quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Opinião do dia: Gustavo Loyola

O Congresso ainda não julgou a extensão da complicação dessa crise. De um lado, o governo se defende do impeachment. Do outro, tem os que querem fazer o impeachment, e tem ainda os que querem salvar sua pele. São várias agendas e não existe uma agenda para o país. É preciso construir essa agenda, mas a gente não vê essa iniciativa nem por parte do governo nem da oposição. O PT faz oposição ao Joaquim Levy, e a oposição vota na Câmara contra aquilo que foi sempre defendido pelo PSDB. A presidente não tem liderança política, fica aquela confusão e o país não sai do lugar.
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Gustavo Loyola, economista, ex-presidente do Banco Central, entrevista na Folha de S. Paulo, 2 de dezembro de 2015.

Decisão sobre destino de Cunha no Conselho de Ética opõe PT ao governo

• Rui Falcão, que preside o partido, recomenda a deputados petistas no colegiado que votem para admitir o processo de cassação; temendo reação do peemedebista, Planalto trabalha para não rifá-lo

Daniel Carvalho, Daiene Cardoso e Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O racha entre o Palácio do Planalto e a cúpula do PT teve efeito imediato no Conselho de Ética da Câmara, que ontem, mais uma vez, adiou a decisão sobre a continuidade do processo de quebra de decoro parlamentar contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Após seis horas de discussão, a sessão foi remarcada para a tarde de hoje.

O presidente do PT, Rui Falcão, recomendou aos três deputados do partido com assento no colegiado que se posicionassem contra Cunha. A orientação, dada por intermédio de redes sociais, confrontou o governo. O Planalto pressiona os petistas a salvar Cunha para evitar a deflagração do impeachment da presidente Dilma Rousseff e garantir a aprovação das medidas de ajuste fiscal. Os votos do PT podem ser o fiel da balança, já que o placar, por ora, é apertado para Cunha. Seus aliados contabilizam, hoje, 9 dos 21 votos do Conselho.

“Confio em que nossos deputados, no Conselho de Ética, votem pela admissibilidade (do processo contra Cunha)”, escreveu Falcão no Twitter. “Nós não temos acordo com Eduardo Cunha”, acrescentou o dirigente petista, no Facebook.

A tentativa de Falcão de enquadrar o PT foi criticada tanto no governo quanto no Congresso. “Eu, se fosse presidente do PT, jamais orientaria uma posição e deixaria que cada um votasse de acordo com sua consciência”, afirmou o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini.

A bancada petista no Conselho de Ética avaliou que a manifestação do presidente do PT pôs os três representantes do partido no colegiado em situação complicada. “Estamos numa saia justa porque somos PT e os responsáveis pelo destino deste País. Esta é a crise”, afirmou o deputado Zé Geraldo (PA), um dos integrantes do partido no Conselho.

Valmir Prascidelli (SP) e Léo de Brito (AC), seus colegas, cobraram uma conversa com Falcão. “Se ele acha que devemos votar de acordo com alguma orientação, ele que nos oriente, porque até agora não fez isso”, disse Brito. “Nunca fui convidado para nenhuma reunião no PT para deliberar sobre esse assunto”, reagiu Prascidelli.

‘Metralhadora’. Embora os três deputados tenham se recusado a abrir o voto, a tendência é que sigam a orientação do Planalto, apostando que a Procuradoria-Geral da República pedirá o afastamento de Cunha, sob a alegação de que ele está usando o cargo para se proteger da cassação.
Zé Geraldo acusou o presidente da Câmara de chantagear o governo, ao ameaçar deflagrar o impeachment de Dilma se não for salvo no Conselho de Ética. “Cunha está com a faca no pescoço do governo. Se fosse só uma faca, estava bom. É uma metralhadora que está na mão do Cunha e nós não confiamos nele. Quer coisa mais desastrosa do que num final de ano discutir uma pauta de impeachment?”

Gatilho. Em conversas com Rui Falcão, nesta semana, os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Berzoini disseram a ele que votar contra Cunha era o mesmo que acionar o gatilho do impeachment e jogar o governo no colo da oposição. Lembraram, ainda, que a situação do Planalto estava mais difícil por causa da prisão do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS).

Falcão, por sua vez, afirmou que o desgaste de defender Cunha seria insuportável para o PT, num momento em que o partido tenta se livrar de escândalos de corrupção. Argumentou, também, que o nem o governo nem o PT poderiam ficar reféns do peemedebista.

Acusado de manter contas secretas na Suíça com dinheiro desviado da Petrobrás, Cunha acha que o Planalto está por trás de todas as acusações e suspeitas contra ele, incluindo a última, de que teria recebido R$ 45 milhões em propina para alterar uma medida provisória que beneficiaria o banco BTG Pactual, de André Esteves, preso na semana passada. O deputado avisou a vários interlocutores, entre os quais o vice-presidente Michel Temer, que sua decisão sobre o impeachment dependia da posição dos petistas no Conselho.

Ontem, aliados de Cunha articularam um voto em separado, propondo pena mais branda que a cassação. Coube ao deputado Wellington Roberto (PR-PB) apresentar parecer paralelo, pedindo apenas uma “censura pública” ao presidente da Câmara.

O relator do parecer original, Fausto Pinato (PRB-SP), contestou o texto alternativo, alegando que nesta fase do processo não há espaço para a fixação de pena. Se o texto de Pinato for rejeitado, um novo relator será designado para o processo.

Planalto pressiona por absolvição de Cunha

• Por temer processo de impeachment de Dilma, governo tenta garantir votos do PT ao presidente da Câmara

Simone Iglesias, Catarina Alencastro, Letícia Fernandes, Isabel Braga, Chico Gois – O Globo

-BRASÍLIA- O temor de ver o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dar seguimento a um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff fez o governo se mobilizar pelo apoio dos deputados do PT ao arquivamento do processo contra Cunha no Conselho de Ética. No Palácio do Planalto, a avaliação é que não há como prever a sequência de acontecimentos caso Cunha decida deflagrar um processo de impeachment. A palavra mais usada por integrantes do governo para definir a atuação pró-Cunha é “insegurança”. A votação do relatório no Conselho de Ética, no entanto, acabou adiada para hoje em função dos longos debates da sessão.

Durante o dia, os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Governo) atuaram para garantir a vitória do presidente da Câmara. Os três representantes do PT no Conselho de Ética — Zé Geraldo (PA), Valmir Prascidelli (SP) e Léo de Brito (AC) — foram pressionados a dar os votos que faltavam para salvar Cunha.

O PT fez uma jogada dupla: trinta e um deputados do partido divulgaram um abaixo-assinado pedindo que o Conselho de Ética acate a representação contra Cunha, e o presidente da legenda, Rui Falcão, divulgou no twitter que o partido estava orientando os três petistas a votarem pela admissibilidade. Mas o ato público de Falcão serviu apenas para dar uma satisfação à militância. Nos bastidores, a sigla jogou pesado para arrancar de seus representantes no conselho o compromisso de que apoiariam o principal inimigo do Palácio do Planalto.

Zé Geraldo e Prascidelli reuniram-se com o líder na Câmara, Sibá Machado (AC), que fez o discurso que o governo queria: neste momento, o melhor seria garantir a governabilidade para evitar uma crise política e econômica ainda maior. Léo de Brito não participou. Quando a sessão do conselho começou, os três fizeram várias reuniões no plenário onde ocorriam as discussões. De vez em quando, Prascidelli ou Zé Geraldo conversavam com Hugo Motta (PMDB-PB), um dos escudeiros de Cunha que, mesmo sem ser membro do conselho, participou ativamente das manobras para salvar o presidente da Câmara.

Apesar de negociar nos bastidores, o Planalto oficialmente nega que esteja atuando em favor de Cunha. Um assessor palaciano, no entanto, reconhece que o Planalto deixa claro aos petistas que para Dilma é interessante que não seja aberto um processo de cassação contra o deputado:

— A instabilidade política é a mãe de todas as crises. É ela que paralisa a economia e trava a atividade dos empresários, que, por incerteza sobre o futuro político do país, não arrisca, não investe e deixa de fazer negócios. Zé Geraldo (PT-PA) foi mais explícito: — Diria que o governo está sendo chantageado (por Eduardo Cunha). O PT não, porque ninguém chantageia. O Cunha tem uma metralhadora nas mãos, todo mundo sabe que ele e o grupo dele trabalham com essa arma. E o PSDB está só esperando (a abertura do impeachment).

Não confiamos no Cunha. Quer coisa mais desastrosa que discutirmos agora uma pauta de impeachment? — questionou o parlamentar, voltando a dizer que os três petistas do Conselho estão “com a faca no pescoço”.
Zé Geraldo afirmou após a sessão que ainda trabalhava para unificar os três votos petistas, mas admitia que havia resistência por parte dos correligionários:

— PT é PT, governo é governo. Nós somos PT e governo, essa é a crise. E se acontecer de ele (Cunha) iniciar (o processo de impeachment) e sermos culpados por causa dos nossos votos?

Os outros petistas do conselho, Léo de Brito e Valmir Prascidelli, evitaram se posicionar em relação ao relatório de Pinato. Léo de Brito, no entanto, sinalizou que pode ficar contra o relatório que pede a investigação de Cunha, alegando que há um “fato novo a ser considerado” — o voto em separado apresentado pelo deputado Wellington Roberto (PR-PB), que defende uma punição branda de “censura escrita”. Prascidelli disse que é preciso cautela para analisar a questão.

