- O Globo
A questão central dessa campanha presidencial que já começou não é se Lula será ou não candidato, embora essa seja uma premissa fundamental. O que ninguém sabe é o que prevalecerá, se as máquinas partidárias e suas consequências, como alianças partidárias e tempo de propaganda eleitoral, ou a repulsa, cada vez mais sentida, do cidadão comum aos partidos e políticos tradicionais, e a busca de um novo perfil de candidatos.
Mesmo que as pesquisas de opinião mostrem que o eleitorado rejeita a política tradicional, o raciocínio político oficial de governistas e oposicionistas ainda trabalha com a ideia de que, no final das contas, prevalecerá a estrutura partidária. Por isso, as coligações eleitorais, mesmo as mais absurdas, continuam sendo o objetivo central de seus candidatos.
O único candidato bem posicionado nas pesquisas que parece não ligar para as estruturas formais é Jair Bolsonaro, que nem mesmo partido tem. Lula já prometeu “perdoar os golpistas” para abrir espaço para alianças regionais com políticos com projetos de poder apartidários, com homogeneidade moral semelhante a Renan Calheiros e congêneres.
A resiliência da popularidade do ex-presidente e a máquina petista dariam as possibilidades reais de competitividade, embora na eleição municipal de 2016 o PT tenha perdido 60% das prefeituras em relação à eleição anterior. Mas a ameaça concreta de o ex-presidente ser impedido pela Justiça de disputar a eleição está fazendo com que partidos tradicionalmente aliados ao PT busquem soluções próprias.
O PCdoB já lançou a deputada Manuela D’Ávila, e o PDT tem em Ciro Gomes seu candidato. A base governista tenta armar uma candidatura que reúna o maior número de partidos possível para defender um projeto de governo de continuidade, jogando na possibilidade de que a melhora da economia chegue às vésperas da eleição no ano que vem refletindo no bolso do cidadão comum.
O PSDB, de seu lado, tenta reunir seus cacos em torno do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, com uma certeza: a máquina partidária tucana, se for unida para a eleição, é das mais fortes, tendo crescido consideravelmente nas eleições municipais de 2016. Além de dominar São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, a capilaridade partidária, que atualmente só perde para o PMDB, seria um trunfo.
O que está difícil é montar alianças eleitorais, pois o PSB, que deu o vice em São Paulo como parte de um acerto eleitoral para apoiar Alckmin à Presidência, resiste a concretizá-lo, tendo o ministro aposentado do STF Joaquim Barbosa como alternativa e, caso mais este outsider desista de entrar na disputa, parte dos socialistas quer apoiar Lula.
O PPS, sem a opção do Luciano Huck, deve apoiar Alckmin, e o DEM, outro aliado natural dos tucanos, parece mais inclinado a fechar acordo com a base aliada do governo Temer do que a ir para a oposição.