quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Merval Pereira - Da boca pra fora

- O Globo

Assim como continua dizendo que é a favor do combate à corrupção, depois de forçar a saída do ministro Sérgio Moro, também Bolsonaro jura que é a favor do teto de gastos, e garante que o equilíbrio fiscal é o objetivo de seu governo. Conversa mole. O objetivo de Bolsonaro sempre foi a reeleição, que esconjurou durante a campanha.

Foi contra a corrupção da boca para fora, porque lhe rendia votos, e hoje ajuda a desconstruir a Operação Lava-Jato e o ex-ministro Moro. As trapalhadas do Queiroz e os gastos em dinheiro vivo da família mostram que há anos o mesmo sistema de rachadinhas irriga as contas de seus membros. Era a pequena corrupção, a corrupção do baixo clero, como a do ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti, que achacava o dono do restaurante da Casa.

Nunca foi liberal, nem a favor de privatizações, mas percebeu na aproximação com Paulo Guedes que essa era uma escolha que lhe garantiria o apoio do empresariado e do setor financeiro, dava credibilidade à sua candidatura.

Passada mais da metade do segundo ano de governo, Bolsonaro vai mudando de casca, largando pelo caminho promessas, aliados, posições, para proteger os seus e alimentar o eleitorado que depende do governo para sobreviver. Projetos de resgate da pobreza? Só a ampliação do Bolsa-Família. Mudanças estruturais? Desde que não prejudiquem seus potenciais eleitores.

Luiz Carlos Azedo - A âncora da estabilidade

- Nas entrelinhas | Correio Braziliense

”Embora desanuviada, a crise permanece, porque o cobertor está curto para fazer o que Bolsonaro deseja: aumentar os investimentos com recursos do Tesouro, sem reformas”

Foi um dia de muito nervosismo no mercado e no Palácio do Planalto, a ponto de o presidente Jair Bolsonaro ter de chamar uma reunião de ministros e parlamentares de sua base, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, em razão da péssima repercussão da saída de dois integrantes da equipe econômica, que jogaram a toalha devido à falta de compromisso do governo com a reforma administrativa e as privatizações. Os secretários especiais de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, pediram demissão na terça-feira, o que pegou Guedes de surpresa. O ministro abriu o jogo para opinião pública: há uma “debandada” na equipe, por causa dos rumos do governo.

Guedes não escondeu seu desconforto e revelou a crise interna do governo na terça-feira, após uma reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), hoje o seu principal aliado na defesa do chamado “teto de gastos”, que vincula as despesas do Orçamento da União à inflação passada, como uma maneira de conter e reduzir, ao longo do tempo, o deficit fiscal. O que era um deficit previsto de R$ 134 bilhões neste ano, com os gastos decorrentes das medidas emergenciais para enfrentar a pandemia, deve chegar à casa dos R$ 800 bilhões, fazendo a dívida pública se aproximar dos 100% do PIB no fim do ano. Esse é o tamanho do problema. O mercado vê com desconfiança a capacidade de Guedes administrar essa dívida.

Ricardo Noblat - O dilema de Paulo Guedes e o que interessa a Bolsonaro

- Blog do Noblat | Veja

Palavras ao vento

A debandada de Paulo Guedes do governo pode ser só uma questão de tempo. Bolsonaro não teve peito para demitir Sergio Moro do Ministério da Justiça, mas criou todas as condições para que ele saísse. Deverá proceder da mesma forma com o seu ex-todo-poderoso ministro da Economia.

Guedes entende de economia, mas de política é Bolsonaro que entende. Alguma coisa aprendeu em 30 anos como deputado. Após perder sete auxiliares, Guedes alertou Bolsonaro para o risco de impeachment se não bancar as reformas. Bolsonaro respondeu entregando ao Centrão o cargo de líder do governo na Câmara.

Agrava-se a situação do clã Bolsonaro a cada nova descoberta ou revelação feita pelo Ministério Público do Rio que o investiga por corrupção. O sonho de Bolsonaro de se reeleger depende, no primeiro momento, de afastar o risco de impeachment, e no momento seguinte, de conseguir o apoio de partidos.

