quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Opinião do dia – Antonio Gramsci

O processo de formação de uma determinada vontade coletiva, para um determinado fim político, é representado não através de investigações e classificações pedantes de princípios e critérios de um método de ação, mas como qualidades, traços característicos, deveres, necessidades de uma pessoa concreta, o que põe em movimento a fantasia artística de quem se quer convencer e dá uma forma mais concreta às paixões políticas.
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Antonio Gramsci (29/1/1891-27/4/1937), Cadernos do Cárcere, v. 3, p.13. Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2007.

PT enquadra bancada e pede que Cunha não seja ‘prejulgado’

Após parecer por impeachment, PT decide que não irá 'prejulgar' Cunha

Vera Rosa e Ricardo Galhardo - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - No momento em que a ameaça de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff volta a ganhar força, a cúpula do PT vai enquadrar os deputados do partido no Conselho de Ética, recomendando que não haja "prejulgamento" do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). A posição será referendada hoje pelo Diretório Nacional do PT, em reunião na qual o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrará forte reação dos petistas ao que ele chama de "ação orquestrada" para destruir o partido e o governo.

Diante do agravamento da crise, o PT quer deixar claro que a palavra final sobre como proceder com Cunha será da direção, e não da bancada. Sob a pior turbulência de seus 35 anos, e assistindo ao desgaste da relação entre Dilma e Lula, o partido também tentará adotar hoje um discurso de unidade, mas o racha interno é evidente.

Embora seis correntes petistas preguem a cassação do mandato de Cunha, a estratégia combinada com o Palácio do Planalto é ganhar tempo. Suspeito de manter contas secretas na Suíça com dinheiro desviado da Petrobrás, o presidente da Câmara conseguiu retardar o processo contra ele no Conselho de Ética e pode ser julgado somente em 2016 por seus pares.

Cabe a Cunha decidir se dá ou não sequência ao impeachment contra Dilma, mas ele já tem um "álibi": a assessoria técnica da Câmara emitiu parecer sugerindo a aceitação do requerimento apresentado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal, que pede o afastamento da presidente. Com esse novo cenário, a cúpula do PT e o governo reforçaram o aviso aos deputados da bancada para que não o provoquem.

Nos bastidores, ministros avaliam que Cunha pode até mesmo ser obrigado pelo Supremo Tribunal Federal a deixar o comando da Câmara, antes mesmo da decisão sobre o seu futuro. Em conversas reservadas, aliados do deputado contaram que ele já ameaçou aceitar o pedido de impeachment de Dilma, caso o Supremo tente tirá-lo do cargo.

'Banho-maria'. A ordem para não cutucar Cunha e adotar a tática do "banho maria" divide o PT. Até agora, 32 dos 64 deputados do PT assinaram representação encabeçada pelo PSOL e pela Rede, solicitando a cassação do presidente da Câmara. Além disso, a corrente Mensagem ao Partido, grupo do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, apresentará hoje um documento cobrando respaldo do PT à ação contra Cunha.

"Os três deputados do PT no Conselho de Ética devem se pronunciar de forma unitária, mas não vamos nos manifestar previamente a respeito de uma questão sobre a qual Eduardo Cunha nem sequer se defendeu ainda", disse o presidente do PT, Rui Falcão, endossando opinião já manifestada por Lula. "Como vamos julgar quem ainda nem é réu no Supremo? Está certo que não dão esse tratamento para nós, que somos sempre culpados até prova em contrário, mas não faremos isso."
Falcão garantiu ontem, na reunião da Executiva Nacional petista, que o partido não está negociando com Cunha. "Quem tem acordo com ele é a oposição, que quer dar um golpe."

Questionado se não temia que Cunha desse o pontapé inicial no impeachment, o presidente do PT disse não haver base jurídica e legal para o afastamento de Dilma. "Isso é mais um factoide que a oposição quer criar, precipitando uma crise política na linha do 'quanto pior, melhor'", reagiu.
Para o secretário de Comunicação do PT, Alberto Cantalice, o partido terá de acompanhar o caso com cautela. "Não podemos fazer prejulgamento do presidente da Câmara", disse ele. "Mas se até a direita pede a saída dele, como o PT vai ficar atrás?", questionou o secretário de Formação Política, Carlos Henrique Árabe.

Após perder 11% dos 619 prefeitos que elegeu em 2012, no rastro dos escândalos de corrupção, o PT também pedirá que todos os candidatos nas disputas de 2016 defendam o partido, Dilma e Lula nas campanhas."Os três deputados do PT no Conselho de Ética devem se pronunciar de forma unitária, mas não vamos nos manifestar previamente a respeito de uma questão sobre a qual Eduardo Cunha nem sequer se defendeu ainda (...) Como vamos julgar quem ainda nem é réu no Supremo?" Rui Falcão, Presidente nacional do PT

Receita pede devassa sobre filho de Lula

• Órgão sugere quebra de sigilo fiscal e bancário de empresas de Luis Claudio, que já são alvo da PF

Jailton de Carvalho - O Globo

-BRASÍLIA- Depois de ter suas empresas vasculhadas pela Polícia Federal na Operação Zelotes, Luis Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também pode virar alvo de mais um órgão do governo. A Receita Federal enviou à Justiça Federal um relatório em que sugere a quebra de sigilo fiscal e bancário de empresas de Luis Claudio. O Ministério Público ainda não se pronunciou sobre o pedido.

O relatório da Receita pede a quebra de sigilo de 21 empresas e 28 pessoas, no período de 2008 a 2015. O caso foi revelado pelos jornais “O Estado de S. Paulo” e “Folha de S.Paulo”. Entre os alvos da quebra de sigilo estão a LFT Marketing Esportivo e a Touchdown Promoção de Eventos Esportivos, de Luis Claudio. De acordo com o relatório da PF no inquérito da Operação Zelotes, a LFT recebeu cerca de R$ 2,4 milhões da empresa de fachada Marcondes & Mautoni Empreendimentos. Apenas em 2014 foram R$ 1,5 milhão. A Marcondes & Matouni é acusada de intermediar pagamento de propinas para edição de medidas provisórias de interesse de empresas fabricantes de veículos.

“Tal constatação [...] aduz ao questionamento sobre que tipo de serviço foi prestado pela LFT à Marconi & Mautoni que motivou pagamento de tão grande quantia”, diz o relatório da Receita.

Auditores miram em ex-ministro
A Receita também incluiu na lista enviada à Justiça um restaurante da filha do ex-ministro Gilberto Carvalho, que foi chefe de gabinete de Lula. Os auditores querem que as contas de Gilberto e de parentes dele sejam investigadas.

O MPF pediu a busca e apreensão nas empresas do filho de Lula por achar a movimentação financeira estranha. A juíza Célia Fernandes, da 10ª Vara Federal de Brasília, concordou com a suspeita levantada pelo MPF. “Tem razão o MPF ao afirmar ser muito suspeito uma empresa de marketing esportivo receba valor tão expressivo de uma empresa especializada em manter contratos com a administração pública (Marcondes & Mautoni)”.

Além da LFT, foram autorizadas buscas da PF nas empresas Touchdown Promoção de Eventos e Silva Cassaro Corretora de Seguros. Esta última também têm o filho de Lula como sócio.

Em nota divulgada ontem, o advogado de Luis Claudio, Cristiano Zanin Martins, disse que irá protocolar hoje, junto ao Tribunal Regional Federal de Brasília, medida judicial questionando “manifestas ilegalidades” na decisão que autorizou a busca e apreensão ocorrida nas empresas. “O fundamento usado pela juíza para autorizar a medida extrema é precário e inconsistente, apenas repetindo uma especulação do Ministério Público Federal”.

No caso de Gilberto Carvalho, a investigação levantou a suspeita de que ele teria agido em “conluio” com os lobistas para a edição das medidas provisórias questionadas. Nas anotações do lobista Alexandre Paes dos Santos, o APS, preso segunda-feira pela PF, há o registro da existência de uma reunião com Gilberto. Consta ainda nos autos um e-mail enviado por Mauro Marcondes Machado, da Marcondes & Matouni, pedindo ajuda ao então chefe de gabinete de Lula para que uma carta da Scania fosse entregue ao então presidente. Carvalho negou envolvimento em irregularidades para a edição das MPs.

Fernando César Mesquita, ex-diretor do Senado, acusado de receber propina para defender interesses de lobistas no Congresso, divulgou texto negando envolvimento em irregularidades e dizendo que é amigo de APS há 30 anos.

Justiça manda Dilma entregar documentos sobre medidas provisórias

• Presidente terá de abrir inclusive agendas de reuniões no Palácio do Planalto; determinação é da juíza Célia Regina Ody Bernardes, da Operação Zelotes, que investiga suposto esquema de compra de normas editadas e aprovadas nos governos Lula e Dilma revelado numa série de reportagens do Estado

Por Andreza Matais e Fabio Fabrini e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff terá que encaminhar à Justiça Federal cópia de todos os documentos produzidos pelo Palácio do Planalto que envolvam a discussão das medidas provisórias 471/2009 e 627/2013, incluindo agendas de reuniões que trataram do tema. A determinação partiu da juíza Célia Regina Ody Bernardes, responsável pela Operação Zelotes, que investiga suposto esquema de compra de normas editadas e aprovadas nos governos Lula e Dilmarevelado numa série de reportagens do Estado.

