Dizem
que a guerra estimula mudanças e inovações. No entanto é difícil antecipá-las,
num momento em que não se entende bem tudo o que se passa e, muito menos, o
rumo que as coisas tomarão num futuro próximo.
A
alternativa é começar pelo mais fácil, aquele conjunto de problemas que já nos
preocupavam antes da guerra. O preço do combustível é um deles. Já estava nas
alturas e subiria mais assim que fosse disparado o primeiro tiro na Ucrânia.
Perdeu-se
um tempo enorme para definir medidas que atenuassem o impacto do aumento. E
agora, que a guerra eclodiu, elas se tornam mais urgentes e ligeiramente menos
eficazes.
Antes
da guerra, o combustível fóssil não era questionado apenas pelo preço, mas
também por sua insustentabilidade ambiental. A crise abre uma porta para o
futuro de carros elétricos, boas ferrovias e hidrovias. Será que embarcamos
nessa ou seguimos na janela vendo o mundo mudar?
Outra
questão anterior à guerra era a dependência dos fertilizantes russos. Vale a
pena escorar-se na boa vontade de um Putin isolado ou desenvolver um projeto de
autossuficiência nesse campo?
O alistamento espontâneo de civis de diversas
nacionalidades ao lado dos ucranianos desmonta uma certeza do filósofo francês
(de direita) Luc Ferry: que nenhuma causa contemporânea mereceria a imolação da
vida.
Estariam
longe e abandonadas as paixões políticas, as empolgações estéticas (Maiakóvski
saía no braço com seus interlocutores) e as identidades nacionais. Furores e
arrebatamentos responsáveis por toneladas de mortes, principalmente no século
passado.
Em
sua conta não entram os fundamentalistas islâmicos, os tais homens-bomba — no
caso, não seria sequer uma causa, mas um vácuo civilizacional.
O
engajamento da população civil ucraniana, de outro lado, escande a
identificação com um revelador instinto de nacionalidade, certamente para a
desagradável surpresa de Putin, e em oposição ao conceito niilista e desossado
de Luc Ferry, ex-ministro da Educação da França.
Diante
de Putin, parte da esquerda retomou o coro com a extrema direita. Bozo e o PCO
se encontram do mesmo lado da trincheira — ele, porque jura ser seguidor da
crença de Silas Malafaia; o grupelho, por lutar contra a vida alheia.
Após
49 anos da queda de Savaldor Allende, então presidente do Chile, por um golpe
militar (11.09.1973) que derrubou o regime constituído democraticamente pelo
povo, surge novamente a oportunidade para a recondução da história, renovada
pela forma persistente e disciplinada dos movimentos sociais organizados pelo
povo chileno.
A
esperança surge na figura do novo presidente, Gabriel Boric, um jovem de 36
anos à semelhança do Allende, um representante da esquerda chilena.
Conforme
anunciado no seu discurso de posse, o zelo pela construção do Estado Social
como um ente coletivo, retumba o primeiro discurso de campanha. “Diante do povo
e dos povos do Chile, prometo dar o melhor de nós pelo bem do país”,
reafirmando compromisso com a luta contra as ações que provocam as alterações
climáticas, e o empoderamento da mulher.“Estou muito feliz de ter diante de mim
um gabinete com mais mulheres que homens”.
As
prioridades do programa de governo apontam para a recuperação da economia, para
a reestruturação das pensões e aposentadorias, tornando-as dignas, para o
reconhecimento dos povos originários, para o não endividamento dos estudantes
com a educação, para a continuidade das buscas pelos desaparecidos durante a
ditadura.
No
governo atual do Chile, as mulheres assumem 14 ministérios, entre eles o
Ministério do Interior e Segurança Pública, o Ministério da Defesa Nacional, o
Ministério da Mulher e Equidade de Gênero, o Ministério da Saúde e Ministério
das Relações Exteriores.
Populismo
e identitarismo declinam, universalismo liberal se fortalece
A guerra
na Ucrânia aponta para o fim de uma era. Fukuyama afirmou que ela
representa "o fim do fim da história", o ocaso de um certo consenso
liberal global que organizou o mundo ocidental do pós-Guerra. Mas aqui quero me
restringir a algumas de suas implicações políticas no plano interno das
democracias.
Começo por seu impacto sobre a onda populista.
