quarta-feira, 25 de junho de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

Hoje, a vaia não é só a Dilma, mas ao governo do PT e ao esgotamento de um modelo. E isso atinge Lula também. Ela pode ser muito incompetente, mas a responsabilidade por grande parte dos problemas que tem enfrentado é de Lula.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS, em entrevista em S. Paulo, 23 de junho de 2014.

Além do Rio, Aécio avança sobre o PMDB no Nordeste

Raymundo Costa – Valor Econômico

BRASÍLIA - Depois de fechar a chapa "Aezão" no Rio de Janeiro, o candidato do PSDB a presidente, senador Aécio Neves, está com uma aliança com o PMDB do Ceará praticamente acertada. O anúncio pode ser feito ainda hoje. O candidato ao governo será o líder pemedebista no Senado, Eunício Oliveira. Para o Senado será indicado o ex-senador Tasso Jereissati. O Democratas (DEM) também poderá fazer parte da composição.

Com o acerto do Ceará, chega a quatro o número de seções do PMDB que apoiarão o candidato do PSDB a presidente, muito embora o partido tenha uma aliança formal com a presidente Dilma Rousseff. Ontem Aécio fechou também com o PMDB do Piauí, onde o governador Antônio José Moraes Souza disputará a reeleição tendo como candidato ao Senado o ex-prefeito de Teresina Silvio Mendes (PSDB).

A primeira seção do PMDB a aderir à candidatura de Aécio foi a da Bahia, quarto maior colégio eleitoral do país, numa aliança que reúne DEM, PSDB e PMDB. O candidato ao Palácio de Ondina será o ex-governador Paulo Souto, que atualmente lidera as pesquisas, e o pemedebista Geddel Vieira Lima será o candidato ao Senado. No último fim de semana foi anunciado o acordo no Rio de Janeiro, o terceiro maior colégio, como governador Luiz Fernando Pezão como candidato à reeleição e o ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM) para o Senado.

O vice-presidente da República, Michel Temer, deve discutir a questão do PMDB com os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (relações Institucionais), em reunião que estava prevista para ontem, mas ainda não havia sido realizada até o fechamento desta edição. Em conversas com pemedebistas, Temer disse que o "que era possível fazer foi feito". Em todos os Estados em que o PMDB está se decidindo por Aécio Neves a origem da dissidência foram conflitos do PT. Há uma quinta seção dissidente: Pernambuco, que decidiu apoiar o candidato do PSB a presidente, Eduardo Campos.

O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, ficou virtualmente isolado no Ceará, com a decisão do governador Cid Gomes lançar um candidato próprio a sua sucessão. Até mesmo o PSD e o PRB, que estavam comprometidos com sua candidatura, foram cooptados pelo governador. A presidente Dilma em todos os momentos apoiou a decisão de Cid Gomes, muito embora o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha prometido ao PMDB tentar uma aliança com o Pros e o PT para o lançamento do nome de Eunício, que lidera as pesquisas no Estado.

O PT do Ceará também se dividiu: o deputado José Guimarães deverá ser o candidato ao Senado na chapa formada pelo governador, mas o senador José Pimentel e a ex-prefeita Luizianne Lins decidiram apoiar o senador pemedebista. Dilma é grata ao governador do Ceará por ele ter rachado o PSB de Eduardo Campos no Nordeste e, depois, assegurado o apoio do Pros à sua candidatura. O Ceará tem pouco mais de 6 milhões de eleitores.

A adesão do PMDB à candidatura de Aécio também teve repercussão no partido e pode até prejudicar o andamento das obras para as Olimpíadas 2016. O prefeito Eduardo Paes não só ficou irritado com a recepção do ex-prefeito Cesar Maia como candidato ao Senado, como também teme sobretudo pelo atraso das obras necessárias à despoluição da Baia de Guanabara.

O governador Pezão, recentemente, enviou um ofício ao Ministério dos Esportes solicitando R$ 500 milhões para a construção de uma unidade de tratamento de esgoto. Mas a liberação de meio bilhão de reais requer mais que um ofício, principalmente um entendimento entre o governo do Estado e o governo federal, diálogo improvável à esta altura. Pezão criou um fato para ter resposta à acusação de atraso nas obras, na campanha eleitoral, mas dificilmente terá o dinheiro sem uma boa conversa com o governo federal.

A presidente Dilma também enfrenta problemas para fechar a aliança com o PR, que marcou para o dia 30 de junho a reunião da Executiva Nacional que decidirá sobre a aliança. Ontem, um grupo de deputados e senadores esteve com os ministros Mercadante e Berzoini para pedir a demissão do ministro César Borges (Transportes) e a nomeação de um deputado para o cargo. Em nota oficial o PR negou o teor da conversa, confirmada, no entanto, por fontes credenciadas.

Também ontem o senador Aécio Neves conversou com o ex-senador Tasso Jereissati sobre a composição no Ceará. Tasso ainda relutava em disputar o Senado, mas já disse que fará o que Aécio quiser. Na próxima segunda-feira, em reunião da Executiva Nacional do PSDB, o candidato anunciará o nome de seu companheiro de chapa. Tasso era um dos nomes cotados, mas com o acordo do Ceará em vias de ser fechado, as possibilidades mencionadas são o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP) e a ex-ministra do STF Ellen Gracie (RJ), numa chapa puro sangue.

PR entrega Transportes e ameaça apoiar Aécio

• PR entrega Ministério dos Transportes e justifica que ministro não representa o partido

• Presidente da legenda conversou com ministros da Casa Civil e Relações Institucionais; PR pressiona governo a trocar César Borges

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - O PR entregou, nesta terça-feira, o Ministério dos Transportes, afirmando que o atual titular, César Borges, não representa o partido. O presidente do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), formalizou a insatisfação em conversa por telefone com o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil). O PR afirmou que não comenta decisões do tipo, que são prerrogativa da Presidência da República.

"A assessoria de imprensa do PR esclarece que a legenda não comenta decisões sobre nomeação ou demissão de ministros. Para a direção da legenda, o assunto é privativo da Presidência da República ou de seu titular correspondente. Portanto, a legenda não tem comentários a oferecer sobre supostos rumores que envolvem a titularidade do Ministério dos Transportes”, afirmou o partido.

O partido, que decide na próxima segunda-feira, em reunião da Executiva Nacional, o caminho a tomar nas eleições presidenciais, pressiona o governo a substituir Borges, considerado da cota pessoal da presidente Dilma Rousseff. O PR ameaça apoiar o candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG).

Como aconteceu no PMDB, há divisão no PR, com muitos defendendo que o partido feche com o presidenciável tucano Aécio Neves. O PR, que já conseguiu adiar a decisão na convenção do último sábado, delegando à Executiva a palavra final, tende a garantir apoio à presidente Dilma Rousseff, segundo integrantes da legenda.

O secretário-geral do partido, senador Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), trabalha para antecipar a decisão da Executiva, marcada para o dia 30, e quer que o partido feche com Dilma. Ele está confiante em um resultado positivo, principalmente tendo em conta que em vários estados, entre eles Rio Grande do Sul e São Paulo, o PR está coligado com o PT.

Embora o senador Antonio Carlos negue, integrantes do PR dão como certa a troca do César Borges pelo ex-ministro e técnico Paulo Sérgio Passos, e também a saída do diretor-geral do Dnit, Jorge Fraxe. No sábado, a saída dos dois foi um dos principais pontos da conversa na convenção. No partido, há quem ache que essa troca no Ministério dos Transportes seria trocar seis por meia-dúzia, já que Passos ocupou a pasta na cota pessoal de Dilma e é técnico. Ou seja, não resolveria o problema porque não seria alguém ligado ao partido.

Governador do Piauí rompe com Dilma e fecha com Aécio

Luciano Coelho - Agência Estado

O governador do Piauí, Antônio José Moraes Souza, conhecido como Zé Filho (PMDB), reuniu os representantes de 18 partidos que dão sustentação política a seu governo para lançar a chapa de reeleição ao lado do ex-prefeito de Teresina Silvio Mendes (PSDB), candidato a vice-governador, e do ex-governador Wilson Martins (PSB), candidato a senador. Zé Filho confirmou o rompimento com o governo Dilma Rousseff (PT) e declarou apoio à candidatura do presidenciável tucano Aécio Neves.

Na reunião, que aconteceu nesta terça-feira, 24, na sede do PMDB, foi anunciada a perspectiva deste grupo político de eleger 20 dos 30 deputados estaduais e sete dos dez deputados federais do Estado além dos candidatos ao governo do Estado e ao Senado. Zé Filho disse que ainda trabalha para aproximar mais dois partidos desta coligação. O grupo tira o palanque de Dilma e abre para Aécio, deixando espaço ainda para o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). Tanto o PSDB, quanto o PSB confirmaram a presença dos dois presidenciáveis na convenção do grupo, que será feita de forma conjunta na sexta-feira (27), em Teresina.

Nos discursos, durante a reunião para definir detalhes da convenção e da coligação proporcional entre os partidos, Zé Filho afirmou que, com a união dessas legendas, não há como perder as eleições - opinião compartilhada por Wilson Martins. Ambos concorrem contra o senador petista Wellington Dias, que disputa o governo do Estado, tendo a deputada estadual do PP, Margarete Coelho, como candidata a vice-governadora e o ex-prefeito de Teresina Elmano Ferrer (PTB), como candidato a senador.

"O mais difícil foi conseguir a unidade da base. Mas agora temos 18 partidos unidos em prol da campanha. É uma coligação forte, que tem como base o povo. Vamos fazer todo o trabalho necessário para ganhar a eleição e continuar o trabalho que foi feito pelo Piauí. Nós vamos ganhar. Vamos entrar na casa das pessoas, mostrar o que fizemos e como vamos fazer muito mais", afirmou o governador, que substituiu o deputado federal Marcelo Castro (PMDB), na candidatura ao governo do Estado. Os partidos que confirmaram aliança são: PMDB, PSDB, PSB, PRB, PSD, PSL, PTN, PPS, PPL, DEM, PSDC, PDT, PMN, PTC, PCdoB, PTdoB, PV e PEN.