Além de Dilma, a juíza também solicitou informações aos presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), onde as MPs tramitaram e foram aprovadas. E, ainda, para os ministros da Fazenda, Joaquim Levy; da Casa Civil, Jaques Wagner; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro Neto, e da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera. As duas normas que beneficiaram a indústria automotiva prorrogando isenção fiscal foram gestadas nessas pastas.

Os pedidos partiram do Ministério Público Federal que investiga ao lado da Receita Federal e da Polícia Federal esquema de corrupção envolvendo as MPs. A MP 471 foi editada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aprovada pelo Congresso sem alterações, o que é raro. A juíza quer saber todos os detalhes da tramitação. Segundo os investigadores, há muitas informações que levam a conclusão de que a edição e aprovação dessa norma envolveu pagamento de propina a agentes públicos.

A MP 627 foi editada pela presidente Dilma Rousseff. Os investigadores suspeitam que Luís Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, pode ter recebido comissão por essa MP. O Estado revelou que a LFT Marketing Esportivo, empresa da qual é sócio, recebeu R$ 2,4 milhões da Mautoni e Marcondes, empresa de lobby contratada por montadoras para viabilizar essa MP. As investigações já comprovaram pagamento de R$ 1,5 milhão. Luís Claudio diz que o valor foi pro serviços prestados na área de esporte.

O Palácio do Planalto tem defendido a edição das MPs. No início de outubro, a Casa Civil da Presidência da República informou aoEstado que a MP 471 foi assinada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva “sem alterações de mérito, inclusive quanto aos prazos e aos porcentuais”. Em nota, a pasta explicou que o texto foi recebido na Casa Civil em 19 de novembro de 2009 e “já assinado” no dia seguinte. “O texto foi debatido no Congresso Nacional por cerca de 4 meses e convertido na lei 12.218/2010″, afirmou.

Com contratos milionários, filho de Lula mora de favor em imóvel

Bela Megale, Graciliano Rocha – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Empresário de marketing esportivo com contratos milionários, Luis Cláudio Lula da Silva mora, sem pagar aluguel, em um apartamento nos Jardins, em São Paulo, que pertence a amigos de seu pai, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Luis Cláudio é dono das empresas LFT Marketing Esportivo e Touchdown –alvos de busca e apreensão da Polícia Federal na segunda (28).

Ele e a mulher, Fatima Cassaro, vivem há três anos em um apartamento de 158 m², na alameda Jaú, nos Jardins, que pertence à Mito Participações Ltda, empresa que tem como cotistas a esposa e as filhas do advogado Roberto Teixeira –amigo do ex-presidente e padrinho de batismo de Luis Cláudio.

Construído nos anos 1970, o edifício Cristal não tem salão de festas, piscina ou academia e cada morador conta com uma vaga na garagem.

O apartamento do 6º andar tem três quartos e uma sala ampla (45 m²). Por causa da localização privilegiada, imóveis idênticos no mesmo prédio foram vendidos recentemente por R$ 1,2 milhão.

Segundo moradores, o aluguel gira em torno de R$ 5 mil mensais. Cristiano Martins, advogado de Luis Cláudio e genro de Teixeira, disse à Folha que o filho de Lula tem um "acordo verbal" com as donas do local para que não pague aluguel e apenas se encarregue das despesas do imóvel.

O compadre de Lula esteve envolvido em histórias controversas. Teixeira era o dono da casa em São Bernardo na qual o ex-presidente morou também sem pagar aluguel por quase oito anos.

Em 1997, ele foi citado em um esquema de desvio de recursos de prefeituras do PT.

Em 2006, quando era advogado da VarigLog, Teixeira foi suspeito de usar a amizade com o então presidente para intermediar a venda da Varig à Gol -um negócio que precisava do aval do governo. Teixeira nega as acusações.

Ex-preparador físico de times como Palmeiras e Corinthians, hoje Luis Cláudio investe em uma liga de futebol americano no Brasil. Essa é uma das justificativas para não pagar o aluguel. "Hoje ele investe bastante na modalidade. Tem o patrocínio mas tem o investimento dele", explica o advogado Martins.

A LFT Marketing Esportivo recebeu R$ 2,4 milhões de uma firma de lobistas suspeita de pagar propina para aprovar Medida Provisória que beneficiou montadoras.

O pagamento levou o MPF para pedir a busca no escritório de Luis Cláudio, ação que Martins classificou de "despropósito" e busca anular.

Ação entre amigos
Pelos registros de cartório, a Mito Participações comprou o apartamento que empresta ao filho de Lula, em dezembro de 2011, por R$ 500 mil.

O dono anterior era a Peabody Trade, offshore sediada nas Bahamas, paraíso fiscal no Caribe. Procurador da Peabody no país, o empresário uruguaio André Neumann disse que vendeu o imóvel a preços de mercado. Afirmou que que o apartamento foi adquirido por uma empresa e disse que não conhecia os futuros donos do imóvel.

Já Martins diz que o empresário é "conhecido" da família de Teixeira, mas fala que a aquisição do imóvel de Neumann foi "coincidência". Segundo ele, quem intermediou a transação foi uma corretora de imóveis.

Neumann é marido de Maria Beatriz Braga, empresária chamada de "rainha da catraca", dona empresas de ônibus em São Bernardo do Campo.

Além do transporte público, a família dela detém contratos com a prefeitura de Luiz Marinho (PT) por meio de uma construtora.

Na presença de Lula, Diretório Nacional PT fará hoje desagravo a Luis Claudio

- O Globo

-BRASÍLIA e SÃO PAULO - O Diretório Nacional do PT fará uma defesa de Lula em reunião hoje, em Brasília, em resposta à ação da PF em empresas de Luís Cláudio Lula da Silva. O ex-presidente também vai discursar na abertura do encontro. A avaliação, no PT, é que a ofensiva contra Luis Claudio tem como objetivo criminalizar o partido e minar a candidatura de Lula à Presidência em 2018.

— O PT considera uma manipulação, uma perseguição inominável a um de seus filhos. Vamos seguramente mencionar no documento de conjuntura essa agressão, por parte de setores da mídia, da oposição, do Ministério Público, da Polícia Federal e do Judiciário. Há uma campanha direcionada para atingir Lula, PT e Dilma — disse o presidente do PT, Rui Falcão.

Para o partido, instituições, como Judiciário, MP e PF devem seguir ritos, o que não estaria ocorrendo em relação ao PT.

O partido também defenderá na reunião do Diretório Nacional mudanças na política econômica, sem atacar diretamente o ministro Joaquim Levy (Fazenda). O PT pedirá que o ônus do ajuste fiscal seja dividido com os mais ricos. Para os petistas, quem está pagando a conta são os trabalhadores.

— Não vamos personificar em ninguém, não queremos fulanizar as coisas — disse Falcão.

PT é fratricida e se equivoca na economia, afirma PMDB

PMDB ataca governo em novo manifesto partidário

Paulo Gama – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O programa de governo que o PMDB apresentará no encontro da fundação do partido faz o mais duro ataque recente ao PT, culpa a "equivocada" política econômica de Dilma Rousseff por "todos problemas e dificuldades atuais" e sustenta que, ao contrário do que prega o Planalto, a crise "tem, sim, raízes ou causas internas".

O documento ao qual a Folha teve acesso é uma versão preliminar e ampliada, portanto sujeita a alterações, da peça que começa a ser discutida entre dirigentes do partido nesta quinta-feira (29). O manifesto será apresentado num congresso da Fundação Ulysses Guimarães, centro de estudos vinculado ao partido, em 17 de novembro.

O programa, no entanto, passou pelas mãos dos principais caciques peemedebistas. Contou também com a participação de economistas ligados ao partido, como Delfim Netto –um dos principais conselheiros do vice-presidente Michel Temer na área econômica.

Para o PMDB, o governo Dilma –do qual também faz parte– partiu de um "diagnóstico errado" na área econômica. "Não se compreendeu que a responsabilidade fiscal, embora condição necessária à estabilidade da economia, não se afigura motor do desenvolvimento econômico."

Além de atacar o "equivocado diagnóstico" de que a deterioração da economia se deve ao quadro internacional, o partido diz que o ajuste fiscal, "por si só", não permitirá a criação das condições necessárias para que o país "deslanche para uma nova fase de crescimento e desenvolvimento duradouro e sustentado".

"Nesse contexto, portanto, é que se percebe quão equivocada foi a política econômica governamental."

Aliado do PT desde o primeiro mandato de Lula, o PMDB diz que o partido de Dilma trava uma "luta política fratricida" e busca sempre a diminuição de seu papel e de sua importância.

"Em função disso, é preciso que o PMDB passe a trilhar caminhos próprios, apartando-se, com elegância, do PT. O partido não pode estar atrelado aos insucessos do governo, ocasionados por decisões que, além de não terem sido suas, foram equivocadas."

Em um momento de autocrítica, a sigla diz que não tem "bandeira, discurso e identidade exclusivamente próprios" e, por isso, tira "pouco proveito" de ter o maior número de vereadores, deputados estaduais, prefeitos, governadores e senadores.

Com os seus principais quadros investigados na Lava Jato, o partido não faz menção à operação. Defende apenas uma revisão da legislação sobre corrupção.

Oposição
O documento inclui críticas também para os partidos que fazem oposição ao governo. O PMDB afirma que eles cometeram um "erro de estratégia", porque, "em lugar de 'vender' a si própria, suas ideias, suas bandeiras, seu programa, optou por fazer o enfrentamento político no campo do adversário".

