quarta-feira, 30 de abril de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Sempre recebo o resultado de pesquisa com a absoluta serenidade. É aquilo que todo mundo diz – todas elas representam uma radiografia de momento. A percepção que para mim é mais clara e mais relevante é de que há um cansaço em relação a tudo isso que está aí e o sentimento crescente de mudança. É natural que ao longo do tempo, a partir do momento em que os candidatos de oposição vierem a ser mais conhecidos, há uma tendência natural de uma migração de votos que estavam próximos ao governo para esses candidatos. Não acredito que isso acontecerá numa enorme velocidade antes do início da propaganda eleitoral. Acho que a partir do momento em que o debate é estabelecido, confronto de ideias [passa a] existir, é que vai haver. Aí os números vão se acomodar patamares que eu acho que representam efetivamente o sentimento do conjunto do eleitorado.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB. Entrevista em S. Paulo, 29 de abril de 2014.

PF vê influência de doleiro sobre Padilha

Em mensagem interceptada pela polícia, Youssef diz a parceira de esquema que, se ex-ministro for eleito governador, ajudaria ‘e muito’

Fausto Macedo e Fernando Gallo – O Estado de S. Paulo

A Polícia Federal aponta “influência política” do doleiro Alberto Youssef – alvo maior da Operação Lava Jato – sobre o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, pré-candidato ao governo de São Paulo pelo PT. A suspeita decorre de diálogo interceptado pela PF, entre Primo, como Youssef é conhecido, e a doleira Nelma Mitsue Penasso Kodama, no dia 5 de março, através de um aplicativo de mensagem instantânea.

Ela questiona Youssef se ele “tem acesso atualmente” ao delegado-geral da Polícia Civil paulista e cita o nome Maurício Blazeck, que ocupa o cargo desde novembro de 2012. Nelma diz que “queria um cargo para um amigo” dela no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).

“Se o Padilha ganhar o governo ajudo ele e muito”, respondeu o doleiro. Para a PF, o diálogo grampeado “indica possivelmente que (Youssef) tem influência política junto ao candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha”.

“Tá bom. Eu quero então acesso ao delegado geral de sp prá um cargo”, finalizou Nelma.

Em outro momento, ela solicita a Youssef que entre em contato através do skype e indica o contato: ‘joaquina_apazza”. A PF conclui que os dois “possivelmente passaram a conversar através deste dispositivo”.

Labogen. Padilha não é investigado pela Lava Jato, mas o nome dele é citado em outros documentos da PF. No relatório principal, que resultou na ordem de prisão de Youssef e seu grupo, os investigadores revelam o empenho do doleiro para emplacar o laboratório Labogen Química Fina em negócio milionário da Saúde, na gestão do petista. A PF juntou aos autos cópia do projeto de Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) do ministério e anexou uma fotografia do ex-ministro em um evento.

Em um relatório, a PF transcreve diálogos entre o doleiro e o deputado André Vargas, que se desfiliou do PT na sexta feira. Numa conversa com Youssef, o parlamentar diz que foi Padilha quem indicou um ex-assessor na Saúde para ocupar cargo no Labogen.

A nova citação a Padilha consta de relatório complementar de monitoramento telemático número 8/14. O trecho em que Nelma indaga Youssef se ele tem acesso ao delegado a PF intitulou “influência governo São Paulo”. O grampo alcançou 512 mensagens entre Youssef, que se identifica por ‘Jaiminho’, e Nelma no período de 28 de fevereiro a 14 de março, no âmbito da Operação Dolce Vita, desdobramento da Lava Jato – foram quatro investigações simultâneas, cada uma relacionada a um grupo de doleiros.

Youssef foi preso no dia da deflagração da Lava Jato, 17 de março. Nelma foi capturada dois dias antes no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, quando tentava embarcar para Milão (Itália), com 200 mil escondidos na calcinha.

Multiconta. As interceptações revelam intensa atividade dos dois doleiros. No dia 28 de fevereiro, Youssef solicitou a Nelma “orçamento” para compra de US$ 80 mil. Ela pergunta se o pagamento “será feito em reais em espécie ou se através de transferência bancária”. Em 6 de março, ele diz que precisa comprar US$ 300 mil e pergunta se ela “tem alguma conta disponível na Europa”.

Nelma diz que tem uma conta na China que aceita depósito de euros. Youssef diz que o valor total é de 1,15 milhão. Ela sugere depositar 150 mil em conta sua na Itália e o restante em uma conta na China. “É uma multiconta, não tem problema depósito em euros”, ela diz.

A Justiça Federal abriu ação contra Nelma, “grande operadora do mercado negro de câmbio”. A soma da movimentação financeira de suas empresas de fachada atingiu R$ 103 milhões, entre 2012 e 2013, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeira (Coaf). A Procuradoria da República afirma que a doleira era “líder do grupo criminoso, mandante e executora dos crimes financeiros”.

Medidas legais. O ex-ministro Alexandre Padilha (PT) afirmou, em nota enviada por sua assessoria à reportagem, que “não irá comentar diálogos de terceiros e reitera que irá interpelar judicialmente qualquer pessoa que utilizar indevidamente seu nome”. “O ex-ministro já protocolou na Polícia Federal o requerimento para obter o relatório na íntegra e tomar medidas legais.”

A assessoria informou que o advogado Marcelo Nobre, que representa Padilha, protocolou em cartório interpelação solicitando esclarecimentos ao deputado federal André Vargas (sem partido-PR) para que explique “o uso indevido do nome de Alexandre Padilha em mensagem escrita por ele, e interceptada pela Polícia Federal”. “As medidas são mais uma demonstração da seriedade e da transparência com que Alexandre Padilha tem tratado a questão do envolvimento indevido do seu nome na operação da PF, mesmo sem ter nenhuma acusação ou denúncia contra ele.”

O presidente do PT paulista, Emídio de Souza, afirmou ser “uma excrescência” chamar Padilha para responder sobre um diálogo entre doleiros tratando de cargos no Estado.

O delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Luiz Maurício Blazeck, disse, em nota “que não conhece nem teve contato com nenhum dos doleiros”.

Relatório da Receita revela caminho do dinheiro da Petrobras até Youssef

Empreiteira contratada pela estatal pagou R$ 26 milhões para empresa fictícia do doleiro
Pagamentos entre 2009 e 2013 teriam sido feitos em operações triangulares outras duas empresas

Jailton de Carvalho – O Globo

BRASÍLIA - Relatório da Receita Federal mostra como parte do dinheiro que saiu da Petrobras para pagamento ao Consórcio Nacional Camargo Correa para a construção da refinaria Abreu e Lima caiu em uma das contas da MO Consultoria, uma das empresas do doleiro Alberto Youssef. O documento aponta que o consórcio liderado pela Camargo Correa, uma das sete maiores empreiteiras do país, pagou R$ 26 milhões para a MO entre 2009 e 2013. Os pagamentos teriam sido feitos em operações triangulares com a Sanko Sider e a Sanko Serviços. Segundo a polícia, a MO é uma empresa fictícia e teria sido criada apenas para lavagem de dinheiro.

O relatório com o fluxograma do dinheiro serviu de base a uma das denúncias do Ministério Público Federal contra o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, contra Youssef e mais oito supostos cúmplices dos dois. Na semana passada, o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba acolheu a denúncia e abriu processo contra os acusados. Na segunda etapa da investigação, a Polícia Federal deverá concentrar a apuração sobre a Camargo e outras empresas que fizeram repasses a MO.

De 2009 a 2013, a Camargo Correa e outras empresas vinculadas a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco repassaram R$ 90 milhões a MO de Youssef, conforme mostrou o GLOBO na edição de ontem. Pelo laudo da polícia, em 2009, a Petrobras pagou R$ 1.029 bilhão ao consórcio da Camargo Correa encarregada da execução de parte das obras da Abreu e Lima. A partir daí, a Camargo transferiu R$ 3,6 milhões para a Sanko Sider Com. Imp Exportação. Na sequência a Sanko repassou R$ 3,1 milhões para a MO.

Em 2010, a Petrobras repassou mais R$ 919 milhões para o consórcio da Camargo. O consórcio transferiu, então, R$ 8 milhões para Sanko Sides, que transferiu R$ 2,5 milhões para a MO. A Sanko Sider transferiu ainda mais R$ 935 mil para a empreiteira Rigidez e R$ 1,7 milhão para a Muranno Brasil Marketing, estas duas últimas empresas também suspeitas de serem ligadas a Youssef. Na continuidade dos repasses em em operações triangulares, a Petrobras pagou R$ 513 milhões a Camargo, que repassou R$ 16,3 milhões para a Sanko Sider e R$ 11,5 milhões para Sanko Serviços. Deste total, R$ 18,1 caíram na conta da MO.

Em 2012, a Petrobras desembolsou R$ 472 milhões. A Camargo repassou R$ 28,7 milhões para a Sanko Sider e R$ 2,9 milhões para a Sanko Serviços. A partir daí o dinheiro foi repartido : R$ R$ 5,1 milhões foram para a MO, R$ 1,6 milhão para a empreiteira Rigidez e R$ 3,27 milhões para a Muranno Brasil Marketing. Auditores do Tribunal de Contas da União identificaram superfaturamento de mais de R$ 650 milhões nas obras do consórcio. Os dados do TCU também estão sendo usados como base para acusação contra Youssef, Costa e outros suspeitos de envolvimento com desvios de dinheiro da Petrobras. Em resposta ao jornal, a Camargo nega que tenha repassado dinheiro à s empresas de Youssef.

