segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Opinião do dia – Michel Temer

Fico honrado com a lembrança de meu nome como possível candidato em 2018. Mas reitero, uma vez mais, que apenas me cabe cumprir o dever constitucional de completar o mandato presidencial, se o Senado Federal assim o decidir. Não cogito disputar a reeleição.

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Michel Temer, presidente interino em nota.

País tem protestos em 20 estados

Com adesão menor do que em outras ocasiões, manifestações tomaram ontem as ruas do país. Em 20 estados e no DF, houve atos a favor do impeachment e em 15, contra o governo Temer. No Rio e em São Paulo, onde não foram divulgadas estimativas oficiais de público, cartazes em inglês criticavam a corrupção e pediam a saída de Dilma.

Protestos tomam ruas em 20 estados

• Manifestações contra e a favor do impeachment tiveram menos adesão que nas vezes anteriores

- O Globo

-RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA- A cinco dias do início oficial da Olimpíada e com o Brasil no foco da imprensa internacional, o país viveu ontem nova onda de protestos a favor do impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, e contra o governo do presidente interino, Michel Temer. Houve manifestações em pelo menos 20 estados e no Distrito Federal, que reuniram menos pessoas do que em atos anteriores. Nas principais capitais, sequer houve estimativa oficial de participantes.

As passeatas contra Dilma aconteceram em 20 estados e no DF. A Polícia Militar não informou estimativas de público nos dois maiores atos: Rio e São Paulo. No Distrito Federal, sete mil pessoas foram às ruas, segundo a PM. Em 17 de abril, quando a Câmara dos Deputados votou a admissibilidade do processo de impeachment, foram 53 mil, segundo a PM. Já os protestos contra Temer ocorreram em 15 estados.

No Rio, manifestantes se concentraram na orla de Copacabana para protestar a favor do impeachment de Dilma. Levaram faixas em inglês, atraindo a atenção da imprensa internacional e de turistas que vieram para a Olimpíada.

— Os olhos do mundo estão no Rio. As manifestações estão acontecendo por todo o país. Com as faixas em inglês aqui, queremos dizer para o mundo que não está acontecendo nenhum golpe. Queremos o fim da corrupção — explicou Adriana Balthazar, do Vem Pra Rua, principal movimento que organizou os protestos no país contra Dilma e o PT.
Quatro carros de som participaram da manifestação, que contou com bonecos infláveis representando o ex-presidente Lula vestido de presidiário, e o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski. No alto de um carro de som, havia um cartaz com o desenho da presidente afastada com nariz do personagem Pinóquio.

Sabatella hostilizada
Na maioria dos atos não houve incidentes. Mas, em Curitiba, a atriz Letícia Sabatella foi hostilizada por manifestantes favoráveis ao impeachment de Dilma. Conhecida por se posicionar publicamente contra o afastamento da presidente, ela foi xingada e precisou de proteção policial ao passar pelo grupo de manifestantes.

Em São Paulo, houve atos a favor de Dilma e contra o governo Temer. Sem o apoio de todos os movimentos que são a favor do impeachment, grupos contra o PT se reuniram na Avenida Paulista, região central de São Paulo. Além de pedir a saída de Dilma e a prisão de Lula, o protesto foi uma exaltação do juiz federal Sérgio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava-Jato.

Bonecos que representam o juiz de primeira instância como um super-herói, com capa e símbolo no peito, eram vendidos a R$ 10. Do alto do trio elétrico do Vem Pra Rua, um manifestante puxou um “Parabéns a você” para Moro, dizendo que o magistrado faria aniversário hoje (segunda-feira). Pessoas a favor de intervenção militar e até da volta da monarquia também foram à Paulista.

Em outro ponto da capital paulista, no Largo da Batata, Zona Oeste, a Frente Povo Sem Medo, que congrega diversos movimentos sociais, reuniu manifestantes contra o impeachment de Dilma. Eles saíram em passeata até a frente do escritório do presidente interino, próximo à Praça Pan-Americana, onde gritaram “Fora, Temer”. A Frente Povo Sem Medo, que organizou o ato, estima que 60 mil pessoas compareceram. Em 17 de abril, os organizadores estimaram em 200 mil os presentes.

Em Brasília, cerca de 7 mil pessoas, segundo os organizadores e a PM, protestaram em frente ao Congresso pedindo o impeachment de Dilma. O ato também teve palavras de ordem contra Lula e a favor de Moro.

Além das faixas pedindo a saída de Dilma, manifestantes criticaram o projeto contra abuso de autoridade apoiado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, e comemoraram a decisão da Justiça que tornou Lula réu em processo por obstrução de Justiça. Temer foi citado poucas vezes, mas não foi criticado.

Também ontem, houve um protesto pró-Dilma e contra Temer em Planaltina, a 60 quilômetro de Brasília. O GLOBO não conseguiu contato com os organizadores ou a PM sobre a manifestação. (Com G1)

País tem atos contra e pró- impeachment esvaziados

Para Padilha, manifestações foram menores porque País não vive mais período de 'anomalias'

• Nas manifestações simultâneas contra e a favor do impeachment, as ruas de Norte a Sul do País estavam esvaziadas e sem a presença maciça de políticos

Gilberto Amendola, Pedro Venceslau, Valmar Hupsel Filho, Vera Rosa, Roberta Pennafort e Suellen Amorim - O Estado de S. Paulo

No primeiro ato após o afastamento da presidente Dilma Rousseff e pela primeira vez com manifestações simultâneas contra e a favor do impeachment, as ruas de Norte a Sul do País estavam esvaziadas e sem a presença maciça de políticos. O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que as manifestações foram menores porque o País está em outro momento. “Vivemos um clima de normalidade”, afirmou. “Os atos agora não ganham a mesma expressão de antes, quando se buscava corrigir anomalias.”

Em ao menos 17 Estados e no Distrito Federal houve atos ontem em defesa do afastamento definitivo da petista e também contra o governo do presidente em exercício, Michel Temer.

O último grande protesto foi realizado em 13 de março, quando, segundo a Polícia Militar, 1,4 milhão de pessoas foram às ruas somente em São Paulo – Dilma foi afastada no dia 12 de maio. Ontem, o Vem Pra Rua e a PM não divulgaram estimativa de público. Segundo os organizadores dos atos pró-impeachment, as manifestações ocorreram em 200 cidades de todo o País. A Frente Povo Sem Medo – movimento pró-Dilma – informou que houve atos em 20 cidades do Estado de São Paulo.

Para Rogério Chequer, líder do Vem Pra Rua, o volume menor de manifestantes na Avenida Paulista ontem à tarde era esperado. “As pessoas estão tomando como certa a aprovação do impeachment no Senado”, disse. O início da votação está previsto para o dia 29 deste mês.

Segundo o ativista, a agenda das ruas mudou. “O objetivo principal não é o impeachment. Estamos em uma nova fase.” Entre as bandeiras do grupo estão o voto distrital, o fim das coligações e o fim do foro privilegiado.

As manifestações deste domingo foram marcadas por um racha entre os grupos anti-Dilma. O Movimento Brasil Livre (MBL) e outras organizações menores optaram por não levar carros de som à Paulista e esperar uma data mais próxima da votação no Senado. “O MBL decidiu não participar da organização deste ato porque pretende concentrar esforços em outra manifestação, mais próxima da votação. Isso não significa que estamos rachados”, afirmou Fernando Holiday, do MBL, que participou do ato no chão.

Também estavam na Paulista caminhões do Movimento Contra a Corrupção (MCC), Avança Brasil e de um grupo que pedia a intervenção militar. Os políticos, que em março compareceram em peso, não apareceram. O único pré-candidato à Prefeitura de São Paulo presente foi o deputado Major Olímpio (SD). “O processo de impeachment já se consolidou. Hoje o que acontece é mais uma confraternização”, afirmou. Outro parlamentar presente, aclamado pelos manifestantes, foi Eduardo Bolsonaro (PSC-SP).

No caminhão de som do Vem Pra Rua, as principais participações foram do jurista Modesto Carvalho, do historiador Marco Antônio Villa e da atriz Regina Duarte. Os manifestantes pediam “Lula na cadeia” e “fora, Dilma”. Cartazes em apoio ao juiz Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, dominaram o ato. “Eu espero que futuramente ele seja o presidente”, disse Marilucia de Almeida, 61 anos.

Pró-Dilma. O ato contra o impeachment e pelo “Fora, Temer” foi realizado no Largo da Batata, na zona oeste, também à tarde. “Este foi seguramente o maior desde que se iniciou o processo (de impeachment)”, disse Guilherme Boulos, coordenador nacional do (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que estimou o público em 60 mil pessoas.

Os manifestantes seguiram até a Praça Pan-Americana, um percurso de 3 quilômetros que passou na frente do escritório político de Temer. O ato teve três lemas: o “Fora, Temer”, a “defesa dos direitos dos trabalhadores” e a “garantia da escolha popular nas decisões políticas”, entre elas a realização de novas eleições. Participaram Luiza Erundina e Ivan Valente, candidatos a prefeita e vice em São Paulo pelo PSOL. Também marcaram presença o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) o ex-senador Eduardo Suplicy (PT).

