Banco Central intervém, gasta US$ 2,1 bilhões, mas não consegue deter alta da moeda americana, que fechou a R$ 2,148, a maior cotação em quatro anos. Pesquisa aponta elevação de preços, apesar de o governo afirmar que a inflação está sob controle.
Alimentos voltam a subir
O governo tenta convencer os investidores de que a inflação, principal motivo para a queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff em oito pontos percentuais, está sob controle, assim como os preços dos alimentos. Os números, contudo, contradizem os esforços. As declarações otimistas do secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, ontem, durante apresentação do balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC2), esbarrou nos resultados negativos da inflação medida na primeira semana de junho.
Holland buscou minimizar as críticas do mercado à política econômica e a reação dos eleitores ao afirmar que a economia está em expansão e que o investimento está crescendo de forma "sustentável" e melhor do que no ano passado. O discurso foi atropelado pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S). Apurado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e divulgado ontem, o indicador aponta alta de 0,48% na primeira semana de junho, puxado justamente pelos preços dos alimentos, que tiveram aumento de 0,65%, ante elevação de 0,36% na semana anterior.
O pesquisador da FGV Paulo Piccetti destacou que as hortaliças, os legumes, as frutas e os laticínios foram os itens que mais encareceram. Para piorar o cenário, a inflação medida pelo Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) subiu 0,43% na primeira prévia de junho, também divulgada ontem. No mesmo período do mês anterior, a elevação havia sido de 0,03%. O IGP-M, calculado pela FGV, é utilizado para a correção de contratos de aluguel e como indexador de tarifas, como energia elétrica.
O mercado não encara o quadro com o otimismo de Holland. Pelo contrário, o relatório de mercado Focus, divulgado ontem pelo Banco Central (BC), segue refletindo um pessimismo crescente a cada semana. A projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano apresentou o quarto recuo consecutivo, passando de 2,77% para 2,53%. O crescimento projetado para 2014 também foi reduzido: de 3,4% para 3,2%. Para compor o chamado Boletim Focus, o BC consulta mais de 100 instituições financeiras.
A projeção para a alta de preços manteve-se em 5,8%, em 2013 e 2014. Completa o cenário negativo a redução pelo mercado da expectativa sobre a balança comercial de US$ 8,30 bilhões para US$ 7,35 bilhões, em 2013. A taxa Selic, hoje em 8%, deverá fechar o ano em 8,5%, e 2014 em 8,75%, segundo projeções do mercado.
Iogurte
A alta dos produtos não tem deixado os consumidores nada contentes. Dos alimentos básicos aos industrializados, a inflação tem pesado no bolso do brasileiro. Insatisfeita com os preços dos laticínios, a aposentada Marlene Carvalho, 65 anos, aguarda sempre uma promoção para ir às compras. "Tudo subiu muito. Há dois meses, uma caixa de iogurte saía a R$ 3,99 e um achocolatado em caixinha a R$ 0,99. Hoje somaram cerca de R$ 1 sobre os dois produtos", reclamou ela, que sempre coloca itens derivados do leite no carrinho de compras para consumo do neto, de quatro anos.
"O próprio leite está mais caro. Consegui pagar R$ 2,19 o litro, mas têm supermercados cobrando a partir de R$ 2,25", contou a aposentada, que estocou duas dúzias de caixas de leite. Para ela, a solução para driblar os preços é trocar as marcas de determinados produtos. "A inflação está grande. Não tem quem não substitua um item por outro mais barato", afirmou.
A aposentada Leila Carvalho, 54 anos, também considera os preços dos alimentos abusivos. "No ano passado, eu comprava o quilo da cebola por R$ 1,99. Agora, custa pelo menos R$ 2,49", disse. Acostumada a comer frutas, Leila chegou a trocar o mamão papaya pelo mamão formosa na tentativa de contornar a alta dos preços.
Desonerações
O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, defendeu ontem a continuidade da política de isenção fiscal do setor produtivo. Segundo ele, as desonerações na folha de pagamento passarão de R$ 16 bilhões, neste ano, para R$ 24 bilhões, em 2014, com a ampliação de 42 para 56 setores. "É bem adequada essa direção do governo de insistir no investimento como um modelo de crescimento sustentável de longo prazo. Ele aumenta a oferta, a produtividade e reduz custos diversos", afirmou.
Fonte: Correio Braziliense