Aécio e Campos participarão da mesma convenção no Piauí

Luciano Coelho - Agência Estado

Os dois presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) vão participar da convenção conjunta do PMDB, PSDB e PSB em Teresina, na sexta, 27, no Theresina Hall. O evento confirma a chapa encabeçada pelo governador Zé Filho (PMDB), tendo Silvio Mendes (PSDB) como candidato a vice-governador e Wilson Martins (PSB) candidato ao Senado.

Silvio Mendes confirmou a presença de Aécio e Wilson Martins confirmou a presença de Eduardo Campos. Sílvio afirmou que os dois candidatos têm uma convivência muito boa e se entendem bem. "Não tem problemas entre eles", assegurou.

Segundo Wilson Martins, Aécio abre o evento pela manhã e Eduardo Campos encerra à tarde. "Será a maior convenção já vista no Piauí, que irá contribuir de forma decisiva para uma chapa de peso, consolidada", disse Wilson.

Ele, durante a reunião na sede do PMDB, lembrou a dificuldade de unir a base, principalmente depois da saída do deputado federal Marcelo Castro (PMDB) da pré-candidatura a governador. Mas Wilson afirmou que são 16 partidos com ideologias diferentes, mas que vão trabalhar em prol de um objetivo comum.

"O que a gente não poderia era deixar que na primeira crise fosse desarranjado tudo o que fizemos com os partidos. Isso cabe ao PMDB. Não podia era mudar o candidato e desmantelar tudo", completou Wilson.

Coordenador de Campos descarta palanque com PSDB em MG

Daiene Cardoso - Agência Estado

O coordenador da campanha de Eduardo Campos à Presidência da República, Carlos Siqueira, reafirmou na tarde desta terça-feira, 24, a intenção do PSB de lançar candidatura própria ao governo de Minas Gerais. "Palanque do PSDB nem pensar", avisou o coordenador. De acordo com Siqueira, o PSB mineiro discute agora a composição da chapa, que deve ser encabeçada pelo deputado federal e presidente estadual do partido, Júlio Delgado. A candidatura deve ser apresentada até o dia 30, mas Siqueira não descarta a possibilidade de anunciar a chapa antes desta data.

A definição do palanque próprio em Minas Gerais ocorre após o PSB paulista fechar apoio a candidatura à reeleição do tucano Geraldo Alckmin em São Paulo. No Rio de Janeiro, a sigla se aliou ao PT do senador Lindbergh Farias, candidato ao Palácio Guanabara. No último domingo (22), a Rede Sustentabilidade, da ex-senadora e vice de chapa de Campos, Marina Silva, divulgou nota ressaltando o desejo de ter em Minas Gerais uma candidatura que expresse o projeto nacional representando por Campos e Marina. A coordenação da campanha de Campos se reúne nesta tarde em Brasília para discutir os últimos detalhes da convenção nacional do partido, marcada para o próximo sábado, dia 28. Na ocasião, serão apresentados o jingle e o slogan da campanha.

Candidatura própria ao governo de Minas atormenta partidários do PSB

Iracema Amaral - Estado de Minas

Depois de uma convenção tumultuada, no último sábado (21), o PSB em Minas continua indefinido sobre a participação do partido na disputa eleitoral deste ano. Na manhã desta terça-feira, o presidente da legenda no Estado, deputado federal Júlio Delgado, confirmou uma reunião da Executiva, na tarde de hoje, para resolver o imbróglio. Porém, ele adiantou que o encontro “não será deliberativo”. Ou seja, conforme Delgado, as lideranças da agremiação devem continuar esticando a corda da indecisão entre a candidatura própria ao governo de Minas ou apoiar o candidato Pimenta da Veiga (PSDB). Além disso, insistiu Delgado, existem outras alternativas para o partido em Minas. Mas ele não quis mencionar nenhuma delas.

Está em jogo nessa definição do PSB ajudar ou não, em Minas, a candidatura do pré-candidato à Presidência da República Eduardo Campos, dando a ele um palanque no Estado. Delgado disse que até o próximo sábado (28) essa questão estará definida. A data bate com o dia marcado para a a convenção nacional do PSB para homologar a candidatura de Campos a presidente e de Marina Silva a vice-presidente.

Racha
O arrastar dos capítulos dessa novela partidária tem a ver com a mistura em Minas entre adeptos da Rede Sustentabilidade – partido que Marina Silva não conseguiu viabilizar na Justiça Eleitoral-, e adeptos do PSB. A legenda tem apoiado o governo dos tucanos em Minas. Marina, por sua vez, não perde a chance de reiterar rejeição a apoiar o PSDB na disputa nos estados. Tese que ela não conseguiu emplacar até aqui. Em Minas, por exemplo, o ambientalista Apolo Heringer, oriundo da Rede, chegou a contar com o apoio explícito de Marina. No entanto, acabou por retirar a candidatura antes de ir à convenção. Ele estava diante do obstáculo da rejeição de lideranças do PSB. Nessa disputa, Eduardo Campos tem dito que a definição dos rumos do partido nos estados cabe às respectivas executivas estaduais.

Apesar de se apresentar como pré-candidato, Júlio Delgado não deixou de comemorar, no dia da convenção estadual, o adiamento do rumo do PSB nas eleições em Minas. “A confirmação da candidatura própria inviabilizaria algumas coligações proporcionais e majoritárias. Temos responsabilidade com o partido nacionalmente”, disse Delgado, no sábado.

“Nada impede que sejamos candidatos numa aliança a senador pelo PSB. Isso garantiria palanque (para Eduardo Campos)? Quem sabe apresentamos o nome do meu pai, Tarcísio Delgado (ex-prefeito de Juiz de Fora)”, completou Delgado, também no sábado.

Aliado
Aliado histórico do senador Aécio Neves, candidato à presidente da República (PSDB), Júlio Delgado também tem reiterado que uma vaga à segunda suplência do Senado junto dos tucanos não interessa aos socialistas. Empenhado em aumentar as bancadas do PSB na Assembleia Legislativa e na Câmara, ele destacou, nesta terça-feira, que uma candidatura própria “lançada de forma irresponsável” pode comprometer as candidaturas proporcionais (deputados estaduais e federais).

PSB se prepara para lançar Eduardo Campos

• Com discurso de mudança, PSB lança Campos ao Planalto

- Agência Estado

Com o slogan de campanha "Coragem para mudar", o PSB lançará no próximo sábado a candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República. Com a presença de aproximadamente 1,2 mil militantes em Brasília, Campos e sua vice, a ex-senadora Marina Silva, farão discursos com um enfoque: a mudança. "Os discursos terão o tom da mudança, de um partido de oposição que quer mudar (o País)", destacou o coordenador da campanha, Carlos Siqueira.

A palavra de ordem, segundo o coordenador, é assumir um discurso forte de oposição ao governo Dilma Rousseff, ressaltando que as mudanças dos últimos anos foram insuficientes para o País continuar crescendo. "Será um tom claramente oposicionista", reforçou Siqueira.

No entanto, Campos evitará em seu discurso o confronto pessoal, principalmente com o ex-aliado e ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Tem que dizer o que foi feito (nos últimos anos) e o que ainda pode ser feito. Isso é mais forte do que falar em pessoas", afirmou o coordenador.

A cúpula da campanha se reuniu nesta tarde na capital federal para fazer os últimos acertos da convenção. Em dia de jogo da seleção brasileira, ficou acertado que o evento de lançamento será curto, com discursos apenas dos representantes dos partidos aliados, do candidato e de sua vice.

Além do slogan, será apresentado um filme sobre a trajetória da candidatura e o jingle oficial da campanha que, segundo os pessebistas, é de fácil memorização. "É um jingle que tem boa pegada, é fácil de cantar", resumiu Siqueira.

Com apoio do Planalto, PROS se une a Garotinho no Rio

• Partido deve dar mais 40 segundos de tempo de TV para Garotinho, e indica o candidato à vaga do Senado, sem nome definido

Isabel Braga e Guilherme Amado – O Globo

BRASÍLIA e RIO — Com a ajuda do Palácio do Planalto, o ex-governador e deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) conseguiu garantir, na noite desta terça, que o PROS se alie a ele na disputa ao governo do Rio de Janeiro. A confirmação da aliança PR-PROS foi feita pelo presidente do PROS-RJ, deputado Hugo Leal, e rompe o isolamento que vinha marcando o candidato do PR, que lidera as pesquisas de intenção de voto mais recentes. A tendência é que o ex-governador ganhe com isso quase 40 segundos no programa de rádio e TV. Na luta pelo apoio do PROS, quem perde é o candidato petista ao governo do Rio, o senador Lindbergh Farias, que também negociava com a legenda, foi à convenção do partido ontem, mas acabou preterido.

A convenção do PROS no Rio está marcada para esta quinta-feira. O presidente da legenda, Eurípedes Júnior, anunciou que o acordo fechado é que o PROS indicará o candidato à vaga do Senado. O nome não está definido.

— Pelo acordo, vamos indicar a vaga ao Senado e o nome será decidido até a convenção do PR no Rio, no próximo dia 29 — disse Eurípedes.

O vice na chapa de Garotinho será do próprio PR ou de outro partido que esteja na aliança.

O principal interesse do Planalto é garantir o apoio nacional do PR à presidente Dilma Rousseff. A sigla delegou à Executiva nacional a decisão de se coligar ou não com a presidente, em anúncio marcado para ser feito no próximo dia 30. Ontem, em reunião no Planalto, segundo interlocutores de Garotinho, os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) disseram que trabalhariam para que o PROS se coligasse ao PR no Rio. O senador e secretário-geral do PR, Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP), também participou da conversa de Garotinho com os ministros.

