sábado, 25 de fevereiro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Habermas : desafio democrático

"Os desafios do século XXI exigirão, dependendo de seu tipo de dimensão, repostas por parte das sociedades ocidentais que dificilmente poderão ser encontradas e implementadas sem a formação de vontade e opinião radicalmente democráticas, generalizadora de interesses. È nesta arena que a esquerda socialista encontra seu lugar e o seu papel político. Ela é capaz formar o fermento apara as comunicações políticas, que protegem o quadro institucional do Estado de Direito Democrático, evitando o seu ressecamento."

Jürgen Habermas (Düsseldorf, 18 de Junho 1929) é um filósofo e sociólogo alemão.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Brasil vai impor controle de qualidade a produto chinês
Arrecadação recorde
BC atua de novo, mas dólar só cai

FOLHA DE S. PAULO
Serra decide concorrer à Prefeitura de São Paulo
Alckmin libera a contratação de professores reprovados
Governo dará isenção fiscal de R$ 6 bi para teles

O ESTADO DE S. PAULO
Serra discute candidatura com Alckmin e pode ir às prévias
Embarcação brasileira com diesel afunda na Antártida
Arrecadação supera R$ 100 bi em um mês e bate recorde

CORREIO BRAZILIENSE
No SPC e ainda sem emprego
Queda de braço com militares

ESTADO DE MINAS
Código Florestal terá briga que atinge Minas
Número de feridos a bala aumenta 69%

ZERO HORA (RS)
Piratini prevê piso de R$ 1.260 em 2014 e direção do Cpers rejeita
Ninguém mais roda até o 3º ano do Fundamental

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Dengue sofre alta de 387% no Recife
Arrecadação bate recorde histórico

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Dilma e militares têm primeiro teste de forças :: Eliane Cantanhêde

Presidente impôs autoridade ao exigir retirada de manifesto com críticas de clubes da reserva a ministras do governo

Em algum momento isso iria acontecer: um teste de forças de setores militares com uma presidente mulher, ex-guerrilheira, ex-presa política, que foi torturada durante a ditadura (1964-1985).

O pretexto foram as declarações das ministras Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Eleonora Menicucci (Política para as Mulheres) a favor de investigações sobre torturas cometidas no regime.

Como sempre, as cúpulas militares não se manifestaram, e quem entrou na linha de frente foram os clubes militares, que reúnem oficiais da reserva. Manifestos desses clubes são comuns, mas houve algo incomum desta vez: o texto não apenas cita as duas ministras como vai além e critica a própria presidente Dilma Rousseff por não ter reprimido as subordinadas.

Como presidente da República, Dilma é comandante em chefe das Forças Armadas e não tinha alternativa: ou impunha imediatamente sua autoridade ou ficaria sujeita a seguidos manifestos, multiplicados e amplificados pela internet, estimulando a valentia de militares isolados e de setores das três Forças e de diferentes patentes.

Numa área onde hierarquia é questão de vida ou morte, a reação palaciana foi naturalmente hierárquica.

Dilma acionou o ministro da Defesa, Celso Amorim, que reuniu os comandantes militares, que tomaram as providências cabíveis -leia-se: enquadraram os líderes da reserva. O manifesto foi recolhido e desautorizado.

Um dado básico é que oficiais, mesmo na reserva, são sujeitos ao Estatuto Militar e, assim, proibidos de criticar ou confrontar a autoridade.

Nos estertores da ditadura, o general Gustavo Moraes Rego foi preso por alguns dias por defender as "Diretas Já" e criticar o então presidente, general João Figueiredo. Era um outro momento, e a causa, outra. Hoje, o que pode colocar Dilma e os militares em lados opostos é o passado: a Comissão da Verdade, que pode colocar oficialmente ex-presidentes e ex-comandantes militares no banco dos réus da história.

Como pano de fundo, questões que aparentemente passam bem distante das casernas, mas nem tanto. O principal exemplo é o aborto, que mexe com o conservadorismo e a forte presença religiosa na "família militar".

Para as cúpulas, o que interessa é soldo, farda nova, rancho bom, equipamento e treinamento. A dúvida é saber se a oficialidade na caserna pensa mais como as cúpulas ou mais como os inquietos clubes militares.

A boa notícia é que, pensem como pensarem, os militares têm pouco a fazer além de resmungar. Em democracias, militares batem continência para o poder civil.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Falta de interesse:: Merval Pereira

Antes de um Gosplan de educação profissional - política de economia planejada da antiga União Soviética - , é preciso ouvir a demanda do trabalho e do capital. É assim que o economista Marcelo Neri, do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getulio Vargas, no Rio, define os resultados de uma pesquisa baseada no processamento e análise do suplemento especial da Pnad feita para o Senai, sobre as razões da falta de demanda por cursos profissionalizantes.

Ao mesmo tempo em que a pesquisa revela a busca crescente pelos cursos profissionalizantes na Classe C emergente, mostra também números impressionantes: nada menos que 83% das razões apresentadas pelos pesquisados sem educação profissional se referem à falta de demanda, e não de oferta.

Isto é, os cursos oferecidos não encontram correspondência no mercado nem no interesse dos alunos, e uma coisa tem a ver com a outra.

Em particular, 69% daqueles sem educação profissional apontam falta de interesse nos cursos oferecidos, e não falta de cursos.

A perda de interesse, por sinal, também é a razão apresentada por 55% dos que abandonaram no meio tais cursos.

A falta de interesse das empresas em contratar, por sua vez, explica 31% da não recolocação no mercado dos egressos destes cursos.

Segundo o economista Marcelo Neri, a falta de interesse reflete a inadequação dos cursos às necessidades das pessoas.

No caso da educação profissional, o que preocupa, aponta Neri, é que a falta de interesse também é a principal razão (40,7% do total) para a população de 15 a 17 anos que deveria estar no ensino médio regular não frequentá-lo.

A inadequação dos cursos técnicos reflete as especificidades do mercado de trabalho, como o oferecimento de um curso de datilografia quando as pessoas querem um de informática, exemplifica Marcelo Neri.

Esse seria o lado Gosplan de não se olhar para o que as pessoas, que formam o mercado de trabalho, querem.

Outro ponto importante para o economista é que falta informação da população em geral sobre os impactos do curso. Por exemplo, o técnico médio alavanca o salário em 14% para cima do que se obtém com o médio regular.

Neri diz que uma linha de investigação que não vem sendo explorada devido à falta de dados é composta de perguntas diretas aos jovens sem educação profissional sobre a falta de motivações: seria a falta de interesse, necessidade imediata de geração de renda, ou seriam baixos retornos prospectivos percebidos por eles?

Essas questões encontram respostas a partir do depoimento daqueles sem curso profissionalizante. A falta de demanda da população, que é a razão majoritária para não fazer cursos profissionalizantes, se divide por sua vez em dois tipos básicos: falta de interesse intrínseco (68,8%) e falta de condições financeiras (14,17%), que a princípio é um motivo de demanda, mas, como ressalta Marcelo Neri, poderia ser enfrentado com a oferta de bolsas de estudo profissionalizantes, como nas tentativas de atrelá-las ao programa Bolsa Família, na criação de um Prouni do ensino técnico, ou em outras iniciativas de governos estaduais na área.

Os demais motivos alegados ou são residuais (6,57%) e a falta de oferta (10,47%). As motivações de oferta, por sua vez, dividem-se em falta de escola na região (8,64%), falta de curso desejado na escola existente (1,4%), falta de vagas nos cursos existentes (0,43%).

A demanda pregressa por educação profissional está positivamente correlacionada com a escolaridade das pessoas, passando de 3% para os sem escolaridade regular e chegando a 23,5% aos 8 anos completos de estudo, fase de entrada no ensino médio, quando cresce ainda mais aceleradamente, atingindo o ápice nos 10 a 12 anos completos de estudo regular, ocorrendo aqui um planalto em torno dos 45%.

Este é o ponto quando ocorre a passagem do ensino médio para o ensino superior. A partir dos 12 anos de estudo, a demanda começa a cair chegando aos 31,1% nos 16 anos de estudo, estabilizando a partir deste ponto.

Marcelo Neri analisa que gestores e pesquisadores têm o hábito de basear decisões e sugestões de política pública seguindo perspectiva de oferta, e não de demanda.

"Frequentemente nos esquecemos que o derradeiro teste da política pública se dá na sua aceitação, ou não, pela respectiva clientela final", lamenta.

Por exemplo, quando perguntamos aos pequenos empresários qual a natureza da maior dificuldade percebida do negócio, se é deficiência de tecnologias, infraestrutura, formalização, crédito, mão de obra qualificada, entre outras, a resposta mais frequente é nenhuma das alternativas, mas "falta de clientes ou excesso de concorrência no mercado".

Os dados do CPS da FGV mostram que proporção semelhante é encontrada em pesquisas que perguntam ao jovem de 15 a 17 anos por que não está na escola regular: 67% das respostas abrangem elementos de demanda como falta de interesse ou renda.

