O Globo
Nervosismo do mercado, golpismo nas ruas e
dificuldades no Congresso justificam retranca e concessões de Lula no momento
Após um começo meio truncado e algumas
intercorrências, Lula parece ter arrumado o time para o mês final de uma
transição em tudo atípica. Adotou uma cautela bem-vinda em três frentes
críticas: a designação do ministro da Fazenda, as conversas com os militares e
a negociação da PEC do Bolsa Família. A retranca se justifica diante do terreno
minado em que transcorre cada uma dessas batalhas.
O mercado estava alvoroçado diante da falta
de sinalizações detalhadas na economia. Elas começam a vir. Ficou claro que a
escolha de Lula para a Fazenda é Fernando Haddad. Sempre foi, desde o discurso
da vitória, quando o até então candidato ao governo de São Paulo recebeu uma
referência especial.
Haddad ganhou a posição pela lealdade a
Lula, demonstrada quando aceitou ser candidato em 2018, e pelo desempenho nas
urnas neste ano, que garantiu uma desvantagem menor do PT para Jair Bolsonaro
em São Paulo em relação a 2018.
Restava aplainar o terreno. Escrevi na semana passada que o auê do mercado diante das falas do provável ministro na Febraban era exacerbado. Passados alguns dias, parece ter havido uma acomodação das expectativas diante da evidência de que a escolha de Lula deverá recair mesmo sobre o companheiro de partido.