*Tradutor e
ensaísta, é um dos organizadores das ‘Obras’ de Gramsci no Brasil. “As
democracias (ainda) sob cerco”. O Estado de S. Paulo, 18/7/2021
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
*Tradutor e
ensaísta, é um dos organizadores das ‘Obras’ de Gramsci no Brasil. “As
democracias (ainda) sob cerco”. O Estado de S. Paulo, 18/7/2021
O Globo
A melhor forma de interditar um debate é
apontar falsamente intenções maléficas por parte de quem tenta fazê-lo de forma
honesta. Ou dizer de antemão que ele está fadado ao fracasso.
É o que o PT e Lula, de um lado, e o
presidente Jair Bolsonaro, de outro, vêm ensaiando em relação a qualquer
tentativa de articular uma alternativa à ideia segundo a qual, um ano e três
meses antes das eleições, já está dado o segundo turno entre os dois.
Propagar em tons cabalísticos essa
inevitabilidade é algo que contraria a lógica mais comezinha e despreza toda a
história das eleições no Brasil e no mundo. E só interessa aos dois.
Graças à manchete desta terça-feira do
GLOBO, reunindo declarações de ambos, dadas no mesmo dia, a respeito de uma
eventual terceira via em 2022, caiu o mundo no petismo: “falsa equivalência”,
“falso paralelismo”, passaram a gritar nas redes sociais os interessados em
desencorajar, pela intimidação, qualquer discussão a respeito de algo tão
basilar das democracias quanto a existência de nuances no espectro
político-partidário.
As eleições brasileiras desde 1989 sempre
tiveram uma plêiade de candidatos. Por que raios isso seria diferente em 2022?
Que haja um enxugamento dessa cartela, que partidos se unam previamente em
torno do objetivo de chegar mais fortes a uma disputa que, sim, já começará de
antemão com dois contendores fortes, é esperado e é racional.
Agora, querer evitar na base do grito
autoritário que qualquer opção, ainda que, vá lá, fadada ao fracasso, possa se
apresentar é histeria. E isso tem uma razão.
Lula e o PT sabem que ainda resiste na
sociedade um antipetismo vigoroso. Ele se mostrou nas eleições de 2020, mesmo
com a tragédia do governo Jair Bolsonaro já a pleno vapor e com o naufrágio
bolsonarista naquelas urnas.
Foram justamente as opções nem-nem que prosperaram em capitais importantes: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, Curitiba, e por aí vai.
O Globo / Folha de S. Paulo
O veneno está na reeleição
O tucanato, responsável pelo envenenamento
do regime presidencialista brasileiro ao patrocinar o instituto da reeleição,
voltou a namorar com o parlamentarismo. Chamam-no de semipresidencialismo por
uma questão de pudor.
Uma experiência fracassada no século
passado e rejeitada em dois plebiscitos não bastou para que um pedaço do andar
de cima nacional desistisse da ideia.
Nesse namoro, juntam-se dois blocos. Num,
estão os parlamentaristas sinceros; no outro, aqueles que temem uma vitória
eleitoral de Lula. Em 1994, quando ele parecia ser uma ameaça, a revisão
constitucional encurtou o mandato do presidente de cinco para quatro anos. Numa
trapaça da História, Lula acabou beneficiado pelo dispositivo da reeleição que
garantiu um segundo mandato a Fernando Henrique Cardoso e, em vez de cinco
anos, acabou governando por oito, de 2003 a 2011, sem abalar as instituições ou
balançar o coreto do andar de cima. Beneficiado pela mágica tucana, o PT
reelegeu não só Lula, mas também Dilma Rousseff.
A ideia de que o semipresidencialismo
limitaria os poderes de Jair Bolsonaro num eventual segundo mandato é golpista
e pobre. É golpista porque cheira ao truque de 1961, quando foi instituído o
parlamentarismo para permitir a posse do vice-presidente João Goulart. É pobre
porque um Bolsonaro, uma vez reeleito, mastigaria o regime, como Goulart
mastigou-o.
Os defensores do semipresidencialismo dizem que ele amenizaria as crises: em vez de cair o presidente, cairia o primeiro-ministro. Vira e mexe, apresenta-se a matriz do regime francês, criado pelo general Charles de Gaulle. Trata-se de uma falsidade histórica. O que De Gaulle fez na França foi o contrário, reciclou um parlamentarismo que ia de crise em crise, fortalecendo a figura do presidente. Ganha um fim de semana em Brasília quem souber o nome dos três últimos primeiros-ministros franceses. (Jean Castex, Édouard Philippe e Bernard Cazeneuve.)