Bem que ele tentou atrair partidos para seu lado nas eleições passadas, mas fracassou. Ninguém acreditou que ele pudesse vencer. Nem ele mesmo acreditava. Foi a eleição mais atípica da história do país. O líder das pesquisas estava preso e impedido de concorrer. A facada dispensou Bolsonaro de fazer campanha.

Ou Guedes abre o cofre para ajudar a reeleger Bolsonaro, e deixa as reformas para o segundo mandato dele, se segundo mandato houver, ou pede as contas e passa o cargo a quem se dispuser a jogar o jogo que o desagrada. No regime de governo do Brasil, não existe ministro insubstituível. Quem manda é o presidente.

Ascânio Seleme - Só terremoto salva

- O Globo

Mesmo com cenário ruim, 38% dos brasileiros querem reeleger Bolsonaro

Fernando Henrique Cardoso pode até não admitir, mas no fundo deve estar arrependido por haver se empenhado tanto pela aprovação do princípio da reeleição em 1997. Com o falso objetivo de consolidar o Plano Real, criou um monstrengo que atrapalha governos e confunde eleitores. Por sua causa, governantes em primeiro mandato trabalham principalmente para ganhar o segundo, e os eleitores acabam sendo enganados ao julgar os mandatários com base em suas “bondades”. Todos os presidentes foram reeleitos desde a aprovação da emenda, mesmo os enrolados.

A primeira prova de que o princípio torna nebulosa a gestão do postulante a um segundo mandato foi dada pelo próprio FH, que em 1998 segurou artificialmente o câmbio para não atrapalhar sua reeleição e, quando teve de soltá-lo em janeiro do ano seguinte, causou um tsunami na economia. O governante usa sem escrúpulos a máquina administrativa para se reeleger, mesmo que disso resultem quebradeira de empresas e escalada do desemprego. E ainda há um outro elemento que torna praticamente imbatível um presidente candidato, a admiração incondicional do brasileiro médio por homens poderosos.

A reeleição de Lula é um caso já estudado e explica essas premissas. O ex-presidente se valeu tanto da imagem de pai generoso quanto da de gestor poderoso, que distribui dinheiro entre os mais necessitados. Dinheiro público, claro. Lula estava envolvido até o pescoço no escândalo do mensalão, embora tenha dito que “não sabia” das movimentações criminosas do deputado cassado José Dirceu. O PT pagava a partidos e parlamentares pelo apoio que eles davam ao governo. Mais uma vez, era dinheiro público que remunerava os aliados. Um escândalo desse tamanho não foi o suficiente para impedir seu segundo mandato.

Carlos Alberto Sardenberg - Liberou geral?

- O Globo

Anular toda a Operação Lava-Jato, e não só as condenações de Lula, será um terremoto

O caso é o seguinte: se o Supremo Tribunal Federal decidir que Sergio Moro foi parcial quando julgou e condenou Lula, ficam anuladas só as ações penais referentes ao ex-presidente ou todas as que tenham sido decididas pelo ex-juiz no âmbito da Lava-Jato?

Ou ainda: livra apenas Lula, livra todos os que foram condenados nos mesmos processos do ex-presidente ou zera toda a operação?

A questão circula nos meios políticos e jurídicos. Os advogados dos réus condenados na Lava-Jato estão esfregando as mãos. Mas os advogados de Lula estão tentando baixar a bola, dizendo que a decisão do STF sobre a suposta parcialidade de Moro só valeria para o ex-presidente, não beneficiando mais ninguém.

Por que isso? Porque uma coisa é zerar os casos de Lula; outra, bem diferente, e de muito maior impacto político e social, é zerar toda a Lava-Jato.

Para dar o contexto. Na semana passada, a Segunda Turma do STF decidiu, por dois votos a um, que Sergio Moro foi parcial e político quando retirou o sigilo da delação premiada de Antonio Palocci a seis dias do primeiro turno da eleição de 2018. A delação foi anexada aos autos do processo em que Lula é acusado de receber propina da Odebrecht.

Nessa Segunda Turma, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski votaram a favor de Lula; Edson Fachin votou pela imparcialidade de Moro. Não votaram, sem explicações, Cármen Lúcia e Celso de Mello.

Bernardo Mello Franco - Guedes virou um ex-superministro

- O Globo

A debandada na equipe econômica transformou Paulo Guedes num ex-superministro. O fenômeno já havia ocorrido com Sergio Moro, que acreditou ter carta branca e foi esvaziado até deixar o governo. Agora se repete com o fiador do bolsonarismo junto ao mercado.

