domingo, 29 de outubro de 2017

Opinião do dia: Hannah Arendt

Quando, à luz do perigo que os acontecimentos expuseram a humanidade, nos perguntamos se a política ainda tem algum significado, estamos também levantando - em termos vagos e sem levar em conta seus vários possíveis significados – várias outras questões. As perguntas que acompanham a pergunta que foi o nosso ponto de partida são: primeiro, terá a política afinal algum propósito, algum fim? E esta pergunta significa: os fins que a ação política podem buscar valem os meios que, sob certas circunstâncias precisam ser empregados para alcança-los? Segundo, existirão, dentro da esfera política, objetivos pelos quais podemos nos orientar com segurança? Se sim, não serão seus parâmetros totalmente ineficazes e, portanto, utópicos? Será que todo empreendimento político, uma vez colocado em movimento, não deixa de se importar com objetivos e parâmetros e passa a seguir o curso que lhe é inerente, não podendo ser detido por nada for dele? Terceiro, não será característico da ação política, pelo menos em nossa época, ser destituída de qualquer princípios, de modo que, em vez de brotar das muitas fontes possíveis da comunidade humana e se alimentar dessas profundidades, ela se aferra oportunisticamente à superfície dos acontecimentos cotidianos e se deixa jogar em várias direções, de modo que o que se alardeia hoje sempre contradiz diretamente o que aconteceu na véspera? Não terá a ação chegado ao absurdo e enterrado os princípios, ou fontes, que um dia talvez a tenham colocado em movimento?

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Hannah Arendt (1906-1975), ‘A promessa da política’, p.260, Difel, 2008.

O filho de Cesar Maia: Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Temer desce, Rodrigo Maia sobe. Cresceu, encorpou e está cheio de minhocas na cabeça

Michel Temer foi o grande vencedor na votação das duas denúncias de Rodrigo Janot, certo? Nem tanto, porque Temer vem encolhendo a cada pesquisa, a cada delação e a cada ginástica para salvar o pescoço na Câmara. E, quanto mais ele encolhe, mais Rodrigo Maia infla.
Derrotada a segunda denúncia na Câmara, quem ocupou os espaços na mídia não foi Temer, foi Maia. Isso diz muito. Diz, por exemplo, que Temer venceu, mas está em contagem regressiva para virar passado, enquanto Maia afirma-se no presente e se lança para o futuro.

Há uma fatalidade histórica nessa balança entre Temer e Maia: presidentes fracos, Congresso forte. Foi assim com Sarney e Ulysses o tempo todo, com Fernando Henrique e Antônio Carlos Magalhães em alguns momentos e com Dilma e Eduardo Cunha, principalmente no fim da era PT.

Como o próprio Maia repete, por mais fraco que seja, um presidente sempre é forte, porque tem os “instrumentos” – a caneta, por exemplo. Mas, se a principal meta de Temer é a reforma da Previdência, ele só tem alguma chance se Maia usar seus próprios “instrumentos”.

É Maia quem define a pauta, “esquece” ou não pedidos de impeachment, articula com os líderes, conhece cada deputado, sabe ler (e, quando necessário, manipular) o regimento. Temer tem o pão e quer fazer um sanduíche, mas é Maia quem está com a faca e o queijo na mão.

O tempo na política: Vera Magalhães

- O Estado de S. Paulo

Ele não é linear e, se não é usado com sabedoria, pode ser fatal para reputações e pretensões

Michel Temer ganhou tempo. É provável que a decisão apertada da Câmara pelo arquivamento da segunda denúncia de Rodrigo Janot tenha lhe garantido a conclusão do mandato, em dezembro de 2018. Mas esse tempo é suficiente para que o vice que ascendeu ao poder após a queda de Dilma Rousseff deixe algum legado capaz de apagar a impopularidade recorde e o “feito" de ter sido o primeiro e único presidente denunciado por crimes supostamente ocorridos no exercício do mandato? Difícil.

Um ano é pouco para pôr em marcha uma agenda legislativa ambiciosa e uma administração eficiente e inovadora. Por outro lado, pode ser uma eternidade para alguém que terá de monitorar o humor de aliados de toda uma vida que estão presos e podem resolver falar.