Correio Braziliense
A proposta de semipresidencialismo foi
adotada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira, que pretende pôr em votação a
emenda constitucional do tucano Samuel Moreira
A Praça dos Três Poderes foi pensada como
espaço laico, para simbolizar a construção institucional do Brasil em bases
democráticas. No Planalto Central do país, encarna a representação da
independência e harmonia entre os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário,
essência da República. O triângulo equilátero imaginado por Lucio Costa
mimetiza a geometria de Montesquieu nessa tripartição do Estado. Nesse espaço,
foram construídos: ao Sul, o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF), sede do
Poder Judiciário; ao Norte, o Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo; e,
a Oeste, o Congresso Nacional, sede do Poder Legislativo. Segundo Oscar
Niemeyer, “a disposição dos palácios daquela maneira foi simplesmente a forma
que Lucio Costa encontrou para dar elegância à obra”.
“Os dois arquitetos não pensaram em construir a beleza, seria fácil: eles ergueram o espanto inexplicado”, resumiu Clarice Lispector. A construção de Brasília agregou não apenas a capacidade do esforço coletivo do povo brasileiro, tão bem representado pelos candangos, mas também a vontade de formar uma nova sociedade baseada em valores sociais e éticos sólidos, direcionando-o para uma realidade de mais justiça social e econômica. Para Lucio Costa, Brasília “foi concebida e construída com decisão e com fé num Brasil diferente e num mundo melhor — a sua arquitetura e o seu urbanismo exprimem essa confiança — e isto, no final das contas, é o que importa”.
Blog do Noblat / Metrópoles
É o que se trama no Congresso contra
Bolsonaro e Lula
Quanta ingenuidade imaginar que um
candidato a qualquer coisa facilitará a vida dos seus eventuais concorrentes em
nome disso ou daquilo outro. Candidato único é o sonho de qualquer um.
Quanta falsidade atribuir a um ou mais
candidatos favoritos a dificuldade de se encontrar um nome que a eles possa se
opor. O que deveriam fazer? Abdicar de uma vitória possível?
Não havia reeleição para cargos
majoritários no Brasil até que em 1998, para evitar que Lula vencesse, o PSDB
inventou a reeleição. Fernando Henrique, reeleito, reconhece que foi um erro.
O reconhecimento veio tarde. O primeiro
governo Fernando Henrique foi bem-sucedido, o segundo desastroso. Lula se
elegeu, reelegeu-se, elegeu Dilma e a reelegeu.
A reeleição é um maná para os que pretendem
disputá-la no exercício do cargo. A caneta cheia de tinta é deles, a máquina
pública está ao seu serviço, e eles só perdem em casos raros.
O presidente Bolsonaro corre o perigo de ser derrotado ano que vem porque seu desgoverno vem sendo um assombro. Sem dispor de um projeto para o país, deu-se ao luxo de desprezar vidas.
O Estado de S. Paulo
Picaretas bolsonaristas negociaram vacinas
muito caras. E alguns não vivem em Brasília
“Geralmente,
quando se fala em propina, é pelado e dentro da piscina”, disse o presidente
Jair Bolsonaro à porta do hospital Vila Nova Star, em São Paulo, após passar
quatro dias de folga, desfilando sem máscara pelos corredores, invadindo sem
licença a intimidade de pacientes. E recebendo visitas da mulher, Michelle, e
do maquiador dela. Como de hábito, é mentira: não há relação histórica ou
factual entre corrupção, nudez e água.
A frase só se justifica pela rima, que não é rica nem pobre, mas podre, como a natureza escatológica das falcatruas. Contém a patranha de outras dez lorotas que lhe sucederam e lógica similar à frase em que o ignorante (de parca inteligência) e ignorantista (quem nega o óbvio) a apoiou: “Se eu estivesse na Saúde, eu teria apertado a mão daqueles caras todos. Ao receber (os representantes) ... ele não estava sentado à mesa. Geralmente, teria uma fotografia dele sentado à mesa e negociando. E se fosse propina, (Pazuello) não daria entrevista, meu Deus do céu, não faria aquele vídeo”. Em geral, feio não é roubar, é ser flagrado.
