domingo, 15 de novembro de 2015

Opinião do dia - Roberto Freire

Em defesa da Humanidade

O Partido Popular Socialista – PPS – condena os ataques terroristas a diversos pontos de Paris nesta sexta-feira, e se solidariza com todo o povo da França, particularmente as famílias das vítimas deste grave e cruel atentado contra a Humanidade.

A pior onda de violência a atingir a França desde a Segunda Guerra (1939-1945) há apenas 10 meses do atentado ao semanário satírico Charlie Hebdo, também na capital francesa, é a face da barbárie do terrorismo que vitima a França pelas forças regressivas que pregam o fim do Estado laico, da liberdade de expressão e da democracia.

O atentado em Paris revela a face do ódio e da intolerância de grupos radicais que não aceitam a democracia como valor universal e partem para uma guerra com o objetivo de colocar em xeque as conquistas sociais, a emancipação da humanidade e a paz mundial.

Nossa visão de uma esquerda democrática não se coaduna com o uso da violência como instrumento de promoção de uma fé religiosa por essa ou qualquer outra motivação.

A tolerância aos que professam qualquer religião, ou não a professam, é uma grande conquista da sociedade democrática e esse odioso atentado reforça a necessidade de reafirmarmos nosso compromisso com os princípios básicos dos direitos cidadãos.

Neste sentido, manifestamos total solidariedade ao povo francês na esperança de que os acusados desse ato covarde sejam identificados, presos e julgados.

O PPS continuará ao lado dos que defendem o Estado Democrático, contra o obscurantismo e a visão totalitária que intimida e mata inocentes, ao mesmo tempo em que reafirma seu compromisso com necessidade permanente de convivência com a diferença e a liberdade.

Roberto Freire
Presidente do PPS”

Europa declara guerra ao terror

• Bélgica e Alemanha caçam jihadistas França ampliará ataques ao Estado Islâmico Atentados fazem 129 mortos e 352 feridos

A França reagiu em clima declaradamente de guerra aos autores do maior ataque terrorista de sua História recente, que fez 129 mortos e 352 feridos, 99 deles em estado grave. Uma verdadeira caçada na França e no exterior está em curso e mobiliza vários outros países, como Bélgica e Alemanha. Jihadistas do Estado Islâmico reivindicaram o atentado contra “a capital da prostituição e do vício”. Diante da violência dos ataques, que deflagrou uma rede de solidariedade no mundo, o premier Manuel Valls assegurou que a França “irá fundo no combate ao EI’’, enterrando dúvidas sobre a participação do país na coalizão liderada pelos EUA contra os jihadistas. “Estamos em guerra e vamos agir. Vamos atingir o inimigo aqui e também na Síria e no Iraque.” Novos elementos surgiram nas investigações: três grupos comandaram os ataques; um dos sete atacantes do Bataclan era francês e conhecido pelo serviço de inteligência desde 2010; e um passaporte sírio foi encontrado junto ao corpo de um dos homens-bomba, que teria entrado na Europa pela Grécia junto com refugiados.

Guerra declarada

• Hollande promete resposta e promove caça internacional a autores de ataques

Deborah Berlinck - O Globo

PARIS - A França reage em clima declarado de guerra aos autores do maior atentado terrorista de sua História recente. Em meia hora, grupos supostamente comandados pelos radicais do Estado Islâmico colocaram o país de joelhos: em ataques a oito pontos de Paris, fizeram 129 mortos e 352 feridos, 99 deles em estado grave. Agora, uma verdadeira caça aos autores e seus cúmplices — na França, mas também internacionalmente — está em curso e mobiliza vários outros países, como Bélgica e Alemanha.

— A França está em guerra — declarou solenemente o presidente francês, François Hollande, logo depois dos atentados. — Mas mesmo ferida, a França vai se reerguer. Diante da guerra, um país precisa tomar a ação apropriada.

Durante todo o dia de ontem, Hollande multiplicou os contatos com líderes estrangeiros, enquanto seu Conselho de Ministros se reuniu várias vezes para fechar o cerco contra os radicais no interior do país. Mais cedo, os jihadistas reivindicaram, em comunicado, a responsabilidade pelo massacre. Segundo a nota, enviada a vários jornais franceses, os atos terroristas teriam sido uma resposta a “insultos ao profeta Maomé e bombardeios franceses contra alvos do grupo”.

“Um grupo de fiéis soldados do Califado começou estabelecendo alvos na capital da prostituição e do vício, a maior mensageira da cruz na Europa, Paris. Que a França e aqueles que seguem seu caminho saibam que permanecerão entre os alvos do Estado Islâmico”, desafiou a organização extremista. “Paris tremeu sob os pés de seus cruzados, e suas ruas tornaram-se estreitas para eles. O resultado dos ataques é nada menos que 200 cruzados mortos e muitos feridos”.

Um dos terroristas era francês
Paris virou um quartel-general de guerra: com todo país em estado de emergência, o Eliseu anunciou a mobilização de 1.500 militares armados até os dentes vigiando as estações de trem e aeroportos, além do reforço dos controles nas fronteiras. Eventos esportivos e artísticos foram suspensos, lojas, escolas, universidades e prédios municipais, fechados.

A violência dos ataques levantou inicialmente dúvidas sobre o efeito que isso terá na determinação da França de acompanhar os Estados Unidos na sua campanha implacável contra o Estado Islâmico na Síria e no Iraque. A França também está envolvida em várias operações militares de combate ao extremismo islâmico na África. Mas o primeiro-ministro Manuel Valls enterrou as dúvidas ontem, numa entrevista à televisão francesa:

—A França irá fundo no combate ao Estado Islâmico — avisou. — Estamos em guerra, e vamos agir. Vamos atingir o inimigo aqui e também na Síria e no Iraque. E vamos responder no mesmo nível. Vamos responder golpe por golpe para destruir o Daesh (sigla do Estado Islâmico, em árabe).

Menos de 24 horas depois dos atentados, elementos novos surgiram nas investigações. Três grupos comandaram os ataques. E um dos sete atacantes da sala de espetáculos Bataclan (onde 89 pessoas morreram) era francês: chamava-se Ismael, tinha 30 anos, nasceu em Courcouronnes, nos subúrbios de Paris e era conhecido pelo serviço de Inteligência francesa desde 2010 e pela Justiça como pequeno delinquente. Fontes da agência AFP disseram que seu pai e irmão foram detidos ontem. As duas casas estão sendo investigadas.

Um passaporte sírio também foi achado junto ao corpo de um dos homens-bomba que detonaram uma das explosões na porta do Stade de France, durante o jogo entre França e Alemanha — o vice-ministro grego de Polícia confirmou que o sírio havia chegado à União Europeia pela Grécia em outubro. Quarto, uma mulher desarmada foi vista acompanhando um dos grupos terroristas.

De acordo com o promotor de Paris, François Molins, os grupos se distribuíram para conduzir ataques com kalashnikovs e cintos com explosivos — alguns feitos de Taap, um composto que facilmente passa despercebido por cães farejadores. Pelo menos um deles tinha ingresso para a partida, mas, ao ser revistado, com cerca de 15 minutos de jogo, foi descoberto um colete de explosivos. O atacante, então, detonou o colete, carregado com explosivos e parafusos. Perto dali, cerca de três minutos depois, uma segunda pessoa também se explodiu do lado de fora do estádio. O terceiro suicida detonou explosivos perto de um McDonald’s.

A prioridade das autoridades agora é identificar os corpos, incluindo os dos terroristas, em sua maioria pulverizados. Uma vez completado o processo, será determinado se eles tiveram a ajuda de cúmplices.

— Podemos dizer, neste ponto da investigação, que provavelmente foram três grupos de terroristas coordenados por trás desse feito bárbaro — afirmou Molins.

Aumento do combate interno
Internamente, o combate ao terror vai se intensificar. Quatro mil pessoas estariam fichadas na França como potencialmente perigosas. Valls reconheceu que o risco zero é impossível. David Rigoulet, especialista em Oriente Médio, segue a mesma linha de raciocínio:

— A ameaça é multiforme. Não tem solução milagrosa. Não podemos evitar tudo. Os responsáveis britânicos também reconheceram que o risco zero é impossível, por conta da natureza da ameaça — disse.

Em uma das declarações mais contundentes sobre o massacre, o Papa Francisco comparou os ataques à uma “Terceira Guerra Mundial”. Os atentados de sexta-feira também colocaram os holofotes, novamente, sobre a comunidade muçulmana da França, que teme uma nova onda de islamofobia. E o fato de terem acontecido apenas dez meses depois dos ataques de janeiro contra o semanário satírico “Charlie Hebdo”, também feitos por radicais islâmicos, não ajuda. O movimento islâmico Hamas, no poder na Faixa de Gaza, e a Jihad Islâmica condenaram ontem os atentados.

O franco-tunisiano Hassam Vhalghoumi, imã da cidade de Drancy, reagiu praticamente com o mesmo discurso de dez meses atrás:

— A França é forte pela sua História. Não será um bando de bárbaros que vai colocar o país de joelhos. Não! Isso não é a religião. Isso não é humano.