Sobre a manifestação do presidente do PT numa rede social, Léo de Brito alfinetou:

— Se o Rui acha que devemos votar assim, ele que nos oriente. Manifestação pela imprensa não representa posição oficial. Ele nunca nos chamou para conversar.

Já Prascidelli disse que a manifestação de Falcão é legítima, mas que não houve decisão do PT. Segundo petistas, Prascidelli ainda está muito reticente em votar pelo arquivamento das investigações. Léo de Brito também resiste, mas estaria mais aberto às ponderações sobre o risco da abertura do processo de impeachment contra Dilma.

'Metralhadora está nas mãos de Cunha'

Por Raymundo Costa e Thiago Resende – Valor Econômico

BRASÍLIA - Em negociação na qual a moeda de troca foi a abertura do processo de impeachment da presidente Dilma, o Conselho de Ética da Câmara adiou a votação do relatório sobre a cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A decisão foi resultado de um impasse: pressionados pela opinião pública, os três representantes do PT no Conselho queriam votar a favor da abertura do processo. De outro lado, ameaçado por Cunha com o impeachment, o Planalto pressionava os deputados a votar contra. No fim do dia, um dos três deputados, Zé Geraldo (PT-PA), desabafou: "A metralhadora está na mão do Cunha

PT negocia para salvar Cunha de cassação
Em negociação na qual a moeda de troca foi a abertura do processo de impeachment do mandato da presidente Dilma Rousseff, o Conselho de Ética da Câmara decidiu adiar a votação do o relatório que recomenda a cassação do presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por supostamente mentir à CPI da Petrobras sobre contas bancárias que manteria no exterior.

O adiamento foi resultado de um impasse: pressionados pela opinião pública de seus Estados, os três representantes do PT no Conselho queriam votar favoravelmente à abertura do processo de cassação de Cunha; de outro lado, ameaçado por Cunha com a abertura do impeachment contra Dilma, o Palácio do Planalto pressionava os deputados a votar contra a abertura do processo.

No fim do dia, um dos três deputados, Zé Geraldo (PT-PA), tornou público o que desde cedo se discutia nos bastidores: "A metralhadora está na mão do Cunha", disse, numa referência à faculdade que o presidente da Câmara para decidir monocraticamente sobre a abertura do processo de impeachment da presidente da República.

"PT é PT e governo é governo. Nós somos PT e somos governo. Esta é a crise. [...] Se acontecer de ele [Cunha] 'estartar' e nós sermos os culpados de ter acontecido o impeachment no Brasil? Esta é a reflexão que estamos fazendo. Não é uma decisão fácil porque ela tem que ser nossa. Se você for aceitar a opinião externa da sociedade e do PT, temos que votar pela admissibilidade do relatório", declarou.

O PT receia que, aberto o procedimento, a saída de Dilma torne-se irreversível. "Nós não confiamos no Cunha", acrescentou o deputado. Durante o dia, o presidente do partido, Rui Falcão, tentou conciliar o inconciliável: defender publicamente o voto contra Cunha, enquanto o Planalto nos bastidores atuava a seu favor. A explicação é simples: Falcão acha que Cunha vai autorizar a abertura do processo contra Dilma seja qual for a decisão do Conselho de Ética sobre seu caso.

Um aliado de Cunha disse ao Valor que, se o PT votar pela rejeição do relatório de Pinato, o pemedebista deve decidir pelo arquivamento do pedido de impeachment. Pelo menos o PSD substituiu um integrante do Conselho que pensava em votar contra Cunha. O PT poderia fazer o mesmo em relação a seus deputados, mas prefere não se expor.

Os três deputados - Zé Geraldo (PA), Leo de Brito (AC), Valmir Prascidelli (SP) - reuniram-se e conversaram durante todo o dia. Os votos do PT são decisivos para a abertura ou não do processo. Quase cinco horas depois de sessão no Conselho, a pressão do Palácio do Planalto parecia exercer efeito: Zé Geraldo chamou os jornalistas e disse que o grupo decidira por uma posição "prudente", a fim de evitar qualquer pauta que venha desestabilizar inclusive a democracia do país. "Precisamos ter o cuidado de repensar o nosso voto e até pensar em não admitir o voto do relator", afirmou. O voto do relator Pinato (PRB-SP) é pela cassação de Cunha.

A nova votação pode ocorrer amanhã, mas ainda não tem data marcada. De qualquer forma, já há uma saída honrosa para o recuo ensaiado pelos três deputados do PT: eles votariam um relatório paralelo que prevê uma punição mais branda a Cunha, algo como uma de "censura pública".
A decisão dos três deputados contrariava a recomendação do presidente do PT, Rui Falcão, e até mesmo a maioria da bancada de deputados. Ainda de manhã, 31 dos 60 deputados que integram a bancada petista assinaram uma nota defendendo a abertura do processo contra Cunha no Conselho de Ética - nenhum dos petistas membros do colegiado autografaram o abaixo-assinado.

Antes mesmo de ser aberta a sessão do Conselho de Ética, os deputados discutiam os termos da negociação: Cunha, segundo apurou o Valor, teria ameaçado autorizar a abertura do processo de impeachment de Dilma, caso perdesse no Conselho. O Planalto, então, passou a pressionar os deputados, que, por sua vez, sentem-se pressionados pelos eleitores, depois que pesquisas de opinião apontaram que cerca de 80% da população quer a punição do presidente da Câmara..

Na discussão com os ministros do Palácio do Planalto encarregados da negociação, os três deputados mencionaram o caso do senador Delcídio Amaral (PT-MS), preso na semana passada sob a acusação de obstruir as investigações da Operação Lava-Jato. Os deputados lembraram que o partido foi ágil ao "entregar a cabeça" de um colega líder do governo contra o qual nada havia até agora. Era no mínimo incoerente agora pedir o voto para salvar "o pescoço" de Cunha.

Foram os aliados de Cunha que costuraram o Plano B, o que prevê a "pena mais branda". A ideia era que o relatório de Fausto Pinato (PRB-SP), que opinou pela abertura de processo contra Cunha, fosse rejeitado ontem. A partir daí, segundo apurou o Valor PRO, o deputado Wellington Roberto (PR-PB) apresentaria um novo parecer ao Conselho de Ética sugerindo uma "pena mais branda", que ainda está sendo "construída " mas afastaria a cassação de mandato de Cunha.

A estratégia é usada como argumento para convencer governistas a votar contra o relatório de Pinato sem passar a impressão de que o Congresso fez uma pizza. A decisão agora depende das negociações entre Palácio do Planalto, Eduardo Cunha e o PT. O PMDB comemorou o adiamento como uma vitória. A drástica mudança no discurso dos três petistas do Conselho de Ética indica que eles estão receptivos aos argumentos do Palácio do Planalto. No governo, a ordem é evitar a todo custo a abertura do processo de impeachment.

O advogado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Marcelo Nobre, apresentou a defesa do deputado durante a sessão do Conselho de Ética.

"Não podemos politizar a Justiça usando uma denúncia que não faz absolutamente prova de nada como base para algo que venha a ser imputado a alguém, principalmente, para alguém em relação a perda de mandato", afirmou Nobre.

Nobre discursou por cerca de 20 minutos. Negou que Cunha tenha mentido à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, quando afirmou não ter conta no exterior.

O advogado também alegou que não há lei brasileira que obrigasse Cunha a declarar no Imposto de Renda os recursos que tem no exterior, mas são administrados por truste. "Estão querendo e exigindo que meu cliente faça algo que a lei não obriga. Não existe essa possibilidade", completou.

Pressão do Planalto para salvar Cunha de cassação divide o PT

Daniela Lima, Marina Dias, Gustavo Uribe, Ranier Bragon e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A pressão do Palácio do Planalto para deputados do PT votarem no Conselho de Ética pela anistia do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), colocou a cúpula do partido e a maioria da bancada da sigla em choque com o governo.

A sinalização de que representantes da legenda poderiam chancelar, nesta terça-feira (1º), a salvação de Cunha a pedido de aliados de Dilma Rousseff levou parlamentares e prefeitos da sigla a acionar a direção do PT com ameaças de desfiliação em série.

Três deputados petistas integram o colegiado e os votos deles são fundamentais para que o peemedebista consiga enterrar a discussão sobre uma eventual cassação de seu mandato por suposto envolvimento nas investigações de corrupção na Petrobras.

Os defensores de um acordo com Cunha, entre eles o ex-presidente Lula, acreditam que ele engavetará pedidos de impeachment contra Dilma se conseguir salvar seu mandato no Conselho de Ética.

No entanto, a direção do PT, a maioria da bancada e até uma ala minoritária do governo decidiu remar na corrente contrária. Eles defendem a tese de que salvar Cunha seria manter nas mãos dele um "cheque em branco" para chantagear a presidente. Pregam, inclusive, que a presidente deve "pagar para ver" e encarar a discussão sobre seu afastamento.

O choque ficou evidente durante o dia. Enquanto no Planalto o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) trabalhava para convencer os petistas a votarem a favor de Cunha, na Câmara a manobra era descrita por parlamentares do próprio PT como "suicídio político".

Essa pressão resultou em uma declaração pública do presidente nacional do PT, Rui Falcão, contra o apoio dos deputados de seu partido ao peemedebista.

Além disso, 34 dos 60 deputados da bancada do PT apoiaram um abaixo assinado contra Cunha. No início da noite, esses parlamentares diziam que a chance dos colegas de partido darem aval a Cunha era "zero".