Folha de S. Paulo
Temos coisas mais urgentes a resolver
Acompanhei os recentes passeios ao espaço sem
entusiasmo. O primeiro motivo é apenas umbiguismo da minha parte. Não entendo a
pressa nessa corrida quando ainda não podemos ir até a esquina sem medo de
morrer de Covid.
O que mais me chamou a atenção realmente
foi o momento inapropriado. Quando o mundo tem coisas urgentes, como resolver a
pandemia em curso e encarar a desigualdade, que piorou justamente nos últimos
anos, entrar num foguete e dar um rolê de alguns minutos parece uma versão mais
sofisticada das motociatas promovidas por Jair Bolsonaro.
Ok que foi sem o mau gosto e a cafonice do bolsonarismo e, importante, sem o uso do dinheiro público do contribuinte brasileiro, mas uma demonstração de que, muitas vezes, a diferença entre meninos e homens é o preço do brinquedo. O leitor vai dizer que estou de má vontade e que deveria buscar informações sobre a importância dos programas espaciais. Tudo bem. Meu marido, ao ler este meu texto, não gostou.
O Globo
A TV Brasil foi criada com a promessa de se
tornar uma BBC brasileira. Nunca chegou perto disso — e agora virou um arremedo
da emissora estatal da Coreia do Norte.
O canal prepara o lançamento de um
telejornal só com “boas notícias”. O programa convidará o telespectador a
passear num país imaginário, onde não existe fome, pandemia, inflação ou
desemprego.
A nova atração ainda não foi ao ar, mas a TV Brasil já opera como um veículo de propaganda do bolsonarismo. Até o Sem Censura, herança da antiga TVE, foi rebaixado à categoria de programa chapa-branca. Deixou de promover debates para amplificar as vozes do regime.
Folha de S. Paulo
A ditadura chinesa se legitima entregando
generosos índices de crescimento
Se Lula pretende mesmo pintar-se com as
cores do candidato moderado que nos livrará de Jair Bolsonaro, não pode
atravessar o mar do Caribe para abraçar problemas que não são seus e
fazer afagos
na ditadura cubana. Moderados de verdade não passam a mão na cabeça de
regimes autoritários quando reprimem manifestações populares.
O que eu gostaria de discutir hoje, porém, não é tanto Lula, mas a legitimidade de ditaduras. Nossa reverência quase religiosa para com a democracia faz com que tenhamos dificuldade para pôr na mesma frase as palavras "legitimidade" e "ditadura", mas a grande verdade é que a maioria dos habitantes do planeta está mais interessada em seu próprio bem-estar e no da família do que em abstrações como liberdade de expressão, freios e contrapesos institucionais etc.
Valor Econômico
Alternativa precisa sobreviver até a
próxima estação
Espetáculo conhecido por quem mora ou
frequenta a capital durante a seca, a floração dos ipês é o cenário que
Brasília reservou para as discussões sobre a construção de uma alternativa à
polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.
O palco bipolar é o habitat perfeito para
ambos, que trabalharão incessantemente para mantê-lo até o dia da eleição. Para
as demais forças políticas, um ambiente hostil, como o cerrado durante a
estiagem.
As floradas costumam durar pouco tempo.
Ao fim desse período, os ipês produzem
frutos secos. As sementes, algumas liberadas a longas distâncias, aguardam o
próximo período de chuvas para tentar dar seguimento à história da
árvore-símbolo. Mas, algo diferente acontece neste ano.
Talvez o isolamento social imposto pela pandemia tenha deixado os ipês ainda mais bonitos, atraentes, um alento para quem pouco saiu de casa por tanto tempo. Basta circular pela cidade para ver alguém, com olhar encantado mirando o céu azul, abaixo de uma árvore com a copa tomada pela cor rosa. Fotos feitas, a imagem compartilhada nas redes sociais é sucesso garantido.
Folha de S. Paulo
Pesquisas mostram que nenhum dos dois
precisa perder tempo de olho no retrovisor
Jair Bolsonaro afirmou que "não existe
terceira via" na política brasileira e que "o povo não engole" a
ideia de um nome alternativo para a eleição do ano que vem. Lula disse que esse
rótulo é "uma invenção dos partidos que não têm candidato" e que
todas as siglas deveriam entrar na disputa para testar sua força.