Antes de partir para um grande Gosplan de educação profissional é preciso ouvir a demanda do trabalho e do capital, adverte Marcelo Neri.

Não basta ter no papel um bom plano de educação profissional que atenda prioridades produtivas vislumbradas para a nação, mas ele tem que antes, e acima de tudo, atender as aspirações dos trabalhadores e das empresas.

O estudo da Fundação Getulio Vargas do Rio mostra que a análise da demanda por educação profissional é muito mais complexa que a da educação regular.

O menu profissionalizante inclui cursos de qualificação profissional, técnico de ensino médio e graduação tecnológica numa miríade de temas indo da informática à saúde passando por cursos de estética e de gestão, entre outros.

Nessa selva de cursos de diferentes níveis e temas ofertados por diferentes atores é fácil se perder no caminho, adverte o trabalho da FGV.

FONTE: O GLOBO

A erosão do Estado :: Fernando Rodrigues

Uma repartição na Bahia decidiu contratar nove pessoas para o curioso cargo de "representante territorial de cultura". Entre os pré-requisitos estava a "atuação em sindicatos, partidos e organizações da sociedade civil".

O despautério foi noticiado pela mídia. O governador da Bahia, Jaques Wagner, do PT, abortou a operação. "Achei um absurdo, injustificável", disse. Como consequência, foi demitido um dos responsáveis diretos pela tentativa de oficializar o aparelhamento do Estado.

Esse episódio é exemplar da erosão dos valores e do senso comum dentro do Estado. O "aparatchik" do PT baiano só escreveu o edital de contratação exigindo atuação partidária porque se sentiu à vontade. Um bípede com Q.I. acima de 60 sabe que numa democracia é impróprio exigir de um servidor público que se filie a um partido político.

Porteira arrombada, cadeado nela. O governador Jaques Wagner achou um absurdo. O responsável direto foi demitido. Muito bem. Só que a história não fecha. E quem explica o ambiente propício no governo baiano para se criar constrangimentos como esse? Claro, porque a última coisa que se poderia imaginar é que um integrante do governo da Bahia tenha tirado apenas de sua cabeça a ideia de exigir filiação partidária de novos contratados.

Em política não há ingênuos. Todos sabem muito bem como tais coisas acontecem. Não é de hoje nem de ontem que políticos contratam apaniguados para incrustá-los na máquina pública. Essas cracas sempre existiram.

A novidade agora é a sem cerimônia de tentar dar um ar de legalidade a algo ignóbil. Essa deterioração do Estado tem sido constante e gradual. A volta do país à democracia civil em 1985 não conseguiu por um freio nesse péssimo hábito. A chegada do PT ao poder central e em alguns Estados seria uma novidade. Não foi. O fracasso prossegue.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

A Unesp, 36 anos depois :: Marco Aurélio Nogueira

À memória do professor José Ênio Casalecchi (1939-2012), cujo legado honra uma geração

Quando a Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp) foi criada, em 1976, poucos acreditavam que daria certo. A organização de uma instituição universitária digna do nome a partir de faculdades isoladas distribuídas por 15 cidades do interior paulista parecia desafio impossível de ser vencido. Fugia das tradições acadêmicas brasileiras e não tinha modelos para seguir. Além do mais, o clima geral do País - estávamos no auge da ditadura militar - hostilizava a vida intelectual, esteio da organização acadêmica que se pretendia.

Os primeiros anos foram difíceis, marcados por muitas arbitrariedades. Havia, porém, uma base de onde partir, fornecida pelas faculdades que se reuniam na nova estrutura e estavam solidamente estabelecidas. A ideia-força era consolidar o que se tinha para então interiorizar a universidade. O esforço confundia-se com a expectativa de democratização do País, ganhando fôlego e impulso com ela.

O primeiro reitor organicamente vinculado à comunidade acadêmica, Jorge Nagle, foi escolhido no momento (1984-1985) em que o regime militar se decompunha, às portas da Nova República. Foi nesses anos emblemáticos que a Unesp ganhou seu primeiro sopro de identidade e começou a se reconhecer como tendo direito de existência, sem sentimento de inferioridade em relação a outras universidades.

Passados 36 anos, hoje a Unesp é uma universidade com todas as letras. Passou a ser vista com respeito dentro e fora do País. Está implantada em 23 cidades, incluída a capital do Estado. E exibe números impressionantes.

Seus 3,5 mil professores compõem com os 7.153 funcionários uma plataforma consistente para as atividades de ensino, pesquisa e extensão de serviços. A Unesp oferece 171 opções de cursos de graduação, que formam, por ano, 5,6 mil novos profissionais e agregam mais de 35 mil alunos. Na pós-graduação, mais de 10 mil alunos estudam em 117 mestrados e 93 doutorados acadêmicos. Milhares frequentam cursos de especialização. Os inscritos no vestibular passaram de 9.700, em 1976, para 89.550, pois o número de vagas oferecidas aumentou de 2.800 para 8 mil.

A Unesp está entre as instituições que mais produzem ciência no Brasil, em todas as áreas. Seus projetos de extensão universitária incluem apoio à gestão municipal, orientação a pequenos empresários, atendimento médico e odontológico, formação de professores e previsão do tempo para agricultores.

Sua infraestrutura inclui 1.900 laboratórios e 30 bibliotecas, com 2,6 milhões de livros, além de museus, biotérios, clínicas de psicologia e fisioterapia, hospitais veterinários e cinco fazendas experimentais, perfazendo uma área total de 62,8 milhões de m2. Conta ainda com o importante Hospital de Clínicas de Botucatu, com 462 leitos, e administra o Hospital Estadual Bauru, com outros 318 leitos.

A Unesp deixou de ser vista com desconfiança. Em 2010, figurou em 6.º lugar no Ranking Ibero-Americano SIR. Ao longo de 2011, avançou 116 posições no Webometrics Ranking of World Universities, passando a ocupar a 122.ª posição no mundo e a 4.ª na América Latina. Por mais que tais rankings sejam polêmicos e não devam ser lidos de forma produtivista, deixando de lado a qualidade do que se faz, alguma coisa eles indicam.

Como pôde a Unesp dar esse salto? Houve, antes de tudo, a longa série de reitores comprometidos com a construção de uma universidade que se dedicasse à pesquisa sem descuidar do ensino e fizesse de sua distribuição espacial um fator de adensamento estratégico no território paulista. Isso possibilitou a fixação de um padrão de gestão e facilitou a incorporação da ideia de autonomia não como questão financeira, mas, sim, como liberdade de fazer escolhas e tomar decisões - autonomia diante do Estado, dos dogmas, dos interesses particulares e das pressões locais.

Mas nada disso teria proliferado se professores e servidores técnicos não tivessem demonstrado determinação. Quem trabalha na Unesp sabe como é forte o preconceito contra as "faculdades do interior" e como pesa a atração dos grandes centros. Houve um momento em que a Unesp parecia ser uma espécie de trampolim para a USP. Alguns docentes fizeram essa trajetória, que nada tem de condenável. A maioria, no entanto, permaneceu nos câmpus, convertendo-os em ótimos lugares para produzir ciência e ensinar. São eles o maior patrimônio da Unesp.

Hoje, imersa numa fase de sucesso, a Unesp precisa permanecer interpretando com rigor o mundo e as pessoas que a cercam. Há problemas e desafios novos a exigir respostas novas, tanto no âmbito da gestão quanto do ensino e da pesquisa. Muitos deles são de natureza ética e política. Como ensinar, como ligar a formação acadêmica ao mercado, como fazer ciência de ponta sem deixar de lado a ciência aplicada? O que fazer com as tecnologias da informação e as possibilidades de ensino a distância? Qual o papel dos professores na direção da universidade? Não há consensos consistentes a esse respeito. Dá-se o mesmo com inúmeras outras questões.

O vitorioso projeto da Unesp tem tudo para seguir em frente. Sua continuidade depende basicamente da capacidade que a comunidade acadêmica (os professores, sobretudo) tiver de fortalecer os pactos internos e o diálogo institucionalizado. Daqui para a frente, problemas e desafios tenderão a ser sempre mais complicados. Exigirão, por isso mesmo, doses adicionais de entendimento e articulação, para que interesses e modos de pensar particulares continuem a se manifestar sem competir entre si de modo improdutivo. Esse é certamente o melhor recurso para que o planejamento institucional possa ser feito com os olhos no longo prazo e nas necessidades sociais.

Marco Aurélio Nogueira, professor Titular de Teoria Política e Diretor do Instituto de Política Públicas e Relações Internacionais da UNESP

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

O risco das ilusões :: Cristovam Buarque

Mais do que o usual, os economistas se dividem diante das alternativas a serem seguidas pela Grécia: uns defendem austeridade reduzindo gastos do setor público para reencontrar o equilíbrio fiscal e retomar o crescimento; outros defendem exatamente o contrário, mais gastos públicos como forma de incentivar o crescimento na economia, para depois elevar a receita e equilibrar as finanças.