Até a semana passada, o PROS tinha a candidatura própria do deputado Miro Teixeira como alternativa principal para o governo, dando suporte no estado ao candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos. A dificuldade de montar uma chapa competitiva e a crise interna na aliança entre PROS e PSB acabou levando Miro a renunciar à disputa.

A maior preocupação dos dirigentes do PROS era com Miro Teixeira, para quem seria menos traumática a aliança com o PT de Lindbergh. Miro afirmou que seguirá a orientação do partido. Ligado à Marina Silva, ele também apoia a candidatura de Romário (PSB-RJ) ao Senado.

— O PROS é um partido que está começando, precisa crescer. Demos autonomia a cada estado, mas temos que ver o lado do Miro porque ele ficou angustiado com isso — disse Ciro Gomes.

Na campanha do candidato do PT ao governo do Rio, a informação de que o Planalto pressionou para que o PROS fechasse com Garotinho causou irritação. Lindbergh vinha conversando com Hugo Leal e Miro. Chegou a oferecer a vaga de vice a Miro.

— A Dilma não ajudou o Lindbergh em nada. Agora, atrapalhar assim, já é brincadeira — criticou um dos integrantes da campanha do petista Lindebergh.

Movimentos de PT e PMDB loteiam Baixada, em apoio a Dilma e Aécio

• Peemedebistas vão apresentar tucano durante evento em Queimados

Juliana Castro e Marcelo Remígio – O Globo

RIO - Colégio eleitoral que reúne aproximadamente 2,7 milhões de eleitores, o segundo mais importante do estado, a Baixada Fluminense chega às vésperas do início da campanha presidencial loteada, com a disputa polarizada entre PT e PSDB. Dos 13 municípios, pelo menos oito têm prefeitos fechados com o movimento "Aezão", formado por dissidentes do PMDB que defendem o nome do candidato tucano a presidente, Aécio Neves. Já o "Dilmão", lançado por petistas e aliados em contraponto ao grupo do PMDB, já reúne cinco prefeitos - dos quais, três governam as maiores cidades em população: Duque de Caxias, Nova Iguaçu e São João de Meriti.

Somados, os municípios com prefeitos que aderiram ao "Dilmão" representam cerca de 1,6 milhão de eleitores. Já os municípios controlados pelo "Aezão" têm, juntos, 1,1 milhão. Até agora, nenhum prefeito da Baixada declarou apoio ao candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos.

Entre os prefeitos da Baixada que aderiram ao "Aezão" estão Max Lemos (PMDB), de Queimados, e Alessandro Calazans (PMN), de Nilópolis, outros dois colégios eleitorais importantes da região. O primeiro evento de Aécio na Baixada será em Queimados, esta semana.

Integrante da coordenação de campanha de Pezão na Baixada Fluminense, o prefeito de Nova Iguaçu, Nelson Bornier (PMDB), é um dos que defendem o voto em Dilma. No entanto, a decisão está mais atrelada a acordos regionais do que à fidelidade ao acordo nacional entre PT e PMDB:

- Meu compromisso é com Pezão e, neste momento, ele é Dilma, posição adotada pela cúpula do partido - afirma Bornier, que alerta para o crescimento de adesões de líderes políticos e comunitários ao movimento "Aezão".

À frente da pré-campanha de Dilma na Baixada, o prefeito de Duque de Caxias, Alexandre Cardoso (sem partido), tenta reverter a expansão do "Aezão" e o assédio de peemedebistas aecistas a prefeitos, deputados e líderes comunitários. Ele busca novas adesões para o "Dilmão" e, para isso, prepara um documento com sugestões para o programa de governo da presidente Dilma, como forma de firmar um compromisso de investimentos na região e atrair mais adesões para o grupo.

Segundo Cardoso, o movimento de apoio à presidente já foi abraçado pelo prefeito do Rio, Eduardo Paes, e pelo presidente do PDT, Carlos Lupi. Ambos ficaram descontentes com a entrada do DEM na coligação de Pezão, abrindo as portas do palanque do PMDB para Aécio. Em troca, o DEM recebeu a vaga para o Senado, a ser ocupada pelo ex-prefeito do Rio e vereador Cesar Maia, desafeto de Eduardo Paes e Carlos Lupi.

O prefeito de Duque de Caxias afirma que deputados e prefeitos estão ajudando na elaboração das sugestões para Dilma. Cardoso tem sido um dos maiores críticos do "Aezão":

- O "Dilmão" não precisa marcar ato (em referência ao almoço de lançamento do "Aezão") porque o "Dilmão" tem projeto. Tem gente que precisa marcar, nós apresentamos atos concretos - afirma Cardoso, que deixou o PSB depois de declarar que votaria em Dilma e não em Eduardo Campos.

Desembarque da nau governista

Julia Duailibi – O Estado de S. Paulo

Enquanto a Copa Mundo serve de aliada da presidente Dilma Rousseff (PT) nas eleições de outubro, partidos habitués da nau governista infligem as maiores baixas à pré-campanha da petista ao migrarem para o barco da oposição. O PT, em vez de ajudar a estancar a sangria entre as legendas aliadas, coloca mais lenha na fogueira.

Sem maiores constrangimentos, o PMDB, do candidato a vice-presidente na chapa de Dilma, Michel Temer, resolveu ceder palanque para o tucano Aécio Neves no Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral do País. No Piauí, o partido foi além. Deu ao tucano Silvio Mendes a candidatura de vice-governador na chapa à reeleição de Zé Filho (PMDB). Selou, assim, o rompimento com a candidatura da presidente e abriu espaço para Aécio no Estado.

São baixas pontuais se comparadas ao estrago do PTB, que depois de anunciar apoio a Dilma pulou para a barca tucana. Agora, Aécio tenta repetir o feito e mira o PP. Próximo do senador Ciro Nogueira (PI), presidente do partido, ele já tem o apoio de importantes quadros do PP, como o governador de Minas, Alberto Pinto Coelho, e a candidata a governadora no Rio Grande do Sul, senadora Ana Amélia, além do senador Francisco Dornelles (RJ), seu tio.

Aécio trabalha pela neutralidade do PP, que também já anunciou apoio a Dilma, mas mantém conversas com o tucano nos bastidores. O PSD, outro que entrou para o radar do PSDB, deve mesmo manter o acordo com a presidente. O ex-prefeito Gilberto Kassab conversou com Dilma na semana passada para reiterar seu apoio à reeleição, e a presidente deve ir à convenção do partido nesta quarta-feira em Brasília.

Fidelidade não é algo típico entre os políticos brasileiros, e a traição corre mesmo solta nas eleições. Partidos tendem a buscar novos posicionamentos quando avaliam que o vento passou a soprar para outro lado ou quando recebem uma proposta de composição de chapa mais atraente no campo adversário – isso sem falar nos argumentos não republicanos que às vezes são colocados na mesa de discussão.

Mas não dá para ignorar que o PT manteve uma postura beligerante com aliados, basta ver a negociação em alguns Estados, como Rio e Ceará. O discurso do partido, que agora defende uma campanha mais à esquerda e voltada para a militância, não ajuda. Acena para o público interno num momento que tinha de somar esforços.

Mais valeria ao PT ouvir o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que colocou o dedo na ferida. Nesta semana, ele disse que o PT erra no seu diagnóstico sobre a insatisfação da população com o governo e que alimenta a ilusão de que o povo pensa que está tudo bem.

O mesmo raciocínio deveria ser usado na relação com aliados. Algo não vai bem. Dilma terá que mudar o diagnóstico – e portanto o remédio – nas alianças se quiser evitar novas baixas e manter no seu barco o que sobrou: PR, PCdoB, Pros, PSD e, por enquanto, PP.

O “criador” Lula atropela a “criatura” Dilma e adianta anúncio de programa científico

• Ex-presidente fala em público sobre projeto de investimento em pesquisa cujo lançamento oficial será feito hoje por Dilma

Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

Em uma palestra para empresários na manhã de ontem em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atropelou a programação do Palácio do Planalto e adiantou o anúncio do programa Plataformas do Conhecimento, previsto para ser feito apenas hoje, em cerimônia em Brasília, pela sua sucessora e afilhada política, Dilma Rousseff.

Além de "furar" o anúncio de Dilma, Lula colocou à disposição dos empresários que participaram da palestra o sociólogo Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e autor do projeto. "Se vocês quiserem falar com alguém do governo, essa moça que está do seu lado, a Clara Ant, pode lhe dar o telefone do companheiro que é o diretor do Finep, o Glauco Arbix, que é o cara que está cuidando desse programa de ciência e tecnologia. É um programa, me parece, que para 20 anos", disse Lula no evento que reuniu 210 empresários, em grande parte representantes no Brasil de companhias europeias. Militante histórica do PT, Clara Ant é diretora do Instituto Lula e responsável pela agenda do ex-presidente desde a campanha eleitoral de 2002.

Investimentos. O programa Plataformas do Conhecimento, que Dilma lançará hoje, em Brasília, prevê aumentar de R$ 6 bilhões para R$ 24 bilhões os investimentos em pesquisa ligada ao aumento de produtividade nos próximos dez anos, por meio da Finep. A assessoria de imprensa do órgão não está autorizada a fornecer informações sobre o projeto, mas, segundo Lula, a ideia é investir em áreas em que o País já tem experiências positivas, como agricultura, pecuária e aeronáutica.

Amanhã, Dilma estará na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em São Paulo, onde também deve explorar o lançamento das plataformas.

Economia. A exemplo de outras palestras que tem feito para empresários, Lula enumerou resultados positivos da economia para tentar dar mais credibilidade à política econômica de sua sucessora, que tem sido questionada por setores importantes do empresariado.