Em resposta ao GLOBO, a Camargo e Correa afirmou que “o consórcio CNCC não pode se responsabilizar por repasses feitos por terceiros a quem quer que seja. Jamais fez negócios ou repasses às empresas ou pessoas citadas. Apenas efetuou pagamentos à Sanko Sider por tubos comprados de acordo com contratos e necessidades da obra e a Sanko Sider é uma empresa certificada pela Petrobras”, disse.

Pressionado, Renan anuncia duas CPIs da Petrobras

Pressionado, senador promete dar andamento às CPIs mista e do Senado

Peemedebista também anunciou que recorrerá da decisão do Supremo que impediu apuração de outros assuntos

Gabriela Guerreiro, Márcio Falcão – Folha de S. Paulo /EBC

BRASÍLIA - Sob pressão de governistas e oposicionistas, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), prometeu dar início na próxima semana aos trabalhos das Comissões Parlamentares de Inquérito mista e do Senado que vão investigar as suspeitas de irregularidades sobre a Petrobras.

Ontem à noite, Renan chamou deputados e senadores da oposição e anunciou que reunirá líderes do Senado e da Câmara na terça para pedir indicações dos integrantes para compor a CPI.

Na reunião, o peemedebista anunciou que serão instaladas a CPI exclusiva do Senado e também a CPI mista, de deputados e senadores, para investigar a estatal.

O Planalto resiste à comissão mista por avaliar que uma CPI só de senadores é mais fácil de controlar.

Além da oposição, Renan estava sendo pressionado pelo próprio PMDB, especialmente por deputados como o líder do partido, Eduardo Cunha (RJ) e o presidente da Câmara, Henrique Alves (RN).

Os dois estiveram anteontem com o vice-presidente Michel Temer (PMDB) para discutir uma solução para a investigação sobre a estatal.

Nos bastidores, senadores da base aliada avaliavam que os debates só no Senado renderiam menos ataques ao governo e à presidente Dilma Rousseff em ano eleitoral, quando muitos deputados buscam "holofotes" para suas campanhas.

A resistência de Renan levou a oposição a ameaçar denunciá-lo ao Ministério Público e ao Conselho de Ética do Senado caso a CPI mista não decolasse. Os deputados cogitaram pedir o impeachment do peemedebista, mas as regras do Congresso não viabilizam essa alternativa.

Renan argumentava que a decisão da ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber, que determinou a instalação imediata de CPI apenas para investigar a Petrobras, não se aplica à comissão mista de inquérito.

O governo pretendia sepultar a CPI mista e retardar o início dos trabalhos pelo menos até o dia 20, quando deve haver sessão do Congresso. Em junho, o Legislativo reduz o ritmo de trabalho devido à Copa e às eleições.

Renan também anunciou ontem que vai recorrer da decisão de Rosa Weber sobre a CPI exclusiva sobre a Petrobras. A ministra acatou pedido do DEM, PSDB e PPS para impedir que outros temas sejam apurados pela CPI, como o cartel do Metrô de São Paulo e o Porto de Suape.

Queda de Dilma reforça insatisfação entre aliados

A confirmação, por mais uma pesquisa, da queda nas intenções de voto na presidente Dilma Rousseff aumentou o clima de insatisfação entre os aliados dela, com a constatação de que o Planalto e o PT não têm conseguido estancar a perda de apoio. Mas, apesar do crescimento do “Volta Lula” entre parlamentares da base, petistas avaliam que a substituição seria desastrosa.

Luz Amarela para Dilma

Possibilidades de 2º turno, deserção de aliados e movimento ‘Volta, Lula’ atormentam campanha

Maria Lima, Cristiane Jungblut, Cararina Alencastro, Tiago Dantas e Biaggio Talento – O Globo

BRASÍLIA, SÃO PAULO e SALVADOR- O clima de perplexidade e desorientação tomou conta ontem do PT e dos partidos da base aliada com a divulgação da pesquisa CNT/MDA que confirmou a
tendência acelerada de queda da aprovação e de intenções de voto da presidente Dilma Rousseff. Pela primeira vez, a pesquisa aponta para a possibilidade de realização de um segundo turno nas eleições de outubro.

A presidente Dilma Rousseff teve queda na sua intenção de voto de 43,7% em fevereiro para 37% em abril. A redução foi de 6,7 pontos percentuais.

Enquanto Dilma chegou aos 37%, o senador Aécio Neves, candidato do PSDB, foi quem mais subiu, saindo de 17% em fevereiro para 21,6% neste mês. O ex-governador Eduardo Campos (PSB), por sua vez, passou de 9,9% em fevereiro para 11,8% em abril. Esse resultado aparece na pesquisa estimulada, ou seja, com a apresentação dos nomes dos candidatos ao entrevistado.

A pesquisa foi realizada de 20 a 25 de abril, com 2.002 entrevistas, em 137 municípios, e margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos.

Os analistas ressaltaram que a rejeição a Dilma chegou aos 43,1% e que ela foi afetada pelo escândalo da Petrobras.

E o pior: para os articuladores petistas, não há uma saída à vista. Nada do que foi feito na área de comunicação e lançamento de programas estancou a queda. E até mesmo a substituição do nome de Dilma pelo do expresidente Lula poderia ser eleitoralmente desastrosa.

CPI da Petrobras pode agravar crise
Dilma também perdeu popularidade, tanto na avaliação do seu governo como na de seu desempenho pessoal.

Segundo a pesquisa CNT/MDA, Dilma ainda venceria os adversários Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) num segundo turno, mas vem perdendo votos continuamente. E o auge da crise da Petrobras ainda está por vir, com a instalação da CPI que investigará a estatal e terá o governo como alvo.

— Ninguém sabe o que fazer. Se Dilma cair abaixo de 30%, as chances de vitória são quase inexistentes. Ao PT, agora, só cabe ficar observando e esperando dela um gesto. Lula não pode chegar e dizer: eu serei o candidato.

Dilma tem que tomar a iniciativa de chamar Lula — diz um dos estrategistas do PT.

Há também, entre os petistas, uma certa irritação com a teimosia da presidente Dilma em seguir surda aos apelos por mudanças em seu governo.

— Manda falar com o João Santana! — desabafa um desses petistas, referindo-se ao marqueteiro que banca a estratégia de Dilma.

Os maus resultados, além de estimularem o movimento “Volta, Lula”, estão provocando debandada de partidos da base para o campo da oposição.

Hoje, o até então fiel PROS, cuja direção se divide entre um grupo do baixo clero da Câmara e os irmãos Cid e Ciro Gomes, vai comunicar ao ministro- chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que, se não ganhar o Ministério da Integração Nacional, poderá deixar a base.

Enquanto na cúpula do PT se busca uma saída, a presidente continuou ontem sua maratona de entrega de máquinas e inaugurações, na Bahia.

Com uma plateia de prefeitos, secretários municipais e presidentes de associações do interior baiano, Dilma Rousseff exaltou em Feira de Santana os avanços sociais do seu governo e do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.

Em seu discurso, a presidente enfatizou que o país “não vai voltar atrás”.

— Tenho certeza de que o povo brasileiro não vai retroagir, voltar atrás, desistir disso que conquistamos: a maior redução de desigualdade social do Brasil — disse a presidente, na cidade do interior baiano, após entregar tratores e equipamentos para prefeitos.

Com um discurso preparado para a região, que vem sofrendo com a falta de chuvas há mais de dois anos, Dilma disse sentir orgulho da atuação do governo.

— Uma das coisas que mais orgulha no governo foi que atravessamos a pior seca dos últimos 50 anos e não houve invasão de supermercado, a fome horrorosa, porque ninguém desenvolve só com obras. É preciso de ações que atendam as pessoas — afirmou, acrescentando que seu governo criou 4,8 milhões de empregos em todo o Brasil.

— Diante da crise internacional, nós não fizemos nem adotamos a alternativa conservadora, que os governos adotavam no Brasil: recaía o peso da crise nas costas do trabalhador. E dê-lhe arrocho e perda de direitos, como fizeram na Europa e nos Estados Unidos.

Oposição vê governo num impasse
Um dia depois de o PR, aliado ao governo Dilma, ter defendido publicamente a volta do ex-presidente Lula à candidatura presidencial em lugar da presidente, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, negou peremptoriamente que o petista tenha essa intenção. Segundo Gilberto, que é muito próximo a Lula e foi chefe de gabinete dele, o ex-presidente fica constrangido e incomodado com esse movimento. Gilberto aproveitou para fazer um alerta aos aliados de que essa corrente fragiliza o atual governo e favorece a oposição.

— Essa hipótese não existe. Essa hipótese é zero. O presidente Lula está determinado a dar todo o empenho de sua vida à reeleição da presidente Dilma.

A vitória do presidente Lula é a reeleição da presidente Dilma. O presidente Lula é mais do que taxativo, ele nunca levantou essa hipótese. Ele está muito incomodado com esse processo; para ele, não há nada mais constrangedor do que esse tipo de opinião que é publicada — disse Gilberto, reconhecendo, no entanto, que há uma ala dentro do próprio PT que prega o retorno de Lula à disputa eleitoral.

Na oposição, a queda acentuada de intenção de votos de Dilma, apesar de comemorada, é vista com certa cautela.

E a torcida, agora, é para que não caia tão rápido até a convenção que vai confirmar sua candidatura.

