*Hannah Arendt (1906-1975), “A promessa da
política”, p. 256. Difel, Rio de Janeiro, 2008.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
segunda-feira, 18 de abril de 2022
Opinião do dia - Hannah Arendt: revolução e política
Marcus André Melo*: Polarização e falsas simetrias
Folha de S. Paulo
Divergências programáticas não importam
quando a polarização tem base afetiva
A polarização volta a ocupar lugar de
destaque no debate público, mas este tem sido marcado por um claro equívoco. A
polarização não se define por divergências programáticas —por dissenso em torno
de políticas públicas —e sim por intensa animosidade em relação aos rivais na
arena política. Ela não é fundamentalmente programática, mas afetiva.
Há um outro problema no debate: a suposição
de que as preferências políticas estejam distribuídas ao longo de uma única
dimensão, na qual se pode identificar posições extremas ou de centro. Falar
de "falsa
simetria", por exemplo, é ignorar que polarização e preferências de
políticas públicas são questões distintas. As evidências são robustas de que a
polarização atual nos EUA e em outros países tem se acentuado sem que a
divergência no eleitorado sobre políticas públicas tenha se intensificado. Há
casos em que o
contrário ocorreu.
Na realidade, as preferências são multidimensionais, e isso tem se exacerbado. Como caracterizar o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, que é radicalmente pró-mercado e ecofriendly; abertamente gay e a favor da imigração (o que é consistente com sua ascendência indiana). Ou seu partido, Fine Gael, que faz parte do EPP, grupo conservador do Parlamento Europeu do qual fazem parte o Partido Popular espanhol, Os Republicanos na França e a Forza Italia, o partido de Berlusconi? Não se trata de exemplo isolado, pelo contrário.
Carlos Pereira*: O enfarte das alternativas à polarização
O Estado de S. Paulo
Risco de eleger uma bancada menor de
deputados reduz incentivos de lançar candidato a presidente
O fundo eleitoral restringiu
o apetite dos partidos para lançar candidatos à Presidência. A despeito dos
valores vultosos (R$ 4,9 bilhões) reservados aos partidos, os recursos de
campanha para presidente, paradoxalmente, ficaram escassos.
O fundão tornou a campanha presidencial ainda mais cara. Antes, o partido que tinha um candidato à Presidência podia captar recursos de empresas. Agora não mais. Os partidos têm que disputar recursos com as outras candidaturas, inflacionando o jogo. Quem não tem candidato à Presidência tem uma clara vantagem.
Quanto mais recursos forem alocados para candidatos à Presidência, menos estarão disponíveis para outros cargos eletivos, especialmente para o Legislativo federal que, em última instância, é o que vai definir o quinhão de recursos a que cada partido terá direito no próximo ciclo. Esse talvez tenha sido o efeito perverso não antecipado do fundo público de campanha.
Cristiano Romero: A fragilidade da “Terceira Via”
Valor Econômico, 14.4.22
Aliança com PSDB sempre interessou a Lula
Tudo indica que, ao conseguir a proeza de
compor chapa com o ex-tucano Geraldo Alckmin, agora filiado ao PSB, o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha em mente cumprir três
objetivos, todos, evidentemente, destinados a tornar mais competitiva sua
candidatura à Presidência da República:
1. Unir, finalmente, as duas maiores forças
da social-democracia no Brasil, no momento em que a disputa de poder que
caracterizou a relação entre PT e PSDB, desde a eleição de 1994, perdeu o
sentido e, dos líderes que travaram essa batalha, apenas ele, Lula, tem neste
momento chances reais de voltar a subir a rampa do Palácio do Planalto;
2. Convencer as elites empresariais e financeiras de que, com Alckmin vice-presidente, ex-representante da ala mais conservadora do PSDB, seu possível terceiro mandato será mais parecido com o que foi o primeiro termo no cargo, entre 2003 e 2006, do que foi o pesadelo da gestão petista de Dilma Rousseff;
Bruno Carazza*: A disputa pelo Nordeste vermelho
Valor Econômico
Bolsonaro investe contra o domínio da
esquerda na região
O cantor Luiz Gonzaga foi uma figura
politicamente controversa. Um dos artistas mais populares do país ao longo de
seis décadas de carreira, ele emprestou seu prestígio para impulsionar a
popularidade de políticos como Getúlio Vargas, JK e Jânio Quadros (para quem
gravou um jingle de campanha, cujo slogan era “Depois de JK só serve JQ”).