"Não existe mágica em política econômica. A palavra-chave é credibilidade, e significa confiança", disse o ex-presidente.

Ao fim da palestra, Lula chegou a lamentar a ausência de Dilma Rousseff e o fato de não poder assumir compromissos em nome do governo. "É uma pena não ser a presidenta Dilma falando aqui no meu lugar, porque ela pode assumir compromissos que eu não posso."

Copa do Mundo. Em meio a estratégias políticas e de propaganda para reverter o "mau humor" de setores do eleitorado em relação à presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem que o Brasil "precisa" ganhar a Copa do Mundo.

"Nós vamos ganhar este caneco porque o Brasil está precisando", disse Lula em resposta a uma pergunta do empresário Josué Gomes da Silva, filho do ex-vice-presidente José Alencar e candidato ao Senado por Minas na chapa de Fernando Pimentel (PT), em palestra em São Paulo.

Embora torça pelo hexacampeonato, Lula avaliou que a realização do Mundial no Brasil, alvo de questionamentos e previsões pessimistas, já é um sucesso.

"Para mim a Copa do Mundo já foi ganha. Já é um sucesso de público, de gols, renda, comportamento e entrosamento. É norueguês, alemão, francês. É isso que é a Copa do Mundo. Um jogo de futebol para aproximar um encontro de civilizações, para aumentar a atividade cultural e o valor etílico de cada um", disse Lula, arrancando risos da plateia.

O ex-presidente pediu que fosse exibido um vídeo antes da palestra, no qual uma catadora de material reciclado defende a realização do torneio, e outro ao final, com elogios da imprensa estrangeira à organização da Copa.

Lula fez uma analogia entre o time do Brasil e a economia. Segundo ele, a seleção "não está bem" se comparada às equipes campeãs de 1958, 1970 e 2002. "Mas qual é a seleção que está melhor do que a nossa?", questionou. Para Lula, o mesmo raciocínio vale para a economia brasileira, que não cresce no mesmo ritmo apresentado em anos anteriores, mas, segundo ele, ainda apresenta indicadores melhores do que a média mundial. / R.G.

Freire: vaia não é apenas a Dilma, mas ao esgotamento do modelo petista

Fábio Matos – Portal PPS

As vaias e xingamentos direcionados a Dilma Rousseff no jogo de abertura da Copa do Mundo não se limitam apenas à presidente da República, mas ao governo do PT e a um modelo que se esgotou. A análise é do deputado federal Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS, que participou do programa “Gente Que Fala”, da Rádio Trianon AM (740 KHz), na última segunda-feira (23).

“Hoje, a vaia não é só a Dilma, mas ao governo do PT e ao esgotamento de um modelo. E isso atinge Lula também”, afirmou o parlamentar ao ser questionado sobre a hostilidade dos torcedores brasileiros contra a presidente e candidata à reeleição. “Ela pode ser muito incompetente, mas a responsabilidade por grande parte dos problemas que tem enfrentado é de Lula.”

Além de Freire, participaram do programa o vereador Floriano Pesaro (PSDB-SP), o advogado e empresário Misael Antônio de Souza e o jornalista José Maria de Aquino. A atração, exibida ao vivo também pela internet (no site www.tvexito.com.br), foi comandada pelo apresentador Zancopé Simões.

Durante o programa, Freire criticou o decreto 8.243, que institui a Política Nacional de Participação Social (PNPS) e cria os chamados conselhos populares. “As oposições, de imediato, se posicionaram contra esse decreto da presidente. Nós já temos conselhos, como o da Criança e do Adolescente, de Educação, de Saúde etc. Qualquer medida como essa deve partir do Congresso Nacional. É a democracia representativa que deve criar mecanismos de democracia participativa”, lembrou o deputado.

Segundo o presidente do PPS, não se pode confiar em conselhos tutelados por um governo que “trata os ministros do Supremo Tribunal Federal com deboche” e “afronta as instituições, inclusive tentando controlar a imprensa”. “O problema desses conselhos é que o governo vai escolher quem vai participar desses grupos. Ela [Dilma] vai instrumentalizá-los.”

Copa e eleições
Questionado sobre uma possível relação entre o desempenho da seleção brasileira na Copa do Mundo e as eleições presidenciais de outubro, Freire afirmou que não há nenhuma relação direta entre os dois eventos. “Se isso valesse algo, Lula não teria sido eleito e reeleito. Fernando Henrique era presidente em 2002, o Brasil foi campeão e a oposição derrotou o governo”, comparou. “Acredito que não tem uma relação direta. Até porque o sentimento de euforia permanece por alguns dias e, após uma semana, e nós vamos todos nos voltar para os problemas do dia a dia.”

O parlamentar também falou sobre a iniciativa frustrada do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), de decretar feriado na cidade na segunda-feira, dia do jogo entre Brasil e Camarões, realizado em Brasília. A proposta da Prefeitura foi rechaçada pela Câmara Municipal.

“Essa questão não foi planejada. Você querer fazer alterações às vésperas do jogo resulta nesse problema”, criticou. “Mas o trânsito foi muito bom [durante todo o dia]. A própria população se programou, independentemente do senhor Haddad. A falta de planejamento da Prefeitura fez com que a sociedade se organizasse.”

Serra: Os detalhes de um acerto de contas com o passado

• Em livro lançado ontem, José Serra narra os momentos difíceis por que passou no golpe de 64, quando presidia a UNE

Chico Otavio – O Globo

RIO E SÃO PAULO - José Serra soube do incêndio na sede da União Nacional dos Estudantes (UNE), logo após o golpe de 31 de março, enquanto se escondia na fortaleza do deputadoTenório Cavalcanti, em Duque de Caxias.

Se não pudesse reagrupar as forças e resistir, o que faria o então presidente da entidade? Sentindo- se perdido, Serra pensou nos pais. Teve medo. Até hoje, tem dificuldade de escrever sobre o assunto. Confessa ter um “grande malentendido” com esse pedaço de sua vida, cujo trauma continua vivo em sua memória.

Na tentativa de acertar as contas com o período mais difícil de sua trajetória pública, o ex-dirigente estudantil e ex-governador de São Paulo lançou ontem o livro “Cinquenta anos esta noite” com noite de autógrafos em uma livraria na capital paulista. Como ele mesmo definiu, ao chegar ao lançamento, a obra retrata o período em que ele esteve no exílio após o golpe militar no Brasil.

— É um livro escrito espontaneamente e mistura muitas coisas de autobiografia, de análise das situações dos países onde eu estive, do processo de golpes na América Latina e até da minha formação no exterior, da volta ao Brasil e termina em 1977. Foi um pouco o meu período de exílio de 14 anos.

“Cinquenta anos esta noite: o golpe, a ditadura e o exílio”, livro que vai além de um mero relato sobre a escalada de eventos que derrubou o presidente João Goulart. Serra narra em detalhes a sua participação na crise, desde o convívio com Jango, que queria a UNE ao seu lado no enfrentamento aos golpistas, aos dias de angústia que se seguiram à deposição do presidente, incluindo a rápida passagem pela casa de Tenório e os três meses de exílio na Embaixada da Bolívia, de onde seguiu para La Paz após visita relâmpago à família em São Paulo.

Há alguns anos, ao receber as cópias de uma carta, que escreveu ao seu advogado, enquanto padecia exilado na Embaixada da Bolívia, e de um filme mostrando o seu discurso no comício da Central, ambos de 1964, Serra se lembrou de um conto do argentino Jorge Luis Borges. O escritor encontra um jovem, sentando na beira de um rio, e descobre que era ele mesmo. O homem mais velho sente vontade de contar-lhe tudo sobre a vida, para que a vivesse melhor. E foi o sentimento de Serra, ao rememorar o seu papel, como presidente da UNE, na crise que provocou golpe de 31 de março, e o que viria depois.

O livro começa com Serra diante de um presidente estirado numa cadeira estofada, com uma das pernas esticada num banquinho. Jango reunia-se, em outubro de 1963, com dirigentes da Frente de Mobilização Popular, da qual a UNE fazia parte.

Serra protestou contra o pedido de estado de sítio, apresentando pelo governo ao Congresso. Convencera- se de que a supressão das garantias constitucionais, abriria caminho para a intervenção nos governos da Guanabara, de Carlos Lacerda, e de São Paulo, de Adhemar de Barros, principais opositores do governo. Jango o tranquilizou:

— Olha, jovem, não precisas te preocupar, porque, antes de vir aqui, já tomei providências para retirar o projeto do estado de sítio.

O presidente o surpreende ao explicar as razões do pedido:

— Mas o estado de sítio não era contra o povo. Ao contrário. Sei das dificuldades que tenho. Vou dizer uma coisa: não vou terminar esse mandato. Não chegarei até o fim.

Serra foi um observador privilegiado do processo de isolamento de Jango. Aos 21 anos, consultado por ele, deu pitaco até sobre o recém-nomeado ministro da Educação, Júlio Sambaqui. Desse encontro, no gabinete presidencial, Serra recorda-se de um fato curioso. Avisou que só poderia ficar pouco tempo, pois não podia perder o último voo para São Paulo. Jango disse que pediria para atrasar o avião. Não foi necessário.

Alguns episódios são rememorados com humor. Na Embaixada da Bolívia, sem muito o que fazer, passou a observar o comportamento de outros exilados. Descobriu que Marcelo Cerqueira, um dos vices da UNE, não perdia um programa radiofônico de Alziro Zarur, que distribuía sopa para ao pobres. “Éramos todos tripulantes do mesmo navio”, escreveu. Até o ponto final, que trata da volta do exílio em maio de 1977, o livro garimpa, mesmo no Itamaraty, diplomatas que não seguiram a cartilha do regime e foram generosos em tornar menos espinhosa a sua passagem pelo longo exílio.