Mas faltou unanimidade na percepção de que a crise poderia ter sido evitada se a economia não tivesse criado ilusões. A ilusão do euro, que dava ao consumidor um poder de compra muito acima da real possibilidade da economia; a ilusão do dinheiro fácil, que vinha dos bancos para financiar gastos como se eles não fossem ser exigidos de volta com juros; e a ilusão criada pelo governo que se endividava para pagar gastos correntes, sem retorno produtivo. Durante alguns anos essas ilusões de riqueza funcionaram, escondendo a realidade de uma economia pobre, sem competitividade, nem investimentos.

Quem não lembra dos argentinos comprando o litoral catarinense, depois os espanhóis e portugueses comprando as praias do Nordeste. Todos esses países depois entraram em crises parecidas.

A discussão, portanto, não deve se resumir a se é preciso austeridade ou elevação de gastos públicos, mas se a austeridade que está vindo é tardia ou não, se não teria havido um caminho capaz de combinar austeridade nos gastos correntes com a elevação nos gastos em investimentos produtivos e sociais. Um keynesianismo produtivo e social, como vem sendo defendido há alguns anos.

Quando se descobre que uma economia está funcionando na base de ilusões, ela desmorona, como as famosas pirâmides financeiras, hoje chamadas de bolhas, que encantam ingênuos e até enriquecem os que as criaram, apropriando-se do dinheiro dos que vêm depois. Mas a simples austeridade - demitindo servidores, parando obras, desarticulando escolas e hospitais - não vai dar o resultado que se espera. O custo social que ela cria é insustentável moral e politicamente, e provavelmente não resistirá além das próximas eleições de abril, na Grécia. Entre políticos responsáveis e insensíveis à miséria, e os demagogos que prometem ilusões, os eleitores votarão pela ilusão. E a crise política agravará ainda mais a situação, até o dia em que a própria democracia desmorone e um regime autoritário, embora dentro de certo marco legal, imponha as saídas necessárias.

Para evitar este dilema maldito, entre a ilusão insustentável e o custo social inaceitável, as saídas deverão combinar austeridade - suspendendo gastos supérfluos, taxando rendas elevadas, reduzindo consumo desnecessário -, ao mesmo tempo mantendo empregos, ainda que reduzindo salários elevados e jornada de trabalho, mantendo os serviços públicos, reorientando gastos públicos para investimento, inclusive na educação, ciência e tecnologia para criar competitividade. Ao lado disso, seria necessária uma "moratória consentida" de pelo menos parte da dívida pelos credores e a redução interna de preços como uma forma de desvalorização sem sair do euro.

Esta visão de austeridade-com-investimentos pode ser uma lição para o Brasil. Todos os países hoje em crise passaram por períodos com a mesma euforia ilusória. Se eles tivessem, no momento certo, eliminado as ilusões e feito as devidas correções de rumo, não estariam na crise da qual a Grécia é apenas o símbolo pelo tamanho de sua tragédia. Estamos passando por ilusões assemelhadas: moeda supervalorizada, Estado perdulário, financiamentos alavancados superficialmente, rendas elevadas para uma minoria, consumo aquecido, baixa poupança e investimentos, substanciais compras de bens e serviços importados que desindustrializam o país.

Os países em crise não aprenderam com as crises anteriores, como a Argentina há dez anos, e apresentam quadro ilusório parecido: euforia da moeda vinculada ao dólar, como a Grécia fez ao entrar no euro; gastos elevados com Copa do Mundo em Buenos Aires e as Olimpíadas em Atenas. Não podemos deixar de enxergar que uma parte de nossa economia está sob efeito de ilusões, na linha do que diz o texto "A economia está bem, mas não vai bem", que pode ser acessada no endereço eletrônico http://bit.ly/wVUR0j. Precisamos fazer hoje os ajustes que a Grécia e a Argentina não fizeram no momento certo, quando preferiram o risco das ilusões.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF).

FONTE: O GLOBO

Garota de Ipanema e o astronauta - Peri Ribeiro e Leny Andrade

Ontem, voto do Brasil moderno fez 80 anos

Código Eleitoral de 1932 trouxe consigo o voto secreto, o feminino e a Justiça eleitoral

Gabriel Manzano,

O Carnaval já passou, mas bem que as 71 milhões de eleitoras brasileiras poderiam ter saído ontem, 24, às ruas comemorando. Nesta data fez 80 anos que o voto feminino entrou em cena - uma gentileza que fez à mulher brasileira o presidente Getúlio Vargas, ainda não ditador, a 24 de fevereiro de 1932, quando mandou publicar o primeiro Código Eleitoral do Brasil. Se hoje as mulheres são maioria no eleitorado (52%), se elas dominam 24 dos 27 Estados brasileiros, se têm no Palácio do Planalto o mais poderoso dos 136 milhões de votos, que agradeçam ao caudilho gaúcho que, lá atrás, abriu-lhes as portas da política.

Na mesma penada o código trouxe também o voto secreto - um definitivo adeus aos currais eleitorais da Velha República, controlados por velhos coronéis. No pacote, a Justiça eleitoral e o voto classista, que permitia às profissões elegerem seus representantes no Congresso. O cidadão começava a respirar uma pequena amostra do Brasil moderno.

Mas a história, é bom lembrar, não se faz de datas. Quatro meses depois o mesmo Getúlio sufocou a Revolução Constitucionalista de São Paulo, que pedia eleições diretas para presidente. Em 1934 se fez reeleger presidente pelo voto indireto de uma assembléia. Em 1937 liquidou todas as leis e implantou uma ditadura de oito anos. Mas o precedente estava aberto. Assim, o voto secreto, o feminino e a Justiça eleitoral voltaram à cena, sem traumas, na nova Constituição de 1946.

"O código foi uma concessão tardia de Vargas ao tenentismo", explica o cientista político Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais. "Mas foi um passo de enorme importância para modernizar o Brasil". Com ele começou "uma persistente incorporação de imensas parcelas do povo ao processo de escolha dos dirigentes". Nesta entrevista, Wanderley Reis avalia essas oito décadas e deixa a advertência: "Tivemos grandes progressos, como o acesso à educação. Mas falta a incorporação sócio-cultural. Falta fazer a educação funcionar, para termos cidadãos capazes de votar judiciosamente".

Qual o impacto, 80 anos depois, do Código Eleitoral de 1932?

Ele foi de uma importância enorme na vida brasileira. Ao mesmo tempo, foi um fruto das contradições da experiência getulista. Com o voto secreto, o direito de voto às mulheres e a Justiça Eleitoral, Vargas abriu caminhos para modernizar o País. Passadas oito décadas, essa Justiça amadureceu. Hoje os 190 milhões de eleitores podem usufruir de um sistema fácil, moderno, transparente e democrático.

O que explica essa iniciativa democrática de Getúlio Vargas?

De certo modo, foi uma concessão tardia ao tenentismo. Havia no movimento tenentista dos anos 20 ideais de modernização do Brasil e Getúlio, em sua estratégia de poder, decidiu incorporar algumas aspirações desse grupo. Um moderno sistema eleitoral era uma delas.

Todo esse avanço pouco ajudou na participação dos cidadãos na política. Por quê?

Eu mitigaria um pouco esse contraste. Claro que há erros e problemas, mas o que vimos ao longo dessa história foi a incorporação de imensas parcelas do povo ao processo de escolha dos dirigentes. Nas últimas décadas, o eleitorado cresceu num ritmo muito superior ao da própria população. Os atuais 135,8 milhões de eleitores representam 72% da população. Esse imenso eleitorado afeta bastante a ação dos políticos, pesa em suas estratégias. O resultado é uma nitidez bem maior na correlação de forças, entre lideranças políticas e eleitores.

Pode dar exemplos disso?

Os confrontos entre Lula e Alckmin em 2006, ou de Serra e Dilma em 2010, mostram o forte impacto da opinião do eleitorado, que precisava ser conhecido e conquistado. Assistimos naquelas campanhas a um enfrentamento político no País real. Há enormes problemas com os partidos, mas eles hoje não sobrevivem se não souberem como tratar as novas classes em ascensão. Claro que há muito a avançar, ainda.

O que há para avançar?

Refiro-me a problemas graves, como essa judicialização da política e a politização da Justiça na vida brasileira. Há questões doutrinárias a conciliar. Tivemos o maluco episódio da verticalização, que ignorava o Brasil real e acabou derrubada pelo Supremo. Mas, só como comparação: não temos cenas como a da Venezuela, onde a Justiça eleitoral tenta se apossar de votos das prévias da oposição, certamente para ter uma lista de inimigos do governo autoritário.

Fala-se, às vezes, em acabar com o voto obrigatório. O sr. é a favor disso?

Sou a favor de manter a obrigatoriedade do voto. Minha opinião é que ele não deve ser entendido como um direito, e sim como um dever. Já ficou claro, em tantas experiências mundo afora, que há um componente econômico no comportamento do eleitor. Os pobres, podendo, tendem a abandonar esse direito, e se caminha para uma elitização das eleições. No Brasil, se deixarem o pobre não vota mais - e aí teremos mais exclusão.