O
traço distintivo do populismo, em suas variantes à esquerda e à direita, é o
apelo ao povo (virtuoso) —em oposição às elites (corrompidas)— e na
representação política direta sem mediações ou controles institucionais. O
nativismo é corolário: povo e nação se complementam.
Os
capítulos são textos de diferentes tipos: por exemplo, há boas reconstruções
históricas, como as de João Villaverde e Rodrigo Brandão sobre o
presidencialismo brasileiro; ou a de Irapuã Santana sobre as políticas públicas
que preservaram a desigualdade racial herdada da escravidão. Há dois excelentes
textos sobre o estado de nossa esfera pública: um de Laura Karpuska e Vandson
Lima sobre accountability nas redes sociais e na imprensa e outro de Tai Nalon,
chefe da agência de checagem Aos Fatos, sobre o
problema das fake news.
Segundo o Censo
de 2010, dos 190.755.799 habitantes no território brasileiro, 42.275.440
pessoas eram evangélicas - o que equivalia a 22,2% do total. Já se passaram 12
anos, e muita coisa mudou no Brasil desde o último levantamento demográfico
realizado pelo IBGE.
Os institutos de
pesquisas que estão indo a campo para tentar estimar as preferências do eleitor
para o pleito de outubro têm encontrado um contingente de 24% a 26% dos
entrevistados que se dizem evangélicos. Muitos especialistas acreditam que o
índice real seja de quase um terço da população.
Baixar
rapidamente a inflação causaria um alto custo à economia
Com
o choque nos preços de petróleo, dos alimentos e dos metais causado pela
invasão da Ucrânia pela Rússia, o mercado está reestimando as suas projeções de
inflação para percentuais ainda mais altos. Muitos estão questionando: o Comitê
de Política Monetária (Copom) do Banco Central deveria jogar a toalha e
desistir de cumprir a meta de inflação de 2023?
A
julgar pelo histórico da diretoria do BC, comandada por Roberto Campos Neto,
isso é pouco provável. O Copom deverá manter o foco em trazer a inflação, que
chegou a 10,54% no período de 12 meses até fevereiro, ao objetivo de 3,25%
definido para o ano que vem. Mas é possível que passe a agir de forma mais
gradual, sem as altas agressivas que imprimiu na taxa Selic até fevereiro.
O
principal argumento dos defensores de uma convergência mais lenta da inflação
para a meta é que o sacrifício, em termos de perda de atividade econômica e de
alta do desemprego, seria muito alto. Mais recentemente, surgiu um novo
argumento, ligado à estabilidade financeira. A economia teria se moldado ao
ambiente de juros mais baixos, de um dígito, e uma alta muito forte da Selic
poderia desestabilizar empresas e o setor financeiro.
Na
invasão da Ucrânia, a Rússia retomou os seus protocolos militares empregados
nas guerras da Chechênia e da Geórgia
As
imagens de bombardeios russos a populações civis na Ucrânia são aterradoras.
Impossível não sentir desgosto e indignação moral. Se houve algum progresso na
Europa, após a Segunda Guerra Mundial, ele se deveu a um dizer não a soluções
militares, privilegiando conversações diplomáticas, mesmo no período mais agudo
da guerra fria. Formou-se um consenso em torno do Estado de Bem-estar Social,
voltado para o atendimento das necessidade individuais e coletivas. Logo, o
continente europeu – e não outras partes do mundo – foi preservado de conflitos
propriamente militares, podendo os membros dos vários Estados se dedicarem a
seus afazeres privados.
A
Europa do século 19, durante décadas, conseguiu privilegiar soluções
diplomáticas, graças a diplomatas da mais alta estirpe como Metternich,
Castlereagh e Talleyrand, conhecedores da história e da arte da negociação.
Após a destruição deste mundo, no final do século 19 e, depois, nas duas
guerras da primeira metade do século 20, parecia que um mundo novo viera para
ficar, com um não rotundo sendo dito às atrocidades da Segunda Guerra Mundial.
Congresso
elegeu neste sábado novo Diretório e nova Executiva nacionais
O
Cidadania elegeu neste sábado (12) o novo Diretório e a nova Executiva
nacionais. Foi o XX Congresso Nacional do partido, sendo o primeiro realizado
como Cidadania (10 foram como Partido Comunista Brasileiro e 9 como Partido
Popular Socialista, antecessores da nova formação política). Numa decisão
unânime, o atual presidente Roberto Freire foi reconduzido. Dizendo-se
contrariado pela possibilidade de reeleição, o senador Alessandro Vieira (SE)
não chegou a votar e anunciou sua desfiliação do partido.