As pesquisas confirmam que, até aqui, os
dois principais nomes da corrida presidencial não
precisam gastar tempo de olho no retrovisor. Os discursos sobre a terceira
via mostram que as atenções de Lula e Bolsonaro não estão voltadas para
possíveis adversários, mas para uma fatia de eleitores que ainda não aderiu a
nenhuma das duas candidaturas.
As declarações de Lula e Bolsonaro mostram como eles enxergam a disputa pelos votos dessa faixa do eleitorado. O presidente se saiu com a releitura de uma passagem bíblica: "seja quente ou seja frio, não seja morno". Ele sugeriu, assim, que pretende reeditar uma campanha radical para se contrapor ao PT e capturar votos por oposição.
Presidente afirmou que candidatos que tentam se apresentar como alternativa não vão conseguir 'atrair a simpatia da população'; já petista chamou terceira via de 'desculpa' e 'invenção'
Daniel Gullino / O Globo
BRASÍLIA — Líderes em intenção de voto nas
pesquisas eleitorais para 2022, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se uniram nesta terça-feira nas
críticas à movimentação de diversos partidos por uma "terceira via" —
uma candidatura que rivalize com os dois nas eleições presidenciais de 2022.
Bolsonaro afirmou nesta terça-feira que
"não existe terceira via" nas eleições do ano que vem e reconheceu
que a disputa está polarizada entre ele e o ex-presidente Lula. Para Bolsonaro,
os candidatos que tentam se apresentar como alternativa aos dois não vão
conseguir "atrair a simpatia da população".
— Tem uma passagem bíblica que diz, seja
quente ou seja frio, não seja morno. Então terceira via, povo não engole isso
aí — disse Bolsonaro, em entrevista à rádio Itatiaia. — Não vai dar certo. Não
vai agregar, não vai atrair a simpatia da população. Não existe terceira via,
está polarizado.
Já Lula disse em uma publicação no Twitter que a terceira via é uma "desculpa" e "uma invenção dos partidos que não tem candidato". Ele questionou ainda o termo "polarização" usado para definir o cenário, dizendo que "de um lado é democracia e do outro é fascismo".
Doria e Eduardo Leite, que pretendem concorrer às prévias, porém, evitaram contestar fala do presidente do partido
Sérgio Roxo / O Globo
SÃO PAULO — O presidente do PSDB,
Bruno Araújo, foi cobrado por tucanos em razão da declaração dada ao GLOBO de
que o partido pode abrir mão da candidatura à Presidência da República em nome
da unidade das forças de centro. Mas apesar das reações, os candidatos que
pretendem disputar as prévias da legenda, marcadas para novembro, evitaram
contestar o dirigente e mostraram alinhamento nesta terça-feira ao defenderem
o diálogo com as outras siglas.
— A colocação foi sensata. O Bruno apoia as
prévias que vão definir quem será o candidato do PSDB. O candidato vitorioso
nas prévias sairá fortalecido para compor a melhor via. E com isso terá a
oportunidade de dialogar com outros partidos que possam conjugar e compor esse
centro democrático, que não é nem Lula nem Bolsonaro, nem extrema esquerda nem
extrema direita — afirmou o governador de São Paulo, João Doria, em entrevista
à Rádio Clube de Pernambuco, estado de Bruno Araújo.
O tom conciliador adotado por Doria, porém, não foi visto entre os seus aliados. Reservadamente, tucanos que apoiam o governador paulista nas prévias chegaram a dizer que Araújo atua alinhado com o deputado federal Aécio Neves (MG) para colocar o PSDB próximo ao centrão e na órbita do presidente Jair Bolsonaro. Também descartam qualquer possibilidade de o partido não estar na cabeça de chapa na disputa presidencial do próximo ano.
Parlamentares sugerem acordo por volta do financiamento privado ou fundo público menor
Por Raphael Di Cunto, Marcelo Ribeiro,
Fabio Murakawa e Cibelle Bouças / Valor Econômico
Brasília e Belo Horizonte - O presidente
Jair Bolsonaro reforçou ontem que vetará o aumento do fundo eleitoral incluído
pelo Congresso na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2022 e que caberá
aos deputados e senadores decidirem se mantêm o veto ou não, mas que espera que
isso não cause problemas. “Não é o que eles aprovam lá que sou obrigado a
entubar do lado de cá”, disse, em entrevista à “Rádio Itatiaia”, de Minas
Gerais.