No lançamento de ontem, Serra foi prestigiado por amigos e políticos, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o presidente do PPS, Roberto Freire, e os ex-ministros Nelson Jobim e José Gregori. O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, cancelou a ida ao evento após uma hora de atraso. Segundo a assessoria de imprensa de Aécio, ele conversou com Serra por telefone e alegou problemas com o horário de seu voo para Brasília.

Serra contou que a elaboração do livro o fez revisitar momentos difíceis:

— Foram vários, como a noite do golpe no Brasil e a prisão no Chile.

Instituto Teotônio Vilela: Velhas promessas e o ranço de sempre

• A convenção que escolheu Dilma Rousseff foi permeada por promessas recicladas, velhos ranços e slogans inverossímeis. É demonstração de que a candidata à reeleição não produziu realizações suficientes para justificar mais quatro anos de mandato. Na campanha, ela terá que responder pelos seus atos, pelo governo que comandou, pelas promessas que não cumpriu, pelo pouco que fez. Pelo que se viu na convenção, não tem respostas para nada disso.

Dilma Rousseff foi ungida no fim de semana como candidata à reeleição pelo PT com uma mistura de promessas recicladas, velhos ranços e slogans inverossímeis. É a demonstração mais evidente de que, em seu mandato, a presidente da República não produziu realizações suficientes para justificar mais quatro anos de governo.

Um marciano que descesse à Terra no sábado passado provavelmente concluiria que ali reunia-se um partido em guerra para assumir pela primeira vez o comando do país. Imaginaria que a mulher que discursava prometendo mundos e fundos jamais sequer passara perto de sentar-se numa cadeira no Executivo.

O mesmo marciano provavelmente levaria um susto ao saber que o partido que realizava sua rica e tecnológica convenção governa o Brasil há quase 12 anos e já está prestes a completar sua terceira gestão seguida no comando do país.

Nosso ET imaginário certamente cairia para trás ao saber que a mulher tão pródiga em prometer ocupa há quase quatro anos a cadeira de principal mandatária do país, além de ter participado, durante todos os dias, dos dois governos que a precederam.

O marketing petista parece crer na necessidade de tornar suas promessas mais vistosas. Para tanto, até criou um novo rótulo para enfeixá-las: Plano de Transformação Nacional, que chega para ocupar o vácuo do Programa de Aceleração do Crescimento. Um e outro se assemelham: não passam de vento, intenções ao léu, cantilena sem efeitos benéficos para a população.

O tal plano prevê desburocratização, investimentos em educação, reforma do sistema político através de plebiscito, revisão de pacto federativo e melhorias nos serviços públicos. “Aglutina programas de governo que já existem com ideias genéricas que ainda estão em discussão”, sintetizou a Folha de S.Paulo no domingo.

Aquilo que não é platitude foi xerocado de propostas que a oposição vem sustentando há anos, como a necessidade de arejar o Estado, desonerar o cidadão e reequilibrar direitos e deveres dos entes nacionais. E também há excentricidades como o “Banda Larga para Todos” num país em que metade da população nem esgotamento sanitário tem.

Se nos compromissos a plataforma petista é enganosa, no tom é beligerante. A retórica nervosa e agressiva deu o norte na convenção que ungiu a candidatura à reeleição. Para alguém que hoje tem a atribuição de governar para todos os brasileiros, nada mais explícito para comprovar o desequilíbrio da mandatária.

O PT vai insistir na tese de que representa o bem e seus adversários são o mal encarnado. Mas os petistas se julgam tão superiores que contra o “nós” deles cabem todos os demais. Ou seja, será uma espécie de luta do “nós” (os petistas) contra todos – tucanos, republicanos, democratas, pipoqueiros, indignados, taxistas, sindicalistas e qualquer um que não diga amém.

Tomando por base o que disse Dilma no sábado, ela e seu partido também não veem problema algum na rota que o país vem trilhando nos últimos anos. Parecem crer que basta fazer mais do mesmo, aprofundar a opção pela equivocada “nova matriz econômica” para que as portas da esperança finalmente voltem a se abrir.

Como o espírito do tempo não deixa margem a ignorar o sentimento de mudança que grassa na população, os petistas não se furtaram a tentar apropriar-se dele: “Mais mudança; mais futuro”, pede seu slogan. Impossível admitir que quem está aí há tanto tempo, e é hoje o real responsável por problemas que remanescem sem solução, seja o portador de qualquer transformação.

O que o PT não entendeu é que o passado hoje são eles. Quando Dilma diz, como fez ontem em Macapá, que programas como o Minha Casa, Minha Vida nasceram porque “no passado não se dava importância à casa própria”, esquece-se convenientemente que, quando o programa foi lançado, o PT já era governo há seis anos.

Na campanha que se aproxima, Dilma Rousseff terá que responder pelos seus atos, pelo governo que comandou, pelas promessas que não cumpriu, pelo pouco que realizou. Na convenção que a escolheu candidata, não fez nada disso. Certamente porque não tem resposta para nenhuma destas questões.

Merval Pereira: Ninguém é de ninguém

- O Globo

A cada dia que passa, mais a realidade de nossa política justifica a comparação com uma bacanal partidária, onde ninguém é de ninguém. O PTB, que abandonou o barco governista aos 45 do segundo tempo, agora tenta vender apoios isolados à candidatura Dilma, exatamente o mesmo que o PMDB fez no sentido contrário, isto é, apoiando a reeleição da presidente a nível nacional, mas abrindo dissidências regionais.

Quem com ferro fere, com ferro será ferido, não há ninguém a salvo das múltiplas traições que devem acontecer. Os partidos vendem o tempo de televisão, mas não a alma de seus componentes. A alma, essa é negociada isoladamente por cada qual.

Criou-se um mercado secundário nesse comércio eleitoral, onde as coligações regionais ganharam vida própria, independente da decisão das convenções nacionais. Há ainda a negociação da neutralidade. PP e PR estão em meio a essa transação, que retiraria pelo menos dois minutos de televisão da candidatura petista.

O PR retirou seu apoio ao ministro César Borges e ameaça se bandear para o campo oposicionista, apoiando o candidato tucano Aécio Neves. Quando se imaginava que nenhum partido estivesse negociando lugares no atual Ministério, num governo que termina em pouco mais de seis meses, descobre-se que o PR transaciona o apoio futuro por um novo ministro no presente.

Afinal, pouco mais de seis meses é tempo suficiente para fazer grandes projetos na pasta dos Transportes, mesmo correndo o risco de não continuar num próximo mandato, por derrota de Dilma ou novas negociações partidárias num segundo mandato.

Já o PP faz sua convenção nacional pressionado por regionais importantes como a do Rio Grande do Sul e a de Minas para que, no mínimo, fique neutro na disputa presidencial, como fez em 2010. Seu tempo assim seria dividido entre todos os candidatos, e seus diretórios regionais poderiam tomar a decisão que melhor lhes aprouvesse.

Não é que agirão de outra forma se a decisão de apoiar oficialmente Dilma for tomada pela direção nacional. Mas como a maioria do partido não quer ficar com a candidatura oficial, a neutralidade seria o mais próximo da situação real.

A situação do Rio de Janeiro é emblemática desse encontro de contrários, com quatro candidatos procurando se reforçar sem que questões programáticas estejam em jogo, apenas tempo de propaganda, com todos se acusando mutuamente de traições.

A última jogada foi a aproximação do PROS com Garotinho, do PR, que está se oferecendo para ser o único palanque confiável para Dilma Rousseff no Rio. Líder das pesquisas eleitorais no estado, Garotinho estava ficando isolado e também encontrou uma saída no último minuto de jogo para embolar a disputa.

Pode ter o deputado federal Miro Teixeira na chapa como candidato a senador, o mesmo Miro que foi candidato ao governo com o apoio do PSB e, depois de desistir, estava sendo cobiçado tanto por Lindbergh para ser o vice da chapa, quanto por Crivela e Garotinho.

O que havia de mais organizador do sistema partidário brasileiro foi o regime de verticalização, que esteve para vigorar na campanha eleitoral de 2006 graças a uma ação do próprio Miro Teixeira junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A decisão acabou sendo revogada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) depois de uma pressão política de líderes do quilate de José Sarney e Antônio Carlos Magalhães.

O mesmo Supremo que já havia derrubado as cláusulas de desempenho, que exigiam uma votação mínima para que partidos tivessem representação no Congresso Nacional. Essas tentativas, e mais outras tantas, já foram feitas para organizar nosso sistema eleitoral-partidário, mas o que prevalece até hoje é essa orgia de siglas que se entrelaçam com interesses meramente eleitoreiros, sem que programas e projetos estejam em jogo.

Está claro que, após essa orgia partidária, alguma reforma política terá que ser feita para organizar essa bagunça.

Dora Kramer: Método na loucura

- O Estado de S. Paulo

O festim licencioso a que assistimos nas alianças partidárias nessa fase de arrancada da campanha eleitoral não é novidade, não é ilegal e nem por isso motivo de orgulho nacional.

Ao contrário: é o retrato da inconsistência dos partidos, decorrente de regras e mentalidades que distanciam o sistema representativo de qualquer coisa parecida com representação.

Premissa posta e já devidamente analisada com a concordância unânime tanto dos observadores quanto dos operadores da política, passemos à seguinte questão: sendo assim tão desimportantes, por que os candidatos comemoram com tanta euforia a adesão deste ou daquele partido?

O tempo de televisão explica em parte, mas não explica toda a história. A presidente Dilma Rousseff não carece de minutos no horário eleitoral. No entanto, depois de ter perdido o apoio do PTB, luta para manter o PP, o PR, o PROS (ontem confirmaria o apoio em convenção) e o PSD.