O tempo na política não é linear, e, se não é usado com sabedoria, pode ser fatal para reputações, mandatos e pretensões eleitorais. Temer não é o único político a ter a ampulheta como ameaça. Basta ver o exemplo de Aécio Neves. Saiu fortalecido das urnas em 2014, com mais de 49 milhões de votos, disposto a levar a cabo uma ação para cassar Dilma Rousseff e credenciado para liderar a oposição.

Nas mãos do TRF-4: Merval Pereira

- O Globo

As decisões do Tribunal Federal de Recursos da 4ª Região chamam a atenção pelo rigor que sua 8ª Turma utiliza na reavaliação das condenações em primeira instância dos casos da Operação Lava-Jato, mas também dão margem a esperanças por terem absolvido, em duas ocasiões, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, depois de condenado pelo juiz Sérgio Moro.

O ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha teria recuado de sua disposição de fazer uma delação premiada por, entre outras coisas, ter esperança de que o TRF-4 de Porto Alegre o absolva. Está nas mãos também dos três juízes da 8ª Turma — os desembargadores João Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen e Victor Laus — a candidatura de Lula à presidência da República em 2018.

Condenado em segunda instância, o ex-presidente ficaria inelegível pela Lei da Ficha Limpa, mas haverá uma ampla batalha judicial para tentar mantê-lo na disputa. Como já ressaltei aqui mesmo na coluna, além de não ser automática, dependendo da decisão do colegiado, segundo o Superior Tribunal de Justiça, a condenação de segunda instância, se não for por unanimidade, não se encerra antes que embargos sejam julgados.

O direito ao delírio: Fernando Gabeira

- O Globo

Nos últimos anos de vida política em Brasília, disse a amigos que queria incluir uma nova bandeira entre as lutas cotidianas: o direito ao delírio. Sabiam que a palavra delírio não designava alteração da consciência, produzida por drogas. Ainda assim, não entendiam bem. Minha referência eram as alucinações que épocas, partidos, grupos e indivíduos cultivam sobre si próprios e, na maioria dos casos, são dissipadas pelo curso dos fatos.

Agora, posso voltar ao tema e avançar um pouco na explicação sucinta daquele momento. Pressinto que o próprio país caminha, depois de tantos embates, para uma fase que chamo de pós ideológica, consciente da precariedade do termo.

As duas correntes que as pesquisas indicam como as preferidas, no momento, são as que travam um debate ideológico. Minha própria ideia de que se caminha para uma fase pós ideológica também é uma dessas ilusões que precisam ser testadas na prática. O problema não é ter ilusões, mas sim buscar a maior proximidade com os fatos. Tanto o marxismo, de certa forma herdeiro do iluminismo, como os liberais conservadores partem do que pode ser um erro fundamental.

Não me interessam aqui as explosões radicais, as brigas cotidianas em si próprias. Mas sim o nobre fundamento sobre a qual estão apoiados os contendores. Ambos os lados procuram, através do diálogo e dos confrontos, um consenso sobre a melhor maneira de viver bem. Nesse sentido, perseguem uma ilusão inalcançável. Nas sociedades complexas e diversificadas, o consenso não existe, nem está no horizonte. No seu lugar, é preciso introduzir a ideia de convivência pacífica, o que alguns autores chamam também de modus vivendi.

Supremo constrangimento: Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

O barraco que parou o Supremo Tribunal Federal na quinta-feira não foi um incidente isolado. O ministro Luís Roberto Barroso apenas expôs em público o que outros juízes da corte já diziam em privado. O incômodo com as práticas de Gilmar Mendes chegou ao limite.

O copo transbordou quando Gilmar abandonou o tema em julgamento para ironizar uma decisão de Barroso em outro processo. Deu-se o seguinte bate-boca: "Não sei para que hoje o Rio de Janeiro é modelo". "Vossa Excelência deve achar que é Mato Grosso, onde está todo mundo preso". "E no Rio, não estão?". "Nós prendemos. Tem gente que solta".