Segundo o manifesto, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato derrotado por Dilma no ano passado, recorreu a "acusações de baixo calão" e fez "uma campanha pouco propositiva". Para o partido, "em lugar de centrá-la no eleitor e em seus anseios, deixou-a muito focada no discurso da situação".

Na avaliação do documento, o resultado foi a apatia do eleitorado: "Foram esses, exatamente, os 35 milhões de eleitores que se abstiveram e que fizeram toda a diferença no resultado das eleições.

Lula reage hoje em discurso a acusações contra familiares

Por Andrea Jubé - Valor Econômico

BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva abre hoje a reunião do Diretório Nacional do PT, em Brasília, com um discurso duro, em que responderá às acusações de desvios contra seus familiares e amigos próximos. Ontem o presidente do PT, Rui Falcão, disse que existe uma "campanha direcionada" para atingir Lula, o partido e a presidente Dilma Rousseff por parte de setores da mídia, da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário. "É nítido isso", afirmou.

A nova etapa da Operação Zelotes, que investiga um esquema de corrupção no Conselho de Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), vinculado ao Ministério da Fazenda, atingiu a empresa LFT Marketing Esportivo, de Luís Cláudio Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente. Uma de suas noras - sem especificar qual - também foi implicada em investigação envolvendo o empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente. O ex-ministro Gilberto Carvalho, que foi chefe de gabinete de Lula - e é um de seus amigos mais próximos - também foi chamado a prestar esclarecimentos.

Para Falcão, a PF mira um "peixinho", já que a Zelotes investiga esquemas bilionários de sonegação fiscal e a empresa do filho de Lula seria pequena. "Tem um monte de tubarões e correm atrás de um peixinho?", provocou. A LFT teria recebido R$ 2,4 milhões de negócios com um lobista, investigado pela suposta compra de uma medida provisória. Falcão afirma que Lula sofre perseguição política. "Não consideramos que uma perseguição inominável e inexplicável a um de seus filhos (de Lula) suscite desagravo, mas vamos mencionar no documento (final do diretório) essa agressão", afirmou.

O diretório nacional aprovará um documento em defesa de Lula e seu legado. O discurso de Lula será aberto à imprensa - o que não costuma ocorrer - e transmitido ao vivo pela internet. A reunião será ampliada, com a presença dos governadores da sigla, ministros, senadores e deputados federais.

Na área econômica, o PT reforçará as cobranças por mudanças na política econômica, contra o ajuste fiscal. Mas assim como nas resoluções anteriores, o diretório nacional deverá preservar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, alvo das críticas do partido. "A política econômica precisa de mudanças, mas não vamos personificar em ninguém", disse Falcão. Apesar das críticas enfáticas de Lula e de lideranças do PT a Levy, a cúpula petista preserva o nome do ministro dos documentos de conjuntura.

O diretório também vai aprovar um documento sobre as eleições municipais. Falcão disse que a prioridade será a "defesa do PT". Para isso, a sigla lançará o maior número de candidatos a prefeitos e vereadores para ocupar espaços nos meios de comunicação, a fim de multiplicarem os discursos defendendo o partido. "Passado um ano das eleições presidenciais, a oposição - que não soube ganhar e agora não sabe perder - insiste no golpe", disse Falcão.

Ipsos prevê dificuldade para Dilma fazer sucessor

Por Fernando Taquari – Valor Econômico

SÃO PAULO - A aprovação do governo Dilma Rousseff voltará a subir e atingirá a taxa de 30% em 2018. O aumento da popularidade da gestão petista, no entanto, não deve ser suficiente para fazer o sucessor na próxima eleição, mesmo que o candidato seja o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A análise foi feita pelo instituto Ipsos Public Affairs, que ontem divulgou uma retrospectiva dos últimos 10 anos da pesquisa Pulso Brasil, que acompanha as tendências político-econômicas e sociais do país.

O diretor-gerente do Ipsos, Dorival Mata-Machado, levou em conta as projeções de melhora nos indicadores econômicos para os próximos anos para apostar que o governo deve recuperar parte da popularidade. Com 30% de aprovação, afirmou Machado, as chances de fazer o sucessor são de 3%. "O cenário não muda com Lula. Até porque ele não vai romper com o PT ou Dilma. Sua imagem continuará associada aos dois".

Pelo levantamento realizado pelo instituto em setembro, com 1,2 mil pessoas, a administração da presidente é aprovada por 8% da população. Outros 82% rejeitam o governo. "A volta de velhos fantasmas, como inflação e desemprego, ajuda a explicar a baixa aprovação", disse.

A pesquisa mostrou que de 2014 para cá cresceu de 25% para 36% a percepção dos que consideram as questões econômicas como as mais urgentes a serem resolvidas. A corrupção também subiu de 5% para 14%, enquanto que temas sociais caíram de 68% para 48%.

Lobista preso fez ‘contato’ com Lula antes de edição de medida provisória

• Relatório da Operação Zelotes diz que Mauro Marcondes, acusado de "comprar" MPs, tinha relação de 'proximidade' com o petista

Por Fábio Fabrini e Andreza Matais e Julia Affonso - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - BRASÍLIA - Documentos apreendidos na Operação Zelotes indicam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve contato com o lobista Mauro Marcondes Machado em agosto de 2013, período em que ele negociava a medida provisória 627, sob suspeita de ter sido “comprada”. A MP foi editada em novembro do mesmo ano pela presidente Dilma Rousseff e favoreceu clientes do lobista. Relatório da investigação, obtido pelo Estado, diz que Lula e Marcondes, preso na última segunda-feira, tinham relação de “proximidade”.

Num dos papeis recolhidos no escritório do lobista, cujo título é “Pendências Dr. Mauro Marcondes (16/08/2013)”, estão descritos compromissos a serem cumpridos por ele na negociação de interesses de seus clientes, entre eles montadoras de veículos. Um dos itens registrados é: “Colocar Dr. Mauro em contato com o Presidente Lula – Instituto Lula”.

Para a Inteligência da Receita Federal, que produziu análise sobre os documentos, as “anotações do lobista revelam a existência de proximidade com o ex-presidente Lula”, tendo em vista seu “planejamento de contato telefônico e pessoal” com o petista.

Lula não é investigado na Zelotes. Mas, em nova fase da operação, a Polícia Federal fez na última segunda-feira, 26, buscas no escritório de um dos filhos dele, Luís Cláudio Lula Silva. Luís Cláudio é investigado por, supostamente, receber recursos relacionados à edição da MP 627 por meio de uma de suas empresas, a LFT Marketing Esportivo. Os pagamentos foram feitos pela firma de Marcondes em 2014. Os repasses somaram R$ 1,5 milhão, o que o Ministério Público Federal considera “muito suspeito”.O filho de Lula sustenta que os valores se referem a serviços prestados para a empresa de Mauro Marcondes em sua área de atuação, o marketing esportivo.

A MP 627 – que trata de incentivos para grandes empresas, entre elas montadoras de veículos que contrataram o lobista – foi editada pela presidente Dilma Rousseff em 11 de novembro de 2013. Entre as “pendências” de Mauro Marcondes em agosto daquele ano, constam ainda “ligar para Gilberto Carvalho”, na época ministro da Secretaria-Geral da Presidência, e uma reunião com o então ministro do Desenvolvimento e hoje governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), para tratar de benefícios para a indústria de pneus.

Pimentel é investigado em outra operação, a Acrônimo, por suspeita de “vender” portarias do Ministério do Desenvolvimento para a CAOA, cliente de Marcondes.

A Inteligência da Receita destaca em seu relatório que o lobista tinha “trânsito facilitado com outros agentes públicos, especialmente do PT”, o que pode ser depreendido de outra lista de agendamento de reuniões, de 17 de abril de 2013. Entre os citados, estão o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, o ex-ministro Antonio Palocci e o ex-senador e atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Todos são petistas.

Em 2012, anos de eleições municipais, a empresa de Mautoni contribuiu com o Comitê Financeiro do PT. O valor foi simbólico, ante aos recursos vultosos movimentados pela firma: R$ 25 mil.

Procurado pelo Estado, o Instituto Lula alegou desconhecer “o relatório e o documento citados”. “Para avaliarmos as respostas às perguntas (da reportagem), necessitamos da documentação original citada”, explicou, em nota, acrescentando que a defesa de Luís Cláudio também não tem ciência do material.

A Marcondes e Mautoni, procurada pelo Estado desde a última segunda-feira, não se pronunciou sobre os dados da investigação. A defesa de Fernando Pimentel afirma que não comenta o conteúdo da Operação Acrônimo.

Em nota, Mercadante informou que nunca teve relação “pessoal e específica” com os sócios da Mautoni. “Se ele (Mauro Marcondes) me encontrou alguma vez, foi na condição de dirigente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos)”, afirmou. O ministro acrescentou que, em 2009 e 2013, não participou da elaboração das medidas provisórias investigadas.

O Estado não conseguiu contato com Antonio Palocci e Luiz Marinho nesta quarta-feira.

Para oposição, Cardozo é o alvo do partido

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

A oposição interpretou ontem as críticas do presidente do PT, Rui Falcão, à Polícia Federal como uma tentativa de atingir o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e desestabilizar as investigações. "Jogar tudo nas costas da Polícia Federal é alimentar a briga interna do PT contra o ministro da Justiça. O alvo dessa declaração é ele. É como se o Cardozo pudesse frustrar uma diligência determinada pela Justiça", diz o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP).