"A posição do presidente Rui Falcão e da maioria da bancada dará um enorme conforto para que eles [integrantes do Conselho] votem pela admissibilidade do processo", sustentou Paulo Teixeira (PT-SP).

Adiamento
A decisão sobre o trâmite do processo de cassação do presidente da Câmaraacabou adiada após seis horas de discussão. Com isso, Cunha conseguiu protelar novamente o desfecho do caso. Até o fim da sessão, sete deputados anunciaram que votariam pelo andamento do processo e um, contra.

A sessão terminou sem que os três deputados do PT se posicionassem formalmente. Durante o dia, no entanto, a declaração mais incisiva sobre a pressão a que estavam submetidos veio do deputado José Geraldo (PT-PA).

"Estamos votando não com a faca, mas com a metralhadora no pescoço. E a metralhadora está na mão do Cunha", disse o petista.

Ele chegou a dizer que, se votasse a favor de Cunha, não estaria falando a favor o peemedebista, mas pela "salvação do país, da economia e do emprego", numa referência ao mandato de Dilma.

Sentindo o clima de divisão no PT, Cunha indicou que poderá mudar o relator da proposta do governo de recriar a CPMF caso os deputados petistas votem pelo arquivamento de sua cassação.

Nesta terça, o presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Arthur Lira (PP-AL), aliado de Cunha, indicou-se relator da recriação do imposto, o que desagradou ao Planalto.

Quase seis horas de discussão para não decidir nada

• Debates sobre filas furadas, excesso de questionamentos e voto em separado adiam julgamento no Conselho de Ética

Chico Gois, Isabel Braga Júnia Gama - O Globo

-BRASÍLIA - Depois de quase seis horas de debates e questionamentos até mesmo sobre filas furadas, o Conselho de Ética da Câmara começou a discutir ontem a abertura da investigação do processo contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), mas nada foi decidido, e a sessão acabou remarcada para hoje. Mesmo assim, o sentimento entre os partidários do peemedebista era que ele deverá ser poupado, com a providencial ajuda do Palácio do Planalto, que trocou o impeachment pela manutenção do mandato de Cunha.

Durante a sessão, cinco deputados titulares se manifestaram, sem votar, a favor do relatório do deputado Fausto Pinato (PRB-SP) pelo seguimento das investigações contra Cunha, e um a favor de Cunha: o deputado Wellington Roberto (PR-PB), que apresentou um voto em separado pedindo apenas a punição de censura escrita para Cunha. De tarde, contabilizando os votos do PT, aliados de Cunha acreditavam que venceriam a votação por 12 votos a 8.

O voto em separado de Wellington Roberto provocou críticas dos deputados favoráveis à abertura do processo contra Cunha. O próprio relator atacou o colega:

— Esse relatório paralelo serve apenas para tumultuar. Não estamos no momento da pena, até porque ele pode ser absolvido. O voto não é fruto de ignorância jurídica, mas uma estratégia com a finalidade de criar embaraço a este conselho — disse Pinato. Roberto reagiu: — O voto é regimental, posso apresentar. O relator agiu com emoção quando prejulgou e quer forçar a barra para dar continuidade ao processo contra Cunha.

Ao defender seu voto paralelo, o deputado do PR sustenta que a conduta de Cunha “não acarretou quaisquer danos ao patrimônio da Câmara” e, ao depor espontaneamente na CPI, “não buscou ludibriar seus pares”.

O presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA), disse que o voto de Wellington Roberto só será considerado se o relatório de Pinato for derrotado.

Apesar da contabilidade favorável a Cunha, no Conselho de Ética o clima foi tenso. O exército do presidente usou como tática apresentar várias questões de ordem e questionamentos, além do voto em separado antes da votação do relatório de Pinato.

O advogado Marcelo Nobre argumentou que o presidente da Câmara não declarou os valores que têm em trusts no exterior, porque “a lei não obriga”. Marcelo Nobre disse ainda que a representação do PSOL e da Rede pela cassação do mandato de Cunha foi feita com base em “delações torturadas”.

— Sustentam a representação em cima de duas delações torturadas, e delações torturadas não fazem prova de nada — contestou o advogado.

Logo no início, uma discussão que se estendeu por uma hora tratou da acusação da tropa de choque de Cunha de que o deputado Onyx Lorenzoni (DEMRS) tinha furado a fila na hora de marcar presença — o que lhe daria prioridade na hora de votar, caso o titular do bloco partidário deles não aparecesse. Sérgio Moraes (PTB-RS), o deputado que já disse se lixar para a opinião pública, criticou o colega e por pouco não parte para as vias de fato. A longa discussão, no entanto, mostrou-se absolutamente inócua, uma vez que todos os titulares do bloco compareceram ao conselho

Ontem, seguro de que escaparia do processo no Conselho, Cunha acabou não iniciando as votações no plenário da Câmara, permitindo que o órgão estendesse os trabalhos até o início da sessão do Congresso.

Petistas viram alvo de pressão em redes sociais

Por Fernando Taquari – Valor Econômico

SÃO PAULO - Dois dos três petistas que integram o Conselho de Ética foram alvos de intensa pressão nas redes sociais para dar andamento ao processo de cassação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de quebrar o decoro parlamentar. O voto dos três é considerado fundamental para selar o destino do pemedebista. Cunha passou os últimos dias tentando persuadir os petistas com a ameaças veladas de colocar na pauta o impeachment da presidente Dilma Rousseff caso não tenha o apoio dos parlamentares do PT.

Nos dois postes que publicou no seu perfil no Facebook ao longo do dia de ontem - nenhum relacionado à votação no Conselho de Ética - o deputado Valmir Prascidelli (SP) recebeu no total 76 comentários de volta até o início da noite. A maioria dos internautas exigia do deputado o voto contra Cunha. Algumas palavras, como "estamos de olho", "o povo não vai perdoar", "tenha bom senso e dignidade", "não vá se queimar", "não afunde sua carreira", se destacavam entre cobranças mais diretas.

Outros internautas lembraram da pesquisa Datafolha, divulgada na semana passada, que aponta que 81% dos brasileiros defendem que o pemedebista tenha o mandato cassado por seu envolvimento na Lava-Jato. Cunha é acusado de receber R$ 5 milhões de propina em contratos da Petrobras, além de manter contas secretas na Suíça.

O deputado Léo de Brito (AC) também postou duas mensagens no Facebook ontem. Assim como o correligionário, nenhuma tinha relação com Cunha. O petista recebeu 34 comentários de volta. Praticamente todos pediam a derrubada do pemedebista. Alguns internautas afirmaram que proteger o presidente da Câmara significava conivência com a "podridão", enquanto outros colocavam em dúvida a reputação de Brito com críticas de que a história não o perdoará e que estaria rifando sua imagem para salvar Cunha. Menos ativo no Facebook, Zé Geraldo (PA) não publicou mensagens e não recebeu nenhuma cobrança no Facebook.

A votação no Conselho de Ética ficou ao longo do dia entre os cinco assuntos mais comentados no Twitter, conforme levantamento da E.Life Group. Até o fechamento desta edição, Cunha e a votação motivaram 7.463 comentários na ferramenta. A maior parte mostrava indignação com o fato de o colegiado encerrar a sessão sem votar o relatório do deputado Fausto Pinato (PRB-SP). Alguns mais exaltados xingaram o pemedebista, outros aproveitaram para defender sua renúncia e da presidente Dilma. Uma parcela de internautas ainda manifestava a expectativa do presidente da Câmara cair e levar consigo outros deputados investigados por corrupção.

Rede e PPS entram com representação contra Delcídio no Conselho de Ética

• Estratégia da oposição em não assinar documento é garantir que os senadores possam participar do sorteio da relatoria do processo, caso seja admitido pelo presidente do colegiado

Isabela Bonfim e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Os partidos Rede Sustentabilidade e PPS pediram nesta terça-feira, 1, ao Conselho de Ética do Senado investigação que pode resultar na cassação do mandato do senador Delcídio Amaral (PT-MS) por quebra de decoro parlamentar. O PSDB e o DEM apresentaram apenas uma “carta de apoio” ao pedido, mas decidiram não assinar a representação sob alegação de que isso impediria um filiado de eventualmente relatar o processo.

O parlamentar está preso há uma semana sob acusação de tentar obstruir as investigações da Operação Lava Jato. “Os notórios acontecimentos envolvendo o senador Delcídio constituem claramente o descumprimento do Código de Ética e decoro parlamentar”, argumentou o líder da Rede, Randolfe Rodrigues (AP). A representação, defende, deve culminar em cassação. “Diante da força dos acontecimentos, não cabem outras punições previstas no regimento interno, se não a cassação. Obviamente, isso será objeto do debate e deliberação do Conselho.”

O pedido contra Delcídio será encaminhado ao presidente do conselho, João Alberto Souza (PMDB-MA), que terá cinco dias úteis para decidir pela admissibilidade. Ele pode dar continuidade ou arquivar o processo de imediato.

Como prevê a Constituição, a peça foi assinada pelos presidentes da Rede, Gabriela Barbosa Batista, e do PPS, deputado Roberto Freire (SP). A carta dos partidos do bloco de oposição foi assinada pelos líderes Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e Ronaldo Caiado (DEM-GO).

Relatoria. A estratégia da oposição em não assinar a representação é para garantir que os senadores possam disputar a relatoria do processo. O Código de Ética não permite que membros do partido do senador investigado, bem como dos partidos que representaram contra ele, sejam relatores.

