bilhões neste ano. Inserida como “jabuti” no projeto
que recria o seguro obrigatório de veículos, a medida foi encaminhada ao
Senado. O movimento levanta dúvidas sobre a vontade e a capacidade de o governo
manter suas contas sob controle.
Pelas regras do arcabouço fiscal, é permitido ao governo gastar mais que o previsto em caso de excesso de receita. Mas só a partir de maio, mediante avaliação dos resultados. Em janeiro e fevereiro, a arrecadação deu um salto, mas a prévia de março sugere que houve um freio. Diante dessa perspectiva, um governo comprometido com as regras que ele mesmo propôs agiria com cautela. Esperaria os próximos resultados para ajustar o gasto à realidade.