Ele fez um apelo aos muçulmanos a se exprimirem e se manifestarem contra os extremistas. E aos radicais que acreditam que os atacantes são mártires que partirão ao paraíso, ele avisou:

— Não, não! São diabos. Eu prometo: terão o inferno eterno! O salafismo tem que ser combatido, são monstros que destroem a França.

Ele foi duro com a própria comunidade de imãs, ao reconhecer que alguns pregam o ódio. —É o momento de sancioná-los! Em Amsterdã, um avião da Air France foi vasculhado pela polícia, após uma ameaça de bomba.

Hollande acusa EI e classifica ataques como ‘atos de guerra’

• Grupo assume autoria de atentados; passaporte sírio é encontrado com terrorista e fontes indicam que um dos agressores era francês

Andrei Netto- O Estado de S. Paulo

PARIS - O presidente da França, François Hollande, afirmou ontem que os atentados da véspera em Paris foram cometidos pelo Estado Islâmico, declarou três dias de luto em todo o país e apelou por unidade nacional após os “atos de guerra” de “absoluta barbárie” cometidos por um “exército terrorista”. Minutos depois, os jihadistas que atuam no Iraque e Síria reivindicaram a autoria dos ataques por meio de um comunicado na internet.

A retórica militar contra o grupo Estado Islâmico foi empregada por Hollande ao término da primeira reunião de emergência do Conselho de Defesa, a mais alta instância de segurança do país, realizada 12 horas após os ataques que deixaram 127 mortos e mais de 200 feridos, entre os quais mais de 90 em estado grave.

As declarações de Hollande foram feitas no momento em que, em Viena, chanceleres de França, Grã-Bretanha, Estados Unidos, Rússia, Turquia, Arábia Saudita e Irã abriram uma nova rodada de discussões para coordenar uma ação contra o grupo terrorista na Síria. Não está descartada a possibilidade de que o encontro resulte em uma coalizão internacional para atacar o Estado Islâmico, em resposta à nova onda de atentados.

Hollande convocou rede de rádio e televisão para seu terceiro pronunciamento desde os ataques. “Trata-se de um ato de guerra cometido por um exército terrorista, Daesh, um exército jihadista”, afirmou o presidente, em tom solene, usando a sigla em árabe que identifica o Estado Islâmico. “Foi algo preparado, organizado, planejado no exterior, com cúmplices internos, que a investigação poderá estabelecer”, concluiu o presidente.

Ao Estado, uma fonte diplomática de alto escalão do governo francês disse que ainda é cedo para confirmar uma ação militar por terra, e é pouco provável uma ação isolada da França, sem uma coalizão internacional. Mas o diplomata foi taxativo: “Haverá uma resposta”.
Hollande presidiria ontem um novo Conselho de Ministros extraordinário para analisar as medidas adotadas para atender as vítimas e prevenir novas ações terroristas.

A acusação direta contra o Estado Islâmico foi feita pouco antes da notícia de que um passaporte sírio foi encontrado entre os pertences de um dos assassinos, algo que o Ministério do Interior ainda não confirmou de forma oficial.

De acordo com fontes policiais, um francês provavelmente é um dos autores do ataque contra a casa de shows Bataclan. As fontes disseram que ele tinha cerca de 30 anos e era fichado pelo serviço de inteligência.

Instantes após o pronunciamento de Hollande, o grupo terrorista assumiu a responsabilidade pelos ataques em um comunicado publicado na internet . “Oito irmãos portando cinturões de explosivos e armados de fuzis de assalto visaram locais escolhidos criteriosamente no coração de Paris”, disse o texto, que renovou as ameaças contra a França e justificou a ação como uma resposta “aos bombardeios contra muçulmanos em terras do califado”. “Que a França e os que a seguem nessa via saibam que continuarão como os principais alvos do Estado Islâmico”, completou o documento.

Ainda pela manhã, o presidente da Síria, Bashar Assad, juntou-se aos líderes políticos que enviaram mensagens lamentando os ataques. “A França conheceu o que nós vivemos na Síria há cinco anos”, afirmou o líder sírio, que luta contra a presença do Estado Islâmico em seu território.

De acordo com os números divulgados ontem, o total de vítimas dos atentados simultâneos lançados em sete pontos da capital e Seine-Saint-Denis chegava a 127 mortos, além de oito terroristas – sete dos quais mortos ao detonar os cinturões com explosivos que portavam. Cento e oitenta feridos permaneciam hospitalizados – entre os quais dois brasileiros, internados nos hospitais Salpetrière e Bichat, em Paris (mais informações na pág. A13). Entre os feridos, 99 estavam em estado de “urgência absoluta”, com risco de morrer.

O balanço detalhado dos crimes cometidos no 10.° e 11.º distritos ainda não havia sido divulgado. Mas, dentre as vítimas, uma pessoa morreu no atentado cometido por três suicidas nos arredores do Stade de France, em Seine-Saint-Denis. Cinco outros morreram atingidos por disparos na Rue de la Fonteine-au-Roi, 12 em um ataque aos restaurantes Le Petit Cambodge e Le Carillon, na Rue Bichat, e outros 19 morreram a tiros na Rue de Charonne. Mas o maior número de vítimas ocorreu na casa de shows Bataclan, onde mais de 80 pessoas morreram quando 1,6 mil assistiam a um concerto de rock.

Em razão dos ataques, o Palácio do Eliseu decretou “estado de emergência”, um regime de exceção que permite a adoção do de toque de recolher em todo o país. O ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve, deu carta branca às autoridades locais decretarem toques de recolher se necessário.

Museus, pontos turísticos, escolas e universidades e parte do comércio foram fechados. Manifestações e concentrações públicas foram proibidas pelo menos até o dia 19.

Em poucos minutos, noite em Paris passa da perplexidade ao horror

Lucas Neves – Folha de S. Paulo

PARIS - Às 21h20 de sexta-feira, 13 de novembro, no horário de Paris (18h20 de Brasília), quando a primeira explosão foi ouvida no Stade de France, em Saint-Denis (região metropolitana), três grupos de brasileiros jantavam ou passeavam em diferentes pontos da cidade, alheios aos acontecimentos.

Numa mesa na calçada diante do restaurante Le Petit Cambodge, no 10° distrito, uma turma de oito amigos, que incluía arquitetos, estudantes e psicanalistas, terminava de comer e aproveitava o ar "alegre, descontraído, juvenil" dessa região parisiense, nas palavras de um deles, o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP José Lira.

Um pouco a sul, nos arredores da praça da Bastilha (11º distrito), o estudante de administração e negócios João Pedro Lima, 20, se preparava para sair do hotel com a mãe, a advogada Monica Lima, 50, rumo à rua Oberkampf, que concentra bares, restaurantes e casas noturnas muito frequentadas pelos parisienses na mesma área.

Dia seguinte aos atentados em Paris
Do outro lado do rio Sena, a fotógrafa brasileira Claudia Jaguaribe era a cicerone de um jantar para um grupo de cerca de 30 colegas de ofício vindos à cidade para uma grande feira de arte.

Às 21h25, o restaurante cambojano em que estavam os oito amigos foi alvejado por disparos de fuzil Kalachnikov disparados de dentro de um carro.

Quinze pessoas morreram. Na mesa brasileira, o arquiteto Gabriel Sepe, que viera à Europa apresentar um trabalho num congresso, levou três tiros nas costas e, na confusão, feriu a perna.

Já a mestranda em psicanálise Camila Issa foi atingida por sete tiros de raspão, segundo Lira, que conseguiu se abrigar num supermercado vizinho e, dez minutos depois, ao ser resgatado do esconderijo por bombeiros e policiais, avistou os amigos no chão, ensanguentados.

Estádio
A essa altura, já tinham ocorrido pelo menos mais três episódios de violência: uma segunda explosão no entorno do Stade de France (onde logo seria achado o corpo de um terrorista); um tiroteio a três quadras do Le Petit Cambodge, no bar Bonne Bière (cinco mortes); e um ataque a bala na rua de Charonne, no 11º distrito (19 mortos).

A polícia começava a bloquear ruas e avenidas, os primeiros relatos pipocavam nas redes sociais e na TV, o metrô passou a não parar nas estações próximas aos locais visados pelos terroristas –provocando resmungos de usuários que não sabiam do ocorrido na superfície.

Daí em diante, a perplexidade e as informações desencontradas nas ruas, na mídia e nas redes sociais evoluíam juntas, em progressão geométrica.

Por volta das 21h40, deu-se o ataque mais sanguinário: três homens invadiram a casa de shows Bataclan (num grande bulevard do 11º distrito) atirando. Foram confirmadas 89 mortes no local até a noite deste sábado (14).