Irritado com a lembrança, Gilmar acusou o colega de ter soltado o ex-ministro José Dirceu, que ele próprio libertou há seis meses. Barroso perdeu a paciência e reagiu. Sem quebrar o protocolo, chamou Gilmar de mentiroso ("Vossa excelência normalmente não trabalha com a verdade"), parcial ("Vai mudando a jurisprudência de acordo com o réu") e defensor de corruptos ("Não transfira a parceria que vossa excelência tem com a leniência em relação à criminalidade do colarinho branco").

Tempos de histeria: Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Vivemos tempos histéricos. Não que isso seja o fim dos tempos. A democracia liberal permite aos cidadãos serem tão hiperbólicos quanto desejarem.

Apesar de o exagero ser permitido, não creio que seja bom conselheiro. Ao contrário, penso que uma análise equilibrada dos fatos é o ponto de partida necessário para decisões sábias. Assim, hesito entre a frustração e o divertimento (não podemos perder o bom humor) ao ver gente protestando contra a "pedofilia em museus, a "ração humana para pobres ou a "revogação da Lei Áurea.

O Congresso andou endurecendo as leis de crimes sexuais, mas, até onde sei, levar filhos a uma exposição que mostre nus ainda é uma atitude legal, assegurada pelo princípio da liberdade de expressão e pelas normas que dão à família o direito de educar rebentos segundo seus próprios valores, não os do MBL.

Mentiras convenientes: Míriam Leitão

- O Globo

Na era da pós-verdade, é bom o retorno a algumas realidades: a ex-presidente Dilma provocou surto inflacionário, recessão e desrespeitou as leis fiscais. Mereceu o impeachment que sofreu. Seu vice foi escolhido por quem formou a chapa e votou nela. Dilma e Temer são frutos da mesma escolha partidária e eleitoral. Criticar um não é apoiar o outro, e vice-versa.

O ex-presidente Lula, que escolheu Dilma sem ouvir o partido, usando seu poder majestático, diz agora que o povo se sentiu traído quando ela fez o ajuste fiscal e quando aprovou as desonerações para as empresas. Está querendo se descolar da ex-presidente, que deixou o governo com baixo nível de popularidade. Como a aprovação do presidente Temer é ainda mais baixa, muita gente esqueceu que ela chegou a ter apenas 10% de ótimo e bom.

Lula conhece esses números e estava esperando um bom momento e lugar para fazer essa separação de corpos entre ele e a sua sucessora. Escolheu um jornal estrangeiro, para ter menos contestações às suas invenções. Escolheu criticar dois pontos que acha que são antipáticos: o ajuste fiscal e a transferência de dinheiro para empresários. Ajuste, como as dietas, ninguém gosta de fazer. É apenas necessário quando há um descontrole como o criado pela Dilma. Ela recebeu o país com 3,5% do PIB de superávit primário, entregou com 2,4% de déficit e colocou a dívida pública numa rampa na qual ela continua subindo.

Dois importantes pronunciamentos: Bolívar Lamounier*

- O Estado de S.Paulo

O do primeiro-ministro chinês Xi Jinping e o do deputado federal brasileiro Tiririca

Na semana passada e na anterior tivemos dois importantes pronunciamentos: o de Xi Jinping, primeiro-ministro chinês, e o de Tiririca, deputado federal brasileiro. A importância do primeiro decorreu mais do peso econômico e político da China no mundo que de seu conteúdo. Afirmo isso porque a substância do pronunciamento é bem conhecida.

Em sua fala de três horas e meia, o mandatário chinês reafirmou que a China é hoje uma superpotência econômica e política e fadada a um importante protagonismo no cenário mundial. E não precisou bater no peito para indicar que ele, como líder do Partido Comunista, está próximo de atingir uma estatura política comparável à de Mao Tsé-tung e Deng Xiaoping.

Mantidas as devidas proporções, Tiririca também disse uma coisa relevantíssima, embora desconhecida da maioria dos brasileiros. Anunciando que não pretende se recandidatar no ano que vem, ele afirmou: “Vim para cá pensando em aprovar projetos, mas a coisa aqui é muito complicada”. Para bom entendedor, pingo é letra.