A adesão de qualquer uma dessas legendas ou de qualquer outra - vale também para a oposição - com toda certeza não orienta o voto do eleitorado. Pelo menos não nas capitais e nas cidades médias e grandes.

Conforme nossa premissa inicial, os partidos são inconsistentes, não dispõem de referência nem identificação junto à sociedade e por isso fazem o que bem entendem em termos de aliança.

Tem sido sempre assim. Nessa eleição as coligações têm chamado mais atenção devido às defecções na base governista e aí chegamos ao ponto que talvez desperte discordância: por incrível que pareça, o que comanda os partidos é o movimento do eleitorado e não o contrário.

É justamente o fato de a presidente ter caído nas pesquisas, apresentar alto índice de rejeição e tendência de queda com avaliação negativa de governo que provoca a correria dos ditos aliados em busca de portos que possam ser mais seguros.

Se Dilma estivesse firme, com a reeleição garantida, a insatisfação dos políticos poderia ser a mesma, mas estariam engolindo cada qual o seu sapo bem quietinhos ante a perspectiva de poder, cuja materialização só ocorre se o eleitor quiser.

Portanto, toda essa loucura de alianças unindo partidos de oposição e situação, legendas que dizem uma coisa no plano federal e seu oposto no âmbito estadual, quando não assumem discursos divergentes entre seus próprios candidatos, essa maluquice tem um método.

E a metodologia é essa: examina-se em que direção sopra o vento da vontade popular e para lá seguem os partidos. Se a tendência virar, não tem problema, voltam todos para onde a ventania mandar.

Semeadura. A política não ficará pior nem melhor com a desistência de José Sarney de disputar eleições. Inclusive porque ele continuará atuando nos bastidores.

Deixou herdeiros de direito, na família, e de fato, nos métodos arcaicos, patrimonialistas, referidos na manha e na astúcia que já não combinam com uma sociedade que exige transparência, correção e fiscalização.

A saída de cena de Sarney não fecha ciclo algum, pois a política continua velha nos métodos e na cabeça da grande maioria dos que se dedicam à atividade.

José Sarney teve um grande papel como primeiro presidente na transição da ditadura para a democracia. Seu temperamento conciliador ali foi fundamental. Poderia ter passado para a história como aquele personagem. Preferiu afundar a biografia no fisiologismo, no populismo de uma política econômica desastrosa e em seguidos mandatos que não lhe proporcionaram uma saída honrosa.

Por assim dizer. Todo mundo sabe que é disso que se trata, mas não soou gentil para com a presidente Dilma o ex-presidente Lula referir-se aos dois como "criador e criatura" na convenção do PT.

Fernando Rodrigues: As gerações na política

- Folha de S. Paulo

José Sarney anunciou que vai se aposentar. Quando um político como ele desiste de disputar novos mandatos surge a tentação de falar em "fim de uma era" ou de grande "troca geracional" à vista. Não vai ocorrer nem uma coisa nem outra.

O que há é um processo constante de troca dos mais velhos pelos mais jovens --na política e em outras atividades. Um sai apenas porque um outro já chegou e desempenha o mesmo papel, não necessariamente de forma mais eficaz ou melhor.

É assim agora na iminência da aposentadoria de dois veteranos senadores, José Sarney (do Maranhão e eleito pelo Amapá) e Pedro Simon (do Rio Grande do Sul), ambos do PMDB. A política segue o seu curso. Em todas as eleições sempre há alguém muito experiente que fica de fora. Em 2010, foi a vez de Marco Maciel, derrotado em Pernambuco.

E conforme o Brasil se moderniza, há também um fato indisputável. Trata-se da troca de guarda no Congresso com a redução lenta e gradual de ricos tradicionais e a chegada de políticos emergentes. O fenômeno está documentado na valiosa pesquisa realizada por Leôncio Martins Rodrigues no seu livro "Pobres e Ricos na Luta pelo Poder" (Topbooks).

"A proporção de deputados vindos das classes altas, ricas ou proprietárias tem diminuído. Em 1998, deputados empresários ocupavam 45% das cadeiras. Em 2010, baixaram para 37%. A queda foi maior entre os empresários rurais, de 12% para 8%", diagnosticou Leôncio em entrevista a Ricardo Mendonça.

Em certa medida, Sarney está sendo compelido a sair de cena agora pelas mesmas razões que o levaram a ter uma longa carreira na política. Quando se consolidou no Maranhão, ainda na década de 1960, ele era um emergente e sem recursos. Hoje, no Amapá, tornou-se o oligarca que é desafiado por gente mais modesta, formada em partidos mais populares como o PT, o PSOL e o PSB.

É o relógio da política em ação.

Rosângela Bittar: Nóis contra Nóis

• Ao governo falta discurso, mal que atribuía à oposição

- Valor Econômico

Gilberto Carvalho, o ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, considerado o homem-Lula no governo Dilma, contrariou a liderança do presidente do partido, Rui Falcão, para fazer avaliações que evidenciam equívocos nas opções do comitê de reeleição coordenado por ele. Aos blogueiros governistas, fez um discurso moderado, surpreendente até para os seus colegas de partido. Defendeu a tese de que, ao contrário do judas escolhido pelo partido para imolar pelos insultos a Dilma no Itaquerão, tentando vitimizá-la, não é possível atribuir à "elite branca" (o que estariam fazendo a negra e a amarela naquele momento?) o ódio ao PT de que falara seu mestre dias antes daquele.

Sua tese: é generalizada a saturação com os erros do PT e já está impregnado na sociedade o sentimento de que o partido é vencedor no campeonato da corrupção.

Quando a cúpula petista ainda tentava fazer uma exegese dessas declarações que a denegrisse menos, Gilberto Carvalho reincidiu na franqueza e explicou, em entrevista à 'Folha de S. Paulo', que sua declaração foi intencional e não produto de um escorregão ou interpretação distorcida da imprensa, como é praxe alegar. Teve o objetivo de alertar o PT para o fato de que espalhou-se no país a insatisfação com o governo e com o partido.

Gilberto Carvalho, ministro, estaria, portanto, falando com sinceridade o que acredita ser a verdade, e dando voz à preocupação de muitos insatisfeitos com a condução da campanha da reeleição e que gostariam de corrigir, enquanto é tempo, ações e discursos. Gilberto Carvalho fez uma boa síntese de suas intenções que assim podem ser entendidas: não quer tergiversar no diagnóstico, porque enquanto não se chega à verdade do que acontece de fato, não se toma o remédio certo.

O ministro, que também coordena a negociação com os movimentos sociais que protestam, confessou, na sua terceira manifestação, ontem, também na Folha, que já foi inclusive vítima do método black-bloc de impaciência com o governo: atiraram-lhe um rolo de papel higiênico.

Amigos de Lula e admiradores de Gilberto afirmam que nada há de Lula ou do movimento Volta, Lula nessa manifestação do ministro. O secretário geral da Presidência e ex-secretário particular e chefe de gabinete de Lula no Palácio do Planalto, Gilberto Carvalho, está falando por si e por muitos insatisfeitos do partido com a condução da campanha, e tem autonomia, além de não se ver problema em reconhecer "certa realidade". Complementa-se: melhor agora que mais à frente.

A campanha, realmente, está sofrendo de alguns males, mas o principal parece ser a faísca do choque de opiniões que impedem a definição de um discurso.

Franklin Martins, ex-ministro do governo Lula, integrante do comitê de reeleição da presidente Dilma, tem grande poder no grupo, é o comandante das atividades políticas e eleitorais do partido na Internet, e está em conflito aberto com o publicitário do partido e da campanha, o jornalista João Santana. Martins e Santana divergem na essência, na concepção do projeto.

O primeiro estaria forçando a radicalização, o discurso de ataque, uma performance que seria mais condizente com seu perfil político, enquanto João Santana, que não foi guerrilheiro nem militante, quer imprimir um tom definido como mais jornalístico, programático à campanha, ressaltando o desempenho e a história da candidata.

O primeiro falaria por Lula, o segundo por Dilma. Só que Lula, às vezes, fala na linha de um, em outras toma o caminho do outro, quando não saltam as contradições dentro do mesmo discurso. Petistas de dentro da campanha veem Rui Falcão, presidente do partido e coordenador do comitê, mais voltado à guerra do que ao equilíbrio, mas, sobretudo, voltado para seu pequeno grupo, sem ampliar o acesso a outros que se consideram também proprietários do negócio.

O personalismo e a tentativa de hegemonia do presidente do PT estariam levando a candidatura a não sair da linha de defesa de maneira adequada. Gilberto saiu da Igreja; Franklin da luta armada; Santana do jornalismo; Lula é contemporização ou guerrilha, depende da hora.

Um exemplo de ontem: com o sucesso da Copa e o recolhimento dos movimentos sociais contrários, Lula tentou retomar para si a fatura, saindo da discrição onde aguardava os desdobramentos para ver no que ia dar. Optou pelo mais fácil e acusou a imprensa brasileira de ter influenciado a imprensa estrangeira a acreditar que não teria Copa, que nada ficaria pronto, nada daria certo. E, no entanto, aí está, uma Copa cheia de gols, gols feitos, claro, por Lula. Não se sabe se o auditório, qualificado, levou a análise a sério. Dilma também tentou, ontem, faturar o sucesso da Copa, falando em convenção de partido aliado, mas evitou criminalizar a imprensa e a oposição, citando nominalmente apenas o "Não vai ter Copa", um dos movimentos que Gilberto Carvalho tenta tourear no seu périplo de negociação com essas correntes.

Ou seja, está saindo muita fumaça pelas frestas do comitê de reeleição. Franklin e Santana estão em guerra; Gilberto discorda do monopólio de Rui Falcão; as facções do Volta, Lula querem participar, agora que o grupo ficou no vácuo; Lula é pendular; Dilma, a candidata-esfinge. Que estaria pendendo para as teses de João Santana, que não são necessariamente as de Rui Falcão, essas mais próximas das de Franklin Martins, a quem Lula faz concessões.