No mesmo dia, abandonaram o barco os secretários de Desestatização, Salim Mattar, e de Desburocratização, Paulo Uebel. Eles reclamaram que as privatizações e a reforma administrativa não saem do papel. O principal motivo é a falta de interesse do capitão.

Na campanha, Guedes garantiu que Bolsonaro havia se convertido ao ultraliberalismo. Logo ele, que pregou o fuzilamento de Fernando Henrique Cardoso por causa do leilão de estatais. O ministro anunciou um plano radical de redução do Estado. Em um ano e meio, não entregou quase nada do que prometeu.

Míriam Leitão - A encenação no espelho d’água

- O Globo

A discussão em torno do teto de gastos não nasceu esta semana e não é um dilema criado pela pandemia. A ideia de que estava tudo indo bem e que a crise na saúde fez desandar a economia é falsa. Em setembro do ano passado, o presidente disse que o teto de gastos precisaria ser flexibilizado, do contrário, em dois ou três anos ele teria que apagar a luz de todos os quartéis. “É uma questão matemática”, concluiu. Ontem, ele apareceu com ministros, os presidentes das duas Casas do Congresso e garantiu que vai respeitar o teto. Até o espelho d’água do Alvorada entendeu que a cena foi montada para acalmar o ministro da Economia, Paulo Guedes, mas o presidente continua prisioneiro de sua indecisão.

Na época, em setembro de 2019, o ministro Paulo Guedes reclamou da declaração do presidente contra o teto, e ele recuou, mudando sua matemática. Disse que respeitaria o teto. Sua convicção, no entanto, não mudou. Tanto que nos meses seguintes engavetou a reforma administrativa, defendeu interesses corporativos, ignorou as propostas de emendas que mandou para o Congresso, não se mobilizou por projeto fiscal algum. Teve olhos apenas para as medidas que aumentavam o acesso às armas. Esta semana, mesmo em meio à pandemia, ele voltou às armas e justificou dizendo que é uma promessa de campanha.

Eugênio Bucci* - Cinco trilhões de dólares

- O Estado de S.Paulo

O que produzem a Apple, a Amazon, o Google ou o Facebook para valerem tanto?

Em janeiro foi noticiado que as empresas Apple, Amazon, Alphabet (dona do Google), Microsoft e Facebook valiam, juntas, cinco trilhões de dólares. Em junho, quando a Apple sozinha atingiu o valor de US$ 1,5 trilhão, apenas quatro delas dariam conta de bater a marca dos US$ 5 trilhões (o Facebook ficava um pouquinho para trás).

Cinco trilhões de dólares!

Essa cifra é três vezes maior que o PIB brasileiro. Três vezes. Quer dizer: se nós, os 210 milhões de habitantes destas terras convertidas em jazigos, quiséssemos comprar a Apple, a Amazon, a Alphabet e a Microsoft, pelos preços de junho, teríamos de trabalhar por três anos sem descanso e não nos sobraria troco para o pão, para o aluguel e para os impostos. E mesmo assim poderíamos chegar no fim da jornada sem caixa para saldar a fatura, pois, enquanto as ações dessas companhias sobem sem parar, o PIB brasileiro afunda, junto com o PIB mundial. Lá de cima, incólumes e luminescentes, as big techs contemplam a peste, a fome, a violência, a miséria e a ruína.

Só o PIB da China e dos Estados Unidos superam a casa dos US$ 5 trilhões. Pense bem: o que produzem a Apple, a Amazon, o Google ou o Facebook para valerem tanto?

Se formos contentar-nos com as respostas oficiais, acreditaremos que o segredo de tamanha fortuna está na inovação tecnológica dessas marcas, na genialidade dos seus criadores e na pertinácia de seus CEOs. Acreditaremos que, graças a chips, bits e bytes, as big techs dominaram o e-mail, o e-commerce, o e-government e o e-scambau, deixando seus donos biliardários. Acreditaremos, enfim, que dinheiro não nasce em árvore, mas bem que brota em máquina.