Para o deputado Mendonça Filho (PE), líder do DEM na Câmara, "na cabeça do Rui Falcão o ideal é que a Polícia Federal seja subordinada ao PT. Desde que ela começou a desvendar os escândalos dos governos petistas, o PT adotou a tese de desmoralizar a PF".

Projeto de repatriação de dinheiro que anistiava até caixa 2 é adiado

• Oposição derrota o governo e comemora rasgando cópias da proposta

Simone Iglesias - O Globo

BRASÍLIA - Foi retirado da pauta na Câmara projeto do ajuste fiscal do governo que, em meio às investigações da Lava-Jato, foi alterado por deputados para anistiar quem fizer caixa dois ou cometer crime de associação criminosa, permitindo que se possa repatriar dinheiro não declarado. A oposição rasgou o projeto no plenário. -BRASÍLIA- O controverso projeto que permitiria que dinheiro enviado ao exterior resultante de crimes, como caixa dois e lavagem de dinheiro, retornasse legalmente ao Brasil e anistiava os criminosos foi retirado ontem da pauta de votação da Câmara. O projeto faz parte do ajuste fiscal do governo, mas foi modificado pelos deputados. Diante da polêmica que passou a cercar a proposta, a oposição conseguiu apoio da base governista para retirar a matéria da pauta.

A polêmica foi ampliada pelo fato de a Operação Lava-Jato ter revelado a existência de contas de políticos e de dirigentes da Petrobras no exterior, com recursos provenientes de crimes.

Na sessão, ontem, a maioria dos deputados que discursou se mostrou contra a matéria. Um dos poucos a defender a ideia, o líder do governo na Câmara, José Guimarães, disse que a proposta não tinha nada de imoral.

O requerimento de adiamento, apresentado pelo PSDB, acabou aprovado por 193 votos contra 175 e a tendência é que o projeto seja novamente analisado na próxima semana — provavelmente com alterações. Após a retirada de pauta, alguns deputados da oposição comemoraram rasgando cópias da proposta.

Autor do requerimento, Daniel Coelho (PSDB-PE) disse que o governo repassa argumentos falsos para aprovar a matéria:

— Se o dinheiro está no exterior e não é obrigada a comprovação de origem, quem me garante que o recurso não é proveniente do tráfico de drogas, de armas, de pessoas ou de qualquer outra forma de crime, como a corrupção que tem sido praticada neste país?

O projeto de repatriação foi enviado pelo governo ao Legislativo e permitiria a legalização de dinheiro remetido para o exterior, desde que fosse decorrente de sonegação fiscal, evasão de divisas ou lavagem de dinheiro relacionado ao envio desses valores. O objetivo era arrecadar R$ 11 bilhões com o pagamento de Imposto de Renda e multar quem obteve o dinheiro legalmente no Brasil e o escondeu da Receita.

No entanto, o relator, deputado Manoel Júnior (PMDB-PB), fez uma série de alterações, incluindo recursos decorrentes de qualquer lavagem de dinheiro, caixa dois, descaminho, falsidade ideológica e formação de quadrilha relacionada diretamente a esses crimes. Acrescentou anistia aos envolvidos. Ou seja, as informações não poderiam ser usadas nas esferas criminal, administrativa, tributária e cambial para fins de processo e investigação.

— Isso é uma anistia ampla, geral e irrestrita. É uma rota de fuga absoluta de qualquer punição — reagiu o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ). 

Governo negocia com relator 
 O governo tentou negociar com o relator mudanças no relatório, mas só houve entendimento após o adiamento. Manoel Júnior se comprometeu a retirar do rol de crimes passíveis à adesão ao programa dinheiro proveniente de caixa dois, de associação criminosa e o uso de documentos falsos. Apesar do acordo, o relator incluiu, por exemplo, a permissão para retornar ao Brasil material genético para reprodução animal produzido a partir de dinheiro remetido ao exterior, joias, obras de arte e softwares e patentes, difíceis de estimar o valor.

Os tucanos entraram com o pedido como forma de obstruir a votação, mas não achavam que teriam resultado favorável. No entanto, dissidências na base aliada, lideradas por deputados do PT e do PCdoB, impediram o avanço da matéria. Além deles, houve dissidências no PMDB, PSD e PR. Somente o PROS votou integralmente com o governo e o PRB que teve um único deputado contrário. Dos 193 votos, 76 foram da base aliada.

BNDES vai antecipar R$ 30 bilhões de seus débitos com o Tesouro

• Dinheiro servirá para quitar pedaladas sem aumentar dívida pública

Por Martha Beck, Vivian Oswald e Gabriela Valente – O Globo

BRASÍLIA e LONDRES - O Tesouro Nacional negocia com o BNDES uma operação que vai abrir espaço para a quitação das pedaladas fiscais (atraso nos repasses de recursos para bancos públicos) sem impacto na dívida bruta. Segundo integrantes do governo, a ideia é que o banco antecipe o pagamento de R$ 30 bilhões do passivo decorrente dos sucessivos aportes de capital feitos pelo Tesouro na instituição nos últimos anos. O valor seria utilizado para abater a dívida bruta. Assim, quando a equipe econômica honrar as pedaladas, vai elevar o déficit fiscal, mas não o endividamento público.

— O acordo com o BNDES é um esforço fiscal adicional — explicou um integrante do Ministério da Fazenda.

O primeiro passo para essa operação foi dado na última sexta-feira, quando o Conselho Monetário Nacional (CMN) reduziu em R$ 30 bilhões o limite de empréstimos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do BNDES. Isso gerou uma sobra no orçamento do banco.

Dívida chega a R$ 500 bi
Assim, o BNDES poderá usar esse valor para quitar uma parte de sua dívida com o Tesouro, que soma cerca de R$ 500 bilhões. Isso entrará nas contas como uma receita financeira que pode ser usada para abater a dívida bruta, que hoje soma R$ 3,7 trilhões, ou 65,3% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de bens e serviços produzidos no país), e é o principal indicador de solvência observado pelo mercado e agências de risco.

Passivos com bancos
Assim, quando o governo quitar as pedaladas, estimadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em R$ 40 bilhões, vai piorar o resultado primário (diferença entre receitas e despesas, excluindo gastos com juros) mas não os indicadores da dívida. Somente com o BNDES, a dívida do Tesouro foi calculada pelo TCU em R$ 24 bilhões no início do ano. Se for corrigido até agora, o valor sobe para R$ 27 bilhões. Também há passivos com o Banco do Brasil e a Caixa. O BNDES tem uma sobra de caixa estimada em R$ 120 bilhões, mas resiste a usá-la para antecipar os pagamento à União, segundo fontes do governo.

Em Londres, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, confirmou que o banco pode devolver ao governo recursos emprestados pelo Tesouro. Ele admitiu estar em entendimentos finais com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mas preferiu não entrar em detalhes antes de a operação estar concluída.

— Eu não vou comentar porque a gente ainda está em entendimentos finais com o ministro. Eu somente comento quando tivermos tudo acertado. Nossa atitude tem sido a de ajudar o esforço fiscal brasileiro. O BNDES não tem se furtado a colaborar — disse Coutinho na capital britânica, onde participou do evento Amazon Day.

O presidente do BNDES destacou que, desde o começo do ano, o banco não demandou recursos do Tesouro:

— E, agora, quem sabe a gente até ajude no sentido contrário. Mas não vou comentar. Adotamos política operacional nova. Política para debêntures. Agenda construtiva ajuda o esforço fiscal. Nossa esperança é que o processo de ajuste fiscal seja acelerado para que a gente possa virar a página.

Ajuda à política monetária
O ex-secretário do Tesouro e economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, elogiou a operação com o BNDES. Segundo ele, além de reduzir o impacto sobre a dívida bruta, a medida traz outras vantagens: reduz a capacidade de empréstimo do banco, o que ajuda na política monetária e diminui os custos do Tesouro com subsídios futuros.

— Isso contribui para uma queda mais rápida dos juros no país. Dá para ver que há um potencial de ajuda dentro do BNDES — afirmou Kawall.

O rombo de quase R$ 50 bilhões nas contas do setor público de 2015, anunciado terça-feira, não surpreendeu o mercado, que já trabalha com a hipótese de o governo registrar um novo déficit em 2016.

— Por enquanto, o governo não tem a menor condição de realizar a meta de superávit de 0,7% prometida para 2016 — afirmou o especialista em contas públicas Mansueto Almeida.

— O governo mostrou o que já se sabia: que as receitas estão caindo demais. Ele já não consegue mais projetar o comportamento da arrecadação — disse Fábio Klein, da consultoria Tendências.
Ambos, no entanto, não veem grande problema no fato de as pedaladas fiscais não terem sido incluídas na conta do déficit de 2015:

— O mercado já faz essa conta mesmo sem que o governo coloque na meta — afirmou Klein.

