terça-feira, 22 de maio de 2012

OPINIÃO DO DIA - Vera Magalhães: Jogada arriscada

Tragada pelo Cachoeiragate e sob risco de perder seus contratos do PAC, a construtora Delta tentará hoje uma cartada para contestar o processo para declará-la inidônea, ou seja, proibida de ter negócios com o poder público. Na defesa, a empreiteira dirá que a Controladoria Geral da União não segue o princípio da equidade. Usará como exemplo a Operação Mão Dupla, que identificou fraudes em obras do Dnit feitas pela Delta e por outras 11 empreiteiras, além do suposto esquema de liberação de R$ 3 bilhões do FGTS a construtoras. Mas só a Delta está sob ameaça. "A CGU escolhe quem processar"", diz um interlocutor da empresa.

É guerra Com base nessa linha de defesa, a Delta estuda entrar com uma medida cautelar no Superior Tribunal de Justiça para contestar o método de investigação do órgão ligado à Presidência.

Vera Magalhães, Folha de S. Paulo / Painel, 22/5/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Governo tenta de novo conter queda do PIB pelo consumo
Projeção de um crescimento menor
Ministro do STF manda Cachoeira depor hoje
Plano terá de informar se desligar médicos
Venda ilegal de remédios cresce na rede

FOLHA DE S. PAULO
Governo reduz impostos para estimular consumo
Presidente da CPI emprega funcionária-fantasma
Teudências/Debates: Nós, ex-ministros, pedimos o veto de Dilma ao código

O ESTADO DE S. PAULO
Como em 2008, governo corta IPI de carros e amplia crédito
Base aliada fecha acordo para blindar a Delta na CPI
Crime sexual é o 2º entre crianças
Irã pune diplomata que molestou meninas

VALOR ECONÔMICO
Governo corta IOF e reduz a zero juro real de máquinas
MP 556 traz um festival de isenções
Exportação tem queda de preços e volumes
Protecionismo atinge até as batatas fritas

CORREIO BRAZILIENSE
Carro fica até 10% mais barato a partir de hoje
Irã demite o diplomata pego em clube
Ministra elogia coragem de Xuxa contra pedofilia
Cachoeira perde no STF e encara CPI
Privilégio: 14° e 15° mais perto do fim
Supremo estuda sessões extras para o mensalão

ESTADO DE MINAS
Carro novo ficará 10% mais barato
STF nega recurso e bicheiro tem de comparecer hoje à CPI

ZERO HORA (RS)
Pacote torna venda a crédito mais barata e reduz preço do carro
Cachoeira depõe hoje, mas pode ficar calado

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Pacote estimula a compra de veículos
Operadora terá que avisar saídas do plano
PT nacional decide sobre prévia na quinta

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Como em 2008, governo corta IPI de carros e amplia crédito

Diante do desempenho fraco da economia, o governo anunciou um pacote de R$ 2,7 bilhões para estimular o consumo. Assim como fez na crise de 2008, o Planalto cortou impostos e ampliou o crédito. Segundo o ministro Guido Mantega (Fazenda), as medidas são resultado de compromisso "inédito" com a indústria e os bancos. O governo zerou o IPI dos carros 1.0, e o preço final deve cair cerca de 10%. Para os modelos com motor entre 1.0 e 2.0, a expectativa é que o preço caia 7%. Também foi fechado acordo com os bancos para que eles reduzam a entrada e os juros, além de alongar os prazos. Em troca, serão liberados recursos que hoje as instituições têm de manter depositados no Banco Central. O governo decidiu, ainda, cortar de 2,5% para 1,5% a alíquota do IOF sobre empréstimos para pessoas físicas. Mesmo com esse impulso adicional, Mantega avaliou que será difícil crescer 4,5% este ano

Governo zera IPI de carro 1.0 e baixa custo de empréstimos para reativar economia

Lu Aiko Otta

BRASÍLIA - Diante do desempenho fraco da economia, o governo anunciou ontem um pacote de R$ 2,7 bilhões para estimular o consumo, principalmente o de automóveis, e a aquisição de máquinas e equipamentos. Como fez na crise de 2008 e 2009, o Planalto cortou impostos, liberou mais dinheiro para empréstimos e reduziu juros. Ainda assim, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que será difícil crescer 4,5% este ano. As medidas foram costuradas com os setores produtivo e financeiro, num compromisso "inédito", segundo Mantega. Para reduzir o estoque das montadoras, o governo zerou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos automóveis de até 1.000 ci- lindradas e arrancou das montadoras um compromisso de reduzir a tabela em 2,5%. Com isso, o preço final dos populares deve cair cerca de 10%. Para os modelos com motor de mil a 2 mil cilindradas, a expectativa é que o preço final sofra redução de 7%. "Isso atende à demanda do setor", disse o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Cledorvino Belini. "Os estoques estão altos e é preciso fazer girar a máquina da indústria automobilística."

A redução vale até o fim de agosto e o governo estima que deixará de arrecadar R$ 1,2 bilhão no período. As montadoras se comprometeram a não demitir durante a vigência do acordo. Para os modelos importados, continua valendo a alta de 30 pontos porcentuais no IPI. Os bancos se comprometeram a reduzir a entrada e os juros, além de alongar prazos nos financiamentos. Em troca, serão liberados R$ 18 bilhões que hoje as instituições têm de manter no Banco Central e que não recebem juro, disse o diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes. Na prática, o governo redirecionou ao setor de veículos o benefício dado aos grandes bancos, que depositavam recursos em casas menores. "Eu confio na indústria automotiva e na Anfavea, e também confio nos bancos", disse Mantega, ao ser questionado sobre o compromisso.

Consumo. O pacote do governo incluiu ainda a redução da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nos empréstimos para pessoas físicas de 2,5% para 1,5%. Com isso, a arrecadação federal vai cair perto de R$ 900 milhões em um período de três meses. Porém, esse corte não tem prazo para acabar. O BNDES também vai reduzir o custo dos financiamentos de bens de capital. Mais medidas estão a caminho. Mantega pediu à Caixa a simplificação da linha de crédito que permite utilizar recursos do FGTS para a compra de material de construção. Segundo o ministro, essa linha já é oferecida hoje, mas há muitas exigências. Mantega deixou claro que outros setores poderão ser beneficiados. "Se faltar crédito, vamos liberar mais."

Colaborou Fernando Nakagawa

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Governo tenta de novo conter queda do PIB pelo consumo

Numa tentativa de segurar as projeções de queda do PIB para este ano, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem o sétimo pacote de estímulo ao crescimento da economia desde o fim de 2008, no auge da crise global. A ênfase das medidas foi no setor automotivo e significa uma renúncia de impostos de R$ 2,7 bi. O governo reduziu o IPI para compra de carros novos e baixou o IOF para operações de crédito, além de liberar R$ 18 bilhões em compulsórios para incentivar empréstimos nos bancos. Segundo a presidente Dilma Rousseff, o Brasil está "300% preparado" para enfrentar a crise. As medidas são uma resposta às previsões pessimistas para a economia. Analistas dizem acreditar que o pacote terá pouco impacto porque as famílias já estão muito endividadas

Nova ação contra crise

Governo anuncia incentivos de R$ 2,7 bi para montadoras e máquinas. BC libera R$ 18bi

Martha Beck, Gabriela Valente e Eliane Oliveira

EMPURRÃO OFICIAL

BRASÍLIA e RIO - Em meio ao agravamento da crise global, o governo fez ontem mais uma ofensiva para turbinar a economia em 2012 e lançou um pacote de R$ 2,7 bilhões em incentivos voltados sobretudo para os setores automotivo e de bens de capital. O sétimo conjunto de medidas anunciado pela equipe econômica desde 2008 inclui desonerações tributárias - redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF) - queda de juros para diversas linhas do BNDES, além da redução do compulsório para que os bancos possam aumentar a oferta de crédito na compra de veículos.

Ao anunciar as medidas - diante de uma plateia composta por integrantes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e ao lado dos ministros do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e do presidente do BNDES, Luciano Coutinho - o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ressaltou que o novo pacote é um compromisso inédito, acertado entre governo e os setores privado e financeiro para reduzir custos de bens e ampliar o consumo.

Segundo ele, os bancos - que não estavam representados no anúncio - prometeram aumentar o número de parcelas de financiamentos, reduzir o valor da entrada e também as taxas de juros nos empréstimos para a aquisição de veículos. Em contrapartida, o Banco Central (BC) liberou R$ 18 bilhões em depósitos compulsórios destinados ao financiamento de automóveis e de veículos comerciais leves, montante que, segundo o BC, representa cerca de 10% do total de crédito concedido ao segmento.

Já as montadoras se comprometeram a dar descontos sobre os preços de tabela em vigor e a não demitir funcionários. Ao ser indagado sobre o que poderia ocorrer, caso o acordo não seja cumprido, Mantega afirmou:

- A indústria nunca descumpriu um acordo. Eu confio na Anfavea e também confio nos bancos. Os banqueiros são mais discretos. Eles não vieram (ao lançamento do pacote) mas estavam conosco hoje e celebramos juntos um acordo que é bom para eles.