Muitos eleitores se afastam por sentir que políticos não são sérios, nunca são punidos, que os partidos fazem o que querem...

Sim, e por isso se arrastam tantas discussões, como a da reforma política. Acredito que melhoraria muito se fosse introduzido o voto em lista e no partido, que simplificaria o controle da sistemática eleitoral. Mas é preciso também criar partidos com consistência, evitar que eles sejam controlados por uma pequena oligarquia.

Não há sinais de que a classe política queira mudar as regras atuais, que ela própria criou.

Já aprendemos também que não se muda um País só mudando dispositivos legais. Isso traz ao debate outro lado da questão. É a urgência de se avançar na educação, na incorporação sócio-cultural, além da econômica. Tivemos grandes progressos no acesso à educação, mas agora falta fazê-la funcionar, para termos cidadãos capazes de votar judiciosamente.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Ainda um Boeing

O Carnaval voltou a registrar mais uma triste marca nas estradas brasileiras. Embora, felizmente, tenha diminuído o total de acidentes no último feriado, o Brasil continua a figurar entre as mais macabras estatísticas mundiais. É como se, a cada folia, um Boeing caísse no país.

Segundo balanço divulgado ontem pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), entre sexta-feira passada e a Quarta-feira de Cinzas 176 pessoas morreram em acidentes rodoviários nas estradas federais. Trata-se de queda de 18,5% na comparação com o Carnaval de 2011, que registrara a pior marca da história, com 216 mortes. No geral, neste ano o número de acidentes caiu 22,4% e o de feridos, 25,6%.

É forçoso lembrar, porém, que os dados da PRF dizem respeito só às rodovias federais, ou seja, a apenas 25% das vias pavimentadas do país. Se forem consideradas todas as estradas, o número médio de mortes no país é de cerca de cem por dia, ou 36 mil por ano, segundo o Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos).

A PRF atribui os resultados positivos deste ano a uma fiscalização mais enérgica nas estradas. Trechos mais perigosos - cerca de 600 km - mereceram atuação especial, em conjunto também com polícias militares, civis e municipais. Blitz para flagrar embriagados também foram intensificadas. Tudo indica que tenha sido uma boa estratégia. A questão que fica é: por que não antes?

Todas as reduções nas ocorrências registradas neste ano merecem ser saudadas, mas ainda é muito cedo para comemorar. O Brasil tem uma imensa malha rodoviária, desproporcional até mesmo para suas dimensões continentais. Mas esta opção preferencial pelas estradas de rodagem não encontra nível de segurança à altura.

A realidade é que a estrutura federal de fiscalização e policiamento é caquética. A PRF, por exemplo, está com concurso suspenso desde 2009 para preencher 750 vagas. A instituição admite trabalhar hoje com déficit de 30% em seu efetivo em alguns estados. São comuns nas rodovias postos de fiscalização fechados e balanças - que poderiam evitar abusos no transporte de cargas - inoperantes.

No Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), o quadro não é menos desanimador. O órgão trabalha com metade do número de funcionários considerado ideal, enquanto 43% têm a perspectiva de se aposentar até 2015, como mostrou O Estado de S.Paulo no domingo. Com isso, a execução das obras sob sua alçada é irrisória; ao mesmo tempo, a precariedade abre uma autoestrada para desvios.

Lançado em 2008 para melhorar as condições da malha viária do país, o Programa de Restauração e Manutenção de Rodovias, por exemplo, deveria resultar em intervenções em 32 mil km de estradas. Mas, até hoje, o Dnit só licitou serviços para 5 mil km e somente 700 km têm obras contratadas.

Estado com a maior malha rodoviária federal do país, com 10,3 mil km, Minas Gerais sofre diretamente com o desleixo: foi apenas a 13ª unidade da Federação mais bem atendida pelo governo do PT desde 2003. Segundo o Estado de Minas, "dos 37 editais lançados pelo Dnit desde o início de 2011 para obras em BR no estado, 27 (76%) continuam parados nas gavetas do departamento".

Não é novidade que o investimento público em infraestrutura de transportes seja totalmente insatisfatório no Brasil. Mas o seu baixo nível de execução chega a assustar. De acordo com o Ipea, o país deveria injetar 3,4% do PIB no setor, o que significaria pelo menos R$ 125 bilhões por ano. Em 2010, no entanto, o valor ficou em R$ 23,4 bilhões, mostra hoje o Valor Econômico.

O governo Dilma Rousseff tem indicado que pretende abrir-se mais para investimentos privados em infraestrutura viária, notadamente aeroportos e também rodovias. A diferença de qualidade entre os trechos de estradas já concedidas em estados como São Paulo e a da malha mantida pela gestão federal ilustra a distância que separa aqueles desta. É hora de acelerar para que este abismo não continue a cobrar seu preço também na forma de vidas humanas.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela

Serra: A um passo da disputa

Serra deve enfrentar prévias e discute com Alckmin desfecho sobre eleição em SP

Silvia Amorim

Uma reunião entre o ex-governador José Serra e o governador Geraldo Alckmim, anteontem à noite, para discutir o desfecho para o impasse da candidatura do PSDB à prefeitura de São Paulo foi considerado por lideranças do partido como o primeiro passo do tucano rumo à oficialização da entrada dele na disputa. Embora Serra não tenha comunicado a sua decisão, grupos que articulam a entrada dele nas eleições municipais já cogitavam ontem a participação do ex-governador nas prévias do partido. Uma saída jurídica para isso está sendo estudada pela direção do PSDB há alguns dias, pois o prazo de inscrição no processo já terminou.

Serra e Alckmin ficaram de conversar mais uma vez no fim de semana. As prévias tucanas estão marcadas para o próximo dia 4. Quatro pré-candidatos estão inscritos, sendo três secretários do governo Alckmin - Andrea Matarazzo, Bruno Covas e José Aníbal - e o deputado federal Ricardo Trípoli.

Duas possibilidades estão sendo analisadas por aliados do ex-governador e de Alckmin para a entrada do tucano na disputa. A primeira é a manutenção da data da prévia e a deflagração de uma operação política de emergência para conquistar, ao longo da próxima semana, os votos que Serra precisaria para vencer os demais participantes. A segunda é o adiamento, em duas semanas, da disputa interna, permitindo, assim, um tempo maior para as costuras políticas.

"Serra é candidato. Não tem mais jeito"

Para alguns líderes do PSDB, a candidatura de Serra já é um fato consumado.

- O Serra é candidato. Não tem mais jeito - sentenciou ontem um tucano envolvido nas negociações.

Ontem, o partido divulgou as cédulas a serem usadas na votação. Caso Serra entre na disputa, o PSDB precisará rever a organização da eleição interna, como reprogramar as urnas e reimprimir novas cédulas.

Cenário que ganhava força no início do mês, a aclamação do ex-governador como candidato único por meio de um cancelamento das prévias já era considerada ontem o menos provável, devido ao desgaste político que representaria para o partido, para Alckmin e para o próprio Serra. Nesta semana, manifestações de militantes a favor das prévias confirmaram as suspeitas da cúpula do partido de que reverter o processo de mobilização iniciado ainda no ano passado seria um tiro no pé. A avaliação é de que, neste caso, haveria um risco de falta de engajamento da base do partido numa eventual campanha de Serra.

Mesmo a eventual entrada tardia de Serra na disputa interna não é uma questão pacífica no PSDB. O pré-candidato José Aníbal é um dos resistentes a uma remarcação das prévias:

- Não sou iôiô. Sou candidato a prefeito e vou participar das prévias marcadas para o dia 4. Se o Serra quiser participar, ele que converse com o partido e participe das prévias. Mas elas têm que acontecer agora. Todo o partido foi mobilizado para que as prévias aconteçam no dia 4. Eu fiz 100 reuniões com militantes e não posso agora dizer para esses militantes que esqueçam tudo o que conversamos.

José Aníbal afirmou que está participando das prévias por orientação de Alckmin e que ele não o procurou para dizer que as regras do jogo tinham mudado:

- O partido não tem dono. Se Serra quiser ser o candidato, tem que participar das prévias. Já desisti para ele ser o candidato a prefeito em 2004, mas, desta vez, não vou fazer isso. Eu me sinto preparado para ser candidato a prefeito.

Trípoli também reagiu, alegando desconhecer qualquer negociação para o adiamento das prévias:

- O governador Alckmin disse que o Serra teria que conversar com os pré-candidatos se quisesse ser candidato. Comigo ele não veio conversar até hoje. Então, tudo está mantido.

Um dia após a conversa com Serra, Alckmin repetiu ontem à imprensa o discurso de que as prévias estão mantidas para o dia 4 e que não há, por enquanto, "fato novo" que justifique uma análise do partido:

- As prévias estão mantidas, e se tiver algum fato novo, discute-se.