“Se todos os partidos subscrevessem a representação, nós estaríamos com um embaraço regimental porque, pelo regimento, todos eles estariam impedidos de assumir a relatoria”, justificou Cássio Cunha Lima. Mas o PSDB se mostrou relutante, desde o início, em fazer a representação contra Delcídio. Ontem, indicou Aloysio Nunes Ferreira (SP) e Ataídes Oliveira (TO) como titulares do Conselho de Ética. Cunha Lima (PB) e Dalírio Beber (SC) serão suplentes.

Na semana passada, Cunha Lima chegou a telefonar ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apelando para que ele fizesse a representação diretamente pela Mesa do Senado. Assim, o PSDB não seria obrigado a pedir a cassação de Delcídio. Renan, entretanto, recusou a proposta. “Os partidos que devem tomar providências que o façam. Essa tarefa não cabe ao presidente do Senado”, afirmou.

A cúpula do PMDB do Senado articula uma estratégia para jogar o início das investigações no Conselho de Ética para 2016. Com receio do precedente, o PMDB tentou livrar Delcídio da prisão durante a votação no Senado, mas acabou vencido na discussão sobre voto secreto

Rede e PPS representam contra Delcídio

Rede e PPS pedem processo no Conselho de Ética contra Delcídio

• No Supremo, ministro abre mais dois inquéritos sobre senador do PT

Maria Lima, Carolina Brígido - O Globo

-BRASÍLIA- Acompanhado dos líderes Ronaldo Caiado (DEM) e Cássio Cunha Lima (PSDB), o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou ontem uma representação ao Conselho de Ética pedindo a cassação do senador Delcídio Amaral (PT-MS), preso pela Operação Lava-Jato. A representação só foi assinada pela Rede, por meio da porta-voz do partido no Distrito Federal, Gabriela Barbosa Batista, e pelo PPS, com assinatura do presidente Roberto Freire (PPS-SP).

Randolfe explicou que a opção foi que PSDB e DEM só assinassem o apoiamento, uma vez que membros do Conselho de Ética que pertencem aos partidos signatários não podem participar do sorteio para a relatoria, assim como os parlamentares do estado e do partido de Delcídio.

— Se todos os partidos subscrevessem a representação, ficaríamos sem ninguém para disputar a relatoria no Conselho. Mas já tínhamos anunciado desde quinta-feira que, na ausência de uma iniciativa da Mesa, nós encaminharíamos o pedido ao Conselho — disse o líder do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB).

— É uma situação constrangedora para a Casa, mas o comportamento do senador Delcídio depõe contra o decoro. E, se o Parlamento demorar a se posicionar, o descrédito do Executivo será trazido para dentro do Parlamento — defendeu o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO).

Horas antes de Rede e PPS protocolarem a representação pedindo a abertura de processo para cassação, o presidente do Conselho de Ética, senador João Alberto de Souza (PMDBMA), desengavetou um processo que estava parado na assessoria jurídica da Casa desde 2013 contra Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e João Capiberibe (PSB-AP). Randolfe é justamente o senador que vem encabeçando o movimento pela cassação de Delcídio.

Mais dois inquéritos
O ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou ontem a abertura de mais dois inquéritos sobre os desvios de dinheiro na Petrobras. O primeiro é contra Delcídio Amaral; o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDBAL); e o senador Jader Barbalho (PMDB-PA). O segundo é contra Jader, Renan e o deputado Aníbal Gomes (PMDBCE). O grupo é suspeito de ter cometido corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Ontem, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a abertura de um terceiro inquérito sobre Delcídio. Caberá a Teori Zavascki decidir se atende ou não ao novo pedido. A tendência é pela abertura de inquérito, já que a praxe no STF é atender as solicitações do chefe do Ministério Público. Os três casos estão sob sigilo. No último pedido, Janot informa que quer investigar o parlamentar por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Com as novas investigações, haverá no STF 35 inquéritos sobre a Lava-Jato. Ao todo, são 68 investigados. Desses, há 23 deputados, 14 senadores, um ministro de Estado e um ministro do Tribunal de Contas da União.

Rede e PPS pedem a cassação de Delcídio

• Representação contra o petista, preso na última semana na Lava-Jato, foi entregue ao Conselho de Ética do Senado

• PSDB e DEM apóiam a representação, mas não a assinaram, de olho na possibilidade de assumir sua relatoria

Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Os senadores da Rede e do PPS apresentaram, nesta terça-feira (1º) uma representação ao Conselho de Ética do Senado para pedir a investigação por quebra de decoro parlamentar pelo senador Delcídio do Amaral (PT-MS), preso desde a semana passada pela Operação Lava Jato. Por uma questão regimental, o PSDB e o DEM apenas assinaram uma carta de apoio à representação.

A continuidade do processo no colegiado cabe agora ao presidente do conselho, o senador João Alberto Souza (PMDB-MA), que terá cinco dias úteis para decidir sobre a admissibilidade da representação. Aliado do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), Souza ditará o ritmo de investigação contra Delcídio, o que poderá levar à cassação do seu mandato parlamentar.

Delcídio foi preso na última quarta-feira (25) sob a acusação de estar obstruindo as investigações da Operação Lava Jato. Ele foi flagrado em uma gravação, feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, preso por corrupção na estatal. Segundo a conversa, Delcídio teria oferecido um plano de fuga a Cerveró e uma mesada de R$ 50 mil para a família do ex-diretor para que ele não o citasse em uma eventual delação premiada.

"Os senadores devem cumprir regras de respeito ao mandato, não podem descumprir as regras do decoro parlamentar. No nosso entendimento, os notórios acontecimentos envolvendo o senador Delcídio do Amaral, que foram diagnosticados e denunciados pela Procuradoria-Geral da República e foram resultado da sua prisão por parte do Supremo Tribunal Federal, constituem flagrantemente o descumprimento do ódigo de ética e decoro parlamentar", afirmou o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

Por questões regimentais, o PSDB e o DEM assinaram uma carta de apoio à representação. De acordo com as regras do Conselho de Ética, integrantes de um partido autor de um processo no colegiado não podem ser escolhidos como relatores. A estratégia foi adotada para que algum senador da oposição possa ser escolhido. O escolha, no entanto, é feita por sorteio.

Na representação, os partidos alegam que Delcídio abusou de "prerrogativas", "na medida em que se valeu do seu cargo público, sua envergadura institucional e sua influência e trânsito sobre as estruturas de Estado para favorecer-se, obstar a sua própria responsabilização criminal e a de terceiros. A torpeza da conduta salta aos olhos e merece condenação mesmo diante do mais frouxo parâmetro de probidade que se tenha em conta".

"Assim, caberá a este Senado Federal demonstrar sua repulsa às contrarepublicanas e criminosas práticas do representado, rechaçando publicamente seu comportamento e apenando-o com a cassação do mandato e consequente suspensão dos direitos políticos ou, de outra sorte, referendar seu comportamento inescrupuloso, encarando o escrutínio público dessa perigosa decisão, que pode por em cheque a própria legitimidade institucional desta Casa", diz o documento.

Tramitação
O processo para analisar a cassação de Delcídio será longo. De acordo com o regimento, se o presidente do conselho optar por arquivar a representação, os partidos autores da proposta podem recorrer ao plenário da Casa. No caso de ele aceitar, o colegiado irá notificar Delcídio, que terá dez dias para apresentar a sua defesa prévia. Nesta etapa, ele pode arrolar cinco testemunhas de defesa.

Em seguida, o conselho terá até três dias para sortear um relator, que não poderá ser do partido que representou contra Delcídio e nem do PT, partido do senador que será investigado. O relator escolhido terá então, cinco dias para apresentar um relatório preliminar. O conselho tem mais cinco dias para fazer a análise inicial do mérito da representação em que examinarão se há indícios de prática de ato que possa sujeitar o senador à perda do mandato ou a outra penalidade. A votação nesta caso é nominal e aberta.

Se o conselho entender que há indícios de prática de ato que possa sujeitar o senador à perda do mandato, a representação é recebida pelo colegiado, que instaura o processo disciplinar. Iniciada esta etapa, o conselho fará uma investigação e deverá fazer a intimação do senador para que ele apresente a sua defesa. O colegiado tem 30 dias para cumprir esta etapa.

De acordo com as regras, o senador processado pode ser convocado a depor pessoalmente. Como Delcídio é o primeiro senador preso no exercício do mandato desde a redemocratização do país, consultores do Conselho de Ética afirmam que ainda há dúvidas se ele terá a obrigação de comparecer à Casa.

Assim que finalizar esta fase, o relator encerrará a instrução do caso e intimará Delcídio a apresentar suas alegações finais no prazo de três dias úteis. Ele deverá entregar seu parecer em seguida, que será analisado pelo colegiado em até 10 dias úteis.

Recebido o relatório, a Secretaria do Conselho poderá divulgar apenas uma parte dele, que incluirá a descrição do processo. A outra parte, que consiste na análise e no voto do relator, ficará sob sigilo até a leitura do parecer, que pode pedir desde a nulidade do processo até a perda do mandato. Se a maioria do colegiado votar pela cassação, o processo seguirá para a Comissão de Constituição e Justiça da Casa e ainda deverá ser analisada pelo plenário da Casa.

Zavascki autoriza inquéritos para investigar Renan, Delcídio e Jader

Por Maíra Magro – Valor Econômico

BRASÍLIA - O ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou ontem a abertura de dois novos inquéritos para investigar o suposto envolvimento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), dos senadores Delcídio do Amaral (PT-MS) e Jader Barbalho (PMDB-PA), além do deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE) com o esquema de corrupção da Petrobras.