O professor Armando Castelar, da UFRJ, acredita que, dado os fracos números da atividade econômica, o governo acerta em propor estímulos à economia. Ele, no entanto, acredita que a repetição do modelo de corte de IPI e redução dos juros de algumas linhas do BNDES podem não surtir a eficácia esperada:

- Acredito que estamos perto da exaustão de um modelo que teve grande sucesso entre 2005 e 2010, com o incetivo ao consumo baseado no aumento do financiamento. As famílias estão muito endividadas. Este modelo pode gerar problemas futuros de inadimplência, que já está preocupante mesmo com emprego e renda e alta.

Mantega diz não ver risco de inflação

Para o setor automotivo, o governo vai reduzir o IPI até 31 de agosto. No caso dos veículos com motores de até mil cilindradas, por exemplo, a alíquota será reduzida de 37% para 30% para os carros que não se enquadram no novo regime automotivo (ou seja, que ainda não tenham 65% de conteúdo nacional). No caso dos veículos que já estão no regime, a alíquota cai de 7% para zero. Ao todo, as desonerações de IPI somam R$ 1,2 bilhão. Já as montadoras vão dar descontos que variam de 2,5% a 1%. Com isso, segundo o ministro, o preço dos carros deve ser reduzido em torno de 10%. Mantega justificou a ajuda ao setor automotivo lembrando que responde por mais de 20% do PIB industrial e é um dos que mais fazem investimentos no país.

Para o crédito em geral, o pacote prevê uma redução de 2,5% para 1,5% no IOF. Com isso, a alíquota volta ao mesmo patamar que estava em vigor no início do ano passado. A renúncia com o benefício, que não tem prazo para acabar, é de R$ 900 milhões.

No caso do BNDES, o governo reduziu as taxas de juros de programas como o Exportação Pré-Embarque (voltado para capital de giro) de 9% para 8% ao ano. Já a linha voltada para a compra de ônibus e caminhões, por exemplo, baixou de 7,7% para 5,5% ao ano. Os juros reduzidos valem até 31 de agosto de 2012 e sua equalização terá um custo de R$ 619 milhões para o Tesouro Nacional.

O ministro assegurou que as medidas anunciadas de estímulo ao consumo não vão interferir na inflação. De acordo com Mantega, o efeito será o contrário: haverá deflação por causa da redução do custo tributário e também do preço de tabela dos veículos. Ele ressaltou que a economia está crescendo a taxas moderadas e pode se expandir sem pressionar os preços.

- Não vejo nenhum perigo - afirmou o ministro.

Ele também descartou o risco de o aumento da oferta de crédito com melhores condições (menos juros e mais prazo para pagamento) elevar a inadimplência no país. Segundo Mantega, a massa salarial está crescendo em torno de 5% ao ano, o que garantiria as condições para o consumo sem risco de aumento da inadimplência:

- O Brasil tem novos trabalhadores com condições de consumir mais. Vocês vão ver. As medidas e o aumento da atividade farão com que a inadimplência caia.

Ele adiantou ainda que mais ações devem vir pela frente e que o próximo beneficiado deve ser o setor da construção civil. Segundo o ministro, a Caixa está fazendo um estudo para criar uma linha de financiamento em melhores condições para a aquisição de materiais de construção. De acordo com Mantega, a atual linha de R$ 1 bilhão com recursos do FGTS tem muitas exigências que travam a sua aplicação, como a necessidade de ter um projeto de um arquiteto para o acesso à linha.

- Procuraremos liberar esse crédito para o setor funcionar normalmente - disse Mantega. - Se faltar crédito vamos liberar mais nos setores que a gente identifique. Essa é a ordem que temos.

Colaborou: Henrique Gomes Batista

FONTE: O GLOBO

Projeção de um crescimento menor

Pesquisa Focus, do Banco Central junto ao mercado, mostra que analistas preveem crescimento de apenas 3,09% para este ano. Mas já há consultorias apostando em menos, cerca de 2,5%

Mercado reduz projeção do PIB para 3,09%. Economistas preveem 2,5%

Mantega diz que Brasil tem condições de crescer acima dos 2,7% de 2011

Martha Beck, Gabriela Valente, Lino Rodrigues e Henrique Gomes Batista

EMPURRÃO OFICIAL

BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO . Os esforços do governo para estimular o crescimento - com redução das taxas de juros e novos incentivos ao crédito e ao consumo - não serão suficientes para fazer a economia crescer acima de 4,5% em 2012, como deseja a presidente Dilma Rousseff. Tanto economistas quanto o governo descartam esse possibilidade. As projeções de crescimento continuam caindo e, cada vez mais, há apostas de avanço de apenas 2,5% neste ano, patamar inferior ao registrado no ano passado.

Ontem, ao anunciar mais um pacote de medidas para impulsionar a economia, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que será difícil atingir a meta, porque a crise internacional atingiu em cheio o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

- E se a crise piorar, será difícil alcançarmos 4,5%, mas o Brasil possui condições de continuar crescendo mais do que os 2,7% do ano passado - disse Mantega, sem descartar novas ações para compensar os efeitos das turbulências na economia europeia.

Mas mesmo essa avaliação de Mantega é considerada excessivamente otimista pelos agentes do mercado financeiro. A piora da crise já afeta o desempenho da atividade econômica no país. O índice de crescimento calculado pelo Banco Central (BC) - que funciona como uma prévia do desempenho do PIB divulgado pelo IBGE - mostra que a atividade registrou uma queda de 0,35% em março. Os números refletem o agravamento de um quadro que ocorre desde o início de 2012. Nos três primeiros meses do ano, a economia só conseguiu crescer 0,15% em relação ao último trimestre do ano passado.

Segundo a pesquisa semanal que o BC faz com economistas das principais instituições bancarias do país, divulgada ontem, a previsão de crescimento para este ano caiu de 3,2% para 3,09%. Foi a segunda queda seguida na estimativa.

Mesmo longe de alcançar o crescimento pretendido, o governo insistiu em manter a projeção original na última avaliação bimestral de receitas e despesas, divulgada na semana passada. Só que nos bastidores, os técnicos trabalham com um intervalo entre 3% e 3,5%.

Analista: economia do país patina com crise externa

Além da crise, sabe-se que as ações que vêm sendo adotadas, como a própria queda dos juros, têm um tempo de maturação até fazer efeito sobre a atividade. As medidas tomadas e reeditadas pelo governo ainda não conseguiram afetar a atividade como pretendido pela equipe econômica.

- Os pacotes não estão funcionando. Devem promover algum crescimento no segundo semestre, mas não será suficiente para fazer o país crescer mais de 3% - ressaltou o economista Carlos Eduardo Lopes, economista do banco Fibra.

Segundo o economista Francisco Pessoa, da Consultoria LCA, as novas medidas não devem ter efeito muito grande sobre as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. A LCA estima alta de 2,6% para o PIB.

- Pode funcionar no curto prazo, mas não terá o mesmo impacto que tiveram (as medidas) em 2008 e 2009. Para chegar aos 2,6%, tem de dar tudo muito certo e não é isso que estamos vendo nos dados do primerio trimestre e de abril - disse Pessoa.

O professor Armando Castelar, da UFRJ, acredita que os dados econômicos estão confirmando que a economia patina e tem dificuldades em decolar, por conta, também da piora do cenário internacional. Mesmo com as novas medidas, ele acredita que o desempenho será muito inferior à meta do governo:

- A previsão de um crescimento em torno de 2,5% é algo bem razoável neste momento - afirmou o professor.

O economista Jason Vieira, do Banco Cruzeiro do Sul, que estima uma alta de 3,4% no PIB em 2012, lembra que as medias não terão o efeito desejado se o governo não sinalizar que haverá uma pausa na redução dos juros.

- Pode dar um impulso (nas vendas), mas ninguém vai sair correndo para comprar carro se há a expectativa de novas reduções das taxas de juros - disse.

FONTE: O GLOBO

Base aliada fecha acordo para blindar a Delta na CPI

O governo está decidido a blindar, na CPI do Cachoeira, a Delta Construções, principal empreiteira de obras previstas no PAC. Um acordo foi fechado para não deixar que as investigações atinjam a construtora nacionalmente. Há temor de que a apuração da CPI acabe mostrando relação de outros políticos com a empresa

Com PT à frente, base decide blindar Delta por temer novos escândalos

Eugênia Lopes

BRASÍLIA - O governo está decidido a blindar na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira a Delta Construções, principal empreiteira de obras previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Uma reunião ontem à noite na casa do deputado Maurício Quintela (PR-AL) foi acertada para fechar o acordo entre os partidos aliados para não deixar as investigações atingirem a construtora nacionalmente.

Capitaneados pelo PT da Câmara, os governistas pretendem reforçar a estratégia na CPMI para poupar a Delta. O temor é que a apuração da CPI acabe mostrando uma relação próxima de outros políticos com a empresa.

Na semana passada, a CPI já havia evitado a convocação do empresário Fernando Cavendish, dono da Delta, e restringido as investigações apenas à seção Centro-Oeste da construtora. Cavendish é amigo do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB). Na mesma linha, os parlamentares já tinham dado sinais de que poupariam os governadores citados em investigações da PF nas operações Monte Carlo e Vegas - que mostraram os laços de Cachoeira com políticos.

A ordem entre aliados é para que as investigações sobre a Delta permaneçam restritas às filiais do Centro-Oeste - Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal.

