sábado, 30 de agosto de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

A incompetência do governo da Dilma na gestão da economia, que se refletia no ‘pibinho’, no repique inflacionário, no descontrole fiscal, se confirma no momento em que o Brasil entra em recessão econômica.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS, sobre a queda do PIB, Brasília, 29 de agosto de 2014.

Marina empata com Dilma e vence 2º turno por 50% a 40%

• No primeiro turno, cada uma tem 34% das intenções de votos, diz Datafolha

• De cada dez eleitores, oito querem mudança nas ações do próximo presidente, taxa recorde na série do instituto

Ricardo Mendonça – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Pesquisa Datafolha finalizada nesta sexta (29) mostra a presidente Dilma Rousseff (PT) e a ex-ministra Marina Silva (PSB) numericamente empatadas na simulação de primeiro turno da eleição presidencial. Cada uma tem 34% das intenções de voto.

No teste de segundo turno, Marina seria eleita presidente da República com dez pontos de vantagem: 50% a 40%.

Os dados mostram fortalecimento da candidatura Marina, inscrita como cabeça de chapa do PSB após a morte de Eduardo Campos num acidente aéreo, em 13 de agosto.

Em relação ao levantamento anterior do instituto, feito imediatamente após a tragédia, Marina apresenta melhor desempenho tanto na simulação de primeiro quanto na de segundo turno.

No intervalo de duas semanas, ela cresceu 13 pontos no teste de primeiro turno, enquanto Dilma oscilou dois pontos para baixo.

No embate final contra a petista, onde antes havia empate técnico no limite máximo da margem de erro, Marina foi de 47% para 50%. Dilma recuou de 43% para 40%.

A pesquisa mostra ainda recuo das intenções de voto em Aécio Neves (PSDB), afastando sua chance de disputar um segundo turno.

No levantamento, feito em parceria com a TV Globo, o tucano caiu de 20% para 15%. Num eventual confronto contra Dilma, ele perde por 48% a 40% (o Datafolha não investigou a hipótese de segundo turno entre Aécio e Marina).

Juntos, todos os outros candidatos à Presidência somam 3%. Votos nulo ou em branco totalizam 7%. Outros 7% estão indecisos.

A consolidação da candidatura Marina fica evidente na pesquisa espontânea, quando o entrevistador pergunta pelo voto do eleitor sem mostrar a lista de candidatos.

Nesse tipo de apuração, as intenções de voto em Marina subiram de 5% para 22%. Com Dilma, o avanço foi de 24% para 27%.

Mudança
O avanço de Marina ocorre no momento em que o Datafolha também detecta uma taxa recorde de eleitores sedentos por mudanças.

De cada dez entrevistados, oito afirmam preferir que as ações do próximo presidente sejam diferentes das atuais.

A taxa de desejo de mudança (79%) está três pontos acima da identificada na pesquisa anterior, que já era comparável apenas ao número apurado em setembro de 2002, véspera da eleição vencida pelo então oposicionista Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Na análise das intenções de voto por região, o equilíbrio entre Dilma e Marina no primeiro turno desaparece.

Marina vence Dilma com folga nas regiões Sudeste, a mais populosa (35% a 26%), e Centro-oeste (39% a 29%).

Dilma, por sua vez, bate Marina com larga margem no Nordeste, a segunda região mais populosa (47% a 31%), e no Norte (46% a 30%).

As duas ex-ministras do governo Lula estão numericamente empatadas nos três Estados do Sul (32% a 32%).

Dilma continua líder em rejeição, com 35% dispostos a não votar nela de jeito nenhum. Nesse aspecto, a vantagem de Marina é robusta: só 15% do eleitorado a rejeita.

Também há grandes diferenças entre as intenções de voto em Dilma e em Marina nos vários segmentos sociais investigados pelo Datafolha.

Marina vai bem melhor que Dilma entre os eleitores mais jovens, de 16 a 24 anos (42% a 31%); junto aos que têm ensino superior (43% a 22%); no grupo dos que têm renda familiar mensal entre 5 e 10 salários mínimos (44% a 21%); e nas cidades com mais de 200 mil e menos de 500 mil habitantes (38% a 26%).

Já Dilma ostenta vantagem robusta sobre Marina no grupo das pessoas com mais de 60 anos (38% a 25%); entre os que têm ensino fundamental (44% a 25%); no universo dos mais pobres, com renda familiar mensal de até dois salários mínimos (41% a 31%); e nos municípios pequenos, com até 50 mil habitantes (44% a 29%).

Religião também apresenta diferenças significantes. Os católicos, o maior grupo, preferem Dilma (38% a 30%). Mas Marina tem vantagem mais significativa entre evangélicos de igrejas não pentecostais (44% a 29%) e entre pentecostais (41% a 30%).

O Datafolha ouviu 2.874 eleitores nesta sexta e na quinta (28). A margem de erro do levantamento é de dois pontos para mais ou para menos.

Queda não deve afetar o eleitorado atual de Dilma

Fernando Rodrigues - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A fraqueza da economia do Brasil no primeiro semestre já teve o seu impacto na cabeça dos eleitores-consumidores nos últimos meses. Impediu que Dilma Rousseff melhorasse sua posição nas pesquisas de intenção de voto, apesar de o governo ter feito uma grande ofensiva de marketing em abril, maio e junho.

O resultado do PIB divulgado ontem é ruim para o governo. O dado ajudará a compor a fotografia negativa e pessimista sobre a capacidade de gestão da petista Dilma Rousseff.

Mas o fato é que dificilmente um eleitor, pobre ou rico, que esteja pensando em votar no PT decidirá agora trocar seu voto só por conhecer o número exato do estrago na economia nos últimos meses.

As pesquisas eleitorais mostram Dilma Rousseff há algum tempo mantendo estável o apoio de um terço do eleitorado. Esse grupo vota de forma regular no PT. Não se alterou por causa do desempenho ruim do PIB no primeiro semestre de 2014.

O problema para a presidente não é o seu rebanho mais cativo de eleitores. A dificuldade da petista está em ampliar o grupo que pode ajudá-la a conseguir mais quatro anos no Planalto.

Nos programas eleitorais a partir de agora, o mau desempenho do PIB será explorado pelos adversários de Dilma. Vão falar sobre algo que aconteceu. A presidente tentará vender esperança para o que virá no futuro.

Nesses casos, o efeito nas urnas dependerá do sentimento real que os eleitores terão até o dia da votação, em 5 de outubro. Dilma tentará conseguir convencê-los de que tudo vai melhorar a partir de 2015.

Se a inflação ficar controlada --embora ainda num patamar alto-- e não houver grandes ruídos no desemprego, a presidente tem chances de manter seus cerca de 30% ou um pouco mais dos votos.

A dúvida é como ela conseguirá ampliar esses apoios em ambiente tão adverso, como o que será propagado pelos adversários na corrida eleitoral. O voto é sempre resultado de uma equação que mistura razão e emoção.

Os brasileiros terão de se sentir tranquilos sobre a economia e também achar que Dilma é a pessoa mais adequada para conduzir o país por mais quatro anos. Por enquanto, a presidente não tem conseguido convencer a parcela de 50% do eleitorado que é necessária para ganhar a disputa em outubro.

Marina abre 10 pontos porcentuais de vantagem no 2º turno

• Candidata do PSB à Presidência subiu 13 pontos porcentuais e já empata com a presidente Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno

Carla Araújo - O Estado de S. Paulo

Lançada candidata há apenas dez dias, Marina Silva (PSB) empatou com Dilma Rousseff (PT) na corrida presidencial. Segundo pesquisa do instituto Datafolha divulgada nesta sexta-feira, 29, pela TV Globo, ambas têm 34% da intenções de voto. O tucano Aécio Neves, terceiro colocado, tem 15%. Em um 2.º turno contra a atual presidente, Marina venceria por 50% a 40% se as eleições fossem hoje.

A taxa de intenção de votos na candidata do PSB saltou 13 pontos porcentuais desde o dia 18 de agosto, data do levantamento anterior do Datafolha. Dilma, por sua vez, oscilou dois pontos para baixo, de 36% para 34%. O candidato do PSDB teve queda de cinco pontos.

Marina virou candidata após a morte do presidenciável Eduardo Campos, do PSB, em um acidente de avião, em Santos, há pouco mais de duas semanas. A sequência de pesquisas feita desde então mostra que ela vem subindo a cada dia.

No primeiro levantamento do Datafolha após o acidente, Marina apareceu empatada tecnicamente com Aécio (21% a 20%) - posição que Campos nunca havia alcançado. Depois, pesquisa Ibope/Estado/Rede Globo publicada na última terça mostrou-a pela primeira vez isolada na segunda colocação, com 29%, 10 pontos a mais que o adversário tucano e 5 a menos que Dilma. Agora, Marina chega à liderança, empatada com a presidente.

Confronto direto. Na simulação de 2.º turno contra Dilma, a candidata do PSB subiu de 47% para 50% desde a pesquisa anterior do Datafolha. A presidente caiu de 43% para 40%. Em uma eventual disputa contra Aécio, a petista ainda venceria, por 48% a 40%.

O Datafolha também ouviu os entrevistados sobre a avaliação que fazem do governo Dilma. A taxa de ótimo ou bom caiu de 38% para 35%. Os que consideram a gestão ruim ou péssima passaram de 23% para 26%.