Olimpíada. Valendo-se da presença de jornalistas estrangeiros no Rio por causa da Olimpíada, ativistas pró-impeachment protestaram ontem em Copacabana, um dos cenários dos Jogos. Foi um ato concentrado entre os Postos 4 e 5, no qual foi pedida a prisão de Dilma e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Manifestantes levaram cartazes em inglês.

“Mandamos o nosso recado para a imprensa internacional: não toleramos mais a corrupção no Brasil”, disse a estilista Adriana Balthazar, do Vem Pra Rua. “Demos mais de 20 entrevistas para jornalistas da Nova Zelândia, Austrália, Holanda, China, Japão”, afirmou. O protesto durou das 10 às 13 horas, com adesão bem menor à de atos anteriores anti-Dilma realizados na orla. Aos gritos de “fora, Temer”, um grupo protestou à tarde no centro do Rio. /

Protestos pró e contra impeachment reúnem milhares, mas perdem adesão

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - As manifestações deste domingo (31) contra e a favordo impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, levaram milhares às ruas, mas tiveram um público menor do que as anteriores.

Segundo a Polícia Militar, 43 mil pessoas estiveram nos protestos a favor da saída definitiva de Dilma e 3.000 nas manifestações contra, em ao menos 50 cidades do país –exceto São Paulo e Rio de Janeiro. Essas capitais, que concentraram maior número de pessoas, não tiveram estimativa divulgada por órgãos oficiais.

No último 17 de abril, dia em que a Câmara dos Deputados votou pelo afastamento de Dilma, 318 mil pessoas participaram dos protestos a favor do impeachment e 126 mil contra, segundo a PM. Já no dia 31 de março, 3,6 milhões foram às ruas pela saída de Dilma, enquanto 159 mil protestaram por sua permanência, de acordo com as polícias dos Estados.

O julgamento final do processo de impeachment de Dilma deve começar em 29 de agosto e durar cerca de uma semana, segundo a assessoria de imprensa do STF (Supremo Tribunal Federal).

Impeachment entra na fase final

Por Thiago Resende e Andrea Jubé – Valor Econômico

BRASÍLIA - O processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff entra nesta segunda-feira na fase final de tramitação no Senado. A confiança é preponderante entre os aliados do presidente interino Michel Temer, mas o Palácio do Planalto receia que o processo avance para o início de setembro. O PT, porém, se divide entre os incrédulos sobre o possível retorno de Dilma e aqueles que tentam uma reviravolta do quadro, negociando com senadores que se declaram indecisos.

A comissão especial que analisa o caso retomará os trabalhos nesta semana. Depois, o relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) seguirá para o plenário. Inicialmente, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sinalizou que pretendia começar o julgamento final de Dilma a partir do dia 25 de agosto. No entanto, a data ainda não foi marcada. Auxiliares de Temer foram informados de que o julgamento pode adentrar a primeira semana de setembro. Temer queria ir, no dia 3 de setembro, para a cúpula de líderes do G-20 na China já com um resultado.

No Planalto, as previsões apontam para um placar de 60 votos a favor da destituição da petista - seis a mais do que o necessário. Em maio, quando foi aprovada a abertura do processo e o consequente afastamento da presidente, o pemedebista obteve 55 votos.

Aliados garantem que ampliaram a margem. Ausente na votação inicial, Pedro Chaves (PSC-MS), que assumiu após a cassação do mandato de Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), entrou na planilha de votos pró-impeachment de um dos principais articuladores de Temer. Oficialmente, ele ainda não informa sua posição.

Na lista de indecisos figuram, principalmente, Roberto Rocha (PSB-MA), Romário (PSB-RJ), Eduardo Lopes (PRB-RJ), Cristovam Buarque (PPS-DF), Acir Gurgacz (PDT-RO) e Wellington Fagundes (PR-MT). Todos votaram pela abertura do processo, em maio, com exceção de Lopes, que assumiu por ser suplente de Marcelo Crivella (PRB-RJ) - a favor do impeachment e licenciado para disputar a eleição da Prefeitura do Rio. Pelas contas do Planalto, eles continuarão contra Dilma.

Uma ala do PT está abatida, especialmente depois que João Santana, ex-marqueteiro do partido, e a mulher dele, Mônica Moura, admitiram caixa dois em campanha presidencial petista. Mas aliados de Dilma continuam em negociações com senadores que ainda não declararam voto e, assim, acreditam numa possível mudança do cenário. Auxiliares de Dilma contam a possível abstenção de Renan, o que valeria como voto contra o impeachment.

Fagundes, que foi escolhido relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) após o afastamento de Dilma, é integrante da comissão especial do impeachment. Recentemente, em conversa com um ex-ministro de Dilma, o senador sinalizou que poderia votar pelo retorno da presidente se "outros [indecisos] fossem juntos". Mas advertiu que se percebesse que ficaria isolado, votaria com Temer. Fagundes tem convite para assumir o Ministério da Agricultura, no lugar de seu adversário político, Blairo Maggi (PP-MT), caso Dilma seja reconduzida ao cargo.

Cristovam e Acir, por exemplo, insistem na tese de antecipar eleição presidencial para o fim do ano e preferem não falar sobre o assunto. Além disso, Lopes deve seguir o PRB e manter a posição de Crivella, a favor da destituição de Dilma.

Do PSB, Rocha e Romário não mudarão os votos, asseguram integrantes da sigla e seu presidente, Carlos Siqueira. Mas Rocha foi o convidado especial de um jantar que o senador Roberto Requião (PMDB-PR) ofereceu para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva há um mês em Brasília. Lula tentou convencer Rocha a votar contra o impeachment.

Eduardo Braga (PMDB-AM), ex-ministro de Dilma, é sondado pelos dois lados. Ele faltou à votação de maio e é, assim, voto importante. Braga ganhou a relatoria do Orçamento de 2017 na gestão Temer, mas mantém conversas com petistas.

São mínimas as dúvidas sobre os 22 senadores que votaram a favor de Dilma em maio. Elmano Férrer (PTB-PI) mantém em sigilo a posição, mas tende a apoiar a volta da petista. Assim como Roberto Muniz (PP-BA). Ele assumiu o cargo depois que Walter Pinheiro (ex-PT-BA) se licenciou para ocupar uma secretaria estadual. Segundo fontes, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), assegurou o voto pelo retorno de Dilma.

Temer diz não cogitar disputar reeleição em 2018

Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Diante de informações de que aliados estariam defendendo sua candidatura à reeleição, o presidente interino, Michel Temer, divulgou nota neste domingo (31) afirmando ficar "honrado com a lembrança", mas dizendo que não cogita essa possibilidade em 2018.

A decisão de soltar a nota foi tomada logo pela manhã para evitar, segundo assessores, que a especulação ganhasse força e gerasse ruídos na relação com sua base aliada no Congresso Nacional.

Interlocutores de Temer dizem que, nesta reta final do julgamento do impeachment de Dilma Rousseff], a ordem é não deixar prosperar nenhuma onda que possa tumultuar o desfecho do processo.

Neste domingo, reportagem da Folha revelou que pelo menos três ministros próximos ao presidente interino não descartam a possibilidade de Temer, apesar de negar hoje publicamente, vir a se candidatar à reeleição em 2018 caso tenha êxito na sua gestão na Presidência.

A tese também foi lançada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em entrevista a "O Estado de S. Paulo".

Na nota, Temer diz que "não cogita disputar a reeleição" e que todos os seus esforços estão voltados para garantir a retomada do crescimento econômico.

O presidente interino sempre evitou assumir, publicamente, qualquer possibilidade de se candidatar à reeleição para evitar divisões dentro de sua base aliada, que tem potenciais candidatos a presidente em 2018.

Os principais são do PSDB: o ministro José Serra (Relações Exteriores), o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e o senador Aécio Neves (PSDB-MG). Outro citado é o ministro Henrique Meirelles (Fazenda), do PSD.

Temer chegou, inclusive, a assumir o compromisso de que não seria candidato para garantir a aprovação da abertura do processo de impeachment contra Dilma.

A intenção de Temer é repetir, nesta segunda (1º), que não pretende se candidatar, caso seja provocado por algum dos líderes de partidos da base, com os quais vai se reunir logo pela manhã.

Na reunião, o peemedebista quer acertar uma agenda de votação de projetos de interesse do governo. Entre eles, a renegociação da dívida dos Estados, o projeto que flexibiliza o papel da Petrobras na exploração do pré-sal e o teto de gastos públicos.

Temer reforça que não tentará reeleição

• Presidente interino age para evitar conflitos em sua base, após declaração de Rodrigo Maia

- O Globo

-BRASÍLIA- O presidente interino, Michel Temer, precisou agir ontem para desestimular declarações de aliado sobre as eleições presidenciais de 2018. Em nota, negou que pretenda tentar a reeleição. Ontem, o jornal “O Estado de S.Paulo” publicou entrevista em que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), disse que Temer será “o candidato do nosso campo, se chegar a 50% de ótimo e bom”.