William Waack - Bolsonaro é o Brasil de sempre

- O Estado de S.Paulo

A debandada da equipe econômica sinaliza a perda de ênfase em reformas

A derrota do projeto eleitoral de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes para a economia brasileira é um fato que se pode aplaudir ou lamentar, mas é incontestável. Definido em linhas gerais como uma ampla e profunda transformação do Estado brasileiro, e a consequente “libertação” da economia para gerar aumento de produtividade e crescimento, era um conjunto de intenções aplaudidas por boa parte da sociedade, antes de ser um plano.

Ficou até aqui muito aquém do pretendido (de novo, pode-se saudar ou lamentar essa constatação) e agora não há mais condições políticas, tempo e, ao que parece, intenção de realizá-lo. Grosso modo, a derrota deve ser atribuída a dois grandes fatores. O primeiro é o fato de que não havia uma estratégia, entendida como adequação dos meios (sobretudo políticos) aos fins (reforma do Estado) dentro de um período de tempo. Perdeu-se tempo precioso elaborando o que seria “nova” política, além da dedicação de Bolsonaro ao que se chama na linguagem militar de “teatros secundários”.

Beatriz Resende* - Cultura como caso de polícia

- Folha de S. Paulo

Nomeação de capitão da PM para área cultural mostra como governo vê o setor

Depois das cenas protagonizadas por um secretário de Cultura encarnando Goebbels, o ministro nazista, substituído por atriz histérica a defender a tortura, o tratamento que a cultura vem recebendo do governo aparece agora em imagem nítida e sem retoques. Cultura virou, oficialmente, caso de polícia. Com o capitão da PM baiana André Porciúncula Esteves nomeado secretário Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura, ficou evidente o tipo de atenção que nossas manifestações culturais vêm recebendo.

Cinema, teatro, música e artes visuais passam a depender do novo secretário para controlar a corda que os estrangula. Cinema que vem recebendo prêmios e criando filmes como o antológico "Bacurau"; artes cênicas e visuais que se reinventam com exposições virtuais e peças criadas no isolamento. E a música, ah!, a música! O que seria de nós sem as lives de artistas que reúnem amigos distantes e mobilizam o afeto de todo um país?

Quanto aos livros, deles se encarrega Paulo Guedes, a garantir com seu escandaloso elitismo que pobres não precisam de livro. Querem livros? Comprem na Amazon.

Sem política de leitura, que não havia de ser o ministro da Educação a se preocupar com isso, a produção e circulação do livro no Brasil está seriamente ameaçada. Com a possibilidade de novos tributos, editoras e livrarias não vêm como se manter. Perdem os que editam livros e os que teimam em manter o antigo hábito.

Também aqui há coerência. Afinal, se intelectuais e professores que defendem um pacto antifascista são vistos como inimigos listados em dossiês policiais, não faz sentido publicar livros. Complicado para esses novos vilões será explicar em suas aulas de que modo ser antifascista tornou-se, numa democracia, ameaçador.

E com ciência, arte e cultura sob suspeição, seguimos curvados sob o peso de mais de 100 mil mortos.

*Beatriz Resende, ensaísta e professora de literatura na UFRJ.

Bruno Boghossian - Bolsonaro chama os profissionais

- Folha de S. Paulo

Em pacto de sobrevivência, presidente entrega operação política do governo ao centrão

Às vésperas do impeachment de Dilma Rousseff, dirigentes do PP pediram as chaves do Ministério da Saúde. O governo hesitou, mas topou a jogada em troca de votos para evitar a queda da presidente. Pouco depois de deixar o Planalto, o deputado Ricardo Barros foi à casa de Michel Temer. O vice cobriu a oferta: o PP ajudou a derrubar a petista, e Barros virou ministro.

Na próxima semana, o parlamentar assume oficialmente o posto de líder do governo Jair Bolsonaro na Câmara. Depois de açoitar os velhos partidos, o presidente decidiu contratar profissionais com experiência no ramo para se proteger no cargo.

A palavra impeachment dita os lances de Bolsonaro há alguns meses. Faz sentido, já que a hipótese é citada com desinibição –tanto por aqueles que gostariam de derrubar o presidente quanto por sua tropa de choque e pelos omissos que não veem “nenhum tipo de crime”.