O Instituto Datafolha entrevistou 2.874 pessoas entre quinta e sexta-feira, em 178 municípios de todas as regiões do País. O nível de confiança é de 95% - isso significa que, se forem realizados 100 levantamentos similares, em 95 deles os resultados estariam dentro da margem de erro prevista. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o número BR-00438/2014.

Datafolha: Marina empata com Dilma e venceria petista por 10 pontos no 2º turno

• Presidente e candidata do PSB têm 34% cada; tucano tem 15% das intenções de voto

- O Globo

RIO — Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira pelo "Jornal Nacional", da TV Globo, reforça o avanço da candidata Marina Silva (PSB) na disputa eleitoral, já identificado no levantamento do Ibope no início da semana. Segundo os novos dados, Dilma (PT) e Marina (PSB) estão empatadas com 34% das intenções de voto cada. Já o tucano Aécio Neves (PSDB) aparece com 15%. A candidata do PSB à Presidência da República, 19 pontos à frente de Aécio no primeiro turno, teria ainda 10 pontos de vantagem contra Dilma em um eventual segundo turno.

Marina cresceu 13 pontos em relação ao último levantamento do Datafolha, divulgado no dia 13 de agosto. Antes, a candidata do PSB tinha 21%, Dilma 36% e Aécio 20%. Na última pesquisa, brancos e nulos somavam 8% (agora são 7%). Indecisos eram 9% dos entrevistados (agora são 7%).

O Datafolha também simulou dois cenários para um possível segundo turno. Na disputa Dilma X Marina, a candidata do PSB aparece com 50% das intenções de voto, contra 40% de Dilma. Brancos e nulos somam 7%, e indecisos 3%. No levantamento anterior, Marina tinha 47%, contra 43% da petista.

Na simulação Dilma X Aécio, a candidata à reeleição possui 48%, contra 40% do tucano. Brancos e nulos somam 9% e indecisos 4%. Na pesquisa anterior, a petista tinha 47% e Aécio 39%.

Nanicos
Na simulação do primeiro turno, Pastor Everaldo (PSC) obteve 2% das intenções de voto. Os demais candidatos não chegaram a mais de 1%.

A pesquisa entrevistou 2.874 eleitores nos dias 28 e 29 de agosto. O registro no TSE é BR00438/2014. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos. A pesquisa foi encomendada pela TV Globo e pelo jornal “Folha de S. Paulo”.

Avaliação do governo
O instituto também aferiu a avaliação do governo Dilma Rousseff. Segundo o levantamento, 39% dos entrevistados consideram a gestão regular, 35% ótima ou boa, e 26% ruim ou péssima. Em pesquisa divulgada há dez dias, as avaliações que consideravam o governo ótimo ou bom e regular estavam no mesmo patamar (38%). Já 23% achavam o governo ruim ou péssimo.

Marina é favorita para se eleger presidente

Ricardo Noblat – O Globo

O que a pesquisa Ibope mostrou na última terça-feira, e a pesquisa Datafolha confirmou ontem à noite, é que Marina Silva, no curto período de três semanas, conquistou a condição de favorita para se eleger presidente da República.

É improvável que Marina se eleja no primeiro turno. Por mais que encolha, Aécio tem um partido e aliados capazes de lhe garantir dois dígitos de intenção de votos nas pesquisas. Aécio é a garantia de que haverá segundo turno.

PT e PSDB amadurecem o melhor modo de desconstruir a imagem positiva de Marina. O problema não é encontrar o modo. É correr contra o tempo que resta para o dia da eleição. Haverá tempo suficiente até lá?

Ganha eleição quem erra menos. Porque todos erram. Esse é o desafio que Marina começa a enfrentar a partir de agora. Não a subestimem. Ela está vendo a chance de vencer. E não está disposta a desperdiçá-la.

O grande trunfo de Marina: rejeição baixa. A dela de apenas 15%. A de Dilma, 35%.

Dilma carece de trunfo para evitar o desastre que se desenha para o PT. Lula deixou de ser um trunfo poderoso desde que ela fracassou como governante.

Vice-presidente do PT pede 'enfrentamento' com Marina

Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

Vice-presidente do PT, o deputado federal José Guimarães (CE) defendeu na noite desta sexta-feira, 29, após a divulgação do resultado da pesquisa Datafolha, o fim da fase de "boa moça" e o enfrentamento político com a candidata do PSB à Presidência. Pela primeira vez, Marina apareceu em empate técnico no primeiro turno com a presidente Dilma Rousseff (PT). Dilma e Marina obtiveram 34% cada uma e o candidato do PSDB, Aécio Neves, caiu para 15%. No segundo turno, aumentou a vantagem de Marina sobre Dilma, saindo de um empate técnico de 47% a 43% para 50% a 40%.

Ressalvando que se trata de uma "opinião pessoal", Guimarães afirmou que a campanha precisa fazer o confronto de projetos de País com Marina Silva. Para o petista, o PSDB, com a queda de Aécio Neves, está se "deixando levar" pela ascensão de Marina, "fazendo corpo mole". "Os tucanos estão pegando carona na bolha dela. As propostas são muito parecidas e os principais assessores de Marina são do PSDB. Ela fala em nova política, mas é cercada da velha política", criticou.

O vice-presidente do PT disse que Dilma continua estabilizada e que Marina está "tomando o lugar de Aécio". "Vamos comparar os legados e mostrar o que pensamos para o País", afirmou. "Temos todas as condições de vencer o pleito no segundo turno", completou ele, ao avaliar que os dados do Datafolha divergem das sondagens internas do PT, que mostram Dilma ainda vencendo Marina no primeiro turno.

Guimarães criticou também o fato de se apresentar, no momento, simulações de segundo turno. "É uma outra eleição", frisou. "Vai chegar o momento da onça beber água", destacou.

Sucesso de ex-senadora depende da cristalização do eleitorado

Mauro Paulino
Diretor-Geral do Datafolha

Alessandro Janoni
Diretor de Pesquisas do Datafolha

- Folha de S. Paulo

O crescimento de Marina reflete muito mais a percepção positiva que a ambientalista conseguiu imprimir junto ao eleitorado em sua reapresentação como candidata do que uma eventual comoção pela morte de Eduardo Campos.

Diferentemente de seus adversários, ela aproveitou bem o espaço que lhe cabia nos eventos de mídia que ocorreram no período. Criou expectativa para a oficialização de sua candidatura e transmitiu protagonismo em debates e entrevistas de repercussão.

Mesmo com pouco tempo no horário eleitoral, figura como uma das candidatas de melhor desempenho no programa. Se o discurso da chamada "terceira via", da crise de representação e da descrença na política vinha encontrando maior aderência no perfil mais próximo dos manifestantes de 2013 e dos que votariam em branco ou anulariam o voto --mais jovens, de alta escolaridade e moradores das regiões metropolitanas--, Marina invade agora outros territórios.

Supera seu recall de 2010 (teve 18% do total de votos naquele ano) e sua melhor marca no Datafolha em 2014 (27% em abril deste ano) ao elevar seu apoio em estratos de grande peso quantitativo.

Ultrapassa e abre vantagem sobre Aécio Neves nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde o tucano tinha taxas expressivas de intenção de voto, além de crescer de maneira significativa entre os de menor renda e baixa escolaridade, grupos onde Dilma e o governo sempre demonstraram grande força.

Nesse novo ambiente, a candidata agrega à sua taxa de intenção de voto cerca de cinco pontos percentuais de eleitores com perfil mais volúvel, isto é, que escolhem Marina ao serem estimulados, mas ainda se mostram incertos sobre a opção.

Desse conjunto, a maioria rejeita Dilma e mostra alguma simpatia por Aécio. Quanto ao potencial, o alto grau de possibilidade de conversão à candidatura da ex-ministra, que já foi de oito pontos, agora fica em cinco.

Sobre os resultados de segundo turno, é cedo para conclusões. A dinâmica e a lógica da disputa devem mudar.

Se a crítica à polarização entre PT e PSDB encontrou respaldo popular, o histórico do confronto em anos anteriores tampouco serve de referência. E mesmo com a vantagem atual de dez pontos de Marina sobre Dilma, a vitória dependerá do grau de cristalização de seu novo eleitorado.

Propostas concretas e um claro programa de governo, em resposta às demandas da população e à incerteza no cenário econômico serão decisivos. A ênfase exclusiva no discurso da "nova política" pode, com o tempo, afastar parte dos recém-conquistados eleitores da ambientalista, que deixou de ser coadjuvante na sucessão.

Marina diz que é hora de uma ‘professora dos seringais’ chegar ao poder

• Candidata também afirmou que não existem salvadores da pátria em lançamento de programa de governo

Julianna Granjeia, Mariana Sanches e Sérgio Roxo – O Globo

SÃO PAULO — No lançamento de seu programa de governo nesta sexta-feira em São Paulo, a candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva, disse que, após o país eleger um acadêmico e um operário, está na hora de levar ao poder uma professora. Durante 35 minutos de discurso, a presidenciável tentou rebater todas as críticas que vem recebendo de seus adversários.

— Eu vi muita gente desqualificando o Lula. Eu era uma daquelas que fazia de tudo para qualificá-lo, que ficava muito feliz quando o intelectual tinha que dar o aval para o operário poder se colocar como presidente da República. Mas eles esqueceram muito rápido do que tivemos que passar para chegar no lugar que sempre sonhávamos. Mas eu não esqueci. O povo brasileiro, que já elegeu um acadêmico e um operário, haverá de eleger uma professora que veio dos seringais da Amazônia e que traz a marca da floresta, mas aprendeu a viver nos dois mundos: da cidade e da floresta.