A notícia então passou a se espalhar como rastilho de pólvora, e boatos proliferaram. Há quem diga que os terroristas saíram do alto de Belleville (no 20º distrito, extremo leste da cidade) fazendo uma razia, com vítimas na praça da República, no grande centro comercial e de lazer Les Halles (no 3º distrito).

E até no Trocadero, esplanada com vista privilegiada para a Torre Eiffel, do outro lado da cidade. Os rumores dão conta também de que havia quatro policiais mortos –no fim das contas, um policial de folga perdeu a vida.

Madrugada
O nervosismo dos agentes de segurança e das pessoas impedidas de circular ou simplesmente voltar para casa aumentava exponencialmente.

Numa rua perto do Le Petit Cambodge, policiais buscam explosivos embaixo de carros estacionados.



A um quarteirão dali, ao se aproximar de um grupo de jovens transtornados, a reportagem é firmemente repelida.

Isso é uma conversa de irmãos. Tire suas orelhas de perto. Não é o momento."

Restaurantes então fecharam as portas e, fosse o caso, levaram a clientela para caves e depósitos no subsolo.

Na internet, apareciam as primeiras hashtags de solidariedade: Portas Abertas, em que pessoas oferecem suas casas para quem está sem rumo na rua, será usada mais de um milhão de vezes na madrugada, segundo o "Figaro".

Por volta das 22h30, a notícia chegava ao jantar da fotógrafa Claudia Jaguaribe.

O galerista Paulo Kassab mandou a um dos convivas uma mensagem de voz dizendo que estava no Petit Cambodge na hora do ataque e que se protegeu atrás do balcão. Ao levantar, deparou com vários corpos.

A fotógrafa Betina Samaia, que veio lançar um livro na feira Paris Photo (suspensa desde então), ficou no apartamento até 0h30. Ontem, dizia não saber se adiantava o voo de volta para o Brasil, previsto para quinta.

"É uma coisa horrível. Aeroporto é visado. A gente não sabe onde mora o perigo."

Também às 22h30, João Pedro Lima e sua mãe chegavam ao bar brasileiro Barracão, na rua Oberkampf, de onde só conseguiriam sair às 2h.

As portas do estabelecimento foram baixadas quando funcionárias começaram a receber telefonemas de parentes contando o ocorrido.

À PF, Filho de Lula não soube explicar contratos com 'valores absurdos', diz revista

• Empresa de Mauro Marcondes fez repasses à LFT Marketing Esportivo, de Luís Cláudio, que teria recebido R$ 2,4 milhões

Carla Araújo - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em depoimento à Polícia Federal, o empresário Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o lobista Mauro Marcondes, da consultoria Marcondes & Mautoni, não conseguiram esclarecer os contratos entre a empresa do filho do ex-presidente e a consultoria, de acordo com reportagem da revista Época. Segundo a revista, "é como se um não soubesse por que pagou e outro não soubesse por que recebeu".

Marcondes optou por ficar em silêncio em boa parte de seu depoimento e não soube explicar como escolheu a empresa do filho de Lula. Ele, entretanto, admitiu que sabia que o valor pago pelo serviço era "absurdo". Segundo o empresário, um estagiário de sua empresa fez uma pesquisa "superficial" de preços antes de contratar Luís Claudio. "Ele constatou que eram (valores) absurdos", disse Marcondes no depoimento, de acordo com a revista.

Apesar da constatação de valores "absurdos", empresa de Marcondes fez repasses à LFT Marketing Esportivo, aberta em março de 2011 por Luís Cláudio, que teria recebido R$ 2,4 milhões. O filho do ex-presidente é alvo da Operação Zelotes, que apura esquema de corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), órgão vinculado ao Ministério da Fazenda.

Luís Cláudio declarou à Polícia Federal que prestou serviços à Marcondes & Mautoni nos anos de 2014 e 2015 e, por isso, recebeu "os valores que foram contratados". Marcondes & Mautoni está sob suspeita de compra de Medidas Provisórias para favorecer o setor automotivo.

Em seu depoimento, de acordo com a revista, Luís Cláudio não apresentou relatórios que comprovassem os serviços prestados. À Polícia Federal, ele disse que produziu relatórios e que ficou com cópias, mas que havia entregue a seus advogados depois da reportagem de O Estado de S. Paulo revelar a ligação de Luis Claudio e Marcondes, suspeito de "comprar" medidas provisórias editadas entre 2009 e 2013 para favorecer montadoras, por meio de incentivos fiscais. Em 26 de outubro Marcondes foi preso.

Vazamento. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, determinou que a Polícia Federal (PF) faça a apuração do suposto vazamento do depoimento de Luis Cláudio nas investigações da Operação Zelotes, segundo informações da assessoria do MJ.

O ministro decidiu pedir a investigação depois que a defesa de Luis Cláudio protocolou uma representação na última sexta-feira. Os advogados podem que seja analisado se houve vazamento das informações dadas pelo empresário aos policiais federais.

Defesa. O advogado de Luís Cláudio, Cristiano Zanin Martins, publicou uma nota na qual reafirma a experiência de seu cliente na área esportiva, critica o vazamento de documentos, diz que a revista "manipula as informações contidas no depoimento". Segundo ele, "não é verdade" que Luís Cláudio tenha dito à PF que "nunca havia feito um projeto parecido ao que entregou à Marcondes & Mautoni". "A afirmação que consta no depoimento vazado à revista é que o trabalho entregue ao contratante foi original, pois não havia sido feito anteriormente para outro cliente, considerando que o objeto do estudo se dá em situação nova para o próprio País, caso da preparação do Brasil para os megaeventos, como a Olimpíada de 2016, onde conta a experiência dos demais países na execução desse tipo de evento", explica Martins.

Segundo o advogado, o filho do ex-presidente esclareceu em seu depoimento que todos os serviços prestados à Marcondes & Mautoni e, no dia seguinte, entregou à Polícia Federal, por intermédio de seus advogados, todos os contratos firmados com tal empresa e, ainda, todos os materiais relativos aos trabalhos realizados. "A própria revista confirma que também no caso dos contratos estes foram vazados", diz.

De acordo com Martins, os relatórios produzidos atestam a entrega do trabalho previsto em contrato e está no plano da contabilidade da empresa, disponível aos órgãos competentes.

"Reiteramos nosso repúdio a qualquer tentativa de manipulação de documentos vazados de uma investigação policial na qual Luís Cláudio já prestou todos os esclarecimentos e afastou qualquer ligação com os possíveis ilícitos investigados", diz o defensor.

Filho de Lula não explica repasse milionário, diz Época

• Empresário que pagou a Luís Cláudio admite ‘valor absurdo’ por projeto

- O Globo

Em depoimento à Polícia Federal, o filho caçula do ex-presidente Lula, Luís Cláudio da Silva, demonstrou dificuldade para explicar os R$ 2,5 milhões que recebeu por serviços prestados ao escritório de advocacia Marcondes & Mautoni, de São Paulo. Os depósitos foram feitos entre 2014 e 2015. Um dos sócios do escritório é Mauro Marcondes, ex-vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), preso no dia 26 de outubro na Operação Zelotes, que investiga a compra de MPs e o tráfico de influência no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), no Ministério da Fazenda.

A revista “Época” teve acesso ao depoimento de Luís Cláudio, prestado no último dia 4 de novembro.

Marcondes, em depoimento também divulgado pela revista, admitiu que sabia que o valor pago estava acima dos preços de mercado. De acordo ele, uma pesquisa de custos superficial, feita por um estagiário do escritório, constatou que os valores “eram absurdos”.

Em 1º de outubro, o jornal “O Estado de S. Paulo” publicou que Marcondes era suspeito de “comprar” medidas provisórias editadas entre 2009 e 2013 para favorecer montadoras de veículos, por meio de incentivos fiscais.

Os pagamentos foram feitos a Luís Cláudio por meio de sua empresa LFT, a título de consultoria técnica e assessoramento empresarial de marketing esportivo. A LFT não tem nenhum funcionário além do próprio Luís Cláudio. No depoimento, o filho de Lula disse aos investigadores que a empresa teve somente dois clientes até hoje: o Corinthians, time de Lula, e a Marcondes & Mautoni.

Segundo a reportagem, Luís Cláudio teve dificuldades para explicar suas qualificações para prestar esse serviço. Ele também teria sido evasivo ao explicar como opera a consultoria técnica e o assessoramento empresarial de marketing esportivo. A PF perguntou sobre um dos projetos, calculado em R$ 1 milhão, e o filho de Lula admitiu que nunca tinha feito aquele serviço antes.

A reportagem afirma que Luís Cláudio e Marcondes acertaram seis serviços, entre julho de 2014 e junho de 2015, sendo que ele teria afirmado que não executou todas operações para as quais foi contratado.

A revista obteve os contratos, que são de trabalhos relativos à Copa do Mundo, a violência nos estádios e a “elaboração de análise de marketing esportivo como fator de motivação e integração nas empresas com exposição de casos e oportunidades”.