Eles serão investigados por crimes como corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Um dos inquéritos analisa especificamente fatos relacionados a Renan, Jader e Aníbal Gomes. O outro envolve a atuação de Delcídio, Renan e Jader.

Nos dois casos, os pedidos de investigação foram apresentados na segunda-feira pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e autorizados ontem por Zavascki. Ontem mesmo, o ministro determinou o envio dos autos à Polícia Federal para diligências. Os dois inquéritos correm em segredo de Justiça, por isso não há detalhes sobre o que será investigado.

Ao que tudo indica, porém, os inquéritos dizem respeito a declarações feitas pelo lobista Fernando Soares, conhecido como Baiano, em acordo de delação premiada na Lava-Jato.

Este é o quinto inquérito solicitado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Renan dentro da operação.

Quanto a Delcídio, um primeiro inquérito foi aberto para apurar tentativas de obstruir as investigações da operação e comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

Essa investigação decorre de uma gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, de um encontro com Delcídio, seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira, e o advogado Edson Ribeiro. Na conversa, Delcídio participa de uma tratativa para comprar o silêncio de Cerveró, para que não fechasse delação na Lava-Jato e, caso fizesse esse acordo, deixasse de mencionar o nome do senador como envolvido no escândalo da Petrobras. Delcídio chegou até a sugerir, com os outros participantes, um plano de fuga de Cerveró para fora do Brasil.

O novo inquérito, aberto ontem, vai apurar o suposto envolvimento no esquema de desvio de verbas da Petrobras. Em delação premiada, Baiano teria mencionado Delcídio como um dos beneficiários de propina obtida de recursos desviados da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela estatal brasileira. O senador teria recebido o dinheiro para financiar sua campanha para o governo do Mato Grosso do Sul, em 2006.

Também segundo a delação de Baiano, Delcídio teria recebido suborno para endossar o nome de Cerveró para a diretoria Internacional da Petrobras.

Baiano teria mencionado ainda Renan e Jader como beneficiários do esquema de corrupção.

Jader, por sua vez, já é alvo de dois inquéritos da Lava-Jato. No total, o Supremo investiga 68 pessoas como parte da operação - incluindo 14 senadores e 23 deputados.

Paralelamente, também ontem, a PGR pediu a abertura de um terceiro inquérito contra Delcídio, para apurar fatos diversos, mas também relacionados à Lava-Jato. Zavascki ainda decidirá se autoriza ou não essa investigação. Renan e Jader têm negado envolvimento em qualquer tipo de irregularidade.

Temer confirma que Bumlai intermediou reunião com Cerveró

• Vice contradiz pecuarista e diz que ouviu de ex-diretor pedido para que fosse mantido na Petrobras

- O Globo

BRASÍLIA - O vice-presidente Michel Temer confirmou ontem que o pecuarista José Carlos Bumlai telefonou para ele em 2007, para pedir que recebesse Nestor Cerveró, então diretor da Petrobras. Naquele ano, Temer era deputado federal e presidente nacional do PMDB. Na conversa com Bumlai, segundo a assessoria do vice, houve apenas o pedido de que recebesse Cerveró. A informação contradiz depoimento dado esta semana por Bumlai à Polícia Federal.

Temer ouviu de Cerveró um pedido de ajuda para que fosse mantido na direção da área Internacional da Petrobras. Temer nega, no entanto, que tenha havido uma reunião entre ele, Bumlai e Cerveró para tratar do assunto. Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, em depoimento à PF, Bumlai afirmou que não se dedicou a ajudar na manutenção de Cerveró no cargo. O pecuarista citou Fernando Baiano, apontado como operador de propinas ao PMDB na Lava-Jato. “Gostaria de consignar que muito embora não se lembre se Fernando Soares lhe solicitou que intercedesse junto ao então presidente da República (Lula) na manutenção de Nestor Cerveró na diretoria da área Internacional, recorda-se de nunca ter envidado esforços para esta finalidade”, afirmou Bumlai, segundo depoimento obtido pelo jornal paulista.

Temer afirma ter dito a Cerveró, no encontro que ocorreu no escritório do PMDB, em São Paulo, que ‘não poderia fazer nada.’ Em conversa gravada por Bernando Cerveró, o senador Delcídio Amaral disse que Temer estava preocupado com a situação de outro ex-diretor da estatal, Jorge Zelada. Temer nega qualquer diálogo com Delcídio sobre o tema.

Com obstrução e falta de quórum, governo não consegue votar alteração da meta fiscal

• Caso a proposta não seja aprovada em 2015, a oposição poderia alegar que a presidente cometeu crime de responsabilidade fiscal

Isabela Bonfim, Ricardo Brito e Gustavo Porto - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Por falta de quórum, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), decidiu encerrar a sessão conjunta das duas Casas Legislativas prevista para votar o projeto de lei que revisa a meta fiscal de 2015. Embora tenha conseguido “limpar” a pauta dos quatro vetos presidenciais numa sessão iniciada às 19h47, o governo Dilma Rousseff não teve fôlego para garantir o quórum da sua base aliada e a sessão foi derrubada antes da votação da proposta.

Renan Calheiros convocou uma nova sessão do Congresso para esta quarta-feira (2) ao meio-dia. O peemedebista tem sido um dos principais aliados de Dilma na aprovação da agenda econômica e orçamentária no Legislativo.

A base aliada tentou rejeitar um requerimento de inversão de pauta proposto pela oposição, que se valeu de manobras regimentais para impedir a votação do projeto que altera a meta fiscal. Contudo, somente 230 deputados votaram – eram necessários pelo menos 257 votos na Câmara. Os senadores não chegaram a votar.

A revisão da meta é fundamental para o governo porque, sem ela ter sido aprovada pelo Legislativo, desde a terça-feira (1) o Executivo está impedido de realizar despesas discricionárias – até editou na segunda-feira (30) um decreto contingenciando R$ 11,2 bilhões. O bloqueio dos recursos visa a seguir recomendação do Tribunal de Contas da União (TCU).

No plenário do Congresso, os governistas defenderam a votação imediata da proposta para não paralisar a máquina pública. “Vamos até à 5 horas da manhã, mas vamos votar”, disse um dos vice-líderes do governo na Câmara, Silvio Costa (PSC-PE). “Com a revisão do decreto, será possível se repor um decreto para a retomada da execução orçamentária”, afirmou um dos vice-líderes do PT na Câmara, Afonso Florence (BA).

A oposição criticou a presidente Dilma Rousseff por tentar “legalizar” um déficit de até R$ 119,9 bilhões este ano. “O governo quer fazer a limpeza da cena do crime”, acusou o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB). “Nós não vamos dar perdão coisa nenhuma”, protestou o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).

Além da questão da paralisia do governo, Dilma tem outra preocupação em aprovar logo a revisão da meta. Caso a proposta não seja aprovada em 2015, a oposição poderia alegar que a presidente cometeu crime de responsabilidade fiscal, passível de apresentar um novo pedido de impeachment contra ela

Congresso derruba veto e eleva idade para servidor público se aposentar

• Projeto do senador José Serra (PSDB-SP) eleva de 70 para 75 anos a idade para aposentadoria compulsória dos servidores públicos

Gustavo Porto e Ricardo Brito – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A Câmara dos Deputados seguiu o Senado e manteve a derrubada do veto da presidente Dilma Rousseff (PT) ao projeto do senador José Serra (PSDB-SP) que eleva de 70 para 75 anos a idade para aposentadoria compulsória de todos os servidores públicos. Foram 350 votos contra o veto e 15 a favor, com 4 abstenções. Eram necessários 257 votos para a manutenção do veto.

No Senado, foram 64 votos pela derrubada do veto e 2 votos contrários à derrubada. Eram necessários 41. Serra justificou que a derrubada do veto iria trazer uma economia anual de R$ 800 milhões a R$ 1,2 bilhão por ano aos cofres públicos no futuro. Segundo o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), o governo só vetou o projeto por conta do vício de iniciativa, que teria de ser do Executivo, mas concorda com a derrubada da decisão de Dilma.

Durante as discussões, lideranças do governo e da oposição fecharam um acordo pra que o veto fosse derrubado e, em garantia, o último dos quatro vetos analisados na sessão do Congresso fosse realizado ainda na sessão desta terça-feira. O último veto, já avaliado, anulou o projeto de lei complementar que regulamentava a profissão de designer.

PIB sob risco de depressão

• Economia tem queda generalizada no 3º tri • Resultado só não é pior que o da Ucrânia • Crise pode ser a mais grave em 35 anos

O PIB caiu 4,5% no terceiro trimestre, em relação ao mesmo período de 2014, o pior resultado da série do IBGE, iniciada em 1996. Investimentos e consumo das famílias tiveram queda recorde. E a indústria de transformação não amargava resultado tão ruim desde a crise global, em 2009. Muitos analistas já veem a economia em depressão, que é uma recessão mais profunda e duradoura. A atual recessão, iniciada em 2014, poderá durar 11 trimestres e representar, no período, um tombo de 8,1% do PIB, segundo a FGV. Caso confirmada, será a pior crise em 35 anos.

Depressão à espreita

• PIB cai além do esperado e analistas já vêem quadro pior que recessão

Lucianne Carneiro, Cássia Almeida, Daiane Costa, Lucas Moretzsohn, Ana Paula Machado - O Globo

-RIO e SÃO PAULO- A recessão da economia brasileira se aprofundou mais do que o esperado no terceiro trimestre, e a atividade econômica retrocedeu ao patamar do início de 2011. No terceiro trimestre seguido de queda e sexto sem crescimento, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 1,7% no terceiro trimestre deste ano em relação ao segundo, o pior terceiro trimestre da série histórica do IBGE, iniciada em 1996. Na comparação com igual período do ano passado, o tombo foi ainda mais forte, 4,5%. A crise ganha contornos semelhantes aos daqueles dos anos 80 e já há economistas dizendo que o país vive uma depressão, situação mais grave e difícil de ser revertida do que uma recessão.