A presidenciável defendeu que “pessoas virtuosas criam instituições virtuosas” e que não existem “salvadores da pátria”.

— As mudanças não acontecem em cima do nada. Não existe o novo do novo novo. O novo se faz em cima de algo que é preservado. Não existe essa história de que você é um salvador da pátria. Não existem salvadores da pátria. A pátria é uma construção de homens e mulheres.

O evento começou com um minuto de silêncio em homenagem a Eduardo Campos. Marina também dedicou o início do pronunciamento ao antigo colega de coligação. Após um breve comentário sobre a economia, com críticas aos resultados negativos do crescimento do PIB, a ex-senadora preocupou-se em desfazer a imagem de radicalismo a que sua imagem é associada sobretudo na questão ambiental. Marina disse não ter preconceito em relação ao desenvolvimento da agricultura.

— Um das grandes fontes de geração de emprego é a agricultura. Muita gente pensa que temos preconceito com os agricultores. Muito pelo contrário. Quem defende que a agricultura brasileira possa aumentar a produção por ganho de produtividade, introduzindo tecnologia, inovação e financiamento, isso não tem nada a ver com ter uma atitude contrária ao desenvolvimento econômico da agricultura. Não há como fugir do desafio do século 21. Não encontro nenhum agricultor que me diga: senadora nós queremos o direito de nos desenvolver sem os requerimentos ambientais — afirmou Marina.

A candidata também procurou explicar como pretende buscar governabilidade junto ao Congresso, se eleita, e questionou a eficácia dos métodos atuais. Essa é uma das questões muito usada pelas campanhas adversárias para justificar o discurso de que falta a ela experiência e condições para governar.

— Queremos introduzir uma outra governabilidade. Não adianta ter 400 parlamentares se cada vez que vai votar uma questão importante para a sociedade é uma dor de cabeça, porque vem uma demanda de pedidos fisiológicos e chantagens. Que governabilidade é essa? Queremos a governabilidade programática. Aquela em que se para um setor da estrutura política é importante a estabilidade econômica será que eles não são responsáveis em dar sustentação a essas propostas dentro do Congresso? Se para outros o importante é a inclusão social, será que não é a hora de chamar a responsabilidade para dar sustentação ao Congresso? Eu duvido que, se tivermos um movimento com a altura e a profundidade do que precisa ser feito para que o povo se aproxime da política, isso não vai acontecer.

Marina voltou a se dirigir aos adversários ao criticar mais uma vez a polarização entre PT e PSDB. Ela reafirmou que não se lançará à reeleição em caso de vitória nas urnas este ano.

— Será que a gente suporta mais 4 anos em que as forças políticas não conseguem se escutar? Como vão escutar a sociedade e se não escutam? Elas continuarão fazendo a velha política, a da oposição pela oposição. Não são capazes de compreender que o futuro das gerações não podem ser subordinados aos interesses das próximas eleições.

— Estou assumindo o compromisso de que será apenas esse mandato. Numa democracia é preciso alternância. Para quem tem a realidade que tenho, marcada na carne e na alma, chegar atá aqui é muita coisa e poderá será muito mais se formos capazes de colocar essa agenda para o Brasil.

Marina apresenta plano conservador na economia e progressista nos costumes

• Programa de governo do PSB acena ao mercado financeiro ao prever em lei a autonomia do BC e tenta afastar críticas sobre influência de sua religiosidade na gestão ao defender causas gays

Roldão Arruda, Isadora Peron e Valmar Hupsel Filho - O Estado de S. Paulo

O programa da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, divulgado nesta sexta-feira, 29, combina promessas de uma política econômica conservadora do ponto de vista do mercado financeiro, com a independência do Banco Central garantida em lei e a redução da presença do Estado em atividades econômicas, com uma série de medidas de caráter progressista na área de comportamento, como a defesa clara das causas homossexuais.

A candidata, que, segundo pesquisas, teria o dobro do voto dos eleitores evangélicos num possível 2.º turno com a presidente Dilma Rousseff (clique aqui para ler), incorporou ao seu programa as principais reivindicações do movimento gay, entre elas a adoção de crianças por casais com pessoas do mesmo sexo e a criminalização da homofobia. Em relação ao aborto, a ex-ministra promete a regulamentação de sua prática em hospitais da rede, nos casos já legalmente autorizados.

Os acenos da candidata ao mercado financeiro aparecem em quase todo o programa de 242 páginas. Um dos mais visíveis é a independência do Banco Central, promessa que não foi assumida nem pelo candidato Aécio Neves, cujo partido, o PSDB, é o mais identificado com o mercado financeiro. Segundo o programa da candidata, é preciso “assegurar a independência do Banco Central o mais rapidamente possível, de forma institucional, para que ele possa praticar a política monetária necessária ao controle da inflação”.

Ao enfatizar a “recuperação do tripé econômico”, indica uma política mais ortodoxa do que a do atual governo em relação às metas de inflação, câmbio flutuante e superávit primário - a reserva que o governo faz em caixa para pagamentos de juros da dívida. Ela se compromete a conter a inflação “sem recorrer a controle de preços que possam gerar resultados artificiais”.

É uma crítica a Dilma, que teria contido aumentos, como o de combustíveis, para evitar estouros na meta de inflação. Ao falar de reforma tributária, Marina promete não elevar a atual carga de tributos, prometendo até “redução dos impostos sobre faturamento de empresas”.

Menos Estado. Marina também sinaliza a possibilidade de encolhimento das atividades dos bancos estatais, como a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, além do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Isso abriria mais espaço para os bancos privados nos mercados imobiliário e agrícola, entre outros.

Ao mesmo tempo que fala em reduzir a presença do setor estatal, meta que afina com a cartilha econômica liberal e tende a desvinculá-la de seu passado petista e estatizante, Marina também se preocupa em se distanciar da sombra de fundamentalismo evangélico que a acompanha desde a campanha de 2010.

Ao contrário do que fez naquele ano, quando concorreu à Presidência pelo PV, nesta eleição abrigou em seu programa as principais reivindicações do movimento de defesa dos interesses de minorias sexuais.

No capítulo 6 do programa, a candidata, que é evangélica, promete apoiar no Congresso “propostas em defesa do casamento civil igualitário, com vistas à aprovação dos projetos de lei e da emenda constitucional em tramitação, que garantem o direito ao casamento igualitário. Ela também promete articular a votação do projeto de lei que equipara a discriminação baseada na orientação sexual e na identidade de gênero àquelas já previstas em lei para o racismo.

Todas as tentativas de aprovação dessa lei foram barradas até pela bancada evangélica, que vê nela o risco de pastores sofrerem sanções legais por pregarem contra a homossexualidade. Em relação à adoção por casais de pessoas do mesmo sexo, o programa promete agir para “eliminar obstáculos”.

Marina incluiu também o combate à homofobia no Plano Nacional de Educação. Na prática é a retomada do projeto que Dilma abortou em 2011, alegando que seu governo não faria propaganda de orientação sexual. Parlamentares evangélicos e conservadores chamaram de kit gay o material que seria distribuído nas escolas.

A candidata evitou polêmica ao recuar de trechos de seu plano preliminar referentes à participação popular. No texto prévio havia a promessa de criação de “mecanismos de controle social sobre os políticos eleitos”. Em sua empreitada para garantir que respeitará as instituições, Marina suprimiu o trecho. Manteve, porém, a defesa da Política Nacional de Participação Social de Dilma, que recomenda a criação de conselhos populares para acompanhar os trabalhos do governo.

COMPROMISSOS DA CANDIDATA
Macroeconomia
Marina promete “recuperar o tripé macroeconômico básico”, por meio de “metas de inflação críveis e respeitadas, sem recorrer a controle de preços que possam gerar resultados artificiais”, além da geração de superávit fiscal e taxa de câmbio flutuante. Além disso, a candidata do PSB vai propor projeto de lei “estabelecendo mandato fixo para o presidente” do Banco Central, de modo a “assegurar a independência do Banco Central o mais rapidamente possível, de forma institucional”. Por ora, Marina é a única entre os três principais candidatos ao Planalto a defender mandato fixo no BC.

Política e democracia
O programa prevê a unificação do calendário das eleições, isto é, realizar todas as disputas de mandato eletivo num mesmo ano, com o fim da reeleição e do mandato de cinco anos. O candidato do PSDB, Aécio Neves, também defende os dois últimos itens, apesar de ter sido na gestão FHC que foi instituída a reeleição. Marina defende outras reformas nas regras eleitorais, como permitir candidaturas avulsas para o Legislativo, além de convocação de plebiscitos e referendos. A candidata diz querer “implantar efetiva Política Nacional de Participação Social, pelo aumento da participação da sociedade civil nos conselhos e instâncias de controle social do Estado”, medidas previstas por decreto editado recentemente pela presidente Dilma Rousseff. Marina também acena aos jovens que foram às ruas em 2013 ao prometer “combater a repressão e a criminalização de movimentos sociais e populares”.