Lucro desconhecido
No depoimento, o filho de Lula não lembrou o valor desse projeto, mas disse que o cálculo foi feito a partir das horas de trabalho. De acordo com a reportagem, ele não soube responder quantas horas teve que trabalhar, nem mesmo a base de custo para seus serviços. “Que, neste momento, não tem noção de quanto foi o custo de execução desse projeto; que também não sabe, neste momento, declinar a margem de lucro obtida nesse contrato”, diz o documento obtido por “Época”.

A PF perguntou para Luís Cláudio por que a Marcondes & Mautoni escolheu a empresa LFT para a consultoria. Luís Cláudio teria dito: “Que Mauro Marcondes nunca explicou ao declarante por que optou por contratá-lo; que não sabe dizer se Mauro Marcondes realizou alguma pesquisa de mercado antes de contratar o declarante”, diz o depoimento.

Também em depoimento à PF, Marcondes não respondeu por que a escolhida foi a empresa do filho de Lula.

Projeto original
Procurado pela revista, o advogado de Luís Cláudio, Cristiano Zanin Martins, disse que o cliente, profissional da área privada, já prestou às autoridades todos os esclarecimentos que lhe foram solicitados. Em nota enviada à imprensa ontem, a defesa do filho de Lula negou a informação de que seu cliente não havia feito nenhum projeto parecido ao que entregou à Marcondes & Mautoni.

“A informação que consta no depoimento vazado à revista é que o trabalho entregue ao contratante foi original, pois não havia sido feito anteriormente para outro cliente”.

O escritório de defesa informou ainda que, em seu depoimento, Luís Cláudio “esclareceu todos os serviços prestados à Marcondes & Mautoni e, no dia seguinte, entregou à Polícia Federal, por intermédio de seus advogados, todos os contratos firmados com a tal empresa”. Diz ainda que materiais relativos aos trabalhos realizados também foram entregues à PF.

“Os relatórios produzidos atestam a entrega do trabalho previsto em contrato, e a aferição exata de todas essas particularidades está no plano de contabilidade da empresa”, diz a defesa.

Os representantes da Marcondes & Mautoni não foram localizados pelo GLOBO para comentar a reportagem da revista.

Congresso do PMDB deve aprofundar cisão entre sigla e petistas

Daniela Lima, Gustavo Uribe e Débora Álvares – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Partido do vice-presidente Michel Temer e principal aliado do governo Dilma Rousseff no Congresso, o PMDB se prepara para fazer na terça-feira (17) uma demonstração vigorosa de seu descontentamento com os rumos do governo e de sua aliança com o PT.

Os peemedebistas convocaram um congresso para debater uma agenda de reformas econômicas proposta pela Fundação Ulysses Guimarães, centro de estudos do partido. O evento é visto pelos líderes da sigla como um primeiro passo na direção de um rompimento com os petistas.

Críticos do governo e da política econômica de Dilma terão microfones abertos para exibir sua insatisfação e pregar a ruptura com o governo durante o congresso, que será realizado em Brasília.

Produzido com o incentivo de Temer, o documento que resume a nova agenda do PMDB, "Uma Ponte para o Futuro", atribui as dificuldades atravessadas pela economia a excessos cometidos no primeiro mandato de Dilma e defende políticas austeras, incluindo cortes de gastos e uma reforma na Previdência.

Com o documento, o PMDB quer se apresentar a líderes empresariais e formadores de opinião como um partido capaz de formular políticas que tirem o país da crise, invadindo uma seara que era dominada pelo oposicionista PSDB.

O documento foi recebido com desconfiança pelos tucanos, que viram nele uma tentativa de Temer de acenar para setores do meio empresarial, usando o discurso do PSDB, e se credenciar como alternativa segura para o Planalto, caso a presidente Dilma não conclua o mandato.

Coordenador do congresso e aliado de Temer, o ex-ministro Moreira Franco diz que o programa elaborado pela fundação mostra que, ao contrário do PT e do PSDB, o PMDB tem "uma proposta".

"Sabemos como tirar o país da crise econômica e queremos nos preparar para contribuir com o país", afirma.

O documento enfrenta resistência internas e foi visto com reservas pela ala governista do PMDB. Nos bastidores, representantes desse grupo veem a agenda como irrealista e impopular. Dizem que a proposta não atrai votos e que a defesa enfática de políticas austeras pode prejudicar candidatos da sigla nas eleições municipais de 2016.

Informado sobre a dissidência, Temer atuou nos últimos dias para conter os descontentes e evitar censuras públicas ao documento durante o congresso na terça.

Aliados do vice passaram os últimos dias ressaltando que o encontro não tem poderes para decidir os rumos da sigla e que uma eventual censura à aliança com o governo Dilma só será deliberada em março, quando a sigla fará sua convenção nacional.

"Quem organizou esse encontro foi a fundação, que tem esse papel mesmo, de debater. O que chamam de programa é um estudo técnico, apresentado como parecer", disse o senador Eunício Oliveira (CE). "Só a convenção tem poderes para decidir."

Na última quinta (12), numa reunião para discutir o documento, aliados de Temer disseram que ele deveria ser lido como a "Carta aos Brasileiros", o documento apresentado na campanha eleitoral de 2002 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para vencer desconfianças que o PT enfrentava no mercado.

Segundo esse raciocínio, o documento não deveria ser encarado como peça de apelo eleitoral nem como um gesto com peso suficiente para deteriorar ainda mais a relação da sigla com o Planalto no Congresso, por exemplo.

Aperitivo
A proposta inicial era que o congresso da Fundação Ulysses Guimarães tivesse poderes deliberativos, mas as divisões internas fizeram com que o comando nacional do partido o transformasse numa espécie de fórum preparatório para o evento de março.

Os entusiastas do rompimento do PMDB com o governo federal ressaltam que o adiamento da palavra final sobre a aliança com Dilma não deve ser visto como uma vitória da ala governista.

Para eles, essa decisão mantém o Palácio do Planalto sob alta pressão e empurra o desfecho da crise política para o ano que vem, quando a recessão econômica deverá ter reflexos mais visíveis para a população, como o aumento do desemprego e dos índices de inflação.
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Dez propostas da agenda do PMDB
1 Fim das vinculações previstas na Constituição, como os gastos mínimos obrigatórios com saúde e educação, que deixam o governo sem margem de manobra para administrar o Orçamento

2 Tornar obrigatória a execução do Orçamento aprovado pelo Congresso, exceto em caso de frustração de receitas, quando as despesas seriam revistas de acordo com índices aprovados pelo Congresso

3 Fim da indexação de salários e benefícios da Previdência Social que hoje são corrigidos de acordo com a variação do salário mínimo

4 Criação de comitê independente para avaliação anual dos programas federais. Ele poderia recomendar a extinção de programas ineficazes. O congresso teria a palavra final

5 Criação de uma Autoridade Orçamentária, para articular o Executivo e o Legislativo

6 Para conter o crescimento dos gastos da Previdência, estabelecer idade mínima para aposentadoria no setor privado, 65 anos para homens 60 para mulheres

7 Rever a atuação do Banco Central no mercado cambial, em que a instituição intervém para conter variações bruscas das cotações do dólar, com custos para o Tesouro

8 Incentivar a participação do setor privado na realização de investimentos em infraestrutura e na operação dos serviços após as obras

9 Extinguir o regime de partilha criado pelos petistas para a exploração do pré-sal, dando à Petrobras direito de preferência nos leilões de futuras concessões

10 Busca de novos acordos comerciais com os Estados Unidos, a Europa e países asiáticos, com ou sem os parceiros do Brasil no Mercosul

Proposta de romper com o governo não será censurada, diz peemedebista

Gustavo Uribe – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Tido como um dos principais aliados do vice-presidente Michel Temer, o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) diz que "não haverá censura prévia" nas discussões do congresso do PMDB, que poderá abordar o rompimento da legenda com o Planalto.

Padilha defende que, assim como PT e PSDB, o PMDB lance candidato próprio nas eleições de 2018 e mantenha a aliança com o governo até a convenção nacional da sigla, em março.

Folha - O congresso do PMDB discutirá o rompimento com o governo?

Eliseu Padilha - Num congresso de militantes do PMDB, a abertura para a discussão é de 360 graus. Está no DNA do PMDB o compromisso com a liberdade de expressão. Não haverá censura prévia. Poderão surgir propostas que contemplem inclusive a questão do rompimento ou não com o governo federal. Isso será absolutamente normal.

Por que continuar apoiando a presidente Dilma?

O PMDB firmou aliança com o PT para as últimas eleições e integramos legitimamente o governo. Enquanto não ocorrer nova decisão da convenção nacional, que legalmente traduz a vontade majoritária do partido, vamos honrar nossos compromissos.

O senhor defende mudanças na atual política econômica?

O programa "Uma Ponte Para o Futuro" [documento lançado pelo PMDB] é mais uma prova de que nosso partido tem compromisso com o povo brasileiro. Sempre que foi necessário, ele propôs novos rumos, como faz agora. Seria muito honroso para o PMDB se o governo adotasse ideias do nosso programa.