O desempenho da economia entre julho e setembro foi marcado por recordes negativos. A queda acumulada em quatro trimestres chegou a 2,5% e, nos nove primeiros meses do ano, a perda foi de 3,2%, frente a igual período de 2014: são as piores taxas registradas em quase 20 anos, desde o início da série do IBGE. Os números vieram mais negativos do que o mercado esperava e provocaram piora nas projeções para desempenho da economia neste ano e no próximo. O IBGE divulgou ainda uma revisão dos dados do PIB de trimestres anteriores, que mostraram que a recessão era pior do que se imaginava.

Os dados revelam queda generalizada entre os diferentes setores da economia. O consumo das famílias, que até o ano passado puxava o PIB, caiu pelo terceiro trimestre seguido. O recuo de 4,5%, frente a igual trimestre de 2014, também é o maior em quase 20 anos, e reflete a piora no mercado de trabalho, queda na renda, inflação e perda de confiança na economia. CRESCIMENTO SÓ EM 2017 Já os investimentos recuam há mais de dois anos, ou nove trimestres. Frente ao terceiro trimestre de 2014, o tombo é de 15%: o maior desde 1996. A falta de confiança na economia, os cortes de investimentos públicos, a crise política e os efeitos da operação Lava-Jato no setor de construção se refletem nesses números.

— É difícil imaginar uma situação histórica semelhante ao desempenho corrente da economia brasileira, mas o que mais preocupa é a expectativa. O que atrapalha investimentos e consumo não parece ter saído da frente. É difícil falar em qual trimestre se espera alguma recuperação, mas a tendência é da economia se estabilizar apenas em 2017. Seria algo perto de zero, mais um nadinha ou menos um nadinha — afirma o professor da USP e economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves.

A retração fez o país perder mais de quatro anos. A economia está produzindo o mesmo que no início de 2011, quando começou o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, e o país cresceu 3,9%:

— A expansão daquele ano foi em boa parte explicada pelo impulso do ano anterior, quando o PIB avançara 7,5% — explica o economista-chefe da Tullett Prebon Brasil S/A, Fernando Montero.

Segundo ele, como PIB deve continuar em queda, o retrocesso pode fazer a economia voltar ao patamar do segundo mandato do presidente Lula. Para o economista Paulo Picchetti, do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), da Fundação Getulio Vargas (FGV), o país está repetindo a década perdida de 1980:

— Apesar de não estarmos vivendo descontrole inflacionário, o ambiente de incerteza começa a ficar comparável com aquela época. É a década perdida de novo.

Para o diretor do Goldman Sachs Alberto Ramos, a situação já é de depressão:

— Uma depressão é uma recessão profunda e prolongada, que dura pelo menos dois anos ou mais. Observamos esses dois quesitos: um ano de estagnação vai para uma contração do PIB bastante severa e ainda há a própria herança estatística (carry over) de 2015 para 2016.

Cálculo da economista Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre/FGV, mostra que o chamado carry over (efeito estatístico que faz o desempenho da economia em um ano ser transferido para o seguinte) de 2015 para 2016 será de -1,9%, estimando recuo de 0,7% no quarto trimestre. Pelos cálculos de especialistas, já está contratada uma recessão de 3,5% este ano, mesmo que no quarto trimestre a economia fique estagnada.

A indústria sentiu com força o impacto das incertezas. Encolheu 6,7% no terceiro trimestre, em relação a igual período de 2014, a maior queda desde os 8% do segundo trimestre de 2009, na crise financeira global. Quem mais sofreu foi a indústria de transformação, com retração de 11,3%.

Produtora de bombas hidráulicas, a Asvac resume a condição de boa parte das indústrias, às voltas com forte queda de faturamento, demissões e corte de investimentos. O presidente da companhia, Cesar Prata, contabiliza perda de 60% nas receitas. Sem vender, teve de reduzir o quadro de empregados de 50 para apenas 14.

— É uma época bem difícil para a indústria de transformação — lamenta o executivo, que adiou planos de expandir a capacidade de produção da fábrica. RETRAÇÃO NO ANO PODE CHEGAR A 4% A recessão é mais profunda do que o PIB mostra. Quando é excluída a parte da produção que exportamos, a chamada contribuição externa, a economia doméstica encolheu 7,4% no terceiro trimestre em relação a igual período de 2014. No resultado do ano, a queda de 3,2% sobe a 5,4%.

— Não há recuo igual pelo menos nos últimos 20 anos. Geramos um excedente de produção que exportamos e não consumimos — afirma Fernando Montero.

Se o ano de 2015 já é visto como perdido para a economia — com recessão de quase 4%, segundo as estimativas de mercado —, as previsões para 2016 também se deterioraram e muitos afirmam que não é possível escapar de nova retração.

Ontem, diante do resultado do PIB, muitos bancos e consultorias pioraram suas previsões. O Banco Fator já prevê um recuo de 3,5% do PIB em 2016, enquanto o Banco Fibra prevê retração de 3,1%. Tendências Consultoria e Ibre/ FGV estimam uma perda de 3%, enquanto a LCA Consultores colocou sua projeção de queda de 1,7% em revisão.

— Uma queda de quase 4% do PIB em 2015 é assustadora. Esta é uma recessão extremamente forte, profunda e longa. Teremos no mínimo onze trimestres de recessão, que foi o mesmo período da recessão de 1989 a 1992. E ainda não há nada claro sobre uma possível saída dessa recessão — diz Silvia Matos.

Ela estima que, entre o segundo trimestre de 2014 e o último de 2016, a perda da economia vai chegar a 8,1%. Entre o terceiro trimestre de 1989 e o primeiro trimestre de 1992, o PIB acumulou queda de 7,7%. Se a projeção for confirmada, será a pior crise do país desde a moratória da dívida, em 1982, quando a economia encolheu 8,5% em três anos.

Economista-chefe da LCA Consultores, Braulio Borges não acredita num cenário de depressão, mas admite que a recessão atual já ultrapassou o que chama de recessão típica no país, com duração média de quatro trimestres. Mais otimista que outros analistas, ele afirma que o terceiro trimestre parece ter sido o fundo do poço.

— A chance de o PIB parar de cair no quarto trimestre é grande. Acho que o resultado pode ficar entre zero e 0,5% de alta, já que os indicadores de confiança dos últimos meses já mostram uma certa estagnação, ou seja, pararam de piorar.

Mas há quem acredite que o cenário pode se agravar. Paulo Gomes, economista da Azimut Brasil Wealth Management, diz que a queda do PIB pode piorar a perspectiva do grau de investimento do país, que já foi reduzido por uma agência este ano.

— Quando as agências analisam a capacidade de o país ter mais ou menos solvência, elas olham a dívida/PIB e o resultado fiscal. Quanto menor o PIB, maior esse déficit — avalia.

Indefinição política derruba investimento

• Queda de 15% é a maior desde 1996. Lava-Jato influencia

Cássia Ameida, Daiane Costa, Lucas Moretzsohn Lucianne Carneiro - O Globo

Uma das principais contribuições para a queda de 4,5% do Produto Interno Bruto, pelo lado da despesa no terceiro trimestre deste ano, foi a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), indicador do nível de investimento no país. A taxa despencou 15% entre julho e setembro, frente a igual período do ano anterior. Foi a maior retração da série histórica iniciada em 1996. O recuo é explicado pelo desempenho negativo das importações, da produção de bens de capital e da construção civil. Na comparação com o segundo trimestre, os investimentos caíram 4,0%, pela nona vez consecutiva.

A queda acentuada indica que os níveis de confiança dos empresários no país estão baixos e que há pouco incentivo para aplicação de capital. Para Paulo Gomes, economista da Azimut Brasil Wealth Management, quase todos os fatores estão inibindo os investimentos no país: inflação alta, taxa de juros elevada e crédito escasso. Ele afirma que os investidores estão em compasso de espera, porque não veem crescimento da demanda. Além disso, ele afirma que há uma indefinição tanto no cenário macroeconômico, como o ciclo de aumento de juros de acordo com a demanda, quanto político.

— Quando você tem esse cenário nebuloso, você prefere não arriscar. Você tem que ir freando para não correr riscos. O investimento é como se fosse uma prévia do PIB de amanhã. Se não investimos hoje, não vamos ter PIB amanhã. Então, está diminuindo a capacidade produtiva brasileira. É preocupante — afirma. — É preciso uma política fiscal mais previsível, que traga mais estabilidade das contas públicas e que gere uma demanda de investimentos.

Menos crescimento
De acordo com Alberto Ramos, do banco Goldman Sachs, a contração do investimento “mina os alicerces do crescimento". Com isso, ele sustenta que a retomada pode ser muito lenta e débil.

— O que é extraordinário é que o setor privado está fazendo um ajuste brutal, e o gasto público cresceu nos dois últimos trimestres. O ajuste fiscal não está se materializando. O pouco que foi feito até hoje foi de péssima qualidade. É um arrocho no investimento público e um aumento na carga tributária. É um corte no investimento, e não no gasto corrente — ressalta.