Em declínio depois da explosão da bossa
nova, Gonzagão foi subserviente aos governos militares. No início dos anos
1980, porém, após a reconciliação com o filho Gonzaguinha, realizaram shows
Brasil afora pelo fim da ditadura e a anistia política. Aliás, pouca gente se
lembra, mas o atentado do Riocentro, ataque terrorista executado por setores do
Exército (que teve como um dos acusados pelo seu planejamento o general Newton
Cruz, falecido na última sexta-feira), aconteceu numa apresentação de dezenas
de artistas da MPB em homenagem justamente a Gonzagão.
Apesar da falta de coerência política, o Rei do Baião se manteve fiel ao longo de sua carreira ao povo do Nordeste, cantando também em forrós, xotes e xaxados a riqueza cultural e denunciando as agruras da vida na região.
Celso Rocha de Barros: Há cristãos de esquerda, bispo
Folha de S. Paulo
Quem diz que é impossível ser cristão de
esquerda é porque virou político de direita
Em janeiro deste ano, o jornal da Igreja
Universal do Reino de Deus publicou um artigo
defendendo que um cristão não pode ser de esquerda. Eu sou católico e de
esquerda. Não sei se Roma ou a Internacional Socialista protestariam muito se
eu fosse embora, mas continuo aqui.
Por isso, demonstro a seguir que o artigo
da Universal está errado.
O cristianismo não se adapta perfeitamente
a nenhum programa político e é parcialmente compatível com a maioria deles. A
questão de que partido político defende melhor os valores cristãos está sempre
em aberto, a resposta é quase sempre "depende do valor, depende da época",
e às vezes é "nenhum".
O artigo da Universal ataca a esquerda por apoiar ditaduras que perseguem cristãos, o que é correto. Mas não se pronuncia sobre o governo de Jair Bolsonaro, apoiado pela Universal, que é aliado da ditadura da Arábia Saudita. Bispo Macedo, conte pra gente, por que não há Igreja Universal em Riad?
Gustavo Loyola*: O desafio da inflação
Valor Econômico
Deixar a inflação correr solta não é uma
solução, até porque são justamente os mais pobres que pagam a conta do
descontrole inflacionário
Os mais recentes números divulgados da
inflação nas principais economias desenvolvidas trazem novos desafios à
economia global, ainda sofrendo os efeitos da “covid longa” e atingida mais
recentemente pelas consequências da invasão russa à Ucrânia. O risco de
estagflação voltou ao radar em muitos países, principalmente naqueles que podem
sofrer mais diretamente de uma possível disrupção do fornecimento de petróleo e
gás por parte da Rússia. Mesmo nos Estados Unidos, há analistas, como Larry
Summers, que estimam como elevadas as chances de recessão nos próximos dois
anos, a contar com a experiência histórica de situações em que o desemprego esteve
abaixo de 5% e a inflação acima de 4%.
Aqui no Brasil, os riscos não são distintos. As previsões de crescimento do PIB são no mínimo desencorajadoras e as expectativas de inflação têm sido continuadamente revisadas para cima, em razão dos números divulgados relativos aos três primeiros meses de 2022. O próprio Banco Central, nas palavras de seu presidente, foi surpreendido pela aceleração do IPCA em março, o pior resultado para o mês desde a implantação do Plano Real em 1994.
Ana Cristina Rosa: A Páscoa da sardinha
Folha de S. Paulo
Com o preço salgado do bacalhau, famílias
tiveram de se adaptar
Com um índice de inflação tão
galopante que conseguiu surpreender até o presidente do Banco Central, o país
viveu uma espécie de transmutação dos peixes nesta Semana Santa e o bacalhau
virou sardinha na mesa de muito brasileiro.
Com o quilo do pescado mais salgado do que
o habitual, para uma parte da população que desfruta do direito constitucional
à alimentação e têm comida na mesa todo dia o jeito foi adaptar a tradição
cristã herdada dos colonizadores portugueses. Assim, pratos à base de bacalhau,
típicos desta época, foram trocados por receitas com pescados menos nobres e
muito mais baratos.
Nesse páreo, a sardinha deu "de marinada". Velha conhecida e grande aliada de quem está acostumado a apertar o cinto e a fazer ginástica no mercado, o peixe estava entre os mais em conta. Não à toa foi um campeão de vendas nesse feriado.
Sergio Lamucci: O peso da inflação e do desemprego na eleição
Valor Econômico
Com a expectativa de recuo vagaroso da
inflação e do desemprego nos próximos meses, a percepção sobre a situação
econômica do país deve se manter negativa
O comportamento da inflação e a evolução do
mercado de trabalho deverão ter um grande peso na eleição deste ano, como
costuma ocorrer em todos os pleitos presidenciais. Com o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subindo mais de 11% em 12 meses e uma taxa de
desemprego acima de 11%, a economia é hoje o grande calcanhar de aquiles do
presidente Jair Bolsonaro, num cenário em que o pior da pandemia, tudo indica,
ficou para trás, deixando em segundo plano a gestão desastrosa da crise
sanitária pelo governo.