No fim dessa ciranda a evidência de que o governo sofre do mal que sempre atribuiu à oposição: a falta de um discurso. Os adversários de Dilma já disseram o que é bom, e vão manter, o que está ruim e vão mudar, como a Economia, por exemplo, como e com quem. Seus ministros estão praticamente escalados.

O governo, que pleiteia a renovação da confiança do eleitorado, diz que tudo vai bem, quer continuar a mudança mas não sabe ainda para que rumo, para quê, e com quem. Um dia, reconhece erros na economia. No outro, não passam de problemas provocados pela situação internacional. Nomes do novo ministro da Fazenda e presidente do Banco Central, que possam dar um sopro de credibilidade ao governo para uma reeleição segura, nem pensar.

Elio Gaspari: Gilberto Carvalho deu um bom sinal

• O comissário petista tentou acordar seus companheiros, resta saber se eles querem despertar

- O Globo

O ministro Gilberto Carvalho, comissário para negociações com os movimentos sociais, deu duas entrevistas reveladoras. Numa, a blogueiros, rebateu a sociologia da conspiração inventada por Lula, segundo a qual o constrangimento imposto à doutora Dilma foi coisa da elite: “No Itaquerão não tinha só elite branca, não. Fui ao estádio e voltei de metrô, não tinha só elite, não, tinha muito moleque gritando palavrão no metrô.” (Ele já soubera do grito num show em Ribeirão Preto.) Noutra entrevista, à repórter Natuza Nery, recomendou que o PT “não parta da ilusão de que o povo pensa que está tudo bem”.

O doutor não é um dissidente. Pelo contrário, é um quadro da velha cepa petista. Ele percebeu que chegou ao andar de baixo a ideia de que o PT é farinha do mesmo saco onde estão os demais partidos. Atribui parte dessa percepção aos suspeitos de sempre: a imprensa conservadora, os métodos de arrecadação de recursos nas campanhas e a estrutura política. Em alguns pontos ele tem razão: se a bancada da Papuda esteve num “mensalão do PT”, não é justo falar em “mensalão mineiro” quando se trata da malfeitoria do PSDB. Também é esquisito verificar que há petistas na Papuda e os tucanos metidos no caso da Alstom, bem mais antigo, ainda não foram julgados.

O alerta de Carvalho é bem-vindo. No entanto, pela reação de seus companheiros, está longe de ser consensual. O PT jamais partiu para cima do pedaço de sua elite que se meteu em roubalheiras. A faxina marqueteira prometida pela doutora Dilma em 2011 não passou de uma promessa. O partido associou-se aos mensaleiros, inventou teorias para justificá-los e nunca se dissociou da bancada da Papuda. Ganha uma viagem a Cuba quem conhecer um ministro petista que não tenha sentido cheiro de queimado na Petrobras do comissário José Sergio Gabrielli.

Quando o ex-governador gaúcho Olívio Dutra defendeu a renúncia do deputado José Genoino, seu colega André Vargas insultou-o. Carvalho sabia quem era Olívio. Talvez soubesse quem era Vargas. De qualquer forma, poderia informar-se com a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, sua colega de militância na política paranaense. A estrela de Vargas só se apagou quando a Polícia Federal iluminou suas relações com o doleiro Alberto Youssef. Reconheça-se que, nesse caso, pela primeira vez em muitos anos, o PT foi rápido e cortou a própria carne. Repetiu o gesto quando um deputado estadual paulista foi apanhado nas proximidades do PCC. (Bem votado, Luiz Moura tinha na biografia a condição de assaltante condenado que fugira da cadeia e safara-se da pena com um recurso judicial.)

Carvalho quis acordar o PT. Tomara que consiga, mas não parece ser esse o caminho da carruagem. Ele diz que na origem dos males da corrupção política está o sistema de doações para campanhas. Ele (e o tucano Aécio Neves) defende uma reforma política que inclua a novidade das listas fechadas para compor uma parte da Câmara. A doutora Dilma foi além no seu “Plano de Transformação Nacional”. Propôs que a reforma seja definida num plebiscito. Há um ano, sem ter o que fazer, o Planalto tirou essa carta da manga e nunca mais falou no assunto. Há mais de dez anos, sempre que o PT não tem o que dizer, fala em reforma política.

Elio Gaspari é jornalista

*Marcos Guterman: PT, Maluf e o desdém pela verdade

- O Estado de S. Paulo

Quando, em fins de maio, aceitou o abraço de Paulo Maluf, o candidato petista ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha, sabia que teria de dar explicações. Não é fácil celebrar, de modo festivo, em público e com amplo registro fotográfico, a aliança com aquele que talvez seja o maior símbolo do que há de pior na política. Mas Padilha desincumbiu-se bem - até demais - da tarefa. Ao deixar claro que não sentia nenhuma espécie de constrangimento, cobrindo Maluf de elogios, o candidato comprovou que, três décadas após a fundação do partido criado para denunciar "tudo isso que está aí", a aliança com o malufismo se tornou natural para os petistas.

A má política é o terreno próprio da desfaçatez, mas a elite do PT tem demonstrado notável disposição para construir um novo padrão de ausência de escrúpulos, que é o exato oposto do que propunham enfezados barbudos de boina em suas assembleias nos anos 80 e 90. Maluf é, digamos assim, apenas a parte pitoresca do escabroso mosaico que ora responde pelo apoio ao governo federal. Rejeitar o voto de Maluf seria até hipócrita diante do nível do resto da base de sustentação da presidente Dilma Rousseff. O que causou espanto, na verdade, foram a tranquilidade com que os petistas agora abraçam Maluf e as justificativas inventadas para enterrar de vez os princípios de seu partido.

É claro que a disputa política raramente é travada com total honestidade. Nesse universo não é incomum que a "verdade" seja uma mentira pronunciada com convicção, que serve a objetivos estratégicos. O eleitor sabe (ou deveria saber) que muitos de seus representantes no Congresso e no Executivo, ou aqueles que pleiteiam ser eleitos, não dizem a verdade o tempo todo, pois esta pode ser inconveniente e mesmo insuportável. Além do mais, exige-se franqueza dos homens públicos, mas é uma exigência que esbarra vez ou outra na complexa necessidade de defender o interesse coletivo ou a "razão de Estado". A mentira, certamente abominável do ponto de vista moral, pode se justificar, no limite, quando é útil para evitar um mal maior.

No entanto, como salientou Celso Lafer em Desafios: Ética e Política, há nisso um problema ético com ao menos dois elementos: primeiro, ao mentir para o cidadão comum porque supostamente sabe o que é "melhor" para a sociedade, o governante coloca-se acima dos governados; segundo, porque o cidadão comum em nenhuma hipótese pode mentir para o Estado, criando aí uma situação assimétrica entre ele e seus representantes democráticos. A mentira política, portanto, não é apenas um desafio às tradições religiosas e morais; ela tem implicações práticas, pois, quando é incorporada pelo governante não como uma necessidade excepcional, mas como uma estratégia permanente em nome de um projeto de salvação nacional, que por definição não pode sofrer oposição ou crítica e deve ser conduzido sem transparência, ganha contornos autoritários e turva o próprio regime democrático.

Como observa Hannah Arendt, recorrendo à etimologia da palavra, "mentir" pode significar "inventar", isto é, o ato de imaginar uma realidade diferente. Seria, portanto, um modo de questionar o real e propor soluções para mudar o mundo. Mas, quando motivada por má-fé, a imaginação torna-se um mecanismo para simplesmente distorcer os fatos, e então os mentirosos políticos esperam que o mundo da fantasia seja vivido como se fosse o real - isto é, que suas versões mentirosas sirvam para confundir a percepção dos fatos. Esse é, precisamente, o caso da justificativa oficial para a aliança entre Maluf e o PT.

O presidente nacional do partido, Rui Falcão, chegou a explicar que a aliança é baseada em "princípios", que são, segundo suas palavras, "boa utilização dos recursos públicos, prioridade dos investimentos para as áreas sociais e participação popular na gestão". A mentira embutida nessa declaração é tão evidente que chega a ser constrangedora, pois não se pode atribuir a Maluf, procurado pela Interpol sob acusação de desviar dinheiro público quando foi prefeito de São Paulo, a qualidade de utilizar corretamente os recursos do erário. Falcão certamente sabe, pois o que não lhe falta é inteligência, que o eleitorado conhece suficientemente o notório Maluf para não acreditar nessa suposta coincidência de "princípios" entre o PP e o PT - ainda que alguns possam dizer, maldosamente, que malufistas e petistas de fato compartilham hoje em dia muitos princípios, em especial aquele segundo o qual, na política, nenhuma artimanha é vergonhosa demais quando se trata de manter o poder.

Mas as explicações petistas são mera formalidade, pois a elite do PT se considera portadora da verdade histórica e todos os seus atos - como a aliança com um inimigo histórico como Maluf, aquele que já foi chamado de "nefasto" pela ex-prefeita petista Marta Suplicy - se enquadram na máxima de que os fins justificam os meios. Nesse contexto, nenhum engodo é condenável. Se Maluf representa um minuto a mais na propaganda política na TV, considerada essencial para eleger Padilha, então que Maluf seja abraçado diante das câmeras como um velho amigo - sem nenhum constrangimento, como fez questão de dizer o descontraído candidato petista.