“Fico honrado com a lembrança de meu nome como possível candidato em 2018. Mas reitero, uma vez mais, que apenas me cabe cumprir o dever constitucional de completar o mandato presidencial, se o Senado Federal assim o decidir. Não cogito disputar a reeleição”, afirmou o presidente interino em nota.

Ontem, Maia procurou amenizar suas declarações e disse que “essa não é a pauta do momento”:

— Temos uma agenda difícil e fundamental para o país. Só depois disso, deveremos entrar no debate da sucessão — disse ao GLOBO.

O Palácio do Planalto não quer atritos na base aliada, principalmente uma reação negativa do PSDB, e considera que é muito cedo para se falar nas eleições presidenciais de 2018.

Manobra pró-Temer desagrada ao PSDB

• Para tucanos, presidente da Câmara lançou ‘balão de ensaio’ ao falar ao ‘Estado’ de possível candidatura à reeleição do presidente em 2018

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Preocupado em evitar ruídos na base aliada, principalmente com o PSDB, o presidente em exercício Michel Temer divulgou ontem uma nota negando que tenha intenção de disputar a eleição de 2018. Temer decidiu tomar a iniciativa depois que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ao Estado que, se o impeachment de Dilma Rousseff for aprovado, o peemedebista será candidato ao Planalto em 2018, com apoio da coalizão.

A declaração de Maia provocou mal-estar no PSDB e também no PSD. Nos bastidores, integrantes dos dois partidos disseram que o presidente da Câmara avançou o sinal e lançou um “balão de ensaio”, que pode criar uma disputa desnecessária entre os partidos aliados de Temer no Congresso.

“Fico honrado com a lembrança de meu nome como possível candidato em 2018. Mas reitero, uma vez mais, que apenas me cabe cumprir o dever constitucional de completar o mandato presidencial, se o Senado Federal assim o decidir”, afirmou Temer, em uma referência à votação do impeachment da presidente afastada, que deve começar no próximo dia 29. “Não cogito disputar a reeleição.”

Na nota, de apenas seis linhas, Temer destacou que seu foco é o desenvolvimento do País, e não a possibilidade de reeleição. “Todos meus esforços, e de meu governo, estão voltados exclusivamente para garantir que o Brasil retome a rota do crescimento e seja pacificado”, escreveu ele.

O governo interino tem hoje dois potenciais candidatos à sucessão de 2018: o ministro das Relações Exteriores, José Serra (PSDB), e o titular da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD). O problema é que, nas fileiras do PSDB, tudo indica que haverá uma briga pela indicação, já que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o senador Aécio Neves (MG), presidente do partido, também são pré-candidatos.

Nesse cenário, há rumores de que Serra pode deixar o PSDB e migrar para o PMDB de Temer – de quem está se aproximando cada vez mais –, com o objetivo de concorrer à Presidência. No PSD presidido pelo ministro das Comunicações, Gilberto Kassab, o nome cotado para a sucessão de 2018 é o de Meirelles.

“Tudo isso é factoide, pois 2018 está há anos luz de distância”, amenizou o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), negando qualquer desconforto com a entrevista de Maia.

Na percepção do Planalto, porém, todas as articulações passam pelo desempenho da economia nos próximos meses. Nessas análises, o impeachment de Dilma é dado como “favas contadas”. Em conversas reservadas, muitos acham que Temer poderá ser candidato para evitar a “fragmentação” da base, embora o diagnóstico em público seja de que isso dividiria a coligação.

Para Maia, se Temer chegar a 50% de ótimo e bom, ele será candidato “quer queira, quer não”, podendo disputar o segundo turno com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, hoje réu por tentar obstruir a Lava Jato.

“Michel já disse que sairá da vida pública recompensado se colocar o Brasil nos trilhos. Não há hipótese de ele ser candidato”, afirmou o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. “Uma candidatura é incompatível com esse trabalho. É fora de propósito”, disse o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. “Se o PMDB terá ou não candidato próprio em 2018 é outra coisa. Mas eu sou político, não sou cartomante.” / Colaborou Andreza Matais

Com Brant em BH, Lacerda fala em candidatura ‘imposta’ por tucanos

• Atual prefeito critica tucanos em convenção do PSB; partido de Aécio diz que ex-aliado ‘tem faltado com a verdade’

Leonardo Augusto/ Especial para o Estado - O Estado de S. Paulo

BELO HORIZONTE - Na convenção do PSB para lançar o executivo Paulo Brant à disputa pela prefeitura de Belo Horizonte, o atual prefeito Márcio Lacerda afirmou ontem que o PSDB ficou “frustrado” pelo fato de sua legenda não ter aceitado apoiar uma candidatura, a de João Leite, “imposta” pelos tucanos.

Para o PSDB, Lacerda foi “indelicado”. Na quinta-feira, na convenção de lançamento de Leite, o senador Aécio Neves – ex-aliado de Lacerda – afirmou em discurso que “não há nada mais relevante do que a lealdade aos companheiros, às ideias e aos caminhos escolhidos”.

Na avaliação de Lacerda, os tucanos, porém, tiveram dificuldades em aceitar seu posicionamento. “Há provavelmente alguma frustração por não estarmos apoiando a candidatura imposta. Vamos dizer a palavra certa: imposta pelo PSDB”, disse o prefeito.

Em sua primeira eleição, em 2008, Lacerda recebeu o apoio de Aécio, então governador de Minas, e de Fernando Pimentel (PT), que era prefeito da capital e hoje governa o Estado. Na segunda disputa, apenas Aécio o apoiou.

Quanto a Pimentel, Lacerda afirmou que não houve nem sequer conversar em torno de uma possível aliança. “Hoje há apenas a convivência que o prefeito de uma capital precisa ter com o Estado.”

O candidato do PSB disse que vai dar continuidade aos trabalhos de Lacerda. “Faço o que acho que tem de ser feito. Nossa preocupação é formular um plano de governo que dê continuidade às gestões de Lacerda com inovações”, afirmou.

Brant foi secretário estadual de Cultura, durante um dos dois mandatos de Aécio como governador de Minas. Ele também trabalhou como servidor concursado do Banco de Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais (BDMG). Atualmente o candidato do PSB é executivo da multinacional japonesa Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra).

Indelicadeza. Em nota, o PSDB de Minas afirmou que o prefeito de Belo Horizonte foi “indelicado” e disse que Lacerda “tem faltado com a verdade na tentativa de encontrar uma explicação para o rompimento unilateral da aliança não só com o PSDB, mas com vários outros partidos que tornaram possível a sua vitória em 2012”.

A legenda afirmou também que o atual prefeito retirou Brant dos quadros tucanos e o filiou ao PSB “em silêncio” e que a escolha pelo candidato para a disputa deste ano foi feita de forma “individual”.

Crise quebra alianças, e PT fica isolado nas eleições das capitais

João Pedro Pitombo, Felipe Bächtold – Folha de S. Paulo

SALVADOR, SÃO PAULO - O PT deve disputar sua primeira eleição pós-impeachment em um acentuado isolamento nas capitais.

A pressão da militância partidária, o rompimento com partidos que compunham a antiga base da presidente afastada Dilma Rousseff e até mesmo a rejeição de antigos parceiros farão o PT ter alianças mais restritas na campanha municipal deste ano.

O partido deve lançar candidatos próprios em 20 das 26 capitais e, até agora, a tendência é de chapa pura em dez dessas cidades.

Em outros Estados, a composição deve se restringir a pequenos partidos ou aliados que se opõem ao impeachment, como o PC do B.

A exceção é Rio Branco (AC), onde o prefeito petista Marcus Alexandre tentará a reeleição aliado a 14 siglas. O prazo para registro das candidaturas vai até o próximo dia 15.

"A crise política influiu nas alianças e tomamos a decisão de priorizar partidos contrários ao golpe. Vamos para a campanha defender o nosso legado e mostrar nossa visão política humanizada", diz Florisvaldo Souza, secretário de organização do PT.

A conjuntura de isolamento deve provocar uma espécie de volta às origens petistas, com candidatos menos competitivos, campanhas menos custosas e discurso mais à esquerda.

Em Palmas (TO), por exemplo, a iniciativa do PT é de montar uma chapa com vice do PSOL, partido fundado em 2005 por dissidentes petistas e oposição nos anos Lula e Dilma. Em Manaus (AM), as conversas são até com o PCO e o PSTU.

Em Belém (PA), a ex-deputada Regina Barata (PT) vai enfrentar o favorito Edmílson Rodrigues (PSOL), deputado federal e ex-prefeito. A posição de coadjuvante dentro da própria esquerda gera antes cenários inimagináveis.

O presidente do PT em Belém, Apolônio Brasileiro, por exemplo, acusa o PSOL de pragmatismo por aliar-se ao PV. "É um partido que apoiou o golpe", reclama. Há dois anos, os petistas apoiaram uma chapa formada por PMDB e DEM no Pará.

Em cidades como Florianópolis (SC), a mobilização de partidos e movimentos de esquerda contra o impeachment, com a criação de grupos como a "Frente Povo Sem Medo", também deixou marcas na articulação eleitoral.

"Entendemos que o campo de aliança é esse, mais de esquerda, inclusive pensando para 2018. Em 2012, era outra conjuntura no país", diz Gabriel Kazapi, pré-candidato petista na capital catarinense.