O controle da Delta foi transferido à J&F Participações S.A, holding à qual pertence o frigorífico JBS. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) detém 31% do capital do JBS.

No jantar ontem, os governistas tentavam aprovar um script para evitar surpresas na CPI.

Na semana passada, governistas foram surpreendidos pelo PMDB, que se recusou a apoiar o PT. Os petistas tentaram aprovar a convocação do Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, e investigar o jornalista Policarpo Júnior, da revista Veja, mas não receberam o apoio de peemedebistas. "Prefiro que a relação entre nós fique azeda e manter a minha posição. Não tem acordo para atingir o Policarpo e convocar o procurador", afirmou o deputado Luiz Pitiman (PMDB-GO), que foi convidado para o jantar na casa de Quintela.

Rifados. Os governistas estão dispostos a "dar a cabeça" de governadores envolvidos com o esquema ilegal do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Por enquanto, alegam que apenas o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, tem envolvimento direto com o contraventor. Mas se as investigações atingirem governadores da base, como o petista Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, o governo não terá pena de rifá-lo. O mesmo raciocínio serve para os deputados acusados de envolvimento com o esquema de Cachoeira.

Preocupados com as notícias de blindagem, os petistas se apressaram em garantir que o jantar era apenas "uma reunião normal da base". "É apenas uma busca de um entendimento maior entre as pessoas da base", afirmou o ex-líder Cândido Vaccarezza (PT-SP), um dos mentores do encontro.

Na semana passada, Vaccarezza foi flagrado trocando mensagens com Sérgio Cabral. A assessoria do deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI, informou que o deputado não tinha conhecimento do jantar e, portanto, não participaria do encontro.

Diante da estratégia dos governistas, a oposição e a "ala independente" dos parlamentares resolveram reagir.

Ontem mesmo também pretendiam promover um encontro para traçar uma tática a fim de evitar a blindagem da Delta. "Ficou claro na última reunião da CPI que o problema é a Delta", observou o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ).

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

J&F pede mais tempo para evitar que empreiteira se torne inidônea

Grupo teve 15 dias para apresentar recurso à CGU em processo contra a Delta, mas quer prazo de 30 a 90 dias

Fabio Fabrini

BRASÍLIA - A J&F Participações, nova controladora da Delta Construções, pediu ontem mais prazo para defender a empreiteira em processo que pode declará-la inidônea e proibi-la de firmar contratos com o governo federal. O recurso foi apresentado à Controladoria-Geral da União (CGU), que instituiu comissão para apurar o envolvimento da empresa com tráfico de influência na administração pública e fraudes no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).

Inicialmente, a CGU concedeu à Delta dez dias corridos para se pronunciar, a partir da notificação, em 7 de maio. Na semana passada, a construtora solicitou prorrogação por mais 15 dias. O órgão autorizou apenas cinco, que se encerram hoje.

No novo pedido, a J&F alega que precisará de mais tempo, pois acaba de assumir o controle da empreiteira. E reclama igualdade no tratamento, argumentando que, de forma geral, empresas que apresentam recursos obtêm de 30 a 90 dias.

Um dos efeitos da extensão de prazo seria descolar a apuração da CGU da agenda da CPI do Cachoeira, em curso no Congresso Nacional, sob intensa cobertura da imprensa. O temor é que o noticiário influencie o processo.

A aplicação de uma eventual sanção à empresa é tarefa do ministro-chefe da controladoria, Jorge Hage, com base em relatório da comissão instituída para tocar a investigação. Por lei, não há prazo para a conclusão dos trabalhos, mas Hage cobrou celeridade e quer uma definição no fim de junho.

Investigação. A CGU abriu o processo em 24 de abril, a partir da divulgação de denúncias de participação da Delta no esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira, apurados na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. Um ex-diretor da construtora, Cláudio Abreu, está preso por suspeita de participar de esquema de corrupção no Distrito Federal, e outro, Heraldo Puccini, está foragido.

A CGU também se baseia em informações da Operação Mão Dupla, da Polícia Federal, que apontam o pagamento de propina e outras vantagens pela Delta a servidores do Dnit no Ceará. A denúncia contra funcionários da autarquia e da empreiteira foi enviada à Justiça no mês passado.

Se for declarada inidônea, a Delta ficará proibida de contratar com o governo federal por cinco anos. Parte dos contratos já em vigor pode ser rescindida, a depender da avaliação do gestor público. A empreiteira é a principal executora das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) bancadas com recursos do Orçamento.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Mensalão foi tentativa de golpe de oposição e imprensa, diz Lula

SÃO PAULO - Às vésperas do julgamento do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-presidente voltou ontem a descrever o escândalo como uma tentativa de golpe ao receber homenagem da Câmara Municipal de São Paulo,

"O PT era mais atacado do que hoje por grande parte dos políticos da oposição e por uma parte da imprensa brasileira. Na verdade, era um momento em que tentaram dar um golpe neste país."

Lula disse ter se comparado na época a ex-presidentes que não completaram seus mandatos. "Não vou me matar como Getúlio [Vargas] e não vou fugir obrigado como o João Goulart. Só tem um jeito de eles me pegarem aqui: é eles enfrentarem o povo nas ruas deste país", afirmou.

O ex-presidente disse que a oposição se intimidou depois que ele recebeu apoio de movimentos populares.

"Aquilo foi a coisa que mais deixou eles com medo de continuar na luta pelo impeachment", afirmou.

Lula agradeceu o apoio na crise do vereador Agnaldo Timóteo (PR), a quem convidou a se filiar ao PT. Timóteo cantou música e vestiu um sobretudo vermelho para homenageá-lo.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Supremo faz reunião sobre mensalão hoje

Ministros do STF vão discutir os dias, horários e a metodologia do processo, afirma Luiz Fux

Cássio Bruno

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux afirmou ontem, no Rio, que a Corte se reunirá hoje para debater a metodologia do julgamento do mensalão, previsto para ocorrer em agosto. Com mais de 50 mil páginas, o processo envolve 38 réus. Segundo Fux, "a disposição do Supremo é integral" no caso.

- A reunião vai definir o horário do julgamento, a metodologia. Temos turmas e plenário. Discutiremos os dias em que vamos fazer o plenário para julgarmos o mensalão, sem prejuízo das turmas que julgam os habeas corpus - disse Fux no intervalo do lançamento de seu livro "Jurisdição constitucional - Democracia e direitos fundamentais" (editora Fórum), na sede do Tribunal de Justiça do Rio.

Na última sexta-feira, durante o 3 Congresso Brasileiro de Direito Eleitoral, em Curitiba, o ministro Ricardo Lewandowski, revisor do caso, comentou o andamento do processo e disse que tem trabalhado em ritmo acelerado para garantir o julgamento ainda este ano. Para tentar concluir o trabalho, Lewandowski tem andado com um HD externo para todo lado e também costuma levar consigo um pen drive com informações criptografadas do mensalão.

Para Fux, o julgamento do mensalão não influenciará na campanha eleitoral, que começa em 6 de julho. Antes do lançamento do livro, Fux falou sobre o pedido de vista do processo de reajuste dos salários dos desembargadores do Rio. A Procuradoria Geral da República considerou a ampliação inconstitucional. O processo está no STF, sem prazo para ser julgado.

- O meu pedido de vista foi motivado especialmente pelo fato de que aquele diploma legal havia sido chancelado pelo Conselho Nacional de Justiça, que é muito cioso em repudiar benefícios que não devem ser concedidos. Pedi vista por esta razão e, obviamente, vou apresentar meu voto num prazo razoável, obedecendo as diferenças legais da pauta do Supremo -- afirmou Fux.

O livro do ministro é um resumo de casos julgados pela Corte neste ano, como a aprovação da Lei da Ficha Limpa, o reconhecimento da união civil homoafetiva e a constitucionalidade da Marcha da Maconha. A obra é coordenada pelo ministro e tem a participação de outros sete autores.

FONTE: O GLOBO

UFF adere à greve que já paralisa 42 universidades federais do país

Professores da UFRJ decidem hoje à tarde se ingressam no movimento

Sérgio Ramalho

Professores da Universidade Federal Fluminense (UFF) entram em greve hoje de manhã. A decisão de aderir ao movimento que já paralisou as atividades em 42, o correspondente a 74%, das 59 universidades federais do país, foi tomada em reunião na semana passada, mas anunciada apenas ontem. A UFF conta com 86 cursos de graduação presencial em unidades instaladas em nove municípios do estado, onde estudam cerca de 32,7 mil alunos.

No dia em que a UFF paralisa suas atividades, professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) promovem assembleia para definir se irão integrar o movimento. A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e a Unirio já estão em greve desde sexta-feira passada.

A paralisação foi iniciada na última quinta-feira, com a adesão de professores de 29 instituições federais de ensino - 27 universidades e dois institutos -, segundo a Associação Nacional dos Docentes do Ensino Superior (Andes). A categoria pleiteia carreira única, com 13 níveis de remuneração e variação de 5% entre estes níveis, incorporação das gratificações e percentuais de acréscimo relativos à titulação e ao regime de trabalho.

De acordo com Aloísio Porto, do Comando de Greve da Andes, com o atual plano o professor precisa atuar por quase 30 anos para alcançar o topo da carreira. A insatisfação da categoria, segundo o sindicalista, explica a adesão ao movimento, que levou ontem à paralisação das atividades na Universidade de Brasília (UnB), da Federal de Juiz de Fora (UFJF) e da Federal do Pampa (Unipampa).