— Eles estão numa dificuldade muito grande. Dilma não vai querer sair, não vai querer botar um carimbo de incompetente na testa. Estão na véspera da decisão e não têm muito tempo de construir uma saída que os livre do fracasso deste governo. Podem mudar o candidato até 20 dias antes da eleição. Mas isso acontece em situações extremas, de morte do candidato.

Como vão explicar que mudaram porque a candidata fracassou? — avaliou o pré-candidato do PSDB, Aécio Neves (MG). Aécio diz, entretanto, que uma possível volta de Lula não iria atrapalhar sua campanha:

— Nossa proposta visa a enfrentar um sistema, um modelo de gestão que vem fazendo muito mal ao Brasil. Qualquer que seja o representante desse modelo, estamos prontos para enfrentá-lo e, tenho muita confiança, para vencê-lo. Não é uma disputa contra uma pessoa ; é uma disputa contra um modelo. Se tiver uma troca de candidaturas, não altera absolutamente nada o nosso discurso e a nossa disposição.

Em Salvador, a pré-candidata a vicepresidente Marina Silva (PSB) disse que Lula é a “bala de prata” que o PT tem para a eleição deste ano, numa alusão às especulações de que o expresidente possa disputar o pleito de outubro. Mas que, até com uma bala de prata, o tiro pode falhar.

— O problema da bala de prata é que ela não pode falhar. Quando ela falha, tudo desmorona. O próprio PT vai avaliar: se eles acham que o governo da presidente Dilma Rousseff está tão ruim, se acham que foi um erro tela como candidata, farão essa substituição.

Para nós, que não temos essa lógica de oposição por oposição, vamos firmar uma posição com Lula ou com Dilma. Não me preocupo com adversários, prefiro me preocupar com a obrigação que temos de não nos omitir diante dos erros que vêm sendo praticados — disse Marina.
(*Da Agência A Tarde)

Pesquisa CNT aponta queda na avaliação positiva do governo Dilma Rousseff

Percentual caiu de 36,4%, em fevereiro deste ano, para 32,9%. Avaliação negativa aumentou de 24,8% para 30,6%.

Agência CNT

Divulgada nesta terça-feira (29), a 118ª Pesquisa CNT/MDA aponta queda na avaliação positiva do governo Dilma Rousseff. O percentual caiu de 36,4% - em fevereiro deste ano, data do último levantamento - para 32,9%. A avaliação negativa aumentou de 24,8% para 30,6% e a regular diminuiu de 37,9% para 35,9%.

A aprovação do desempenho pessoal da presidente também caiu de 55% para 47,9%, enquanto o número de entrevistados que desaprovam a administração de Dilma aumentou de 41% para 46,1%. Esta é a terceira queda consecutiva na avaliação do governo federal, segundo os levantamentos divulgados pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) – em novembro de 2013, o índice de aprovação era de 58,8% e de reprovação, 38,9%.

Corrida eleitoral
Sobre as intenções de voto no primeiro turno, na pesquisa estimulada, a preferência por Dilma caiu de 43,7%, em fevereiro, para 37%, em abril. Aécio Neves cresceu de 17% para 21,6% e Eduardo Campos de 9,9% para 11,8%. O percentual dos eleitores que pretendem votar nulo ou em branco passou de 20,4% para 20%.

Em relação ao segundo turno, diminuiu a diferença entre a atual presidente e os seus principais oponentes. Em fevereiro deste ano, Dilma tinha 46,6% contra 23,4% de Aécio Neves. No atual cenário, a petista caiu para 39,2% e o candidato tucano subiu para 29,3%. A diferença diminuiu, ainda, contra Eduardo Campos – em fevereiro, Dilma tinha 48,6% das intenções de voto e caiu para 41,3%, enquanto o ex-governador pernambucano cresceu de 18% para 24%.

Dilma também piorou o seu desempenho no quesito limite de voto. Segundo a pesquisa, o percentual de entrevistados que votariam apenas na atual presidente diminuiu de 26,7% para 23,2%. Por outro lado, aumentou o número de eleitores que não votariam em Dilma de jeito nenhum, de 37,3% para 43,1%. Outros 29,4%, contra 31,4% em fevereiro, disseram que ela é uma candidata em que poderiam votar.

Pesquisa
De 20 a 25 de abril, a Pesquisa CNT/MDA entrevistou 2.002 pessoas, em 24 unidades de federação, nas cinco regiões do país. Também foram avaliados temas como as expectativas dos eleitores sobre temas como economia, inflação, saúde, educação, segurança e emprego. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para menos, com 95% de nível de confiança. O registro da pesquisa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é BR-00086-2014.

PSDB vencerá eleição com ou sem Lula, afirma Aécio

Pré-candidato tucano à Presidência minimiza movimento do 'Volta, Lula' e diz mais uma vez que troca de candidato do PT não mudaria corrida eleitoral

Elizabeth Lopes e Ricardo Chapola – O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), disse nesta terça-feira, 29, que o PSDB está preparado para vencer as eleições presidenciais e não importa quem seja o candidato do PT a disputar a sucessão. Questionado sobre o movimento 'Volta, Lula', que nessa segunda, 28, ganhou a adesão de parte da bancada do PR na Câmara dos Deputados, Aécio disse: "Este é um problema do governo. Mas, se houver troca de candidato, não altera em absolutamente nada o nosso discurso e a nossa disposição".

Ao comentar a hipótese de a presidente Dilma Rousseff não ser a sua concorrente neste pleito, o tucano disse também que a proposta do PSDB na corrida presidencial é "enfrentar um modelo que vem fazendo muito mal ao Brasil". "Qualquer que seja o representante deste modelo, vamos enfrentar e vencê-lo", disse.

As afirmações do senador foram feitas após palestra para investidores e economistas convidados pelo Itaú BBA, na capital paulista. Participou do evento também o economista Armínio Fraga, cotado para ocupar o Ministério da Fazenda em um eventual governo tucano.

A um grupo de jornalistas esportivos, na noite de segunda, Dilma disse não se preocupar com o movimento "Volta, Lula" e destacou a lealdade entre ela e o ex-presidente. Nesta terça, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, repetiu que não há a possibilidade de Lula disputar estas eleições. "O presidente Lula está determinado a dar todo o empenho de sua vida à reeleição da presidente Dilma", afirmou.

Intenções de voto. Pesquisa de intenções de voto divulgada nesta terça pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) mostra que Dilma tem 37% da preferência do eleitorado, contra 21,6% de Aécio e 11,8% do pré-candidato do PSB, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. Na comparação com o levantamento de fevereiro, Dilma perdeu seus pontos porcentuais e Aécio cresceu 4,6 pontos. Em um eventual segundo turno, Dilma venceria Aécio e Campos, de acordo com a pesquisa. O levantamento também aponta que a diferença entre a presidente e a soma de seus adversários caiu e está dentro da margem de erro, o que eleva a hipótese de segundo turno.

Oposição comemora queda de Dilma em pesquisa e credita resultado à má gestão

Líder do PSDB diz que presidente ‘se revelou uma fraude’ e criticou atuação de Dilma no conselho de administração da Petrobras

Chico de Gois – O Globo

BRASÍLIA - Líderes da oposição comemoraram nesta terça-feira o resultado da pesquisa divulgada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) que demonstra uma queda na intenção de votos na presidente Dilma Rousseff, o que provocaria um segundo turno, caso as eleições fossem hoje. O líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), avaliou que o resultado demonstra nitidamente uma queda na popularidade de Dilma. Para ele, essa redução no apoio à presidente é fruto da prestação de serviço de má qualidade à população, entre outras coisas.

— Ela foi apresentada como uma grande gestora e se revelou uma fraude — disse Imbassahy.

De acordo com o levantamento, Dilma teria 37% das intenções de voto - na pesquisa de fevereiro, ela tinha 43% -, o senador Aécio Neves (PSDB) soma 21,6%, contra 17% anteriormente, e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) agora tem 11,8%, ante 9,9% de fevereiro. O resultado aponta que, se o pleito se desse hoje, haveria segundo turno.

O líder tucano aproveitou para criticar a gestão de Dilma à frente do Conselho de Administração da Petrobras.

— Ela estava à frente da empresa quando autorizou a compra da refinaria de Pasadena, que de US$ 1,2 bilhão, agora sabemos, pelo GLOBO, que custou US$ 1,9 bilhão.

Mendonça FIlho (PE), líder do DEM, acredita que a pesquisa divulgada nesta terça-feira consolida o viés de baixa das intenções de voto em Dilma.

— A queda nela nas pesquisas tem a ver com a alta da inflação, serviços pífios, e a ação do governo para impedir que seja feita uma CPI mista para apurar irregularidades na Petrobras.

Gilmar Mendes diz que críticas de Lula ao julgamento do mensalão têm fins eleitorais

Para o ministro, afirmação próxima às eleições é tentativa de ‘justificar aquilo que é de difícil justificação’

Carolina Brígido – O Globo

BRASÍLIA - O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), voltou a criticar nesta terça-feira o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que deu entrevista a uma TV portuguesa dizendo que o julgamento do mensalão foi mais político que jurídico. Para Gilmar, Lula adotou o discurso neste momento por atender a interesses eleitorais.

— Nós estamos numa fase eleitoral e as pessoas precisam encontrar algum discurso para justificar aquilo que é de difícil justificação — declarou o ministro.

Ainda segundo Gilmar, se o mensalão tivesse dado certo, o Brasil estaria em situação pior que a Venezuela. O ministro ressaltou que as condenações no processo foram essenciais para fortalecer a democracia brasileira.