Há necessidade de mudar o comando da Fazenda?

Caso o governo tome tal decisão, a definição da composição ministerial será, como hoje é, de competência exclusiva da presidente.

Por que o PMDB deve lançar candidatura própria em 2018?

Por que o PMDB não tem lançado candidato à Presidência sistematicamente? Isto seria o lógico e normal. É o maior partido do Brasil. Como a razão de ser de todo o partido é ascender ao topo para promover o bem-estar da população, o PMDB terá candidatura própria.

Para Moreira Franco, culpa da crise não é do PMDB

Gustavo Uribe – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Organizador do congresso da Fundação Ulysses Guimarães, o ex-ministro Moreira Franco avalia que, diferente do PT e do PSDB, o PMDB tem uma proposta para tirar o país da crise econômica e considera um erro a recriação da CPMF, imposto proposto pelo governo Dilma Rousseff.

Ele reconhece que o partido tem "alguma responsabilidade" do ponto de vista político sobre a situação do país, mas joga nas costas do PT os problemas econômicos.

"Na área econômica, as decisões tomadas, erradas muitas delas, não temos responsabilidade nenhuma, porque o partido nunca participou da formulação das políticas econômicas principais."

Folha - O PMDB deve deixar o governo da presidente Dilma?

Moreira Franco - Não estou preocupado com isso e imagino que a maioria do partido também não. Estamos voltados a apresentar uma solução para sair da pior crise econômica de nossa história. Temos quase 40 partidos, e o único que apresentou um programa com começo, meio e fim à sociedade brasileira foi o PMDB.

O partido participou desde o inicio do atual governo. A legenda também deve ser responsabilizada pela crise econômica?

É claro que alguma responsabilidade nós temos do ponto de vista político geral. Agora, na área econômica, as decisões tomadas, erradas muitas delas, não temos responsabilidade, porque o partido nunca participou de nenhuma decisão na formulação das políticas econômicas e públicas principais.

Em que pontos o senhor considera que o PMDB difere do PT e do PSDB?

Nós temos hoje uma proposta, sabemos como tirar o país da crise econômica e queremos nos preparar para contribuir com o país.

Que mudanças devem ser feitas na política econômica?

A principal é a responsabilidade fiscal. O problema fiscal é gravíssimo e nós não sabemos qual o deficit deste ano. É impossível, nem dona de pensão consegue fazer uma gestão adequada dessa maneira.

A defesa da recriação da CPMF pelo governo é um erro?

É um erro. Você defende o que você já experimentou e rejeitou? Além disso, a solução para a crise econômica não é aumentando impostos ou criando novos tributos, mas um plano econômico.

Levy se alia a PMDB e PSDB e ajuste avança

• Propostas importantes do pacote fiscal andaram no Congresso graças à movimentação do ministro, que enfrenta desgaste

João Villaverde - O Estado de S. Paulo

Depois de sofrer o mais forte desgaste público desde que foi convidado pela presidente Dilma Rousseff a assumir o Ministério da Fazenda, há exatamente um ano, o ministro Joaquim Levy conseguiu, enfim, fazer andar a segunda fase de seu ajuste fiscal no Congresso graças a uma aproximação atípica com o PMDB e o PSDB, principal partido de oposição ao governo. Levy não pode nem sequer “usufruir” dos avanços da última semana, uma vez que o Planalto tem dado sinais de insatisfação, pela primeira vez, com o desempenho do ministro. Mas seus movimentos políticos recentes ao menos permitiram colher vitórias inéditas neste segundo semestre.

O projeto de repatriação de ativos de brasileiros mantidos ilegalmente no exterior, que tem o potencial de atrair cerca de R$ 15 bilhões no ano que vem aos cofres federais, foi aprovado pela Câmara. Os deputados também deram sinal verde para a medida provisória que permitirá a cobrança de outorga nos leilões do setor elétrico previsto para este mês, que deve trazer R$ 11,2 bilhões para o governo ainda neste ano. Também a proposta de prorrogação da Desvinculação das Receitas da União (DRU) até 2023 caminhou e será votada em comissão especial na próxima terça-feira.

Esses três pontos do ajuste, que faziam parte da estratégia de Levy apresentada em agosto, caminharam depois de semanas de estagnação total após uma movimentação política incomum para Levy, que buscou aproximação com o PMDB e ajudou a coordenar um acordo do governo com o PSDB, no caso da DRU. Esses movimentos, mesmo contando com apoio do PT da Câmara no caso da DRU, não mudaram a visão de parte importante do partido, que tem engrossado o tiroteio iniciado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sonha pela troca de Levy por Henrique Meirelles, que comandou o Banco Central de 2003 a 2010.

Tal qual Levy, Meirelles pertenceu ao governo Lula, tem proximidade com o mercado financeiro, segue uma linha de pensamento econômico ortodoxo e próxima dos tucanos, e tem canais com Washington (EUA). O excesso de semelhança, no entanto, não faria da troca um “seis por meia dúzia”, segundo explicou ao Estado um parlamentar petista próximo a Lula e crítico de Levy. A ideia é que Meirelles, por ter mais “estofo” que Levy, poderia conduzir o ajuste fiscal mais rapidamente, gerando assim as condições para a retomada de uma agenda de crescimento. “O ajuste que deveria ser concentrado em 2015 ficou para 2016. Agora estão falando que até 2017 será difícil. Assim não dá”, disse o petista.

Movimentações. Sob pressão, Levy fez movimentações políticas inéditas para, enfim, fazer o ajuste fiscal andar no Congresso, depois de dois meses praticamente parado. Na terça-feira, o ministro foi jantar com 40 dos 81 senadores, organizado pelo PMDB. Do encontro participou inclusive o ex-senador José Sarney, cardeal do partido no Senado até hoje, ao lado de Romero Jucá (RR), Eunício Oliveira (CE) e do presidente da Casa, Renan Calheiros (AL).

Levy ouviu diversas críticas à política econômica, como o excesso de ênfase dada ao aumento de impostos e a falta de uma agenda positiva. Apesar do clima pesado, Levy seguiu os ritos políticos e, no dia seguinte, emitiu nota pública com elogios aos senadores do PMDB. Depois, Levy ajudou a coordenar acordo entre o governo e o PSDB para fechar o inédito apoio dos tucanos à proposta de prorrogação da DRU até 2023.

Esses movimentos – e o sucesso verificado nesta semana – deram sobrevida à Levy, que trabalha para agradar empresários e parlamentares com medidas positivas, desta vez. A reforma de simplificação do PIS/Cofins, dois dos tributos mais complexos do Brasil, deve, enfim, chegar ao Congresso até o fim do mês, segundo o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, braço direito de Levy. A medida é aguardada com ansiedade pelo setor privado, porque pode desburocratizar o pagamento de impostos no País.

Segundo fontes próximas ao ministro da Fazenda, ele continua imbuído da “missão” conferida a ele no fim do ano passado, de ajustar as contas públicas depois dos excessos do primeiro mandato de Dilma, quando uma série de manobras contábeis, como as pedaladas fiscais, foram praticadas para maquiar a piora das contas federais. Para ele, somente uma melhora consistente do quadro das contas poderá criar as condições para a queda da taxa básica de juros, mantida atualmente pelo Banco Central em 14,25% ao ano – a maior do mundo.

Sempre defendi que PSDB não votasse na linha do 'quanto pior melhor', diz Serra

• Senador acrescentou que não acredita na possibilidade de Dilma optar pela renúncia, apesar da 'impaciência' do povo brasileiro

Gabriela Lara - O Estado de S. Paulo

PORTO ALEGRE - O senador José Serra (PSDB-SP) disse neste sábado, 14, que o fato de o partido ter rompido com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sinaliza que os deputados tucanos também estão revisando sua postura de voto, o que ele considera positivo. "Eu sempre defendi, desde o início, que o PSDB não votasse na linha do 'quanto pior melhor' no que se refere a projetos-bomba. Isso não tem a ver com o governo. Tem a ver com o Brasil, a médio e longo prazo", disse a jornalistas em passagem pela capital gaúcha, onde participou de um evento promovido pelo diretório estadual do partido.

"É possível fazer oposição sem causar danos de maneira permanente ao País só para enfraquecer o governo", disse, referindo-se a votações que podem pôr em risco as finanças da União. "Aliás, não precisa fazer muita coisa para enfraquecer o governo, ele já nasceu fraco e permanece fraco e vai continuar sendo fraco", disse.

Segundo o senador, hoje o Brasil não tem um governo funcionando normalmente. "Tem uma presidente cuja preocupação é ficar no cargo. Esta é a ação essencial do governo", afirmou. Serra acrescentou que não acredita na possibilidade de Dilma optar pelo caminho da renúncia, apesar da "impaciência" do povo brasileiro com a atual administração.