Comunidade LGBT
Ao contrário de 2010, quando foi candidata pelo PV e assinou uma “cláusula de consciência” para não defender bandeiras de liberdades civis que iam contra suas convicções religiosas, Marina se compromete agora a defender direitos reivindicados pela comunidade LGBT e em discussão no Congresso, como “propostas em defesa do casamento civil igualitário” e adoção de crianças por casais homoafetivos. O programa do PSB também prevê a inclusão do “combate ao bullying, à homofobia e ao preconceito no Plano Nacional de Educação, desenvolvendo material didático destinado a conscientizar sobre a diversidade de orientação sexual e às novas formas de família”. O governo Dilma Rousseff chegou a criar o que foi chamado de “kit gay” para ser distribuído na rede de ensino, mas recuou após pressão de bancadas e igrejas, em especial as evangélicas. Algumas das medidas apontadas no programa de Marina, como a união civil homoafetiva e a criminalização da homofobia, estão em discussão no Congresso, mas enfrentam resistência da bancada evangélica e de setores do Legislativo.

Políticas para mulheres
Embora não defenda a descriminalização do aborto, como proposto por candidatos como Luciana Genro (PSOL) e Eduardo Jorge (PV), Marina se compromete a “consolidar no Sistema Único de Saúde (SUS) os serviços de interrupção da gravidez conforme a legislação em vigor”. O governo atual tentou em maio regulamentar a execução de aborto no SUS em casos de estupro ou anencefalia, como permite a legislação, mas recuou após forte reação contrária à medida.

Programas sociais
Marina defende “transformar o Programa Bolsa Família em política pública de Estado, assegurando sua continuidade mesmo com as alternâncias de governo”, proposta semelhante à defendida por Aécio. A candidata promete elevar em 10 milhões o número de famílias atendidas pelo programa que é bandeira de Dilma.

Transportes
Implementar o “passe livre” gradualmente beneficiando em primeiro lugar alunos de baixa renda não atingidos por transporte escolar gratuito e matriculados em escolas públicas ou em cursos superiores por meio de programas ProUni e Fies.

Política energética
O programa do PSB se compromete a “reduzir o consumo absoluto de combustíveis fósseis” e a criar medidas de recuperação do setor sucroalcooleiro como umas das prioridades nas políticas setoriais do governo. Uma das metas na área energética é construir 1 milhão de casas com sistemas de autogeração de energia a partir de painéis solares fotovoltaicos e de ter 3 milhões de casas com aquecimento solar de água até 2018.

Saúde
Propõe implementar gradualmente ao longo de quatro anos a vinculação de 10% da Receita Corrente Bruta da União ao financiamento das ações de Saúde. Promete a construção de 50 maternidades e 100 hospitais voltados para o atendimento regional e investir em clínicas para atendimento de maior complexidade.

Sustentabilidade
A palavra que dá nome ao partido que Marina quis criar em 2013 é citada em quase todos os eixos do programa de governo. A candidata se compromete a “zerar a perda de cobertura florestal no Brasil”, “aumentar em 40% a área de florestas plantadas” e “dobrar a área de florestas públicas destinadas ao uso sustentável”. A candidata também promete “subsídios para implementar gestão sustentável nas escolas”, com práticas como redução do consumo de energia e destinação adequada dos resíduos.

Agronegócio e reforma agrária
Marina se propõe a “lançar uma força-tarefa para solucionar os conflitos fundiários, assentando as 85 mil famílias hoje à espera de lotes, segundo estimativas dos movimentos sociais”. Ao agronegócio, a candidata promete “não apenas um seguro contra catástrofes climáticas”, já existente, como um “mecanismo que cubra também riscos de mercado”, além de um “enxugamento desse emaranhado de órgãos federais que engessam as ações para o setor rural” e de investimentos em logística e infraestrutura em prol do setor.

Após Datafolha, Aécio diz ainda estar confiante na vitória

• Tucano teve queda de cinco pontos e está 19 pontos atrás de Marina

Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA — Com uma queda acentuada na pesquisa Datafolha divulgada na noite desta sexta-feira, o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, credita sua dificuldade ao pouco tempo para se tornar conhecido em todo país. Ele ainda acredita que o quadro pode mudar nas próximas semanas, quando a campanha deslanchar e o eleitor prestar atenção à disputa. Em mensagem postada em sua página no Facebook, ele diz que a pesquisa reflete um momento do já esperado crescimento de Marina Silva, do PSB, que empata com a presidente Dilma Rousseff com 34% das intenções de votos, contra 15% dados a ele.

— Nas próximas semanas, vai crescer a atenção e o interesse nas eleições, o que dará oportunidade à população de conhecer os verdadeiros significados de cada candidatura. Neste momento, nosso maior desafio é vencer o grande desconhecimento de nossa candidatura. Por termos o melhor projeto, estamos confiantes em nossa vitória — disse Aécio Neves, que caiu cinco pontos em relação a pesquisa anterior.

Pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira pelo "Jornal Nacional", da TV Globo, reforça o avanço da candidata Marina Silva (PSB) na disputa eleitoral, já identificadono levantamento do Ibope no início da semana. Segundo os novos dados, Dilma (PT) e Marina (PSB) estão empatadas com 34% das intenções de voto cada. Já o tucano Aécio Neves (PSDB) aparece com 15%. A candidata do PSB à Presidência da República, 19 pontos à frente de Aécio no primeiro turno, teria ainda 10 pontos de vantagem contra Dilma em um eventual segundo turno.

Mais cedo, Aécio pregou serenidade e disse nesta sexta-feira que a campanha dele tem que se "adaptar" neste momento às mudanças que ocorreram no cenário eleitoral com a morte de Eduardo Campos (PSB). O tucano cumpriu agenda de campanha em São Paulo ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

— Tenho enorme confiança de que no momento da decisão, prevalecendo a razão, vamos estar, não apenas no segundo turno, mas vamos vencer as eleições. Tem um quadro novo, a partir do falecimento do meu amigo governador Eduardo Campos. E agora temos que nos adaptar a essa nova realidade. Eu estou absolutamente sereno e convencido de que as melhores propostas pro Brasil mudar de verdade, quem as têm somos nós — afirmou.

Marina atrai descontentes com governo, dizem especialistas

• Crescimento em pesquisas ainda estaria ligado à superexposição após a tragédia com Eduardo Campos

Raphael Kapa – O Globo

RIO — O avanço de Marina Silva (PSB) na pesquisa de intenções de votos realizada pelo Datafolha, que a coloca empatada com a candidata a reeleição à Presidência Dilma Rousseff (PT), ainda está ligado a superexposição que a ex-senadora teve após a tragédia com Eduardo Campos e mostra uma migração de votos de descontentes com o governo, segundo especialistas.

— A Marina bagunçou o cenário eleitoral. Ela trouxe a votação que teve em 2010, o discurso de um terceira e via e, agora, representa para o eleitor descontente com o governo uma real chance de retirar o PT do governo, o que Aécio (Neves) não conseguiu mostrar — afirma o cientista político Felipe Borba.

A superexposição que Marina teve após a morte de Eduardo Campos também é vista como um motivo de seu crescimento para o cientista político Fernando Weltman, da Fundação Getúlio Vargas.

—A tragédia com Eduardo Campos mobilizou as atenções em torno do seu nome. Ela se tornou um assunto — afirma Weltman que completa dizendo que ainda é cedo para avaliar se é um fenômeno duradouro —É um momento de uma onda mas não sabemos conjecturar se vai ter prosseguimento.

O professor de História Contemporânea da UFF, Marcus Dezemone, concorda com Weltman e acredita que a exposição e os ataques dos adversários podem modificar o cenário político que, atualmente, é favorável para a ex-senadora.

— É uma candidatura que ainda está se apresentando e vai sofrer ataques. Ainda temos que ver se Marina vai conseguir se defender dos adversário que já começam a apontar suas contradições — afirma Dezemone.

Para analista, avanço de Marina favorecerá voto útil

Elizabeth Lopes – O Estado de S. Paulo

A pesquisa Datafolha divulgada há pouco indica um crescimento da candidata do PSB, Marina Silva, que começa a se cristalizar e extrapola a comoção provocada pela morte do ex-governador Eduardo Campos. Ela está tirando votos dos seus concorrentes, da presidente e candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff, e do candidato do PSDB, senador Aécio Neves. O maior prejudicado pelos números divulgados hoje é o senador Aécio Neves.

O crescimento de 13 pontos porcentuais da candidatura Marina pode fazer com que seu oponente tucano, que está perdendo fôlego na corrida eleitoral, perca ainda mais pontos se o eleitorado que deseja mudanças apostar no voto útil, ou seja, na ex-senadora, que está em franco crescimento. A avaliação é do especialista em pesquisa eleitoral e marketing político Sidney Kuntz.

A pesquisa Datafolha mostrou o crescimento de Marina de 21% para 34%, a oscilação negativa de Dilma de 36% para 34% e a queda de Aécio de 20% para 15%. A margem de erro da mostra é de dois pontos porcentuais para mais ou para menos.

Segundo o analista, a onda positiva de Marina Silva deve continuar crescendo, pois a tendência dela nas últimas mostras eleitorais está nesta trajetória. "Acho muito difícil tirar sua candidatura do segundo turno, a não ser que uma hecatombe mude tudo novamente, o que eu não creio", destacou Kuntz.

Ele destaca ainda que, com base nas projeções de segundo turno em uma eventual disputa de Marina com Dilma, a candidata do PSB abriu uma margem de diferença de dez pontos porcentuais, com 50% contra 40% da petista. "Esses números são uma indicação de que Marina está mesmo tirando eleitorado de seus concorrentes", afirma.