— Talvez o que a gente tenha que se perguntar é o que seria do Brasil se o mensalão tivesse dado certo. Talvez nós já estivéssemos para lá da Venezuela. Felizmente, o mensalão deu errado, e felizmente nós logramos punir o mensalão. Acho que isso é um bom resultado, que fortalece a democracia brasileira. Já se disse que nem Deus pode mudar o passado. Mas parece que o presidente acredita que pode fazê-lo — ironizou.

O ministro voltou a defender a idoneidade do STF ao longo do julgamento.

— Os senhores acompanharam privilegiadamente todo o desenvolvimento do processo, desde o recebimento da denúncia. A condenação de determinados políticos teve manifestação unânime de todos os componentes do tribunal e, portanto, acredito que há um quadro de insuspeição com relação a isso — disse.

Ontem, Gilmar disse em entrevista à rádio “Jovem Pan” que o tribunal é idôneo. Com ironia, lembrou que a maior parte dos integrantes foi nomeada por Lula e Dilma Rousseff. Marco Aurélio Mello, também do STF, chamou a visão de Lula de “leiga partidária”. E o presidente da Corte, Joaquim Barbosa, que é relator do mensalão, disse que o ex-presidente tem dificuldade para compreender o papel de um Judiciário independente em uma democracia.

Renan diz que vai recorrer da decisão do Supremo sobre CPI da Petrobrás e sugere que trabalho comece na terça

Presidente do Senado disse que ao apresentar o recurso, que não terá efeito suspensivo, estará cumprindo seu ‘dever constitucional

Daiene Cardoso – Agência Estado

BRASÍLIA – O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou na tarde desta terça-feira, 29. no plenário da Casa, que vai recorrer de forma institucional ao pleno do Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão da ministra Rosa Weber que determina a instalação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobrás. Renan disse que é seu “dever constitucional” apresentar o recurso, mas que como não há efeito suspensivo do recurso, cumprirá a determinação judicial imediatamente.

“Recorro porque é imperioso pacificar o entendimento do pleno”, disse o presidente do Senado. De acordo com ele, o recurso é “dever de ofício” e mostra a “coerência institucional” da presidência do Senado.

O peemedebista aproveitou para solicitar que os partidos apresentem seus indicados para compor a comissão, que terá 13 titulares. Na ocasião, o líder do PTB, senador Gim Argello (DF), anunciou que ele e o senador paulista Antonio Carlos Rodrigues, são os nomes indicados pela sigla para integrar o grupo.

Renan propôs que os trabalhos possam começar já na próxima terça-feira (6), dia em que solicitou uma reunião de líderes para discutir a exigência dos deputados em instalar a comissão mista do Congresso Nacional. O peemedebista argumentou que a opção entre CPI e CPMI é uma decisão política e que gostaria de “dividir” essa definição com os líderes partidários.

Parte da base na Câmara se une à oposição para pedir CPI mista da Petrobrás

Objetivo é evitar que a investigação fique restrita ao Senado

Eduardo Bresciani – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Líderes de partidos da base aliada na Câmara dos Deputados vão se unir aos integrantes da oposição para pressionar o presidente do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), pela instalação de uma CPI mista da Petrobrás. A intenção é evitar que a investigação fique restrita ao Senado. Na semana passada, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Rosa Weber determinou a instalação da CPI no Senado e a oposição quer que o mesmo entendimento seja aplicado ao pedido de CPI mista.

"A CPI tem o apoio de 91% da população segundo mostra uma pesquisa hoje. Então é claro que isso não é um assunto só da oposição", disse o líder do PSDB, Antonio Carlos Imbassahy (BA), ao anunciar a adesão de parte da base à iniciativa.

Segundo os oposicionistas, os líderes do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), do PSD, Moreira Mendes (RO), do PR, Bernardo Santana de Vasconcellos (MG), e do PTB, Jovair Arantes (GO), participarão da reunião com Renan nesta tarde. "São líderes que assinaram a CPI, então é natural que participem", disse o líder do DEM, Mendonça Filho (PE).

Eduardo Cunha diz que vai consultar ainda os parceiros do "blocão", que reúne PR, PTB, PSC e o oposicionista SDD, mas já sinaliza que participará da pressão. "Nós assinamos a CPI e o Congresso não é unicameral, é bicameral", argumenta.

Renan deve anunciar nesta terça a decisão sobre a instalação da CPI. Integrantes do seu partido o pressionam para que não recorra a fim de tentar reverter a decisão do Supremo de mandar instalar já a investigação parlamentar. Parte da base aliada também já avalia a estratégia de trazer problemas da gestão Fernando Henrique Cardoso para o debate sobre a estatal.

Marina diz que Lula é bala de prata do PT

Heliana Frazão - Agência Estado

A provável candidata a vice-presidente da República pelo PSB, Marina Silva, disse, nesta terça-feira, 29, em Salvador, que o ex-presidente Lula é uma bala de prata que o PT tem, e que isso é inquestionável. A declaração se deu em resposta a uma pergunta sobre eventual candidatura de Lula à Presidência, face às seguidas quedas na popularidade da presidente Dilma Rousseff, que deverá concorrer à reeleição, em outubro.

"O problema é que a bala de prata não pode falhar, quando ela falha, tudo desmorona. O presidente Lula tem que avaliar e o próprio PT tem que ver. Se eles acham que o governo da presidente Dilma está tão ruim, se acham que foi um erro tê-la como candidata, eles farão uma substituição. Se não tiverem essa avaliação irão apoiá-la", analisou Marina.

Segundo ela, no PSB não existe a lógica de oposição por oposição. "Vamos firmar uma posição com Lula ou com Dilma. Não me preocupo com adversários, prefiro me preocupar com a obrigação que temos de não nos omitir diante dos erros que vêm sendo praticados", disse fazendo referência, entre outros, aos escândalos envolvendo a Petrobras.

A candidata a vice do PSB afirmou ainda convicção de que a eleição presidencial deste ano será decidida em segundo turno. Ela deu uma espetada na presidente Dilma, que também estava na Bahia, nesta terça-feira, ao dizer que o povo brasileiro tem sabedoria e não daria uma vitória em primeiro turno a quem "contribuiu para a elevação da inflação, das taxas de juros e para o baixo crescimento econômico do País".

Segundo ela, caso as eleições fossem decididas em primeiro turno, seria uma demonstração de que o povo estaria afirmando e reafirmando os erros praticados nesse governo, e o povo é sábio. Marina reforçou que o país atravessa um momento de crise, e voltou a citar a Petrobras. "Num momento desses não se define uma eleição em primeiro turno", insistiu.

Marina discordou da avaliação feita pelo presidente Lula de que o julgamento do mensalão teve "80% de decisão política e 20% de decisão jurídica". Para ela, a sociedade e o Supremo Tribunal Federal já deram o seu parecer sobre o dolo. "Agora não cabe fracionar os 100% que o povo e o STF decidiram. O que cabe a partir de então é encontrar mecanismos para que o erro não se repita", opinou.

Renan pede indicações para que CPI da Petrobras comece em 6 de maio

Presidente do Senado destaca que vai recorrer de decisão da ministra do STF por investigação restrita

Oposição insiste para que reunião sobre CPI mista fosse antecipada. Base tenta ganhar tempo

Júnia Gama – O Globo

BRASÍLIA - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deu sinal verde nesta terça-feira para o início da CPI exclusiva da Petrobras no Senado e marcou para o dia 6 de maio, terça-feira, reunião sobre a CPI mista. O anúncio foi feito após uma reunião com lideranças da oposição na Câmara, que pressionam o presidente do Senado pela criação de uma CPI mista, que inclua senadores e deputados.

O requerimento para essa comissão já foi lido em meados de abril e, para a oposição, já estaria sendo contado o prazo para sua instalação. Renan Calheiros marcou uma reunião para a próxima terça-feira, mesmo dia em que pretende dar início aos trabalhos da CPI no Senado, para definir com os líderes qual das duas comissões irá prevalecer, a mista ou a só de senadores, como deseja o governo.

– É evidente que a CPI mista é o destino final da investigação. Mas, para que isso se efetive na prática, precisamos consensualmente eleger um encaminhamento. A oposição sempre deixou clara sua preferência pela CPI mista, no entanto ela não poderá acontecer por decisão exclusiva do presidente do Congresso. Hoje estabelecemos calendário para a CPI e marcamos reunião com líderes partidários para estabelecer comissão mista do Congresso – afirmou o senador.

Oposição insistiu para que reunião fosse antecipada
Renan Calheiros quer se eximir da responsabilidade de tomar sozinho a decisão sobre a abertura de uma CPI mista, que o governo tenta barrar de qualquer maneira por considerar que tem no Senado uma maioria mais confiável para blindar o Palácio do Planalto. Líderes da oposição insistem para que Renan Calheiros antecipe para hoje ou amanhã a reunião para definir se haverá CPI mista, mas o presidente do Senado não quer ceder.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), também quer postergar a reunião, em uma tentativa dos governistas de ganhar tempo. Costa justificou que, como na quinta-feira será feriado, Dia do Trabalho, o Congresso estará esvaziado amanhã e não haverá número suficiente de parlamentares para participar da discussão.

– Não podemos fazer essa discussão a toque de caixa, na quinta é feriado e amanhã vai estar esvaziado. Nossa posição é de que a CPI do Senado está bem posta, tem capacidade para investigar – disse Humberto Costa.