A taxa de investimento no terceiro trimestre de 2015 foi de 18,1% do PIB, inferior à do mesmo período de 2014 (20,2%) e a menor para um terceiro trimestre desde 2007, quando foi de 18,8%. Na comparação com o trimestre anterior, o investimento já cai há nove trimestres seguidos.

Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, explica que o cenário no país é afetado pela operação Lava-Jato, tendo em vista que há uma piora para investimentos produtivos, já que as maiores empreiteiras estão ligadas ao escândalo de corrupção. De acordo com Gomes, hoje, só não entra mais capital externo ao Brasil, dado que a situação cambial é vantajosa para investidores estrangeiros, porque o Brasil já perdeu o grau de investimento em uma das agências de classificação de risco, a Standard & Poor’s. Isso, diz o especialista, acaba por criar um ambiente de mais incertezas para os investidores e, assim, dificultar a atração de mais recursos para o país.

Mercado prevê queda de até 3,5% em 2016

• Incerteza sobre economia dificulta tomada de decisões

Lucianne Carneiro, Cássia Almeida, Daiane Costa Lucas Moretzsohn - O Globo

Após a estagnação de 2014, e um ano de 2015 que é considerado perdido, o cenário para a economia brasileira em 2016 já prevê um novo tombo de até 3,5%, como é o caso da projeção do Banco Fator. Mais do que apenas a estimativa de uma nova recessão, a incerteza que ronda o próximo ano provoca uma dispersão entre as projeções de economistas. Há quem ainda espere um recuo de 1,9%, como é o caso da MB Associados.

Segundo analistas, a dispersão de projeções é preocupante porque dificulta a tomada de decisões pelas empresas, retardando a volta dos investimentos.

— É uma situação inédita da economia, e assim as opiniões divergem por bastante tempo — explica José Francisco Gonçalves, professor da USP e economista-chefe do Banco Fator.

Avaliação sobre confiança
Caso sejam confirmadas as projeções do mercado, o ano de 2016 será o terceiro ano sem crescimento no país. Em 2014, a variação foi de apenas 0,1%, o que é caracterizado como estagnação. Em 2015, as estimativas já são de uma retração de até 3,8%, como é o caso do Banco Fibra. No resultado acumulado até setembro, o recuo foi de 3,2%. Se para 2016 já há tantas opiniões diferentes, mais difícil ainda é encontrar quem se arrisque a fazer uma projeção para 2017. Em geral, a expectativa é de estabilidade.

Para o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges, o principal fator que explica a diferença entre as projeções é a avaliação sobre a confiança de consumidores e de empresários na economia. Segundo seu cálculo, a manutenção da confiança no atual nível poderia levar a uma queda do PIB entre 2,3% e 3,3% em 2016. Mas seria até possível a economia voltar a crescer caso houvesse uma recuperação da confiança:

— Uma mudança não muito grande no nível de confiança pode fazer a diferença entre uma variação positiva ou negativa da economia em 2016.

Desempenho brasileiro só não foi pior do que o da Ucrânia

• Num ranking de 42 países, PIB nacional ocupou a penúltima posição no 3º trimestre

Ronaldo D’Ercole - O Globo

-SÃO PAULO- A forte queda do Produto Interno Bruto (PIB), de 4,5%, no terceiro trimestre em relação a igual período de 2014, manteve o Brasil na rabeira de um ranking de 42 países elaborado pela consultoria Austin Rating. Na 41ª posição da lista, a economia brasileira só não teve desempenho pior que o da Ucrânia, cuja guerra civil fez o seu PIB encolher 7% no trimestre passado. Até a Rússia, que além de crise econômica enfrenta embargos comerciais de países da Europa central e dos Estados Unidos, passou o Brasil. Com queda de 4,1% do PIB, ficou em 40º lugar.

— Nos resultados do acumulado do ano até o terceiro trimestre, o principal destaque negativo, mais uma vez, ficou por conta dos investimentos, que caíram 12,7%, refletindo o ambiente político extremamente conturbado e que afeta diretamente a contínua perda de confiança na economia — observa Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating e responsável pela elaboração do ranking, citando ainda o fato de que o consumo das famílias, que representa quase dois terços do PIB e que foi o pilar do crescimento recente do país, já cai 3,0% este ano.

Com exceção da Rússia, o Brasil se distanciou bastante de seus parceiros no chamado Brics. A Índia ocupa no topo do ranking dos países que mais crescem, com alta de 7,4% no PIB do trimestre passado, à frente da China, que, mesmo em meio à desaceleração doméstica, está em segundo, com 6,9%. Entre os latino-americanos, o Peru ficou na 12ª posição, com expansão de 2,9%. O México é o 14º, com 2,6%, e o Chile, com avanço de 2,2% no PIB, é o 22º.

Governo se cala e oposição culpa Dilma

• Em nota, Fazenda atribui resultado a desaquecimento da economia global

Martha Beck, Isabel Braga- O Globo

-BRASÍLIA- Nenhum integrante do governo quis comentar a queda do PIB no terceiro trimestre. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, cumpriu agenda em seu gabinete, em Brasília, mas não falou com a imprensa. Em nota, divulgada às 16h55m, o Ministério da Fazenda informou que o resultado ficou abaixo do esperado pela Secretaria de Política Econômica (SPE), que trabalhava com retração de 1,1% ante o segundo trimestre (o IBGE apontou queda de 1,7% nessa comparação).

Reservadamente, integrantes da equipe econômica admitiram que não se surpreenderam com o resultado. A oposição, por outro lado, fez duras críticas, atribuindo ao governo a responsabilidade pela retração da economia.

Para o líder do DEM, Mendonça Filho (PE), a queda no PIB no terceiro trimestre revela o quadro de ingovernabilidade.

— Infelizmente quem sente os efeitos da recessão são os brasileiros, que não têm emprego, enfrentam a inflação, perdem renda e não vislumbram perspectiva de melhora. Nada salva.

No Twitter, o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO), criticou a condução da economia pelo governo Dilma Rousseff e disse que “acabou qualquer tipo de alívio nos setores produtivos".

Para o líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), os dados negativos só aumentam a pressão pela saída da presidente Dilma do poder:

— O PIB está despencando 4,5% (frente ao terceiro trimestre de 2014). Os dados só mostram que a crise vai aumentar e a solução é uma só: impeachment, afastamento da presidente.

Bens de capital, preocupação
Na equipe econômica, um fator de preocupação foi o fato de os setores de bens de capital, automotivo e eletroeletrônico estarem entre as maiores quedas observadas no período. Isso porque o governo vem sofrendo pressões do setor siderúrgico para elevar as alíquotas do imposto de importação do aço, o que vai afetar ainda mais os custos de quem depende dessa matéria-prima.

Na nota, o Ministério da Fazenda atribui o fraco desempenho da atividade “a incertezas econômicas e não econômicas” que derrubaram a confiança das empresas e dos trabalhadores. E diz ainda que o país passa por um processo de reequilíbrio decorrente da queda dos preços de commodities e do desaquecimento da economia mundial.

A equipe de Levy destacou ainda que o ajuste fiscal, que reduziu os gastos do governo, especialmente com investimentos, não é o responsável pelo encolhimento do PIB. E atribuiu a queda de 4% nos investimentos ao impacto da operação Lava-Jato nas operações da Petrobras.

Crise não está nem na metade e desemprego pode ir a 12% em 2016, diz ex-diretor do BC

• Segundo Mário Mesquita, o Banco Central pode ter de subir os juros, mesmo com a recessão da economia

Ricardo Leopoldo - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O ex-diretor do Banco Central e atual sócio do banco Brasil Plural, Mário Mesquita, afirmou que a "crise econômica não está nem na metade", pois o PIB deverá continuar em queda no próximo ano. "O desemprego pode chegar a 12% em 2016", comentou.

"Com a crise, situação social vai piorar e terá impactos políticos", comentou Mesquita. E a realidade da economia torna muito difícil o trabalho do Banco Central, destacou. "Se eu tivesse no BC hoje, pediria renúncia imediata. O BC pode ter que subir juros, mesmo com recessão", disse.

Nesta terça-feira, o IBGE divulgou o PIB do terceiro trimestre, mostrando uma queda de 1,7%, a maior para o período desde 1996. O resultado é o segundo pior entre 42 economias, segundo um levantamento da Austin Rating. Para o Godman Sachs, o País foi da recessão à depressão, tendo um cenário "sombrio" pela frente.

Para governo federal, recessão traz risco de 'ruptura' no próximo ano

Valdo Cruz, Isabel Versiani – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A equipe de Dilma Rousseff considera que, para o país sair da recessão que seaprofundou no terceiro trimestre, será preciso resolver a crise política. Caso contrário, a economia vai "afundar" e o governo corre o risco de enfrentar um processo de "ruptura" no primeiro semestre de 2016.

Segundo assessores presidenciais, o tombo do PIB mostra que o governo precisa virar rapidamente a página do ajuste fiscal para recuperar a confiança de Em paralelo, a presidente encomendou à sua equipe um conjunto de medidas focadas na agenda de retomada do crescimento para ser divulgado até o início de 2016. Os ministros Nelson Barbosa (Planejamento) e Joaquim Levy (Fazenda) já discutem essas ações com o setor privado.

Para superar a crise política, o Planalto definiu que precisa encontrar uma fórmula de superar a instabilidade na base aliada. Uma iniciativa será buscar reaproximar o vice Michel Temer da equipe de articulação política.

Ontem, ele já foi convidado por Dilma para participar da reunião que discutiu a votação da mudança da meta fiscal deste ano.

