• Juros e entrada maiores decepcionam. Bancos privados também elevam taxas
Daiane Costa, Ana Paula Ribeiro – O Globo
RIO e SÃO PAULO - O primeiro dia do Feirão da Casa Própria da Caixa, aberto ontem no Rio, foi marcado pelo aperto nas regras do financiamento habitacional, em vigor há dez dias. As novas regras, que além de juros mais altos exigem uma entrada correspondente à metade do valor do imóvel, frustraram o sonho de muita gente que esperava conseguir um financiamento pelo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), voltado para bens de até R$ 750 mil.
- Descobri que agora não conseguirei mais um imóvel com 80% financiados pela Caixa. Nem todo mundo já tem esse dinheiro para entrada - lamentou Maria de Fátima da Silva, que busca um imóvel no Bairro de Santa Cruz.
Raphael Rezende, gerente da Inova Consultora Imobiliária, contou que muitos dos consumidores que passaram pelo estande da empresa questionavam se realmente as regras haviam mudado. Ele não acredita que as mudanças afetarão as vendas, mas prevê uma migração para a compra de imóveis novos, menos afetados pelas mudanças:
- As pessoas vão chegar à feira com um desejo, mas sairão daqui com o que puderem comprar.
De acordo com gerentes das construtoras e corretores, 90% dos imóveis oferecidos no feirão estão na planta, o que desagrada a muitos compradores. É o caso das amigas Dulce Carvalho e Lemos e Amanda Monteiro da Silva, que buscavam imóveis prontos em Jacarepaguá. Depois de três horas batendo perna pelos estandes, deixaram o Riocentro frustradas.
- Está muito ruim para quem quer comprar imóvel pronto - resumiu Amanda.
Um gerente comercial de uma construtora, que não quis se identificar, no entanto, prevê que o atual cenário econômico, de juros mais altos e restrições de crédito, terá, sim, impacto nas vendas.
- Os investidores sumiram. Em São Paulo, já me disseram que de manhã o movimento foi um terço menor do que no ano passado - disse.
Pelas regras em vigor desde o último dia 4, imóveis usados com valor acima de R$ 750 mil (financiados pelo SFI) e usados de até R$ 750 mil (financiados pelo SFH) com prestação calculada pela tabela Price (prestação inicial mais baixa, aumentando ao longo do tempo) precisam de entrada de ao menos 60%. Para imóveis novos de até R$ 750 mil com prestação calculada com base na tabela Price, e para os usados com prestação baseada no Sistema de Amortização Crescente (SAC, em que a mensalidade começa maior e vai caindo ao longo do tempo), a entrada é de 50%. Também é preciso ter metade da entrada para comprar imóveis novos com valor superior a R$ 750 mil, com base na tabela Price.
Taxas de balcão mais altas
Já para imóveis novos de mais de R$ 750 mil, com base no SAC, a exigência é de 30%, enquanto os novos de até R$ 750 mil, também com base no SAC, podem ser adquiridos com entrada de 20%. As regras do programa Minha Casa Minha Vida e das linhas específicas do FGTS não mudaram.
Seguindo o movimento da Caixa, que detém 70% dos financiamentos habitacionais do país, os bancos privados também começaram a apertar as condições dos empréstimos. O Itaú Unibanco não divulga sua taxa, mas informou que o percentual máximo de financiamento caiu de 80% para 70% do valor do imóvel residencial, novo ou usado. Segundo a instituição, a exigência maior é necessária para "manter o ritmo da operação".
Outras instituições subiram as taxas de balcão, que são referência para os financiamentos imobiliários, mas podem ser reduzidas de acordo com o relacionamento do cliente com o banco.
Quem abre conta, por exemplo, tende a conseguir algum desconto. No Bradesco, a taxa subiu de 9,6% para 9,8% ao ano, mais a variação da TR. O banco financia até 80% do valor do imóvel. No Santander, passou de 9,6% para 10,1% ao ano mais TR, também com financiamento de até 80%.
No Banco do Brasil, subiu de 9,9% para 10,4% ao ano mais a TR, com entrada mantida mínima de 20%. Essa mudança foi consequência dos saques recordes da caderneta de poupança, principal fonte de recursos para financiamento da casa própria.