Mais de 1 milhão perdem emprego com carteira e desocupação vai a 8,7%

Mais de 1 milhão de brasileiros perdem emprego com carteira e desocupação vai a 8,7%

• Desemprego medido pela Pnad Contínua atingiu o maior patamar da série histórica iniciada em 2012; no mesmo trimestre do ano passado, taxa estava em 6,9%

Idiana Tomazelli - O Estado de S. Paulo

A taxa de desocupação no Brasil ficou em 8,7% no trimestre encerrado em agosto de 2015, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo o IBGE, no mesmo trimestre do ano passado, a taxa de desemprego medida pela Pnad Contínua ficou em 6,9%. Nesse período, ou seja na comparação com o trimestre que vai de junho a agosto de 2014, a quantidade de empregados com carteira de trabalho assinada recuou em 1,1 milhão.
No trimestre móvel até maio deste ano, a taxa havia sido de 8,1%. A comparação do trimestre até agosto ante o trimestre até maio é feita para que não haja repetição das informações coletadas, já que a cada mês, segundo o IBGE, são visitados 33% dos domicílios da amostra.

Desempregados. O número de desempregados em todo o País aumentou 29,6% entre os meses de junho a agosto ante igual período do ano passado. Isso significa que 2,008 milhões de pessoas passaram a buscar uma vaga nesse período.

Com isso, o Brasil tinha, nos três meses até agosto, 8,804 milhões de desempregados. Trata-se do maior nível da série, iniciada em janeiro de 2012. O crescimento da população desocupada também foi recorde na pesquisa, que tem informações desde março de 2013 no confronto anual.

A maior procura por emprego é o principal combustível para o avanço da taxa de desocupação. A força de trabalho, que inclui as pessoas que têm emprego ou estão atrás de uma vaga, cresceu 2,2% no trimestre até agosto ante igual período de 2014. Ou seja, 2,197 milhões de pessoas ingressaram na população ativa.

Só que a geração de vagas foi insuficiente para acomodar esse contingente. No mesmo tipo de confronto, a população ocupada avançou 0,2%, isto é, foram abertos 189 mil novos postos de trabalho em todo o País. O restante ficou na fila de desemprego, contribuindo para a maior taxa de desocupação.

Renda. A renda média real do trabalhador foi de R$ 1.882,00 trimestre até agosto de 2015. O resultado representa alta de 1,0% em relação ao período de junho a agosto de 2014 e recuo de 1,1% ante os três meses até maio deste ano.

A massa de renda real habitual paga aos ocupados somou R$ 167,8 bilhões no trimestre até agosto de 2015, alta de 1,2% ante igual período do ano passado e recuo de 1,1% ante o trimestre até maio deste ano.

Desde janeiro de 2014, o IBGE passou a divulgar a taxa de desocupação em bases trimestrais para todo o território nacional. A nova pesquisa tem por objetivo substituir a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que abrange apenas seis regiões metropolitanas e será encerrada em fevereiro de 2016, e também a Pnad anual, que produz informações referentes somente ao mês de setembro de cada ano.

Roberto Freire - A lei vale para todos

- Diário do Poder

As novas denúncias envolvendo alguns de seus amigos mais próximos e até mesmo membros de sua família fazem com que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenha de se explicar aos brasileiros e, talvez, à Justiça. A mais recente investigação do Ministério Público e da Polícia Federal envolve a suposta compra de uma medida provisória editada em 2009, durante o segundo governo de Lula, para beneficiar montadoras de veículos. O caso é um desdobramento da Operação Zelotes, que apura um esquema de desvios e fraudes no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), ligado à Receita Federal, e retrata a que ponto chegou o desmantelo da corrupção nos tempos do lulopetismo.

Deflagrada no início da semana, a nova etapa da operação teve como um dos alvos o escritório de um dos filhos de Lula. Sua empresa de marketing esportivo é suspeita de ter recebido repasses de um grupo de lobistas que atuaram pela aprovação da medida provisória que prorrogou incentivos fiscais à indústria automobilística. Segundo as investigações, teria havido o pagamento de R$ 2,4 milhões à empresa do filho do ex-presidente em 2011, justamente o ano em que a MP entrou em vigor.

No mesmo inquérito, a Polícia Federal intimou Gilberto Carvalho, ex-chefe da Secretaria Geral da Presidência no governo Lula e um dos auxiliares mais próximos do chefão do PT, a prestar depoimento sobre o suposto esquema de compra de MPs. Ele foi citado por vários personagens envolvidos no escândalo e seu nome aparece na agenda de um dos lobistas presos. Também foi detido um ex-conselheiro do Carf, José Ricardo da Silva, suspeito de ter ligações com Erenice Guerra, que sucedeu Dilma Rousseff na chefia da Casa Civil e acabou deixando o cargo após denúncias de corrupção.

Além das suspeitas que recaem sobre seu filho, Lula se vê às voltas com o conteúdo explosivo da delação do lobista Fernando Baiano na Operação Lava Jato, que investiga o petrolão. De acordo um dos operadores da propina do esquema de corrupção que varreu a Petrobras, houve o pagamento de R$ 2 milhões para o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente, uma espécie de comissão pelo lobby feito junto a Lula em uma negociação para um contrato com a Petrobras. Ainda segundo Baiano, Bumlai o teria pressionado alegando que esse montante se destinava a quitar uma dívida imobiliária de uma das noras de Lula.

Basta acompanhar o noticiário para notar o quanto o ex-presidente, sua família e alguns de seus auxiliares e amigos mais próximos parecem enredados em uma teia de conexões ainda muito mal explicadas. Apesar da resistência de setores do governo e do PT, além do descontentamento do próprio Lula – que trabalha abertamente para destituir o ministro da Justiça, sob o argumento de que ele “perdeu o controle” da Polícia Federal –, as investigações vão prosseguir e podem complicar ainda mais a situação do líder petista.

Como se não bastasse ter sido o chefe de uma gestão que protagonizou o mensalão e deu início ao petrolão, perpetuado durante o governo Dilma, Lula deve explicações às autoridades e não poderá alegar, mais uma vez, que não sabia de nada do que acontecia à sua volta. Apesar do descalabro petista em 13 anos de governo, o Brasil tem instituições fortes, autônomas, atuantes, e ninguém é inimputável, intocável ou está acima das leis. Nem mesmo um ex-presidente, seus amigos ou familiares.

É certo que o PT não inventou a corrupção, mas a institucionalizou como nunca antes neste país ao tomar de assalto o Estado brasileiro. Nos tempos de Lula, os malfeitos e as malfeitorias foram elevados à máxima potência, alcançando níveis inimagináveis, como se não houvesse limite para a atuação de uma “sofisticada organização criminosa” – nas palavras do ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, durante o julgamento do mensalão. Pois agora, finalmente, parece ter chegado a hora de acertar as contas com a lei.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Dora Kramer - Mil faces de Lula

- O Estado de S. Paulo

Acuado, ex-presidente se faz de vítima e joga em Dilma a pecha de 'desleal' O ex-presidente Luiz Inácio da Silva é um bom ator. Bem melhor que político, conforme demonstrado pelo erro de avaliação na escolha de Dilma Rousseff para o papel de criatura que seria capaz de suceder-lhe e garantir, mediante o espetáculo da competência, permanência longa para o PT no poder.

No ofício da atuação é um personagem de mil caras. Uma para cada ocasião. Pode ser o fortão que a todos enfrenta porque com ele ninguém pode, como pode ser o fraquinho a quem a elite tenta permanentemente derrubar por sua origem e identificação com os oprimidos.

Entre os papéis que costuma desempenhar, o preferido para os momentos de dificuldade é o de vítima. Não por acaso nem de modo surpreendente faz agora essa performance, nesta hora em que as circunstâncias nunca lhe foram tão desfavoráveis: alvo de investigação do Ministério Público por tráfico de influência, pai do dono de empresas revistadas pela Polícia Federal, amigo de um empresário apontado por um "delator premiado" como receptor de propina destinada a cobrir despesas de uma de suas quatro noras.

Afora isso, as más notícias alcançam também o patrimônio político eleitoral de Lula, até pouco tempo atrás sua principal e mais forte cidadela. A última pesquisa da Confederação Nacional de Transportes (CNT) aponta e atesta a decadência. Confirma números anteriores segundo os quais Lula já não é um ativo eleitoral.

Hoje, numa eleição, perderia de lavada para o tucano Aécio Neves (32% a 21%) e em eventual disputa de segundo turno seria derrotado também por Geraldo Alckmin e José Serra, políticos do PSDB que em outros tempos derrotou. Para quem já foi considerado pelo adversário (Serra) em plena campanha como uma pessoa "acima do bem e do mal" a situação é periclitante, convenhamos.

Lula não tem capital para si nem para emprestar ao PT ou à presidente Dilma Rousseff. Nesta condição quase que extrema (ou próxima disso), o ex-presidente faz o que sabe: tenta jogar a culpa no alheio. E a eleita, desta vez, é a presidente Dilma Rousseff em quem seu criador tenta imprimir a pecha de "desleal" ao deixar que prosperem versões de que atribui a ela a responsabilidade sobre o avanço das investigações em direção a ele, família e amigos.

Oficialmente o Instituto Lula desmente. Muito cômodo. Extraoficialmente todos os jornais publicam a conveniente versão disseminada por "amigos" e "interlocutores" de que o ex-presidente se sente "traído" pela sucessora que, segundo ele, não foi capaz de interromper investigações que o atingissem e à sua família.

Transferir a culpa para Dilma é uma tentativa. De difícil execução, dada a dificuldade de se obter resultado, diante da posição extremamente difícil em que se encontra a presidente. Mas o problema maior para Lula é a credibilidade. Ele já não tem aquela da qual desfrutou. E esta, no presente, não conseguiu conquistar quem no futuro poderia ter junto de si.
Em suma, Lula procura se desvincular de Dilma, acusando a presidente de ser desleal pelo fato de não atuar para impedir investigações. Isso quer dizer que, por experiência própria, ele considera não apenas possível como factível a indevida interferência nos processos legais.