Fernando Schüler* - Sedução populista

- Folha de S. Paulo

A verdade é que o governo não tem convicção sobre temas de modernização do Estado, e não está sozinho nisso

A saída de Salim Mattar e Paulo Uebel não representa o fim da agenda liberal do governo, como li em alguns comentários, mas um atestado de que, na prática, ela andou muito pouco.

Sempre disse aqui que o governo Bolsonaro era produto de três pautas um tanto vagas. Na verdade, um conjunto de intenções no terreno do conservadorismo cultural, combate à corrupção e reformas liberais.

As duas primeiras se perderam há muito tempo. Barradas pelo Congresso e por sua própria inconsistência. A agenda liberal deu em quase nada. A lei da liberdade econômica talvez tenha sido seu único suspiro. A reforma da Previdência foi uma solução de compromisso e veio no embalo do governo anterior.

Agora caímos na real. Estamos a menos de dois meses da campanha eleitoral e a janela de oportunidades para aprovação de reformas vai se fechando. Vamos comemorar o ano novo com PIB negativo em 5,6% (última pesquisa Focus) e relação dívida/PIB acima de 96%, segundo a Instituição Fiscal Independente.

Vinicius Torres Freire - Bolsonaro assopra Guedes

- Folha de S. Paulo

Governo e Congresso fazem cerimônia de culto ao teto de gastos, mas problema continua

Jair Bolsonaro, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre juntaram-se para um breve culto do teto de gastos e para dar uns tapinhas nas costas do ministro da Economia, Paulo Guedes, estressado por debandadas várias. Sabe-se lá o que vai sair de prático das reuniões e do pronunciamento da noite de quarta-feira. No que vale prestar atenção:

1) Se a conversa fosse para valer, não haveria dinheiro para um Renda Brasil, o Bolsa Família gordo que Bolsonaro quer chamar de seu na eleição de 2022;

2) Maia disse que na reunião do Alvorada houve um compromisso de regulamentar os gatilhos do teto. Parece um tédio infinito, mas é coisa grande –mais sobre isso adiante;

3) Alcolumbre disse que a retomada (pós-pandemia) tem de ter “responsabilidade fiscal e social”.

Além de Bolsonaro, Maia (presidente da Câmara), Alcolumbre (presidente do Senado) e Guedes, na reunião estavam também os ministros “fura teto” (no dizer de Guedes), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), além de líderes do governo no Congresso e do centrão.

“Regulamentar os gatilhos do teto” significa colocar na Constituição e em leis que a despesa federal vai ser cortada dessa e daquela maneira, obrigatoriamente, quando o gasto chegar ao limite constitucional. No final do ano passado, o governo enviou ao Congresso uma PEC para regulamentar esse talho, que vigoraria imediatamente, dada a situação das contas públicas.

Maria Cristina Fernandes - Um técnico prestigiado

- Valor Econômico

Guedes age para elevar o preço de sua demissão

Às 8h45 desta quarta-feira o presidente Jair Bolsonaro fez um textão no Facebook. Reiterou compromisso com privatizações, justificou as dificuldades em viabilizá-las, reafirmou o “norte” da responsabilidade fiscal e do teto de gastos e disse ver com naturalidade a saída de colaboradores.

Agiu como o presidente do clube que sai a público, 15 minutos antes do início do jogo, para dizer que o técnico está prestigiado. A torcida captou. Dólar e juro abriram em queda, mas sem debandada. Estava claro, porém, que se protelara uma situação insustentável. O desfecho tarda porque, além de o técnico resistir a sair, não há substituto à mão.

Na véspera, Paulo Guedes, depois de se reunir com Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, Casa que abriga 52 pedidos de impeachment contra Bolsonaro, espicaçou. Disse que os “conselheiros” do presidente, ao lhe sugerirem “pular a cerca e furar o teto”, facilitariam a abreviação de seu mandato.

O ministro da Economia, que acabara de receber os pedidos de demissão dos secretários Salim Mattar (Desestatização e Privatização) e Paulo Uebel (Desburocratização, Gestão e Governo Digital), parecia estar fazendo uma ameaça velada ao presidente. Se o objetivo da gastança é a reeleição, o mandato pode acabar antes da chance de ser renovado. Foi o que disse.