Os articuladores da entrada de Serra também não descartam uma disputa, na prévia, entre o ex-governador e somente dois dos pré-candidatos (Trípoli e Aníbal). Eles acreditam ser possível convencer Andrea Matarazzo, que é amigo de Serra, e Bruno Covas a apoiarem o ex-governador.

A hipótese de deixar para discutir a entrada de Serra após a realização das prévias tem sido vista com reservas no PSDB. Para viabilizar esse plano, seria estratégico eleger um pré-candidato considerado menos resistente a um acordo para ceder depois a vaga ao ex-governador. Mas o próprio Serra já teria avisado que, se for candidato, disputará as prévias.

A pressão para que Serra aceite disputar a eleição começou ainda em janeiro, a pedido de Alckmin. Mas foi a aproximação do PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, com o PT do pré-candidato Fernando Haddad que fez Serra repensar a decisão de não se lançar na disputa municipal. O PSD é um partido estratégico para as ambições nacionais do ex-governador.

Nas últimas semanas, o tucano tem procurado assessores para avaliar as suas chances na eleição. Serra não enfrentará uma situação confortável no pleito. Ele tem a maior rejeição entre os adversários e ainda terá que vencer a força do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal cabo eleitoral de Haddad.

O PSDB desconhece o real tamanho do colégio eleitoral tucano na capital. Na teoria, cerca de 20 mil filiados estão aptos a votar nas prévias, mas a previsão é de que entre 5 mil e 7 mil pessoas compareçam às urnas.

FONTE: O GLOBO

Serra discute candidatura com Alckmin e pode ir às prévias

José Serra reuniu-se com o governador Geraldo Alckmin para discutir sua entrada como candidato à Prefeitura de São Paulo. Os dois analisam uma eventual participação do ex-governador na prévia do PSDB, marcada para 4 de março. A informação foi antecipada ontem no portal estadão.com.br. A operação foi apontada como a forma menos desgastante de colocar Serra na disputa eleitoral. Os pré-candidatos José Aníbal (secretário de Energia) e Ricardo Tripoli (deputado federal) dizem que não vão desistir. A saída passaria a ser a participação de Serra com apoio dos outros dois pré-candidatos: os secretários Andrea Matarazzo (Cultura) e Bruno Covas (Meio Ambiente). No encontro com Alckmin, no entanto, Serra ressaltou que ainda não tomou uma decisão sobre candidatura.

Serra negocia com Alckmin entrada em prévia para legitimar candidatura

Julia Duailibi, Sonia Racy

O ex-governador José Serra reuniu-se anteontem à noite com o governador Geraldo Alckmin para discutir sua entrada como candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo. Os dois analisam agora uma eventual participação de Serra na prévia da sigla, marcada para o dia 4 de março, numa ação que legitimaria a candidatura. Ao mesmo tempo, o partido analisa se a disputa interna pode ser postergada.

A informação foi antecipada ontem no portal estadão.com.br. A ideia é tentar avançar num consenso em torno do nome de Serra - ou, pelo menos, uma maioria segura. Integrantes da executiva municipal foram acionados para encontrar uma saída jurídica para a entrada de Serra na prévia, cujas inscrições foram encerradas na semana passada.

Em reunião no Palácio dos Bandeirantes anteontem, da qual participaram também o secretário da Casa Civil, Sidney Beraldo, e o senador Aloysio Nunes Ferreira, a entrada de Serra na prévia foi apontada como a forma menos desgastante de colocar o ex-governador na disputa eleitoral, num momento em que o partido já avançou no processo de escolha interna.

Apoiada por parte da direção estadual do PSDB, a prévia acabou avançando internamente, de modo que o próprio governador evita arcar com o ônus de dar uma canetada para desmarcá-la.

A avaliação da cúpula é que a indicação de Serra pela direção do partido, atropelando dois dos quatro pré-candidatos - o secretário José Aníbal (Energia) e o deputado Ricardo Tripoli dizem que não vão desistir -, seria mal digerida não só por grupos do PSDB como por eleitores.

A saída colocada na mesa de discussão passou a ser então a entrada de Serra na disputa interna, num movimento que contaria com o apoio dos outros dois pré-candidatos: os secretários Andrea Matarazzo (Cultura) e Bruno Covas (Meio Ambiente) tendem a abrir mão da corrida.

Os líderes tucanos avaliam, inclusive, que a movimentação pode acuar Aníbal e Tripoli e levá-los a desistir do processo de escolha interna, tornando Serra o candidato por aclamação - a hipótese hoje é pouco provável, mas não está descartada.

A disposição de Serra disputar a prévia, algo visto com resistência por seus apoiadores, também teria outro propósito: mostraria que o ex-governador é a favor da democracia partidária e que se submete à escolha de militantes.

Dúvida. No encontro com Alckmin, Serra fez questão de dizer, no entanto, que ainda não está decidido a ser candidato. A ressalva foi interpretada no Bandeirantes como trunfo para poder negociar com o governador. Além da questão da prévia, Serra quer a garantia de que terá um amplo arco de alianças a seu favor, o que daria a ele tempo de TV no horário eleitoral. Quer Alckmin envolvido no processo.

Vice. Apesar da disposição para composição com outras legendas, os tucanos trabalham agora com um cenário de "chapa puro-sangue". Matarazzo e Bruno, que apoiariam Serra na prévia, estão cotados para a vice.

A mudança da data da prévia seria possível em virtude de uma brecha jurídica presente em resolução do diretório estadual do PSDB, que disciplina o processo. O documento aponta que a prévia deve ser realizada até 31 de março, o que daria maior tempo para costurar a operação a favor do ex-governador.

"A mudança da data é possível, mas deve passar pela decisão da executiva municipal ou estadual do PSDB", disse um tucano.

didato o vice-governador Guilherme Afif Domingos, aliado do prefeito Gilberto Kassab (PSD), em troca de aliança pela reeleição de Alckmin em 2014. A ação foi rejeitada pelo governador, que estimulou a prévia como processo de escolha, num cenário sem Serra. Em janeiro, o ex-governador reuniu-se com aliados e avisou que não concorreria.

Kassab deflagrou, então, um processo de aproximação com o PT, o que levou o Palácio dos Bandeirantes a fazer uma operação de guerra para pressionar Serra a reverter a decisão de não ser candidato.

Colaboraram Fernando Gallo e Gustavo Uribe

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Serra decide concorrer à Prefeitura de São Paulo

Tucano cogita disputar às prévias do PSDB para escolher candidato do partido

O ex-governador José Serra decidiu entrar na corrida à Prefeitura de São Paulo e admite a possibilidade de se inscrever nas prévias convocadas pelo PSDB.

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (PSD) se reuniram ontem à noite com Serra para discutir os detalhes da candidatura.

Para evitar um desgaste político, Serra não quer que as prévias, marcadas para o dia 4, sejam canceladas.

O partido estuda a possibilidade de convencer os pré-candidatos a se retirarem do processo e até o adiamento da disputa interna.

A decisão foi tomada após meses de indefinição que paralisaram o maio: partido de oposição do governo, que teme perder a hegemonia em São Paulo para o PT.

Serra decide entrar na corrida à prefeitura e pode disputar prévias

Ex-governador diz que disputa interna "deve ser respeitada" e discute com PSDB detalhes para lançar sua candidatura

Alckmin convoca pré-candidatos para conversar sobre novo cenário em SP após reunião com o tucano

Catia Seabra, Daniela Lima

BRASÍLIA, SÃO PAULO - O ex-governador José Serra decidiu entrar na corrida à Prefeitura de São Paulo e admite a possibilidade de se inscrever nas prévias convocadas pelo PSDB para definir o candidato do partido.
A decisão foi comunicada ontem ao governador Geraldo Alckmin após meses de indefinição no maior partido de oposição do país, que teme perder para o PT nas eleições deste ano a hegemonia política que tem em São Paulo.

Alckmin e o prefeito Gilberto Kassab (PSD) se reuniram ontem à noite com o ex-governador em sua casa para discutir os detalhes do lançamento de sua candidatura.

Serra não quer que as prévias convocadas pelo partido sejam canceladas, para evitar o desgaste político que sofreria se fosse indicado candidato passando por cima do processo definido pelo PSDB.

As prévias estão marcadas para o dia 4, daqui a uma semana. Uma das possibilidades em estudo é o adiamento da disputa interna, para que Serra tenha tempo de entrar no processo partidário.

Quatro candidatos estão inscritos para participar das prévias do PSDB: os secretários estaduais de Cultura, Andrea Matarazzo, Meio Ambiente, Bruno Covas, e Energia, José Aníbal, e o deputado federal Ricardo Tripoli.

Alckmin começou a chamar ontem à noite os pré-candidatos para conversar. Aliados do governador acreditam que Matarazzo e Covas devem desistir da disputa. Aníbal e Tripoli têm dito que estão dispostos a manter suas candidaturas até o fim.

Na noite de quinta-feira, Serra disse a Alckmin que as prévias "devem ser respeitadas" e se mostrou "receptivo" à ideia de entrar na disputa, segundo pessoas familiarizadas com as negociações.