Os
deputados Daniel Coelho e Rubens Bueno (PR), além da senadora Eliziane Gama
(MA) e Comte Bittencourt, que dirige o Cidadania no Rio de Janeiro, serão
vice-presidentes. Assume o cargo de secretário-geral do partido o presidente do
Cidadania alagoano, Régis Cavalcante. Os novos colegiados respeitam o
percentual de 30% de mulheres em órgãos de direção, como prevê o Estatuto, e
também tem representantes dos setoriais de Diversidade e Igualdade.
“Aquilo
que surgiu em 1922 [ano de fundação do PCB] tem uma linha mestra. Uma linha de
pensamento e intervenção na política, voltada para uma sociedade mais justa,
com valores de fraternidade, concepção humanista e visão internacionalista.
Para ter continuidade, processo de modernização é necessário e se impôs. E
tivemos coragem de fazer. Nós agora precisamos chegar ao século XXI. Esse ano é
fundamental pra definimos se queremos ser contemporâneos do futuro”, defendeu
Freire.
Responsável
por uma proposta inicial de novo programa para o partido, que será aperfeiçoada
em discussões ao longo do ano, Caetano Araújo, da Fundação Astrojildo Pereira
(FAP), disse que a busca do partido é por reapresentar, no Brasil, um movimento
que já ocorre em outros lugares do mundo, como a Europa, de convergência entre
sociais-democratas, verdes e liberais progressistas. Uma agenda que alie
inclusão social, sustentabilidade e responsabilidade fiscal.
“O
Cidadania é necessário para levar esse conjunto de posicionamentos à frente de
forma mais consequente do que os partidos maiores. Isso situa o Cidadania num
campo que tradicionalmente chamamos de esquerda, mas uma esquerda renovada. A
pauta tradicional das esquerdas era equidade e inclusão social. A pauta
ampliada é equidade, inclusão social, sustentabilidade, responsabilidade
fiscal, cosmopolitismo e democracia. Uma esquerda democrática moderna, atual”,
sustentou.
Freire
lembrou ainda a importância histórica do partido, desde os tempos do PCB.
“Esse
partido não tem tendências ou bancadas e interesses por mais que sejam
legítimos. O que construímos aqui é o órgão máximo da permanência do partido,
entendendo as particularidades, os problemas dos estados e municípios. Mas um
órgão nacional, com pensamento nacional. Nunca tivemos grande expressão
numérica, mas sempre fomos um partido respeitado. Podem contar a história do
povo brasileiro, mas se não falarem de nós, não estarão contando a verdadeira
história do povo brasileiro, como disse Ferreira Gullar”, avaliou.
‘SUS da Educação’
traz nova esperança para resgatar ensino
O Globo
Pode ter efeito
revigorante o projeto aprovado por unanimidade no Senado que institui o Sistema
Nacional de Educação (SNE), apelidado “SUS da Educação”. A proposta, que ainda seguirá
para a Câmara, regulamenta a colaboração entre União, estados e municípios na
gestão do ensino. A exemplo da Saúde, o SNE terá uma comissão tripartite, com
representantes das três esferas do Executivo, que decidirá sobre avaliações,
parâmetros de qualidade, compras, material didático, carreira dos professores
etc.
À União, caberá
coordenar, oferecer apoio técnico e financeiro a estados e municípios, além de
gerir o sistema nacional de avaliações. A ideia é, sem desrespeitar a autonomia
dos demais entes, permitir que as principais políticas educacionais do país
possam ser discutidas em conjunto pelas três esferas da administração, como
ocorre no SUS.
A pandemia de
Covid-19 expôs bons e maus exemplos de ação coordenada. Não há dúvida de que o
SUS, com todas as suas limitações, inclusive orçamentárias, respondeu de modo
competente ao desafio imposto pela mais letal pandemia dos últimos cem anos. O
maior obstáculo não foi a centralização, mas a gestão errática do Ministério da
Saúde, que abriu mão de seu papel de coordenação da crise sanitária, em muitos
momentos chegando a boicotar o trabalho de governadores e prefeitos. Na
vacinação, a partir do momento em que houve imunizantes disponíveis, o esquema
funcionou. O governo federal comprou as vacinas, os estados distribuíram os
lotes aos municípios, e as prefeituras aplicaram as doses.