A hora da social-democracia: José Roberto Mendonça de Barros *

- O Estado de S.Paulo

Do ponto de vista político, será essencial a eleição de um candidato reformista

Martin Wolf, o mais importante colunista econômico do mundo, analisando um possível governo trabalhista inglês, liderado por Jeremy Corbyn, nos lembrou recentemente que o socialismo não é exatamente uma ideia nova. Ele já foi experimentado mais de uma vez em três variedades: autocracia, populismo e social-democracia. O socialismo autocrático foi o da União Soviética e de Mao Zedong. Mostrou-se uma catástrofe. A social-democracia dos países nórdicos ou da Holanda, em contraste, tem sido um triunfo. Esses países estão entre as sociedades mais bem-sucedidas do planeta: ricas, dinâmicas e estáveis. Finalmente, o populismo socialista, tão característico da América Latina, nunca funcionou economicamente.

Por que a social-democracia europeia tem sido um sucesso?, pergunta Wolf. A resposta é que ela entende as restrições fundamentais para desenhar um programa que dê certo, especialmente para quem acredita em um governo ativo. Antes de tudo, é preciso aceitar que os recursos são finitos e que existem restrições orçamentárias ao gasto público a serem respeitadas. Em segundo lugar, o papel central do crescimento está no desempenho do setor privado, tanto na liderança da economia quanto no investimento e na introdução do progresso tecnológico. Por isso, são decisivos incentivos adequados, respeito às leis e estabilidade institucional. Como resultado, as coisas funcionam não porque o governo comanda, mas porque o governo motiva.

O futuro em São Paulo: Geraldo Alckmin

- Folha de S. Paulo

Em relatório recente sobre mudança tecnológica e emprego, o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) cita a estimativa de que 65% das crianças que ingressam hoje na escola vão trabalhar, no futuro, em profissões que ainda não existem.

Vivemos o tempo da mudança e da velocidade da mudança, e os estudiosos já têm nome para ele: Quarta Revolução Industrial. Ela funde métodos de produção com as tecnologias de informação e conecta os domínios físicos, digitais e biológicos. Cria, assim, interação direta entre pessoas, equipamentos, sistemas e produtos.

Para tratar dos impactos dessa revolução inédita em profundidade e amplitude, o Fórum Econômico Mundial escolheu o Estado de São Paulo para sediar sua 13ª edição latino-americana, que acontecerá na capital paulista nos dias 13, 14 e 15 de março de 2018.

Em janeiro, em preparação para o evento, eu irei a Davos para a reunião anual de líderes que tratam de temas de interesse global, em especial os econômicos.

A escolha do WEF é motivo de orgulho para nós. Síntese das potencialidades do Brasil, o Estado de São Paulo é o maior centro econômico e industrial do continente e tem também o maior parque tecnológico, algumas das melhores universidades da América Latina e institutos de pesquisa reconhecidos por contribuições científicas nas mais diversas áreas de conhecimento.

Aqui, temas como inteligência artificial, internet das coisas, robótica, nanotecnologia, engenharia genética, veículos autônomos, aplicações das impressoras 3D e muitos outros que já se anunciam como realidade serão apresentados e discutidos pela comunidade científica, líderes políticos e representantes de organizações internacionais.

Não é o que parece: Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

O presidente Temer comemora a rejeição da segunda denúncia de Janot, mas quem emerge com uma “sombra de futuro” para além de 2018 é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia

Um dos erros mais crassos na política brasileira é confundir a força do governo — qualquer governo, inclusive o pior deles — com o poder pessoal do governante ou do partido. O governo será sempre a forma mais concentrada de poder, como ensinou Norberto Bobbio, porque arrecada, normatiza e coage, mesmo quando nada mais funciona a contento numa administração. Isso cria uma ilusão, uma espécie de autoengano, que muitas vezes acaba numa grande derrocada, como aconteceu com a ex-presidente Dilma Rousseff, ou leva ao progressivo enfraquecimento, até que o governante perca qualquer capacidade de influir na própria sucessão, o caso do ex-presidente José Sarney.

Esse força é exacerbada pelas características do Estado brasileiro, que se antecipou à nação, e os laços tecidos com as oligarquias e corporações em razão de nosso velho iberismo. A elite brasileira é dura na queda quando está unida, mesmo que contra ela se oponha a maioria do povo. Historicamente, sempre foi pelo alto que se deu a modernização. O grande problema é que o moderno na economia manteve a exclusão social e as desigualdades regionais, embora a sua força avassaladora se impusesse sempre que um ciclo econômico se encerrava para dar lugar a outro, esgotado um determinado modelo. Em todos esses momentos, houve forte conexão com os fluxos da economia mundial, agora ainda mais acentuada pela globalização.