No encontro de ontem com Alckmin e Kassab, Serra confirmou a disposição de se candidatar e deixou claro que prefere disputar as prévias.

Serra, que no início do ano dizia não ter interesse em concorrer, mudou a conversa depois que Kassab começou a negociar seu apoio ao ex-ministro da Educação Fernando Haddad, do PT.

Serra queria ficar livre até as eleições de 2014 para se lançar mais uma vez à Presidência da República, mas seu espaço no partido diminuiu muito desde sua derrota para a presidente Dilma Roussef na eleição de 2010.

Mas a aproximação de Kassab com os petistas ameaçava deixar os tucanos isolados e Alckmin e outros líderes do PSDB passaram a trabalhar para convencer Serra a disputar a prefeitura.

Serra foi prefeito de São Paulo de 2005 a 2006, quando entregou o cargo Kassab, seu vice, e deixou a administração para concorrer ao governo do Estado, embora tivesse prometido ficar na prefeitura até o fim do mandato.

Kassab quer alguém do PSD como vice de Serra na chapa tucana agora, mas o ex-governador teme que isso o afaste do DEM, sigla com a qual o prefeito rompeu há um ano ao criar seu partido.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Kassab promete apoio incondicional a tucano

Evandro Spinelli

SÃO PAULO - O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), disse ontem pela manhã que irá apoiar Serra incondicionalmente, mesmo que não indique o candidato a vice.

"Se o Serra for candidato, a prioridade será elegê-lo. Todas as outras questões são menores, inclusive a vice", disse Kassab à Folha.

O prefeito tem feito elogios reiterados ao tucano, seu antecessor na prefeitura.

Serra foi eleito prefeito em 2004 tendo Kassab como vice. Em 2006, deixou a prefeitura para concorrer ao governo do Estado e Kassab o substituiu, demonstrando fidelidade total -todos os secretários foram mantidos, por exemplo.

Kassab não quis comentar a possibilidade de "chapa pura", com o vice de Serra do próprio PSDB, como tem sido ventilado.

A Folha apurou, no entanto, que o prefeito tem comentado com auxiliares e políticos que a possibilidade de chapa pura seria um suicídio político para Serra.

Segundo um dos interlocutores do prefeito, Kassab acha que se o vice for do próprio PSDB ninguém irá acreditar que Serra vai ficar na prefeitura até o fim do mandato.

Ele é um dos principais nomes do PSDB para disputar a Presidência da República em 2014.

Na avaliação do prefeito, e mesmo de tucanos, se a população não acreditar que Serra cumprirá seu mandato integralmente, dificilmente vencerá a eleição.

Em 2004, ele chegou a assinar um documento em que se comprometia a cumprir o mandato, mas renunciou pouco mais de um ano depois da posse.

Mesmo não sendo prioridade, Kassab ainda mantém a esperança de indicar o vice de Serra. O secretário municipal da Educação, Alexandre Schneider (PSD), deve ser exonerado até o fim de março para ficar como uma "reserva técnica" para a vaga.

O prefeito trabalha com a possibilidade de que, após o anúncio de sua candidatura, Serra consiga atrair outros partidos para a aliança, como o PPS, de Soninha Francine. Aí, o PSD brigaria com esses partidos pela vice.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

'Se concorrer, ex-governador abre espaço para Aécio em 2014'

Para especialista em partidos da USP, prévia do PSDB em SP pode causar consequências internas negativas

Lucas de Abreu Maia

Especialista em partidos, o cientista político Celso Roma é categórico: "Não faz sentido o PSDB realizar prévias". Segundo ele, as prévias podem causar mais danos ao tucanato que seu cancelamento. Ele avalia ainda que, se aceitar concorrer à Prefeitura, José Serra sinaliza que abandonou o projeto de disputar a Presidência e abre espaço para a indicação de Aécio Neves.

Para o PSDB, quais as consequências de abrir mão da prévia?

O cancelamento das prévias pode frustrar parte dos líderes e demais filiados do partido. Há uma expectativa de que a realização de uma consulta mais ampla incentivaria a filiação e atrairia os filiados para dentro do partido. Mas as consequências podem ser mais negativas se o partido realizar prévias. Se o escolhido não for José Serra, o candidato do PSDB terá maior risco de perder a eleição. Além de sofrer a indiferença da cúpula do partido, ele teria dificuldade para costurar coligação, seja com aliados tradicionais como o DEM, seja com aliados em potencial como o PSD. Isolado no ninho tucano e rejeitado pelo prefeito Gilberto Kassab, o eventual candidato do PSDB concorreria sob condições bastante adversas.

Faz sentido realizar prévias em um partido como o PSDB - essencialmente de quadros e com pouca base social?

Não faz sentido o PSDB realizar prévias. Embora o método esteja definido no estatuto do partido como uma alternativa para a definição dos candidatos, desde a sua fundação em 1988 os líderes do PSDB tomam as decisões. As prévias teriam legitimidade se o PSDB contasse com um número grande de filiados e militantes, com participação nas atividades. Mas o processo de filiação ao PSDB é feito sem um controle rigoroso. O PSDB não sabe nem dizer quantos e quem são os filiados aptos a participar da vida partidária.

Seria possível a realização das prévias e, depois, a retirada do vencedor em prol de Serra?

Isso não faria sentido nenhum. Ou a direção do PSDB mantém as prévias e legitima o método de resolver a disputa pela vaga, ou a cúpula consolida a tradição de tomar as decisões relevantes para o futuro do PSDB.

O sr. concorda com a avaliação de Lula de que uma aliança PT-PSD enfraqueceria a posição do PSDB para 2014?

Lula avaliou corretamente o significado da eleição para a Prefeitura de São Paulo. O que está em jogo é a sucessão presidencial de 2014. São Paulo demarca o território de uma enfraquecida oposição ao governo federal. Se o PSDB perder a preferência dos eleitores paulistanos e se isolar de aliados em potencial como o PSD, o caminho para a reeleição da presidente Dilma Rousseff está pavimentado.

O que a candidatura municipal significaria para o projeto político de Serra, que sempre foi o de chegar à Presidência?

Se aceitar a indicação do partido para concorrer à Prefeitura de São Paulo, Serra sinaliza que abandonou o projeto de disputar a Presidência e abre a possibilidade de o PSDB, enfim, começar a costurar um consenso em torno da indicação de Aécio Neves para 2014.

Como deve ser interpretada a alta rejeição a Serra nas pesquisas até agora?

Pode ser explicado pela polarização entre o PSDB e o PT em São Paulo. Os candidatos de renome e com experiência no governo dividem tanto a preferência como a rejeição do eleitorado. Se Marta Suplicy estivesse na disputa pela Prefeitura, ela também constaria da lista dos candidatos mais rejeitados pelos paulistanos. Já o baixo índice de intenção de votos de Serra está relacionado, em parte, à indefinição de sua candidatura e, em parte, ao fato de ele ter abandonado o cargo de prefeito (em 2006) para disputar a eleição para governador de São Paulo. O maior desafio de Serra será convencer os eleitores paulistanos de que ele deseja conquistar e cumprir o mandato de prefeito.

O que a candidatura Serra significa para o PT?

A candidatura de José Serra seria um obstáculo às pretensões políticas de Fernando Haddad. Porém, somente com o incentivo do governador Geraldo Alckmin e o apoio do prefeito Gilberto Kassab, o candidato do PSDB pode fazer frente ao candidato do PT. A eleição paulistana será um cabo de guerra entre a administração municipal e estadual, de um lado, e, de outro, a administração federal.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Tucanos tentam salvar espólio do DEM em 5 capitais

Disposto a reconquistar a confiança do velho aliado, PSDB decidiu dar apoio a candidatos viáveis da sigla para manter oposição coesa

Christiane Samarco

BRASÍLIA - Ameaçado de perder o "espólio" do DEM para o governo petista de Dilma Rousseff, caso o partido desaparecesse do mapa político do Brasil, o PSDB resolveu dar um reforço eleitoral ao velho aliado nas eleições municipais. Os tucanos já decidiram que estarão juntos com o DEM em cinco capitais e estão negociando parcerias em São Paulo, Recife e Campo Grande.

"Vamos apoiar o candidato do DEM onde o partido tiver candidato viável", anuncia o senador Aécio Neves (PSDB-MG), ao confirmar o "esforço real da direção partidária para reatar a relação de confiança com o DEM".

O sinal mais claro da disposição do PSDB nacional de reconquistar a confiança dos parceiros que resistiram à criação do novo PSD foi dado em Sergipe. A direção nacional fez uma intervenção no diretório sergipano para garantir apoio à candidatura do ex-governador João Alves (DEM) a prefeito de Aracaju e pagou o preço da desfiliação do ex-governador Albano Franco. "Nossas relações com os democratas são prioritárias", justifica o presidente nacional do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE).

