A confirmação, por mais uma pesquisa, da queda nas intenções de voto na presidente Dilma Rousseff aumentou o clima de insatisfação entre os aliados dela, com a constatação de que o Planalto e o PT não têm conseguido estancar a perda de apoio. Mas, apesar do crescimento do “Volta Lula” entre parlamentares da base, petistas avaliam que a substituição seria desastrosa.
Luz Amarela para Dilma
Possibilidades de 2º turno, deserção de aliados e movimento ‘Volta, Lula’ atormentam campanha
Maria Lima, Cristiane Jungblut, Cararina Alencastro, Tiago Dantas e Biaggio Talento – O Globo
BRASÍLIA, SÃO PAULO e SALVADOR- O clima de perplexidade e desorientação tomou conta ontem do PT e dos partidos da base aliada com a divulgação da pesquisa CNT/MDA que confirmou a
tendência acelerada de queda da aprovação e de intenções de voto da presidente Dilma Rousseff. Pela primeira vez, a pesquisa aponta para a possibilidade de realização de um segundo turno nas eleições de outubro.
A presidente Dilma Rousseff teve queda na sua intenção de voto de 43,7% em fevereiro para 37% em abril. A redução foi de 6,7 pontos percentuais.
Enquanto Dilma chegou aos 37%, o senador Aécio Neves, candidato do PSDB, foi quem mais subiu, saindo de 17% em fevereiro para 21,6% neste mês. O ex-governador Eduardo Campos (PSB), por sua vez, passou de 9,9% em fevereiro para 11,8% em abril. Esse resultado aparece na pesquisa estimulada, ou seja, com a apresentação dos nomes dos candidatos ao entrevistado.
A pesquisa foi realizada de 20 a 25 de abril, com 2.002 entrevistas, em 137 municípios, e margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Os analistas ressaltaram que a rejeição a Dilma chegou aos 43,1% e que ela foi afetada pelo escândalo da Petrobras.
E o pior: para os articuladores petistas, não há uma saída à vista. Nada do que foi feito na área de comunicação e lançamento de programas estancou a queda. E até mesmo a substituição do nome de Dilma pelo do expresidente Lula poderia ser eleitoralmente desastrosa.
CPI da Petrobras pode agravar crise
Dilma também perdeu popularidade, tanto na avaliação do seu governo como na de seu desempenho pessoal.
Segundo a pesquisa CNT/MDA, Dilma ainda venceria os adversários Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) num segundo turno, mas vem perdendo votos continuamente. E o auge da crise da Petrobras ainda está por vir, com a instalação da CPI que investigará a estatal e terá o governo como alvo.
— Ninguém sabe o que fazer. Se Dilma cair abaixo de 30%, as chances de vitória são quase inexistentes. Ao PT, agora, só cabe ficar observando e esperando dela um gesto. Lula não pode chegar e dizer: eu serei o candidato.
Dilma tem que tomar a iniciativa de chamar Lula — diz um dos estrategistas do PT.
Há também, entre os petistas, uma certa irritação com a teimosia da presidente Dilma em seguir surda aos apelos por mudanças em seu governo.
— Manda falar com o João Santana! — desabafa um desses petistas, referindo-se ao marqueteiro que banca a estratégia de Dilma.
Os maus resultados, além de estimularem o movimento “Volta, Lula”, estão provocando debandada de partidos da base para o campo da oposição.
Hoje, o até então fiel PROS, cuja direção se divide entre um grupo do baixo clero da Câmara e os irmãos Cid e Ciro Gomes, vai comunicar ao ministro- chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que, se não ganhar o Ministério da Integração Nacional, poderá deixar a base.
Enquanto na cúpula do PT se busca uma saída, a presidente continuou ontem sua maratona de entrega de máquinas e inaugurações, na Bahia.
Com uma plateia de prefeitos, secretários municipais e presidentes de associações do interior baiano, Dilma Rousseff exaltou em Feira de Santana os avanços sociais do seu governo e do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
Em seu discurso, a presidente enfatizou que o país “não vai voltar atrás”.