A escalada de ataques do presidente ao
“fundão”, contudo, tem provocado fissuras com a base de apoio no Congresso. O
vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), reagiu às acusações de
Bolsonaro e do seu filho, o deputado Eduardo (PSL-SP), de que teria atropelado
a votação, e agora afirma que analisará se juridicamente pode decidir sobre os
pedidos de impeachment caso o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), se
afaste do cargo.
Também podem ocorrer problemas com os
partidos da base aliada. Os presidentes das siglas acertaram, junto com os de
oposição, um acordo nos bastidores para elevar o fundo eleitoral de R$ 1,8
bilhão na eleição de 2018 para R$ 5,7 bilhões em 2022.
O deputado Hildo Rocha (MDB-MA), um dos
integrantes da Comissão Mista de Orçamento (CMO), disse que Bolsonaro tem o
direito de vetar, mas que o governo estava ciente do valor porque o acordo
incluiu os líderes de Bolsonaro no Congresso. “Acredito que [o veto] vai criar
um problema, e grande, com todos os partidos. Todos os partidos que apoiam ele
no Congresso, todos, votaram a favor”, disse.
O acordo envolveu inclusive, segundo os deputados, o PSL, onde estão a maioria dos aliados do presidente. A sigla não teria tentado alterar o valor quando as negociações ocorreram nos bastidores da CMO e pediu votação nominal, mas nem todos seus representantes na comissão apoiaram, o que levou à votação simbólica. No plenário, o partido também não se manifestou a favor do requerimento do partido Novo para suprimir o artigo que aumentou o fundão - a votação também foi simbólica.
Folha de S. Paulo
Lei de aumento de IR, como propôs o
ministro, seria derrubada, diz presidente
Jair Bolsonaro disse que pode vetar leis
propostas pelo seu governo. Caso o Congresso aprovasse o aumento
de impostos sobre empresas previsto pelo projeto de lei do ministério
da Economia, haveria veto presidencial. “Eu não tenho problema em vetar o que
nasceu de mim”, disse o “mito” de modo quase mítico-psicanalítico, como se ele
fosse o corpo do Estado castrando crocotós indesejáveis que o destino fez
brotar. Disse tais coisas em entrevista à rádio Itatiaia.
Mas até essa piada grotesca engrandece
Bolsonaro. Voltando à vaca fria de morta, Bolsonaro deu a entender mais uma vez
que não há governo e que ele está além ou aquém da governança. Se algo ainda
funciona, parasita o “sistema” que não o deixa fazer o que quer, aquele que se
propôs a destruir.
O ministério da Economia opera à maneira
bolsonarista. O projeto de mudança do Imposto de Renda era incompetente
e irresponsável, pois em uma semana foi possível virar do avesso tamanha
mudança da vida econômica. Ninguém no ministério, ministro inclusive, quis
assumir a paternidade do monstrengo.
Foi assim com o Orçamento de 2021. Foi também o caso do plano de criação de renda mínima, de agosto do ano passado, resultado de um acordo de ministros (do Planalto e da Economia) e de líderes do governo, anunciado na presença desse que formalmente preside a República. O projeto também ficou órfão, pois não caiu bem na boca do povo e foi castrado por Bolsonaro antes de tramitar. Está sendo assim com a reforma administrativa. Etc.
O Estado de S. Paulo
Era dos juros mais baixos na história ficou para
trás em vários mercados emergentes
O Chile juntou-se, na semana
passada, ao Brasil, à Rússia e a outros cincos bancos
centrais de países emergentes a elevar os juros básicos neste ano, num processo
de aperto monetário sincronizado diante de crescentes pressões inflacionárias e
de depreciação cambial. Ficou definitivamente para trás a era dos juros mais
baixos na história de vários mercados emergentes.
E a liquidez internacional não seguirá tão
abundante. Isso porque alguns países desenvolvidos já começaram a retirar parte
dos estímulos emergenciais adotados durante a pandemia de covid, reduzindo o
tamanho dos seus programas de compras de ativos, como títulos públicos. É um
primeiro passo para o aumento dos juros.
Também na semana passada, o BC da Nova Zelândia encerrou seu
programa de compra de ativos e o do Canadá reduziu o valor das suas
compras pela segunda vez consecutiva. Na Noruega, a autoridade monetária já
sinalizou que deverá elevar os juros duas vezes neste ano, começando
provavelmente em setembro. Seria o primeiro país desenvolvido a aumentar a taxa
básica.