Com isso, confirma que em seu governo interferiu indevidamente. E, por linhas tortas, confessa que prevaricou. Indignado está pelo fato de outrem não prevaricar em seu nome para salvá-lo de evidências que o aproximam do confronto com a verdade.

Carlos Alberto Sardenberg - Custo Lula, custo Dilma

• Foi uma obra-prima de política econômica a tal nova matriz. Pelo avesso. Gerou recessão, inflação alta e juros na lua

- O Globo

Tudo somado e subtraído, a presidente Dilma conseguiu abrir um buraco de R$ 230 bilhões em apenas cinco anos. Seu governo saiu de um superávit de R$ 128 bilhões em 2011 para um déficit efetivo em torno de R$ 100 bilhões neste ano. Gastou todo o saldo e mais quase o dobro. E para quê?

Para driblar a crise internacional e turbinar o crescimento — dizem a presidente e seu ex-ministro Guido Mantega.

Crescimento?

Em 2011, quando se fez o superávit primário de 128 bi, o Produto Interno Bruto brasileiro cresceu razoáveis 3,9%. Nos três anos seguintes, quando supostamente estaria sendo turbinada pelo gasto e crédito públicos, a economia minguou: expansão média de 1,5%, a menor entre os países emergentes mais importantes. E desabou neste ano para uma recessão em torno de 3%, no momento em que se realiza o maior déficit público da história.

Apesar do baixo crescimento, a inflação rodou sempre acima dos 6% ao ano, contra uma meta de 4,5%, e isso com preços importantes, como gasolina e energia elétrica, controlados e mantidos lá em baixo, na marra. Reajustados esses preços, porque estavam quebrando a Petrobras e o setor elétrico, a inflação disparou para os 10% deste ano, um número que reflete melhor a realidade.

Finalmente, a taxa básica de juros, reduzida artificialmente para 7,25% em 2012, também para turbinar o crescimento, serviu apenas para liberar mais inflação. Aí, o Banco Central saiu atrás e puxou os juros para os atuais 14,25% que, embora muito elevados, não conseguem mais conter uma inflação perigosamente indexada.

A gente tem de reconhecer: foi uma obra-prima de política econômica a tal nova matriz. Pelo avesso. Gerou ao mesmo tempo recessão, inflação alta e juros na lua. E o déficit público de R$ 100 bi.

O governo está confessando um rombo de R$ 52 bi. Mas, para isso, conta com uma receita de R$ 11 bi com a venda de concessões de hidrelétricas — um negócio que depende de uma MP ainda a ser votada pelo Congresso, que não está nem um pouco animado. Sem isso, o déficit já passa dos R$ 60 bi — e ainda é preciso somar as pedaladas, os R$ 40 bi que o governo federal deve ao BNDES, Banco do Brasil e à Caixa. Assim, o buraco efetivo passa fácil dos R$ 100 bi.

Claro que a recessão derruba as receitas do governo e ajuda no déficit. Mas houve também muita incompetência.

O governo prometeu vender ativos, de imóveis a pedaços de estatais, e não conseguiu. Disse que faria dinheiro com a privatização de um elenco de rodovias, portos e aeroportos. Não saiu uma sequer até agora. (Sabe como é, tem que preparar a papelada, montar projetos, muita trabalheira...).

O governo contou com dinheiro que depende de aprovação do Congresso (CPMF e repatriação), mas não mostrou a menor capacidade em operar as votações, mesmo tendo distribuído ministérios e cargos em estatais.

É o mesmo tipo de incompetência que derrubou a Petrobras. Quando Lula era presidente da República e Dilma presidente do Conselho de Administração da estatal, a empresa se meteu em projetos megalomaníacos, da exploração de poços do pré-sal, a refinarias, navios, sondas e plataformas de exploração.

O caso das refinarias Abreu e Lima e Comperj já é um exemplo mundial de má gestão, sem contar a corrupção. Menos conhecida é a história das sondas. O governo estimulou a criação de uma empresa, a Sete Brasil, para construir 28 sondas no Brasil. A empresa, com dinheiro da Petrobras, já gastou mais de R$ 28 bilhões e não entregou uma sonda sequer. E pior: sabe-se agora que a Petrobras, dada sua capacidade de produção, não precisava desses equipamentos.

Lula e Dilma empurraram a Petrobras para essa loucura. E para quê?

A produção de óleo da estatal é hoje praticamente a mesma de 2009. Foi de 2,1 milhões de barris/dia para 2,2 milhões. Nisso e nas refinarias, inacabadas e precisando de sócios para concluir a metade das obras, a Petrobras gastou cerca de US$ 260 bi! E gerou uma dívida bruta que chega hoje a US$ 134 bilhões.

Isso é custo Lula mais custo Dilma, consequência de erros de avaliação, má gestão e projetos mal feitos. No balanço do ano passado, a estatal aplicou uma baixa contábil de R$ 31 bilhões nos orçamentos das refinarias Abreu e Lima e Comperj, por “problemas no planejamento dos projetos”. E anunciou o cancelamento das refinarias do Maranhão e Ceará, que não saíram do chão, mas cujos projetos custaram R$ 2,7 bilhões. Eram inviáveis, disse a empresa.

Só isso de explicação?

É, só isso.

A corrupção é avassaladora, mas capaz de perder para a ineficiência.

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Carlos Alberto Sardenberg é jornalista

Rogério Gentile - O papo furado do PT

- Folha de S. Paulo

O PT reagiu às investigações sobre o filho de Lula com os mesmos argumentos que usa sistematicamente desde o mensalão: é perseguição política, é preconceito da elite contra o retirante que ousou governar o Brasil, é o império do ódio, querem destruir o partido, temem que ele volte etc.

Mas quem assinou a decisão que autorizou a operação da Polícia Federal? Quem escreveu "tem razão o Ministério Público Federal ao afirmar ser muito suspeito uma empresa de marketing esportivo receber valor tão expressivo de uma empresa especializada em manter contatos com a administração pública"?

A culpada por tal "heresia" é uma juíza que, para azar do PT e o seu discurso da vitimização, tem afinidades ideológicas com a esquerda.

Célia Regina Ody Bernardes assinou em 2012 manifesto em favor da instalação da Comissão da Verdade, criada por Dilma Rousseff. No texto, a juíza defendeu, inclusive, a "determinação judicial de responsabilidades", a despeito da Lei da Anistia.

Em 2014, a juíza também apoiou decreto da presidente Dilma que regulamentou o funcionamento dos conselhos populares na administração pública, chamados de "bolivarianos" pela oposição. Para a magistrada, o decreto aprofundava "as práticas democráticas".

A juíza também subscreveu declaração pública rechaçando a "exploração política" da morte do cinegrafista Santiago de Andrade (atingido por black blocs em protesto no Rio), defendeu a desmilitarização das polícias e protestou contra projeto que previa a redução da maioridade penal –seu nome, neste último texto, aliás, aparece ao lado do de Rui Falcão, o presidente do PT.

É possível que a juíza esteja equivocada ao desconfiar das transações do filho do ex-presidente Lula, que tudo não passe de um grande engano e que ele seja o homem mais honesto da face da terra.

Só não dá para dizer que o PT é vítima de um complô da direita.

José Roberto de Toledo - O fisiologismo compensa

- O Estado de S. Paulo

No curto prazo, a reforma ministerial ajudou o governo mais do que atrapalhou. Custoso e atabalhoado, o toma lá dá cá produziu muitas manchetes negativas e sacrificou raros ministros tecnicamente qualificados de Dilma Rousseff. Mas, passadas algumas semanas, constata-se que a reforma cumpriu seu objetivo mais urgente: conseguiu votos necessários para prorrogar a sobrevida da presidente no poder. Também permitiu evitar derrotas catastróficas no Congresso. Nada mais, por enquanto.

Desde que a presidente mergulhou no é dando que se recebe com a banda mansa do PMDB, aumentou cinco pontos o governismo médio na Câmara. A barganha trocou sete ministérios peemedebistas por algumas dezenas de votos e reverteu a tendência de autoimolação do governo. Mas foi insuficiente para criar a expectativa de aprovar qualquer coisa além do trivial. A ressurreição da CPMF, se vier a acontecer, implicará aditivo ao preço do contrato.

Em agosto, quando Michel Temer deixou a coordenação política do governo, a taxa de governismo dos deputados peemedebistas medida pelo Basômetro era 70%. O gesto teatral do vice-presidente foi vendido como o começo do impeachment de Dilma. Porém, a taxa de votos pró-governo no PMDB aumentou para 75% em setembro e chegou a 79% em outubro. Mágica? Não, fisiologismo mesmo.

Dilma se aproximou do líder peemedebista na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), e negociou pessoalmente a redistribuição de cargos na Esplanada dos Ministérios. Ao mesmo tempo que Temer saiu de cena, Eduardo Cunha entrou no seu inferno astral.

O movimento de Dilma rachou a bancada do PMDB e implodiu o bloco parlamentar no qual Picciani dava as cartas. Foi uma represália executada por aliados de Cunha. Todavia, a reação enfraqueceu o PMDB e acabou favorecendo a presidente. Pela primeira vez nesta legislatura, o número de deputados que votam ao menos 90% das vezes seguindo orientação do governo ultrapassou o simbólico limite dos 171. Dilma mostrou que alcançara votos suficientes para barrar a abertura do processo de impeachment - por ora.