Para o analista, se for levado em conta o número de votos nulos e brancos e de indecisos (que somam 14% nas projeções de primeiro turno), e a onda em torno de sua candidatura, é bem provável que Marina atinja níveis acima dos 40% nas próximas mostras. "Além disso, Marina foi muito bem no debate da Band e na entrevista do Jornal Nacional, o que pode levar o eleitorado a apostar em sua eleição", complementa.

Temer critica fala de Marina sobre governo 'com pessoas'

• Vice-presidente, e vice na chapa de Dilma, diz que é preciso 'tomar cuidado com essa coisa' de falar em pessoas e não em instituições

Elder Ogliari - O Estado de S. Paulo

O vice-presidente Michel Temer, candidato à reeleição pela chapa de Dilma Rousseff, afirmou que "é preciso tomar cuidado com essa coisa de governar com pessoas, e não com instituições", durante evento de campanha na manhã desta sexta-feira, 29, em Porto Alegre. "Nós levamos muito tempo para ter instituições sólidas em nosso país", ressaltou, citando que só depois da Constituição de 1988 as instituições deixaram de ser "abaladas".

Questionado se estava se referindo ao discurso da candidata Marina Silva (PSB), Temer respondeu:

"Eu me surpreendi e vou fazer aqui uma sugestão: preserve as instituições, enalteça as instituições, o legislativo, o executivo, o judiciário. As instituições jurídicas, como a liberdade de imprensa e a iniciativa privada, não podem ser abaladas." Temer também disse que as pessoas podem criticar os partidos, mas não destruir a ideia do partido político.

O vice-presidente teve como agenda uma visita à seccional da OAB no Estado, uma caminhada pelas bancas do Mercado Público, onde recebeu presentes de comerciantes e agradecimentos de uma família beneficiada pelo programa Minha Casa Minha Vida, e depois foi inaugurar o comitê Temer, que reúne peemedebistas e integrantes de outros partidos que apoiam sua candidatura no Rio Grande do Sul. Formalmente, o PMDB do RS apoia a candidata Marina Silva, mas Temer conta com a maioria dos 133 prefeitos do partido no Estado.

Brasil entra em recessão com investimentos e indústria em queda

Rodrigo Viga Gaier e Patrícia Duarte – Reuters

O Brasil entrou em recessão no primeiro semestre com forte retração nos investimentos e na indústria e a Copa do Mundo prejudicando a atividade econômica, em mais um desafio aos esforços de reeleição da presidente Dilma Rousseff.

A economia brasileira encolheu 0,6 por cento no segundo trimestre de 2014 sobre os três meses anteriores e recuou 0,9 por cento na comparação anual, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira.

Os resultados no trimestre encerrado em junho vieram piores do que o esperado por economistas em pesquisa Reuters, cujas medianas apontavam para retração de 0,4 por cento do PIB sobre o primeiro trimestre e de 0,6 por cento na comparação anual.

O desempenho do primeiro trimestre deste ano sobre o quarto trimestre de 2013 foi revisado para mostrar contração de 0,2 por cento, contra avanço de 0,2 por cento divulgado anteriormente, levando o país a entrar em recessão.

O Brasil não vivia essa situação, quando há dois trimestres seguidos de contração, desde a crise financeira global de 2008/2009 e alguns economistas já esperam que o PIB ficará estagnado neste ano.

A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), uma medida de investimentos, recuou 5,3 por cento no trimestre passado sobre o período imediatamente anterior. Foi o pior resultado desde 2009 e marcou o quarto trimestre seguido de retração. Na comparação com o mesmo período de 2013, a FBCF de abril a junho teve queda 11,20 por cento.

A taxa de investimento no país como proporção do PIB ficou em 16,5 por cento no segundo trimestre, o pior resultado para esse período desde 2006, quando tinha ficado em 16,4 por cento.

"Todos os componentes caíram, máquinas e equipamentos e construção civil... Isso é uma conjunção de vários fatores, como a alta da (taxa básica de juro) Selic, a desaceleração do crédito... e férias coletivas e parada na indústria automotiva", afirmou a economista IBGE, Rebeca Palis.

O resultado da indústria também foi negativo no trimestre passado, com retração de 1,50 por cento sobre o período anterior e de 3,4 por cento contra um ano antes, segundo o IBGE.
Um dos fatores que pesaram na economia no segundo trimestre foi a realização da Copa do Mundo, devido ao menor número de dias úteis em razão de feriados.

O IBGE também informou que o consumo do governo recuou 0,7 por cento no segundo trimestre sobre o primeiro, enquanto que o consumo das famílias cresceu 0,3 por cento na mesma base de comparação.

A agropecuária teve expansão de 0,2 por cento no segundo trimestre sobre janeiro a março e ficou estável em relação a igual período de 2013.

PIB zero?
Uma eventual recuperação da economia no segundo semestre ainda é incerta, segundo analistas. Mesmo que o país saia da recessão técnica, o desempenho ainda continuaria fraco.

O economista-chefe do banco Fator, José Francisco Gonçalves, em nota, manteve a projeção de crescimento do PIB em 2014 em 0,6 por cento, "corresponde ao cenário de crescimento médio zero nos dois trimestres finais de 2014", completou. Em 2013, o PIB teve expansão de 2,5 por cento

Mais pessimista, o economista-chefe do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, reduziu sua estimativa de incremento da economia brasileira neste ano de 0,5 por cento para zero. "Os dados disponíveis até agora para o terceiro trimestre estão destruindo qualquer esperança de recuperação técnica significativa na segunda metade do ano", afirmou.

O momento atual da economia é o pior vivido durante o governo Dilma, que tenta a reeleição em outubro.

Os anos anteriores, porém, também foram difíceis. Ao finalizar seu mandato neste ano, a presidente entregará a pior taxa média anual de crescimento da economia brasileira nos últimos 20 anos, de 1,7 por cento, se confirmada a expectativa do mercado de expansão de 0,7 por cento do PIB este ano, segundo pesquisa Focus do Banco Central.

Os recentes resultados ruins da economia devem prejudicar ainda mais as chances de Dilma nas eleições. Em pesquisas recentes, a petista aparece perdendo para a candidata Marina Silva (PSB) num eventual segundo turno.

"Provavelmente Dilma sofrerá mais nas pesquisas. Somado às outras notícias ruins para o governo e ao 'efeito Marina'", afirmou o analista político André César, referindo-se aos questionamentos envolvendo a gestão da Petrobras, entre outros. "O governo não consegue se livrar dessas questões", acrescentou.

(Reportagem adicional de Felipe Pontes, no Rio de Janeiro)

Aécio diz que recessão técnica mostra que governo Dilma terminou

• Tucano reagiu a Mantega e o acusou de deixar herança ‘perversa’ ao país

Silvia Amorim – O Globo

SÃO PAULO — O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, usou nesta sexta-feira o anúncio de um quadro de recessão técnica na economia do país para endurecer as críticas ao governo da presidente Dilma Roussef. O presidenciável afirmou que o quadro de PIB negativo pela segunda vez consecutiva mostra que o governo terminou e que o legado a ser deixado será o do fracasso econômico.

— Hoje é um dia muito triste para o Brasil. O Brasil acaba de entrar em recessão técnica. Pelo segundo trimestre consecutivo temos um PIB negativo. Na verdade, o governo do PT terminou e antes da hora. O legado será de crescimento e investimentos baixos, combinado com inflação e juros altos e perda crescente da confiança na nossa economia — disse o tucano, após vistoriar uma estação do monotrilho na capital paulista com o governador Geraldo Alckmin.

O tucano disse que o quadro econômico é um “atestado do fracasso” da atual gestão, e se colocou como a melhor opção dentre os que pregam mudanças nesta eleição.

— Mais do que nunca fica claro que esse modelo que está aí fracassou e que nós temos as melhores condições de apresentar ao Brasil, não apenas uma proposta de mudança, mas a mudança consistente e clara na direção do crescimento.

Aécio também criticou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que nesta quinta-feira questionou a capacidade do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, anunciado pelo presidenciável como seu ministro da Fazenda, se eleito, para conduzir a economia.

— Não vejo nele autoridade para questionar o que quer que seja. É triste (ver) ao final de um governo o ministro da Fazenda que entrega esse quadro extremamente perverso.

Aécio culpou a equipe econômica de Dilma pelo sentimento de mudança de maior parte da população.

— Certamente um dos grandes responsáveis por esse sentimento de mudança no país são aqueles que conduziram a economia nos últimos anos.

Aécio afirmou que espera ainda um cenário desfavorável a ele na pesquisa de intenção de voto a ser divulgada na noite desta sexta-feira.

Marina Silva diz que resultado do PIB no segundo trimestre foi “lamentável”

• Candidata do PSB defendeu que macroeconomia deve assegurar “investimentos duradouro”

O Globo

SÃO PAULO — A candidata à Presidência Marina Silva (PSB) classificou como “lamentável” o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre, divulgado nesta sexta-feira pelo IBGE. A afirmação foi feita durante a apresentação de seu plano de governo, em São Paulo.

— É lamentável que verificamos que por dois trimestres consecutivos o Brasil está com um crescimento que, lamentavelmente, nos leva a uma situação de muita dificuldade — disse Marina.

No segundo trimestre do ano, o PIB encolheu 0,6%. Entre janeiro e março, o resultado foi de -0,2%. Para economistas, duas reduções trimestrais consecutivas já colocam o país em “recessão técnica”.

Marina também criticou a redução no fluxo dos investimentos. E atribuiu o recuo à maneira como a política macroeconômica tem sido conduzida.