Mudar as regras do jogo: Cacá Diegues

- O Globo

Tenho torcido para que as eleições de outubro de 2018, daqui a menos de um ano, representem uma refundação do país, com novas ideias, políticas e pessoas públicas, com novos projetos capazes de reinaugurar o Brasil. Mas, pelo jeito, está difícil. Ainda não vi um só movimento nessa direção.

Do ponto de vista dos atores do drama, ainda não ouvimos falar de um só nome que não esteja comprometido, de algum modo, com o passado perverso da vida pública nacional. Ninguém representa alguma coisa que já não esteve ou ainda está instalada nos palácios de Brasília. Até agora, ninguém teve coragem de dizer que não quer nada disso que está aí, seja do governo ou da oposição.

Aquilo que se considera de direita, que sempre foi raivosa e sem charme, se organiza defendendo uma economia liberal, sob controle de política autoritária. A esquerda, cada vez menos charmosa e mais raivosa, defende uma economia sob o controle do Estado, com uma política liberal para os museus de todo o país. E tome porrada de um lado e de outro, sem um minuto sequer de reflexão sobre o que está se tornando o mundo de hoje.

Ao lado de Alckmin e Doria, Roberto Freire convoca “frente democrática” para 2018

- Fábio Matos/Assessoria do Parlamentar/ Portal do PPS

Em um auditório completamente lotado que contou com significativa participação da militância de todo o estado, o PPS de São Paulo realizou neste sábado (28) o seu Congresso Estadual. Durante o encontro, realizado na capital paulista, o deputado federal Roberto Freire (SP), presidente nacional do partido, defendeu a unidade de todas as “forças democráticas” para as eleições de 2018.

O evento também contou com as presenças do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do prefeito João Doria (PSDB), que saudaram os militantes, vereadores, prefeitos e as demais lideranças do PPS. Ambos também corroboraram a necessidade de união do campo democrático para que seja evitada uma polarização entre os extremos do espectro político, sobretudo na disputa presidencial do ano que vem.

“Temos de buscar a unidade de todos aqueles que conosco concordam que o Brasil precisa mudar. E não seremos nós, isolados, que faremos o país mudar”, disse Freire. “Precisamos enfrentar esse atraso e os extremos, seja à direita ou à esquerda, ambos descompromissados com o processo democrático. 

Não são movimentos que integram e unificam o Brasil. Precisamos construir uma frente democrática, que também pode ser chamada de centro democrático ou qualquer outra denominação, que reúna todos aqueles que lutaram pela liberdade e foram vitoriosos, pelo bem e pelo futuro do Brasil”, prosseguiu o parlamentar.

Durante o seu pronunciamento, o presidente do PPS comparou o momento atual a outras situações vivenciadas pelo partido no passado. “Lá atrás, já percebíamos que a luta tinha que ser com outras vertentes para integrar um maior número de pessoas e não nos isolarmos”, afirmou. “Naquele momento, também era uma hora em que tínhamos de enfrentar uma nova realidade. Estamos hoje vivendo um momento como esse.”

Maia quer se aliar a PSDB para isolar Temer em 2018

Marina Dias, Bruno Boghossian / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Somente quatro convidados ocupavam a sala de estar da residência oficial de Rodrigo Maia (DEM) momentos antes da votação que selaria o destino político de Michel Temer na quarta-feira (25).

Ao contrário do habitual séquito que costuma desfrutar de café da manhã, almoço e jantar à sua mesa, o presidente da Câmara dos Deputados limitou sua audiência a um marqueteiro, um consultor e só dois deputados, ambos do PSDB.

Conversavam com desenvoltura sobre o projeto que hoje mais interessa à classe política: as eleições de 2018.