O líder do PSDB, Aloysio Nunes (SP), protestou:

– Se o líder Humberto Costa e seus amigos da maioria têm compromisso amanhã, façamos hoje a reunião. A decisão da ministra Rosa Weber não vale só para o Senado. Uma vez preenchidos os requisitos para uma CPI, ela está criada, não depende de decisão de Vossa Excelência, dos líderes, ou de outra comissão. Tanto é assim que o prazo para instalação já está correndo, a partir do momento em que foi lida na sessão do Congresso e publicada. Não é possível fazer com que o cumprimento de um preceito constitucional da minoria fique pendente de uma decisão de qualquer instância – afirmou Aloysio.

Renan pede indicações de integrantes
Apesar de confirmar que irá recorrer ao pleno do Supremo Tribunal Federal (STF) da decisão da ministra Rosa Weber, que defendeu uma CPI restrita às investigações sobre irregularidades na Petrobras, Renan Calheiros determinou aos líderes partidários que indiquem os integrantes para a comissão para que os trabalhos tenham início na próxima terça-feira.

O senador afirmou que a decisão de recorrer ao pleno do STF é institucional, um “dever de ofício, para demonstrar coerência institucional”.

– Em face da liminar concedida na última semana no STF, é meu dever funcional recorrer da decisão ao pleno daquela Corte. Este recurso, como todos sabem, é uma iniciativa institucional, não é politica ou partidária, até porque recurso não tem efeito suspensivo e não consultei nenhum partido politico ou bancada. Recorro porque é imperioso pacificar entendimento do pleno do STF para que a jurisprudência se sustente em uma decisão coletiva. Eu próprio submeti a minha decisão à CCJ e ao plenário do Senado – justificou Renan Calheiros.

– Diante dos fatos exposto, solicito às lideranças partidárias que façam imediatamente as indicações dos membros da CPI, a fim de iniciarmos os trabalhos dessa comissão na próxima terça-feira — disse.

Executiva PPS: Conjuntura econômica e política abre espaço para o crescimento da oposição

- Luis Zanini – Portal do PPS

A inflação em alta; as denúncias de corrupção envolvendo membros do PT ; as versões desencontradas sobre a compra pela Petrobras da refinaria em Pasadena e a significativa queda de 6,7% na intenção de voto em Dilma na recente pesquisa divulgada pela CNT (Confederação Nacional do Transportes) abrem espaço para o crescimento das candidaturas de oposição à Presidência da Republica, especialmente do ex-governador Eduardo Campos (PSB).

A avaliação do “derretimento” do governo do PT e da candidatura à reeleição da presidente foi apresentada nesta terça-feira, em Brasília, pelos membros da Executiva Nacional do partido. O presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), disse que a atual conjuntura econômica e política apontam para o esgotamento do modelo implantado pelo PT e representa nova perspectiva para a oposição nas eleições presidenciais de outubro.

Na mesma linha, o deputado federal Arnaldo Jardim (PPS-SP) considerou que a pauta econômica estará muito presente na campanha eleitoral. Ele chamou a atenção para o impacto da alta dos preços dos combustíveis e da energia elétrica na inflação. De acordo com ele, a elevação desses insumos poderá representar cerca de 2% a mais no índice do custo de vida dos brasileiros.

A deputada estadual Luzia Ferreira, de Minas Gerais, disse na reunião que a presidente Dilma está “derretendo” e o PT ficando estigmatizado como partido que abriga políticos corruptos. Para ela, o desgaste da imagem ética do partido do governo e da gerencial de Dilma abre cada vez mais espaço para a oposição.

O secretário-geral do PPS, deputado estadual Davi Zaia (PPS), também chamou a atenção para o descrédito do governo na área política e econômica. Já o presidente da FAP (Fundação Astrojildo Pereira), o ex-deputado Raul Jungmann, avaliou que o principal foco de desgaste do PT é a Polícia Federal.

Ele disse que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, perdeu o controle sobre a corporação. “A PF é um exemplo de perda de centralidade do governo, que está sempre na defensiva na mídia [em relação às operações da PF que levantam suspeitas de envolvimento de integrantes do PT com corrupção]”.

Elio Gaspari: O deslizamento de Dilma

A erosão de Dilma deve-se mais ao modo petista de aparelhar o Estado e ao "Volta, Lula" que a ela mesma

- O Globo

A campanha pela reeleição da doutora Dilma está numa enrascada. Carrega uma cruz do passado (as malfeitorias petistas, do mensalão às traficâncias da Petrobras) e puseram-lhe nas costas outra, do futuro (o "Volta, Lula"). Está presa à necessidade de justificar o que não fez e a uma ideia segundo a qual talvez não seja a melhor escolha, nem mesmo para os petistas e seus aliados.

Lula diz que não é candidato, mas comporta-se como tal e faz isso da pior maneira possível, como corretivo aos erros cometidos por seu poste. Na essência do "Volta, Lula" há um implícito "Sai, Dilma". À primeira vista, esse movimento oferece um Salvador da Pátria, mas está embutido na proposta também um Salvador do PT.

O desgaste de Dilma decorre da exposição de um desgaste do aparelhamento imposto ao Estado. Em menos de um mês abalaram-se duas candidaturas nas quais a nação petista fazia enorme fé. Um só doleiro, veterano de duas delações premiadas, arrastou a campanha de Alexandre Padilha em São Paulo e a de Gleisi Hoffmann no Paraná. Sabendo-se que o partido está sem pai nem mãe no Rio de Janeiro, à malversação de recursos públicos somou-se outra, de votos.

O comissariado afastou-se do deputado André Vargas, mas essa conversão repentina pode ter sido escassa e tardia. Afinal, o PT ainda não conseguiu se desvencilhar do mensalão, hoje transformado na bancada da Papuda.

Ninguém pode prever no final de abril o resultado de uma eleição que ocorrerá em outubro, mas alguns indicadores de hoje são claros:

1) A candidatura de Dilma Rousseff está sendo corroída e mesmo uma pessoa que não gosta do seu governo deve admitir que boa parte desse desgaste vem mais da repulsa ao aparelhamento do que a ela.

2) Se a proposição anterior é verdadeira, o "Volta Lula" pode ser tanto um remédio como um veneno.

3) Aécio Neves e Eduardo Campos ficaram na confortável situação de jogar parados. Pouco dizem a respeito do que pretendem fazer, beneficiados pela exposição dos malfeitos do governo. Oh, que saudades da faxina prometida por Dilma.

Não se sabe quem será o Lula que se quer de volta. Sendo uma "metamorfose ambulante", talvez nem ele saiba. Prova disso está na entrevista que deu em Portugal. Nela disse a coisa, seu oposto e concluiu com uma dúvida.

A coisa, referindo-se à banca da Papuda: "Não se trata de gente da minha confiança". Deixe-se pra lá que José Dirceu, "capitão" da sua equipe, não lhe tivesse a confiança.

O seu contrário: o julgamento do Supremo Tribunal Federal foi "80% político e 20% jurídico".

A dúvida: "Essa história vai ser recontada".

Ganha uma viagem a Cuba quem souber qual das três afirmações deve ser levada a sério.

Enquanto esteve na oposição, a nação petista cultivou uma sociologia de botequim. Supunha que o tucanato espalhara conexões e interesses capazes de garantir-lhe o controle do Estado. Se os adversários podiam fazer isso, os companheiros também podiam. Daí surgiram Marcos Valério, Alberto Youssef, as empresas "campeãs nacionais", empreiteiras amigas e a turma das petrotraficâncias.

Lula foi eleito em 2002 porque a invulnerabilidade sociológica do tucanato era uma fantasia. Mesmo que ele saia do banco de reservas e vá para a quadra, as urnas poderão mostrar que a dele também é.

Luiz Carlos Azedo: A travessia da Copa

- Correio Braziliense

Confirmou-se a tendência de queda gradativa da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas de intenção de votos, segundo divulgou ontem a Confederação Nacional dos Transportes (CNT). Levantamento realizado pelo Instituto MDA revelou uma perda de seis pontos em comparação com fevereiro, quando a candidata do PT registrou 43,7%. Dilma agora tem 37%. Pré-candidato pelo PSDB, o senador Aécio Neves subiu 4,6 pontos (de 17% para 21,6%), enquanto Eduardo Campos, do PSB, variou 1,9% para cima (de 9,9% para 11,8%), na margem de erro, portanto. A pesquisa fez recrudescer as declarações no campo governista de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não será candidato, mas o “Volta, Lula!” está mais forte do que nunca.

A margem de segurança para a reeleição de Dilma Rousseff estreitou-se. É quase certo que haverá dois turnos. Outros indicadores da pesquisa apontam nessa direção. Além da vantagem de Dilma para os demais candidatos ter diminuído para menos de 4 pontos, nas simulações de segundo turno, o favoritismo da presidente também recuou. Mesmo assim, ela ainda venceria Aécio Neves (PSDB-MG) com 39,2% dos votos contra 29,3% do tucano (antes a vantagem era de 46,6% contra 23,4%). Na simulação com Campos, Dilma tinha 48,6% das intenções e caiu para 41,3%, enquanto o ex-governador pernambucano cresceu de 18% para 24%.