"É verdade que a Dilma tem a maioria do País contra ela, é quase 9 contra 1, e isso cria uma impaciência muito grande. O que eu vejo na rua por todo lado é as pessoas dizendo que precisa mudar o governo. Agora, você tem limites constitucionais, você tem um ritual, você tem o Congresso, tem leis, tem o Judiciário. Às vezes as coisas não andam no ritmo que a impaciência das pessoas gostaria", afirmou.

PMDB. Serra elogiou o documento lançado recentemente pelo PMDB com propostas para a economia que destoam das defendidas pelo PT. "O documento em linhas gerais é bom. Você pode divergir ou concordar em diferentes pontos, mas é bom", disse.

O senador também comentou que o PSDB já tem um programa desse tipo, que foi apresentado na eleição do ano passado, e disse desconhecer qualquer iniciativa dos tucanos no sentido de lançar novas diretrizes de política econômica. "Acho que o (documento) do PMDB tem mais significado por ser um partido que até agora estava na base do governo. É interessante que se diferencie do programa do governo", avaliou.

Esta semana, o presidente do PSDB, o senador Aécio Neves, disse que o partido pretende apresentar ao País uma revisão da plataforma de sua campanha presidencial em 2014, com propostas como pacto federativo e reforma tributária, além de enfoque social.

Dilma admite parcela de culpa em desgaste de Joaquim Levy

Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff reconheceu, em conversas no últimos dias, que contribuiu para o desgaste do seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ao impor a ele seguidas derrotas dentro do governo em torno principalmente do ajuste fiscal.

Na avaliação da presidente, esses reveses não só enfraqueceram Levy como fizeram com que ele começasse a perder serventia para o governo como avalista perante o mercado financeiro.

O enfraquecimento transformou Levy em alvo de pressões dos que desejam mudar a política econômica, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tenta derrubá-lo para colocar no seu lugar o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

Como resiste à troca, apesar de já não descartá-la, Dilma disse a aliados que sua intenção é começar a tomar decisões para fortalecer seu ministro para recuperar sua força no comando da economia.

Na semana passada, ela tomou duas medidas defendidas por Levy, combatidas por outros setores do governo: meta fiscal de 2016 sem abatimento e veto à liberação de mais recursos para o PSI (Programa de Sustentação de Investimentos), que é subsidiado pelo Tesouro Nacional.

A dúvida de Dilma, segundo assessores, é se Levy conseguirá recuperar força a tempo de dar uma nova "esperança" sobre a retomada da economia, como Lula pede. Caso contrário, ela admite que terá mesmo de trocá-lo.

Levy, segundo amigos, encaixou-se no perfil ideal de ministro de Dilma nesse momento. Um nome apoiado pelo mercado, mas que não exigia dela acatar suas posições, permitindo que a presidente adotasse posições mais flexíveis na área fiscal.

Derrotas em série
Ao longo do ano, Levy foi perdendo disputas, derrotado em questões cruciais. Inicialmente, no tamanho do primeiro corte de gastos. Depois, na redução da meta fiscal. Por último, no envio ao Congresso de um Orçamento com previsão de deficit em 2016.

Interlocutores da presidente dizem que Levy precisa buscar uma agenda pró-crescimento paralela à do ajuste. Um deles diz que ele não precisa inundar o mercado com crédito, mas pode adotar medidas pontuais que possam impulsionar alguns setores.

Se isso não acontecer, assessores da presidente avaliam que sua permanência ficará inviável, ganhando força o nome de Meirelles para substituí-lo no início de 2016. Eles lembram que até o mercado e o empresariado já não enxergam Levy como essencial, se for trocado por um nome com o mesmo perfil.

Sinal de que hoje não descarta um convite a Meirelles, Dilma tem perguntado a alguns aliados se eles consideram mesmo que o ex-presidente do BC de Lula seria uma solução para seu governo.

Como resposta, ouviu de alguns deles que sim, desde que ela dê a ele as condições para fazer seu trabalho.

Na avaliação de amigos de Levy, um de seus erros foi ter aceitado sofrer derrotas dentro do governo e, mesmo assim, achar que se preservava deixando circular que era contra as medidas.

Situação semelhante, segundo aliados de Lula, não aconteceria com Meirelles. O ex-BC deixaria claro que se fosse derrotado respeitaria a posição da presidente, mas não ficaria no governo.

Meirelles confidenciou a amigos que está disposto a aceitar um convite para ser ministro de Dilma, mas colocaria algumas condições, como ter autonomia no comando da política econômica.

Segundo ele, isso não é uma predisposição contra a presidente Dilma, mas uma filosofia de trabalho adotada por ele em todos os convites que recebeu em sua carreira profissional.

Mercado de trabalho piora e taxa de desemprego deve atingir 10% em 2016

• Índice de desemprego sobe desde o início do ano passado e chegou a 8,7% da população economicamente ativa em agosto; para especialistas, fechamento de vagas temporárias após Natal e recessão devem levar a taxa a dois dígitos no início de 2016

Anna Carolina Papp e Luiz Guilherme Gerbelli - O Estado de S. Paulo

O efeito mais perverso da crise econômica deve rondar o Brasil pelos próximos anos. A piora do mercado de trabalho vai se acentuar e empurrar a taxa de desemprego para mais de 10% no ano que vem.

Diferentes indicadores já apontam uma forte deterioração do mercado de trabalho. De abrangência nacional, o desemprego medido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua caminha para superar os 10% no primeiro trimestre do ano que vem.

“Na nossa avaliação, a Pnad Contínua fecha este ano próximo de 9% e chega aos dois dígitos no primeiro trimestre de 2016, quando haverá o fim das contratações de trabalhadores temporários e uma continuidade das demissões”, afirma Tiago Cabral Barreira, pesquisador em economia do trabalho do Ibre/FGV.

No trimestre encerrado em agosto, o desemprego apurado pela pesquisa foi de 8,7%, o maior patamar da série histórica iniciada em 2012. O contingente de desocupados chegou a 8,8 milhões de pessoas, um aumento de 2 milhões – o equivalente à população de Manaus – na comparação com o mesmo período do ano passado. “O mercado de trabalho vai piorar bastante ainda. O desemprego na Pnad Contínua deve chegar a 12% até o fim do primeiro semestre do ano que vem”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), cujo levamento engloba as regiões metropolitanas de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife, a piora no mercado de trabalho também fica evidente. Em setembro, a desocupação chegou a 7,6%, o pior resultado para o mês desde 2009.
Eram 1,9 milhão de desempregados, 670 mil pessoas a mais do que no mesmo mês de 2014.

“Na nossa avaliação, o desemprego medido pela PME deverá chegar a 10% no fim do ano que vem”, diz Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências Consultoria. A última vez que a desocupação superou os dois dígitos na pesquisa foi em maio de 2007.

Recessão. A retração do mercado de trabalho pode ser explicada pela recessão de 2015, a mais intensa desde 1990, e a perspectiva de uma nova queda da atividade econômica no ano que vem. Como resultado, grandes setores empregadores, como a construção civil e a indústria de transformação, passaram a demitir num ritmo intenso, e as atividades que ainda mostravam um certo vigor dão sinais de fraqueza.

“Já havia um desempenho modesto da atividade econômica há algum tempo, mas isso demorou a aparecer no mercado de trabalho, pois havia uma certa resiliência do setor de serviços”, afirma Fabio Romão, economista da LCA.

Com a piora da economia, a taxa de desocupação deve demorar para arrefecer. O cenário de pleno emprego – que marcou o início da década – não deverá se repetir nos próximos anos e a expectativa é de que os números permaneçam num patamar alto. Este cenário explica a formação de grandes filas de desempregados como as observadas na semana passada em São Paulo.

‘As brigas são um problema do Pedro Paulo’, diz Eduardo Paes

• Prefeito afirma que agressões não inviabilizam candidatura de principal aliado

Por Alan Gripp e Jeferson Ribeiro – O Globo

RIO - Ao receber O GLOBO na última sexta-feira, Eduardo Paes, como de costume, exibiu com orgulho fotografias e capas de jornais com suas realizações no cargo, que preenchem quase todas as paredes de seu amplo gabinete, na sede da prefeitura, no Centro. Com estilo informal, quase escrachado, contou histórias da política brasileira e fez uma análise da crise no país. Ao falar do caso Pedro Paulo, assumiu um tom sério. Paes deixou claro que não tem plano B, garantiu ter o apoio do partido para manter o seu escolhido e disse, convicto, que o eleitor entenderá as explicações do secretário, que, nesta semana, defendeu-se ao lado da ex-mulher com uma pergunta que teve grande repercussão nas redes sociais: “Quem não tem uma briga dentro de casa?”. “Aspectos da vida dele, das brigas, do casamento, são um problema dele”, afirmou o prefeito.

A revelação de que o secretário Pedro Paulo agrediu a ex-mulher pode inviabilizar a candidatura dele?