O Ministério da Educação informou, em nota, que uma medida provisória, publicada no Diário Oficial no último dia 14, assegurou o reajuste à categoria de 4% retroativo ao mês de março, além das gratificações específicas do magistério superior e de atividade docente do ensino básico, técnico e tecnológico. Com relação ao plano de carreira dos professores e dos funcionários das universidades federais, ainda segundo a assessoria de imprensa, a negociação prevê sua aplicação somente a partir de 2013.

FONTE: O GLOBO

'Não basta o novo na cidade', diz Marta em cerimônia com Lula e Haddad

Pré-candidato minimiza discurso e diz que senadora fará campanha em SP

Gustavo Uribe, Michel Filho

SÃO PAULO -  Em mais uma demonstração de insatisfação com a condução da campanha eleitoral do PT em São Paulo, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) deu ontem um recado público ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entusiasta da candidatura de Fernando Haddad à sucessão da capital paulista. Em discurso, em cerimônia de homenagem a Lula, a ex-prefeita de São Paulo afirmou que "não basta o novo" na disputa municipal, mas há necessidade de "um programa novo" para a capital paulista. O recado da senadora causou desconforto entre os petistas, que avaliaram o tom do discurso como uma alfinetada ao pré-candidato do PT, novato em disputas eleitorais e presente ao evento.

O PT tem adotado o discurso da renovação como slogan político, em uma tentativa de se opor à candidatura de José Serra, que já foi prefeito de São Paulo. O ex-presidente foi homenageado com o Título de Cidadão Paulistano, a Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, na Câmara Municipal de São Paulo, e que reuniu Marta, Haddad, dirigentes petistas e mais de 1.300 militantes.

- Temos grandes desafios na campanha eleitoral de São Paulo, uma grande campanha com forças de oposição em São Paulo. Essas forças são muito claras, onde houve oito anos de exclusão. Agora estamos nesse embate, embate difícil, onde a disputa será voto por voto. Não basta o novo na cidade, temos de ter programa novo, porque São Paulo não é qualquer cidade - afirmou a senadora petista.

As lideranças petistas têm trabalhado para uma atuação maior de Marta na campanha. Na homenagem, Lula a chamou de "a melhor prefeita de São Paulo".

Após a solenidade, Haddad argumentou que está há quase três meses elaborando um programa de governo e afirmou que Marta participará da campanha eleitoral quando tiver início, em julho:

- Está sempre convidada a tudo, participa quando o tempo dela permitir. São Paulo é um ambiente de disputa permanente.

O evento foi o 1 ato público com a militância no qual o Lula participou ao lado de Haddad.

FONTE: O GLOBO

Prévia em Recife racha PT e decisão vai à cúpula

Angela Lacerda

RECIFE - Em vez de pacificar o partido, a prévia do PT para definir o candidato à Prefeitura do Recife (PE) - cujo resultado está sub judice - agravou ainda mais as divergências internas. A avaliação vem sendo feita nos bastidores pelos partidos que compõem a Frente Popular, liderada pelo PSB do governador Eduardo Campos. O cenário mais provável que se desenha neste momento é que o PT, que comanda a administração da cidade há 12 anos, poderá enfrentar, no primeiro turno, candidaturas alternativas da base aliada.

A tese de lançamento de nomes alternativos vem sendo defendida pelo líder do PTB no Estado, senador Armando Monteiro, com apoio do PSC, PP, PV e PDT, e, embora Campos tente aguardar por uma solução petista, ao menos dois nomes são considerados caso o PSB decida lançar candidato: o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, que transferiu o título para Recife em 2011, e o secretário estadual das Cidades, Danilo Cabral.

Com forte rejeição popular e criticado por não unir o partido, o prefeito João da Costa teve 7.503 votos na prévia realizada no domingo, 553 a mais que o adversário, o secretário estadual de Governo, Maurício Rands, da tendência Construindo um Novo Brasil (CNB), apoiado pelo senador Humberto Costa, pelo deputado federal João Paulo, e, mais discretamente, pelo governador Eduardo Campos.

Embora seu nome não tenha sido homologado, Costa se declarou vitorioso e dá entrevista como tal, enquanto Rands não reconhece a legalidade do pleito, que foi marcado pelo acirramento e por uma batalha de liminares na Justiça acerca de quem estava em dia com as contribuições partidárias e tinha direito a voto.

Rands aposta que a prévia será anulada e ele será declarado vitorioso, a partir de uma reunião extraordinária da executiva do PT nesta quinta-feira, em São Paulo. Inicialmente o encontro seria dia 31, mas foi antecipado, conforme o presidente estadual do PT, deputado federal Pedro Eugênio, para encerrar, com rapidez, esse episódio de "desgaste" à legenda. Ele adianta que a reunião não objetiva definir o vencedor da prévia, mas avaliar o seu processo. Se João da Costa for reconhecido como vitorioso, Rands e João Paulo já declararam que não o apoiarão. Se Rands for o vencedor, também não terá unidade partidária.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Raul Jungmann cobra dados à PCR

O ex-deputado e pré-candidato a prefeito do Recife, Raul Jungmann, protocolou ontem um pedido de informação na prefeitura baseado na Lei de Acesso a Informação. Na pauta de Jungmann, estão esclarecimentos a respeito de cargos comissionados da prefeitura, contratos de servidores terceirizados, repasses de verbas de convênio firmados com as esferas Estadual e Nacional, dispensas de licitação, convênio com ONGs e até a viagem do prefeito a Madri em junho de 2011, que, segundo alega o documento, teria sido paga com dinheiro público.

Jungmann explica que sua intenção com o pedido de informação é abrir a “verdadeira caixa-preta que é a prefeitura”. O ex-deputado federal contou que possui uma equipe que constantemente tenta conseguir informações sem sucesso, seja pelo site ou consultando diretamente os órgãos. “É inacreditavelmente não transparente. A prefeitura é uma sonegadora de informações de um anacronismo medieval”, disparou Jungmann.

O pós-comunista disse, ainda, que acredita que a prefeitura vá tentar, de alguma forma, burlar a Lei não respondendo diretamente o que foi solicitado. “Questionamos pontos como as dispensas de licitação e os comissionados. Os próprios vereadores, que tem essa responsabilidade de fiscalizar não conseguem essas informações”, disse, completando que, caso não haja resposta, ele pretende acionar judicialmente os responsáveis por improbidade administrativa.

Através da assessoria de imprensa, a Prefeitura do Recife informou que vai atender todas as informações solicitadas dentro prazo determinado pela Lei de Acesso a Informação, que é de 20 dias prorrogáveis por mais dez. A PCR esclarece, ainda, que as informações serão encaminhadas pelos órgãos da administração municipal responsáveis por cada uma das questões levantadas.

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

PT enfrenta dificuldades nas capitais

Cristian Klein

SÃO PAULO - O PT é apontado por preocupadas legendas - aliadas ou adversárias ao governo federal - como aquele que será o grande vitorioso nas eleições de outubro. A previsão é que, no comando da máquina federal há dez anos, os petistas darão finalmente o "pulo do gato" no plano municipal, onde ainda estão em terceiro lugar em número de prefeituras - atrás do PMDB e do PSDB - e revezam com os pemedebistas na liderança do total de votos. Pelo andar do cenário pré-eleitoral, porém, o favoritismo não é evidente, ao menos entre as 26 capitais.

Em São Paulo (maior colégio eleitoral) e Porto Alegre (nono) - maiores apostas do partido nas regiões Sul e Sudeste - as candidaturas petistas não deslancharam: o ex-ministro Fernando Haddad aparece em sétimo lugar na capital paulista e, na gaúcha, o deputado estadual Adão Villaverde é o terceiro, numa disputa que desponta polarizada.

Nas duas maiores cidades governadas pelo partido, Fortaleza (quinto maior colégio eleitoral) e Recife (sétimo), a manutenção do poder, antes tida como bastante provável, agora está ameaçada.

A confusão ocorrida anteontem nas prévias no Recife põe em risco o apoio do governador Eduardo Campos (PSB). Em Fortaleza, é o também governador pessebista, Cid Gomes, que deve deixar de dar sustentação aos petistas.

"A aliança está quebrada", afirmou o deputado federal José Guimarães (PT-CE), durante intervalo da reunião do diretório nacional do partido, em Porto Alegre, na sexta-feira.

Petistas creditam ao ex-governador Ciro Gomes, irmão de Cid, o azedamento da relação. Afirmam que enquanto "Ciro fala, o governador cala". Ciro trabalharia para a cisão com os petistas, como fez na eleição municipal de 2004, ao apoiar o então deputado federal, hoje senador, Inácio Arruda (PCdoB), e de 2008, quando esteve ao lado da ex-mulher, a então senadora, hoje deputada estadual, Patrícia Saboya (PDT).

"Falta a conversa com o governador, que não ocorreu até agora. Mas ainda não há esta definição", disse a prefeita Luizianne Lins, numa declaração mais cautelosa sobre o rompimento da aliança.

Luizianne conta que o partido já acertou coligação com cinco siglas, entre as quais PV, PSC e PTdoB. O provável candidato é seu secretário municipal de Educação, Elmano de Freitas.