Para tentar contrabalançar o quadro negativo na economia, a administração de Bolsonaro aposta em medidas como o aumento do valor do Auxílio Brasil para R$ 400, a liberação de R$ 1 mil das contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), um pacote de crédito para a população de baixa e a antecipação do 13º para aposentados. São iniciativas que podem dar algum alívio, mas não devem ser suficientes para compensar a situação econômica delicada. A combinação de inflação alta e mercado de trabalho fraco tende a se manter ao longo do ano, afetando a popularidade de Bolsonaro. O IPCA deve fechar o ano em um dígito, mas ainda num nível alto, na casa de 7,5% a 8%, muito acima da meta perseguida pelo Banco Central em 2022, de 3,5%. O desemprego deve cair um pouco, mas tende a seguir acima de 10%.
Fernando Gabeira: Brasília está mais truculenta
O Globo
De novo em Brasília, pois fiz uma viagem
pelo Amazonas, e faltou ouvir os índios. Alguns líderes estão reunidos em
Brasília.
Esta passagem é diferente das outras.
Sempre falava com o fotógrafo Orlando Brito, ao chegar. Ele me mantinha
informado de tudo o que se passa por aqui.
A cidade para mim nunca mais será a mesma
sem Brito. Somos jornalistas de velha geração, dinossauros transitando pelas
quadras do plano-piloto.
Quando mudava o governo, vinha aqui fazer
matéria sobre a nova Corte, o grupo de vitoriosos que se instala em Brasília,
com seus costumes, preferências culinárias, suas estranhas figuras.
Brito era meu cicerone. Às vezes, me
transmitia a psicologia do presidente. Sensível, a cada manhã, intuía o humor
do homem ou da mulher mais poderosa do Brasil:
— O Bolsonaro está maluco. Usou o
helicóptero para ir do Alvorada ao Planalto.
Essas histórias, como aquela confissão de
Bolsonaro de que sua vida era uma desgraça, a nostalgia pelo caldo de cana—
tudo isso, soube antes de sair nos jornais.
Ainda tenho uma dezena de amigos no Congresso. Mas o clima é desolador. Na verdade, o poder tenta resolver as eleições de Brasília. A união do Centrão com Bolsonaro é poderosa porque canaliza muito dinheiro para que continuem mandando no país. E não é só o auxílio emergencial, mas sobretudo o orçamento secreto.
Maria Isabel Couto*: Risco de a bala comer solta
O Globo
Cerca de três armas de fogo de caçadores,
atiradores e colecionadores (CACs) se perdem por dia no Brasil. Entre elas
estão fuzis, que podem disparar até 600 balas por minuto e têm um alcance de
800 metros. São centenas de armas que vão para a rua sem controle e que têm o
poder de destruir famílias.
Esse risco pode ficar ainda maior. Está na
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado o Projeto de Lei 3.723/2019,
o PL da Bala Solta. O projeto, se aprovado, ampliará a quantidade de armas
permitidas para CACs, facilitará o porte para milhares de pessoas e acabará com
as marcações nos projéteis disparados por pistolas, fuzis e outros armamentos.
Atualmente, essas marcações são essenciais para fiscalizar o desvio de munições
e elucidar homicídios.
Tomemos os exemplos dos assassinatos de Patrícia Acioli, em 2011, Marielle Franco e Anderson Gomes, em 2018. Nesses crimes, o rastreamento da munição foi essencial. No caso Marielle, cuja investigação, vergonhosamente, ainda não foi concluída, policiais descobriram que as balas inicialmente pertenciam a um lote da Polícia Federal e foram parar nas mãos de assassinos de aluguel. Os mandantes ainda não foram identificados, mas os responsáveis pelos tiros, sim. As balas que mataram Patrícia levaram a investigação até um batalhão de Polícia Militar para onde aquele lote de munição havia sido distribuído legalmente. Assim, descobriu-se que o mentor do crime era um comandante da PM, que foi condenado e preso.
Demétrio Magnoli: Otan é álibi na invasão à Ucrânia
O Globo
‘O
Ocidente, e especialmente os EUA, é o principal responsável pela crise que
começou em fevereiro de 2014’, escreveu John Mearsheimer na revista The
Economist, em 19 de março, referindo-se à invasão da Ucrânia pela Rússia.