Muitos dizem que esses países desenvolvidos
estariam se antecipando ao eventual início da retirada de estímulos monetários
pelo Federal Reserve
(Fed, o banco central americano) nos EUA,
o que certamente levará os investidores globais a migrar de volta para ativos
em dólar, enxugando a liquidez mundial.
É cada vez maior a aposta de que o Fed deverá começar a reduzir o seu programa de compras de ativos antes do previsto, em dezembro deste ano ou no início de 2022, no máximo. Ainda há o risco de a primeira alta dos juros americanos ocorrer antes do que foi sinalizado recentemente, até o fim de 2023.
Valor Econômico
Há risco fiscal para União, Estados e
municípios
Tem sido tão ampla a reação das empresas
contra a reforma do Imposto de Renda que já há integrantes do governo admitindo
o risco de o resultado final ser zero. O que, na opinião de alguns
especialistas, não seria má ideia.
Porém, ainda é cedo para fazer qualquer
afirmação sobre o destino da proposta. No momento, o relator, deputado Celso
Sabino (PSDB-PA), tem dialogado com os mais diferentes setores para construir
seu relatório final. O ministro da Economia, Paulo Guedes, criou grupos de
empresários para debater e fazer ajustes. Mas só em agosto, com o fim do
recesso parlamentar, a reforma ganhará mais dinamismo.
Grande empregador e impulsionador da
atividade econômica, o setor de construção civil já foi atendido com algumas
modificações no texto. Porém, não está satisfeito. Falta encontrar uma forma
para reduzir a taxação sobre as empresas que declaram o Imposto de Renda pelo
regime de lucro presumido, disse o presidente da Câmara Brasileira da Indústria
da Construção (CBIC), José Carlos Martins.
Há perto de 850 mil empresas no regime de lucro presumido e essas terão um aumento “brutal” de carga tributária, avalia o ex-secretário da Receita Federal Everardo Maciel. Basicamente, porque a redução da alíquota do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) é menor do que sua medida compensatória: a taxação sobre dividendos.
Valor Econômico
Crescimento sustentado depende de as
autoridades protegerem o capitalismo dos capitalistas
Para quem dá aula, as férias de meio de ano
são uma janela para colocar a leitura em dia. Desta vez tive sorte e peguei
para ler o ótimo livro de Phillipe Aghion, Céline Antonin e Simon Bunel,
"The Power of Creative Destruction: Economic Upheaval and the Wealth of
Nations". O livro versa sobre o impacto econômico da inovação, que resulta
da combinação de empreendedorismo com atividades de pesquisa e desenvolvimento
(P&D).
O assunto não é novo, mas três aspectos do
livro o tornam especialmente interessante. Um, os autores se atêm a um modelo
analítico bem definido, o paradigma Schumpteriano da destruição criativa. Dois,
com base nesse paradigma, eles analisam diversos temas do debate econômico
atual. Ainda que o foco seja o crescimento econômico, o livro também trata de
assuntos tão variados como política industrial e distribuição de renda. Três, a
análise é (quase) toda baseada em evidências empíricas obtidas em estudos
diversos, de forma que o livro também é uma espécie de resenha bibliográfica da
literatura acadêmica recente sobre os impactos econômicos da inovação,
apresentada em linguagem não técnica, acessível ao público não especializado.
Os autores estruturam o paradigma da destruição criativa em cima de três pilares. Primeiro, a ideia de que o crescimento econômico resulta, principalmente, da inovação cumulativa, que depende da difusão do conhecimento, de forma “que cada inovador “se apoia sobre os ombros de gigantes” que o precederam”. A invenção da imprensa por Gutenberg foi, portanto, decisiva. Mas o que dizer, então, do gigantesco salto dado pela internet em permitir a ampla difusão do conhecimento? Esse é um dos motivos por que os autores se mostram relativamente otimistas sobre as perspectivas de crescimento global, questionando a tese da estagnação secular, tema tratado em um dos capítulos do livro.
O Globo
O relator da reforma tributária, Celso
Sabino, tem sugerido várias mudanças na proposta da Receita Federal. Sobra
improviso onde deveriam prevalecer técnica e cautela. É um trabalho para
neurocirurgião, não açougueiro.
Uma das propostas é reduzir o imposto de
renda das empresas, o que colocaria o Brasil mais alinhado à experiência
mundial do pós crise global de 2008. Há, porém, muitos fatores que requerem
atenção.