O grupo de Ciro e Cid Gomes, por sua vez, articula uma aliança com o PMDB, que pode ter como concorrente o presidente da Assembleia Legislativa, Roberto Cláudio, ou o secretário estadual especial da Copa de 2014, Ferruccio Feitosa, ambos do PSB. O PMDB ficaria com o vice da chapa. O bloco do governador também teria como alternativa apoiar Inácio Arruda, o que o tiraria do páreo para a eleição ao Senado em 2014.

A situação de Fortaleza junta-se ao imbróglio do Recife, onde o prefeito João da Costa venceu extraoficialmente, na prévia de domingo, o secretário estadual de Governo, Maurício Rands, petista preferido pelo governador Eduardo Campos. Caso o resultado seja confirmado, Campos deve apoiar o deputado federal do PMDB Raul Henry.

Com as duas maiores prefeituras em perigo, o PT precisará avançar em cidades de peso. Diante do cenário mais difícil em São Paulo e Porto Alegre, Salvador - terceiro maior colégio eleitoral municipal - é a que oferece a melhor perspectiva. A corrida é liderada pelo deputado federal ACM Neto (DEM), mas o deputado petista Nelson Pelegrino é apoiado pelo governador e correligionário Jaques Wagner, que conta com ampla base. O PT também tem boas perspectivas de manter Goiânia (11º) e Vitória (59º) e, com a ajuda do grupo do senador José Sarney, conquistar São Luís (14º), única capital governada pelos tucanos.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Presidência do Ipea recrudesce disputa entre PT e PMDB

Fernando Exman e Raymundo Costa

BRASÍLIA - As articulações em torno da sucessão de Marcio Pochmann na presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) crescem, à medida em que aumenta a proximidade do fim do prazo para a desincompatibilização dos políticos que disputarão as eleições municipais de outubro e ocupam cargos de direção na máquina pública. Pochmann será o candidato do PT à Prefeitura de Campinas, e espera emplacar um sucessor. O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Moreira Franco (PMDB), também trabalha para influenciar a troca. A negociação para a formação das alianças eleitorais no município paulista deverá pautar as conversas sobre a substituição de Pochmann, num lance em que o PMDB poderá apoiar o petista para obter maior margem de negociação na definição do novo presidente do Ipea.

O PT negocia alianças com PMDB e PSB para tentar reconquistar a prefeitura de um dos maiores colégios eleitorais do Estado de São Paulo, município que tenta se recuperar de uma longa crise política que derrubou o prefeito e seu vice devido a denúncias de irregularidades. Até agora, acordo algum foi fechado entre o PT e seus aliados. Nesse cenário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá desempenhar um papel estratégico nas conversas com o PMDB para tentar criar as condições necessárias para impulsionar a candidatura de um acadêmico com pouca experiência administrativa. O presidente do Ipea, orgão vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência, tem longa carreira na Academia e foi secretário municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade de São Paulo entre 2001 e 2004. O prazo de desincompatibilização que Pochmann terá de cumprir expira no dia 7.

Um dos nomes cotados para assumir a presidência do órgão é o de Vanessa Petrelli Corrêa, diretora de Estudos e Políticas Macroeconômicas da instituição. Sua indicação conta com o apoio de Pochmann, presidente do Ipea desde 2007. Assim como o presidente do Ipea, Vanessa também teve uma passagem pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e deve manter a atual linha de trabalho do órgão, se sua nomeação for confirmada pelo Palácio do Planalto.

A diretora de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea formou-se economista pela Universidade Federal do Paraná em 1981 e obteve o título de mestre na Universidade de Brasília (UnB) quatro anos depois. Em 1996, concluiu o curso de doutorado em teoria econômica pela Unicamp. Ela fez depois um estágio de pós-doutorado na UnB e tornou-se professora da Universidade Federal de Uberlândia. Vanessa é especializada em macroeconomia, finanças internacionais e instituições monetárias e financeiras do Brasil.

Outro técnico lembrado por autoridades do Palácio do Planalto é Ricardo Paes de Barros, que foi cedido pelo Ipea para assumir a Secretaria de Ações Estratégicas da Pasta chefiada por Moreira Franco. Paes de Barros é ligado ao ministro, e tem tocado diversos estudos de políticas sociais de interesse da presidente Dilma Rousseff. Procurada, a assessoria de imprensa do Ipea não comentou o assunto.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Juventude tucana vai usar falhas no Enem para atacar Haddad

Equipe de José Serra, porém, diz que não deu aval para os ataques e que pré-candidato quer debates propositivos

Bruno Boghossian

Jovens tucanos vão usar as falhas ocorridas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) nos últimos três anos para atacar o pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. Em campanha pela eleição de José Serra (PSDB), o grupo pretende visitar universidades a partir de julho para criticar a gestão do petista no Ministério da Educação.

A ação anti-Enem será feita em debates nas instituições de ensino e nas redes sociais pelo núcleo jovem da campanha, sem a participação direta de Serra. A equipe do pré-candidato afirma que não deu aval aos ataques a Haddad e que pretende realizar apenas debates propositivos, mas a juventude tucana afirma que pretende fazer as críticas de maneira independente.

"Vamos trabalhar essa questão. Não é transformar ninguém em vilão, mas ponderar: se um gestor não consegue controlar um exame, como pode controlar uma cidade?", diz o presidente da Juventude Municipal do PSDB, Breno Siviero. "Temos bons argumentos, sem inventar factoide ou atacar a vida pessoal do candidato."

Os jovens querem usar o discurso contra o petista em reuniões informais, palestras e debates nas universidades com a participação de militantes de outros partidos. A campanha não ficará restrita a faculdades que usam o Enem em seus processos seletivos. Estão previstas ações em instituições como USP, Mackenzie, PUC, Faap e Fundação Getúlio Vargas.

O discurso começou a ser ensaiado em uma reunião da juventude tucana no início do mês. "Temos que falar que o Haddad é o ministro que fez o Enem vazar, ser adiado, ficar horrível. E o Serra foi o governador que fez a maior expansão do ensino técnico em São Paulo", defende Lucas Sorrillo, integrante do grupo.

O Enem enfrentou problemas nos últimos três anos. Em 2009, a prova vazou e teve que ser adiada. No ano seguinte, houve problemas nos cadernos de perguntas e no gabarito. Em 2011, questões de uma prévia do exame vazaram.

Estratégia. Reativada após um racha que esvaziou o grupo no ano passado, a Juventude Municipal do PSDB também será um braço informal da campanha de Serra na internet. Os jovens deverão atuar como voluntários para divulgar as realizações do tucano na Prefeitura e no governo estadual. A estratégia de comunicação na web será organizada pelo marqueteiro Luiz González.

Nas ruas, o objetivo do grupo é agregar jovens de diversos grupos sociais, extrapolando os limites do PSDB. Além das universidades, as ações devem se concentrar em setores culturais (hip-hop, funk, street dance), grupos religiosos (católicos, evangélicos, judaicos), núcleos de jovens empreendedores, clubes, eventos de tecnologia e na maçonaria.

A juventude tucana foi reformulada após um período em que seus dois últimos líderes deixaram o partido para apoiar Gilberto Kassab (PSD) e Gabriel Chalita (PMDB). O novo presidente, Breno Siviero, advogado de 25 anos, foi nomeado com o aval do governador Geraldo Alckmin para dirigir uma comissão provisória.

O núcleo também terá a participação de Paulo Mathias, presidente da Juventude Estadual do PSDB. Ele era partidário da pré-candidatura de Bruno Covas à Prefeitura e passou a fazer campanha por Serra depois que o ex-governador entrou na disputa.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Um dia iluminado:: Jânio de Freitas

A Comissão Parlamentar de Inquérito tem hoje um dia decisivo entre o dever e o ímpeto de não fazer inquérito

Quem tenha alguma curiosidade sobre o país que está em moda no mundo tem dele uma radiografia esclarecedora se atentar, apenas isto, para os assuntos simultâneos que preenchem sua semana de ricaço do pré-sal, mandachuva da soja, do minério de Carajás, das carnes e de tanto mais.

Uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito tem hoje um dia decisivo entre o dever e o seu ímpeto de não fazer inquérito algum. E então não ser parlamentar nem comissão, mas um aglomerado que, excetuada meia dúzia de integrantes, mereceria ele próprio uma comissão de inquérito. Esta, verdadeira. E orientada, não pelos regimentos parlamentares, mas pelos códigos penais.

Caso a CPMI não aprove hoje a convocação dos dirigentes da Delta Construções e de seu "ex-dono" Fernando Cavendish, não haverá o que esperar dela. A não ser a exibição de seu presidente e do relator, Vital do Rêgo e Odair Cunha, em escapismos comprometedores.

Como a inverdade de que a chamada Delta Centro-Oeste independe, em suas operações, da Delta central. Ou seja, não liga esta à rede de Carlos Cachoeira e seus negócios. A persistir tal inverdade como fator determinante do "inquérito", os desmoralizados pela CPMI serão os seus condutores.

Mas o país assegura sua realidade, caso a CPMI se reduza a vexame, com a entrada ativa da Comissão Nacional da Verdade. O nome e a necessidade de criá-la, a par da necessária grandeza para criá-la, já dizem o suficiente a respeito.