De forma nenhuma. Primeiro, eu acho que nós estamos falando de algo da vida pessoal e familiar do deputado e do secretário Pedro Paulo. Não estamos falando algo da dimensão pública dele. Na dimensão pública, ele é o quadro mais preparado para assumir essa função. Estou falando de alguém que nesses sete anos de mandato foi o “primeiro-ministro” do governo, gerenciando todas as nossas intervenções, num governo que faz muito e de que a gente se orgulha. Portanto, não acho que afeta em nada. Pedro Paulo vai ser o candidato apoiado por mim na minha sucessão.

O assunto vai ser muito explorado pelos adversários...

Eu acho que, infelizmente, faz parte da vida pública a gente ter que tratar às vezes de coisas que não encostam na nossa dimensão pública. Os adversários podem explorar, mas aí é do debate político. Eu acho que o que vai valer para o eleitor, o que deve valer para o eleitor, é tentar compreender quais são as propostas do Pedro Paulo para a cidade. Ele é preparado para isso? Que realizações que ele tem? É disso que se trata a eleição. Agora, se os adversários explorarem o aspecto da vida pessoal e familiar dele, cabe a ele se defender.

O que ele lhe contou sobre os episódios com a ex-mulher?

Olha só, eu não me interesso em nada sobre esse aspecto da vida pessoal dele. Não é problema meu. Estou aqui lidando com a minha sucessão, com minha paixão à minha cidade. Esses aspectos da vida dele, das brigas que teve com a ex-mulher, do casamento malsucedido, são um problema dele. Eu trago um caso que ajuda a gente a entender isso. Tem uma pessoa que fez história no Brasil recentemente, que é o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal. Ele tinha um caso de agressão à sua ex-mulher. Isso é da vida pessoal dele e não atrapalhou a nomeação dele para o Supremo e seu desempenho. Nós, homens públicos, não viemos de Marte. Temos nossos problemas, nossos defeitos. Tenho os meus, vocês têm os seus, mas vocês não são homens públicos. Então, não esperem de nós, não esperem de mim, uma pessoa perfeita, sem defeitos na vida familiar e pessoal.

Na sua visão, nada da vida privada de uma pessoa que almeja a vida pública interessa para o eleitor?

Olha, algumas coisas devem (interessar). Eu acho que aconteceu uma coisa de casal, que aconteceu entre quatro paredes, que a gente não conhece as circunstâncias, interessa a eles. No dia que o Pedro Paulo tiver um problema na dimensão pública, que eu tenho certeza que não tem, você pode ter certeza que eu serei a primeira pessoa a agir.

Mas na entrevista que ele deu ao jornal “Folha de S. Paulo” ele mentiu ao dizer que a primeira agressão revelada tinha sido um episódio único. Isso não trai a confiança do eleitor?

Olha só, eu acho que o que você tem no caso do Pedro é um gesto de enorme coragem e proteção, desde o início, desse episódio da sua família, da sua ex-mulher, da sua filha. Ele está protegendo (a família) o tempo todo. E eu acho que isso mostra mais uma qualidade dele. Eu saio do ponto de vista pessoal mais bem impressionado com o Pedro, pela coragem de tratar desse assunto como ele vem tratando.

Ele mentiu para proteger a família?

Não acho que ele mentiu. Acho que ele omitiu para proteger a família.

Se é uma questão privada, por que ele decidiu pedir desculpas públicas?

Aí é uma pergunta que você pode fazer a ele. Eu só posso admirar a coragem dele. Eu já enfrentei crise na minha vida política. Mas nesse grau de campo pessoal... Como disse a ex-mulher dele ontem, essa é a exposição de uma briga de um casal com um casamento malsucedido. Só posso admirar a coragem dele de proteção (à família) e de ter enfrentado esse problema.

Que conselho o sr. deu para ele?

Eu não sou perfeito, o tempo todo eu digo isso. E acho que na vida pública a gente erra, que dirá na vida pessoal. Eu sempre aconselho que os eventuais erros que a gente comete na vida pública devem ser assumidos, quanto mais os da vida pessoal, os problemas que a gente tem. Acho que é sempre melhor lidar com os problemas, esse é sempre o conselho que dou.

O senhor não teme que esse episódio possa atrapalhar, inclusive, a sua carreira política?

Não tenho o menor temor disso. De novo, tomei a decisão de apresentar à cidade o melhor candidato, o mais bem preparado.

Tem algum plano B?

Não tem plano B . Meu plano A, B, C, D e o alfabeto inteiro é o candidato Pedro Paulo

O seu partido parece ter plano B?

Você que está dizendo. Eu desconheço totalmente. O que eu vejo é enorme solidariedade do meu partido, do (ex) governador Sérgio Cabral. O Cabral nesse episódio todo foi um dos mais enfáticos na defesa da candidatura do Pedro Paulo.

Comenta-se que o ex-governador gostaria de ser candidato a prefeito. O que há de verdade nisso?

O Sérgio Cabral é camisa 10 desse time. Ele é o titular número 1. Ele não é candidato a prefeito desde sempre porque não quer. Se quisesse ele já seria. O Cabral é o camisa 10, e o Pedro, o camisa 9. E eu estou doido para escalar aqui um camisa 11, que é o Romário (senador pelo PSB, com quem negocia apoio a Pedro Paulo). O Cabral não está no banco, ele não é reserva. O Cabral não quer ser candidato a prefeito.

O senhor queria uma chapa Pedro Paulo e Romário?

O Romário sempre manifesta que tem desejo de continuar no Senado, mas a gente acha que é muito importante o apoio dele. E a gente vem conversando isso com ele.

O PMDB está se descolando do governo Dilma Rousseff. O senhor vai trabalhar para ser candidato a presidente em 2018?

Eu não mexo uma palha para isso, eu não trato disso, eu não penso nisso. Eu pensava muito em ser prefeito e não escondia isso. Eu fechava o olhinho e sonhava em estar aqui na prefeitura. Não estou dizendo que não quero ser presidente da República. Eu não paro para ficar pensando nisso e nem pauto minhas atitudes por isso. Agora eu sou um cara da política. Eu acho que o mais natural para mim, estou aqui abrindo, é ser candidato a governador. Mas nem nisso eu penso.

O senhor acha que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, tem condições de continuar no cargo após as revelações de que possui dinheiro não declarado na Suíça?

Olha só, acho que todo mundo tem direito a defesa e acho que ele tem que exercer o direito dele. Ele está lá no Conselho de Ética e vai ser julgado por isso. Não me peça para fazer julgamento de valor porque eu não conheço os detalhes. Acho que a situação dele é muito delicada e difícil.

Mas no cargo ele pode influir no funcionamento do conselho, nos prazos?

Mas aí é cobrar do conselho que não se deixe operar. Eu estou muito distante de Brasília. Eu adoro levar minha vidinha aqui no balneário. O grau de radicalismo que está se adotando em Brasília está prejudicando a dona Maria ali na esquina.

O senhor conversou com Eduardo Cunha sobre esse cenário?

Eu não converso com o deputado Eduardo Cunha já faz um tempo. Ao longo deste ano, nas oportunidades que tive de conversar, sempre foram conversas no sentido de dizer que compreendo sua posição de não ter o apoio do governo para se eleger, mas a posição de presidente da Câmara é uma posição institucional.

O senhor sentiu nele vontade de desempenhar papel institucional?

Há demonstrações claras de que não.

O senhor acha que a presidente chega ao fim do mandato?

Não vejo motivos para que não. A gente como brasileiro devia torcer para isso acontecer. Impopularidade, erro de gestão, isso não pode ser motivo para a gente impichar um presidente. A não ser que exista casos de crime de responsabilidade.

Frentes cariocas

• A proposta da criação da Frente de Esquerda foi levada a Lula, que insistiu no apoio ao PMDB

Fernando Molica – O Dia

Rio - Duas frentes partidárias, à esquerda e à direita, estão sendo articuladas para a disputa da Prefeitura do Rio em 2016. A deputada Jandira Feghali, do PCdoB, lidera conversas que têm o objetivo de reunir dissidentes petistas e pedetistas para lançar a candidatura do deputado federal Wadih Damous (PT).

Como o PT já decidiu apoiar o candidato do PMDB, Damous teria que ir para o PCdoB, hipótese que ele rejeita. Afirma que aceitaria discutir a entrada na briga, desde que pelo PT. “Não tem como sair do partido”, diz.

Lula reprova
A proposta da criação da Frente de Esquerda foi levada a Lula, que insistiu no apoio ao PMDB.

Aécio articula
Já Aécio Neves tenta viabilizar a criação da Frente da Social-Democracia, que reuniria PSDB, DEM, o PSB de Romário e o PSD do deputado Indio da Costa. A aliança lançaria um candidato à prefeitura e serviria de base para o tucano voltar a tentar a Presidência em 2018.

Quer se explicar
Por conta das agressões à ex-mulher, Pedro Paulo pediu ao PT-RJ para ter reuniões com mulheres do partido.