Ribamar Oliveira - Ala liberal perde substância no governo

- Valor Econômico

Privatizar estatais e fazer reformas sempre foi difícil no Brasil

O que há de mais significativo na saída de duas importantes autoridades do Ministério da Economia, nesta semana, é que elas fazem parte da mesma ala liberal que procura, desde o início, montar uma agenda modernizadora e liberalizante para o atual governo. A saída deles cria interrogações sobre o futuro, pois indica um esvaziamento e perda de substância desse pensamento ideológico dentro do governo.

O momento da saída foi muito ruim, pois o ministro Paulo Guedes enfrenta uma disputa interna com as alas militar e política do governo, que querem um programa de investimento em obras de infraestrutura como estratégia para sair da crise econômica provocada pela pandemia.

Guedes está praticamente sozinho dentro do governo na defesa do teto de gastos da União, quando até o filho mais velho do presidente da República diz que ele precisa arrumar “um dinheirinho” para aumentar os investimentos públicos. O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) se esquece que “um dinheirinho” o ministro da Economia até pode arrumar, o que ele não conseguirá é abrir um espaço no teto de gastos para fazer os investimentos que o primogênito de Jair Bolsonaro deseja.

Duas coisas espantam nesse episódio. A primeira foram as razões alegadas pelos assessores de Guedes para os pedidos de demissão. O secretário especial de Desestatização, Salim Mattar, disse ao ministro que “é muito difícil privatizar, que o ‘establishment’ não deixa fazer privatização, que tudo é muito emperrado, que tem que ter um apoio mais definido e decisivo”. O secretário especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, queixou-se, segundo relato de Guedes, que “a reforma administrativa está parada”.

Entrevista | 'PSDB abraçou conceito bolsonarista em operação suicida', diz deputado Luiz Paulo, ao se desfiliar do partido

Parlamentar critica atuação do governador de São Paulo e avalia que busca por eleitorado bolsonarista prejudicou partido

Bernardo Mello | O Globo

RIO — Vice-governador do Rio na gestão Marcello Alencar nos anos 90, e deputado estadual no quinto mandato consecutivo, Luiz Paulo Corrêa da Rocha está de saída do PSDB, como revelou o colunista do GLOBO Lauro Jardim na segunda-feira. Líder do partido na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Luiz Paulo aguarda a homologação pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de seu pedido de desfiliação por "mudança reiterada de programa partidário", atribuída à cúpula nacional do PSDB e ao governador de São Paulo, João Doria.

A Justiça Eleitoral, que já havia dado sinal verde à desfiliação por justa casa em novembro passado, recebeu nesta semana uma manifestação de desistência do partido, abrindo caminho para a saída do deputado sem perda de mandato.

Em entrevista ao GLOBO, o Luiz Paulo criticou a intervenção do grupo de Doria no diretório estadual do PSDB, hoje comandado pelo empresário Paulo Marinho, pré-candidato à prefeitura do Rio. Para o deputado, Doria conduziu o PSDB a uma “operação suicida” ao tentar fazer do partido o herdeiro do bolsonarismo no Rio.

• O governador João Doria apoiou Bolsonaro em 2018, mas depois rompeu com o presidente. Em que posição isso deixa o PSDB para as eleições municipais deste ano?

Quando o PSDB abraçou esse conceito do bolsonarismo, ele fez uma operação suicida. Por que esse eleitorado bolsonarista trocaria o Bolsonaro pelo Doria, ou pelo candidato do PSDB no Rio, em vez de votar em candidatos que o Bolsonaro por acaso venha a apoiar? Se você tem o original, por que vai votar na cópia? Quanto a mim, estou do lado oposto tanto do original quanto da cópia. Quero distância dessas concepções bolsonaristas, sou opositor a elas.

“Se houver fracasso, povo vai atribuir às Forças Armadas”, diz FHC

Ex-presidente vê perigo na presença numerosa de militares no governo Bolsonaro

Por Carolina Freitas | Valor Econômico

SÃO PAULO - O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse considerar perigosa a ocupação de numerosos cargos do governo federal por militares, como acontece na gestão Jair Bolsonaro. Para o tucano, além de haver o risco de os integrantes das Forças Armadas gostarem do poder, a imagem da instituição fica indissociável do governo.

“O povo vai atribuir, se houver fracasso, às Forças Armadas, e não à política. É complicado, é perigoso”, afirmou ontem Fernando Henrique em palestra sobre geopolítica no Congresso WebHall, promovido pela Escola Paulista de Medicina, da Unifesp, e transmitido pela internet.