Em Belo Horizonte (MG), o partido vai para eleição sem a companhia dos partidos aliados do governador Fernando Pimentel, como PMDB e PRB.
"Não estou preocupado em negociar alianças sem ideologia e fazer uma campanha artificial na televisão. Quero romper com esse modelo", diz Reginaldo Lopes, pré-candidato.

Sem PMDB
Na campanha municipal de 2012, disputada no auge da popularidade de Dilma, o PT lançou chapa pura em apenas três capitais. Aliados no plano federal na época, como PR e PSB, eram comuns nas chapas petistas pelo país.

A negociação com o PMDB, partido do hoje presidente interino Michel Temer, estabeleceu naquele ano o apoio ao peemedebista Eduardo Paes no Rio em troca da aliança com candidatos petistas em Belo Horizonte e em São Luís (MA).

Quatro anos depois, o PT não terá o apoio nem apoiará o PMDB em nenhuma das capitais. Os dois partidos estarão juntos somente em Aracaju (SE), numa aliança em torno do PC do B.

Em Goiânia (GO), a união de oito anos dos dois partidos chegou ao fim em março deste ano. O PT irá às urnas com aliados de menor expressão, como Pros e PT do B.

O partido será mais competitivo em Fortaleza (CE), Recife (PE) e Porto Alegre (RS), onde escalou como candidatos ex-prefeitos.

Na capital gaúcha, o PT tirou da aposentadoria Raul Pont, 72, conhecido por ter concorrido à presidência do PT pela tendência de esquerda Democracia Socialista no auge da crise do mensalão, em 2005.

Em Fortaleza, Luizianne Lins tenta voltar ao posto em chapa pura. No Recife, o ex-prefeito João Paulo é uma das principais apostas do partido e vai enfrentar o atual prefeito Geraldo Júlio (PSB).

PC do B se alia a partidos pró-impeachment nas eleições municipais

João Pedro Pitombo, Felipe Bächtold – Folha de S. Paulo

SALVADOR. SÃO PAULO - Aliado histórico dos petistas, o PC do B vai deixar de lado o discurso do "golpe" e apoiar nas eleições pelo país candidatos da base do presidente interino Michel Temer, como PSB e até mesmo o PSDB.

Em Teresina (PI), o PC do B endossa a reeleição do prefeito Firmino Filho (PSDB), que concorrerá contra o deputado estadual Dr. Pessoa (PSD) e o jornalista Amadeu Campos (PTB), este último apoiado pelos petistas.

Aliado da família Calheiros em Alagoas, governada por Renan Filho (PMDB), os comunistas vão apoiar o peemedebista Cícero Almeida em Maceió (AL). Deputado federal, ele votou a favor do afastamento de Dilma.

No Recife (PE), o partido vai reeditar a dobradinha com o prefeito Geraldo Júlio (PSB), que disputa a reeleição. Os seis deputados do PSB de Pernambuco votaram pelo impeachment, incluindo o hoje ministro das Minas e Energia, Fernando Coelho Filho.

O movimento do PC do B vai na contramão do PT, que neste ano rompeu alianças regionais com caciques peemedebistas como Renan, Jader Barbalho (PA) e José Sarney (MA).

Presidente nacional do PC do B, a deputada federal Luciana Santos diz que, em uma eleição municipal, a realidade local pode se sobrepor.

"Se fosse só apoiar quem foi contra o impeachment, sobrariam o PT, uma parte do PDT e o PSOL. É um arco muito restrito", diz ela, que classifica alianças com tucanos e peemedebistas como "exceções".

O PC do B vai lançar candidatos próprios em três capitais, menos do que na eleição de 2012.

Porém, ao contrário da eleição anterior, apenas Edvaldo Nogueira (Aracaju) e Alice Portugal (Salvador) vão para as urnas com uma ampla aliança. Na capital sergipana, o candidato terá o apoio do governador Jackson Barreto (PMDB).

No Rio, a deputada Jandira Feghali será apoiada pelo PT.

Crivella e Molon oficializam candidaturas a prefeito do Rio

• Senador do PRB acusa Paes de ajudar empresas envolvidas na Lava-Jato

Chico Otavio - O Globo

Lançado oficialmente candidato à sucessão municipal pelo PRB, o senador Marcelo Crivella pautou o seu discurso com críticas ao prefeito Eduardo Paes (PMDB), a quem procurou associar à Lava-Jato:

— Sempre tentam dizer que sou preposto do Bispo Macedo (Edir Macedo, fundador da Igreja Universal e seu tio), o que não é verdade. Mas o que o povo quer saber é se Eduardo Paes é preposto da Odebrecht.

A prefeitura carioca, sustenta Crivella, teria desembolsado R$ 40 bilhões com obras executadas por empreiteiras envolvidas com a Lava-Jato. Ele disse que, após a Olimpíada do Rio, a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, com a Carvalho Hosken, receberão sem ônus o terreno do antigo Autódromo de Jacarepaguá, para fazer um megaempreendimento.

Ao lado de nomes como o do deputado estadual Wagner Montes e o da deputada federal Clarissa Garotinho (PR), que carregava o filho de 2 meses, Vicente, no colo, Crivella oficializou a candidatura em evento no Olaria Atlético Clube. Embora a estratégia da campanha seja desvincular o candidato da igreja, algumas camisetas exibiam frases como “Diga não às drogas e sim a Jesus” e “O Pai é nosso”.

Crivella disse que pretende priorizar a Educação e a Saúde, prometendo investir R$ 1 bilhão na rede pública municipal, para compensar os recursos que ele disse que Paes retirou da área de Saúde para investir nas obras olímpicas. No discurso, ele também atacou indiretamente o candidato de Paes, Pedro Paulo, que foi acusado de agredir a ex-mulher:

— Na eleição para governador, fui ao segundo turno, mas bati na trave. Vergonha não é bater na trave. Vergonha é bater em mulher. No PRB, não tem homem que bate em mulher.

Marina no palanque de Molon
Outro candidato da oposição, o deputado federal Alessandro Molon também oficializou a candidatura pela Rede:

— Não é apenas o que queremos fazer, é também como. Essa é uma diferença fundamental. Queremos fazer de forma diferente, com transparência e participação. A prefeitura do Rio em relação a isso é uma vergonha. E transparência é o melhor antídoto contra o mau uso do dinheiro público.

Presente ao ato, no Catete, a ex-candidata do PSB a presidente Marina Silva disse que o partido deve superar as limitações de estrutura no Rio:

— Quem vai ganhar a eleição não é a estrutura, é a postura. Este é o momento em que as pessoas estão querendo uma nova postura. Não vai ser lá em cima no palanque. Vai ser aqui, no tablado, conversando com as pessoas nas ruas.

PPS de Belo Horizonte decide apoiar o tucano João Leite; vice será Ronaldo Gontijo

A convenção eleitoral realizada pelo PPS de Belo Horizonte decidiu, neste domingo (31), apoiar a candidatura do tucano João Leite à prefeitura da capital mineira nas eleições de 2 de outubro e indicar o vereador Ronaldo Gontijo, presidente do partido na cidade, como candidato a vice-prefeito da chapa.

O candidato do PSDB obteve 64% dos votos dos delegados do encontro, ao receber 201 votos, contra 68 dos que defendiam apoio ao candidato do PSB, Paulo Brant. A votação registrou ainda sete abstenções.

O partido também definiu a chapa de vereadores, que terá 62 candidatos, formada por 43 homens e 19 mulheres.

Dívida líquida do RJ atinge R$ 95,8 bi e volta a ultrapassar teto previsto na LRF

Por Rodrigo Carro – Valor Econômico

RIO - O Rio voltou a ultrapassar o teto de endividamento previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). No fim de junho, a dívida consolidada líquida do Estado somava R$ 95,8 bilhões, mais de duas vezes a receita acumulada nos últimos 12 meses, o que fere o limite estipulado pela lei. O desenquadramento está relacionado mais à queda na receita estadual do que ao aumento da dívida.

O limite de endividamento estipulado na LRF é de 200% da receita corrente líquida, mas a relação entre dívida e receita no Estado era de 210,4% em 30 de junho. No período de dois meses -entre 30 de abril e 30 de junho deste ano -, a dívida consolidada líquida fluminense cresceu 1%. A receita corrente líquida (RCL) acumulada em 12 meses caiu de R$ 49,13 bilhões para R$ 45,52 bilhões, uma retração de 7,34%.

"É um fenômeno nacional, que no Estado do Rio assume características mais acentuadas devido ao declínio das receitas de royalties [de óleo e gás]", explicou o economista José Roberto Afonso, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV), referindo-se à queda nas receitas. Na avaliação de Afonso, é possível que, mesmo sem tomar novo crédito e ainda que pagasse em dia o antigo serviço da dívida, a situação do Rio viesse a piorar devido à queda da receita, principalmente em tempos de recessão.

"É por isso que a LRF já contempla uma válvula de escape que está disparada já há algum tempo: a lei prevê que sejam duplicados os prazos para enquadramento caso excedidos limites, como os da dívida ou os de gasto com pessoal, enquanto o [crescimento do] PIB estiver abaixo de 1%", disse Afonso.