— Para ser próspero, é preciso investimentos corretos, manejo das macro e micropolíticos econômicas que nos assegure confiança para investimentos duradouros — comentou

Os investimentos (chamados tecnicamente de Formação Bruta de Capital Fixo) tiveram queda em todas as comparações feitas pelo IBGE. Frente ao trimestre anterior, caiu 5,3%. Em relação ao mesmo período de 2013, a contração chegou a 11,2%. Com isso, o acumulado em 12 meses ficou em -0,7.


Merval Pereira: A onda se forma

- O Globo

Ontem deve ter sido o dia mais difícil da presidente Dilma nos últimos tempos, só teve notícia ruim. Pela manhã, o anúncio oficial de uma recessão econômica, à noite a pesquisa Datafolha no Jornal Nacional anunciando o que a maioria já previa: Marina Silva alcançou-a no primeiro turno, preparando a ultrapassagem previsível nas próximas sondagens, e tem vitória confirmada no segundo turno por 10 pontos de vantagem.

Para o tucano Aécio Neves, sobra a constatação de estar no lugar certo no momento errado, pois antes do acidente trágico que matou o ex-governador Eduardo Campos tinha condições de chegar ao segundo turno, e até mesmo ganhar a eleição.

Preparado para uma disputa que tinha como mote o fim da era PT, de repente o candidato do PSDB foi atirado em meio a uma nova eleição, que abriu outra perspectiva eleitoral, com o mesmo sentido mas com outros ingredientes: a emoção superando a razão, os símbolos ganhando dimensões de realidade, trocada pelos sonhos.

Basicamente, o programa lançado ontem pela candidata Marina Silva é o mesmo de um programa econômico que o PSDB apresente, já defendido em diversas ocasiões tanto pelo candidato quanto por aquele que seria (será?) seu ministro da Fazenda, o economista Armínio Fraga.

Natural, pois Campos e Aécio estiveram muito próximos no início da campanha, e a própria Marina tem em sua equipe economistas de pensamentos similares aos dos do PSDB, inclusive um, André Lara Resende, que já esteve no governo de Fernando Henrique Cardoso. Outro, Gianetti da Fonseca, já disse que um eventual governo Marina a economia poderia ser comandada pelo mesmo Armínio, o que, mais que uma revelação de decisão, é uma indicação da proximidade na visão econômica dos dois partidos.

O ponto talvez mais polêmico do programa do PSB seja o deslocamento de prioridades na política energética, com o incentivo para fontes de energia alternativas ao petróleo. O pré-sal, que se transformou em ponta de lança dos governos petistas, passaria a ter um papel secundário, dentro do entendimento de que o crescimento econômico deve obedecer à preservação do meio ambiente.

O petróleo seria "um mal necessário" para Marina, e o país deve preparar-se para viver sem ele, que é um insumo finito e poluidor. Implícito nessa política está também que o incentivo ao consumo de automóveis, com isenção de impostos e controle do preço da gasolina, será abandonada.

Há outro ponto de aproximação importante entre PSB e PSDB: a intenção de retirar a centralidade do Mercosul na nossa política de comércio exterior, abrindo espaços para acordos bilaterais como vêm fazendo os países da Aliança Atlântica como Peru e Chile. Além dos aspectos econômicos, está embutida nessa decisão estratégica uma mudança geopolítica importante, que nos afastaria dos países chamados "bolivarianos" da América Latina.

Essa coincidência de pontos de vista pode facilitar um acordo com o PSDB no segundo turno. Ontem, até mesmo o mote de Aécio de chamar o eleitorado "para conversar" foi utilizado por Marina no twitter, se propondo a conversar com os eleitores para esclarecer as denúncias que estão pipocando nas redes sociais.

Para a presidente Dilma, em queda e com uma crise econômica pela frente, uma visão esquizofrênica: para explicar o fracasso da economia, seus aliados dizem que a recessão ficou para trás nos dois primeiros trimestres e já estamos crescendo novamente, embora nada indique que isso seja verdade.

Com relação à pesquisa que mostra Dilma sendo alcançada por Marina, uma caindo, a outra em ascensão, veem uma situação imutável, com seu favoritismo mantido. A pesquisa Datafolha indica que Marina vem crescendo e já superou Dilma no Sudeste e no Centro-Oeste (regiões em que o PSDB venceu nas eleições presidenciais anteriores) e nas cidades médias e grandes em todo o país.

Não parece uma mera onda passageira.

Cláudio Couto: Ideologia e pragmatismo

- O Estado de S. Paulo

Certa percepção de senso comum, não por acaso dotada de considerável grau de moralismo, considera a política ideológica como superior à pragmática - especialmente sob o aspecto moral. Supõe que enquanto a ideologia se orienta por visões de mundo e concepções impessoais sobre o que é ou não correto, o pragmatismo decorre de interesses imediatos e estreitos, não raro mesquinhos, cujo atendimento requer o desprezo às convicções. Dessa perspectiva (que situa a política ideológica como moralmente superior à pragmática) advêm os reclamos por partidos mais ideológicos em vez de fisiológicos e pela discussão de ideias em substituição à crua barganha de interesses.

Todavia, para além de sua importância nessa perspectiva moralista, a ideologia pode ter uma função prática: oferecer atalhos cognitivos para a tomada de decisões. Assim, diante de um cenário confuso e de informações parcas ou conflitantes, o indivíduo pode decidir mais facilmente quando amparado por convicções ideológicas.

Imaginemos um eleitor cujas preferências ideológicas prévias apontem num certo sentido do espectro esquerda-direita, mas que fica em dúvida diante de plataformas eleitorais muito complexas, que lhe deixam perturbadoramente indiferente. Por exemplo, o candidato A lhe apetece quanto à política econômica; o candidato B, no que diz respeito à política social; e o candidato C, no que concerne ao modo de fazer política. Porém, se um candidato lhe agrada num ponto, incomoda-lhe nos demais, deixando-lhe indeciso sobre em quem votar. De que forma escolher? Diante do impasse, pode considerar seu posicionamento ideológico mais geral e identificar qual a alternativa que mais se aproxima da sua. Paradoxalmente, a ideologia lhe forneceu uma solução pragmática.

Por outro lado, a ideologia também pode dificultar as melhores escolhas. Um indivíduo aferrado a convicções tende a ser alguém difícil de persuadir, mesmo com os melhores argumentos e os dados mais evidentes. Recordo-me de episódio envolvendo um ex-colega de trabalho. Diante do desacordo para resolver satisfatoriamente uma situação com vários envolvidos, apontaram-lhe a necessidade de considerar que enfrentávamos um problema de escassez. Sua resposta foi: "Não aceito argumentos baseados na escassez!". Nota-se que a ideologia mostrou-se fonte não só de irrealismo, mas de uma irracional intransigência.

Indivíduos muito ideológicos são também pouco tolerantes à divergência de opinião. Nota-se isso em indivíduos que já têm todas as respostas, antes mesmo das perguntas, como certos comentadores de textos na internet. Ao não identificarem no texto posição ideológica equivalente à sua, passam a desqualificar e atacar o autor, sem considerar que pessoas igualmente capazes e intelectualmente honestas podem simplesmente discordar. Neste caso, a ideologia, em vez de fornecer um atalho cognitivo, embota a cognição e revela ignorância - senão estupidez.

Diante do risco da irracionalidade, da intolerância e da estupidez causadas pelo excesso ideológico, o pragmatismo se mostra não apenas uma solução superior em termos práticos, mas também morais. Ou estaria errado o eleitor que, em vez de se orientar por normas abstratas e vagas (supostamente correspondentes ao "certo"), segue caminhos que pura e simplesmente possibilitam a satisfação de seus interesses mais comezinhos? O que é moralmente mais adequado: defender belos princípios, mesmo que impraticáveis, ou conceder nos princípios para obter resultados práticos? Essa é uma escolha com que se defrontam não apenas os eleitores, mas sobretudo os políticos, ao decidir sobre políticas públicas, sobre formas de negociação e sobre quem onerar ou beneficiar. Um pragmatismo politicamente responsável importa-se menos com o doce capricho dos gostos prévios do que com as duras consequências dos atos.

Fernando Rodrigues: Polarizou

- Folha de S. Paulo

O dado mais relevante da pesquisa Datafolha realizada nos dias 28 e 29 de agosto é a consolidação, neste momento, de Dilma Rousseff (PT) e Marina Silva (PSB) como as primeiras colocadas na disputa presidencial. Elas estão empatadas com 34% de intenções de voto cada uma.

Nunca nas eleições diretas para presidente da República pós-ditadura militar, nesta fase da campanha, os dois protagonistas isolados foram de partidos cujas origens estão na esquerda do espectro político.

A eleição é em 5 de outubro. Restam pouco mais de 30 dias para uma reversão do quadro. Se isso não ocorrer, pela primeira vez o Brasil não terá um legítimo representante do centro ou da direita entre os dois finalistas na disputa presidencial.

Aécio Neves (PSDB) e seus 15% de intenção de voto empurram os tucanos para fora do protagonismo do debate político nacional depois de mais de duas décadas. Essa tendência foi vista logo depois da morte de Eduardo Campos, na pesquisa realizada pelo Datafolha nos últimos dias 14 e 15. No início desta semana, o Ibope mostrou a onda pró-Marina. Agora, o Datafolha confirma o que pode ser a cristalização do quadro.