Levantamento do Tribunal de Contas da União (TCU), divulgado em julho, aponta que há 6.157 militares da ativa e da reserva em cargos civis no governo.

Fernando Henrique foi cauteloso ao responder sobre a possibilidade de uma ruptura da democracia no Brasil. “Sempre há risco”, disse. “Não acredito que haja um propósito neste momento de fazer uma ditadura, mas às vezes, sem propósito, as coisas acontecem.”

FHC disse perceber entre os militares um discurso de que precisam “salvar a pátria”. O ex-presidente explicou porque considera esse raciocínio um erro.

“Durante muitos anos que eu tive convívio com os militares, eles tinham mudado a percepção da sua própria capacidade de exercer o poder sem tomar em consideração os outros, pelo bem da pátria. Eles são patriotas em geral. Mas o problema não é eles serem patriotas ou não. É que a pátria é diversa, você tem que compor essa diversidade. Os militares tinham aprendido isso”, afirmou Fernando Henrique.

“Eu sinto que agora há uma tendência de novo a que alguns pensem que podem salvar a pátria. A pátria se salva sozinha. Nós temos que ter regras que permitam o funcionamento das divergências dentro de um contexto, respeitando regra, respeitando a Constituição, dando espaço pra todo mundo.”

A debandada – Editorial | O Estado de S. Paulo

Paulo Guedes deixou claro que Jair Bolsonaro tem escolha entre manter ou não o teto de gastos e a responsabilidade fiscal - e aparentemente já a fez

O ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu que sua equipe sofreu uma “debandada” com a saída dos secretários de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel. Nos dicionários, “debandada” significa fuga em desabalada carreira. O ministro explicou do que afinal fugiram seus assessores: do “establishment”.

Paulo Guedes informou que Paulo Uebel deixou o governo porque a reforma administrativa foi adiada e que Salim Mattar saiu porque estava insatisfeito com o ritmo das privatizações: “O establishment não deixa”, disse o ministro.

O próprio Salim Mattar, em declarações sobre sua decisão, acusou o “establishment” de impedir que as estatais sejam vendidas e que o Estado seja reformado: “O establishment não quer a transformação do Estado. Não deseja a reforma administrativa. Não deseja a privatização. Se tiver privatização, acaba o toma lá dá cá. Acaba o rio de corrupção. O establishment deseja segurança de que as coisas vão continuar do jeito que estão”.

Os debandados – Editorial | Folha de S. Paulo

Baixas na Economia se devem a fragilidades de Guedes e indiferença de Bolsonaro

Partiu do ministro Paulo Guedes (Economia) a palavra “debandada” para qualificar o pedido de demissão dos secretários especiais de Desestatização, Salim Mattar, e Desburocratização, Paulo Uebel.

A razão dos debandados não poderia ter ficado mais clara: privatizações não há; reformas desburocratizantes, tampouco. Os assessores saíram por falta de objeto.

O círculo mais próximo de Guedes, no governo e no setor privado, começa a tomar distância daquele que já recebeu a tacha de superministro. Tantos poderes têm sido inúteis para viabilizar a alteração das regras que fazem as folhas salariais da administração incharem como por geração espontânea.

A aglutinação de tantas prerrogativas numa só autoridade também não faz a agenda de privatizações andar. Nem sequer caminha a da abertura ao comércio exterior, que depende em larga medida do poder normativo na sua alçada.

Abandono das reformas mina papel de Guedes no governo – Editorial | Valor Econômico

Guedes precisa recorrer a quem apoia vários de seus projetos, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia

Desde que o presidente Jair Bolsonaro resolveu apoiar-se no centrão para evitar ser desalojado do Palácio do Planalto, mais integrantes da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, deixaram o governo. Não é coincidência. A agenda econômica bateu em um muro de oposição no centro do poder, escorado pela falta de convicções liberais do próprio presidente da República.