Debate / Convite - Luiz Werneck Vianna


Luiz Sérgio Henriques: Lava Jato, partidos e democracia

- O Estado de S. Paulo

Difícil calcular, ainda, o impacto e o alcance de uma operação como a Lava Jato não só sobre usos e costumes, como também sobre o sistema partidário, esse elemento central da vida democrática. Numa visão clássica da moderna comunidade política de massas, os partidos são a própria “democracia que se organiza”, ao lado, naturalmente, de outros numerosos institutos que expressam o associativismo, representam interesses e, em última análise, animam o confronto de ideias e dão substância ao pluralismo.

Não é trivial saber, pela voz do Ministério Público, que haverá consequências para partidos, como o PT ou o PMDB, que em maior ou menor grau se envolveram em esquemas de poder ao longo dos últimos governos. Esses dois partidos não são agremiações irrelevantes. O primeiro corporificou majoritariamente a “nova esquerda” tal como construída no País redemocratizado; o segundo constituiu o instrumento decisivo para a derrota do regime militar, manteve capilaridade em todo o território nacional, mesmo depois do desaparecimento de suas lideranças históricas e de sua evidente involução programática – o partido que gerou, há décadas, documentos como Esperança e Mudança só recentemente reencontrou fôlego para propor “uma ponte para o futuro”, seja qual for o juízo que fizermos da possibilidade de uma ação partidária minimamente vertebrada daqui por diante.

O impacto sobre um partido de esquerda, como o PT, medido pela eventual retenção significativa de fundos públicos ou pela hipótese extrema de cassação do registro, não pode nem deve ser subestimado. Melhor buscar atar algumas pontas soltas de nossa história política do que bradar, de modo estridente ou imaturo, contra perseguições ou pretensas tentativas de criminalização de uma força popular, urdidas por uma “direita” aninhada nos órgãos republicanos de controle e mancomunada com a mídia conservadora e outras forças do mal. O maniqueísmo não costuma ser bom conselheiro; antes, é uma das formas prediletas de loucura induzidas pelos deuses naqueles a quem querem perder.

Se de esquerda falamos e com fios soltos temos de lidar, um caminho é fazer um corte radical e voltar brevemente a um tempo distinto sob tantos aspectos, mas também, como este nosso, um tempo partido e de homens partidos, para evocar a imagem de um esplêndido poeta então momentaneamente “engajado”. Interessantíssima experiência teve a esquerda marxista brasileira – partidariamente organizada – no curto período de legalidade do antigo PCB, logo no segundo pós-guerra. Com relativo êxito eleitoral, esse grupo obteve registro entre novembro de 1945 e maio de 1947, enriquecendo as instituições com a representação dos excluídos, tal como se podia esperar de um partido que contava, entre outros, com Luiz Carlos Prestes, Jorge Amado, Mário Schenberg e Caio Prado Júnior.

Ça va sans dire, aquele comunismo tinha relações conflituosas com a democracia política. Por um lado, sua presença legal alargava os espaços da representação e introduzia no sistema partidário um contingente de cidadãos até então majoritariamente excluídos. Por outro, era de esperar que a própria democracia, com sua dinâmica e suas exigências inescapáveis, reduzisse o caráter toscamente antissistema do ator, tal como configurado no marxismo-leninismo de extração stalinista. Um duplo movimento que, realizado em outros lugares, traria ganhos consideráveis à vida civil, e podemos supor razoavelmente que não teria sido diferente na democracia garantida pela Constituição de 1946.

Assim, a prolongada clandestinidade ou semilegalidade do PCB não dizia respeito só aos comunistas, mas representava pesada hipoteca sobre a qualidade de nossa vida pública. Entre outras coisas, contribuiu para que a esquerda marxista, em sua quase totalidade, amadurecesse com dificuldade ou não amadurecesse de todo, mantendo extemporâneas veleidades “revolucionárias”, haja vista a fortuna retórica – má retórica! – dos apelos à “luta armada” que vez por outra ainda se fazem ouvir, no rastro da memória dos hiperideologizados anos 1960.

Já quase esvaziada a forma política do comunismo histórico, o PCB empregou suas últimas forças numa tarefa ainda insuficientemente resgatada e valorizada, a saber, uma estratégia de frente democrática com o segundo dos partidos hoje sob risco de punição, o MDB e o PMDB, para enfrentar o regime ditatorial.

Do ponto de vista teórico, em prazo maior ou menor uma estratégia desse tipo não poderia deixar de ter repercussões decisivas – para falar com clareza, a assimilação e a valorização dos princípios liberal-democráticos, a compatibilização das “liberdades negativas” próprias do liberalismo com as “liberdades positivas” próprias das correntes democráticas, sempre preocupadas com a generalização da cidadania e a regulação das economias de mercado. Afinal, só espíritos extremados, adeptos de um liberalismo econômico sem limites, admitem como boa coisa uma “sociedade de mercado”, fechando os olhos para injustiças e desigualdades que gera automaticamente.

É possível que parte considerável das dificuldades do petismo no poder consista na manutenção puramente exterior de alguns dos piores vícios do comunismo histórico, como o centralismo, o culto à personalidade e a pretensão de ser superior às degenerações “burguesas”, como se isso garantisse, a priori, a correção de comportamentos individuais e políticas públicas. E como se os críticos, sejam quais forem suas motivações e orientações de valor, devessem ser confinados no perímetro de uma odiosa “direita”, à qual no fundo não se reconhece legitimidade por estar na condição de “inimigo total”. É o que nos volta a ensinar, como num manual, o bolivarianismo da vizinhança. Nossa esquerda, em algum momento, renunciará a esse legado?

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Luiz Sérgio Henriques é tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das 'Obras' de Gramsci no Brasil.

Merval Pereira: Guerra pelas mentes

- O Globo

Os ataques coordenados na sexta- feira 13 em Paris, assumidos pelo Estado Islâmico como uma reação à participação militar da França no combate ao terrorismo na Síria, são vistos por especialistas como uma etapa a mais da ação horizontalizada de células autônomas — imaginadas pelo ideólogo sírio Abu Mussab Al-Souri, um veterano da Al- Qaeda, que lançou as bases desse novo tipo de terrorismo, muito mais difícil de ser detectado pelos serviços de inteligência.

Uma das maiores autoridades internacionais sobre terrorismo islâmico, o francês Gilles Kepel, autor do livro “Terror e martírio”, onde revela os pontos principais de um libelo de Al-Souri pela resistência islâmica mundial, estuda esse novo terror utilizado pelo Estado Islâmico e divide a sua atuação em dois níveis: no mundo virtual, usando as mídias sociais; e no mundo real, na guerra na Síria.

Por meio do Facebook, do YouTube e do Twitter, eles cooptam jovens para matar em suas próprias cidades, ou recrutam “soldados” para enviar à Síria e ao Iraque. Textos de doutrina, sobre escolha de alvos e os métodos, são enviados pelas redes sociais, e os jovens têm autonomia para escolher onde atacar.

Há orientações específicas para ataques a judeus e a organizações a eles ligadas, mas não nas sinagogas. Em abril, seis pessoas se esconderam numa arca frigorífica de um supermercado “kosher” ( judaico) em Paris atacado por terroristas. No Facebook, passou a circular um filme de 2008 em que um grupo ameaçou o Bataclan por dar todo o ano uma festa para a Magav, a polícia de fronteira israelense. Outros alvos são os eventos esportivos, e por isso na sexta- feira houve atentados nos arredores do Stade de France, onde a seleção de futebol jogava com a presença do presidente François Hollande.

O atentado à Maratona de Boston foi também fruto dessa orientação internacional, o que faz com que a segurança dos Jogos Olímpicos no Rio no ano que vem ganhe uma dimensão maior ainda. A 21ª Conferência do Clima (COP 21), que tem início previsto para o dia 30 e até agora está mantida, também é outro grande foco, mas provavelmente os atentados foram feitos na sexta- feira para se antecipar às medidas de segurança extrema que deveriam ser montadas para a reunião do clima da ONU.

O francês Gilles Kepel diz que a Europa é fundamental na estratégia do Estado Islâmico de ganhar as mentes das sociedades árabes e europeias, a fim de estabelecer conflitos sociais que levem a uma guerra civil, até que o poder total seja conquistado.

Segundo Kepel, o Estado Islâmico provoca o Ocidente para que a reação radical favoreça o surgimento de uma islamofobia que fará com que os árabes e descendentes tenham que escolher o seu lado do conflito. Ele acredita que a guerra real contra o Estado Islâmico acabará sendo vencida pelos países ocidentais, mas a guerra virtual, através das novas tecnologias digitais, continuará sendo desenvolvida em diversos locais por células autônomas.

Para ele, é difícil vencer com bombas uma guerra ideológica que oferece aos jovens uma situação real que se parece em tudo com os joguinhos eletrônicos de realidade virtual que estão acostumados a jogar.

Kepel diz que o Islã na França é muito amplo, e é preciso vencer essa guerra de domínio dos corações e mentes dos árabes e seus descendentes para neutralizar essa estrutura horizontalizada do Estado Islâmico — que, ao contrário da Al-Qaeda, dá aos recrutados capacidade de ação às vezes até mesmo individual e alimenta sonhos de poder.