Não é incomum haver viradas de última hora em eleições. É sabido também que os eleitores tendem a prestar mais atenção nos comerciais apenas na primeira semana do horário eleitoral (que já passou) e nos últimos cinco ou dez dias.

A janela de oportunidade para Aécio será, portanto, no final de setembro. É impossível saber com precisão quais são as chances do tucano. Ou quais vulnerabilidades novas Dilma e Marina poderão apresentar.

Hoje, o fato indisputável é que se instalou uma nova polarização na política brasileira. O PT, quem diria, virou o velho. Marina e o PSB sequestraram para si o vago conceito de "nova política". Espremido, o PSDB parece perdido e não sabe como se encaixar nesse cenário.

José Arlindo Soares*: Eleições Presidenciais: Mudança ou Continuidade?

- revista Será?

Uma análise do comportamento do eleitorado nas eleições presidenciais no Brasil após a redemocratização sugere uma oscilação no perfil da maioria do eleitorado entre a perspectiva de mudança ou a de continuidade, variando apenas a intensidade dessas duas categorias dominantes a cada pleito. Em um eleitorado onde a identificação partidária fica em torno de 1/3 do universo total de votantes, tem-se uma margem bem grande para que o discurso seja facilmente alimentado por temas que mexem como o humor da maioria a cada conjuntura. A princípio, pode-se argumentar que essa dicotomia é comum em qualquer sistema democrático, ou seja, sempre a maioria está votando ou para manter o governo ou para substituí-lo por um grupo de oposição. Pode-se concluir que essa é uma lei geral da democracia. O que procuro explicar nesse artigo é como vem se configurando essas duas tendências gerais a cada pleito presidencial no Brasil.

Trata-se de perceber as características distintas que marcaram cada disputa para o cargo maior da república e em que medida se coloca os condicionamentos e motivações mais comuns no comportamento do nosso eleitor.

Considerando o atual experimento democrático no Brasil, com as seis eleições presidenciais realizadas entre 1989/2010, verifica-se a configuração pendular mencionada anteriormente. As primeiras eleições diretas foram marcadas por um forte sentimento de mudança, em razão da profunda decepção da maioria da população com os rumos tomados pelos partidos da Nova Republica que conduziram a transição democrática. O bônus da Assembleia Constituinte não foi suficiente para justificar os métodos tradicionais que os partidos da Nova República continuaram empregando, sem falar na falta de pulso na condução da política econômica. Sem nenhuma iniciativa inovadora, partidos da Nova República ficaram paralisados diante da expectativa geral da população que esperava a realização de expressivas mudanças em curto prazo. O sentimento de decepção, principalmente das classes populares, possibilitou a emergência de um político desconhecido, que, mesmo de tradição oligárquica, vestia uma roupa mudancista e apresentava um discurso contundente, embora sem conteúdo, galvanizando a atenção dos mais pobres e passando a ser respaldado por importantes segmentos das classes proprietárias da cidade e do campo.

No outro polo, também com um discurso mudancista, despontava o Candidato do PT que contava com o apoio entusiasmado da nova classe média universitária e segmentos de uma nova classe operária urbana. O que tinha de comum nesses dois candidatos, além do discurso oposicionista, era a ausência de apoio no aparato institucional vigente, ou seja, tempo de televisão e alianças com os grandes partidos ou com governadores e prefeitos. Somados os tempos de radio e televisão na propaganda eleitoral gratuita de Collor e Lula, não chegavam a ser um terço do que tinham os candidatos dos partidos tradicionais como PMDB, PSDB E PFL.

A decepção com a experiência aventureira de Collor arrefeceu a perspectiva mudancista e apontou para uma polarização mais moderada, embora o discurso ideologizado continuasse. O pleito seguinte foi marcado pelo apego à continuidade, em razão dos ganhos do Plano Real. O eleitorado apontou claramente que buscava preservar conquistas, distante do aventureirismo. O importante a reter desse cenário é que se define aí um padrão de comportamento eleitoral no Brasil, uma sociedade recém-urbanizada que vai ficar sempre dividida entra a impaciência das necessidades e a segurança da estabilidade, ou, em outro enfoque, entre emoção e razão.

Nessa segunda eleição direta da nova democracia brasileira, a preocupação do eleitorado foi manter as conquistas do período Itamar, principalmente a estabilidade do Plano Cruzado. Ao contrário da primeira eleição, agora o bônus eleitoral maior é o apoio do presidente em exercício e das demais estruturas de poder. O PT embarcou na crítica fácil de apostar em cenários catastróficos que não batiam com a realidade e daí nem foi ao segundo turno. Na mesma direção, Fernando Henrique Cardoso se reelegeu fácil, baseado ainda nos ganhos da estabilidade (53% no primeiro turno) e no discurso da garantia dos fundamentos da política macroeconômica.

Depois de oito anos no poder, o tucanato perdeu a batalha do discurso em função do contraponto estabelecido pelo sindicalismo estatal dominado pelo PT, fazendo renascer no eleitorado o ideário mudancista. As medidas relacionadas com a reforma do Estado foram tomadas como contrárias aos interesses da maioria, não importando se as críticas resistiam a uma análise mais consistente. Isso também foi possível porque no segundo governo de FHC a economia começava a dá sinais de arrefecimento.

Ganhou corpo, então, o ideário mudancista encabeçado por um imigrante nordestino, ex-operário com fácil verbalização distributiva que rapidamente conquistou o imaginário de segmentos das classes médias que foram às ruas escoimar velhos preconceitos que ainda existiam, mesmo entre as classes populares. O resultado foi a vitória da proposta de mudança, carregada de emoção, com Lula sendo eleito com um tempo mínimo de propaganda no Rádio/TV e sem apoio das estruturas tradicionais. Tanto que o PT elege apenas dois governadores em estados de baixa densidade eleitoral (Acre e Mato Grosso do Sul). No pleito seguinte, a reeleição de Lula seguiu a lógica da continuidade e só foi para o segundo turno em razão dos escândalos de corrupção muito perto do governo. Eleito, Lula trabalhou na direção do mercado interno, ampliou a escala dos programas compensatórios de distribuição de renda e manteve os compromissos com o chamado mercado, além se ter sido amplamente favorecido por uma conjuntura internacional favorável.

A população tende a optar por preservar conquistas, a não ser que sinta um descontrole muito grande por parte do governante que pleiteia a reeleição. Por isso, o segundo mandato é um ativo bem palatável para o eleitorado.

Superando a fadiga de material de oitos anos, Dilma é eleita com o discurso de defesa da continuidade das conquistas sociais da era Lula, cabendo registrar a especificidade do carisma do então presidente que resistiu a todos os embaraços políticos e éticos nas duas gestões. Com um posicionamento ideológico respeitável, mas tida como pouca apta para o jogo político, pode-se afirmar que Dilma foi engolida pela promiscuidade do presidencialismo de coalizão e pelos problemas da macroeconomia, muito embora tenha a seu favor um bom desempenho do nível de emprego e alguns programas de expressiva densidade e de alta visibilidade.

Agora, nessa sétima eleição presidencial, o processo eleitoral teria tudo para virar rotina, com uma parte do eleitorado sendo mais exigente em relação às tradicionais opções que o quadro político apresenta. No entanto, até a tragédia que tirou a vida de Eduardo Campos, a terceira via era uma alternativa pouco viável. Até então o cenário não apontava para onde ia se dirigir o sentimento da maioria. Ou seja, não se sabia se o sentimento dominante se inclinava, de forma mais incisiva, para a mudança ou para a continuidade. Na verdade nem o “discurso da mudança havia empolgado nem o apelo à continuidade se mostrava convincente.” (Marisa Gibson DP-05/08).

Nessa eleição, o crédito que o eleitor costuma dar ao governante para um segundo mandato vem sendo embaralhado pela própria propaganda situacionista, que pede que o eleitor julgue doze anos de poder, o que pode ter um efeito bumerangue em um país mal humorado pelas condições adversas de boa parte das políticas públicas. Isso não significa que a continuidade pode ser de toda descartada. Não se pode, em hipótese alguma, descartar o fôlego do situacionismo que ainda mantém trunfos de bom quilate.

Por outro lado, mesmo mantendo a dianteira nas pesquisas, a Presidente não consegue massificar as conquista do seu governo. Do lado da oposição clássica, representado pelo PSDB, as propostas parecem tímidas. O estilo não é de mudanças, mas de correção de rumos e parece também não convencer. É bem verdade que, somente agora o jogo começa a galvanizar a atenção dos expectadores.

Desta vez, a tragédia parece que venceu a indiferença. Em lugar da superação programática pela razão, uma boa parte do eleitorado volta a prestar a atenção no processo eleitoral. Por isso, ensaia se apegar ao carisma de quem passe a ideia de pureza de princípios e que parece navegar na contramão da política tradicional. Um processo que ainda tem larga margem de indefinição, mas que já embaralhou as peças do tabuleiro e que exige um reposicionamento de todos os contendores, na tentativa de descobrir para onde o pêndulo do sentimento da maioria vai se inclinar no momento decisivo do voto.

*Sociólogo – Pesquisador do Centro Josué de Castro

Demétrio Magnoli: A terceira utopia

- Folha de S. Paulo

Assustados, PSDB e PT espalham a lenda de que a ascensão de Marina Silva deriva da comoção gerada pela morte trágica de Eduardo Campos. Eles sabem que é outra coisa. No Brasil, os eleitores procuram administradores, gerentes, quando se trata de disputas municipais e estaduais. Nas eleições presidenciais, contudo, buscam a personificação de uma utopia possível. FHC e Lula chegaram ao Planalto nas asas de grandes ambições. Hoje, é Marina quem aparece como a representação de uma ruptura profunda.