As reformas delineadas pela equipe econômica pararam, mas isso não foi tudo. Ministros militares, sem a desaprovação pública de Bolsonaro, inventaram um plano de obras que só pode prosperar por meio de gambiarras que põem abaixo o teto de gastos - único empecilho à volta do descontrole fiscal. As manobras, das quais também participa o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, contam com ampla torcida organizada, reunindo o centrão fisiológico e os partidos de esquerda. Paulo Guedes dá sinais de que caminha para o isolamento no governo. Seus apelos diretos por declarações de apoio a Bolsonaro indicam isso.

A saída de Mansueto Almeida foi a de maior peso, e premonitória - como secretário do Tesouro, era o guardião de um cofre que em breve poderá ser arrombado. Ele teve disputas desgastantes com outros membros da equipe econômica e desilusões com o abandono de seu plano de reequilíbrio fiscal dos Estados, batizado com seu prenome, que abria um leque de 9 alternativas para a escolha dos governadores iniciarem a arrumação de suas contas. Enviado ao Congresso, está lá até hoje e de lá provavelmente não sairá.

Em vez de mais gastos, é preciso acelerar as reformas – Editorial | O Globo

Pressionado por mais despesas, Guedes recebe apoio de Bolsonaro.É necessário ir além das palavras

Soam como música aos ouvidos de político em busca da reeleição, caso do presidente Jair Bolsonaro, as promessas ilusórias de que basta aumentar os gastos públicos que a recuperação da economia estará logo à frente. É nesse contexto que a pressão por mais despesas — e contra o teto constitucional dos gastos — aumenta sobre o ministro da Economia, Paulo Guedes, enquanto a pauta de reformas vai sendo deixada de lado. Foi o motivo que levou, na última terça-feira, dois secretários da pasta a deixarem seus cargos: Salim Mattar, encarregado do programa de privatizações, e Paulo Uebel, da reforma administrativa.

Guedes reconheceu a “debandada” na equipe, que até agora perdeu oito dos nomes originais. Aproveitou para alertar Bolsonaro: “Os conselheiros que o estão aconselhando a pular a cerca e a furar o teto vão levar o presidente para uma zona sombria, uma zona de impeachment, de irresponsabilidade fiscal”. Bolsonaro sabe do que se trata, porque acompanhou, quando deputado federal, o impeachment da então presidente Dilma Rousseff, condenada por crimes fiscais. Votou a favor.

A relevância de Kamala Harris transcende as eleições de novembro – Editorial | O Globo

A vice escolhida por Joe Biden poderá ser o novo rosto do Partido Democrata em 2024

A escolha da senadora Kamala Harris como candidata a vice-presidente na chapa do democrata Joe Biden é histórica por vários motivos. Kamala, filha de um jamaicano e uma indiana, será a primeira mulher negra e a primeira descendente de asiáticos a integrar uma candidatura presidencial na história dos Estados Unidos. Embora fosse desde o início a favorita, havia certo suspense, pois ela se projetou na campanha ao questionar posições históricas de Biden a respeito das leis de integração racial. A escolha dele acaba por confirmar a importância do eleitorado negro para o Partido Democrata, que tenta se consolidar como partido da diversidade, de um país plural e multiétnico, em contraste com a homogeneidade do Partido Republicano, associado ao eleitorado predominantemente branco e masculino.

Ainda que a questão racial tenha adquirido protagonismo nesta campanha, sobretudo depois do cruel assassinato de George Floyd pela polícia em Minneapolis, é duvidoso que Kamala funcione como um ímã capaz de atrair às urnas negros e minorias na mesma proporção que Barack Obama em 2008 e 2012. Candidatos a vice têm pouco efeito na escolha do eleitor. Biden já tem, por si só, um laço histórico com o eleitorado negro, responsável pela ressurreição de sua candidatura depois das primárias da Carolina do Sul. Kamala, em contrapartida, é criticada por movimentos negros em virtude das posições duras que assumiu no combate ao crime quando procuradora-geral da Califórnia.

Música | Cidadão -Moraes Moreira / Capinan

Poesia | João Cabral de Melo Neto - O Fim do Mundo

No fim de um mundo melancólico
os homens lêem jornais.
Homens indiferentes a comer laranjas
que ardem como o sol.

Me deram uma maçã para lembrar
a morte. Sei que cidades telegrafam
pedindo querosene. O véu que olhei voar
caiu no deserto.

O poema final ninguém escreverá
desse mundo particular de doze horas.

Em vez de juízo final a mim preocupa
o sonho final.