O que cabe é registrar que as contradições internas da comissão, dadas por muitos como irrelevantes ou dirimidas, não são uma coisa nem outra. Componentes da comissão já se veem confrontados com casos complexos, trazidos por múltiplas intermediações, que vão requerer mais do que a simples identificação de "crime de Estado" ou não, para serem examinados.

A força emocional do tema entregue à Comissão da Verdade é, por si só, suficiente para mobilizações na opinião pública. Mais incisivas na ocorrência de casos que suscitem controvérsia sobre seu enquadramento nos objetivos da comissão.

O problema que aí desponta está no grau de racionalidade, dentro e sobretudo fora da comissão, com que tais casos sejam considerados. O risco de que a controvérsia desande existe, e propõe uma pergunta: estamos preparados para fazer a convivência das emoções com a racionalidade?

Há também um Conselho de Ética em ação, encarregado de sugerir ao Senado o que fazer do senador Demóstenes Torres. Ou seja, com o ponta de lança político do Carlos Cachoeira que vai surfando sobre a CPMI. Mas a impressão que prevalece, ao menos para os meus ouvidos, é de que a situação do senador estará incerta até a decisão do plenário. Parece não haver vontade de vê-lo cassado, a menos que seja impossível poupá-lo.

Comissão por comissão, hoje abre suas portas, mais uma vez, a segunda de Anistia -aquela que concede indenizações e, por critérios a meu ver ininteligíveis, distribui outras verbas a alegadas vítimas financeiras ou profissionais da ditadura. E lá será decidida a doação ou recusa da indenização pedida pelo Cabo Anselmo. Só o fato de que este cúmplice de numerosos assassinatos esteja por aí, solto e sustentado misteriosamente, é um crime de Estado do qual o Estado não pode ser anistiado, nunca.

Mais um? Pode ser a trapaça investigada, pela Polícia Federal e pela Superintendência de Seguros (Susep), no leilão do Hotel Nacional, no Rio. Basta uma frase a respeito: nenhum dos lados se salva na armação do negócio e no negócio propriamente. E Cachoeirinha, ainda que pareça impossível, é o de menos nessa história.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Caetano e Teresa Cristina cantam "Coração Vulgar" de Paulinho da Viola

Verdade? Que verdade? :: Marco Antonio Villa

Foi saudada como um momento histórico a designação dos membros da Comissão da Verdade. Como tudo se movimenta lentamente na presidência de Dilma Rousseff, o fato ocorreu seis meses após a aprovação da lei 12.528. Não há qualquer justificativa para tanta demora. Durante o trâmite da lei o governo poderia ter desenhando, ao menos, o perfil dos membros, o que facilitaria a escolha.

Houve, na verdade, um desencontro com a história. O momento para a criação da comissão deveria ter sido outro: em 1985, quando do restabelecimento da democracia. Naquela oportunidade não somente seria mais fácil a obtenção das informações, como muitos dos personagens envolvidos estavam vivos. Mas - por uma armadilha do destino - quem assumiu o governo foi José Sarney, sem autoridade moral para julgar o passado, pois tinha sido participante ativo e beneficiário das ações do regime militar.

O tempo foi passando, arquivos foram destruídos e importantes personagens do período morreram. E para contentar um setor do Partido dos Trabalhadores - aquele originário do que ficou conhecido como luta armada - a presidente resolveu retirar o tema do esquecimento. Buscou o caminho mais fácil - o de criar uma comissão - do que realizar o que significaria um enorme avanço democrático: a abertura de todos os arquivos oficiais que tratam daqueles anos.

É inexplicável o período de 42 anos para que a comissão investigue as violações dos direitos humanos. Retroagir a 1946 é um enorme equívoco, assim como deveria interromper as investigações em 1985, quando, apesar da vigência formal da legislação autoritária, na prática o país já vivia na democracia - basta recordar a legalização dos partidos comunistas. Se a extensão temporal é incompreensível, menos ainda é o prazo de trabalho: dois anos. Como os membros não têm dedicação exclusiva e, até agora, a estrutura disponibilizada para os trabalhos é ínfima, tudo indica que os resultados serão pífios. E, ainda no terreno das estranhezas e sem nenhum corporativismo, é, no mínimo, extravagante que tenha até uma psiquiatra na comissão e não haja lugar para um historiador.

A comissão foi criada para "efetivar o direito à memória e a verdade histórica". O que é "verdade histórica"? Pior são os sete objetivos da comissão (conforme artigo 3º), ora indefinidos, ora extremamente amplos. Alguns exemplos: como a comissão agirá para que seja prestada assistência às vítimas das violações dos direitos humanos? E como fará para "recomendar a adoção de medidas e políticas públicas para prevenir violação de direitos humanos, assegurar sua não repetição e promover a efetiva reconciliação nacional"? De que forma é possível "assegurar sua não repetição"?

O encaminhamento dado ao tema pelo governo foi desastroso. Reabriu a discussão sobre a lei de anistia, questão que já foi resolvida pelo STF em 2010. A anistia foi fundamental para o processo de transição para a democracia. Com a sua aprovação, em 1979, milhares de brasileiros retornaram ao país, muitos dos quais estavam exilados há 15 anos. Luís Carlos Prestes, Gregório Bezerra, Miguel Arraes, Leonel Brizola, entre os mais conhecidos, voltaram a ter ativa participação política. Foi muito difícil convencer os setores ultraconservadores do regime militar que não admitiam o retorno dos exilados, especialmente de Leonel Brizola, o adversário mais temido - o PT era considerado inofensivo e Lula tinha bom relacionamento com o general Golbery do Couto e Silva.

Não é tarefa fácil mexer nas feridas. Há o envolvimento pessoal, famílias que tiveram suas vidas destruídas, viúvas, como disse o deputado Alencar Furtado, em 1977, do "quem sabe ou do talvez", torturas, desaparecimentos e mortes de dezenas de brasileiros. Mas - e não pode ser deixado de lado - ocorreram ações por parte dos grupos de luta armada que vitimaram dezenas de brasileiros. Evidentemente que são atos distintos. A repressão governamental ocorreu sob a proteção e a responsabilidade do Estado. Contudo, é possível enquadrar diversos atos daqueles grupos como violação dos direitos humanos e, portanto, incurso na lei 12.528.

O melhor caminho seria romper com a dicotomia - recolocada pela criação da comissão - repressão versus guerrilheiros ou ação das forças de segurança versus terroristas, dependendo do ponto de vista. É óbvio que a ditadura - e por ser justamente uma ditadura - se opunha à democracia; mas também é evidente que todos os grupos de luta armada almejavam a ditadura do proletariado (sem que isto justifique a bárbara repressão estatal). Nesta guerra, onde a política foi colocada de lado, o grande derrotado foi o povo brasileiro, que teve de suportar durante anos o regime ditatorial.

A presidente poderia ter agido como uma estadista, seguindo o exemplo do sul-africano Nelson Mandela, que criou a Comissão da Verdade e Reconciliação. Lá, o objetivo foi apresentar publicamente - várias sessões foram transmitidas pela televisão - os dois campos, os guerrilheiros e as forças do apartheid. Tudo sob a presidência do bispo Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz. E o país pôde virar democraticamente esta triste página da história. Mas no Brasil não temos um Mandela ou um Tutu.

Pelas primeiras declarações dos membros da comissão, continuaremos prisioneiros do extremismo político, congelados no tempo, como se a roda da história tivesse parado em 1970. Não avançaremos nenhum centímetro no processo de construção da democracia brasileira. E a comissão será um rotundo fracasso.

Marco Antonio Villa é historiador.

FONTE: O GLOBO

O cavalo e o camelo: Carlos Heitor Cony

Não é de hoje a ideia de criar uma comissão para decidir sobre determinados problemas. Quando um governo, uma empresa, um general em campanha enfrentam uma questão delicada, o remédio é formar uma comissão para estudar, avaliar e, em caso extremo, resolver a situação na base do "fizemos o que foi possível". Quando se viu perdido em Waterloo, Napoleão fez uma coisa rara: convocou uma reunião de generais. que decidiram esperar por reforços que não vieram.

A comissão que apurou o assassinato de J. F. Kennedy até hoje é contestada. Dizem que um dos desenhos mais bonitos da natureza, o cavalo, foi criado por Deus. O camelo, que embora mais resistente é mais bagunçado, foi criado por uma comissão de sábios e artistas.

Evidente que louvo a recém-criada Comissão da Verdade para apurar os crimes que ocorreram no regime militar. Admito que dona Dilma escolheu pessoas idôneas e bem-intencionadas para fuçar os arquivos -se é que eles ainda existem. De qualquer forma, uma faxina cívica e moral deverá ser feita para que todos conheçamos a longa noite de chumbo que atravessamos e não queremos atravessá-la de novo, num futuro que, de repente, pode ser armado -e "armado" é bem o termo para o que houve.

Quando um executivo tem um abacaxi nas mãos, a primeira coisa que faz para descascá-lo é nomear uma comissão de alto nível para apurar os fatos, doendo a quem doer.