Não é a primeira vez que o Estado do Rio ultrapassa o limite de endividamento em 2016. Relatório de gestão fiscal divulgado em maio mostrou que a dívida consolidada líquida fluminense em 30 de abril equivalia a 201,07% da RCL.

Posteriormente, a Secretaria de Fazenda republicou os dados sobre endividamento, a partir de uma revisão feita por técnicos com base no Decreto nº 8.616, de 29 de dezembro de 2015. Com isso, a dívida consolidada líquida, que no fim de 2015 estava no patamar de R$ 101,17 bilhões, encolheu para R$ 94,13 bilhões em 30 de abril.

Procurada, a Secretaria de Fazenda do Rio de Janeiro esclareceu que "o índice da dívida é calculado a cada quadrimestre", enquanto o relatório analisado pelo Valor é bimestral. "O relatório correto para se aferir o índice é o Relatório de Gestão Fiscal (RGF), que será elaborado em setembro, com base no segundo quadrimestre do ano de 2016", ressaltou a Fazenda estadual, em nota.

Com relação às receitas, a avaliação da secretaria é que estão se estabilizando após um período de leve queda nominal, já descontadas as receitas extraordinárias do ano de 2015.

São justamente essas receitas extraordinárias que podem fazer a diferença no segundo semestre, levando o Estado a se enquadrar novamente em termos de endividamento, acredita o deputado Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), presidente da comissão de tributação da Assembleia Legislativa do Estado do Rio.

"Em julho, o Estado recebeu um crédito extraordinário de R$ 2,9 bilhões do governo federal [como resultado da decretação do estado de calamidade pública], que vai ser considerado receita corrente líquida", disse o deputado.

Pelos cálculos de Rocha, a receita acumulada em 12 meses teria de alcançar R$ 51 bilhões para o Estado se manter enquadrado. As receitas extraordinárias viriam da devolução de parte dos incentivos fiscais recebidos por empresas que se instalaram no Rio, da venda da dívida ativa e da taxa de fiscalização sobre óleo e gás, entre outras fontes.

Exercício de cidadania – Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

O país começa a viver o clima das eleições municipais com a realização das convenções partidárias dos últimos dias. Por várias razões, os pleitos de outubro prometem emoções novas.

De um lado, mudaram as regras de financiamento de campanha, juntamente com o tempo mais reduzido para sua realização. Por outro, esse será o primeiro grande teste das urnas após a grave crise política e econômica que alcançou o Brasil nos últimos dois anos. Tudo converge para uma eleição diferente de qualquer outra.

Nunca foi tão importante tratar das cidades. Cerca de 85% dos brasileiros vivem nelas. Há muitos problemas comuns a todas elas, como habitação, saneamento, coleta de lixo, segurança, saúde pública e, especialmente nas capitais, a questão da mobilidade e do transporte coletivo (o estopim das manifestações de 2013).

São esses desafios do cotidiano que ganham relevância nos debates municipais. O cidadão eleitor quer ver o seu voto transformado em serviços públicos de maior qualidade.

O momento não poderia ser pior para a municipalidade. Com a bancarrota econômica promovida pelo petismo, as prefeituras faliram, milhares de pequenos e médios negócios, no comércio e indústria, fecharam suas portas e pararam de pagar impostos.

Estudo recente da Firjan aponta que apenas 42 dos 5.568 municípios do Brasil arrecadam o suficiente para pagar o funcionalismo. O país quebrou e levou para as cordas também as contas públicas municipais.

Frente a esse cenário complexo, as cidades precisam ser repensadas de forma inovadora, a partir de gestões transparentes, responsáveis e comprometidas com resultados.

Sem o financiamento empresarial para as campanhas e, portanto, sem recursos para um marketing mais oneroso, os candidatos terão de se aproximar mais dos eleitores.

É importante ter um histórico de credibilidade nas relações com a comunidade, de forma a entender as prioridades de cada região, de cada grupo social. E propostas claras, apresentadas sem o artifício de grandes tecnologias midiáticas. Sai na frente quem tem conteúdo, de fato.

Tudo isso é fundamental para dialogar com uma população não só castigada pela crise econômica e social mas também descrente da política.

Restaurar a confiança na representação partidária implica reconhecer a importância do pacto democrático que a sociedade brasileira vem construindo, com tanto esforço.

Isso só será alcançado com a emergência de um discurso político renovado, capaz de compreender as transformações ocorridas no país e de assimilar as expectativas de uma opinião pública atenta e crítica.

É hora de recomeçar pela base e mostrar que é possível fazer diferente.
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Aécio Neves é senador e presidente nacional do PSDB

Os bons rapazes - Luiz Carlos Azedo

• Estamos vivendo um momento darwinista da política brasileira. A crise pôs em xeque a sobrevivência das principais lideranças políticas

Correio Braziliense - Publicado em 31/07/2016

Tomo o título da coluna emprestado do penúltimo capítulo do livro O Gene Egoísta, do darwinista Richard Dawkins (Companhia das Letras). Ele contesta uma velha afirmação do beisebol, tão popular nos Estados Unidos como em Cuba, de que os bons rapazes terminam em último. Na política, também é muito comum o sujeito achar que o bom rapaz terminará por último. O ardil, a dissimulação, a esperteza e a falta de escrúpulos parecem ser a regra do jogo predominante. Na verdade, a expressão “os fins justificam os meios” está por trás das maldades e de quase tudo que deu errado na política, inclusive os malfeitos. Vale tudo para o governante conquistar e manter seu poder.

Mas voltemos aos bons rapazes. Segundo Dawkins, o ser humano é um grande arranjo biológico, uma espécie de máquina de sobrevivência de um gene egoísta reprodutor da espécie. Para isso, porém, também precisa ser altruísta, cooperar com os demais integrantes da espécie para não entrar em extinção. É aí que os bons rapazes podem acabar em primeiro. Para explicar o raciocínio, Dawkins faz uma analogia com os pássaros de uma mesma espécie, mas com comportamentos distintos: os trapaceiros, os trouxas e os rancorosos, todos em luta com piolhos alojados na cabeça, que poderiam exterminar a espécie.

Caso existissem somente trapaceiros e os trouxas, a espécie seria extinta, porque somente o segundo cataria os piolhos alheios, o que não seria suficiente para manter o equilíbrio ecológico. Os trapaceiros não catam piolho de ninguém, nem podem removê-los da própria cabeça; com a redução da população de trouxas, todos acabariam extintos. Quando entram em cena os rancorosos, a situação se modifica. São pássaros que ajudam uns aos outros de maneira mais ou menos altruísta, mas que se recusavam a colaborar com os indivíduos que se recusaram a ajudá-los. Por essa razão, os rancorosos conseguem transmitir mais genes às gerações seguintes do que os trouxas (que ajudavam os indivíduos indiscriminadamente e por isso eram explorados) e também que os trapaceiros (que, implacáveis, tentavam explorar todo mundo e acabaram por se anular uns aos outros). Com o chamado altruísmo recíproco, a população de trouxas diminui e os trapaceiros acabam com a sobrevivência ameaçada pelo isolamento.

Estamos vivendo um momento darwinista da política brasileira. A crise tríplice que o país atravessa — ética, política e econômica — pôs em xeque a sobrevivência das principais lideranças políticas nacionais e de um sistema de poder que parecia inexpugnável. O impeachment da presidente Dilma Rousseff em pleno curso, as agruras do governo interino de Michel Temer e o inferno que se abre para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a maioria de seus aliados ilustram esse cenário. Nas eleições municipais, por exemplo, assistiremos a uma grande batalha entre rancorosos, trouxas e trapaceiros. São milhares de candidatos a prefeito e a vereador a desenhar o futuro da política brasileira.

As regras do jogo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva virou réu pela primeira vez, acusado de obstruir a Operação Lava-Jato. Não foi uma decisão do juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, que investiga o suposto envolvimento do petista com as empreiteiras Odebrecht e OAS, protagonistas do escândalo da Petrobras. O ex-presidente da República contratou uma banca de advogados na Inglaterra para denunciar Moro no Comitê de Direitos Humanos da ONU, alegando perseguição política. Mas quem acolheu a denúncia foi o juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara da Justiça Federal de Brasília, que transformou em réus Lula, o ex-senador Delcídio do Amaral, o banqueiro André Esteves e mais cinco pessoas, por tentativa de obstrução da Operação Lava-Jato. Petistas já temem a prisão do ex-presidente da República.

O que aconteceu foi o seguinte: Delcídio Amaral fez acordo de delação premiada, depois de ser pego em flagrante tentando evitar a delação premiada do ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró. Esse instituto legal inverteu a lógica do “dilema do prisioneiro”, na qual a melhor estratégia era negar participação em qualquer ato criminoso, e não acusar o parceiro ou confessar. Essa era a regra do jogo no mundo da corrupção política. Por causa dela, os trapaceiros sempre levavam a melhor. A delação premiada fez com que confissão e a traição passassem a ser mais vantajosas. É aí que os trouxas e os rancorosos têm uma chance de levar a melhor na política, porque os bons rapazes (e moças) da Operação Lava-Jato — juízes, promotores e delegados — começaram a virar o jogo.