Nas 25 votações nominais na Câmara ocorridas de 17 de setembro para cá, 191 deputados votaram com o governo pelo menos 9 em cada 10 vezes. Está ainda muito longe da maioria absoluta de 257 votos, mas foi um grande avanço. Nas primeiras 25 votações após Eduardo Cunha assumir o comando da Casa, entre fevereiro e março deste ano, havia apenas 103 deputados com esse mesmo grau de fidelidade a Dilma. Desses, mais da metade era do PT e apenas um era do PMDB. Recentemente, o cenário se inverteu.

Nas 25 votações mais recentes, 53 deputados do PMDB votaram com o governo 90% das vezes. Não por coincidência, foi depois da reforma ministerial e da multiplicação de denúncias contra Cunha. Enquanto isso, a bancada do PT perdeu cadeiras na dança dos ministros e ficou menos fiel à presidente. Só 45 deputados permanecem no núcleo duro de apoio a Dilma. Uns deixaram o PT e, como Alessandro Molon, registram só 46% de governismo.

Hoje, o PMDB encena mais fidelidade à presidente do que o PT: além de entregar mais votos, não pede a cabeça do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A parte que foi atendida por cargos e emendas está cumprindo sua parte da barganha. E não é só no PMDB. No PDT, que ganhou o cobiçado Ministério das Comunicações, a taxa de governismo está em alta: 12 dos 19 deputados entraram para o núcleo com 90% de dureza pró-Dilma pós-reforma. O governismo é crescente também no PSD de Gilberto Kassab e no PR.

Se o fisiologismo não compensasse não seria a norma no Brasil há tantos governos. Além do alto custo, o toma lá dá cá tem outro porém. Voto não se vende, se empresta. O contrato é de aluguel. Tudo é transitório, e a fidelidade termina assim que aparece oferta mais lucrativa vinda de outro lado. É questão de preço.

Jarbas de Holanda - O rombo fiscal. E cenário ainda pior em 2016

Ao invés da promessa inicial de um superávit de 1,7%, trocada depois pelo de 0,15%, impôs-se o reconhecimento de um déficit primário de R$ 51,8 bilhões, equivalente a 0,9% do PIB. Que poderá ser ainda maior, chegando a 1,09% e a mais de R$ 100 bilhões, se o governo não conseguir arrecadar R$ 11,1 bilhões com o leilão de 29 usinas hidrelétricas no final de novembro. E sem incluir o pagamento de R$ 40 bilhões de pedaladas fiscais praticadas nos últimos anos. Que deverá ser feito, de uma vez ou parceladamente, com o corte de recursos orçamentários do BNDES vinculados ao PSI - Programa de Sustentação do Investimento. Na verdade, o déficit crescia a cada mês com a descoberta pelo ministério da Fazenda de novos esqueletos de gastos, e consequente aumento do rombo fiscal. De par com os efeitos da recessão na queda da receita federal. Num processo de reconhecimento eivado de divergências dentro da equipe econômica. Que só ontem foi concluído, com o anúncio pela presidente Dilma de mudança da meta fiscal, a ser encaminhada ao Congresso.

 Enquanto isso, o boletim Focus, do Banco Central, acaba de reduzir pela 15ª vez seguida suas projeções do PIB de 2015, para -3,2%. E, mais grave que isso, as relativas ao próximo ano, de economistas ouvidos pelo BC e de mais instituições financeiras e consultorias, começam a apontar que a contração da economia será ainda maior daqui para a frente. O que foi resumido em reportagem doValor, de ontem, intitulada “Bancos e consultorias projetam queda de 3,5% do PIB em 2016”. Com a seguinte abertura: “Em pouco menos de quatro meses, os principais bancos e consultorias do país abandonaram as apostas em recuperação da economia no ano que vem e passaram a estimar cenário bastante sombrio para 2016, de queda de 3,5% do PIB. Com elevada incerteza sobre o ambiente político e dificuldade para aprovação do ajuste fiscal no Congresso, a recessão será mais longa e mais intensa do que se esperava, argumentam. Ao mesmo tempo, a necessidade de mais impostos e a desvalorização do câmbio devem manter a inflação pressionada ao longo de 2016, o que manterá as taxas de juros em níveis altos por mais tempo”.

É sob a perspectiva desse sombrio cenário e de seus duros efeitos sociais (entre eles o de um desemprego com taxa de dois dígitos), combinados com o avanço das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal sobre os escândalos de corrupção, as principais da Lava-Jato engrossadas pelas da operação Zelotes, que a presidente Dilma ganhou um alívio passageiro diante das ameaças de impeachment (por meio de um acordo para sobrevivência mútua com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha). E tenta começar de fato o governo (ou o “Dilma 3”, segundo alguns analistas). 

Empenhando-se em ações do Executivo e medidas institucionais que salvariam ao menos parte do ajuste fiscal. Entre estas, a confirmação dos vetos ao salto da remuneração dos servidores do Judiciário e à aplicação dos reajustes do salário mínimo aos aposentados, ao lado da viabilização das propostas de extensão até 2019 da vigência da DRU (Desvinculação das Receitas da União), da repatriação de recursos desviados para o exterior e de uma alternativa à recriação da CPMF. Entre as ações não dependentes do Legislativo, o aumento da carga tributária, com a retomada da Cide (se frustrada por inteiro a MP da CPMF) e a elevação de vários impostos e tarifas. Conjunto de ações e medidas, todas muito atrasadas, de concretização dificilmente possível para uma presidente com altos graus de rejeição social e de desconfiança do mercado, e com precaríssimo relacionamento com o Congresso. 

Mas sem as quais será inevitável uma antecipação da perda do grau de investimento do país por mais uma ou as duas restantes grandes agências internacionais de classificação de risco, em face do cenário de mais um ano de agudo descontrole das contas públicas. Bem como da volta, após breve alívio, das pressões pela troca da presidente, então com peso maior da cobrança dos empresários de respostas à ingovernabilidade e ao agravamento das crises econômica e social.

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Jarbas de Holanda, jornalista

Luiz Carlos Azedo - A lavanderia oficial

• A Câmara está prestes a aprovar o esdrúxulo projeto de lei de repatriação de ativos enviados para fora do país sem aviso à Receita Federal. O projeto é polêmico desde a origem, mas foi encampado pelo governo

- Correio Braziliense

Um dos temas mais polêmicos do julgamento dos réus da Operação Lava-Jato, quando o escândalo chegar ao plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), será a acusação de que as doações eleitorais feitas ao PT e seus aliados do PMDB e do PP foi lavagem de dinheiro desviado da Petrobras e outras estatais.

Os advogados não aceitam essa acusação, como é o caso da defesa do ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto, muito menos a cúpula do PT. E o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ironiza a situação, ao questionar a razão de o dinheiro das empreiteiras que foi destinado aos petistas ser considerado propina, enquanto o dinheiro que foi para a oposição é doação.

Milhões de dólares foram desviados da Petrobras pelo cartel de empreiteiras, cujos principais executivos estão presos, com Vaccari e os diretores da Petrobras Renato Duque, Nestor Cerveró e Jorge Zelada. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), está no pelourinho do Conselho de Ética da Casa porque supostamente recebeu doações milionárias do esquema em contas na Suíça.

É nesse contexto que a Câmara está prestes a aprovar o esdrúxulo projeto de lei de repatriação de ativos enviados para fora do país sem aviso à Receita Federal. O projeto é polêmico desde a origem, mesmo depois de ser encampado pelo governo, que vê na aprovação da lei um meio de reduzir o deficit fiscal.

A proposta é legalizar o dinheiro remetido para o exterior decorrente de sonegação fiscal, evasão de divisas ou lavagem de dinheiro relacionado ao envio desses valores. O objetivo seria arrecadar cerca de R$ 11 bilhões com o pagamento de Imposto de Renda e multas por quem obteve o dinheiro legalmente no Brasil, mas tentou escondê-lo da Receita no exterior.

É uma velha proposta que circulava no Senado, tendo como principal patrono o líder do governo, senador Delcídio Amaral (PT-MS). O ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (PT-SP), ao contrário, detonou todas as tentativas de apresentação desse projeto quando a Casa estava sob seu comando. Agora, o relator do projeto, deputado Manoel Júnior (PMDB-PB), apresentou alterações à proposta original que abrem as portas para a legalização de dinheiro decorrente de práticas criminosas, inclusive as reveladas pela Operação Lava-Jato.

Boiada
Seu substitutivo ampliou prazos de adesão, reduziu o Imposto de Renda (IR) e as multas que serão cobradas. Manoel Júnior também incluiu na proposta recursos decorrentes de qualquer lavagem de dinheiro, caixa dois, descaminho, falsidade ideológica e até formação de quadrilha relacionada diretamente a esses crimes. Para coroar seu projeto, propõe uma anistia aos envolvidos, desde que não tenham uma condenação transitada em julgado, ou seja, sem a possibilidade de recursos.

A proposta do Executivo fixava o valor do Imposto de Renda a ser pago pelos recursos repatriados em 17,5%, mais 17,5% de multa, num total de 35%. Uma parte da arrecadação obtida com esse pagamento seria destinada à criação de um fundo de compensação para os estados pela reforma do ICMS. Manoel Júnior acabou com essa vinculação e ainda reduziu os percentuais para 15% de Imposto de Renda e 15% de multa, chegando a um total de 30%. Para fazer uma comparação, todo assalariado que recebe mais de R$ 4.664,68 recolhe 27,5% do salário de imposto na fonte.