Com isso os petistas estão a dizer aos brasileiros que exigências como honestidade e retidão de caráter são secundárias diante da necessidade de manter vivo o projeto redentor do lulopetismo. Seriam até mesmo, é possível dizer, obstáculos para a realização da utopia prometida por Lula e seus profetas - eis por que os condenados no processo do mensalão são considerados heróis por seus pares e simpatizantes, já que tudo o que fizeram respeitou o imperativo messiânico do partido. De acordo com essa lógica, a tarefa de refundar o Brasil não pode estar manietada por considerações éticas. Ao contrário, parece que o desdém pela verdade se tornou a principal exigência curricular para aqueles que desejam integrar a barca petista em sua épica jornada.

*Jornalista

Luiz Carlos Azedo: Marcação homem a homem

• A estratégia de Dilma Rousseff, na campanha de reeleição, será capitalizar o entusiasmo popular com a Copa e jogar a culpa do que deu errado na Fifa

- Correio Braziliense

Ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB), corta um dobrado para evitar um atrito sério entre o Palácio do Planalto e os cartolas da Fifa durante a realização dos jogos da Copa do Mundo. Está viajando com o presidente da entidade, Joseph Blatter, para todos os jogos possíveis. Ontem, foi a Natal, para assistir, na Arena das Dunas, ao lado do suíço, ao jogo no qual o Uruguai mandou a Itália mais cedo para casa, com a dramática vitória por 1 x 0. Depois do jogo, Blatter seguiu para Manaus, onde assistirá hoje ao jogo entre Honduras e Suíça.

Rebelo tem uma teoria para explicar os protestos contra a Copa e a forma como a imprensa internacional, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, fez uma cobertura alarmista dos preparativos do evento. "Assim como o Vaticano com a eleição do papa Francisco, a Fifa de Blatter deixou de ser uma instituição sob controle anglo-saxão." A última Copa foi realizada na África do Sul, a próxima será na Rússia. "Aqui no Brasil, está sendo um sucesso, apesar de um ou outro incidente sem maior gravidade, mas há uma campanha orquestrada e muita má vontade da imprensa dos países desenvolvidos", dispara.

Apesar dessa narrativa do ministro do Esporte, entretanto, o Palácio do Planalto prepara um balanço sobre a realização da Copa no qual pretende jogar a culpa dos problemas na Fifa. A ideia é fazer uma espécie de check-list dos compromissos acordados com a entidade e comparar a execução dos encargos assumidos pelo governo com a dos que são de responsabilidade da Fifa. Seria uma retaliação aos pitos recebidos da federação pelo governo, por causa dos atrasos nas obras. Esse balanço faria coro com as reclamações da África do Sul e seria mandado para os russos, que realizarão a próxima Copa.

As exigências de Blatter em relação à Copa serviram de mote para as reivindicações que antecederam o evento. O chamado "padrão Fifa" passou a ser exigido pelos manifestantes nos protestos em relação à saúde, à educação e ao transporte, principalmente. A maioria da população encara esses problemas como prioridade em relação às obras dos estádios, apesar do sucesso indiscutível do evento. O governo avalia, porém, que o pior já passou. Os aeroportos não entraram em colapso, como já ocorreu em outras ocasiões, e o sistema de transportes funcionou a contento para garantir o acesso dos torcedores aos jogos, principalmente do Brasil. Além disso, o forte esquema de segurança inibiu ou conteve os protestos anti-Copa.

Ontem, em encontro com empresários na Câmara de Comércio do Brasil-Europa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi nessa toada e criticou tanto a imprensa estrangeira quanto a brasileira devido ao pessimismo em relação ao evento. "A Copa do Mundo está surpreendendo muita gente. Eu já dizia: a melhor coisa que o Brasil tem para mostrar é seu povo", defendeu. Ao fim do discurso, Lula disse ter confiança de que o Brasil será campeão mundial pela sexta vez. O petista é o principal responsável pela realização da Copa do Mundo no Brasil. Foi durante o governo dele que o acordo com a Fifa para realização dos jogos foi feito. A decisão da Fifa foi comemorada com festa e não houve reclamações quanto às exigências.

A estratégia de Dilma Rousseff, na campanha de reeleição, será capitalizar o entusiasmo popular com o evento e jogar a culpa do que deu errado na danada da Fifa, mesmo que isso signifique o enfraquecimento de Blatter e a retomada do controle da entidade pelos países europeus. A propósito, Itália, Espanha e Inglaterra voltaram pra casa mais cedo, mas Alemanha, França e Holanda continuam no páreo.

Voto a voto
Desde ontem, o Palácio do Planalto monitora um a um os convencionais do PP, que hoje deve decidir se apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff ou se faz a baldeação para a candidatura de Aécio Neves (PSDB). O rompimento do PTB, que desembarcou do governo e se coligou com o PSDB, acionou o alarme, pois Dilma e seus articuladores foram pegos completamente de surpresa. O fiador do apoio a Dilma é o presidente da legenda, senador Ciro Nogueira, mas a rebelião está instalada. Tanto que a petista não foi convidada ao evento para não passar constrangimentos. Aécio conta com o apoio do PP em Minas e no Rio Grande do Sul, estados onde a legenda tem as maiores bancadas, mas pode ter a adesão de mais cinco diretórios importantes.

Degola
O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, entregou ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Dias Toffoli, a lista com o nome de 6,6 mil funcionários ou gestores públicos que tiveram as contas julgadas irregulares. A Justiça Eleitoral definirá agora quais dessas pessoas estão inelegíveis para as eleições de outubro.

Painel - Bernardo Mello Franco (interino)

- Folha de S. Paulo

Porta dos fundos
Antes de desistir da candidatura à reeleição, o senador José Sarney (PMDB-AP) dedicou um mês inteiro a avaliar as chances eleitorais de seu clã. As pesquisas indicaram que ele corria o risco de sofrer quatro derrotas simultâneas, nas eleições para governo e Senado no Maranhão e no Amapá. Acostumado a fazer campanha próximo à máquina pública, Sarney tentaria renovar o próprio mandato em uma situação incomum: é adversário do governador e do prefeito da capital, Macapá.

Vai indo... Apesar de todas as mesuras que Lula e Dilma devem fazer a Sarney, os petistas vinham abandonando o senador em seus dois redutos eleitorais. No Maranhão, recusaram-se indicar o vice do candidato do PMDB ao governo, Lobão Filho.

... que eu não vou No Amapá, o PT decidiu lançar a vice-governadora Dora Nascimento para enfrentar Sarney na corrida ao Senado.

Todos contra um O esforço para derrotar Sarney uniu esquerda e direita no Amapá. Randolfe Rodrigues, do PSOL, estimulou a candidatura ao Senado de Davi Acolumbre, do DEM. "Era uma frente ampla contra o coronelismo", diz o senador.

Agora é sério O vice-presidente Michel Temer (PMDB) telefonou para perguntar a Sarney se a decisão era para valer. Ouviu que a desistência de concorrer a mais um mandato é "definitiva".

Madeleine Nostálgico, o ex-presidente vinha demonstrando a aliados um certo desalento com a política. Dizia que a atividade "decaiu muito" e que sentia falta de grandes figuras do passado.

Ela não deixa Com as ameaças de PR, PP e PTB a Dilma, dirigentes do PSB cogitaram procurar as siglas. Desistiram com medo de Marina Silva. "Eduardo Campos está jogando futebol carregando ela no colo. É muito mais difícil fazer gol", reclama um aliado do pernambucano.

Olha eu aqui... O PSDB paulista retomou lobby para tentar emplacar José Serra como candidato a vice do presidenciável Aécio Neves. A ideia teria o aval de FHC.

... de novo A fórmula empolga o Palácio dos Bandeirantes porque abriria caminho para lançar o ex-prefeito Gilberto Kassab ao Senado. Assim, o governador Geraldo Alckmin amarraria o PSD em sua coligação.

Probleminha Aliados próximos a Aécio dizem que ele não tem a menor vontade de dividir a chapa com Serra. Ontem o mineiro não foi ao lançamento do livro do ex-governador. Mandou avisar que se atrasou e perderia um voo para Brasília.

Mais um O PRB, que controla o Ministério da Pesca, entrou do clube dos partidos que ameaçam abandonar a coligação de Dilma. Adiou sua convenção para o dia 30, no limite do prazo legal.

Retaliação O partido acusa o Planalto de isolar seu candidato ao governo do Rio, Marcelo Crivella, ao empurrar o Pros para o palanque de Anthony Garotinho (PR).

Freud explica Na convenção do Pros, Dilma citou Garotinho e "esqueceu" Lindberg Farias, candidato do PT.

Os preteridos Crivella almoça hoje com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que não engoliu a aliança de seu partido com Cesar Maia (DEM). O bispo da Universal deve decidir até o fim do dia se mantém sua candidatura.

Visita à Folha A candidata do PSOL à Presidência da República, Luciana Genro, visitou ontem a Folha. Estava acompanhada de Mariana Riscali, coordenadora da campanha, e Rodolfo Mohr, assessor de imprensa.

Tiroteio
"Não foi escolha, e sim imposição diante de um quadro adverso. Uma aposentadoria compulsória por falta de apoio popular."
DO EX-DEPUTADO FLÁVIO DINO (PC DO B-MA), sobre o anúncio de que o senador José Sarney (PMDB-AP) desistiu de disputar a reeleição em outubro.

Contraponto
Marimbondos de fogo
Em 59 anos de vida pública, José Sarney (PMDB-AP) enfrentou poucos adversários tão implacáveis quanto Millôr Fernandes (1923-2012). Ferino no traço e no texto, o jornalista adorava atacar os romances do senador, que se envaidece mais da obra literária do que da política.

--É um desses livros que, quando você larga, não consegue mais pegar --disparou, sobre "Brejal dos Guajas".

Quando Sarney assumiu a Presidência no lugar de Tancredo Neves, que adoeceu antes da posse, Millôr publicou um inesquecível cartum no "Jornal do Brasil". Sua legenda trazia apenas duas palavras: "Fomos bigodeados".