Acontece que um governo bem azeitado, como o que dona Dilma pretende fazer, tem elementos próprios, dispõe de toda a estrutura de um poder institucional e plenamente democrático para revelar à nação os tumores que, embora recolhidos por qualquer acidente de percurso, podem provocar uma metástase que colocará novamente em risco nossa acidentada vida nacional.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Uma presidente de dedo em riste:: Raymundo Costa

À medida que avança o governo Dilma, aprofundam-se no Congresso convicções sobre as diferenças entre a presidente e seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Elas ultrapassariam, em muito, a variação do estilo pessoal de um e de outro, como se analisava em janeiro de 2011. Hoje a avaliação é que Lula era mais pragmático e se adequava às circunstâncias; Dilma, por seu turno, é ideológica, professa o centralismo democrático e somente recua se for por falta de oportunidade política para impor sua decisão.

Esse tipo de manifestação se materializa no Congresso, entre aliados da presidente da República, mas também pode ser ouvida em ministérios e partidos de reputação nem tanto conservadora. Vale o registro das diferenças anotadas junto com sussurros de insatisfação com algumas das últimas medidas de Dilma.

A criação da Comissão da Verdade, semana passada, parece ser um divisor de águas. Lula delegou ao seu ministro da Defesa Nelson Jobim, a tarefa de negociar sua criação com os militares e as entidades representativas dos familiares dos desaparecidos políticos na ditadura militar.

Na base desse negociação, a intocabilidade da Lei da Anistia - aprovada ainda no regime militar, numa correlação de forças desfavorável às entidades. A possibilidade de julgar torturadores, por exemplo, passou ao largo. Revanchismo zero. Dilma foi incisiva, num assunto sobre o qual Lula tergiversava: "A comissão não abriga ressentimento, ódio, nem perdão. Ela só é o contrário do esquecimento", disse.

Dilma também nomeou para a comissão nomes como o do professor de ciência política Paulo Sérgio Pinheiro, que apresentou o cartão de visitas logo à primeira intervenção: "nenhuma Comissão da Verdade teve ou tem essa bobagem de dois lados, de representantes dos perpetradores dos crimes e das vítimas".

Os militares, evidentemente, não gostaram. Jobim, que sonha com voos mais altos, respondeu de pronto que a criação da Comissão da Verdade só fora possível depois de acordo segundo o qual seriam investigados violações de direitos humanos cometidas pelos dois lados. "Reajo com indignação à declaração dele", rebateu Paulo Vannuchi, à época Secretário dos Direitos Humanos. "Em 2010 eu chamava a ideia de bilateralidade sugerida por Jobim de monstrengo jurídico."

Ainda tem curso, do centro para a direita da aliança dilmista, a ideia de que só não se avança na questão do controle social da mídia por falta de ambiente político. Um argumento que a prática não autoriza: o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) sentou-se em cima do projeto feito no governo Lula. A própria Dilma orientou o PT a evitar ataques à imprensa na CPI do Cachoeira.

Com a oposição aparentemente paralisada e sem poder de formulação, é no campo governista que circulam algumas críticas ácidas. Exemplo: enquanto os presidentes antes de Dilma serviram ao governo, agora é o governo que serve a Dilma. Tanto sob FHC como sob Lula, as divergências eram intensas. Ao presidente cabia arbitrar. O que se verifica atualmente é um ministério medroso de expressar suas divergências.

A sociedade também se manifestava por meio dessas disputas. Hoje não tem governo. Tem a presidente e a vontade da presidente. Férrea, mas às vezes com soluções diferentes para problemas semelhantes. Um peso, duas medidas: o critério que serviu para demitir o ex-ministro Antonio Palocci das Casa Civil não foi o mesmo que balizou a manutenção de Fernando Pimentel no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

O ministro dos Esportes. Orlando Silva, caiu fora do governo diante da suspeita de seu ministério ter feito convênios irregulares com ONGs; Ideli Salvatti (Relações Institucionais) se manteve no cargo, apesar de avalizar a compra de embarcações de uma empresa doadora de campanhas do PT, quando estava no Ministério da Pesca.

No arrebalde do governo também se vê ideologia no embate de Dilma com o mercado financeiro, responsável, segundo a presidente, por uma "lógica perversa" pela qual a taxa Selic baixa, a inflação permanece estável, "mas os juros dos cheque especial, das prestações ou do cartão de crédito não diminuem ". Lula teve oportunidade de mudar as regras da poupança, quando a taxa Selic chegou a 8,75%, mas preferiu não comprar briga com o sistema. Dilma foi na jugular dos banqueiros.

Deixou particularmente constrangidos os congressistas o gesto de Dilma com o dedo em riste, repreendendo publicamente o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, diante de uma plateia de 2.500 prefeitos de todo o país. "Tive que me acalmar, senão seria pior", disse Ziulkoski. Naquele momento Dilma exibiu uma face autoritária: uma coisa é levantar o dedo para um superior; outra para alguém que pode sair dali preso.

Dilma nunca fez mistério do fato de ser uma mulher de esquerda, suas convicções foram esmiuçadas na campanha eleitoral. O governo da presidente torna-se mais claro na medida do tempo, mas nada autoriza que Dilma venha a cair em tentações vizinhas. Ela detesta qualquer comparação com Cristina Kirchner, presidente da Argentina. A presidente governa com ranços de autoritarismo, mas é difícil sustentar que Dilma, no fundo, deseje fazer coisas como controlar a mídia. Até agora ela fez por merecer crédito ao dizer que refere "o barulho, às vezes extremamente dolorido, da imprensa livre do que o silêncio das ditaduras".

Há muito marketing nas ações de Dilma. Mas a presidente nunca fez segredo de que é uma mulher de esquerda. Parece crítica vencida, mas não é. Não é mera coincidência que as críticas à "ideologização" corram num momento em que a presidente cuida de várias frentes de batalha: de ministros que sentem-se esvaziados a setores militares mais radicais das Forças Armadas, passando pelos banqueiros.

FONTE: VALOR ECONÔMICO

Torpedeado:: Dora Kramer

É generalizado no Congresso o desconforto com o flagrante do torpedo enviado pelo deputado petista Cândido Vaccarezza ao governador do Rio, Sérgio Cabral, durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito mais famosa do País.

O PT trabalha para reduzir os danos, mas propaga-se em voz baixa na bancada a interpretação de que o deputado fragilizou o partido e deu aval a suspeitas sobre a função de seus representantes na comissão.

O PMDB considera que ele acabou levando Cabral para dentro da CPMI, abrindo espaço para a aprovação de eventual pedido de convocação apresentado pela oposição, como uma espécie de "prova" de conduta isenta a ser apresentada ao público.

Entre os demais parlamentares há divergências quanto à necessidade de afastamento, mas existe um ponto de convergência: a atitude foi ruim para o conjunto da comissão que, perante a sociedade, começa a assumir fortemente a feição de uma ação entre amigos e inimigos políticos sem compromisso com as investigações em si.

Já o deputado Cândido Vaccarezza não vê problema mais sério no episódio. Assegura que não pedirá para sair da CPMI, garante que o PT não o fará e aposta que seus pares de outros partidos também não.

Por uma razão simples: "Não tenho nada a esconder, nenhuma relação com a bandidagem e zero compromisso com proteções ou condenações por antecipação".

Tirando o "imperdoável" erro de português da já notória frase "você é nosso e nós somos teu", dirigida ao governador Cabral, Vaccarezza tem convicção de que não cometeu pecado algum.

Recusou orientação de assessores para alegar invasão de privacidade - "o profissional no caso estava no exercício justo de sua função jornalística" -, mas afirma que a mensagem foi exposta fora do contexto geral de uma conversa em que ele transmitia ao governador a avaliação de que nada teria a temer, pois não fora citado em nenhuma das gravações da Polícia Federal.

"Não há blindagem porque não há até agora nada que ligue Sérgio Cabral ou mesmo Fernando Cavendish à organização criminosa comandada por Carlos Cachoeira. Se aparecer, ninguém terá proteção de minha parte."

Diferentes, diz, são os casos dos governadores Marconi Perillo, de Goiás - "atolado até o pescoço" -, e Agnelo Queiroz, do Distrito Federal, cujo ex-chefe de gabinete aparece nas gravações. Mesmo esses dois casos são distintos entre si na visão de Vaccarezza.

"Querer tratar do assunto como uma ação de governadores dando o mesmo peso a situações diversas é que me parece a preparação de uma base para a massa da chamada pizza."

Portanto, mesmo estando na berlinda, o petista diz que entra hoje na primeira reunião da CPMI na semana tranquilo quanto a possíveis desdobramentos. "Já expliquei, ficou tudo esclarecido."

Não é a opinião de alguns colegas. O deputado Miro Teixeira tinha na sexta-feira a expectativa de que ele se declarasse impedido de continuar e o senador Pedro Taques preparava-se ontem para embarcar para Brasília já com questionamentos engatilhados para ele.

"Não faço juízo, mas a mensagem dá a ideia de que está havendo acobertamento, assim a opinião pública entendeu, foi o que me perguntou minha filha de 14 anos. Então, não está nada explicado, assim como não está esclarecida qual a natureza daquela conversa, se pessoal ou, digamos, profissional", dizia.

Mais embaixo. Não é só a questão de convocação ou não do diretor da sucursal da Veja em Brasília, Policarpo Júnior, que "azeda" a relação do PMDB com o PT na comissão de inquérito.