Encanamentos - Gustavo Franco

- O Estado de S. Paulo – Publicado em 31/7/2016.

Os que sofrem de insônia sabem como é penoso quando o sono termina às 3 da manhã e é preciso esperar o dia começar, sem muita alternativa. Passam-se longas horas de um descanso meio dolorido, quando a mente procura se organizar, planejar o dia, refletir sobre o sentido da vida, tudo misturado com os sonhos e pesadelos de uma noite mal dormida.

Assim estamos todos, esperando já despertos a homologação definitiva do afastamento de Dilma Rousseff e o encerramento oficial de um dos mais nefastos episódios de experimentalismo econômico que a nossa história registra.

A tragédia econômica, como se sabe, terá como apogeu a pior recessão da nossa história, medida pela sequência de quedas no PIB em 2015 e 2016, superando a Grande Depressão. É um recorde, numa modalidade sombria, a dos fracassos, e não há atenuante, nenhuma crise ou choque externo, tampouco bodes expiatórios. Pobre Guido Mantega, diante de cuja disciplina é mais correto contar seus dias no Ministério da Fazenda como vacância do que lhe atribuir a autoria de feitos urdidos pela chefia. Não deve haver nenhuma dúvida sobre quem mandava, e como as coisas eram conduzidas.

Pode-se contar a história de Dilma Rousseff, na melhor versão, ainda que um tanto inverossímil, como um fracasso econômico honesto. Ideias heterodoxas, genuinamente de esquerda, com tonalidades brizolistas e taninos populistas, implementada por subordinados descritos como “radicais porém sinceros”, uma expressão consagrada no governo militar para conferir indulgência a alguns psicopatas disparando fogo amigo.

Porém, esse voluntarismo inflacionista vago – não consigo descrever de outra forma – confrontava diretamente instituições e práticas estabelecidas com muito esforço a partir do Plano Real, quando o País venceu a hiperinflação, reconstruiu um bem social de valor inestimável, a sua moeda, sobretudo ao criar impedimentos para as condutas fiscais e monetárias que geravam a doença. A ressurreição das mesmas práticas danosas do passado, enfeitada por uma designação tecnocrática vazia (a Nova Matriz Macroeconômica), e oculta inicialmente por uma supostamente inofensiva “contabilidade criativa”, evoluiu para atropelamentos, jeitinhos e ilegalidades flagrantes com efeitos relevantes no processo eleitoral. As contas do governo federal foram rejeitadas pelo TCU, que felizmente não é o de outros tempos, e assim começou o processo de impeachment.

É curioso que os piores feitos da presidente não façam parte do processo formal de impeachment, como a destruição da Petrobrás, na qual teve responsabilidade direta, e suas conexões, aí incluída a omissão deliberada, com as quadrilhas envolvidas na Lava Jato que drenaram ao menos R$ 6 bilhões, conforme reconhecido no balanço da empresa, para a corrupção e para a campanha do PT. Note que o TST registra que a campanha presidencial de Dilma custou menos de R$ 300 milhões.

Felizmente, a partir de certo ponto, o julgamento do impeachment se torna político, o que introduz uma subjetividade por onde os senhores parlamentares podem apreciar o conjunto da obra, inclusive o temperamento a la Trump e o descuido com o idioma, que deu novos sentidos ao verso de Fernando Pessoa: “A gramática é mais perfeita que a vida. A ortografia é mais importante que a política”.

Para o bem do País, ela já podia ter renunciado, e acabado com “essa agonia”, nas palavras dela, em vez de vagar sonâmbula, cada vez menor, perdendo o nosso tempo. Seria ótimo adiantar o relógio, pois há muito o que fazer e as coisas importantes, segundo se espera, serão anunciadas apenas após o fim da “interinidade” de Michel Temer em agosto. Teremos a Olimpíada para nos distrair, tomara que tudo corra bem e que não passemos mais vexames, mas a economia vai contando os minutos ansiosa, carente, querendo ser feliz.

Por ora, enquanto o dia amanhece, já é possível enxergar uns vultos importantes que o nevoeiro ideológico vinha mantendo encobertos. Já se fala com sobriedade e equilíbrio sobre reformas trabalhistas, na Previdência e em privatizações. E também, entre tantas possibilidades, em mudar o absurdo funcionamento do FGTS, eliminar o imposto sindical, lipoaspirar o sistema “S”, rever a gratuidade das universidades públicas. Quem sabe também terminem com a Hora do Brasil, com a tomada de três pinos (que merecia uma CPI) e com o serviço militar obrigatório!

Subitamente, o horizonte ficou limpo, tudo é possível, ou ao menos discutível, e as pessoas, ao menos os visionários, querem acelerar o tempo, mudanças e “disrupção”, palavra ainda inexistente, ou dicionarizada, para descrever “destruição criadora”. Abriu-se a janela para “reformas”, na política e na economia, e parece haver demanda para diversos “Uber”, um para cada igrejinha, cartório e monopólio existente no País. Que bom seria ter um Uber para os partidos políticos, outro para a legislação trabalhista, e para os impostos, os bancos. O País precisa de competição, meritocracia, produtividade e do primado do talento, e não mais da tutela mal-intencionada do Estado, sempre disposto a promover um assistencialismo mal-ajambrado, onde as segundas intenções são mais importantes que as primeiras.

As autoridades econômicas parecem dispor de efetiva autonomia para formular as “reformas”, e as dúvidas sobre isso deveriam ser espancadas logo, admitindo-se a vigência de uma lição básica de Itamar Franco: a economia não é tudo, mas é quase, e nenhum governo vai conseguir atravessar a rua se a economia não estiver arrumada. E, para isso, observada a sabedoria australiana recente, é preciso encanadores, e não cangurus.

A equipe econômica de Michel Temer se tornou seu melhor ativo, sua face mais bonita e seu passaporte para o futuro, se, evidentemente, puder trabalhar com liberdade, desligada das métricas políticas clássicas, e equivocadas, do que é “popular”. Em vista da máxima, amplamente comprovada, segundo a qual nada é mais bem-sucedido que o sucesso, segue-se que nada é mais popular que a prosperidade econômica duradoura sustentável. O pior inimigo da mesma, tenha-se claro, é a prosperidade efêmera criada por vigarices populistas, tentação permanente nas terras altas do Brasil central.

Por ora, só se pode aguardar. As verdadeiras competições de saltos não necessariamente ornamentais sobre obstáculos difíceis, de arremesso de martelos, aparelhos e outras velharias corporativistas e de ginástica política verdadeiramente intensa começam mesmo em agosto.

Juntos para sempre - Ricardo Noblat

- O Globo

“Todo político pilhado na corrupção diz que é perseguido político”. Modesto Carvalhosa, jurista

O que restará da imagem de Lula esculpida com esmero ao longo dos últimos 30 anos por artesãos voluntários, no início, e depois por artistas pagos a preço de ouro e dotados do talento de transformar o feio em bonito? Sobreviverá aos graves danos que lhe reserva o desfecho próximo da Lava-Jato? Ou tombará como em Moscou tombou uma estátua de Lenin às primícias da dissolução da União Soviética?

O LENIN DE Moscou cedeu à fúria de manifestantes, assim como a gigantesca estátua do ditador iraquiano Sadam Hussein que enfeava uma praça no centro de Bagdá. Há pouco mais de quatro meses, na Ucrânia, um Lenin de 20 metros de altura que resistira, ali, à demolição de mais de mil réplicas suas, foi finalmente removido durante celebração transmitida ao vivo pelo YouTube.

QUANTO A Lula... O político que mais se destacou na história recente do país parece ter perdido em definitivo a chance de um dia ser imortalizado em bronze ou em pedra como foi padre Cícero, cuja estátua de 27 metros de altura atrai levas de romeiros a Juazeiro do Norte, Ceará. Embora cultuado no Nordeste, Lula já não controla o seu próprio destino. A Justiça é quem controla. NA SEMANA passada, pela primeira vez, Lula virou réu em um processo no qual é acusado de ter tentado obstruir a Justiça ao conspirar com o ex-senador Delcídio do Amaral (PT-MS) para impedir a delação de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras. Na denúncia feita pela Procuradoria Geral da República, ele é apresentado como a peça principal de uma organização criminosa.

ALVO ATÉ agora de seis investigações, Lula deverá em breve ser denunciado por ocultação de patrimônio e lavagem de dinheiro. A Lava-Jato reuniu indícios e provas de que ele é dono do apartamento da praia do Guarujá e do sítio de Atibaia, em São Paulo, reformados de graça pelas empreiteiras OAS e Odebrecht — ambas envolvidas na roubalheira da Petrobras. Há mais coisas por vir.

BASTA QUE Lula seja condenado por um juiz de primeira instância como Sérgio Moro, por exemplo, e em seguida por um tribunal de segundo instância, para que se torne um ficha-suja. Como tal, ficará impedido de disputar qualquer eleição à espera do julgamento em última instância. Seria o trágico fim da carreira política do primeiro operário a chegar por aqui à Presidência da República.