A utopia associada a FHC pode ser sintetizada pelas ideias de estabilização e modernização. Desde o segundo mandato tucano, porém, o PSDB abandonou a trilha das reformas e, sob o fogo da crítica petista, borrou o horizonte utópico com as cores cinzentas da "capacidade gerencial". As candidaturas de Alckmin (2006) e Serra (2010) não foram previsíveis fracassos eleitorais, mas inegáveis desastres políticos. Aécio Neves é um herdeiro da perda de rumo e, mesmo que tateie na direção correta, jamais conseguiu atravessar a fronteira do eleitorado tucano para seduzir a maioria desencantada com o lulopetismo.

A utopia associada a Lula pode ser sintetizada pelas ideias de igualdade e justiça social. Inflado pelos ventos de popa da economia mundial, o potencial utópico do lulopetismo durou um mandato mais que o dos tucanos, mas encerrou-se no quadriênio de Dilma Rousseff. As suas reformas sociais praticamente esgotaram-se nas políticas de crédito e transferência de renda que ajudaram a estimular o boom de consumo popular. Hoje, num sentido fundamental, o PT converteu-se na nova Arena: o partido cuja força emana do controle da máquina pública. O mapa das intenções de voto na candidata-presidente evidencia a regressão política do partido que traçou seu caminho para o poder entre os eleitores de alta e média escolaridade dos grandes centros urbanos.

Marina aparece como representação da terceira utopia, tão nitidamente expressa nas Jornadas de Junho de 2013. O mapa do voto "marinista", bastante inclinado na direção do Centro-Sul e das maiores cidades, revela que a vontade majoritária de mudança tende a se coagular em torno dela. A "nova política", dístico um tanto misterioso da candidata, traduz a ambição de recuperação do Estado como coisa pública, isto é, como instrumento dos cidadãos para a geração de bens públicos.

A ruptura proposta por Marina aninha-se na palha de um paradoxo. De um lado, a candidata investe contra o PT e o PSDB, apresentando-os como facetas polares da mesma "velha ordem" que deve ser superada. De outro, ensaia um estranho convite para que os dois partidos rivais ocupem lugares no seu hipotético governo. FHC e Lula juntos, sob o guarda-chuva de Marina, como sugeriu Eduardo Giannetti, um conselheiro do círculo interno do "marinismo", significaria a repentina abolição, por um mero ato de vontade, das divergências de fundo sobre o Estado, a economia e a sociedade que marcam o debate brasileiro desde o fim da ditadura militar.

O discurso da "terceira via" é, sempre, tão atraente quanto perigoso. Defini-la como a união dos polos políticos tradicionais equivale a dissolver a ideia de mudança no caldo ralo de um falso consenso. As palavras de Giannetti obedeceram, talvez, à finalidade utilitária de rebater a crítica que aponta as carências de uma estrutura partidária sólida e de quadros administrativos experimentados no movimento "marinista". Contudo, atrás delas, divisa-se o espectro do governo de unidade nacional, recurso ao qual as democracias apelam somente em casos de guerra ou colapso social.

Em princípio, eleições são sobre verossimilhança, não sobre verdade. Uma boa campanha eleitoral é aquela capaz de reduzir a distância entre uma e outra. Por enquanto, a utopia mudancista personificada em Marina circula na esfera da verossimilhança.

Demétrio Magnoli é sociólogo

Rolf Kuntz: A recessão mais grave é a da qualidade

- O Estado de S. Paulo

O Brasil desmorona, enquanto o mundo rico sai da crise e os demais emergentes enfrentam o desafio de se ajustar para ganhar novo fôlego e voltar a crescer com rapidez. Com a indústria enfraquecida e o investimento produtivo em queda, é ridículo discutir se houve mesmo recessão no País no primeiro semestre. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, recusa essa palavra, mas, por enquanto, prevalecem os novos dados oficiais: depois de encolher 0,2% no primeiro trimestre, o produto interno bruto (PIB) diminuiu mais 0,6% no período de abril a junho. Rótulos técnicos são menos importantes que a substância dos fatos. A reação do ministro só seria mais que um esperneio inútil se ele conseguisse contestar os dois dados mais agourentos das contas nacionais.

O primeiro deles é o recuo do investimento em máquinas, equipamentos, construções e obras de infraestrutura. O valor investido no segundo trimestre foi 11,2% menor que o de um ano antes e correspondeu a míseros 16,5% do PIB. Esse é um dos fatores determinantes da capacidade produtiva, do potencial de crescimento e da capacidade competitiva. O segundo indicador agourento foi a diminuição do produto industrial - 1,5% menor que o do primeiro trimestre e 3,4% inferior ao de abril-maio de 2013. O enfraquecimento da indústria afeta a qualidade do emprego, prejudica o dinamismo dos serviços e de toda a economia urbana e compromete seriamente as contas externas.

O governo continua prometendo para dentro de alguns anos - ninguém sabe quantos - uma taxa de investimento de 24% do PIB. Taxas entre 24% e 30% são encontradas em muitas economias emergentes. Não é indispensável, nem politicamente exequível, investir o equivalente a 40% da produção ou até mais, como na China. Mas uma taxa inferior a 20% do PIB é suicida.

A economia brasileira cresceu na última década impulsionada basicamente pela incorporação de mão de obra. Essa possibilidade está esgotada. A cada dia se torna mais urgente ampliar e modernizar o estoque de capital e apostar na qualidade da mão de obra, muito mais que na quantidade.

Nada disso tem sido feito seriamente. O total investido em capital fixo pelo setor público e pelas empresas privadas ficou sempre abaixo de 20% nos últimos 15 anos. A maior taxa observada num segundo trimestre foi de 19,2%, em 2010. Em 2000 ficou em 16,76%, pouco acima da calculada para o período de abril a junho deste ano, 16,5%. Os efeitos do baixo investimento são visíveis na queda de produção da indústria de máquinas, na redução de importações de bens de capital e no recuo da construção civil, com produção 8,7% menor que a do segundo trimestre do ano passado.

As concessões de infraestrutura têm ocorrido lentamente e o governo só tem procurado apressá-las, nos últimos tempos, para recolher os bônus proporcionados pelos leilões. Esse dinheiro foi muito importante para o fechamento das contas públicas no ano passado. A infraestrutura continua muito deficiente e os custos de logística são um dos grandes entraves à competitividade. As obras do Programa de Aceleração do Crescimento(PAC) permanecem atrasadas e com baixo índice de conclusão. O investimento privado também vai mal, porque os empresários têm pouca ou nenhuma segurança para se arriscar comprando máquinas ou ampliando instalações. A incerteza tem sido motivada em boa parte pelo voluntarismo desastroso do governo e pela insistência em políticas ineficazes. Diante dos sinais de economia empacada, o ministro da Fazenda tem reagido, regularmente, com a prorrogação de benefícios fiscais seletivos e voltados basicamente para o consumo.

A indústria é o tema da segunda informação mais agourenta. Os únicos segmentos industriais com desempenho positivo, quando comparado com o de abril a junho de 2013, foram o da extração mineral (+ 8%) e o de produção e distribuição de eletricidade, gás e água (+ 1%). A indústria de transformação, por muito tempo um dos principais núcleos de modernização tecnológica e gerencial, continuou muito ruim e produziu 5,5% menos que um ano antes. Isso é desastroso para o conjunto da economia.

Um gráfico publicado no Boletim Macro de agosto da Fundação Getúlio Vargas mostra as curvas de crescimento da indústria de transformação, dos serviços e do PIB entre junho de 2007 e junho de 2014. A curva de serviços espelha a da indústria, "de forma amortecida", como observam os autores da análise. Além disso, a evolução do produto industrial e a do PIB são muito parecidas. No Brasil, tem-se dado muita importância aos serviços, por seu peso na composição geral do produto, e tem-se negligenciado, no debate cotidiano, o papel dinâmico da indústria, especialmente do segmento de transformação.

Quando se fala em recessão, a presidente e seus auxiliares costumam retrucar citando a criação de empregos nos últimos anos. Mas o emprego industrial tem diminuído, como indicam os dados do Ministério do Trabalho, e a maior parte dos postos tem sido aberta em segmentos de baixa produtividade e de salários modestos. Mesmo a criação desses empregos tende a diminuir e já tem diminuído, com a perda geral de dinamismo associada à estagnação da indústria.

Em 2013, a indústria de transformação empregou 8,29 milhões de pessoas, 144,41 mil a mais que em 2012. Foi um aumento de apenas 1,77%. A administração pública empregou 9,34 milhões, 402,97 mil a mais que no ano anterior, com variação de 4,51%. Nos serviços a variação foi de 3,46% e o total de postos chegou a 16,73 milhões, com acréscimo de 558,63 mil. Mais que um enfraquecimento e uma crise passageira, os números apontam uma perda qualitativa. Ao discutir se a palavra recessão é adequada, o ministro da Fazenda concentra-se novamente no alvo errado. Toda economia pode recuar ocasionalmente. Mas, além de recuar, a economia brasileira está piorando. É esta a consequência mais grave da política inepta. A qualidade é essencial para o crescimento econômico e para a manutenção dos ganhos sociais.