Tudo indica que a capacidade de governança é o principal problema da atual chefe do Executivo. O índice de aprovação do governo caiu de 36,4%, em fevereiro deste ano, para 32,9%. A avaliação negativa aumentou de 24,8% para 30,6% e a regular diminuiu de 37,9% para 35,9%. A aprovação do desempenho pessoal de Dilma foi contaminada pelo desempenho do governo: caiu de 55% para 47,9%, enquanto o percentual que desaprova a administração aumentou de 41% para 46,1%. Vem daí a maior dificuldade para estancar a queda dos últimos meses. A pesquisa entrevistou 2.002 pessoas de cinco estados, das cinco regiões do país, entre 20 e 25 de abril.

De olho no caneco
Os estrategistas do Palácio do Planalto torcem para que a Copa do Mundo dê um refresco para a presidente Dilma Rousseff, tirando do foco os escândalos envolvendo a Petrobras e outros temas negativos na economia, na educação, na saúde e nos transportes. O tema da violência é uma incógnita, pois tudo indica que está recrudescendo com a aproximação dos jogos da Copa do Mundo. É senso comum a ideia de que a conquista do título pela Seleção Brasileira no certame mudaria o humor da população, com impacto favorável à reeleição de Dilma nas pesquisas de opinião. A recíproca, nesse caso, seria verdadeira para a oposição, em caso de derrota, o que nenhum coração patriótico deseja.

O raciocínio governista é ainda mais complexo porque imagina que a Copa do Mundo servirá para destacar o papel de Dilma como realizadora das obras necessárias ao evento e ofuscar os candidatos de oposição, que ficarão sem palanque durante os jogos. Por esse cálculo, a Copa do Mundo seria a oportunidade de sustentar o favoritismo até o início do horário eleitoral, em 15 de agosto, neutralizando assim os que defendem a candidatura do ex-presidente Lula tanto no PT como nos partidos aliados. Nada garante, porém, que a exposição privilegiada de Dilma não provoque a radicalização dos protestos contra a Copa, direcionando-os contra ela própria.

O melhor mesmo é deixar a Copa do Mundo fora disso, até porque uma coisa não tem necessariamente nada a ver com a outra. Sempre é bom lembrar que o célebre primeiro ministro bitânico Winston Churchill foi um dos quatro grandes vencedores da Segunda Guerra Mundial, ao lado dos presidentes Franklin Delano Roosevelt (EUA), Josef Stálin (extinta União Soviética) e Charles De Gaulle (França), mas perdeu as eleições, em 1945, para os trabalhistas liderados por Clement Attlee, só voltando ao poder em 1951, aos 76 anos, com a vitória dos conservadores nas urnas.

Olha o Leão
Termina hoje o prazo para a entrega da declaração do imposto de renda da pessoa física. Apesar do baixo crescimento, a Receita Federal anunciou que o governo arrecadou R$ 293,4 bilhões no primeiro trimestre deste ano — um “recorde” para o período, em termos reais, ou seja, já descontada a inflação.

A margem de segurança para a reeleição de Dilma Rousseff estreitou-se. É quase certo que haverá dois turnos. Outros indicadores da pesquisa apontam nessa direção

José Roberto de Toledo: MDA fotografa queda já vista de Dilma e empurra Aécio

- O Estado de S. Paulo

Que Dilma Rousseff (PT) perdeu eleitores, Ibope e Datafolha já haviam mostrado em suas pesquisas de abril. A sondagem MDA/CNT não mostra uma nova queda da presidente. É o mesmo tombo, mas acaba contando dobrado (ou triplicado) porque a tradição no Brasil é não comparar pesquisas de institutos diferentes – algo tão lógico quanto não comparar a temperatura de um termômetro digital com o velho termômetro de mercúrio.

O resultado é mais um fato negativo para a coleção de Dilma – como já haviam sido as notícias sobre a queda da presidente no Datafolha e, depois, no Ibope. Mas é do jogo. Se e quando ela vier a crescer a notícia também sairá repetida – como já aconteceu quando a popularidade presidencial estava em alta.

Em abril, Dilma desceu para um patamar médio de 38%, no cenário com três candidatos e sete anões. Marcou 38% no Datafolha, 40% no Vox Populi, 37% no Ibope e, agora, 36% no MDA/CNT. Ela chegou a ter 44% (Datafolha) em fevereiro, caiu para 40% (Ibope) em março e baixou ainda mais em abril. A repetição de um resultado semelhante em três institutos indica que ela parou de cair? Melhor esperar maio e a próxima rodada de pesquisas.

Se há novidade na pesquisa MDA é o suposto crescimento de Aécio Neves (PSDB) e de Eduardo Campos (PSB). O tucano marcou surpreendentes 22% na pesquisa contratada pela CNT – que, apenas a título de transparência, é comandada há décadas por Clésio Andrade, um político mineiro que já foi vice de Aécio, aliou-se ao governo federal do PT e voltou para a banda da oposição.

Os 22% de Aécio são muito maiores do que os 16% que ele tem obtido no Datafolha e os 14% que vem registrando no Ibope. Mais importante do que a divergência numérica é a de tendência. No Datafolha e no Ibope os candidatos de oposição aparecem estáveis. Não se aproveitaram da queda de Dilma. Na pesquisa MDA Aécio deu um salto de cinco pontos percentuais desde fevereiro.

Pode ser que o MDA tenha detectado um movimento novo do eleitorado: em vez de dizer que pretende anular ou votar em branco, o eleitor estaria olhando os opositores com mais benevolência. Ou pode ser apenas um ponto fora da curva – as próximas pesquisas dirão (há uma Sensus em produção, mas convém esperar pela próxima rodada do Ibope e Datafolha).

Toda pesquisa, porém, é um fato político que influencia a campanha. Verdade ou não, o pulo do tucano (e o ganho aparente de dois pontos por Campos) vai ajudá-lo porque melhora o moral de seus correligionários e desobstrui a relação com doadores e com potenciais aliados. Tira sua campanha da inércia, por ora. Se essa nova dinâmica vai se sustentar são outros quinhentos.

A eventual transferência de eleitores da coluna do branco/nulo para a oposição é algo que se prevê que ocorra – agora ou mais tarde- pois o perfil desses eleitores se assemelha mais entre si do que com os eleitores de Dilma. Por isso que o cenário de uma eleição presidencial em turno único é uma miragem aritmética.

As pesquisas mostram uma tendência de acirramento da disputa. Se nenhuma catástrofe ocorrer até outubro, é provável que as definições de quem passará com Dilma para o segundo turno e de quem vencerá a disputa final se darão por margem apertada. É um cenário em que a propaganda ganha importância. Bom para os marqueteiros e para os partidos que têm tempo de TV para alugar.

Fernando Rodrigues: O tempo do "volta, Lula"

- Folha de S. Paulo / EBC

Viável ou não, há alguns parâmetros operacionais para o movimento "volta, Lula", que prega o retorno do ex-presidente como candidato ao Planalto em substituição a Dilma Rousseff.

Do ponto de vista estritamente legal, Lula e Dilma têm até 20 dias antes da data da eleição para promover a troca. Primeiro, a presidente é proclamada candidata na convenção partidária do PT, que deve ocorrer no período de 10 a 30 de junho (como manda a lei).

O próximo passo seria uma renúncia de Dilma à candidatura. Depois, a nomeação de Lula. Como a eleição deste ano cai no dia 5 de outubro (é sempre no primeiro domingo desse mês), a troca teria de ser processada até 15 de setembro, uma terça-feira.

Restrições legais à parte, há um cardápio variado sobre como e quando deveria ser processada tal operação. Os mais desesperados com a perda do poder acham conveniente fazer tudo agora. Lula já seria escolhido candidato em junho na convenção partidária do PT.

Mas há também quem defenda deixar para a última hora. Circula até uma metáfora no mercado da política. Seria como o time que vai disputar um jogo na altitude de La Paz, na Bolívia, e só desembarca na cidade no dia e quase na hora da partida para que os atletas não sintam o impacto do ar rarefeito. Às vezes essa estratégia não funciona no futebol. Nada garante seu êxito na política.

Como Dilma se encontra desidratada e isolada no PT, a decisão cabe exclusivamente a Lula. O ex-presidente terá de calcular se num terceiro mandato seria tão bem-sucedido como nos anteriores, com mais de 80% de aprovação popular. Ou ele estaria fazendo o papel de Michael Schumacher, o ex-corredor de Fórmula 1? A alegoria lulista, já usada para alguns interlocutores, é que ele não deseja retornar ao Planalto e repetir o piloto alemão que na volta às pistas nunca conseguiu ter um bom desempenho. O risco não é pequeno.

Merval Pereira:Mudança nas apostas

- O Globo

A mais recente pesquisa eleitoral, encomendada pelo Conselho Nacional de Transportes à MDA, mostra, além da queda de popularidade da presidente Dilma, uma candidatura de oposição, a do senador Aécio Neves, do PSDB, alcançando pela primeira vez um índice acima dos 20% do eleitorado.

Na mesma pesquisa, outro candidato oposicionista, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, do PSB, alcança uma marca de dois dígitos também pela primeira vez. Não é à toa, portanto, que a campanha pela volta de Lula como candidato à Presidência da República pelo PT em lugar de Dilma cresceu tanto nos últimos dias. E, em contrapartida, aumentou o alvoroço na base aliada do governo, com uma debandada de políticos buscando se posicionar mais próximo de onde o vento está soprando, e esse lugar deixou de ser o Palácio do Planalto.