O assunto é complexo. Para começar, a
incidência legal (quem recolhe) de um imposto difere da incidência econômica
(quem é onerado de fato). O imposto de renda corporativo acaba recaindo sobre
indivíduos - acionistas recebendo menos retornos, consumidores pagando preços
mais elevados e trabalhadores recebendo menores salários; ou uma combinação
desses três.
Dependendo das condições e estruturas dos mercados afetados, a redução de alíquotas terá diferentes resultados na economia.
Os anos 60 do século passado foram marcados por uma intensa mobilização jovem pelo mundo. Entre eles apareceram os caroneiros e os mochileiros, assim chamados aqueles adolescentes, viajantes solitários, que cruzavam fronteiras nacionais, não necessariamente fazendo turismo ou buscando algo. A simples inquietação existencial os movia em diferentes direções, sem limite de tempo ou propósitos específicos.
Entre os ícones daquela juventude estava Ernesto
Guevara de la Sierna, um jovem argentino, estudante de Medicina que, antes de
concluir o último semestre do curso, decidiu (junto com um amigo,
Alberto Granato) fazer uma viagem pela América Latina, em uma velha
motocicleta, que o(s) deixou no meio do caminho. Continuou a aventura pedindo
carona. Foi parar no México. No submundo da capital mexicana,
Guevara conheceu um grupo de estudantes conspiradores cubanos. Terminou
induzindo aqueles jovens revolucionários nacionalistas em direção ao
socialismo, ao despertar neles o poder de transformação que carrega a
juventude.
De lá para cá, aconteceu a revolução cubana, Guevara foi morto, o regime soviético, que dava sustentação ao grupo, despareceu e o mundo se abriu para um estranho protagonismo: o das novas tecnologias eletrônicas, espaciais e digitais. Elas introduziram habilidades e habilitações desconhecidas, estimulando a criatividade, tornando instantâneas as comunicações, encurtando as distâncias e, em consequência, as diferenças culturais.
EDITORIAIS
No altar da politicagem
O Estado de S. Paulo
A genuflexão de Jair Bolsonaro ante a
Igreja Universal do Reino de Deus mostra que ele não hesita em sacrificar o
Estado brasileiro no altar da politicagem
O vice-presidente Hamilton Mourão foi a
Angola para participar da reunião da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa, mas, “por orientação do presidente” Jair Bolsonaro, aproveitou a
viagem para tentar intervir num escândalo envolvendo a Igreja Universal do
Reino de Deus. Ou seja, usou recursos públicos e sua posição institucional de
Estado para cuidar de assuntos exclusivamente privados. Tudo isso a mando do
chefe do Executivo.
E não foram assuntos quaisquer. A Universal
passa por uma crise em Angola desde 2019, quando integrantes angolanos da
igreja se rebelaram contra a direção brasileira da seita naquele país. Eles
divulgaram um manifesto em que acusam o comando da Universal de lavagem de
dinheiro, sonegação de impostos, associação criminosa e racismo. Em seguida, os
angolanos tomaram parte dos templos e assumiram o controle da Universal no
país.
Além disso, a TV Record, emissora ligada à
Universal, foi forçada a sair do ar em Angola porque, segundo o governo, violou
normas que proíbem estrangeiros no comando de TVs locais.
Como consequência do escândalo, o governo
angolano começou a deportar missionários brasileiros da Universal, e corre
processo na Justiça local contra os antigos comandantes da igreja em Angola.
Os problemas da Universal em Angola só
dizem respeito à igreja. O máximo que o governo brasileiro deveria fazer no
caso é se assegurar de que os compatriotas sejam bem tratados e que tenham toda
a assistência jurídica de que necessitam – o que qualquer diplomata pode fazer.
Mas a Igreja Universal recebe do presidente
Bolsonaro um tratamento vip. A iniciativa de enviar o vice-presidente Mourão
para conversar com o governo angolano sobre o assunto foi apenas o mais recente
de uma série de gestos de Bolsonaro para interceder em favor da Universal.
No final de 2019, o então chanceler, Ernesto Araújo, em visita a Angola, declarou que a Igreja Universal é uma “entidade extremamente importante para o Brasil”. Em julho de 2020, Bolsonaro enviou uma carta ao presidente de Angola, João Lourenço, na qual pediu “proteção” aos integrantes brasileiros da Universal no país. Em maio passado, o chanceler Carlos França convocou o embaixador de Angola, Florêncio Almeida, para pedir-lhe explicações sobre as deportações.