É a desconfiança por parte dos petistas de que os pemedebistas estejam aliados ao PSDB na montagem de uma operação conjunta de proteção ao governador Marconi Perillo para também "blindar" os seus.

O PMDB governou Goiás e administrou Goiânia algumas vezes, tem presença forte no Estado onde nasceu a "rede Cachoeira", cujas origens, é de se pressupor, remontam a gestões anteriores.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Modelo chinês:: Merval Pereira

Além do Instituto de Filosofia, outro departamento da Academia de Ciências Sociais de Xangai participou do seminário sobre as relações da China com a América Latina realizado ontem aqui em Xangai: o Instituto de Marxismo Chinês, cujo sentido deu o tom das palestras dos vários scholars chineses.

Todos procuraram justificar o que chamam de "modelo chinês" de socialismo, que se diferencia nestes 30 anos de experiência de todas as formas de socialismo experimentadas em vários países do mundo, que não seria simplesmente um "capitalismo de Estado" como comumente é conhecido no Ocidente, mas também uma organização social que lida com valores específicos.

Até o momento o modelo chinês não leva em conta "valores universais" tais como liberdade, direitos humanos, democracia, fraternidade, mas lida com "valores fundamentais" como estabilidade, harmonia e desenvolvimento.

Conforme explicou Chen Xiangqin, do Instituto de Filosofia, o sucesso do modelo depende de como ele lida com as relações entre mercado e governo, assim como entre a sociedade e o governo, tentando evitar, de um lado, os prejuízos do totalitarismo e do fechamento social, mas também o risco de que o sistema organizacional do Partido Comunista e do Estado seja afetado pela desunião, pelo suborno ou cooptação por classes privilegiadas ou grupos de interesse.

Já Xuan Chuanshu, do Centro para o Socialismo Internacional, abordou mais diretamente o tema do socialismo, analisando por que há muito ceticismo, dentro e fora da China, sobre a genuinidade do modelo socialista adotado.

Ele admite que, devido ao que chama de "alto preço" pago pelo rápido desenvolvimento, como destruição ecológica, corrupção e especialmente a grande distância entre ricos e pobres, há uma impressão generalizada de que o socialismo na China se degenerou, seja pelo fato de que alguns de seus valores simbólicos não foram alcançados, como a igualdade, seja porque o crescimento econômico dá a sensação de que o modelo chinês apenas copiou o caminho de modernização do Ocidente.

Segundo Chuanshu, o socialismo tornou-se nos últimos tempos um conceito familiar, mas ao mesmo tempo estranho à maioria das pessoas. Mas ele defende que o que está acontecendo na China está além das teorias de Marx e outros escritores clássicos, vai além das experiências ocidentais como as que existem nos países escandinavos e muda o tradicional socialismo que vigorava na antiga União Soviética.

Para ele, há dimensões do desenvolvimento que são inerentes a qualquer sistema socialista e que a China vem conseguindo atingir: rapidez de crescimento econômico e sustentabilidade; paz e cooperação; prosperidade comum repartida por todos e um amplo e livre desenvolvimento.

O professor Chuanshu define o caminho da China para o socialismo como fundamental para o mundo moderno, como uma ponte entre as civilizações Oriental e o Ocidental, integrando visões e conhecimentos tradicionais com os modernos, reduzindo a distância entre o capitalismo e o socialismo.

Todos os trabalhos sobre o estágio atual do modelo chinês são claramente orgulhosos do que foi alcançado. Fong Songhua, do Instituto de Marxismo Chinês, por exemplo, num trabalho em que destaca principalmente os desequilíbrios do processo de desenvolvimento, ressalta que as mudanças em curso jamais foram vistas na História humana, pois a China, em uma ou duas gerações, alcançou resultados que as culturas ocidentais levaram dois ou três séculos para conseguir.

Embora a linguagem acadêmica seja mais liberada, assim como o debate é mais amplo, nota-se que os trabalhos escritos são mais cuidadosos do que a defesa verbal das teses.

E muitas perguntas que não podem ser feitas em público aparecem nos seminários. Ontem, depois de minha palestra sobre a situação da imprensa na América Latina, na qual citei os problemas de liberdade de imprensa que países como Argentina, Equador e Venezuela vivem, e apontei que no Brasil, mesmo tendo perdido força pelo posicionamento claro da presidente Dilma Rousseff a favor da liberdade de expressão, ainda há grupos políticos empenhados em fazer aprovar medidas de controle da mídia, uma estudante me perguntou o que achava da situação da China, onde há censura aos meios de comunicação.

Disse a ela que havia tentado acessar o Facebook e o YouTube sem sucesso, pois estavam bloqueados, e que era impossível ter-se um sistema de informação que seja útil à cidadania se ele é baseado apenas em notícias oficiais.

E que era um paradoxo querer ser um país economicamente eficiente e moderno sem um sistema de informação aberto a todos os lados que permita inclusive a atualização dos conhecimentos necessários para a competitividade da nação. A China, com a censura à internet, estava abrindo mão de tecnologias modernas que certamente seriam úteis para seu desenvolvimento.

Pensei cá comigo que o fato de o ambiente acadêmico permitir esse tipo de questionamento é um primeiro passo para uma maior abertura política, que, aliás, foi defendida em alguns trabalhos apresentados por scholars chineses.

Foi o caso de Fong Songhua, que, em seu balanço sobre os desequilíbrios do modelo chinês, destacou que o tema mais urgente na China contemporânea é começar uma reforma política progressiva.
No passado, disse ele, foi fundamental a união de poder e capital para promover o crescimento econômico rápido da China, mas agora têm de ser reexaminadas as relações entre os direitos e o capital, retomados os valores de liberdade e democracia, correção e justiça, para construir fundações para um projeto de longo prazo que abranja o desenvolvimento social, assim como o econômico.

"Não queremos que a China seja um gigante econômico, mas um anão cultural no futuro", disse Fong Songhua.

FONTE: O GLOBO

O inferno nunca sai da alma:: Clóvis Rossi

Impressões sobre uma visita à máquina de matar nazista construída em Auschwitz-Birkenau

CRACÓVIA - Uma placa no Museu Judaico de Cracóvia registra um diálogo imaginário entre mãe e filha em que a menina diz: "Mamãe, quando eles nos matarem, vai doer?". A mãe responde: "Não, queridíssima, não vai doer, vai levar só um minuto".

Comentário abaixo do diálogo: "Pode ter levado só um minuto, mas foi o suficiente para nos manter despertos até o fim dos tempos".

Profético. A dor pelo assassinato de 1,1 milhão de judeus, só no complexo Auschwitz-Birkenau, perto de Cracóvia, perdura até hoje na alma dos judeus, como deveria perdurar na alma da humanidade. Não foi um crime só contra os judeus, o que já seria intolerável, mas contra a condição humana.

Não apenas porque em Auschwitz-Birkenau morreram também entre 140 mil e 150 mil poloneses, 23 mil ciganos, 15 mil prisioneiros de guerra soviéticos e 25 mil pessoas de outras etnias. Mas principalmente porque uma máquina meticulosa de matar despojou da condição humana todas essas pessoas e milhões mais em outros pontos da Europa.
Quando a mãe e a menina do diálogo imaginário foram levadas para a câmara de gás de Birkenau, já estavam mortas. Elas, como todos os judeus trazidos de toda a Europa para os 30 km² que abrigavam o complexo de Auschwitz, já haviam perdido suas casas, seus trabalhos, seus objetos pessoais, suas posses, seus seres queridos, rigorosamente tudo o que possuíam.

"Quem perde tudo muitas vezes perde a si mesmo", escreveu Primo Levi, judeu italiano, prisioneiro de Auschwitz, um sobrevivente que é talvez o mais completo narrador dos horrores do campo.

Levi escreveu também que quem esteve em Auschwitz nunca conseguirá sair e quem não esteve nunca conseguirá entrar.

É tanto verdade que se suicidou em 1987, mais de 40 anos depois de deixar o inferno. Dele diria o Prêmio Nobel da Paz (1986) Elie Wiesel, outro sobrevivente de Auschwitz: "Primo Levi morreu em Auschwitz 40 anos depois".

De fato, eu confesso que, como parte de um grupo de jornalistas que o Congresso Judaico Latino-Americano trouxe para uma visita-aula aos locais emblemáticos do Holocausto na Polônia, saio com mil perguntas e quase nenhuma resposta.

Principal pergunta: por que construir uma indústria da morte se ela não servia para derrotar os Exércitos inimigos, se não servia para ocupar territórios? (a Polônia já fora ocupada no início da guerra, em 1939, antes portanto da entrada em operação da máquina de matar).

O que assusta, entre tantos horrores, é que permanece a tentação em muitas partes do mundo, mesmo na Europa, de eliminar o "outro", o supostamente diferente, seja judeu, cigano, hutu ou tutsi (em Ruanda), muçulmano.

Nada, é claro, teve, antes como depois do Holocausto, a dimensão do que se fez em Auschwitz e outros campos e guetos. Mas direitos humanos, direito à vida, não podem ser medidos por quilo.

Por isso, vale a frase do filósofo espanhol Jorge de Santayana y Borrás (mais conhecido como George Santayana), gravada na entrada do "Bloco 4" de Auschwitz: "Quem não relembra a História está condenado a vivê-la de novo".

FONTE: FOLHA DE S. PAULO