QUEDA vertiginosa, essa que Lula vive. Há dois anos, líderes de quase todos os partidos e donos de grandes fortunas o pressionavam para que se lançasse candidato no lugar de Dilma. Seria a volta triunfal do pai dos pobres e da mãe dos ricos. Sabia-se de sobra por que os pobres queriam o seu retorno. Somente agora, sabe-se por que tantos ricos também queriam.

FALTOU coragem a Lula para peitar Dilma. Sobrou atrevimento a Dilma para confrontar seu criador e arrastá-lo escada abaixo. Lula culpa Dilma por sua desgraça. Dilma culpa Lula por ter lhe deixado uma herança de corrupção. Cada um fala mal do outro pelas costas. Querem se ver logo pelas costas. E, no futuro, nem pelas costas querem mais se ver. Até nunca!

NÃO IMPORTA. São inseparáveis. Foram cúmplices em tudo o que fizeram para o bem e para o mal. O carismático ex-líder operário pode ser preso a qualquer momento, a não ser que fuja para o exterior. A executiva portadora de falso conhecimento econômico está às vésperas de ser deposta. À espera dela, processos e mais processos. E — quem sabe? — cadeia.

Temer, 2018 e um detalhe - José Roberto de Toledo

• Peemedebista não pode cogitar reeleição antes de garantir 2016 – e sobreviver a 2017

- O Estado de S. Paulo

Mal a manchete do Estado foi ao ar, Michel Temer já estava divulgando nota de resposta. Declarou-se honrado com “a lembrança” de seu nome como candidato a presidente em 2018, mas disse não cogitar disputar “reeleição”. Reagia à entrevista do novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), que afirmara que, se o interino for efetivado pelo Senado e se sair bem, ele seria o candidato natural do “nosso campo”. No mesmo dia, reportagem na Folha de S.Paulo atribuía a ministros idêntico prognóstico.

Pode ter sido um acesso coletivo de servilismo para agradar o chefe, pode ter sido excesso de imaginação, pode ter sido até uma tentativa premeditada de vender otimismo em momento de incerteza. A intenção importa menos do que a consequência. A pronta negativa evidenciou o instável equilíbrio no qual se assenta o governo interino. Temer não pode nem mesmo cogitar 2018 antes de garantir 2016 – e sobreviver a 2017.

Os destinatários inominados da nota foram Aécio Neves e Geraldo Alckmin, que guardavam lugar na fila presidencial de 2018 antes de Temer nem sequer sonhar em sair da penumbra da vice-presidência da República. No grande acordo do impeachment, ele prometeu-lhes que jamais seria candidato.

Até aí pode-se enumerar tudo o que Temer disse sobre a inviabilidade do impeachment de Dilma Rousseff para lembrar que, como profeta político, o interino é um grande poeta. Mas Temer depende dos votos do PSDB para garantir a condenação de Dilma e sua efetivação. Depois, necessitará dos tucanos para aprovar as reformas que diz serem essenciais. Logo, não é questão de compromisso, mas de pragmatismo.

Por isso, talvez o “lançamento” simultâneo da candidatura Temer 2018 tenha mirado outros alvos – não externos, como Alckmin e Aécio, mas de dentro do próprio governo. Nove entre dez emas do Palácio do Alvorada apostam que tanto José Serra (Itamaraty) quanto Henrique Meirelles (Fazenda) sonham refazer a trajetória de Fernando Henrique para chegar à Presidência. Ambos expandem seus feudos para ampliar seu poder dentro do governo.

O “Temer 2018” serve para lembrá-los de que, se tudo der certo, eles não são os únicos que se beneficiarão do eventual sucesso. Há o detalhe de que, hoje, Temer é inelegível, mas quem tem Gilmar Mendes do seu lado não se preocupa com detalhes.

Detalhe mais difícil de superar é mesmo a realidade das urnas. Pesquisa do instituto Ipsos mostrou que a avaliação do presidente em exercício piorou de junho para julho. Novos cruzamentos da sondagem, divulgados aqui com exclusividade, revelam o que pegou mais para a população nesse período de interinidade de Temer: inflação, desemprego e corrupção.

Em um mês, cresceu de 40% para 56% a taxa dos que desaprovam a maneira como Temer combate o aumento continuado de preços. Não é a única causa do aumento da impopularidade presidencial que cai na conta do ministro da Fazenda. A desaprovação sobre como o governo interino está combatendo o desemprego pulou de 44% para 59% – a maior taxa de desaprovação entre todos os itens pesquisados. É injusto despejar tudo em Meirelles, porém.

Outras taxas de desaprovação cresceram muito: no combate à corrupção, subiu 16 pontos; no combate à violência, 15; na reforma política, 14. Mas a economia é a que guarda relação mais estreita com a popularidade. Daí que pioras de avaliação sobre inflação e desemprego tendem a aumentar a tensão entre a área política (PMDB) e a econômica (Meirelles).

O pior para Temer é se continuar o jogo de empurra-empurra entre as duas alas: uma diz que a retomada econômica depende de o Congresso aprovar reformas, e a outra responde que a Fazenda não faz nada além de ameaçar com mais impostos. Nesse passo, Temer não precisa mesmo cogitar 2018 porque mal chegará lá.

Cogitações do mês do desgosto – Valdo Cruz

- Folha de S. Paulo

Agosto, dizem, é o mês do desgosto. O que começa hoje será motivo de amargura para Dilma Rousseff e Eduardo Cunha, mas vai trazer angústia a muita gente boa da política. Afinal, a Lava Jato, depois do recesso de julho, deve voltar a agitar as nossas manhãs.

No mês do cachorro louco, a presidente Dilma pode começar a sair de cena em definitivo e corre o risco de virar um dos maiores casos de ostracismo da política brasileira.

A proximidade deste desfecho faz alguns aliados do presidente interino, Michel Temer, lançarem a candidatura dele à reeleição. Alguns, com boas intenções. Outros, dentro da estratégia de sepultar tal hipótese, pois são candidatos ao posto de Temer.

O detalhe é que o presidente, na busca de se afastar da tentação, solta uma nota e diz: "Não cogito disputar a reeleição". Como bem define o Houaiss, cogitar é pensar com insistência a respeito de algo. Não chega a ser um não peremptório.

Talvez seja apenas o estilo rebuscado de Michel Temer, mas pode esconder outras cogitações, inapropriadas se postas antes do julgamento do impeachment de Dilma.

Na mira do desconsolo de agosto, Eduardo Cunha não só cogita como age para jogar a votação de sua cassação para depois do processo da petista, num sonho de sobrevivência.

Conta com o apoio de aliados no governo, temerosos de que, cassado, o ainda deputado caia atirando e tumultue o que é visto como certo, o impedimento definitivo da petista.

Não se assustem se der certo. Muitos desejam escapar de suas garras.

Ainda no campo das meditações, boa parte do PT já não suporta mais a novela do afastamento da presidente. A turma petista nunca gostou muito dela. Ganhou mais motivos depois que Dilma jogou para o PT a responsabilidade pelo pagamento de seu marqueteiro com caixa dois.

Enfim, agosto promete gerar muita desolação. Mas pode também limpar a área para o Brasil voltar à normalidade. A conferir, com aflição.

Arena para a disputa entre Serra e Meirelles - Marcos Nobre

• O governo Temer se vê como germe de um novo polo de poder

- Valor Econômico

Em março de 2006, o então prefeito de São Paulo, José Serra, deixou o cargo para concorrer ao governo do Estado. Foi quando seu vice, Gilberto Kassab, assumiu a prefeitura. Em 2008, Kassab foi eleito prefeito de São Paulo como cabeça de chapa. Filiado então ao DEM, Kassab considerou que sua vitória na eleição da maior cidade do país o credenciava automaticamente a ocupar a direção do partido a que pertencia.

O DEM, herdeiro do PFL, parecia destinado ao desaparecimento. Em 1998, o PFL tinha atingido o seu pico na década de 1990, elegendo algo como 20% dos deputados federais (seu auge havia se dado em 1986, quando elegeu quase um quarto da Câmara). A partir de então, em uma tentativa de interromper seu declínio eleitoral, mudou o nome para DEM, em 2007. Mas a mudança não surtiu o efeito esperado. Na eleição de 2010 conseguiu eleger pouco mais de 8% dos deputados.

Foi nesse momento que Kassab desistiu de esperar que a cúpula partidária desbloqueasse o caminho para sua ascensão no partido, suspendendo o veto à sua liderança. Partiu para a criação de um novo partido, o PSD, fundado em 2011. O ciclo de governos petistas parecia que iria durar 20 anos. E tinha muita gente cansada de viver do pão e água que cabem a quem é oposição. Queriam aderir. Precisavam apenas da porta institucional adequada para isso.

A iniciativa coincidia também com o projeto do governo Dilma de diminuir a força do PMDB, colocando lenha na fogueira da fragmentação partidária. Sendo possível roubar parlamentares tanto do PMDB quanto da oposição, o resultado deveria levar à formação de um ou dois partidos médios capazes de competir com o PMDB pela liderança da base. A iniciativa coincidia ainda, do lado oposto, com o projeto do candidato derrotado na eleição, José Serra, que queria construir um plano B para uma nova postulação presidencial, já que o PSDB parecia um caminho bloqueado para suas pretensões tanto por Aécio Neves quanto por Geraldo Alckmin.

