Estabilidade, maturidade e envelhecimento
O Executivo vai mal na gestão da saúde, da educação, da segurança pública, da mobilidade urbana, da execução de obras de infraestrutura, da energia, principalmente da energia, e tudo o mais que interessa aos normais cidadãos. Algo disso é culpa do PMDB? Não, todas essas questões, como outras duas dezenas de outras grandes áreas do governo, estão sob a administração do PT.
O governo vai mal na sua articulação com o Congresso, pratica um diálogo de surdos com líderes e presidentes dos partidos de sua aliança política, humilha e exige. É o PMDB que lidera essa relação? Não, são tarefas sob a administração do PT, sediado no Palácio do Planalto.
O governo vai mal nas relações internacionais, rompe fácil e unilateralmente quando contrariado, desdenha de atitudes profissionais da diplomacia mundial, adula ditadores ao sul e ao norte do Equador. É do PMDB a iniciativa? Não, é do PT, que comanda a política externa do Palácio do Planalto, onde se encontra o alter ego diplomático da presidente e do partido, deixando os profissionais numa situação subalterna.
O governo vai mal na economia, na relação com os empresários, não conseguiu um mínimo de empatia para um trabalho conjunto a favor do país. Desastre à revelia do PMDB. É o PT quem conduz a política econômica e as relações no mundo dos negócios.
Está claro quem domina o Executivo.
O PT não tinha o controle das decisões da justiça suprema até o ano passado, agora já as tem, com a transmutação promovida, por tentativas de erros e acertos para atingir suas metas, dos ocupantes das cadeiras da Corte Maior. O conceito de estabilidade institucional do PT, digamos assim, passou a ser compreendido pela maioria do Supremo Tribunal Federal. Esse poder demorou um pouco a ser sintonizado porque o grupo do partido indicado à forca reagiu, esperneou, foi para a rua, para o blog, para a imprensa, e o partido perdeu um pouco de tempo, já em recuperação.
Em um ano eleitoral por definição complexo, é o PT que tem o domínio da Justiça Eleitoral. Além de Antonio Dias Toffoli, o ministro do Supremo que vai presidir as eleições, e que já foi funcionário do partido, três outros ministros tiveram ligações fortes com o PT por causa de suas carreiras de advogados, situação esdrúxula já criticada como absurda pelo presidente do STF por causa dos "interesses entrecortados". O advogado, em tese, defende o cliente durante o dia, e vestirá a toga de ministro que o julgará à noite.
Está claro quem domina o Judiciário.
Por uma circunstância e acordo político, o PMDB tem a presidência da Câmara e do Senado neste momento, mas é o PT quem domina os partidos da maior base de apoio já formada no Congresso para dar sustentação ao seu governo. Faz ali o que quer preservando a marca do exercício de voluntarismo à deriva do Executivo nos seus interesses legislativos. Mas lhe será muito melhor se, conquistando a maioria das cadeiras nas duas Casas com o exercício do poder já conquistado, por intermédio da definição das disputas estaduais, o PT passar a ter por direito e segurança o que já tem hoje por aliança.
O partido não perde votações, a presidente veta o que lhe escapa na barganha do Congresso, e se dá ao luxo de manter-se distante, alheia, e com a ojeriza à política partidária em dia. A presidente age como guerrilheira nessa relação.
Ficou claro quem controla o Legislativo?
Os chamados movimentos sociais, ONGs e sindicatos afinados com o PT são seduzidos e abduzidos de suas missões, facilmente, pelos instrumentos de atração reservados ao partido no poder. No caso, nos poderes. A resistência se torna uma atitude mais que heroica, praticamente suicida.
Que nome tem isso? Hegemonia. Vigorosa. O PT já colocou em pé uma engenharia completa de poder.
As aparências do momento são só isso, aparências, água mole na pedra dura, propaganda negativa como peça do jogo político. O PT está por cima. Não é Eduardo Cunha o inimigo público que se pretende pintar nem o autor solitário dos males que afligem a humanidade. O PMDB está onde sempre esteve, buscando migalhas em redor do poder real. Os partidos que engrossam a aliança de governo ciscam também e tentam manter-se respirando.
Ainda que parcialmente, mas por enquanto fora desse domínio, está a mídia, apesar das investidas de controle que o partido hegemônico não se cansa de tentar.
O PT atingiu o ápice, o poder amplo, a maturidade. A questão em discussões mais teóricas da academia é se, assim, já deu o partido um passo definitivo para virar história. É como se, ao estabilizar-se nos três poderes, desse por concluído seu projeto, envelhecesse.
Nada há contra nada disso como exposto, essa é a política brasileira. Mas não se deve crer, nem fazer crer, que o eleitorado do campo de observação seja de uma tolice amazônica.
Em Brasília, bastam as nuvens escurecerem para faltar energia. Caindo a chuva, então, é apagão na certa. Com dois raios, o que vinha voltando desaparece de vez. Agora, porém, surgem fenômenos novos.
As principais avenidas da cidade têm ficado no breu mesmo em dias secos. Os bairros têm recebido avisos (incomuns) de interrupção da energia "na sua unidade consumidora" para "construções, reformas e outros serviços na rede de distribuição". No caso em tela, das 9h às 15h de uma plena quarta-feira.
Aviso que tem todos os ingredientes para ser chamado de racionamento.
Eduardo Campos, candidato do PSB à Presidência, está conquistando os auditórios onde se apresenta pela excelência do discurso de oposição que vem construindo: "Linear, inteligível, contemporâneo", qualificam. Na Firjan, chamou a atenção dos empresários a ênfase ao caos energético do Brasil, área onde, ressaltou, a sua adversária presidente Dilma mandou e desmandou nos últimos 12 anos. Na Associação Comercial, em São Paulo, impressionou pelo conteúdo e, sobretudo, pelo modelo: foi moderado em particular e muito duro na conferência em público. Uma escola diferente de sua adversária do PT, anotou-se.
Fonte: Valor Econômico