Mearsheimer, um cientista político da escola realista, reproduz a lenda de que
a guerra de agressão deve ser interpretada como operação defensiva russa diante
da expansão da Otan. É o álibi central do Kremlin, reproduzido mundo afora por
correntes da esquerda não reformada e da direita nacionalista.
O “fevereiro de 2014” é o momento da Euromaidan, o levante ucraniano que derrubou o governo cleptocrático pró-russo de Viktor Yanukovich. Foi seguido, imediatamente, pela operação militar russa de anexação da Crimeia e implantação de enclaves separatistas no Donbass. Mearsheimer classifica a revolução popular como “golpe”, quase responsabilizando o Ocidente pelo que fizeram milhões de ucranianos comuns. Aí, sem tirar nem pôr, faz eco ao discurso de Vladimir Putin.
Marcello Serpa: Tik Tok contra bombas e tanques na Ucrânia
Embora muita gente ainda confunda as duas,
publicidade e propaganda são coisas bem diferentes. Enquanto a publicidade diz
o que as pessoas devem comprar, a propaganda diz o que as pessoas devem pensar.
Numa guerra, a segunda se torna uma arma tão ou mais poderosa que tanques,
aviões e soldados. Nada é mais importante do que uniformizar o pensamento de
todo o país em torno de um objetivo comum. A propaganda não permite versões, se
sobrepõe à verdade criando seus próprios fatos, se autojustifica glorificando
seus atos, enquanto tenta desmoralizar o inimigo e quebrar a sua vontade de
continuar lutando.
A Rússia, nos primeiros dias da invasão, fechou todos os meios de comunicação independentes, expulsou a mídia internacional, decretou uma pena de 15 anos de prisão para quem se desviasse da narrativa oficial. Abusou da mentira usando a mordaça e o medo como instrumentos de convencimento da população. Mas, para surpresa do Ocidente, as sanções impostas por “todos que querem destruir a Rússia” ajudaram a aprovação interna de Putin a bater os 81,6%.
Mirtes Cordeiro*: “PEC do Perdão” é conversa para boi dormir
A Constituição não pode ser emendada por
qualquer coisa, sobretudo quando se trata de suprimir o dever de aplicação de
recursos nela consignados ao ensino básico sob responsabilidade das escolas
públicas, ainda mais em momento que apresentam índices de aprendizagem tão
baixos.
No momento em que alunos das escolas
públicas do ensino básico mais precisam, os recursos são retirados.
Uma Proposta de Emenda à Constituição
eximindo os prefeitos e governadores da responsabilidade pela não aplicação do
recurso mínimo constitucional de 25% das receitas em Educação nos anos de 2020
e 2021, ou seja, durante os anos de maior intensidade da pandemia, foi aprovada
pela Câmara já em segunda votação, por 451 parlamentares, em 11 abril. A
chamada “PEC do Perdão” agora vai à promulgação.
Apenas 14 parlamentares presentes votaram
contra.
Segundo reportagem da Folha de São Paulo, os motivos apontados foram redução de despesas de manutenção e desenvolvimento do ensino devido à suspensão das aulas presenciais – como transporte escolar – e aumento de outras, como distribuição de alimentos às famílias.
O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões
Editoriais
STF precisa manter cabeça fria ao julgar
Daniel Silveira
O Globo
São desprezíveis os sucessivos ataques do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) ao Supremo Tribunal Federal (STF) e às instituições da democracia brasileira. Não é à toa que sua prisão no ano passado contou com apoio maciço quando submetida ao plenário da Câmara (364 votos a 130), nem que ele tenha de enfrentar nesta semana um julgamento no STF, sob a acusação de ter agredido e ameaçado ministros da Corte, além de ter estimulado violência contra o Judiciário.
Silveira se comporta como o valentão
ginasiano que bufa, grita e esperneia, incapaz de arcar com a responsabilidade
dos próprios atos. Depois de solto, descumpriu várias ordens judiciais que
limitavam suas ações e, instado por isso a voltar a usar tornozeleira
eletrônica, encenou uma pantomima ridícula dormindo em seu gabinete da Câmara
para fugir da obrigação.
Os últimos capítulos da rebeldia incluíram o pedido de seus advogados para que sejam considerados suspeitos para julgá-lo todos os juízes do Supremo com exceção dos indicados pelo presidente Jair Bolsonaro e a tentativa descabida de levar seu caso para a Justiça Militar. Tudo isso evidentemente deve ser consignado ao escaninho das aberrações comuns no bolsonarismo.
Poesia | Carlos Drummond de Andrade: Mãos Dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma
história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.