Antes de abrir a sessão que sepultaria a segunda denúncia contra o presidente –por obstrução da Justiça e organização criminosa–, Maia conversou com os deputados Jutahy Júnior (PSDB-BA) e Carlos Sampaio (PSDB-SP), os dois contrários a Temer, e, por mais de uma hora, discutiu uma possível aliança para o próximo ano entre seu partido, o DEM, e o PSDB.

A avaliação ali foi consensual: com baixíssima popularidade e denunciado duas vezes pela Procuradoria-Geral da República, Temer se tornou "radioativo" na disputa de 2018 e, assim, o PMDB não estaria apto a compor um possível arco com tucanos e democratas.

Presidente da Câmara, Rodrigo Maia diz que pedidos de impedimento de Temer serão arquivados

Igor Gadelha, Daiene Cardoso, Isadora Peron / O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), afirmou em entrevista ao Estadão/Broadcast que vai rejeitar todos os 25 pedidos de impeachment contra o presidente Michel Temer que estão parados em sua gaveta. Segundo a sua argumentação, após ter sido leal a Temer nas duas denúncias, não faz sentido agora atuar contra o governo. Maia também disse que o presidente tem que "agradecer muito" o fato de ele não ter agido para derrubá-lo do Palácio do Planalto.

Como fica a sua relação com o Palácio do Planalto no pós-denúncia?

Minha origem na Presidência da Câmara foi independente e o Michel tem de agradecer muito de eu ter sido eleito e não ter feito o que eu podia ter feito. Eu poderia, na minha primeira legislatura, ter trabalhado dizendo o tempo todo que o governo não me ajudou, porque ele só apoiou a minha candidatura nas últimas 24 horas. Mas eu abracei a agenda do governo porque eu acredito na agenda da equipe econômica. Não foi uma questão de “eu sou governo”. Agora, eu não misturo as coisas: o presidente da República e o presidente da Câmara têm uma relação institucional muito boa e essa relação se mantém boa. Mas, o que eu estou dizendo, como presidente da Câmara, é que a relação não será uma relação amanhã igual a que foi antes das duas denúncias se o governo não reorganizar a base.

E como faz para reorganizar a base?

Tem vários caminhos para resolver. O que você não pode é achar que o resultado da denúncia gerou uma base de 250 votos. Ter base é ter base que confia no governo, na agenda do governo, mesmo quando vem uma pauta árida para a Câmara. Acho que numa pauta árida, o governo hoje não tem maioria.

Desaprovação a políticos para de crescer

Segundo pesquisa mensal do instituto Ipsos, após ápice, taxas de reprovação de agentes públicos ofreram redução ou oscilaram negativamente

Daniel Bramatti / O Estado de S.Paulo

A onda de rechaço aos políticos começa a dar sinais de refluxo, depois de atingir o ápice nos últimos meses. Entre setembro e outubro, as taxas de desaprovação de quase todos os prováveis candidatos a presidente caíram ou oscilaram para baixo, segundo o Barômetro Político, pesquisa mensal realizada pelo instituto Ipsos.

Em alguns casos, a redução da desaprovação foi significativa, como nas taxas de Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede). Em outros, a diminuição se deu dentro da margem de erro. A desaprovação de todos continua alta, mas retrocedeu para níveis detectados em levantamentos anteriores.

Danilo Cersosimo, diretor do Ipsos, ressalta que só as próximas pesquisas indicarão se de fato há uma mudança de tendência ou se este é um resultado pontual. Mas ele tem uma hipótese a testar: a de que esse refluxo na rejeição aos políticos está relacionado à percepção de que serão mesmo esses os nomes na disputa presidencial de 2018.

“Nos últimos anos, as pessoas demonstravam não querer (como candidato) ninguém do mundo político, estavam esperando um messias”, afirma Cersosimo. “Mas não surgiu o salvador da pátria.” O resultado, segundo o diretor do Ipsos, é que o sentimento de indignação começa a ser substituído pelo de resignação.

De olho em 2018, Alckmin tenta desfazer imagem de político 'frio'

- Folha de S. Paulo

A equipe de comunicação do governador Geraldo Alckmin (PSDB) reconhece internamente que um dos maiores problemas de marketing do tucano, senão o principal, é a imagem de político "frio" e "distante das pessoas".