Já escrevi aqui que não existe nada que agregue mais na política do que a expectativa de poder. Agrega mais, em certas circunstâncias, que o poder presente, finito por definição. Esse poder presente vai ficando cada vez mais restrito à medida que a distância entre a presidente Dilma e os demais candidatos vai encurtando, levando à crença, num primeiro momento, de que o segundo turno é inevitável.

E a redução das apostas em Dilma agora veio acompanhada do crescimento da oposição, o que dará mais fôlego a ela nos próximos movimentos.

O candidato do PSDB cresceu mais depois de seu programa de propaganda oficial na televisão, numa demonstração de que a exposição de suas ideias ajuda o melhor conhecimento pelo público e o leva a se colocar no jogo eleitoral com mais força.

Há sinais na pesquisa CNT/MDA que confirmam a perspectiva ruim para os governistas. A avaliação positiva do governo da presidente Dilma Rousseff caiu de 36,4% em fevereiro para 32,9% em abril, o que a coloca em situação vulnerável na disputa pela reeleição.

Diversos estudos demonstram que a fronteira mínima confortável para a reeleição é de 36% de aprovação do governo.

Analisando as 104 eleições para governador ocorridas entre 1998 e 2010, o cientista político Alberto Carlos de Almeida identificou que os candidatos que tinham, antes do primeiro turno, aprovação igual ou maior que 46% foram reeleitos.

Em contrapartida, aqueles que tinham 34% ou menos de ótimo e bom foram derrotados.

Os estudos mostram ainda que os candidatos com aprovação entre 35% e 45% têm chances de se reelegeram em torno de 40%.

A pesquisa CNT/ MDA mostra também que a aprovação pessoal de Dilma caiu de 55% para 47,9%. O índice de eleitores que reprovam o governo Dilma já é tecnicamente igual ao dos que o aprovam, quando na última pesquisa a vantagem a favor da presidente era de 14 pontos percentuais. Agora, passou a ser de menos de dois pontos.

Ao mesmo tempo em que a distância para seus adversários reduz-se no primeiro turno, num hipotético segundo turno a presidente Dilma também
está caindo.

A diferença numa disputa com Aécio Neves caiu de 23,2 pontos para 10,1 pontos. Também Eduardo Campos cresceu no segundo turno contra Dilma, de 18% para 24%, enquanto Dilma caiu de 48,6% para 41,3%.

Correção
Recebi do Instituto Lula uma gravação da entrevista que o ex-presidente concedeu na Espanha, em que ele alegou não querer comentar o caso da Petrobras por estar “fora” do país.

A reprodução da entrevista na “Folha de S. Paulo” cometeu um erro, que o jornal já corrigiu, dizendo que o presidente dissera “estar por fora” do problema, o que me levou a criticá-lo.

Está feita a correção, que, no entanto, não altera em nada o teor de minha coluna de ontem.

João Bosco Rabello: Movimento do PR é,antes, “Sai,Dilma”

- O Estado de S. Paulo

Em política, como na economia, o êxito é vinculado à capacidade de criar expectativas positivas. Nesse momento, a presidente Dilma Rousseff caminha na contramão, sem gerar expectativa de poder no campo político, ao tempo em que consolida a relação de desconfiança construída junto ao mercado, no campo econômico.

A queda gradual e segura nas pesquisas corrói seu patrimônio político às vésperas da eleição em que tenta o segundo mandato e abre fissuras na sua base de sustentação congressual, já com efeitos dissidentes na aliança nacional.

As pesquisas refletem o efeito-dominó do processo: com a economia estagnada, principalmente pela falta de investimentos privados, e a inflação afetando o cotidiano do cidadão, os índices de aprovação caem e o apoio político desaparece.

A formalização do movimento pela volta do ex-presidente Lula por um partido aliado, o PR, reflete menos a crença nessa possibilidade e mais a decisão de não seguir com a candidatura que perde força. É, portanto, mais um movimento de “Sai, Dilma”, do que de “Volta, Lula”.

O PR não tem certeza se Lula aceita disputar o mandato em 2014. A perspectiva de um governo difícil em 2015, capaz de apagar a imagem de êxito dos mandatos anteriores, põe em dúvida a eficácia da provocação ao ex-presidente.

Mas não é o que mais importa. Rejeitada a candidatura de Dilma e não obtendo resposta para a proposta de retorno de Lula, o partido está livre para aderir a quem quiser. O gesto do líder do PR, Bernardo Santana (MG), tem esse efeito objetivo de liberar o partido do compromisso com Dilma.

O aceno a Lula mantém o PR como aliado, dispensando-o de abrir mão dos cargos que ocupa na estrutura de governo. Afinal, contesta a competitividade da candidatura oficial, mas não seu mérito. E pede a troca em nome dessa competitividade.

O partido, assim, cria o divisor de águas na campanha da reeleição de Dilma, descartando-a como candidata com chance real de vitória. Política sem voto é exercício de ficção, proibitivo em tempo de campanha.

Com Lula, ou sem Lula, o PR tira do bastidor para o plano formal um movimento que se manifesta primeiro pela retirada de apoio a Dilma, apesar da leitura de chantagem pela obtenção de mais cargos persistir.

A essa altura, cargos têm valor reduzido, especialmente se a perspectiva de vitória eleitoral diminui e, com ela, a de continuidade também. Os partidos valem mais agora pelo tempo de TV, moeda de troca real nesse fim de mandato melancólico do governo Dilma.

A contestação contínua à candidatura de Dilma deixa de ter na divisão interna do PT, insatisfeito com a convivência com a presidente, seu impulso maior, para dar lugar ao pragmatismo político.

A renovação de mandatos, a preservação e a conquista de poderes regionais orientam o comportamento dos políticos nessa etapa em que são tomados por um sentido de urgência e de realidade refratários a cenários incertos.

A tendência de rejeição da base aliada à reeleição de Dilma crescerá na proporção de sua queda nas pesquisas. Se confirmado um gráfico de declínio, a debandada será inevitável e pode tanto dar lugar à candidatura de Lula quanto à distribuição dos dissidentes entre os dois candidatos de oposição, Aécio Neves e Eduardo Campos, conforme as circunstâncias da política regional.

Marco Aurélio Nogueira: O Jovem Gramsci

A recepção da obra de Antonio Gramsci e o diálogo com seu legado estiveram apoiados em movimentos nem sempre entrelaçados ou simultâneos. A rápida disseminação dos textos de Gramsci colaborou para a diversificação desses movimentos, até mesmo porque se fez acompanhar de uma forte inflexão acadêmica que converteu esses textos em passagem quase obrigatória de certas disciplinas especializadas.

Hoje, em linhas gerais, dois grandes esforços de reconstrução organizam o vasto campo de estudos gramscianos. Antes de tudo, tem-se buscado reter a contribuição teórica e conceitual do marxista sardo, mediante abordagens que seguem as trilhas da epistemologia ou a tradução do aparato conceitual introduzido por Gramsci especialmente nos Cadernos do cárcere (1929-1935). O segundo movimento de reconstrução tem buscado o Gramsci prático, o dirigente político, e segue seus passos como militante socialista na juventude e líder comunista depois da formação do PCI em 1922.

O livro de Leonardo Rapone mergulha fundo num esforço para reunir, de forma histórico-sistemática, biografia intelectual e biografia política. Seu foco é o Gramsci da juventude, em um período de formação (1914-1919) que, como sempre, deixou-se marcar por muitas influências teóricas e políticas: Benedetto Croce, Henri Bergson, Georges Sorel, Robert Michels, Antonio Labriola, Max Weber. Em meio a essas influências cruzadas, é preciso descobrir o fio lógico que acabou por prevalecer, estruturando seu pensamento e forjando sua identidade.

Valendo-se da argúcia de pesquisador e de um sofisticado aparato especializado, Rapone acompanha Gramsci do aprendizado universitário à Primeira Guerra, à Revolução Russa e aos conselhos de fábrica, buscando entender o impacto que esses grandes acontecimentos tiveram em sua formação, em sua desprovincianização e em sua adesão ao socialismo. Do amplo diálogo intelectual que o jovem Gramsci manterá até seu encontro com o marxismo (e com Lenin em particular) emergirá o pensador antipositivista, hostil a determinismos estruturais rígidos, fascinado pela dimensão da vontade e da iniciativa humana, atento ao peso dos conflitos e das lutas de classes, um apaixonado observador da história de sua época.

Descortina-se, assim, a formação de um militante e um intelectual que, com o tempo, passa a compreender e a valorizar o lugar da política e do Estado na transformação social e na modelagem daquilo que, para ele, seria a “sociedade regulada”.

O belo livro que o leitor tem em mãos oferece uma plataforma decisiva para que se possa compor uma imagem unitária de Gramsci.

Marco Aurélio Nogueira Professor de Teoria Política da Unesp

Rosângela Bittar: O TCU resiste.

RDC é paredão contra o controle e a fiscalização

- Valor Econômico

Autocrática, voluntarista e desrespeitosa é a política do governo na sua relação com os órgãos de regulação e fiscalização da administração pública e aplicação do dinheiro do contribuinte. Desde sempre. Quer comandar a sua configuração, funcionamento, composição e ações. Desde o primeiro dia o PT agiu para restringir as agências reguladoras, que foram sendo questionadas, esvaziadas de suas funções e de sua concepção e quadro de pessoal, e aparelhadas para servir à política, até chegar a como estão hoje, uma sombra do Executivo. Os atropelamentos se sucedem sem que se note o mais leve constrangimento das autoridades.