O PSD nasceu já como a quarta maior bancada na Câmara, com 48 deputados, além de dois senadores. Na eleição seguinte, em 2012, passou a ocupar o lugar de quarta força política em termos do número de prefeituras conquistadas. O sucesso foi tanto que Kassab pensou até mesmo em abrir uma franquia, refundando outro partido, o PL, surfando na insanidade normal que tinha se tornado a fragmentação partidária.

Para mostrar que Kassab pegava todas as ondas que aparecessem, fundou o PSD também em acordo tácito com o PSB, liderado pelo então governador de Pernambuco, Eduardo Campos, falecido no início da campanha eleitoral de 2014. Havia um acerto de que o novo partido não invadiria terreno do PSB e que passariam a jogar juntos, em atuação complementar. Essa outra vertente do projeto de Kassab vislumbrava, desde 2011, a formação de um polo alternativo viável ao binômio PT-PSDB.

Os rumos tomados pelos dois partidos desde então não convergiram para esse objetivo. Após a morte precoce de Eduardo Campos, a cúpula do PSB se amarrou à candidatura presidencial do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Mas, após a votação do impeachment de Dilma Rousseff na Câmara, parte da cúpula do PSD retomou esse antigo projeto em novas bases. Trabalha hoje para um alinhamento em torno de uma candidatura que saia do governo Temer, entendido como germe de um novo polo de poder.

O primeiro obstáculo no caminho desse projeto é o próprio PSD. Afinal, o partido é figura de proa dos 170 votos obtidos por Rogério Rosso em sua candidatura à presidência da Câmara, quando foi derrotado pelos 285 votos de Rodrigo Maia. Desde a fundação do PSD, Kassab é seu presidente, mas desde a ascensão de Eduardo Cunha à presidência da Câmara, em fevereiro de 2015, não consegue mais impor sua liderança ao partido. Para retomar a direção de seu próprio partido, Kassab precisa desfazer a teia montada por Eduardo Cunha.

Para isso, precisa de Temer. E o presidente interino mostrou estar em completo acordo com o projeto quando enunciou a declaração de guerra desastrada de que pretendia "desidratar essa coisa de Centrão". A vitória de Rodrigo Maia veio com a defecção de um importante integrante do baixo Centrão, o PR. A desidratação definitiva do bloco começará com a retomada por Kassab do efetivo controle do PSD, que marcará a retomada do controle pelas cúpulas partidárias. Será a última estaca no coração de Eduardo Cunha, unificando a base parlamentar do novo governo, hoje ainda fraturada.

Se bem sucedida a reorganização envolvendo PSD, PMDB e setores do PSDB, do PPS e mesmo do DEM, um novo polo de poder terá se formado. E, com ele, terá sido montada uma arena organizada para a disputa entre Serra e Henrique Meirelles pela candidatura presidencial de 2018. Se os dois ministros continuarem a travar a disputa em campos políticos distintos, a possibilidade de fratura interna do governo passa a ser alta e potencialmente autodestrutiva.

Bem-sucedida a construção do novo polo, tanto no Congresso quanto no governo, Meirelles (que é filiado ao PSD) e Serra (que não tem chance de sair candidato pelo PSDB) ficam avisados da nova regra de medir forças dentro de um mesmo novo campo político. Não é um objetivo evidente de ser alcançado, como o demonstra o lançamento amalucado de Michel Temer à reeleição por Rodrigo Maia em entrevista a "O Estado de S. Paulo" publicada ontem. Mas é o plano mais sofisticado de que dispõe o governo Temer não apenas para conseguir sobreviver como para se projetar para além de 2018.

A sequência Olimpíada, votação final do impeachment e eleições municipais dará bons três meses de trégua ao atual governo. Só que o tempo é curto para consolidar o ambicioso novo projeto. As eleições municipais são oportunidade preciosa para essa construção. Mas serão também marcadas por uma altíssima rejeição ao sistema político e por novas regras de financiamento de campanha que tornam ainda mais imprevisível o resultado. Para piorar, as próximas eleições serão um momento de especial selvageria em uma luta partidária mais fragmentada do que nunca.
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Marcos Nobre é professor de filosofia política da Unicamp e pesquisador do Cebrap.

O que nos reserva o segundo semestre - Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

Nossa esperança foi sequestrada. É preciso resgatá-la. A credibilidade dragada pela corrupção generalizada, a confiança minada pelo desemprego e pela recessão e a instabilidade instalada pelo doloroso e longo processo de impeachment e pela névoa que envolve importantes lideranças do Congresso desafiam as instituições e o sistema político brasileiro.

O Brasil precisa urgentemente mudar o rumo. Essa não é a primeira nem será a última crise brasileira profunda. Mas estamos perdendo o fio da meada, a rota do crescimento, a eficiência das políticas públicas e a fé no futuro.

Tenho 34 anos de vida pública. E, apesar de todas as mazelas e escândalos, tenho para mim, sem nenhum medo de errar, que o Brasil é hoje melhor do que era quando, em 1982, me elegi vereador na terra de Itamar Franco. Naquela época, faltava liberdade e sobravam desigualdades, havia instabilidade nos preços e no front externo. Hoje, mal ou bem, temos o maior grau de liberdade de toda a nossa história, diminuímos nas últimas décadas as diferenças regionais e pessoais de renda e estabilizamos a economia. Essas conquistas estão ameaçadas, é verdade. O populismo, o voluntarismo, a irresponsabilidade fiscal e a apropriação partidária do aparelho de Estado resolveram brincar com fogo e nos levar para um arriscado passeio à beira do abismo.

Este segundo semestre de 2016 será decisivo para a configuração de nosso futuro como nação e sociedade.

Começaremos por um brutal desafio: as Olimpíadas. O mundo inteiro estará com os olhos no Rio de Janeiro. Temos que superar as falhas de infraestrutura, reafirmar o ambiente sedutor de nossa Cidade Maravilhosa e sermos eficientes no combate à criminalidade e ao terrorismo.

Logo após teremos eleições municipais. Oxalá façamos dessa oportunidade um momento de reafirmação dos valores republicanos e de arejamento do ambiente político, recuperando o papel das lideranças políticas como referências inspiradoras para todos e espelhos para as novas gerações, como foram para mim Tancredo, Ulysses, Covas, FHC, Teotônio e Montoro.

Teremos, ainda, a conclusão do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, colocando um fim num ciclo de improbidades, crimes fiscais, abusos de poder. Isso, combinado com a emblemática cassação de Eduardo Cunha, deverá trazer mais estabilidade política e destravar a pauta de ações e decisões do governo e do Congresso.

É fundamental avançarmos em reformas essenciais, como a definição de um novo regime fiscal que aponte para a superação de nosso déficit astronômico, a modernização das regras que regem as relações de trabalho, a solução estrutural para nosso sistema previdenciário, a simplificação e melhoria de nosso sistema tributário e o redesenho de nosso pacto federativo.

Agenda cheia para um semestre. Não é fácil. Mas o Brasil tem pressa. Ou agimos, ou perderemos o bonde da história. Ou nossa esperança sequestrada não será resgatada.
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Marcus Pestana é deputado federal (PSDB -MG)

Tentação eleitoreira de Temer diminui a chance de sucesso do seu governo – Vinicius Mota

- Folha de S, Paulo

A aproximação da provável confirmação pelo Senado do impeachment de Dilma Rousseff excitou a comichão eleitoreira no governo Michel Temer. Até certo ponto, era bola cantada.

Político é um ser autoindulgente ao avaliar suas possibilidades de carreira. Do jovem candidato a vereador ao incumbente do Planalto, todos se julgam capazes de arrebatar a Presidência no próximo pleito caso consigam boa condição de disputa.

A insinuação neste momento da ambição eleitoral de Temer, porém, diminui a probabilidade de sucesso do seu governo.

A coalizão que viabilizou seja o impeachment, seja a estabilização de maioria governista no Congresso, foi soldada pela recusa explícita do vice a candidatar-se em 2018. A mera suspeita de quebra do compromisso vai prejudicar o trâmite dos interesses do Planalto no Legislativo.

Por que desgastar-se agora com a restrição dos gastos da União e dos Estados, com o endurecimento das regras de aposentadoria ou com uma alta de impostos para entregar o bônus futuro a Temer? O PSDB, que almeja ter candidato em 2018, deve estar se fazendo essa pergunta.

Veem-se também várias concessões na agenda fiscal do governo à predação corporativista. Henrique Meirelles, outro que parece encantado por fantasias eleitorais, não se comporta na Fazenda como o falcão austero da autopropaganda.

As roldanas do ceticismo voltam discretamente a girar. Distanciou-se no horizonte a queda dos juros. À ligeira retomada da atividade em 2017 poderá facilmente suceder-se um longo período de estagnação caso a derrocada nas finanças públicas não seja enfrentada pela política.

Temer candidato não teria força legislativa nem interesse próprio para tocar reformas impopulares. Correria o risco de ser neutralizado como ator político nos próximos dois anos e de legar ao sucessor a bomba-relógio da explosão inflacionária.