Em conversas privadas, assessores elaboram estratégias para torná-lo um líder mais próximo do povo, com mensagens acessíveis e sem empolamento. Um auxiliar usou a gíria "tamo junto" para definir a linguagem ideal.

O tucano trabalha para viabilizar sua candidatura à Presidência no ano que vem.

Seus auxiliares propõem explorar em peças publicitárias do governo a gestão econômica do Estado como comprovação de sua capacidade para administrar o Brasil.

Acham necessário, no entanto, reforçar a ideia de que São Paulo não quer se isolar do resto do país com sua potência econômica nem se coloca como superior a outras regiões menos desenvolvidas.

Ao contrário, dizem os assessores, é preciso enfatizar a miscigenação presente no Estado, com a presença de pessoas e características de todas as regiões do país.

Se quer fazer populismo, não seja juiz, diz Alexandre de Moraes

Daniela Lima, Letícia Casado / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - "A imprensa quer, o povo quer e o Legislativo pede que o Supremo decida tudo. Mas isso é perigoso. Qualquer juiz que vota pensando em popularidade é um perigo."

A avaliação é do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Há sete meses na corte, ele critica o que chama de extravagâncias da Justiça, diz que o Congresso se enfraquece ao despachar seus conflitos internos para o tribunal e defende "autocontenção".

Moraes falou com a Folha na manhã de quinta-feira (26), em seu gabinete –antes do bate-boca entre os colegas de corte Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, no mesmo dia.

Para ele, delação só deve perder o sigilo após o recebimento da denúncia. "Se o delator mente", explica, "a vida do delatado já acabou".

Folha - Muito se fala hoje sobre a proeminência do Judiciário. Há uma hipertrofia?

Alexandre de Moraes - No momento, sim. Da Justiça, das carreiras jurídicas. O grande responsável pela redemocratização foi o Legislativo. Depois, houve um desgaste grande. Há alguns anos, o Executivo entrou em crise. Não há vácuo de poder. O STF passou a ter atuação mais positiva.

E isso é bom?

Não. Bom é o equilíbrio entre os Poderes. Com a eleição em 2018 e a posse em 2019, tende a voltar ao equilíbrio. Até lá, haverá superexposição do Judiciário. E não é só culpa nossa. Tudo o Legislativo traz para cá. Se o Congresso delega ao Judiciário questões políticas, o Judiciário vai discutir. E pior do que a judicialização da política é a politização da Justiça. A reforma mais importante para o país é a política.

A responsabilidade do voto – Editorial: O Estado de S. Paulo

No Fórum Mãos Limpas & Lava Jato, promovido pelo Estado em parceria com o Centro de Debate de Políticas Públicas (CDPP), Gherardo Colombo, juiz aposentado italiano que participou das investigações da Operação Mãos Limpas, fez um alerta. “Hoje a corrupção na Itália é a mesma do que quando começou a Mãos Limpas”, disse Colombo. Explicitava, assim, a constatação de que uma megaoperação judicial, que durou 13 anos e investigou cerca de 4 mil pessoas, não foi suficiente para diminuir a corrupção em seu país.

A análise de Colombo não representa um atestado de inutilidade da Mãos Limpas, até mesmo porque, se a operação não tivesse existido, talvez a corrupção estivesse hoje num estágio bem pior do que o verificado no início dos anos 90, quando a Mãos Limpas começou. O que a experiência italiana revela de forma cristalina é a incapacidade de a Justiça, sozinha, pôr fim a esse mal que tanto prejudica o desenvolvimento econômico e social de um país. Ainda que seja intenso e duradouro, o esforço para perseguir e punir judicialmente os políticos corruptos não é suficiente para eliminar a corrupção da política e muito menos da vida nacional.

Lições ainda não aprendidas da Revolução Russa – Editorial: O Globo

Apesar do fracasso do movimento que tomou o poder em 1917, a alma autoritária do bolchevismo ainda encanta políticos brasileiros ditos de esquerda

A força da efeméride do centenário da Revolução Russa, neste mês de outubro, inundou os meios de comunicação no mundo de reportagens e análises. De forma merecida. A ruptura de séculos da monarquia czarista, no decorrer de 1917, retirou a Rússia de uma longa hibernação e a tornou um símbolo da promessa de um novo tempo em que haveria justiça e igualdade social.