A prioridade é aprovar a mudança da meta fiscal, a renovação da DRU (mecanismo que desvincula receitas da União) e projetos como o da regularização de dinheiro ilegal no exterior, além de encaminhar a votação da CPMF.

Para assessores presidenciais, se o governo não conseguir aprovar as medidas do ajuste fiscal e garantir Orçamento com superavit em 2016, haverá risco de a recessão no ano que vem ser tão forte quanto a de 2015, aumentando as pressões pelo impeachment.

Em nota, o Ministério da Fazenda afirmou que o desempenho do PIB veio pior do que o esperado e indica que o período de ajuste da economia se prolongou, em meio à persistência de incertezas econômicas e não econômicas, da queda dos preços das commodities e da fraca atividade econômica mundial.

A Fazenda destacou que contribuíram para a queda de 4% nos investimentos "os efeitos diretos e indiretos da redução dos investimentos da Petrobras".

A queda de 1,5% no consumo das famílias, afirma, reflete a perda do poder de compra devido à persistência da inflação.

Recessão se agrava e queda do PIB já se aproxima de 4%

- Valor Econômico

SÃO PAULO e RIO - O recuo de 1,7% da atividade econômica no terceiro trimestre em relação ao período imediatamente anterior foi pior do que se esperava - a média das projeções coletadas pelo Valor Data era -1,3%. Essa surpresa negativa provocou uma série de revisões nas previsões para o Produto Interno Bruto (PIB). Para este ano, já se estima uma recessão próxima de 4%. Para 2016, se o ritmo de produção atual for mantido, sem novas quedas, só a herança estatística, ou seja, o efeito dos dados apurados sobre os próximos trimestres, já significaria um encolhimento entre 1,5% e 2%.

As principais surpresas negativas dos dados divulgados ontem pelo IBGE foram os serviços e o consumo das famílias, que tiveram queda de 1% e 1,5%, respectivamente. Os dois componentes, ligados à dinâmica da renda e do mercado de trabalho, ainda vinham resistindo à perda de tração da economia.

Foi o terceiro trimestre consecutivo de queda do PIB - o que não ocorria desde 1996. Na comparação com o mesmo trimestre de 2014, a retração é de 4,5%. Os investimentos diminuíram 4% em relação ao trimestre anterior, numa série inédita de nove quedas seguidas. No acumulado de 2015, o recuo já é de 12,7% e, em quatro trimestres, de 11,2%. A indústria, com queda de 1,3% no trimestre, não dá sinais de estabilização. O pior desempenho, porém, veio do setor agropecuário, que registrou queda de 2,4%.

Para o economista do Goldman Sachs, Alberto Ramos, o que era uma "recessão profunda", resultante de ajustes necessários, tem se transformado em "depressão econômica", provocada pela contração expressiva da demanda doméstica.

Armando Castelar Pinheiro, do Ibre-FGV é menos dramático. Diz que a paralisia decorre em grande parte da política e que as expectativas podem ser revertidas rapidamente caso governo e Congresso mudem de postura. "Não está escrito em lugar nenhum que necessariamente continuaremos com esse desempenho negativo"

Recessão caminha para ser a maior e mais longa da história

Por Denise Neumann - Valor Econômico

SÃO PAULO - Nas contas do Comitê de datação de Ciclos Econômicos (Codace), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), o Brasil entrou em recessão no segundo trimestre do ano passado. A atual recessão, por essa metodologia, já dura seis trimestres. Ainda não é a mais longa da história, mas caminha para ser a mais duradoura e a pior delas.

O Codace mapeou os ciclos de negócios (expansão e recessão) desde o início dos anos 80 e encontrou oito períodos de retração da atividade. O pior deles foi no começo dos anos 80. Do primeiro trimestre de 1981 até o primeiro trimestre de 1983, a economia brasileira encolheu 8,5% ao longo de nove trimestres.

A recessão mais longa mapeada pelo Codace durou 11 trimestres e foi do terceiro trimestre de 1989 até o primeiro trimestre de 1992. No meio dele, esteve a pior contração do Produto Interno Bruto (PIB) de um único ano, a queda de 4,25% em 1990, no confisco do primeiro ano do governo do então presidente Fernando Collor de Mello, contra quem posteriormente foi aberto um processo de impeachment. Ao longo daqueles 11 trimestres, entre o pico anterior e o vale, que representa o começo da recuperação econômica, o PIB recuou 7,7%.

Nas oito recessões identificadas pelo Codace, a mais recente é a do estouro da crise internacional em 2008. Foi uma recessão curta. Entre o pico (terceiro trimestre daquele ano) e o vale (primeiro trimestre de 2009) foram dois trimestres. A queda, contudo, foi forte: 6,2%.

A recessão atual já dura - pela metodologia do Codace - seis trimestres, ao longo dos quais a economia já se contraiu 5,8%, considerando o pico (primeiro trimestre de 2014) e o terceiro trimestre deste ano. A questão é que este trimestre não parece nem um pouco com o vale do atual período recessivo. A crise atual é reforçada pela crise política, mas ela é fruto do esgotamento de um modelo que abusou da âncora do consumo das famílias. Além do componente da demanda (afetada por falta de crédito, aumento do desemprego e queda da renda) ela traz um forte recuo do investimento e a ausência de confiança tanto dos consumidores como dos empresários dos mais diversos setores. Esses dois componentes, juntos, reduzem ainda mais a perspectiva de uma recuperação da economia.

Merval Pereira: O dilema do PT

- O Globo

Afinal, o PT quer salvar Eduardo Cunha para salvar a presidente Dilma, ou quer cassar o presidente da Câmara para tentar salvar a reputação do partido, se é que isso ainda é possível? O que importa mais para o PT, salvar Dilma ou a possibilidade de Lula chegar vivo politicamente em 2018?

O ministro da Justiça, certamente atendendo a uma orientação de Dilma, declarou que o governo não está fazendo pressão contra Eduardo Cunha, que continua certo de que todas as denúncias que surgem contra ele têm como fonte o Palácio do Planalto.

Mas o presidente do PT, Rui Falcão, fez um apelo público aos três representantes do partido no Conselho de Ética para que votem pela admissibilidade da denúncia que, se acontecer, significará que o presidente da Câmara não tem mais força para controlar o Conselho.

Dos nove votos previstos, ele já recebeu sete contra, e não é possível hoje dizer se os três petistas farão a balança pender contra Cunha, ou se o salvarão, e nem mesmo se haverá algum voto inesperado contra ele.

Esta noite brasiliense será certamente das mais quentes, muito além do calor de verão que fez o presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo, reclamar do ar condicionado da sala.

As tentativas de retardar a decisão, ou mesmo de aprovar uma punição mais branda a Eduardo Cunha antes mesmo de começar o processo, aconteceram como o previsto.

O tempo que perderam discutindo quem chegou primeiro à reunião, quem furou a fila de presença, foi fundamental para que a votação não acontecesse ontem mesmo. O deputado Manoel Junior, do PMDB, suplente no Conselho, jogou como um titular do time de Cunha.

Fez diversos questionamentos sobre o regimento, confundindo o já confuso presidente do Conselho, apenas para ganhar tempo, nenhuma questão era fundamental ou realmente necessária.

O deputado Wellington Roberto (PR-PB), que apoia o presidente da Câmara, apresentou um voto em separado em que, ao mesmo tempo considera que não há motivos para processar o presidente da Câmara, e pede uma censura pública a ele.

O que parece uma contradição em termos tem sua lógica. Se o Conselho considerar que não há motivo para processar Eduardo Cunha, pode haver um recurso ao plenário para rever a decisão. E tudo indica que hoje Cunha já não tem maioria para se livrar do processo.

Mas, se o Conselho decidir puni-lo de alguma maneira, encerra-se lá mesmo a discussão. O deputado Wellington Roberto quer uma punição porque, ao negar durante depoimento na CPI da Petrobras que possuía contas no exterior, Cunha não teria mentido, mas faltado com “a responsabilidade do cuidado nas suas declarações, exigindo o compromisso com a sua exatidão maior do que a demandada dos demais 512 deputados”.

Eis, senhores, um deputado rigoroso, ético, que mesmo sendo reconhecidamente um aliado de Cunha, quer puni-lo para que pense melhor antes de falar. Enfim, a reunião do Conselho de Ética foi dominada pela pantomima costumeira na Câmara, e até mesmo o deputado Chico Alencar quase foi usado para atrasar mais ainda a decisão final sobre Cunha.

Como também o deputado do PSOL está sendo acusado de falta de decoro no Conselho de Ética pelo ético deputado Paulinho da Força, uma manobra de Cunha e aliados contra o PSOL, que liderou o processo contra o presidente da Câmara, o presidente do Conselho José Carlos Araújo chegou a colocar na pauta da reunião de hoje o caso de Alencar antes do de Cunha, alegando que o deputado do PSOL certamente gostaria que seu caso fosse logo julgado.

Mas Chico Alencar disse que considerava mais lógico continuar analisando o caso de Cunha para depois entrar o seu na pauta.

Hoje, preveem-se mais manobras regimentais antes que a votação prossiga, mas, se nada acontecer na noite de Brasília, é provável que a questão seja resolvida hoje. Uma coisa é certa: os três petistas que compõem o Conselho de Ética não terão uma noite tranquila. O PT quer salvar Eduardo Cunha para salvar a presidente Dilma, ou quer cassar o presidente da Câmara para tentar salvar a reputação do partido? Não é possível dizer se os 3 petistas farão a balança pender contra Cunha Uma coisa é certa: os petistas do Conselho não terão uma noite tranquila