Para os deputados e senadores enrolados com contas no exterior, o projeto pode ser a salvação da lavoura, anulando qualquer processo contra eles em razão da existência dessas recursos. Mas, como são uma minoria no Congresso, Manoel Júnior criou um dispositivo de partilha dos recursos arrecadados com estados e municípios, na esperança de que a pressão de prefeitos e governadores, que estão na pindaíba, forme uma ampla maioria na Casa.

A aprovação das maracutaia será péssimo para a imagem do Brasil no exterior. Os Estados Unidos e a União Europeia realizam grandes esforços para controlar esses recursos, a ponto de a Suíça deixar de ser um refúgio inexpugnável para o dinheiro sujo, como estamos constatando com a Operação Lava-Jato. A nova lei poderá até provocar retaliações dos países empenhados no combate ao tráfico de drogas e ao terrorismo, pois onde passa o boi passa a boiada.

Ontem, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tentou colocar o projeto em votação, mas ele foi retirado de pauta por decisão do plenário, que aprovou requerimento da oposição por 193 votos a favor, 175 contra e uma abstenção. Votaram a favor PSDB, PSB, DEM, Solidariedade, PPS, PCdoB, Rede, PV e PSOL. Cunha convocará nova sessão para reincluí-lo na pauta.

Bernardo Mello Franco - O líder que não lidera

- Folha de S. Paulo

"Bando de vagabundos! São vagabundos! Vocês são vagabundos! Vamos para o pau com vocês agora!". As frases foram gritadas pelo deputado acriano Sibá Machado, líder do PT na Câmara. Ele se dirigia a cerca de 30 militantes pró-impeachment que exibiam uma faixa contra Dilma Rousseff nas galerias do plenário, na noite de terça-feira.

O destempero, que contribuiu para a tensão de ontem no gramado em frente ao Congresso, não surpreende quem conhece o personagem. Sibá é o deputado que sugeriu que a CIA estava por trás das manifestações contra o governo. A fala o transformou em motivo de chacota, no momento em que o Planalto tentava dar uma resposta séria aos protestos de rua.

Valente para ameaçar manifestantes, o petista costuma se encolher diante de Eduardo Cunha. Em março, disse que não havia "nenhuma razão" para o peemedebista ser investigado na Lava Jato. Neste mês, após a divulgação das contas na Suíça, insistiu que não via "nada de contundente" contra o presidente da Câmara. Acrescentou que o eventual afastamento dele era uma "questão de foro íntimo". Como Cunha não quer sair, está tudo bem para Sibá.

Quando não diz bobagens, o petista parece estar no mundo da lua. Em setembro, ele sumiu de Brasília no momento em que Dilma começava a enfrentar a ameaça de impeachment. Foi descoberto em passeio oficial pelos Estados Unidos, para irritação de seus colegas de bancada.

A abulia de Sibá virou um constrangimento para o PT e a maioria dos 62 deputados da sigla. Os mais experientes chegaram a discutir sua destituição da liderança, por falta de condições para exercê-la. Optou-se por uma intervenção branca. O deputado passou a falar só o obrigatório, e os vice-líderes montaram um rodízio para substituí-lo na tribuna.

Esvaziado, Sibá agora preocupa menos porque se transformou num líder que não lidera. Por este ponto de vista, ele parece o homem certo para representar Dilma na Câmara.

Maria Cristina Fernandes - A força-tarefa da discípula de Brecht

• Será custoso associar juíza a uma operação anti-Lula

- Valor Econômico

Será custoso filiar a juíza Célia Regina Ody Bernardes a uma operação política para desmoralizar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No ano passado a juíza da operação Zelotes subscreveu manifesto de apoio ao decreto que regulamentou os conselhos populares. O decreto provocou embates do então secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, seu idealizador, com o Congresso, que viu ação deliberada para esvaziá-lo como instância deliberativa de políticas públicas. Além da juíza que hoje integra a investigação do bilionário esquema de fraudes às multas fiscais, a moção de apoio ao decreto ainda foi subscrita por intelectuais e juristas de esquerda como Frei Betto, Márcio Pochmann, Renato Janine Ribeiro e Dalmo Dallari.

A juíza que autorizou o mandado de busca da Polícia Federal no escritório de Luís Cláudio da Silva, filho mais novo do ex-presidente, é autora de um livro inspirado em filósofo cultuado pela esquerda (Racismo de Estado - Uma Reflexão a partir da Crítica da Razão Governamental de Michel Foucault, Ed. Juruá, 2013) sobre o excesso de poder de governos de todos os matizes ideológicos. O livro resultou de mestrado em filosofia da juíza, que graduou-se em Santa Catarina e pós-graduou-se em Pernambuco, de onde vem seu marido, representante da Abin no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Célia Bernardes integra o conselho da Associação dos Juízes para a Democracia, constituída de juristas como Fábio Konder Comparato. A associação é favorável à adoção de cotas raciais no Judiciário e contrária à redução da maioridade penal e à obrigatoriedade de boletim de ocorrência para mulheres vítimas de violência sexual.

Célia Bernardes assumiu a Zelotes quando o primeiro juiz da operação, que enfrentou representações no Conselho Nacional de Justiça contra sua condução, afastou-se do caso. O ministério público alegou que o antecessor de Célia Bernardes, ao indeferir pedidos de prisão temporária e a prorrogação do monitoramento de escutas telefônicas e emails, prejudicava as operações. O antecessor ainda devolvera ao MP pedido para investigar o ministro do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes. Célia Bernardes acatou a investigação do principal algoz das contas governamentais e remeteu-a ao Supremo, pela prerrogativa de foro.

A mais nova integrante da força-tarefa da Zelotes não diz amém a tudo o que vem do ministério público. No ano passado, em plena campanha por mais um mandato, o procurador-geral Rodrigo Janot assinou portaria que liberava bilhetes em classe executiva para seus pares em viagem de mais de oito horas de duração. Em liminar a favor de ação da Advocacia-Geral da União, Célia Bernardes rechaçou, por inconstitucional, a portaria: "Se o servidor público viajar a trabalho e quiser desfrutar da comodidade e do luxo disponíveis na classe executiva ou na primeira classe, pode, se assim o quiser, custear a mordomia, desde que o faça com seus próprios recursos - jamais com dinheiro público". No despacho, a juíza compara o valor da viagem de Brasília a Nova York em econômica (R$ 2,4 mil) e em executiva (R$ 12,6 mil) para concluir que seria preferível o erário custear uma diária a mais (R$ 1,5 mil) para o descanso do servidor a bancar a regalia.

Entre as pessoas que acompanham de perto a operação Zelotes não se descarta delação premiada do ex-dirigente da Anfavea e dono da consultoria que, segundo o relatório da Polícia Federal, era um dos principais operadores do tráfico de influência que se enredou no entorno do ex-presidente. A homologação desta delação por Célia Bernardes indicaria que as práticas jurídicas que deram notoriedade a Sérgio Moro não estão condenadas ao descrédito imposto pelo juiz paulista herdeiro de uma fatia da Lava-jato.

Se havia articulações pela troca do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o avanço da Zelotes lhes retirou qualquer legitimidade. Em 2003 a polícia federal fez 15 operações. No ano passado chegou a 332. Essa multiplicação se deve ao software de blindagem instalado pelo governo Lula, mas também à autonomia do ministério público e do judiciário garantida pela Constituição de 1988.

A imprevibilidade instalada na política por esta trinca, que já havia colocado à prova o ministro executor da blindagem, Márcio Thomaz Bastos, desnorteia o ex-presidente e o front jurídico que o defende. Como os petistas de antigamente, Célia Bernardes é admiradora do dramaturgo alemão, Bertolt Brecht. "Pedimos expressamente que não achem natural o que sempre acontece", diz a epígrafe do seu livro - um dos sinais de que a história pode virar a página do lulismo para que a indignação não perca a capacidade de mover a política.

Eduardo Cunha
Quando o processo de cassação começar a tramitar no Conselho de Ética na próxima terça-feira, o presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha já não poderá renunciar. Enfrentará o processo confiante na fidelidade de sua bancada e no histórico de processos semelhantes como o que salvou o mandato do presidente do Senado, Renan Calheiros, em 2007. O atual processo, no entanto, distingue-se não apenas porque Renan renunciou ao cargo para manter o mandato, mas também porque o voto, àquela época, era secreto. O manifesto de lideranças evangélicas pela saída de Cunha é uma demonstração de que sua base pode vir a ter dificuldades em votar à luz do dia por sua permanência.

A bolsa de apostas para sua substituição já tem, pelo menos, dez nomes. Nenhuma cogitação fora do PMDB é levada a sério. Um dos que mais se recusa a se expor é o ex-ministro dos Portos e deputado federal pelo PMDB paulista, Edinho Araújo. Parlamentar de trânsito fácil na oposição, levantou, como ministro, levantou algumas barricadas contra a pressão correligionária. "Esse Edinho Araújo é muito bom", decretou a presidente em entrevista ao Valor (10/09). Parlamentar mais próximo do vice-presidente Michel Temer, seu nome enfrenta resistências no PMDB de Minas e, principalmente, do Rio.