Às vezes, o governo se volta para um órgão de controle que considera estar atrapalhando seus planos, e nele concentra sua artilharia. Em outras, fragmenta o tiro. Assim, até o inexpugnável Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), hoje dirigido por um militante da legenda, acabou entrando na dança do debate partidário.

Mas não há perda de nenhuma oportunidade quando se trata de atacar, aprisionar e pressionar o Tribunal de Contas da União. No alvo, de novo, como em tantas vezes, está o TCU, neste exato momento.

As tentativas de aparelhamento da Corte de Contas se frustraram uma após outra, por milagre. Até o corpo técnico do tribunal tem reagido às tentativas do governo e de partidos aliados de mobiliá-lo ao modelo de casa da mãe joana, sinal do desprezo com que encaram a fiscalização que ali se pratica.

No último ataque ao TCU, a indicação do senador Gim Argello, réu em quase uma dezena de processos contra a administração pública, os ministros atuais também acorreram, de forma inédita, ao abraço protetor para reforçar os servidores. Houve recuo da investida, não desistência.

Está próximo, porém, o xeque mate do governo, a ampliação desmesurada do Regime Diferenciado de Contratação (RDC), criado como exceção para as obras da Copa do Mundo e que, como tantas outras exceções, no Brasil, se ampliaram e perenizaram pelo facilitário que representam para os administradores públicos. Em lugar de reformar a lei de licitações, a arcaica 8666, criando instrumentos administrativos mais modernos porém seguros para a lisura dos procedimentos, impeditivos de facilidades indevidas, o PT e seus aliados preferiram abrir as porteiras, espalhar regras como benesses, levando a exceção nas contratações, primeiro, para as obras da Copa, depois para o PAC, agora, no projeto em votação final, para tudo.

De nada serviram as reações dos órgãos especializados, os alertas de quem entende dos escaninhos ocultos das licitações. O governo empurrou o RDC à sua base. Mas nem por isso as obras da Copa se aceleraram, nem o PAC conseguiu resultados diferenciados, exatamente ao contrário do que diz a propaganda do novo regime.

A ampliação do RDC e seu significado para os órgãos de fiscalização e controle de licitações e contas do governo, não surpreendeu o TCU, que resiste, porém, a se vergar em definitivo.

Ao contrário, prepara-se a Corte para também ampliar seu espectro de ação, não ficar apenas nas questões da legalidade, que ainda consomem 70% de suas tarefas, mas imiscuir-se na qualidade do serviço público. Quer aperfeiçoar seus serviços, estabelecer um diálogo com todo o país, mudar a concepção de suas tarefas, entrar mais diretamente no conteúdo do serviço prestado.

O TCU quer difundir as boas práticas administrativas. Em novembro deste ano prepara-se para apresentar aos eleitos de outubro o que identificou como os principais gargalos administrativos. Quer fazer cumprir a lei. Para o TCU, não é o tribunal que trava o país. O que impede o desenvolvimento é a incapacidade de fazer projetos, planejar, superar as fragilidades de gestão. A Corte de Contas já estendeu sua ação para as áreas da gestão de educação, de saúde, de segurança, da previdência, onde procura seguir o trajeto das verbas até o fim de sua aplicação.

São 12 milhões de funcionários públicos no Brasil, fora de qualquer sistema de avaliação de mérito. Os indicadores gritam por todos os lados: há seis meses, o tribunal mostrou ao governo que havia 500 mil mortos recebendo aposentadoria e 300 mil mortos, 50 mil proprietários de automóvel e 80 mil proprietários de terra recebendo bolsa família. Apenas um resultado, um exemplo da nova modalidade de trabalho qualitativo do tribunal. As auditorias do TCU se tornaram institucionalizadas também para as políticas públicas, e não apenas para obras, e os primeiros resultados já apareceram e foram entregues às autoridades: a gestão pública vai mal, sem exceção digna de registro.

O TCU está partindo para melhorar o que tem chamado, nos seminários internos e também internacionais, de governança, em que a cúpula da instituição quer engajar seus 2,7 mil funcionários, 1,7 mil auditores, mil técnicos.

Hoje, está em condições de mostrar ao Congresso Nacional, do qual é órgão auxiliar, a incompetência do Estado em todos os níveis, os ínfimos resultados das políticas públicas. Não há RDC que consiga esconder esse cenário.

Uma informação da pesquisa MDA para a Confederação Nacional dos Transportes, divulgada ontem, intrigou os filiados ao movimento Volta, Lula. Na enquete espontânea sobre intenção de voto, o ex-presidente Lula aparece atrás de Aécio Neves, quase na lanterninha. Além das dúvidas sobre como se chegou a esse resultado, e da suspeição de sempre em se tratando de pesquisa patrocinada, a primeira interpretação foi que Lula já estaria perdendo o glamour, o carisma, o voto emocional e automático, teria quebrado o seu encanto. Tanto que suas duas últimas intervenções - a entrevista aos blogueiros petistas em que ataca a imprensa, e a entrevista em Portugal em que ataca o Supremo Tribunal Federal - teriam sido prova de seu nervosismo com os revezes do partido nos cenários eleitorais. O ex-presidente estaria mesmo jogando tudo para o alto? Nunca, nada disso, na opinião de quem entende de Lula e de pesquisa. Ficou atrás porque seus eleitores não o identificam ainda como candidato, e a pesquisa espontânea não apresenta os nomes para lembrá-los. Mas continua candidatíssimo. O ex-presidente poderá entrar, a qualquer momento, pela porta que sempre deixa aberta quando nega a candidatura: em política, não se pode dizer nunca.

Não dá para levar a sério: O Estado de S. Paulo - Editorial

Não se deve levar a sério quem não leva a sério a si mesmo. Diante das nuvens que ameaçam carregar de sombras o cenário eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu abrir a caixa de ferramentas e "partir para cima" de quem ou o que quer que seja que represente risco para o projeto de perpetuação do PT no poder.

Tem aproveitado todas as oportunidades para exercitar sua conhecida e inexcedível desfaçatez. Na noite de sábado passado, em entrevista à TV portuguesa, chegou ao cúmulo, ao interromper a entrevistadora que queria saber o nível de suas relações com José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares e sair-se com uma inacreditável novidade: "Não se trata de gente de minha confiança".

Então está tudo explicado. E toda a Nação tem a obrigação de reconhecer que o ex-presidente falava a verdade em agosto de 2006, quando o escândalo do mensalão estourou: "Quero dizer, com franqueza, que me sinto traído. Não tenho vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas". O fato de as pessoas (a "gente") a que Lula se referia serem o seu então ministro-chefe da Casa Civil - na verdade, um primeiro-ministro ad hoc -, o presidente nacional e o tesoureiro de seu partido tinha então toda a importância, a ponto de o presidente se sentir traído.

Mas, em 2006, surfando no prestígio popular garantido pelo sucesso de seus projetos sociais, Lula reelegeu-se presidente e, cheio de si, subestimando como de hábito o discernimento das pessoas, começou a, digamos, mudar de ideia sobre o mensalão.

Afinal, se estava tão bem na foto, por que posar de vítima?

Em novembro de 2009, já na pré-campanha eleitoral do ano seguinte, passou uma borracha nas declarações anteriores e proclamou diante das câmeras de televisão: "Foi uma tentativa de golpe no governo. Foi a maior armação já feita contra o governo".

Exatamente um ano depois, já comemorando a eleição da sucessora que havia escolhido a dedo, anunciou, onipotente, sua primeira proeza tão logo deixasse o governo: "Vou desmontar a farsa do mensalão".

Os fatos acabaram demonstrando que Lula não estava com essa bola toda. Provavelmente até hoje ele não entendeu direito como é que um colegiado de 11 ministros, dos quais 8 - esmagadora maioria - foram escolhidos por ele próprio e por sua sucessora, foi capaz de armar uma falseta dessas contra "nós".

Mas Lula nunca foi de dar bola para os fatos. Quando não gosta deles, simplesmente os descarta. Prefere criar suas próprias versões.

Uma dessas criativas versões, novidade no repertório do grande palanqueiro pela precisão quase científica que aparenta conter, foi revelada nessa entrevista televisiva que concedeu em Lisboa, durante sua estada em Portugal para as comemorações dos 40 anos da Revolução dos Cravos. E bota criatividade nisso: "O mensalão teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica". Quer dizer: a Suprema Corte de Justiça do País tornou-se politicamente cúmplice da "maior armação já feita contra o governo".

A entrevistadora da TV portuguesa estranhou a esdrúxula divisão, mas o ilustre personagem não hesitou em, novamente, sacrificar a lógica e a coerência em benefício de sua cruzada contra o Mal. E encerrou o assunto: "O que eu acho é que não houve mensalão".

Pelo menos ele está "achando" - não tem a categórica certeza que demonstrou quando garantiu, na prematura apoteose do pré-sal, que o Brasil se tornara "autossuficiente" em petróleo.

Outra pérola do pensamento lulista foi oferecida aos telespectadores quando a entrevistadora provocou o entrevistado sobre o fato de sua popularidade manter-se incólume enquanto a de sua sucessora despenca. Ato falho ou exacerbação do ego, Lula sentenciou: "O povo é mais esperto do que algumas pessoas imaginam".

De resto, o fato de, certamente julgando a partir de seu próprio exemplo, entender que a "esperteza" é uma grande virtude do povo brasileiro, Lula dá a exata medida dos valores éticos que cultiva, na hipótese generosa de que cultive algum.

Levá-lo a sério é cada vez mais difícil.