Não deu certo, mas, mesmo como eixo de um império, o soviético, mantido sob a força das armas, a Rússia, polo aglutinador da União Soviética, e o comunismo continuaram a ser referência para forças políticas no Ocidente, não apenas partidos comunistas. O aceno da igualdade tornou-se mais forte que os anseios milenares de liberdade.

Sinais de arbítrio – Editorial: Folha de S. Paulo

Conforme se desenvolve, o processo de combate à corrupção no Brasil vai acumulando seus paradoxos e contradições.

De um lado, notam-se claros sinais de um arrefecimento dos espíritos –o que permitiu a figuras como o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o próprio presidente da República sobreviverem a um conjunto de suspeitas e evidências que, em outro momento, teria motivado um cataclismo em suas bases de sustentação parlamentar.

Num movimento simétrico e inverso, verificam-se sintomas de arbítrio e exagero persecutório por parte de algumas autoridades, não por acaso algumas das mais cortejadas pela opinião pública.

Já condenado por três vezes, em processos que envolvem corrupção e lavagem de dinheiro, o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) não teve até agora, certamente, sucesso nas tentativas de se dizer vítima inocente de um complô de autoridades mal-intencionadas.

Essa tradicional elaboração retórica seria especialmente inconvincente no caso do ex-governador, cujo rastro de dólares, carros de luxo e pedrarias não tinha como desviar as autoridades do caminho da certeza e da punição.

Relação entre intelectuais e o poder é analisada por Mark Lilla

'A Mente Imprudente' e 'A Mente Naufragada' chegam ao País avaliando os "filotiranos" e os conservadores quixotescos

Martim Vasques da Cunha*: Aliás/ O Estado de S. Paulo

“No eros começam as responsabilidades.” Eis a grande lição filosófica que nos ensina a obra de Mark Lilla, autor de dois livros fundamentais para se entender o que está a acontecer agora no Brasil e no mundo – A Mente Imprudente: Os Intelectuais na Atividade Política e A Mente Naufragada: Sobre a Reação Política, lançados recentemente pela editora Record (o segundo título sairá no início de 2018).

A frase acima é uma referência irônica a dois sujeitos que sempre viram como óbvia a relação entre a vida política e a vida do espírito. O primeiro era W.B.Yeats que, com seu famoso bordão “Nos sonhos começam as responsabilidades”, foi, além de poeta, senador na Irlanda independente em 1922, e sabia claramente que a confusão do parlamento era mais uma amostra daquele “fascínio pelo o que é difícil” típico de quem gosta de se intrometer nos assuntos dos homens. O segundo era ninguém menos que Platão, o filósofo a quem todos os filósofos posteriores devem se curvar, e que afirmava que o ser humano era dominado por uma paixão demoníaca – o eros – que o elevava às alturas ou, se não possuísse autodomínio suficiente, fazê-lo se comportar como o mais vil dos animais.

Mark Lilla narra a tensão erótica que existe quando os intelectuais praticam duas coisas extremamente perigosas – e que sempre foram as preocupações de um Yeats ou de um Platão, ambos, por coincidência, possuídos por seus demônios autoritários. Ela se manifesta no momento em que esses guardiões do “anseio pelo Belo” esquecem-se das suas responsabilidades concretas ao defenderem, direta ou indiretamente, tiranos de esquerda ou de direita, destruidores de vidas humanas – e também ao resolverem, justamente para permanecerem nessas realidades alternativas, enquadrar todo o curso da História em uma única corrente narrativa que reduziria a complexidade da nossa experiência neste mundo.

Tristeza – Graziela Melo

A tristeza
vem do mar
e deixa a alma
nebulosa...

Vem do vento
vem das sombras,

vem por vias
tortuosas!

A tristeza
que me aflige,
é inquilina
de minh’alma!

Vem da própria
alegria,

vem das mesas
do bar,

vem da noite
vem do dia

vem do sofrimento
e da poesia...

vem do
sentimento,
do arrependimento,
do viver
do dia-a-dia!!!

A tristeza
é solidária,
é triste,
é solitária,

Irmã gêmea
da agonia!!!

Russian Philharmonic: Libertango / A. Piazzolla