— Tenho certeza de que o povo brasileiro não vai retroagir, voltar atrás, desistir disso que conquistamos: a maior redução de desigualdade social do Brasil — disse a presidente, na cidade do interior baiano, após entregar tratores e equipamentos para prefeitos.
Com um discurso preparado para a região, que vem sofrendo com a falta de chuvas há mais de dois anos, Dilma disse sentir orgulho da atuação do governo.
— Uma das coisas que mais orgulha no governo foi que atravessamos a pior seca dos últimos 50 anos e não houve invasão de supermercado, a fome horrorosa, porque ninguém desenvolve só com obras. É preciso de ações que atendam as pessoas — afirmou, acrescentando que seu governo criou 4,8 milhões de empregos em todo o Brasil.
— Diante da crise internacional, nós não fizemos nem adotamos a alternativa conservadora, que os governos adotavam no Brasil: recaía o peso da crise nas costas do trabalhador. E dê-lhe arrocho e perda de direitos, como fizeram na Europa e nos Estados Unidos.
Oposição vê governo num impasse
Um dia depois de o PR, aliado ao governo Dilma, ter defendido publicamente a volta do ex-presidente Lula à candidatura presidencial em lugar da presidente, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, negou peremptoriamente que o petista tenha essa intenção. Segundo Gilberto, que é muito próximo a Lula e foi chefe de gabinete dele, o ex-presidente fica constrangido e incomodado com esse movimento. Gilberto aproveitou para fazer um alerta aos aliados de que essa corrente fragiliza o atual governo e favorece a oposição.
— Essa hipótese não existe. Essa hipótese é zero. O presidente Lula está determinado a dar todo o empenho de sua vida à reeleição da presidente Dilma.
A vitória do presidente Lula é a reeleição da presidente Dilma. O presidente Lula é mais do que taxativo, ele nunca levantou essa hipótese. Ele está muito incomodado com esse processo; para ele, não há nada mais constrangedor do que esse tipo de opinião que é publicada — disse Gilberto, reconhecendo, no entanto, que há uma ala dentro do próprio PT que prega o retorno de Lula à disputa eleitoral.
Na oposição, a queda acentuada de intenção de votos de Dilma, apesar de comemorada, é vista com certa cautela.
E a torcida, agora, é para que não caia tão rápido até a convenção que vai confirmar sua candidatura.
— Eles estão numa dificuldade muito grande. Dilma não vai querer sair, não vai querer botar um carimbo de incompetente na testa. Estão na véspera da decisão e não têm muito tempo de construir uma saída que os livre do fracasso deste governo. Podem mudar o candidato até 20 dias antes da eleição. Mas isso acontece em situações extremas, de morte do candidato.
Como vão explicar que mudaram porque a candidata fracassou? — avaliou o pré-candidato do PSDB, Aécio Neves (MG). Aécio diz, entretanto, que uma possível volta de Lula não iria atrapalhar sua campanha:
— Nossa proposta visa a enfrentar um sistema, um modelo de gestão que vem fazendo muito mal ao Brasil. Qualquer que seja o representante desse modelo, estamos prontos para enfrentá-lo e, tenho muita confiança, para vencê-lo. Não é uma disputa contra uma pessoa ; é uma disputa contra um modelo. Se tiver uma troca de candidaturas, não altera absolutamente nada o nosso discurso e a nossa disposição.
Em Salvador, a pré-candidata a vicepresidente Marina Silva (PSB) disse que Lula é a “bala de prata” que o PT tem para a eleição deste ano, numa alusão às especulações de que o expresidente possa disputar o pleito de outubro. Mas que, até com uma bala de prata, o tiro pode falhar.
— O problema da bala de prata é que ela não pode falhar. Quando ela falha, tudo desmorona. O próprio PT vai avaliar: se eles acham que o governo da presidente Dilma Rousseff está tão ruim, se acham que foi um erro tela como candidata, farão essa substituição.
Para nós, que não temos essa lógica de oposição por oposição, vamos firmar uma posição com Lula ou com Dilma. Não me preocupo com adversários, prefiro me preocupar com a obrigação que temos de não nos omitir diante dos erros que vêm sendo praticados — disse Marina.
(*Da Agência A Tarde)