Na capital paulista, a presença do PSD na coligação da eventual candidatura tucana de José Serra a prefeito não impedirá uma aliança com os democratas. O que fala mais alto é a gratidão dos dirigentes do DEM à atuação do governador Geraldo Alckmin para preservar o partido aliado.

Foi de São Paulo que o DEM saiu mais inteiro da investida do PSD. Por isto mesmo, o lançamento da candidatura de Rodrigo Garcia (DEM) a prefeito foi combinada com o governador que queria ganhar tempo à espera de uma definição de Serra. "Estamos afinando o discurso e as mágoas estão superadas", afirmou o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

"É claro que não podemos ser um partido satélite do PSDB, mas temos que estar juntos", ponderou o senador, resumindo a orientação geral das duas legendas para seus quadros em todo o País. Será assim em Goiânia, embora ainda não haja definição do candidato. Na semana passada, Demóstenes recusou o apelo do governador Marconi Perillo (PSDB) para disputar a prefeitura da capital. A única certeza por enquanto é a de que haverá aliança.

Nordeste. Em Salvador, os dois principais quadros da oposição ao PT do governador Jaques Wagner também acertaram que não disputarão entre si. Pesquisas apontam o favoritismo do líder do DEM na Câmara, ACM Neto, mas os tucanos ainda mantêm a alternativa de lançar o deputado Antônio Imbassahy.

Já em Natal, ambos convergem para a candidatura do deputado Rogério Marinho, que preside a regional tucana. Ele sai com o apoio do DEM na capital potiguar e os tucanos se dispõem a retribuir a parceria em Fortaleza, em torno de Moroni Torgan.

Sérgio Guerra lançou a candidatura do deputado estadual Daniel Coelho a prefeito do Recife, mas a decisão de investir em um quadro jovem que veio do PV não descarta a parceria com o DEM do deputado federal Mendonça Filho. A definição dependerá do que for mais estratégico para a oposição no Estado.

Em Pernambuco, onde a boa relação dos tucanos com o PSB incomoda o DEM, o projeto de Guerra é fazer com que o PSDB saia das urnas como o segundo maior partido no Estado, atrás apenas do PSB. Em número de prefeitos, a regional pernambucana já ultrapassou o PT e o projeto para este ano é bater os petistas também em número de votos.

"Das oito principais cidades da região metropolitana do Recife, já lideramos a corrida municipal em três: Jaboatão, Cabo e Ipojuca, sede do Porto de Suape que concentra a segunda maior arrecadação do Estado", relata Guerra.

Também é dado como certo um acerto eleitoral das duas siglas em Campo Grande (MS), onde o deputado federal Reinaldo Azambuja (PSDB) e seu concorrente do DEM, Luiz Henrique Mandetta, já conversaram e concluíram que têm perfis e projetos semelhantes para a cidade.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

BH: Ofensiva tucana para ser vice

PSDB reivindica maior participação da sigla na campanha de Lacerda à prefeitura e em eventual governo de BH, além de foco da aliança com os socialistas na disputa deste ano

Alice Maciel

Os tucanos começaram a colocar as cartas na mesa e entraram com tudo para ter mais espaço na campanha do prefeito Marcio Lacerda (PSB), pré-candidato à reeleição no Executivo de Belo Horizonte, e no próximo governo municipal. Entre as reivindicações dos tucanos apresentadas ao PSB, durante uma reunião ontem na casa do prefeito da capital mineira, está a vice-prefeitura, antes desdenhada pelo presidente estadual do partido, Marcus Pestana. Durante coletiva de imprensa ontem, na sede do PSDB, o político deixou transparecer que a indicação do candidato à vice-prefeitura será um ponto crucial na aliança com os socialistas. Ele ressaltou que "o vice-prefeito deverá encarnar o espírito da aliança".

Questionado várias vezes se o partido queria a cadeira, Pestana foi escorregadio e disse que o PSDB vai fazer "o que for necessário para colaborar para a vitória e êxito do segundo mandato do prefeito". De acordo com ele, não importa de qual partido seja o vice, desde de que ele não tenha foco em 2016. Além da vice-prefeitura, outros sete itens foram colocados na pauta pelos tucanos durante a reunião com os socialistas. Solicitado por Pestana, o encontro reuniu o prefeito Marcio Lacerda, o presidente municipal do PSDB, João Leite, o presidente estadual do PSB, Walfrido Mares Guia, o secretário-geral do PSB em Minas Gerais, Mário Assad. Na quinta-feira à noite, o PSB havia desmarcado almoço agendado para ontem com os tucanos, devido ao desconforto gerado pelo conjunto de reivindicações do PSDB, antecipadas na semana passada pelo Estado de Minas. Os socialistas não foram localizados pela reportagem para comentar sobre o encontro.

Além da indicação do vice na chapa majoritária, o PSDB quer maior participação nos eventos de campanha e em um eventual futuro governo. Segundo Pestana, esses itens já estão acertados com o PSB. "O PSDB tem hoje uma participação na prefeitura desproporcional ao seu tamanho. O partido é o maior de Minas. Nós queremos que, no segundo mandato de Lacerda, tenhamos participação proporcional ao peso político", ressaltou.

A valorização da chapa de vereadores do PSB, em caso de coligação proporcional, e a aliança formal também já são assuntos Sque estão fechados com o partido de Lacerda, segundo o presidente estadual do PSDB. Os tucanos querem uma coligação transparente e que o senador Aécio Neves (PSDB), o governador Antonio Anastasia (PSDB) e as lideranças petistas Fernando Pimentel e Patrus Ananias subam juntos no palanque. "Temos que dizer qual é o sentido da aliança, quem a compõe, quem são os líderes, qual é o programa", ressaltou Pestana.

Apesar de defender a união, o presidente do PSDB cutucou os petistas em vários momentos. Segundo ele, o PSDB não vê nenhum empecilho em sentar com o PT, e o problema dos petistas é psicológico. Até o ex-presidente Lula levou uma cutucada: "Eu creio que a questão no PT (em relação à aliança) já está resolvida, porque não há mais democracia interna no partido. Na verdade, há um comando sólido e firme do Lula".

As duas últimas demandas dos tucanos apresentados ontem foram o foco nas eleições de 2012, sem que sejam colocados em jogo 2014 e 2016, e a intensa participação de Aécio e Anastasia nos programas de rádio e televisão e nas demais peças de campanha, "para tornar claro o conteúdo da aliança". Para isso, a aliança formal é essencial, já que a legislação eleitoral não permite que lideranças de partidos participem da campanha apenas com apoio informal.

FONTE: ESTADO DE MINAS

Partidos iniciam ofensiva contra o PSD

BRASÍLIA - Partidos da base do governo e da oposição iniciam nesta semana uma ofensiva na Justiça Eleitoral para impedir que o PSD conquiste parcela maior do fundo partidário e tempo de televisão.

DEM, PSDB, PPS, PMDB, PR, PMN, PTB e PP já têm pronta uma resposta ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) contra a redivisão do fundo e do espaço para propaganda dos partidos. As ações devem ser protocoladas na quarta-feira e seguem um parecer do ex-ministro Paulo Brossard.

O argumento é que o PSD só deve ter acesso ao benefícios após as eleições de 2014, quando enfrentará as urnas.

A justificativa para derrubar o tempo de TV é que os parlamentares que migraram para a legenda, criada no ano passado pelo prefeito Gilberto Kassab, conseguiram se eleger graças aos votos nas siglas que deixaram.

Segundo a ação, dos 47 deputados do PSD, apenas 1 foi eleito com voto próprio. "Estão querendo levar para o PSD algo que não é deles: os votos", disse o advogado do DEM, Fabrício Medeiros.

Presidente do DEM, o senador José Agripino Maia (RN) diz que as siglas não estão voltadas contra o PSD. "É uma questão de justiça. Os nossos argumentos são técnicos, claros, e serão acolhidos pela Justiça Eleitoral."

O discurso é reforçado pelo presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO). "Nós entendemos que isso não cabe, só depois de 2014. Eles não tiveram votos."

Ao todo, 20 siglas que perderam integrantes para o PSD devem se manifestar. Os oito partidos que atuam de forma conjunta trabalham para que outras legendas também se unam ao grupo para evitar a redistribuição do fundo.

A Folha apurou que a maioria dos partidos acolheu a posição contra o PSD em solidariedade ao DEM, maior prejudicado, tendo perdido 25 deputados para a sigla.

Outra avaliação que prevaleceu entre o grupo foi o risco de que a conquista do PSD abra precedente para a criação de novas legendas.

Ontem, Kassab minimizou a movimentação. "O partido tem registro, tem deputados eleitos e está confiante de que tem direito a mais fundo e tempo de TV", disse.

Um estudo preliminar do PSD apontou que ele teria direito a 7% do fundo e a 10% do tempo de propaganda. Os 29 partidos políticos vão receber neste ano R$ 286 milhões do fundo partidário.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Na mesma roda:: Míriam Leitão

O Banco Central consultou o mercado sobre até que ponto os juros podem cair. Por "mercado" entenda-se 100 instituições financeiras e consultorias que normalmente respondem pesquisas do Banco Central. A resposta é que o nível de juros de equilíbrio é mais baixo do que já foi no passado recente. Essa é a boa notícia. A que talvez o BC não quisesse ouvir é que os juros atuais já estão até abaixo desse nível.

Antes que achem que eu fiz uma coluna criptográfica, vou tentar explicar o mundo desse jogo de sinais com que BC e bancos se comunicam. Na última ata do Copom, o Banco Central informou duas coisas: que ele achava que a taxa neutra de juros - essa na qual não há risco de inflação e o país continua crescendo - é mais baixa agora do que antes; segundo, que os juros vão continuar caindo até ficar em um dígito. A taxa Selic está agora em 10,5%.

A inflação em 12 meses está em queda, e o BC achou então que era boa hora de fazer essa pesquisa. Qual era afinal a taxa de equilíbrio, ou neutra, da economia brasileira? A resposta foi divulgada na quinta-feira à noite. A média das opiniões é que hoje essa taxa real é 5,5%. Para achar a taxa real é preciso descontar da Selic a previsão de inflação para os próximos 12 meses. Essa previsão de inflação futura tem caído, o que ajuda mais um pouco, mas mesmo assim a conta mostra que os juros reais praticados hoje são 5%. Ou seja, não dá para cair mais e chegar a um dígito a não ser que os preços caiam mais. A boa notícia é que na última vez que foi feita essa pesquisa, em 2010, a resposta foi 6,75%, em vez de 5,5%, agora.

Pode-se concluir que o Brasil é mais capaz hoje de manter juros mais baixos sem alimentar a pressão inflacionária, mas que esse ponto de queda já foi atingido. Se o BC procurava um aval para novos cortes ficou agora numa situação curiosa. Ontem mesmo os juros no mercado futuro subiram.

A política monetária ideal é a que tem juros baixos, permite o país crescer e mantém a inflação baixa. O problema é que o Banco Central tem que manter as três bolas no ar ao mesmo tempo sem perder o controle de nenhuma. Nem sempre os objetivos são coincidentes.

O real atingiu a maior cotação em relação ao dólar dos últimos três meses e o Banco Central atuou para impedir uma alta maior da moeda. Comprou para evitar que o dólar caia mais. A valorização do real ajuda a derrubar a inflação, que está acima do centro da meta, mas, por outro lado, aflige a indústria, que perde capacidade de competir com as importações e tem dificuldades para exportar.

O dólar baixo tem produzido vários outros problemas. Esta semana saiu divulgado um superdéficit na conta corrente de US$ 7,08 bi apenas no mês de janeiro. A conta corrente junta tudo: o gasto com turistas que vão, descontado dos turistas que vêm, exportações menos importações, frete, bens e serviços do exterior. E ela virou esse mar vermelho porque o dólar barato estimula todo mundo a viajar para o exterior, e assusta quem quer vir para o Brasil. Os brasileiros gastaram quase US$ 2 bi lá fora, no mês, e os estrangeiros gastaram aqui US$ 660 milhões. Por isso, o câmbio que ajuda a derrubar a inflação é o mesmo que cria outras distorções.

Há também uma enxurrada de moeda despejada pelo Banco Central americano para estimular a economia. Os bancos centrais da Zona do Euro, Inglaterra e Japão fizeram o mesmo, aumentaram a quantidade de dinheiro em circulação. O resultado são moedas fracas nos países ricos e moedas fortes nos emergentes. Menos a China, que controla o preço da sua moeda com a mesma mão de ferro com que controla a manifestação de opinião. Fica difícil competir com a China, não apenas pelos méritos dela, mas pela distorção que ela cria na economia.

No Brasil, o BC também está reduzindo juros para estimular a economia, que ficou estagnada no terceiro trimestre do ano passado, último dado divulgado pelo IBGE. Mês que vem sai o último trimestre e deve confirmar um crescimento do PIB em torno de 3% ou menos um pouco.

Apesar de crescer pouco, o Brasil está criando emprego. Em janeiro, foram 119 mil vagas de carteira assinada, menos 22% do que janeiro do ano passado, mas bom para esses tempos bicudos no mundo. Quisera a Europa ter número assim. Já tem economista escrevendo que os 6% de desemprego na média de 2011 já é pleno emprego. Tem que combinar com os jovens de 18 a 24 anos que enfrentaram uma taxa de 13,5%.

O Brasil vai bem, dado o contexto geral, mas continua com velhos dilemas. O dinheiro do BNDES, diz o economista Rafael Bistafa, da Rosenberg & Associados, num argumento que já ouvi até no BC, é uma das causas de se manter juros tão altos. O dinheiro barato na mão de uns precisa ser compensado com crédito mais caro na mão de outros.

Comparado a outros emergentes, o Brasil é o país que oferece o menor risco medido pelo CDS (Credit Default Swap) com maior retorno por alta de juros. O CDS é o custo de comprar um seguro contra o risco de um país não pagar. O título brasileiro com vencimento em 5 anos, por exemplo, está em 136 pontos, abaixo do coreano, em 142. Mas os contratos de juros brasileiros com vencimento em 1 ano pagam 9,6% enquanto os coreanos pagam bem menos, 3,52%. É tentador para o investidor internacional trazer dólares para o Brasil, o risco é baixo e a rentabilidade via juros é alta. Se o dólar vem, derruba demais o dólar. Estamos de novo no mesmo círculo.

FONTE: O GLOBO

A escalada do petróleo:: Celso Ming

Desta vez é o Irã. Só em fevereiro, os preços do petróleo medidos tanto pelo tipo Brent, formados em Londres, quanto pelo West Texas Intermediate (WTI), definidos em Nova York, subiram perto de 11% (veja o gráfico).

O puxador imediato das cotações é a ameaça de ataque aliado ao complexo nuclear do Irã, conjugada com a decisão, já tomada, de um boicote da União Europeia ao comércio iraniano, a partir de 1.º de julho.

O Irã produz 3,5 milhões de barris de óleo cru por dia e exporta 2,5 milhões. O mercado também teme pelo fechamento do estreito de Ormuz à navegação, por onde escoa quase 40% do petróleo produzido no mundo.

No momento, os consumidores estão reforçando os estoques, fator que puxa os preços para cima. Em tempos normais, a partir de agora se fecham os contratos de fornecimento de petróleo destinados a enfrentar o aumento de consumo da temporada de verão no Hemisfério Norte, quando dispara a procura por gasolina e por combustíveis para as centrais de ar-condicionado.

Não deixa de ser paradoxal que essa alta aconteça em meio à queda da atividade econômica na Europa ou de baixo crescimento em várias outras economias do mundo. Como é o responsável por mais de 30% da matriz energética global, o petróleo continua sendo produto de alta importância estratégica. Seu consumo em escala mundial está hoje perto dos 90 milhões de barris diários, conforme relatórios da Agência Internacional de Energia e, nesta época de recessão, cresce a quase 1% ao ano. Em contrapartida, a produção tende a cair a longo prazo, por falta de reposição de reservas produtivas diante do esgotamento das atuais.

Os analistas não contam com rápida solução para o conflito com o Irã. As únicas atenuantes para uma disparada mais acentuada dos preços seriam a liberação das atuais reservas estratégicas dos Estados Unidos, de 331,2 milhões de barris, e o aumento da oferta pela Arábia Saudita, hoje de 9,8 milhões de barris diários.

A alta do petróleo exerce pressão adicional sobre o governo Dilma. Ainda na quinta-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avisou que, neste ano, perseguirá um crescimento de 4,5%. No ano passado, com um avanço do PIB de apenas 2,6%, o consumo de gasolina aumentou 3%. Também neste ano, não se espera aumento de produção de etanol, dados os insuficientes investimentos na cultura de cana-de-açúcar. São fatores que aumentarão ainda mais o consumo de gasolina e diesel, os dois derivados que a Petrobrás está sendo obrigada a importar a preços cada vez mais altos para vendê-los internamente a preços subsidiados.

Como já avisou a presidente recém-empossada da Petrobrás, Graça Foster, mais cedo ou mais tarde será necessário reajustar os preços ao consumidor. Como este é um ano eleitoral, a hora de dar esse passo é agora. Com isso, a menos que o governo Dilma opte por uma redução de impostos, parece inevitável um puxão no custo de vida que, por sua vez, pode embaçar o projeto do Banco Central de derrubar ainda mais os juros.

CONFIRA

A arrecadação do governo federal em janeiro foi recorde (R$ 102,6 bilhões). Cresceu 6,04% (em termos reais, descontada a inflação) sobre janeiro de 2011 e 5,57% sobre dezembro. O principal fator desse aumento foi a antecipação do recolhimento do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido das empresas. O aumento da massa salarial (de 15,47% em dezembro sobre dezembro do ano anterior) também contribuiu para isso. Um bom comportamento da arrecadação é fator importante para cumprimento da meta do superávit primário de 3,1% do PIB.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO